Não importunem os ateus!

Acho que eu já disse aqui outras vezes que é melhor ler besteiras do que ser analfabeto – parafraseando o antigo ditado, segundo o qual é melhor ouvir besteiras do que ser surdo. Por isso, nem reclamo mais (tanto) quando me cai aos olhos uma bobagem do calibre deste texto do sr. Claudio Weber Abramo sobre o direito de não ser importunado.

Trata-se de uma infantil reclamação sobre manifestações religiosas em estádios de futebol, que descamba para a já conhecida intolerância do ateísmo militante. O senhor Abramo não quer ser importunado. Por qual motivo, então, ele importuna os outros despejando lixo na internet? “Um ateu que viva num ambiente repleto de evocações a seres incorpóreos, influências etéreas e exortações à ‘espiritualidade’ não pode deixar de indignar-se com a coisa toda”, diz o articulista. Por que ele não vai à China? Lá deve ser o paraíso dos ateus. Ou o que ele quer é transformar o Brasil em uma ditadura atéia onde ele possa viver sem ser importunado? Mas, aí, os cristãos ficariam incomodados… por qual fantástico motivo estes últimos poderiam ser importunados e ele não?

Por qual motivo as manifestações religiosas dos não-ateus incomodam tanto os – assim intitulados – “livres-pensadores”? Em um artigo do João Pereira Coutinho citado aqui ontem, o português dizia: “Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis”. Cai como uma luva para os ateus: existem pessoas que não acreditam em Deus, e existem aquelas que não acreditam e não querem que os outros acreditem. As primeiras, infelizes e, as segundas, miseráveis. O autor do texto ora citado parece pertencer à segunda categoria.

A justificativa dele para a sua posição? “O que está em jogo no caso da propaganda religiosa é o interesse coletivo. Interessa ao coletivo a disseminação de crenças em seres incorpóreos, influências etéreas e assim por diante?”. Ah, então tá. Como muito argutamente notou alguém numa lista de emails, se amanhã o sr. Abramo decidir que eu não existo, os meus amigos ficam ipso facto proibidos de falar em público de mim, porque não interessa ao coletivo. Não sei qual a razão do articulista achar que ele próprio é de interesse público.

Mas o manancial de bobagens parece inesgotável! Chega a ser frustrante ler que “[i]nteiras bibliotecas foram escritas para demonstrar que religião não é uma boa coisa (…) em particular[,] a ofensa que religiões representam à racionalidade, portanto à compreensão do mundo, portanto à capacidade de alterar o mundo”. As duas primeiras ofensas – à racionalidade e à compreensão do mundo – só podem ser uma piada de péssimo gosto. Tal sentença é, ela própria, uma ofensa à racionalidade. A terceira – ofensa à capacidade de alterar o mundo – pode ser verdadeira e talvez revele, afinal, o motivo profundo do ódio do articulista. Talvez ele esteja insatisfeito com o mundo que existe e deseje “alterá-lo”. Como na antiga União Soviética, quiçá. Só que está historicamente comprovado que o mundo inventado pelos sem-Deus não é bonito. Será que deveríamos repetir os mesmos erros de outora, somente para que o senhor Abramo não seja importunado?

Leitura fortemente correlata: A intolerância dos tolerantes! Ou: derrubem o Cristo Redentor e ponham Descartes no lugar.

Homenagem a Dom José – discurso

[Pronunciamento do reverendíssimo padre Nildo Leal de Sá, pároco da Imbiribeira, ao final da missa de encerramento da festa de São Cristóvão presidida por Sua Excelência Reverendíssima Dom José Cardoso Sobrinho, às 19 horas do último sábado, 1º de agosto de 2009.

Publicação original: Exsurge, Domine!

Texto revisado em 07 de agosto de 2009]

Bonum certamen certavi,
cursum consumavi,
fidem servavi”

– Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé – (2 Tm 4,6)

Excelência Reverendíssima,

Ao se encerrar solenemente a festa de São Cristóvão, co-padroeiro desta paróquia da Imbiribeira, nesta Santa Missa na qual se renovou, de forma incruenta, o Sacrifício Redentor da Cruz, quero, em meu próprio nome e no de todos os meus paroquianos, prestar a V. Excia. um fervoroso preito de gratidão, devoção filial e afeto, não só pelo fato de V. Excia. ter vindo celebrar a Divina Liturgia nesta festa patronal, mas, também, por ser esta uma celebração de despedida, tendo em vista que, dentro de duas semanas, V. Excia. estará entregando ao seu sucessor a cura pastoral desta Arquidiocese.

