Miscelânea de véspera de feriado

Mais coisas a comentar do que tempo para o fazer…

Manifesto do Silêncio, proposto pela ABRACEH, sobre o julgamento da psicóloga Rozangela Justino que foi remarcado para o dia 31 de julho de 2009. A ABRACEH também destaca a atividade do deputado federal Paes de Lira, que – entre outras coisas – conseguiu aprovar um requerimento para que houvesse uma audiência pública onde a própria dra. Rozangela, junto com “Joide Miranda (que deixou a condição de travesti), Claudemiro Soares (escritor do livro sobre abordagens terapêuticas para deixar a homossexualidade, ele mesmo tendo saído dela), além do Pastor Silas Malafaia e um representante da CNBB”, possam expressar o seu ponto de vista “acerca do Estatuto da Família e Leis da Homofobia”. Não sei a data desta audiência.

– Hoje é dia de São Thomas More e São João Fisher, mártires da Reforma Protestante na Inglaterra que não aceitaram o cisma de Henrique VIII. Vejam este texto e este outro sobre São João Fisher, junto com este e este sobre São Thomas More. E que os santos que não se dobraram diante do protestantismo possam interceder pela conversão dos hereges e cismáticos à única Igreja de Cristo.

Campanha pela santificação do clero brasileiro lançada pelo Veritatis Splendor. Nas atuais conjunturas chega às raias da utopia [possui coisas como “[q]ue os sacerdotes sejam absolutamente fiéis ao Magistério e valorosos defensores do Papa”, “[q]ue os sacerdotes ensinem a verdadeira DSI e a verdadeira moral, e deixem de favorecer a Teologia da Libertação” e “[q]ue os sacerdotes honrem o latim na liturgia e celebrem a Missa, mesmo na forma ordinária, em latim em suas igrejas”…], é forçoso reconhecer, mas precisamos rezar pelos nossos sacerdotes. Que a Virgem Santíssima consiga um portentoso milagre para esta Terra de Santa Cruz.

Presos dois homens acusados de intolerância religiosa. Protestantes da “Igreja Geração Jesus Cristo” (sic). É o primeiro caso de prisão por intolerância religiosa que ocorre no Brasil. A despeito de ser óbvio que ninguém pode invadir a casa dos outros e sair quebrando as coisas, a condenação está equivocada e pode abrir um perigoso precedente, porque caberia no máximo uma pena por invasão de domicílio e danificação de propriedade privada, não por “intolerância religiosa”. Guardadas as devidas e necessárias proporções entre os protestantes sem noção e os católicos de antigamente, destruir ídolos é em si uma coisa boa. Hernan Cortez o fez no México, e São Francisco Xavier, na Indonésia. Quando o Estado começa a se meter em questões religiosas, legislando sobre matéria que não tem competência, onde estão os defensores do Estado Laico?

FSSPX ordena treze novos sacerdotes nos Estados Unidos, “de surpresa”, em meio à polêmica sobre outras ordenações que estavam marcadas para o fim do mês; estas que geraram celeuma estão programadas para o dia 27 de junho, na Alemanha. Bom, o que dizer diante disso? Por um lado, cabe perguntar se não seria possível à FSSPX esperar um pouco e ter um mínimo de deferência ao Santo Padre que, não obstante esteja tratando com tanta benevolência os lefebvristas, ainda não conferiu status canônico algum à Fraternidade; por outro lado, talvez fosse utópico achar que uma simples canetada fosse transformar de repente a São Pio X em ovelha dócil e fiel ao Sucessor de Pedro. Estas ordenações provavelmente vão gerar ainda mais confusão. Rezemos pelo Papa, rezemos pela FSSPX.

