Dois curtas aviltantes

1. Excomunhão imposta por Dom José é desaprovada (para assinantes). “[U]ma pesquisa do Ibope encomendada pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir mostra que 86% dos católicos discordam da decisão tomada pelo então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho”.

Nem sei por onde começar. Não sei se dá para confiar, antes de tudo, nas pesquisas encomendadas (a expressão é excelente!) por estas senhoras. Depois, Dom José não “impôs” excomunhão nenhuma, mas apenas citou a punição automática prevista pelo Código de Direito Canônico, como já foi ad nauseam explicado. Depois, a (má) opinião dos (maus) católicos não faz a menor diferença neste assunto. Depois, o péssimo artigo de dom Rino Fisichella não é (como diz a reportagem) “o Vaticano se pronunciou”. Enfim, é uma péssima matéria, que só serve para lançar sombras à figura do grande Dom José Cardoso Sobrinho e, por extensão, à Igreja Católica.

Enquanto isso, nas notícias relacionadas, jovem conta como fez o próprio aborto. “Essa decisão era minha, de mais ninguém. Sabe a vontade que muita gente tem de ter um filho? Pois bem, eu tinha essa mesma vontade, só que para não ter filho naquele instante”. E, no final da notícia: “Católica, Marina defende o aborto para as mulheres que não queiram ter um filho”. Sim, católica. Como o presidente Lula, as Católicas pelo Direito de Decidir et caterva.

* * *

2. Essa Deus não perdoa, entrevista de Dom Cappio à Veja (via Acarajé Conservador). “O Lamarca é um mártir” – quem o diz é Sua Excelência. E pretende fazer “um santuário para todos os mártires da diocese”.

Para a Igreja Católica, “mártir” é quem é morto por ódio à Fé. Para Dom Cappio, “mártir” é “quem morre em defesa de uma causa justa e derrama seu sangue por valores evangélicos”. Mesmo que a causa “justa” em questão seja a instauração de um regime assassino e condenado pela Igreja, e mesmo que os valores “evangélicos” aqui sejam os da Heresia da Libertação.

Dom Cappio, portanto, não define “martírio” da mesma forma que a Igreja. E é bispo católico. Faço coro ao que perguntou o professor Felipe Aquino: até quando isso ficará sem providências?

Só para constar

Gays britânicos planejam protestar contra papa Bento XVI. “O grupo diz que não concorda com as políticas do papa, argumentando que a Igreja Católica prega a discriminação contra os homossexuais”.

Todo mundo sabe o que a Igreja prega sobre o assunto. Basta abrir um catecismo: “Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta” (CIC 2358).

Agora, a Igreja diz também que “a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados” (CIC 2357). Se, para a novilíngua gay, isso for “discriminação”, aí são outros quinhentos. Mas, até onde conste, a Igreja está no Seu direito ao pregar a Sua doutrina moral – ou acaso todo mundo é obrigado a dizer que os atos homossexuais são lindos e maravilhosos?

Já o disse alhures: com a catolicofobia, ninguém parece se importar…

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– Exegesicídio ubíquo: conforme recebi por email, em uma certa Arquidiocese, o comentário sobre o Evangelho dizia que, “[n]o Evangelho de hoje, Jesus nos ensina que ninguém tem o monopólio da verdade”. Alguém respondeu que, na Liturgia Diária da Paulus, estava escrito que “a páscoa de Jesus se realiza nos grupos de pessoas que, independemente de credos, se doam em favor dos pequenos e procuram realizar o bem em meio a sociedade”. Outro disse que O Domingo (do qual me livrei hoje assistindo à missa na forma extraordinária do Rito Romano) “[d]izia que Jesus não está preso a nenhuma instituição, que nenhuma igreja é maior que a outra… na oração da assembléia dizia ‘pelos que, independente de religião, ajudam no projeto de Jesus’…”.