As palavras do Apóstolo, há pouco citadas, parecem-me descrever um perfeito retrato destes mais de 24 anos em que V. Excia. esteve à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife.

I. “Bonum certamen certavi…”

De fato, quantas batalhas foram travadas ao longo desses anos…. Quantos ataques, injúrias e calúnias a V. Excia. Mas se tratou de um bom combate: o combate pela fé verdadeira, o combate para preservar os bons costumes, para formar um bom clero, para confirmar a todos na fé apostólica, para manter a unidade e a comunhão afetiva e efetiva com o Santo Padre, o Papa, Vigário de Cristo na terra. Em poucas palavras, o bom combate para guardar a fé católica, a fé da nossa Santa Igreja, sem a qual ninguém pode agradar a Deus e se salvar!

Foi, certamente, um duro combate, mas frutuoso, porque ajudou-nos a todos a entender que, acima de tudo, o bispo, como pastor, deve buscar sempre cumprir a lei suprema da Igreja, que é a salvação das almas, ainda que isto implique incompreensões,   desafetos, perseguições. V. Excia. ensinou-nos que não se pode fugir à luta, porque os cristãos, e sobretudo os sacerdotes, são, ontologicamente, outros Cristos, que lutam, que combatem para salvar-se e salvar os outros da tirania do demônio e do pecado e alcançar o céu.

Creio que as palavras ditas por Nosso Senhor, na noite da Quinta-feira Santa, dirigidas especialmente àqueles a quem Ele acabara de ordenar como os primeiros sacerdotes, foram de consolação para V. Excia nos momentos mais difíceis de sua espinhosa missão: “No mundo tereis muitas tribulações. Mas tende coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

“Ego vici mundum”… Sim, V. Excia. sai vitorioso como o Cristo Crucificado, como São Cristóvão, como os Santos Apóstolos e os mártires de todos os tempos, como o seu mais ilustre predecessor no sólio olindense, o glorioso Dom Vital. Aos olhos do mundo parecem ter sido derrotados, mas empunham a palma da vitória.

II. “Cursum consumavi…”

Dom José, V. Excia. encerra a missão como Pastor desta Igreja Particular. Parte para um merecido repouso. Deixará saudades e frutos que, certamente, serão saboreados ainda daqui há muitos anos. Creio que esta nova etapa na vida de V. Excia. ainda será de grande proveito para muitos, por muito tempo. V. Excia. deixa de ser o Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, mas continuará a ser padre e bispo, “in aeternum”. A nossa paróquia lhe agradece pela especial atenção dedicada a ela, ao criá-la há quase onze anos, e ao estar sempre presente conosco ao longo de todos esses anos, e deseja-lhe muitas felicidades.

III. “Fidem servavi”

Excelência, “in obsequio Iesu Christi” (em obediência a Jesus Cristo) e por causa dessa obediência, a chama da fé resplandece na sua alma apostólica e ilumina a todos nós. Não é exagero de retórica: no céu, V. Excia. terá, certamente, um lugar privilegiado no coro dos confessores da fé  e dos mártires. Espontaneamente, vêm-me à mente as palavras de Nosso Senhor a São Pedro: “Simão, Simão, Satanás te pediu para joeirar-te como o trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”. (Lc 22,31-32).

As portas do inferno se escancararam contra V. Excia., de todos os lados, mas encontraram uma casa, ou melhor, uma fortaleza construída na rocha. A sua fé brilha, invicta. “Vicit Leo de Tribu Iuda”: Venceu o Leão da tribo de Judá. A vitória foi alcançada. V. Excia. guardou a fé, e essa fé venceu os seus inimigos, os inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Sua Santa Igreja Católica.

Parabéns e obrigado, Dom José, amado pai e pastor!