Alguns mitos sobre as cruzadas, texto excelente disponível na Quadrante. “A atual visão a respeito das Cruzadas nasceu do Iluminismo do século XVIII. Muitos dos então chamados “filósofos”, como Voltaire, pensavam que a Cristandade medieval fora apenas uma vil superstição. Para eles as Cruzadas foram uma migração de bárbaros devida ao fanatismo, à ganância e à luxúria. A partir desse momento, a versão iluminista sobre as Cruzadas entrou e saiu de moda algumas vezes. As Cruzadas receberam boa imprensa e foram consideradas como guerras de nobreza (mas não de religião) durante o Romantismo e até o início do século XX. Depois da Segunda Guerra, contudo, a opinião geral voltou-se decisivamente contra as Cruzadas. Na esteira de Hitler, Mussolini e Stalin, os historiadores concluíram que a guerra por motivos ideológicos – seja qual for a ideologia em questão – é abominável”.

Curtas

1. O Segredo (de Fátima) Já Advertia Contra o Vaticano II e a Missa Nova. “Nossa Senhora também alertou que haveria um Concílio diabólico na Igreja que causaria um grande escândalo. E claro, foram os documentos do Vaticano II – A Constituição da Liturgia – que deu impulso ao Papa Paulo VI para reformar a liturgia de uma tal maneira desastrosa, que causou uma tal perda da fé e confusão na Igreja”. Ah, claro. Às vezes eu me pergunto se é possível que as pessoas não percebam a leviandade de algumas informações.

2. Obama estende benefícios a parceiros de funcionários gays. “Casamento” Gay às portas dos Estados Unidos do presidente abortista! Tal medida “marca um passo na história” – disse Obama,  “mas não é mais que um passo”. Não quero nem imaginar, então, o que será a caminhada completa.

3. Uso de preservativos caiu entre brasileiros, diz pesquisa. Ao mesmo tempo, “a prática de sexo casual no País cresceu 132% em quatro anos”! A promiscuidade cresce vertiginosamente; até quando as autoridades públicas vão insistir no engodo de que a borracha é a salvadora da humanidade?

Entrevista com Dom José – 1990

Vejam no blog do Gustavo. Ele pretende transcrever o texto em no máximo três partes. A primeira já está disponível.

Desentendimentos entre um padre e o seu bispo são comuns; – incomum é não procurar resolvê-lo pelo diálogo. Sempre que surgiram esses desentendimentos, o meu primeiro passo foi chamar o interessado à minha residência, conversar com ele, ponderar, ouvir, dialogar. Os sacerdotes que hoje estão nos jornais falando contra o seu bispo, todos eles, sem exceção, foram convocados antes para um diálogo. Algumas vezes o problema desses sacerdotes foi discutido com meus assessores, mas sempre em âmbito religioso, para que muitas coisas fossem resolvidas sem escândalo público. E eu lamento muito que alguns desses sacerdotes, assacando inverdades contra o Arcebispo, tenham recorrido à Imprensa para tornar público aquilo que deveria ser resolvido sigilosamente.

Que Deus abençoe Dom José Cardoso Sobrinho.

Sugestões corridas

– O Gustavo esteve ontem comigo na audiência pública sobre o aborto da Câmara dos Vereadores de Recife. E aproveitou para entrevistar a dra. Dolly. Recomendo a leitura da entrevista.

– Um rabino defende a canonização de Pio XII, conforme notícia veiculada em ZENIT. É americano, chama-se Erich A. Silver, e mudou de idéia sobre a idoneidade do Papa em setembro de 2008. “As provas que eu vi [no simpósio organizado pela Pave The Way Foundation] me convenceram de que sua única motivação (de Pio XII) foi salvar todos os judeus que ele pudesse. […] Vale destacar que, depois do fim da guerra e até sua morte, os judeus o elogiaram continuamente, reconhecendo-o como salvador”.

– Algum delinqüente jogou uma bomba ao final da parada gay de São Paulo, que feriu vinte e uma pessoas. Desnecessário dizer que repudiamos esta violência inaceitável, como repudiamos o assassinato do dr. Tiller; rechaçamos veementemente qualquer tentativa de associar tais criminosos aos católicos que somos contrários ao Gayzismo. O atentado já está sendo usado como massa de manobra política para pressionar a sociedade “contra a homofobia”; espero que as pessoas saibam diferenciar a pregação moral católica do lançamento de bombas caseiras.

