Teoria da Evolução

Já que os leitores do Deus lo Vult! estão discutindo sobre a Teoria da Evolução em um post que não tem nada a ver com o assunto, eu sugeriria a transposição da discussão para cá. Como “inspiração”, trago a figura abaixo, retirada do Haznos.org. É pesada, mas é um .gif muito bem feito.

evolution

Notem o detalhe: o homem está “fora” da cadeia evolucionista, pois já aparece caçando os búfalos…

En passant, mas mereciam mais

Justiça decide que símbolos religiosos podem permanecer em prédios públicos. “A juíza Maria Lúcia Lencastre Ursaia, da 3ª Vara Cível Federal de São Paulo, indeferiu nesta quinta-feira o pedido do Ministério Público Federal de retirada de símbolos religiosos de prédios públicos”. Uma lufada de bom senso no judiciário, graças a Deus. O Reinaldo Azevedo também comentou: segundo o articulista, a juíza escreveu

1 – que é natural a presença de símbolos religiosos cristãos num país de formação cristã — isso pertence à nossa história;
2  – que, “sem qualquer ofensa à liberdade de crença, garantia constitucional, eis que, para os agnósticos, ou que professam crença diferenciada, aquele símbolo nada representa, assemelhando-se a um quadro ou escultura, adereços decorativos”;
3 – que estado laico não quer dizer estado anti-religioso. Dando uma pequena aula de lógica e de história à boçalidade do CCC, escreveu: “O Estado laico foi a primeira organização política que garantiu a liberdade religiosa. A liberdade de crença, de culto, e a tolerância religiosa foram aceitas graças ao Estado laico, e não como oposição a ele. Assim sendo, a laicidade não pode se expressar na eliminação dos símbolos religiosos, mas na tolerância aos mesmos.”

Só um “detalhe”: o terceiro ponto, com loas exageradas e imprecisas ao Estado Laico, não pode ser subscrito sem ressalvas. E este mau entendimento pode comprometer tudo…

* * *

Lei antifumo paulista é inconstitucional, diz AGU. “A Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que defende e representa a União principalmente em ações no Supremo Tribunal Federal (STF), emitiu parecer anteontem que considera a lei antifumo paulista inconstitucional. O documento, assinado por José Antonio Dias Toffoli, enfatiza que a competência de legislar sobre o uso do cigarro em ambientes fechados é do governo federal e não de Estados ou municípios”.

Não me parece muito animador. Primeiro pelo fato do “posicionamento não ser definitivo” e, segundo e muito mais sério, porque o alegado motivo da inconstitucionalidade está equivocado. A AGU, na verdade, só faz “transferir” o poder ilegítimo dos municípios para o Estado Federal, ao invés de defender claramente o direito à propriedade e as liberdades individuais. E isto é preocupante.

* * *

–  Padres afastados serão ouvidos por dom Saburido. Palavras de Sua Excelência Reverendíssima: “Todos serão bem-vindos na arquidiocese. Todos. Desde que estejam dispostos a trabalhar com amor. Vamos escutar a verdade do outro e perdoar os erros do passado, para reconstruir nossa unidade. […] Muita coisa da época de dom Helder morreu e precisa ser ressuscitada. A igreja precisa voltar a ter um semblante alegre”.

Que a Virgem Santíssima, Onipotência Suplicante, Aquela de quem jamais se ouviu dizer que tivesse desamparado quem se Lhe achegasse com confiança, ponha o Seu valor diante do Altíssimo em defesa de Olinda e Recife. E oremus pro Antistite nostro.

℣. Oremus pro antistite nostro Ferdinando.
℟. Stet et pascat, in fortitudine tua, Domine, in sublimitate nominis tui.
℣. Salvum fac servum tuum.
℟. Deus meus sperantem in te.

É proibido pensar

[Feito por um protestante, e só tem graça com som. Aos 1:34, o “estão distantes do trono, caçadores de Deus” vale o vídeo! A letra pode ser encontrada no Vagalume. É oportuno recordar as palavras de Nosso Senhor nos Evangelhos: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir” (Mt 12, 25b). E que o sr. João Alexandre, tendo já recebido a graça de ver com clareza as profundas divisões existentes no mundo protestante, possa, por intercessão da Virgem Santíssima, encontrar a verdadeira Igreja de Nosso Senhor.]