Recife, 10 de agosto de 2009

Recomendações

Dois grandes amigos meus publicaram recentemente livros pelo Clube de Autores. São pessoas que a maior parte dos meus leitores deve conhecer – o Rafael Vitola Brodbeck e o Taiguara Fernandes de Sousa, ambos do Veritatis Splendor – e que dispensam maiores apresentações. Gostaria de escrever uma resenha sobre os livros para apresentá-los, mas a escassez de tempo mo impede, infelizmente. Mas adianto a recomendação: cliquem nas capas dos livros para os adquirir.

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Mais Medjugorje – esclarecimento

Aproveitando a intervenção do revmo. pe. Mateus Maria no post de ontem sobre o milagre do sol de Medjugorje, julgo ser uma fundamental questão de justiça deixar claro que não encontrei absolutamente nada sobre o “bailado solar” de anteontem no site oficial das aparições, que é o http://www.medjugorje.hr/.

E encontrei uma importante nota na seção de notícias em espanhol do site, que considero fundamental ser conhecida e divulgada:

DISCERNIMIENTO DE LAS NOTICIAS ACERCA DE MEDJUGORJE

A menudo sucede que los organizadores de las peregrinaciones, líderes de los Centros de Paz y de los grupos de oración plantean diversas preguntas sobre novedades espectaculares con respecto a las apariciones de la Virgen, a presuntas declaraciones de los videntes y a la posición de los franciscanos de Herzegovina.

En la imposibilidad de responder a cada uno en particular y deseando motivar a los peregrinos y amigos de Medjugorje a “discernir en el Espíritu y en la verdad”, aprovechamos la ocasión para llamar a todos a no dejarse engañar por noticias espectaculares, poco serias y mal intencionadas que se publican. Todas las informaciones importantes y necesarias vinculadas a los acontecimientos de Medjugorje pueden ser encontradas en nuestra página web: www.medjugorje.hr, que son la “voz oficial” de Medjugorje. También deseamos pedirles que las reciban en oración y con seriedad las difundan, y si lo consideran necesario, se nieguen a recibir y difundir noticias provenientes de otras fuentes.

Todos los franciscanos que actualmente viven en la parroquia de Medjugorje, cumplen su función con el mandato del obispo local Mons. Ratko Peric, y tienen mandato canónico para el cumplimiento de su servicio sacerdotal.

Milagre em Medjugorje

Eu já disse aqui que tenho sérias ressalvas quanto às supostas aparições da Virgem Santíssima em Medjugorje. O meu primeiro sentimento, portanto, quando recebi um email informando que o sol dançou em Medjugorje ontem, foi de raiva.

Está disponível na página principal do “Queridos Filhos”, site – até onde me consta – oficial em português sobre as aparições [p.s.: na verdade, o site oficial sobre Medjugorje é o http://www.medjugorje.hr/]. Uma chamada em letras garrafais: “Durante a aparição de Nossa Senhora à Mirjana o sol ‘dançou’ e ‘girou’ como em Fátima na presença de milhares e milhares de peregrinos”. Tem um vídeo do suposto milagre que eu não consigo assistir daqui do trabalho. À noite, complemento este post com mais considerações; no entanto, queria desde já tecer alguns comentários.

O milagre é descrito no site. “Durante a aparição Mirjana viu o sol atrás de Nossa Senhora. Quando ela saiu do êstase (sic) Mirjana ficou surpresa com que estava acontecendo. Os peregrinos também tinham visto um milagre. O sol se tornou um sinal miraculoso para eles. Mais e mais peregrinos olhavam para onde os primeiros estavam apontando – para o sol. Muitos viram o sol ‘dançando’ e ‘girando’ Outros viram uma cruz iluminada no sol. Muitos outros viram diferentes cores dentro ou saindo do sol. Muitos choravam outros fixavam os olhos admirados e outros se encheram de alegria. E houveram muitos qure não olharam para cima pois estavam em profunda oração durante a aparição”. Qualquer semelhança com o Milagre do Sol de Fátima não é mera coincidência: é uma sua repetição deliberada.