– Excelente recomendação: o livro de Dom Boaventura Kloppenburg, “Espiritismo: orientações para católicos”, disponibilizado pelo São Pio V. É o melhor livro de apologética contra o espiritismo que eu conheço.

– Texto do Pondé sobre neopaganismo: Uivando para a Lua. Aproveitando toda a discussão sobre história travada aqui, o colunista da Folha é um bom exemplo de como fazer crítica histórica à Igreja sem ser estúpido. “O imaginário adolescente é claro: o cristianismo, este perverso, patriarcal, destruiu uma sociedade onde homens e mulheres viviam em comunhão sem opressão. Para eles, queimaram-se milhares de mulheres e homens inteligentíssimos na Idade Média. A verdade é que provavelmente a maior parte dessas infelizes vítimas era gente boba mesmo. Pergunta: como seria o mundo se o paganismo tivesse vencido?”.

A Idade Média e as fogueiras

[Baseado em comentários feitos em outro assunto aqui no Deus lo Vult!.]

O preconceito histórico contra o Cristianismo encontrado amiúde nos nossos dias é uma das coisas que mais impede que se tenha uma visão equilibrada sobre a Igreja Católica e o Seu papel na construção da civilização ocidental. A repetição de clichês e de mentiras, de visões simplistas e de reconhecidos preconceitos iluministas, de lendas negras e de anacronismos, tudo isso parece ter se transformado em uma espécie de teste de aferimento intelectual. Parece que ninguém é bom o bastante se não nutrir um grande preconceito contra a Igreja Católica; e, quanto maior for este preconceito, mais inteligente é o preconceituoso em questão.

A Idade Média é evocada como uma época de trevas iluminada tão somente pelas terríveis fogueiras da Inquisição. O cristão-médio é um intolerante truculento que está disposto a trucidar qualquer um que apareça no seu caminho, pregando qualquer coisa que não esteja de acordo com a Doutrina Cristã. O obscurantismo e a superstição tomam o lugar da Ciência, e os cientistas levam uma espécie de vida nas catacumbas, diuturnamente escondidos dos terríveis inquisidores, os quais são, por sua vez, ambiciosos ávidos de riqueza e de poder. Os cristãos são retratados como se fossem o compêndio de todos os vícios.

É tão imponente o edifício preconceituoso que não se sabe muito bem sob qual ponto deve-se começar a demoli-lo. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, até porque é uma tarefa humanamente impossível de ser realizada em um simples texto curto de blog. Já disse outras vezes aqui que é muito mais fácil jogar a calúnia barata do que desmentir a calúnia barata; é muito mais fácil lançar mão da mentira que da verdade. Acontece que a mentira tem pernas curtas, e já está mais do que na hora de ajudá-la, ao menos, a tropeçar.

À Idade Média – e, em particular, à Igreja Católica – coube o incrível milagre de transformar o caos em que se havia transformado a Europa com a queda do Império Romano e as invasões bárbaras na civilização onde nascemos e vivemos. Seria realmente espantoso se esta cruel religião cristã tivesse conseguido um tão extraordinário prodígio, seria verdadeiramente admirável se estes cristãos repletos de defeitos e totalmente carentes de qualidades tivessem operado tão portentosa transformação: portanto, há uma verdadeira ruptura entra a Idade Média e a Idade Moderna, e é esta a tese defendida pelos anti-clericais de todos os naipes. Agem como se todos os bens – inegáveis – da civilização ocidental tivessem brotado ex nihil, aparecido por geração espontânea dos escombros nos quais a Igreja lançou a Europa durante a Idade Média.