Psicologia, índios e cigarros

– O enfoque faz toda a diferença. Lembram da notícia aqui publicada sobre a Associação Americana de Psicologia e o auxílio psicológico para pessoas que queriam refrear os seus impulsos homossexuais? Olhem só como G1 noticiou: Associação Americana de Psicologia repudia ‘conversão’ de gay para hétero! Somente lá no meio do texto é que se pode ler que o relatório “trata com detalhes a questão de como terapeutas devem lidar com pacientes gays que lutam para permanecer fiéis a crenças religiosas que desaprovem a homossexualidade”…

* * *

Após 40 anos, índios do AM retomam cerimônia proibida por religiosos; triste, triste, triste! “A proibição [foi] dos missionários católicos que evangelizaram os índios no século passado. ‘Toda a coisa do índio, danças, vestimentas, a própria língua, era considerada como uma influência satânica’, explica Higino Tenório, líder do povo tuyuka. Com a modernização da igreja, o misticismo indígena deixou de ser pecado, e a cultura começa a ser resgatada”. Não importa o que diga o CIMI; é óbvio que uma cerimônia pagã “que tem chás alucinógenos, ervas estimulantes, benzeduras e invocação de espíritos da floresta” deve ser condenada como o paganismo que é. Infâmia! Beato José de Anchieta, rogai por nós!

* * *

Até tu, São Paulo? Do João Pereira Coutinho, publicado na Folha do dia 18 de agosto. “A última pesquisa Datafolha é sinistra: a esmagadora maioria dos paulistas (88%) aprova a lei antifumo. Só 10% se opõem a ela. Só 2% lhe são indiferentes. Mais irônico é olhar para os fumantes: depois de anos e anos de propaganda e desumanização, eles olham-se no espelho, sentem o clássico nojo de si próprios e até concordam com a lei (77%). Razão tinha Karl Kraus quando afirmava, na Viena de inícios do século, que o antissemitismo era tão normal que até os judeus o praticavam. Péssimo presságio”.

Mais sobre selos

Fiquei impressionado com a quantidade de comentários negativos que recebeu a iniciativa do Veritatis Splendor de conceder um selo de ortodoxia católica para alguns blogs que integram a blogosfera católica (entre eles, o Deus lo Vult!). Para citar somente duas das reações mais veementes, protestaram o Adversus Haereses e o Pacientes na Tribulação.

Aqui no Deus lo Vult! inclusive apareceram insistentes comentários sobre o assunto; pela última vez, gostaria de deixar claro que

a) a idéia do Veritatis não é uma invenção 100% nova, porque já há bastante tempo existem selos concedidos aos blogs que se destacam em assuntos os mais diversos (como o Prêmio Dardos e o Um Blog de Ouro, ou o recentíssimo Apóstolo da Vida do pe. Lodi);

b) tais prêmios têm meramente a “autoridade” de quem indica, nem mais, nem menos, sendo descabido encará-los como se fossem a mesma coisa que um nihil obstat episcopal;

c) não posso falar pelo Veritatis Splendor para responder perguntas capciosas sobre a soberba dos membros do apostolado ou a sua petulância de se arrogarem “juízes da ortodoxia”, de modo que peço que tais questionamentos sejam enviados diretamente aos responsáveis pelo apostolado;

d) comentando especificamente sobre o Pacientes na Tribulação, quem me lê sabe que, aqui no Deus lo Vult!, todo mundo comenta, católicos, protestantes, espíritas e ateus, só sendo cortados quando extrapolam todos os limites do razoável (para a média dos comentadores do blog, aliás, eu sempre demoro muito para expulsar certos tipos que aparecem por aqui); outrossim, existe uma página específica para debates um-a-um sobre assuntos quaisquer, que infelizmente está desatualizada por minha  falta de tempo (aliada à desorganização que já me é quase uma hipóstase);

e) finalizando, não compreendo a razão de ser de tamanha (perdoem-me a sinceridade, mas é como vejo as coisas) picuinha, pois me parece evidente que nem o VS, nem os blogs por ele contemplados, têm um “salto quântico” de autoridade com o prêmio concedido, e nem tampouco os blogs não contemplados têm o seu apostolado diminuído. Portanto, sigamos cada qual fazendo aquilo que nos propusemos a fazer, ad majorem Dei gloriam, sempre.