Todos sabem que eu acredito em milagres. Estou sinceramente disposto a mudar a minha opinião sobre Medjugorje caso o desenrolar dos fatos confirme a sobrenaturalidade dos eventos dos quais o vilarejo é palco. Tal reviravolta, no entanto, seria contrariar todos os prognósticos. A documentação sobre as supostas aparições está disponível (em inglês) em um site pró-aparições, atualizada até a notificação da Congregação para a Doutrina da Fé de 1998; não sei como andam as investigações de lá para cá. Onze anos atrás, no entanto, os bispos afirmaram publicamente que não se podia afirmar haver aparições sobrenaturais em Medjugorje.

E esta última notícia, francamente [aliás, tornada pública pouco tempo depois da redução ao estado laical do frei Tomislav Vlasic…], só me fez acreditar ainda menos nas supostas aparições de lá. Repetir o milagre talvez mais portentoso da história do Cristianismo assim, sem ter nem pra quê?! O milagre cuja data foi anunciada antecipadamente em Fátima, e que serviu de coroamento da mais importante aparição da Virgem Santíssima dos tempos atuais, repetindo-se “do nada” em Medjugorje para a Virgem Imaculada dizer coisas que, embora piedosas, poderiam perfeitamente ser ditas por qualquer um? Eis a mensagem de ontem:

Queridos filhos!

Eu estou vindo, com meu amor maternal, para apontar o caminho o qual vocês devem seguir de forma que vocês possam todos ser mais parecidos com o meu Filho, e, assim mais próximos e agradáveis a Deus. Não recusem o meu amor. Não renunciem a Salvação e a Vida Eterna por motivos de transitoriedade e frivolidade desta vida. Eu estou entre vocês para conduzi-los e, como uma mãe, para cuidar de vocês. Venham comigo.

Alguém consegue estabelecer o mais remoto paralelo entre essa mensagem e as da Virgem em Fátima? Alguém pode me explicar, então, por qual motivo o milagre que foi utilizado para dar credibilidade a uma revelação da mais alta importância seria repetido com a maior naturalidade para se dizer pela milésima vez uma coisa qualquer?

No entanto – e é essa a razão da minha raiva – a caricatura foi feita. Se o milagre não for verdadeiro, e for invenção humana, são irresponsáveis os seus propagadores. Se foi arquitetado por Satanás, dessa vez foi um golpe de mestre. Já estou até vendo: “se o milagre do sol de Medjugorje não é verdadeiro, por que motivo o de Fátima é?”. Em sendo falsa – como eu acho sinceramente que seja – a repetição de Fátima ocorrida ontem, ela só veio diminuir a credibilidade das verdadeiras aparições ocorridas em Portugal.

Se foi um milagre verdadeiro, realizado por motivos que sinceramente escapam-me à compreensão, então peço desde já que a Virgem Imaculada tenha piedade de mim, seu escravo miserável, pois tudo o que tenho pensado e dito a respeito de Medjugorje foi para tentar impedir que as glórias da Mãe de Deus fossem obscurecidas por caricaturas Suas. Não posso, no entanto, em consciência, deixar que se coloquem em pé de igualdade as aparições verdadeiras e aquelas que são – para dizer o mínimo – bem questionáveis. Que o Deus Altíssimo Se compadeça de nós e livre-nos do estado de confusão. Que se levante a Virgem para defender a Sua honra; que a Verdade resplandeça sobre todo engano; e que venha depressa o triunfo do Coração Imaculado da Mãe de Deus.

P.S.: Acabei de ver o vídeo. Na verdade, existem diversos no youtube, de 2006, 2007, de 2 meses atrás, 1 mês atrás, 1 semana atrás. O que está no site do “Queridos Filhos” não é o do milagre supostamente ocorrido ontem, e sim em 24 de junho. Parece que não tem – ainda – o de ontem. Quanto ao vídeo em si, é esquisito. Primeiro, não se deveria dizer que o sol “bailou”, e sim que – no máximo – “pulsou”. Segundo… este efeito não é precisamente o que acontece quando uma câmera digital focaliza uma fonte de luz muito forte? Dá a impressão que é a câmera que, movimentando-se, obriga o aparelho a “refocar” a fonte de luz e, então, ela se expande e se contrai. Tenho a impressão de já ter visto isso antes…

P.S.2.: Na verdade, acho que não o foco, e sim o controle automático de luminosidade. Quando a fonte de luz forte – no caso, o sol – fica centralizada, a câmera diminui a sensibilidade e escurece ao redor dela; quando ela se afasta, a sensibilidade é aumentada e, assim, expande a fonte de luz. Dá para notar que é quando o sol fica nos “cantos” que ele está “maior”. Eu consigo fazer, com a câmera do celular, a lâmpada fluorescente da minha sala “bailar” como o sol do vídeo; só que, lá, o aumento e a diminuição estão bem mais velozes.