Qual o Evangelho? Mc 9,38-43.45.47-48. Difícil, mas não justifica a má explanação dada por aqueles que deveriam abrir o sentido das Sagradas Escrituras ao povo fiel, ao invés de apresentar heresias. Afinal de contas, bastaria abrir a Catena Aurea. E ler Santo Agostinho: el hombre que hacía milagros en nombre de Cristo y no era de la compañía de los discípulos, estaba con ellos y no contra ellos en tanto que hacía los milagros, y no estaba con ellos y sí en su contra cuando no se unía a ellos. Pero como le prohibieron que hiciera aquello por lo cual estaba con ellos, les dijo el Señor: “No hay para qué prohibírselo”. Lo que debieron prohibirle fue lo que no era de su compañía, porque así le hubieran exhortado a la unidad de la Iglesia, y no aquélla en que estaba con ellos, a saber, la honra que daba a su Señor y maestro expulsando a los demonios. Así es como obra la Iglesia católica, no reprobando en los herejes lo que tienen de común con ella, sino lo que de ella les separa, o bien alguna doctrina que sea contraria a la paz y a la verdad, en lo cual están contra nosotros.

Rezemos pelo clero, neste ano sacerdotal. Para que sejam pastores. Bons pastores.

P.S.: O Acarajé Conservador também comentou.

A cruz e o cocar

Há uns quatro meses, eu escrevi aqui sobre a ordenação episcopal do bispo de São Gabriel da Cachoeira. Estarrecido diante da cerimônia na qual Dom Edson Damian foi ordenado, eu comentei: “Para afastar os maus espíritos, Sua Excelência parece preferir o Yaigê às orações católicas; para ser coroado no dia de sua sagração, Sua Excelência parece preferir um cocar indígena a uma mitra católica. Parece preferir o paganismo ao Evangelho”.

Temo ter estado certo. Em recente reportagem do Jornal Nacional, Dom Damian foi capaz de fazer a seguinte afirmação: “São os índios que estão vivendo como viviam os primeiros cristãos que tinham tudo em comum, nós é que temos que nos converter a eles”. O vídeo está gravado (tem no link), e foi transmitido em cadeia nacional. Vergonha, escândalo: então um bispo católico tem a capacidade de afirmar publicamente que nós devemos nos converter ao paganismo!

E, então, estas tosquíssimas e estapafúrdias declarações de um Sucessor dos Apóstolos são utilizadas para embasar o resto das baboseiras veiculadas na reportagem. “Deus é a natureza, são as árvores, a própria caça, a própria pescaria”, fala um índio ex-padre. “A ideia de que há almas pagãs vagando na floresta e de que elas precisam ser salvas a qualquer custo já não é mais aceita pela direção da Igreja. […] [O novo bispo] veio disposto a rever o conceito de conversão”.

O conceito de “conversão” não pode ser revisto. Simplesmente não pode significar outra coisa que não o abandono dos erros e a aceitação da Fé Católica, a Fé Verdadeira, sem a qual é impossível agradar a Deus e se salvar. Sim, provavelmente ainda há almas pagãs vagando na floresta e, sim, elas precisam ser salvas, porque foi por elas que Nosso Senhor derramou o Seu Divino Sangue na Cruz do Calvário. Que o mundo não saiba dessas coisas, é compreensível. Agora, que não as saiba um bispo católico, sucessor dos Apóstolos, colocado pela Igreja para tomar conta da porção do povo de Deus a ele confiada, é estarrecedor. O que ele dirá, quando o Justo Juiz for lhe pedir contas das almas que foram deixadas sob os seus cuidados?

“Durante quase um século os ritos romanos da igreja tomaram o lugar dos mitos ancestrais” – é o que diz a reportagem. E é o mais frustrante: então a Cruz de Cristo imperou sobre o paganismo durante quase um século e, hoje, todo o trabalho realizado às custas das vidas de tantos bons e zelosos missionários foi lançado por terra. Acho que já falei aqui sobre o obelisco que tem no centro da Praça de São Pedro, e sobre o motivo que me faz gostar sobremaneira dele. É um símbolo pagão, sem dúvidas, mas faz as vezes de despojos de guerra: foi exorcizado, foi colocado diante da Basílica de São Pedro, no alto dele foi colocada uma cruz com relíquias da Cruz de Nosso Senhor e, na base, foi escrito: vicit Leo de tribu Iuda. Venceu o Leão da Tribo de Judá. Venceu a Cruz de Nosso Senhor. Venceu a Igreja Católica. E o paganismo foi derrotado, e está aos pés da Cruz: é o que diz o obelisco da Praça de São Pedro.