Assuntos Ligeiros

–  Questão do Enem promove o ateísmo, no Mídia Sem Máscara. A questão pode ser encontrada aqui (é a oitava). Apresentam-se duas posições distintas, de Dom Odilo Scherer e do ateu americano Daniel Dennet. Todas as alternativas são toscas, mas a resposta correta – segundo o gabarito – diz o seguinte: “o arcebispo usa uma lacuna da ciência para defender a existência de Deus, enquanto o filósofo faz uma ironia, sugerindo que qualquer coisa inventada poderia preencher essa lacuna”. Maravilha de educação, não?

– Um texto anti-comunista no site da CNBB – Deo Gratias! Dom Aldo Di Cillo Pagotto reproduziu o Decálogo de Stalin. Verdade seja dita, não consta que Stalin o tenha realmente escrito, mas tais diretrizes deduzem-se, sim, da praxis histórica dos comunistas. Procurando a fonte dele na internet, deparei-me com o seguinte comentário de encantadora lucidez: “esse decálogo está sendo seguido à risca por Lula e sua petralhada”…

– Triste notícia número 1: padre colombiano diz que Igreja é o armário dos gays. “Segundo o padre, 30% dos 120 sacerdotes de Cali são gays”. Rezemos pelo clero.

– Triste notícia número 2: La “triple vida” de Marcial Maciel. No Fratres in Unum: novos filhos buscam direitos hereditários nos bens da Legião de Cristo. “[T]rês filhos de Marcial Maciel nascidos no México disputarão com os Legionários de Cristo para que se reconheça sua existência, assim como seus direitos hereditários sobre os bens do fundador da ordem religiosa”. Rezemos, rezemos mais, pelo clero.

– Manifesto da Associação Causa Imperial: A República cai de podre. “Hoje, a política brasileira é indissociável do desvio de dinheiro público, da sonegação fiscal e do uso da má-fé. Praticamente ninguém acredita que seja possível ocupar um cargo eletivo sem recorrer a meios espúrios, antes mesmo das eleições, dentro dos nossos asquerosos partidos políticos, verdadeiras quadrilhas nos quais o saque e a pilhagem são a única lei”. O desabafo da nobreza! Nossa Senhora Aparecida tenha compaixão do Brasil.

A Eucaristia, a Igreja e eu

O reverendíssimo Dr. Pe. João Carlos Almeida, scj, em seu blog, tem-se esforçado por tentar provar a sua tese sobre a “constituição eucarística da Igreja e de cada batizado”, utilizando-se para isso de documentos da Santa Igreja Católica. Julga o reverendo sacerdote ter encerrado a polêmica ao citar a Sacramentum Caritatis, de SS Bento XVI, onde é dito: “Assim, «tornamo-nos não apenas cristãos, mas o próprio Cristo»” (Sacramentum Caritatis, 36).

Não tenho certeza de que o pe. João Carlos compreenda realmente o que está falando. Em um post do seu blog no qual ele pergunta se [s]erá heresia afirmar que a constituição da Igreja é essencialmente Eucarística, ele afirma corretamente: “a antiguidade cristã designava com as mesmas palavras — corpus Christi — o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial de Cristo”. Perfeitamente; no entanto, dizer somente isso é amputar a Doutrina Católica e propiciar o surgimento de erros crassos na compreensão do dogma.