Dom José Cardoso Sobrinho: A Vitória da Fé

O Exsurge, Domine! fez a recomendação primeiro, mas eu faço questão de enfatizá-la: é uma verdadeira pérola o livro do professor Dr. Elcias Ferreira da Costa, “Dom José Cardoso Sobrinho: – a Vitória da Fé” (Ed. do Autor, Recife, 2009), recém adquirido por mim. Está sendo vendido aqui em Recife na Flor do Carmelo, ao preço de 35 reais cada exemplar. Caso alguém deseje contactar o autor, pode utilizar o seu email disponiblizado na própria edição: elciasferreiracosta@ig.com.br.

Fonte documental primorosa – inclusive revisado pela irmã do senhor Arcebispo -, o livro possui quinhentas páginas repletas de fotos, recortes de jornais, reproduções de documentos da cúria e de cartas escritas pelo próprio Arcebispo ou por membros do clero, ao longo dos últimos 23 anos. Gostaria de reproduzir aqui o índice, mas ele é muito longo. Entre os capítulos tratados, podemos encontrar coisas como “Papa demonstra expressivo apoio a Dom José Cardoso Sobrinho, aprovando mais uma vez todas as suas decisões pastorais”, “Fiéis integralmente solidários com Dom José Cardoso Sobrinho, em 29/10/89, lotam a igreja de São Bento, em Olinda, prestando solene manifestação”, “Na véspera do Natal [de] 1989, 60 sacerdotes da Arquidiocese de Olinda e Recife censuraram seu próprio Arcebispo em manifesto publicado nos principais jornais da capital”, “No dia 18/01/90, milhares de fiéis, sacerdotes e religiosos lotam o pátio do Palácio dos Manguinhos e parte da Avenida Rui Barbosa, em desagravo ao Arcebispo”, “Frei Al[o]ísio Fragoso publica veemente nota de censura aos bispos do NORDESTE II, por terem manifestado solidariedade a Dom José Cardoso” (!!) e “Dom José Cardoso Sobrinho se oferece para substituir como refém dos presos amotinados no Presídio Aníbal Bruno, o Pe. Bibolet e companheiros da Pastoral Carcerária, seqüestrados pelos detentos em rebelião”.

É uma preciosidade. Folheando-o ao acaso, encontro a nota de frei Aloísio à página 278: “Será que o episcopado da Região se sente lúcido ao se apresentar à Igreja e à opinião pública identificado com as ações e as palavras do arcebispo de Olinda e Recife, que têm provocado progressivamente a desaprovação e a rejeição da sociedade, expressa publicamente por pessoas e entidades da maior significação social?”. É uma piada: esta nota foi escrita pelo próprio franciscano e mais três leigos. Avanço algumas páginas, e vejo que 60 sacerdotes do clero assinaram um manifesto “ao povo da Arquidiocese de Olinda e Recife” (p. 289), na véspera do Natal de 1989. Comenta o dr. Elcias: “Nem gloria in excelsis Deo, nem pax homínibus bonae voluntatis, nem vôo de anjos no céu, mas solidariedade com todos os insultos que haviam sido dirigidos por alguns padres contra o Arcebispo e solidariedade, ainda, com os atos de indisciplina e de rebeldia publicamente praticados. Em lugar de Noite Feliz, qualquer coisa parecida com um pressago non serviam” (p. 288). A resposta do povo: “na tarde de ontem [18/01/90], quinta-feira, o povo católico da Arquidiocese compareceu em massa ao Palácio do Manguinho (sic), a fim de prestar grande homenagem ao seu querido Arcebispo, Dom José Cardoso Sobrinho. (…) Presentes, além de 91 (noventa e um) sacerdotes, inúmeras religiosas de várias Congregações sediadas na Arquidiocese e representações de todos [os] Movimentos e Associações, que aqui funcionam, como Apostolado da Oração, Círculo Católico, Comissão de Justiça e Paz, Focolarinos, Mães Cristãs, Movimento Eucarístico Arquidiocesano, OAF (Organização do Auxílio Fraterno), Ordem Terceira do Carmo, Renovação Carismática, Serra Clube, representantes das paróquias, etc.” (p. 310).