Isso, em Roma. Porque aqui, no Brasil, no interior do Amazonas, o paganismo escarnece da Cruz de Cristo. Sob as bênçãos de um sucessor dos Apóstolos de mitra e cajado, ou de cocar e lança, não o sei. Sei que é tremendamente frustrante. Se, em Roma, a Cruz de Nosso Senhor levanta-se acima do obelisco pagão, aqui, em terras tupiniquins, o cocar pagão ergue-se garboso sobre a cabeça de um bispo da Igreja Católica. Que o Deus Altíssimo tenha misericórdia de todos nós.

Para ler

1. Íntegra da nota em que o governo interino [hondurenho] acusa a ingerência de Lula. “[S]endo a presença do senhor Zelaya na missão do Brasil em Tegucigalpa um ato promovido e consentido pelo governo do Brasil, recai sobre este a responsabilidade pela vida e pela segurança do senhor Zelaya e pelos danos à integridade física das pessoas e às propriedades derivadas por permitir que se converta dita missão em uma plataforma de propaganda política e concentração de pessoas armadas que ameaçam a paz e a ordem pública em Honduras”.

2. Não Agüentamos Mais! (Carta ao Clero Italiano) – parte 1 e parte 2. “Nós, leigos, ousamos queixar-nos ao Clero, mas não somos anticlericais, são tais, esses sim, os que renegando o sacerdócio, recusam a instituição, sua dignidade, seus poderes. […] Nosso silêncio poderia ser culposa aquiescência, logo cumplicidade, que convidaria o mundo ridicularizar nossa fé, pisotear nossos mais amados e eternos valores”.

3. O abortamento legal e as mortes evitáveis. “Legalizar o abortamento e disponibilizá-lo na rede pública de saúde se trata de uma ação indispensável na luta por uma justiça social”. É o PSB. O partido ao qual vai se filiar o Gabriel Chalita. E então, Canção Nova?

Que nossos bispos sejam católicos

Hoje, faz uma semana que a Comissão Nacional de Ética do PT puniu com suspensão dois deputados petistas pró-vida, pelo simples fato deles serem pública e veementemente contrários ao aborto.

Na sexta-feira última, 18 de setembro, enviei um curto email a S.E.R. Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, que provavelmente não chegou às mãos de Sua Excelência; o texto integral da mensagem é o que segue:

Sua Excelência Reverendíssima,
Dom Geraldo Lyrio Rocha,
Presidente da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil,

Pax!

Conceda-me V.E.R. a sua bênção.

Excelência, como foi amplamente noticiado pelos meios de comunicação, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores puniu ontem, por unanimidade, os deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, com suspensão dos seus direitos políticos por um ano e 90 dias respectivamente, por estes deputados serem publicamente contrários ao aborto.

Gostaria de saber se a CNBB não vai publicar uma nota de repúdio a esta gravíssima atitude do PT. Gostaria de saber se a CNBB não vai condenar publicamente e com veemência o PT, pelo fato do partido, não contente em ser a favor do aborto, proibir também os seus membros de se manifestarem contra este horrendo crime.

Recomendando-me às orações de V.E.R.,
subscrevo-me, em Cristo,
Jorge Ferraz

Não recebi, absolutamente, resposta alguma. Acabei de entrar na seção de notícias do site da CNBB e não encontrei a menor menção à atitude gritantemente imoral do Partido dos Trabalhadores, que vitimou na semana passada dois deputados pelo simples fato deles serem contrários ao aborto.

A última notícia pertinente, de ontem à tarde, intitulada “Presidência da CNBB atende à imprensa”, dizia que “[a] crise do Estado e a Reforma Política foram um dos temas da reunião ordinária do Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB”, e também que “[o]utro assunto discutido pelos bispos foi o projeto que libera o funcionamento dos bingos e das máquinas caça-níqueis”. Sobre a suspensão dos pró-vida, não há uma única linha. Obviamente, há algum problema aqui que precisa com urgência ser sanado.