É impressionante: parecem aquelas piadas de “lógica” que circulam pela internet. “Eu não sou ninguém, ninguém é perfeito, logo eu sou perfeito. Mas só Deus é perfeito, logo eu sou Deus. Deus é amor, o amor é cego, logo Deus é cego. Mas eu sou Deus… meu Deus, eu sou cego!”. A argumentação do reverendíssimo pe. João Carlos, data maxima venia, urge dizer, é estritamente análoga: “a Eucaristia é o Corpo de Cristo, a Igreja é o Corpo de Cristo, logo a Igreja é a Eucaristia. Eu sou a Igreja, a Igreja é a Eucaristia, logo eu sou eucarístico”. As conclusões repugnam o bom senso tanto quanto aquelas às quais chegou o sujeito da piada que se descobriu cego por meio do exercício especulativo. São absurdas e é muitíssimo fácil demonstrar: se eu sou a Eucaristia e a Eucaristia é digna de adoração, logo eu sou digno de adoração. A menos que eu seja Deus – e não me consta que eu seja -, isso é idolatria. Logo, por reductio ad absurdum, resta claríssimo, sem a menor sombra de dúvidas, que nem a Igreja é – e nem muito menos eu sou – a mesma coisa que a Eucaristia.

O problema aqui é terminológico, e é o mesmíssimo da aplicação indiscriminada da palavra “presença”, confundindo a presença eucarística com a presença nos cristãos reunidos ou nas Escrituras Sagradas. As palavras não têm um único sentido. A aplicação indiscriminada de palavras que significam coisas distintas em contextos distintos, sem que isso seja deixado claro, confunde os fiéis. E, na minha opinião, todo problema de terminologia é sintoma de um problema cognitivo: o sujeito que não consegue explicar algo direito, é porque provavelmente não o compreende direito. Por isso que eu disse acima não ter certeza de que o reverendíssimo pe. João Carlos compreenda o seu discurso.

A Igreja é sem dúvidas o Corpo de Cristo, mas é o Corpo Místico de Cristo. E Santo Tomás de Aquino ensina que se chama a Igreja inteira Corpo Místico por analogia com o corpo natural do homem (Summa, IIIa, q.8, a.1, responsio). A Eucaristia, por sua vez, é real e substancialmente o Corpo de Cristo, sem o ser – como a Igreja – de maneira análoga. E isso faz toda a diferença.

Santo Tomás faz tanta questão de não confundir as duas realidades que, falando sobre a Eucaristia, distingue n’Ela uma coisa, “significada e contida no Sacramento, que é o mesmo Cristo, e outra, significada e não contida, que é o corpo místico de Cristo”, a sociedade dos santos (Summa, IIIa, q.80, a4, responsio). A primeira é res et sacramentum e, a outra, res tantum: não dá para confundir as realidades como se fossem uma só e a mesma realidade (cf. também Summa, IIIa, q.73; em especial a.6, responsio). Receber o Corpo de Cristo é, sim, unir-se (mais) ao Corpo [Místico] de Cristo, mas as palavras significam coisas distintas: a primeira é o Sacramento em si e, a segunda, o efeito do Sacramento. “Tornar-se o próprio Cristo” [i.e., ser parte constituinte do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja] não tem nada a ver com “tornar-se a Eucaristia”. Os sentidos são múltiplos, e é importante não confundi-los.

Toda esta confusão poderia ser evitada se os ministros do Deus Altíssimo tivessem um maior cuidado com os seus discursos, preocupando-se mais em transmitir a Doutrina Católica do que em fazer rebusques de retórica que, dependendo do público ouvinte [ou leitor], podem provocar muito mais mal do que bem. Causa finita, sim, mas somente quando se compreende exatamente o quê Roma locuta. O exercício do munus docendi não é simplesmente citar trechos pinçados de documentos pontifícios sem os explicar. Pra fazer isso, aliás, ninguém precisa de doutorado em Roma.

O fim de quem abraça o estado eclesiástico

Quem digita “padre Fábio de Melo” no Google recebe como primeiro resultado um link para “Fábio de Melo – novo site”. Na descrição, lê-se: “Site oficial do compositor, escritor e cantor Padre Fábio de Melo”.

Compositor. Escritor. Cantor. Só depois, ao final, padre. Já há diversas polêmicas internet afora envolvendo o reverendíssimo sacerdote e os mais díspares críticos, de modo que as minhas palavras sobre o assunto seriam, no máximo, redundantes. Quero apenas fazer um breve comentário sobre o que enxergo ser o cerne da problemática.