Dá vontade de continuar lendo e de colocar mais coisas aqui; mas para uma indicação de leitura já está de bom tamanho, pois terei oportunidades de voltar a citar o livro – que é mais do que recomendado. Registro os meus sinceros agradecimentos ao Dr. Elcias Ferreira da Costa, por trazer a lume uma obra de tamanha importância para a compreensão da Arquidiocese de Olinda e Recife, da qual tenho a graça de fazer parte.

P.S.: O livro também está sendo vendido na sede do Círculo Católico.

Rua do Riachuello, edf. Círculo Católico, numero 105.
Telefone: (81) 3222-4816

Três curtas

Rede TV é condenada a indenizar casal de lésbicas. Acho bem possível que isto seja culpa da Rede TV e venha a favorecer o Gayzismo tupiniquim, infelizmente. Convenhamos, o programa da Luciana Gimenez não prima pela impassionalidade científica…

O problema está na utilização desta monstruosidade gimenezca para legitimar o Gayzismo como um todo, do tipo “ah, tá vendo, as pobres meninas foram humilhadas em cadeia nacional, então é urgente criminalizar a homofobia”. Eu acho bem possível que elas tenham de fato sido (dado o teor do referido programa), embora não acredite que elas tenham ido como cordeiro ao matadouro. Só que, como já cansamos de repetir, o Movimento Gay não quer as justas e razoáveis proteções, e sim a enaltação do homossexualismo e a criação de uma nova casta de cidadãos, os super-gays.

É a mesma coisa com relação aos assassinatos de homossexuais: obviamente um gay não pode ser espancado até a morte, nem ninguém. Mas o Gayzismo pega esta tragédia, chama-a de um outro termo – “homofobia” – que engloba uma série de outras coisas (muitas das quais justíssimas) e pretende coibir todas elas, reclamando contra a “homofobia”, passando assim gato por lebre. Estou com a sensação de que a mesma coisa está sendo feita com relação à Rede TV.

Norte-coreana pode ter sido morta por portar a Bíblia. E a perseguição religiosa continua violenta mundo afora, diante da impassividade cínica da sociedade moderna que se esqueceu de Deus. Detalhes: a “Coreia do Norte foi qualificada como o pior perseguidor de cristãos durante sete anos consecutivos na Lista de 2009 de Open Doors Watch” e, lá, os “norte-coreanos são obrigados a praticar um culto à personalidade que inclui Kim Jong-Il e seu falecido pai”.

A única vantagem de se viver (p.ex.) em Cuba é crescer alimentando a Fé com os gritos de Viva Cristo Rei! dos mártires enviados ao Paredón. Afinal, o sangue dos mártires é semente de cristãos, e a mesma coisa se verifica na Coréia do Norte: “[a]pesar da perseguição, estima-se que cerca de trinta mil norte-coreanos praticam o cristianismo em seus lares e em segredo”.

– Mais lixo no site da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil: Carta às Irmãs e aos Irmãos das CEBs e a todo Povo de Deus. Senhores bispos, por Cristo Crucificado, tenham misericórdia do povo católico desta Terra de Santa Cruz! É extremamente doloroso simplesmente não poder contar, dada a história recente, com a Conferência Episcopal do maior país católico do mundo. É um verdadeiro martírio estar sempre na iminência de receber, dos sucessores dos Apóstolos escolhidos para pastorear a Igreja de Deus no Brasil, coisas estranhas à Sã Doutrina Católica. É uma vergonha que a CNBB preste o desserviço à Igreja que ela parece estar empenhada em prestar.