Senhores bispos, data maxima venia, nós não somos palhaços, nem acredito que sejamos aberrações abjetas, únicas dignas dentre todos os homens de desprezo. Somos católicos que nos esforçamos por sermos fiéis à Igreja, e que queremos sinceramente – e rezamos por isso – enxergar nos nossos bispos legítimos sucessores dos Apóstolos, guardiões zelosos da Fé Católica e Apostólica. Somos católicos que só desejam que a Conferência Episcopal possa, finalmente, tomar vergonha na cara e passar a trabalhar pela Igreja de Nosso Senhor, e não contra Ela. Não julgo estarmos pedindo nada de impossível, excepcional ou exótico. Queremos apenas que nossos bispos sejam católicos e, como tais, se comportem. Isso não pode ser pedir demais.

Diferentemente das outras vezes em que tentei – improficuamente – entrar em contato de modo privado com quem julgo ser responsável pela Conferência Episcopal, este texto é público, e envidarei todos os esforços para que ele chegue ao conhecimento de todos a quem possa interessar. Já não dá mais para ficar calado.

Escutai, senhores bispos do Brasil!

Prezados Irmãos, nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. Assistiu-se assim a intervenções de alguns responsáveis eclesiais em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos. Insensivelmente caiu-se na auto-secularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver aquilo que não vêem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado.

[Bento XVI, aos bispos da Conferência Episcopal do Brasil dos Regionais Oeste 1 e 2 em visita ad limina apostolorum]

Que primor! Escutai, senhores bispos do Brasil, escutai. É Pedro quem fala, e vai diretamente ao ponto. “Neste deserto de Deus”  – prossegue o Sumo Pontífice – “a nova geração sente uma grande sede de transcendência”.

“Deserto de Deus”! Que expressão dura. Não menos dura que outra utilizada pelo Papa pouco antes: “ambiente eclesial secularizado”. Expressões duras, mas não menos verdadeiras. Escutai, senhores bispos do Brasil, Pedro falar!

Já há muito tempo vivemos no “deserto de Deus”. Já há muito tempo morremos de sede, à míngua, nesta que outrora foi chamada Terra de Santa Cruz. Já há muito tempo temos fome de transcendência, e as migalhas catadas em meio ao lixo que recebemos dos nossos legítimos pastores não nos são suficientes. Já há muito tempo o ar pestilento do “ambiente eclesial secularizado” tem envenenado e envergonhado a nossa Pátria Amada. Já há muito tempo o cheiro de enxofre e a fumaça de Satanás tomaram o lugar do incenso de agradável odor que, um dia, perfumou as nossas igrejas. Escutai, senhores bispos, porque não somos nós que falamos: é Pedro que fala.

“[E]sperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham”… que frase espetacular! Escutai, senhores bispos, escutai: há aqueles que não vêem. E não adianta tocar fogo na Igreja em atenção a eles. Não adianta conspurcar o leito conjugal com as prostitutas. O Bom Pastor vai atrás da ovelha tresmalhada, sim, mas entendei, senhores bispos, que os porcos não fazem parte do aprisco do Senhor. Os porcos, exorcizam-se. E não é resfolegando na lama que os senhores bispos ireis trazer de volta os que não querem ser católicos. Escutai, senhores bispos, e entendei: agindo assim, só vereis partir muitos daqueles que tendes. Escutai, senhores bispos, porque é Pedro quem fala, e não nós!

Rezemos pelo clero. Em especial, pelo episcopado. E rezemos pelo Papa. Peçamos ao Senhor – de joelhos! – pela conversão dos pecadores, liberdade e exaltação da Santa Madre Igreja.

Existe santidade no protestantismo?

Acompanhando o debate entre o pe. Joãozinho e a Montfort (a última novidade são os versos do professor Orlando), sinto vontade de dizer algumas palavras para evitar os extremismos (aos quais parece estar fadada a interminável discussão).

Não recordo agora a fonte, mas lembro-me da frase: a Igreja Católica e Apostólica é aquela “fora da qual não existe nem salvação nem santidade”. Não sei se o pe. Joãozinho entende isso de modo católico, mas eu sempre estive convencido de que o prof. Orlando o entendia, sim. No entanto, no seu último desafio lançado ao padre Joãozinho, a Montfort omitiu uma parte do dogma que eu tenho certeza de que ela conhece, pois já falou sobre isso antes.

Trata-se da possibilidade de salvação para os não-católicos pela ignorância invencível. Em resumo bem resumido, diz-se que a ignorância de uma pessoa é invencível se ela, com todos os meios dos quais dispõe, busca sinceramente a Verdade e não A consegue encontrar. Diz-se de tal pessoa que “pertence à alma da Igreja”, ou que é “católica sem o saber”, ou outras expressões similares.