Tem razão – por exemplo – a Montfort em dizer que “Padre Fábio de Melo é um herege completo”? Decerto que não. Primeiro, que um católico vere et proprie herege, nos dias de hoje principalmente, é uma coisa relativamente rara (aliás, o que vem a ser um “herege completo”? O que seria um “herege pela metade”?). Segundo, que, dentre os diversos graus de censura teológica existentes, é muito pouco provável que os textos do padre Fábio fossem classificados como “heréticos”. Terceiro, que não se chama um sacerdote do Deus Altíssimo de “herege completo” em público antes que os seus superiores o façam.

Tem razão, então, o padre Fábio de Melo em escrever e falar as barbaridades que escreve e fala? Tampouco. O problema, no meu entender, está expresso de forma lapidar no site oficial do padre: é o reverendíssimo sacerdote comportar-se como compositor, depois como cantor, depois como escritor, e só depois como padre católico.

“O fim de quem abraça o estado eclesiástico”, escrevia São Pio X, “deve ser unicamente a glória de Deus e a salvação das almas” (Catecismo de São Pio X, q. 820, grifos meus). E para as almas serem salvas é necessário que elas possuam a Fé Católica e Apostólica, sem a qual ninguém pode agradar a Deus e se salvar. Um sacerdote do Deus Altíssimo, então, que deve ter como único fim a glória de Deus e a salvação das almas, precisa empenhar-se com todo o seu ser na propagação da Fé. Precisa torná-la compreensível aos seus fiéis. Por isso, como é doloroso ver o Padre Fábio de Melo compôr, depois cantar, depois escrever, e só depois anunciar a Fé!

O resultado é que a Doutrina vem expressa de maneira sofrível, e é necessário um bocado de boa vontade para interpretar as declarações do reverendíssimo sacerdote em um sentido católico. Isso é muito triste, porque enseja reações [às vezes mais duras do que seria devido, de modo que restam improfícuas por falta de prudência] dos católicos indignados com o digníssimo desleixo sacerdotal; e isso sem falar na multidão incomensurável dos católicos que precisam da Doutrina Católica para se salvar e, no entanto, são forçados a hercúleos esforços para encontrá-La sob o manancial de futilidades e digressões complicadas que jorra em profusão dos discursos do reverendíssimo padre Fábio de Melo! Acaso todos eles são capazes de semelhante empreitada…?

Consegue o padre – entre trancos e barrancos – fugir da heresia, mas o objetivo do sacerdote não é simplesmente fugir da heresia, e sim fazer a Doutrina conhecida, para que Deus seja glorificado e as almas sejam salvas, como ensinou São Pio X! O discurso dos sacerdotes [de todos os católicos aliás, mas dos sacerdotes de uma maneira particularíssima] deve almejar ser o mais fiel possível à Doutrina Católica, e não simplesmente possuir o mínimo indispensável para não ser classificado como heteroxo. Fazer desta segunda concepção a norma da própria vida é, infelizmente, não compreender qual é realmente o fim de quem abraça o estado eclesiástico, ou os meios necessários para alcançá-lo.

O juiz protestante e os crucifixos das repartições públicas

Excelente o texto do William Douglas, “juiz federal, professor, escritor, mestre em Direito – UGF, Especialista em Políticas Públicas e Governo – EPPG/UFRJ”, publicado pelo Consultor Jurídico: Ação contra crucifixos mostra intolerância. Registre-se, aliás, logo de começo, que ele próprio não é católico. Este texto é um excelente exemplo de que é possível, mesmo sem ser católico, fugir à leviana interpretação da realidade – tão freqüente nos nossos dias! – segundo a qual o Estado não pode defender nada que a Igreja defenda, porque Ele é laico.