Deixar-se “guiar na celebração pelo som dos maracás, tambores e flautas e pela dança de louvor a Deus de nossos irmãos e irmãs indígenas”? Ser tocado pela “oração dos Xerente do Tocantins que celebraram seu ritual pelos mortos, homenageando o amigo e missionário, Pe. Gunter Kroemer”? Beber “o manancial da fé que nos une a todos e todas, na única família humana, como filhos e filhas da mesma Mãe-Terra, a Pacha-Mama dos povos andinos, a Terra sem Males dos Povos Guarani, na busca, sonho e construção do Reino de Deus anunciado por Jesus”? “AMÉM! AXÉ! AUERE! ALELUIA!”?

Senhores bispos, não permitam que a Religião Verdadeira ande de mãos dadas com o paganismo estéril. Não deixem que Nosso Senhor seja colocado no mesmo panteão de Belial. Tenham a coragem de serem aquilo que devem ser. Tenham piedade do povo católico brasileiro.

Penas canônicas

Reduzido ao estado laical o frei Tomislav Vlasic, antigo diretor espiritual dos seis videntes de Medjugorje. Ele “pediu para deixar o sacerdócio após o Vaticano também investigar acusações de que era culpado de imoralidade sexual ‘agravadas por motivações místicas’, depois de engravidar uma freira e então persuadi-la a silenciar o assunto. […] Veio à tona ontem que ele escolheu deixar o sacerdócio e sua ordem, uma mudança que levou a investigação a um fim abrupto”.

Padre brasileiro suspenso de ordens nos Estados Unidos. “A Arquidiocese [de Boston] proibiu o padre [Pedro José] Damázio de realizar qualquer tipo de missa ou serviço público dentro de seus domínios. Essas restrições serão mantidas e dependem do resultado da investigação”. O sacerdote é acusado de “comportamento sexual inadequado com adultos”. A notícia original da Arquidiocese de Boston está aqui.

– Rezemos pelo clero, de modo particular neste Ano Sacerdotal.

Igreja Nova x Igreja Católica

Eu acho que já falei aqui algumas vezes do jornal “Igreja Nova”, lixo recifense pretensamente católico que envergonha esta Veneza Brasileira. Para o meu imenso desprazer, uma amiga daqui me avisou hoje que eles produziram uma nova edição do jornaleco herético, que foi distribuído nas portas das paróquias (não sei quais, ela não me disse) e que ela conseguiu digitalizado. Ei-lo abaixo: cliquem em cada uma das páginas para ampliar.

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Simplesmente ridículo. “Seja bem vindo Dom Fernando, animador do modelo de Igreja do Vaticano II e discípulo de Dom Hélder. (…) Temos certeza que podemos anunciar com alegria que o desmonte acabou. Agora é tempo de reconstruir!” (p.1). “Nada temos contra o cidadão caruaruense, católico fervoroso, frade carmelita e especialista em Direito Canônico, José Cardoso Sobrinho. […] Foi a sua falta de vocação para Pastor que o levou a denunciar o padre Edwaldo Gomes aos tribunais da Cúria Romana, pela presença de um irmão anglicano na concelebração eucarística em ação de graças pelos 50 anos de sacerdócio, e a anunciar a excomunhão dos componentes da equipe médica que salvou a vida de uma menina vítima de estupro” (p. 2). Acaso quem escreve este tipo de lixo ainda pode se pretender católico? Nem há necessidade de refutar os textos; eles se refutam por si sós.

Reafirmo, no entanto, o que já disse aqui em outra oportunidade: estão claramente tentando manipular a imagem do novo Arcebispo de Olinda e Recife para que ele seja apresentado ao público como uma espécie de “anti-Dom-José-Cardoso”, paladino de uma “igreja nova” inventada pelos hereges modernos que é em tudo diferente d’Aquela fundada por Nosso Senhor. E, isso, nós não aceitaremos. A Igreja de Cristo é Aquela que foi fundada sobre Pedro e, enquanto o pastor que ocupar a Cátedra de Olinda estiver em comunhão com o bispo de Roma, teremos em Recife uma Igreja Católica, e não uma “igreja nova”. Que o Espírito Santo possa guiar Dom Fernando Saburido, o sucessor do gigante Dom José Cardoso Sobrinho.