O problema óbvio com isso é que, como ninguém sonda as consciências, não dá para dizer quem está em ignorância invencível e quem não está. A solução mais óbvia para o problema é logicamente fazer apostolado com todo mundo e deixar que o próprio Deus julgue, dentre os que não aderiram à Igreja em vida, quais o fizeram culposamente e quais o fizeram sem culpa própria.

Voltando, portanto, à frase sem referência que citei acima: não há santidade fora da Igreja Católica como também fora d’Ela não há salvação; contudo, caso a pessoa seja salva por ignorância invencível, nesta pessoa há sem sombra de dúvidas santidade. O protestantismo em si considerado evidentemente não salva ninguém, mas um protestante que esteja em ignorância invencível pode ser salvo. E, se ele pode ser salvo, logicamente pode também ser santo. Acho importante repetir: não sei se é isso que o pe. Joãozinho está dizendo! Mas é isso que diz a boa Doutrina Católica. É uma pena que o reverendíssimo sacerdote prefira – aliás, de novo! – citar os documentos sem os explicar.

Não há santidade própria no protestantismo, mas  há santidade “na alma da Igreja” à qual pertencem os que, sem culpa própria, ignoram a plenitude da Revelação de Cristo. E nada impede que estes sejam protestantes, posto que “quem será tão arrogante que seja capaz de assinalar os limites desta ignorância, conforme a razão e a variedade de povos, regiões, caracteres e de tantas outras e tão numerosas circunstâncias?” (Pio IX, Alocução Singulari Quadam, 1854, Denzinger, 1647 apud Montfort).

Dois curtas

– A Reforma da Reforma: Novas proposições da Congregação para o Culto Divino. “Os Cardeais e Bispos membros da Congregação [para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos] votaram quase unanimemente em favor de uma maior sacralidade do rito, da recuperação do senso de culto eucarístico, da retomada da língua Latina na celebração e da re-elaboração das partes introdutórias do Missal a fim de pôr fim aos abusos, experimentações desordenadas e inadequada criatividade”.

Está demorando até demais. Vinde depressa, Senhor, em nosso auxílio, e socorrei-nos sem demora! Já se passaram os quarenta anos do deserto, e já está mais do que na hora de adentrarmos na terra de onde jorra leite e mel. Não pode demorar muito mais. Deus, in adjutorium meum intende – Domine, ad adjuvandum me festina.

* * *

O vírus da gripe A é anticlerical – excelente! Alguém envie uma cópia aos senhores bispos. É até difícil escolher que parte citar, pois dá vontade de copiá-lo na íntegra. “[N]enhum zeloso pastor veio ainda proibir que os imprudentes progenitores osculem a sua extremosa prole, a não ser que o façam na Missa. Também seria de supor que os noivos fossem impedidos de se beijarem, mas também não consta que nenhum pároco tenha, até à data, imposto este higiénico impedimento matrimonial, excepto durante a Eucaristia. […] Estes exemplos bastam para que se possa retirar uma importante conclusão científica: o vírus da gripe A só exerce a sua perniciosa acção nas igrejas. […] Assim sendo, temo que o vírus H1N1 não seja apenas anticlerical, mas demoníaco, talvez até a expressão viral do Anticristo (que, por estranha coincidência, também tem por inicial a primeira letra do alfabeto…). De facto, este vírus não incomoda os cristãos que não se benzem com água benta, nem os que não dão o abraço da paz aos seus irmãos, nem comungam, mas apenas aqueles que, por serem mais piedosos e caridosos, humedecem os dedos com que fazem o sinal da Cruz, expressam com o ósculo a autenticidade da sua caridade e, porque estão na graça de Deus, estão aptos para receberem a sagrada comunhão. Portanto, não só é um vírus que age nas igrejas como preferencialmente atinge os fiéis que mais rezam e frequentam os sacramentos! […] Importa ainda expressar a mais profunda indignação pelo facto do Papa Bento XVI, não satisfeito com a sua gritante insensibilidade na questão do preservativo, insistir em promover comportamentos de risco, pois, como é sabido, só dá a comunhão aos fiéis que, ajoelhados, a recebam na boca. É caso para lamentar que a Santa Sé não esteja sujeita à pastoral da saúde da nossa terrinha”.