O juiz critica esta concepção de mundo nonsense muito melhor do que eu, ao dizer que “a laicidade não se expressa na eliminação dos símbolos religiosos, e sim na tolerância aos mesmos”. E devolve com maestria: “o pensamento deletério e a ser combatido é a intolerância religiosa, que se expressa quando alguém desrespeita ou se incomoda com a opção e o sentimento religioso alheios, o que inclui querer eliminar os símbolos religiosos”. Isto, sim, é uma lufada de bom senso no meio jurídico brasileiro, um lampejo de esperança no meio da fúria laicista.

Registre-se mais uma vez: ele não é católico e, ao contrário, é protestante iconoclasta. Pois chega ao ponto de dizer que o crucifixo, segundo a sua linha religiosa, é… um ídolo! Um ídolo, numa imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo! O absurdo da posição só confere mais valor ao seu parecer. Ele obviamente não está advogando em causa própria (acusação leviana amiúde lançada aos católicos), porque o crucifixo é, para a religião dele, muito mais abominável do que para os anti-clericais. Ofende-lhe muito mais do que aos laicistas mimados. No entanto, ele consegue enxergar com clareza a intolerância dos sem-religião.

E vai mais além, porque vai ao cerne do problema ao identificar o ateísmo com uma crença (como, aliás, já cansei de falar aqui): “A recusa à existência de Deus, a qualquer religião ou forma de culto a uma divindade não é uma opção neutra, mas transformou-se numa nova modalidade religiosa. […] A eliminação dos símbolos religiosos atende aos desejos de uma vertente religiosa perfeitamente identificada, e o Estado não pode optar por uma religião em detrimento de outras”. A clareza da posição me alegra sobremaneira: não é mais um católico fundamentalista que está falando isso para meia dúzia de leitores de seu blog, e sim um juiz federal protestante no Consultor Jurídico.

“Excluir símbolos é fazer o Estado optar por quem não crê. A laicidade aceita todas as religiões ao invés de persegui-las ou tentar reduzi-las a espaços privados, como se o espaço público fosse privilégio ou propriedade de quem se incomoda com a fé alheia”. Oxalá este entendimento estivesse mais disseminado no meio jurídico brasileiro! É lamentável que pensamentos como o do dr. William Douglas sejam minoritários. Enquanto isso, teremos que suportar as aberrações do Estado anti-teísta. Até quando…?

Entrevista, apologética, desabafo

Entrevista da dra. Rozangela Justino à VEJA: entrevistador extremamente malicioso, mas a psicóloga teve jogo de cintura. “Há no conselho [Federal de Psicologia] muitos homossexuais, e eles estão deliberando em causa própria. (…) Além disso, esse conselho fez aliança com um movimento politicamente organizado que busca a heterodestruição e a desconstrução social através do movimento feminista e do movimento pró-homossexualista, formados por pessoas que trabalham contra as normas e os valores sociais”.

– Artigo do Carlos Ramalhete contra a sanha laicista: São Paulo ou Seu Paulo? “Ver uma ofensa a outras crenças na presença de um crucifixo implica necessariamente em vê-la nos nomes de estados e cidades, nos nomes próprios das pessoas, na organização social do país, nos dias da semana, nos meses, no preâmbulo da Constituição Federal… Querer proibir a presença do crucifixo implica em querer proibir um dado constitutivo da própria nacionalidade brasileira, importar uma noção a nós estranha do que seja a Justiça, o Bem, o certo e o errado. O Brasil não surgiu nem subsiste em um vácuo; temos uma cultura própria, com base lusitana e católica, que independe até mesmo da própria religião seguida por cada brasileiro”.

– Desabafo do Gustavo diante de um artigo escrito por um judeu: Ecumenismo judaico. “Se soubéssemos que nenhum templo de outra religião é tão digno quanto o interior de nossas igrejas: porque nelas está Deus mesmo, em sua totalidade (corpo, sangue, alma e divindade)! Se soubéssemos que nenhum líder religioso de outra religião tem a autoridade de um sacerdote católico: porque este, unindo sua voz à Palavra d’Ele, traz ao altar o Filho de Deus. Se defendêssemos, ainda que ao custo da própria vida, a Mãe de Deus – tão vilipendiada pelos hereges e descrentes”. É verdade, caríssimo, é verdade…