Mais sobre a comunhão na boca

Sempre foi prática na Igreja que os fiéis recebessem a Sagrada Comunhão do sacerdote, e diretamente na boca. Por exemplo, o Concílio de Trento disse que “sempre foi costume na Igreja de Deus receberem os leigos a comunhão das mãos do sacerdote”, e que “se deve conservar este costume como proveniente da Tradição apostólica” (Trento, Seção XIII, Cap. 8). E Santo Tomás de Aquino chega a dizer que nada que não seja consagrado pode tocar na Santíssima Eucaristia, e é por isso que os vasos sagrados são consagrados, como consagradas são as mãos do Sacerdote (cf. Summa, IIIa, q. 82, a. 3).

A comunhão de joelhos e na boca tem um riquíssimo significado catequético: os leigos recebem dos Sacerdotes o Corpo de Deus, i.e., recebem-No da Igreja, e não O pegam por si próprios; recebem-No de joelhos, na adoração que é devida ao Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor. Há um bom artigo sobre isto no site do Reino da Virgem.

A história  da mudança deste costume chega a ser surreal e seria tomada por inverossímil caso não tivesse acontecido. A Memoriale Domini, a instrução da Sagrada Congregação para o Culto Divino que permite a comunhão na mão, faz uma belíssima defesa da comunhão na boca e de joelhos. Entre outras passagens, pode-se citar:

Esse método de distribuição da Santa Comunhão [de joelhos, na boca] deve ser conservado, levando-se em consideração a situação atual da Igreja em todo o mundo, não apenas porque possui por trás de si muitos séculos de tradição, mas especialmente porque expressa a reverência do fiel pela Eucaristia.

[A] prática que deve ser considerada a tradicional assegura, mais efetivamente, que a Santa Comunhão seja distribuída com o devido respeito, decoro e dignidade.

Este documento traz uma coisa curiosíssima: foi feita uma consulta “a todos os Bispos da Igreja Latina [sobre] se era oportuno introduzir esse ritual [da comunhão na mão]”. O resultado?

Sim: 597
Não: 1.233
Sim, mas com reservas: 315
Votos inválidos: 20

A partir daqui, as coisas ficam surreais: após a consulta – diz o documento -, “fica claro que a vasta maioria dos Bispos crê que a disciplina atual não deve ser modificada, e caso viesse, que a mudança seria ofensiva aos sentimentos e à cultura espiritual desses Bispos e de muitos dos fiéis”. E então “o Santo Padre decidiu não modificar a maneira existente de administrar a Santa Comunhão aos fiéis”.

No entanto, após tudo isso, numa conclusão que sinceramente vai de encontro a tudo que tinha sido dito até então, termina a Memoriale Domini: “Onde um uso contrário, o de colocar a Santa Comunhão nas mãos, prevalecer, a Santa Sé – desejando ajudá-las a cumprir sua tarefa, muitas vezes árdua, como nos dias atuais – deixa às Conferências a tarefa de avaliar cuidadosamente qualquer circunstância especial que possa existir, tomando o cuidado de evitar todo risco de falta de respeito ou de falsa opinião com relação à Sagrada Comunhão, e de evitar quaisquer outros efeitos maléficos que possam se seguir”.

E a decisão foi entregue às Conferências Episcopais. E elas conseguiram sufocar a clara voz dos bispos que se tinham levantado contra a introdução deste costume. E a comunhão na mão foi universalizada, minando a piedade eucarística das almas dos fiéis, fazendo com que se concretizassem os temores dos bispos que foram consultados no final da década de 60. E a fumaça de Satanás entrou na Igreja. E o Demônio riu-se no Inferno.

Antes que me entendam mal: faz já quarenta anos, o estrago já foi feito, os católicos mudaram muito desde então, as normas atuais da Igreja permitem que se receba a Comunhão Eucarística nas mãos e, portanto, é perfeitamente lícito ao fiel comungar na mão; ele não comete nenhuma blasfêmia ou sacrilégio se o fizer. Não é esse o ponto; não se trata de dizer às pessoas que elas não podem comungar na mão, porque podem, é a Igreja que o autoriza. É uma questão de defender e promover a forma tradicional de se receber a Eucaristia na Santa Missa. Porque, sinceramente, olhando para o passado e para os dias de hoje, não posso deixar de considerar a urgência de se resgatar o costume tradicional de se receber a comunhão eucarística.