A Igreja Católica: construtora da civilização

A quantidade de material relevante produzido no exterior e traduzido para o português é extremamente limitada. Há muita coisa que faz muita falta. É por isso que fiquei bastante feliz ao encontrar a tradução da “The Catholic Church: Builder of Civilization”, série do EWTN apresentada pelo Thomas Woods. Ainda não está completa, mas vale muito a pena ficar acompanhando. O vídeo abaixo é a primeira parte do primeiro programa.

Quem está postando os vídeos no youtube é o kandungus (acompanhem os próximos lá). A dica eu recebi via Tubo de Ensaio e Acarajé Conservador.

Qual é MESMO o Oitavo Mandamento?

Há quase seis meses, o Veritatis Splendor publicou um texto sobre o desprezo do Magistério Ordinário. Há quase seis meses, o blog Pacientes na Tribulação protestou contra este texto. Há quase seis meses, eu publiquei aqui no Deus lo Vult! alguns comentários sobre o texto do Pacientes na Tribulação. Por quase seis meses, o assunto pareceu ter morrido. No entanto, hoje, a paciência de alguns parece ter se esgotado, porque foi publicado, no supracitado blog, um texto atacando a mim.

Não vou me demorar nesta bobagem que considero uma monumental perda de tempo. O Deus lo Vult! foi acusado de ser “um advogado do diabo”, de fazer algo que “já é diabólico”, de ter “uma desonestidade intelectual assustadora”, de “incoerência e parcialidade”. Tudo bem. Afinal de contas, cada um é obviamente livre para achar o que quiser deste blog que mantenho. Registre-se a opinião do autor cujo nome não está no “About” do Pacientes na Tribulação [p.s.: achei o nome do autor, está nos comentários e no canto inferior direito da página].

Tampouco vou me demorar na inútil polêmica entre apostolados que os que se auto-intitulam “a Tradição” parecem querer cultivar a todo custo. Primeiro fato: ninguém é citado nominalmente no texto original do Veritatis, apenas uns genéricos “tradicionalistas anti-Vaticano II”. Segundo fato: já no próprio título, o autor do texto-protesto do Pacientes na Tribulação chama o Veritatis de hipócrita. Os fatos estão nos links acima, ao alcance de qualquer um pelo módico custo de um clique, e falam por si sós.

O que eu não entendo é a necessidade de se fazer um escarcéu em cima disso. Se alguém quer refutar um texto, refute-o simplesmente. Os ad hominem sejam usados com parcimônia. Pressuponha-se a boa fé dos interlocutores. Por exemplo, no caso em pauta, a única sentença atribuída diretamente aos “tradicionalistas anti-Vaticano II” no texto do Veritatis Splendor é “ninguém é obrigado a aceitar o Concílio Ecumênico Vaticano II porque este não foi um Concílio dogmático, não falou em Magistério Extraordinário”. A resposta do Pacientes na Tribulação – “nós rejeitamos os textos do concílio (ao menos parcialmente) porque eles contém erros contra a Fé, e não simplesmente porque o concílio não foi infalível” – é relevante, mas é feita com tanta pirotecnia que o texto se presta, sim, muito mais a atacar o VS do que a defender o que quer que seja.

E a cortina de fumaça levantada – os apelidos depreciativos, as acusações de má fé, de hipocrisia, de desonestidade intelectual e tutti quanti – obscurece o que é importante na discussão. As perguntas relevantes aqui são: quem disse que o Vaticano II contém erros contra a Fé? Qual a autoridade de quem pronunciou esta sentença? A afirmação clara e direta do Pacientes na Tribulação é rara até mesmo entre os críticos do Vaticano II (a acusação mais comum é a de ambigüidade). Mas, obviamente, não é porque o autor desconhecido de um blog Márcio disse em negrito que o Concílio “contém erros contra a Fé” que isso passa, ipso facto, a ser verdade. A propósito, acaso é atitude de um bom católico lançar publicamente acusações seriíssimas que nunca foram demonstradas de maneira cabal? O que era mesmo que se estava falando sobre o Oitavo Mandamento da Lei de Deus?