Porque a Idade das Trevas não pode ter produzido – não, jamais! – nada de bom, nada de civilizado, nada de minimamente aproveitável pelas gerações futuras. Estas tiveram que, sozinhas, reconstruir tudo o que a Igreja destruiu em mil anos. O Renascimento e o Iluminismo, assim, apresentam-se não como simples fenômenos históricos, mas como verdadeiras revelações sobrenaturais: após mil anos de trevas, uma luz resplandeceu, e uma luz tão fulgurante que, em duzentos ou trezentos anos, conseguiu reerguer tudo o que a Igreja tinha Se esforçado para lançar por terra ao longo do último milênio. Eis como pessoas “inteligentes” explicam a história!

É muito difícil argumentar contra pessoas que sustentam uma visão preconceituosa da realidade. Não adianta dizer que a tese deles é absurdamente ridícula, e que é completamente inverossímil que, um belo dia, alguns iluminados tenham resolvido sacudir dos ombros o jugo da tirania eclesiástica e construir o mundo. Eles começarão a ter um ataque histérico e a falar em fogueiras, em trevas, em cruzadas, em obscurantismo, e em meia dúzia de outros chavões que, na cabeça confusa deles, confundem-se com argumentos ou – pior ainda – com fatos históricos. Quando, na verdade, a História é bem mais complexa do que a caricatura ideológica dos anti-clericais os permite enxergar.

As fogueiras! “Milhões de bruxas queimadas” – é a primeira frase dita por um anti-clerical. A segunda, é acrescentar que essas bruxas eram na verdade cientistas (já que bruxas não existem). E então emendam com o “obscurantismo institucionalizado”, com a “hierarquia ávida por poder que tinha medo de perder o domínio exercido sobre o povo”, com a “perseguição de cientistas e proscrição da Ciência”… e, diante do ataque histérico raivoso, você não consegue mais argumentar. Ad baculum, é o modus operandi dos anti-clericais quando estão pontificando história.

Não adianta lembrar que a Inquisição foi instituída com o propósito muito claro e específico de combater os cátaros, que eram vere et proprie uma ameaça à civilização medieval. Não adianta mostrar que não há registro de que as fogueiras tenham extrapolado a casa dos milhares [muito menos dos milhões!] como pretendem os raivosos historiadores anti-clericais. Não adianta nem mesmo lembrar que não foi a Igreja a inventar as fogueiras, sendo esta modalidade de pena capital já amplamente utilizada antes mesmo de que o primeiro inquisidor entregasse ao braço secular o primeiro herege cátaro. Não adianta, porque os anti-clericais não estão preocupados com fatos, e sim com a ideologia deles. Já puseram na cabeça que a Idade Média foi a Idade das Trevas, e qualquer coisa que abale, um mínimo que seja, esta íntima convicção dogmática é sumariamente descartada.

A Idade Média viu levantarem-se na Europa as cúpulas das catedrais, mas os anti-clericais só vêem as fogueiras. A Idade Média viu as Universidades serem fundadas pela Igreja, mas os anti-clericais só vêem as fogueiras. A Idade Média viu os filósofos escolásticos lançarem as bases da ciência experimental, mas os anti-clericais só vêem as fogueiras. A Idade Média viu a Inquisição proporcionar indiscutíveis avanços ao Direito Penal, mas os anti-clericais só vêem as fogueiras. Quando uma pessoa só quer ver uma coisa, não adianta mostrar mais nada. “Intolerância medieval!”, é só o que eles sabem gritar.

Na verdade – e, aqui, rasguem as vestes os inimigos da Igreja de todos os naipes -, a Idade Média foi um excelente exemplo de uma sadia intolerância, da intolerância contra o vício e contra o pecado, da intolerância que é a única capaz de construir e manter alguma coisa duradoura. Na verdade, os pecados são avessos à civilização, e a forma mais eficaz – aliás, a única forma da qual temos conhecimento – de criar e manter alguma sociedade minimamente civilizada é apontando claramente o que deve ser feito e o que deve ser evitado. Não poderia subsistir uma sociedade onde as pessoas roubasssem umas às outras, nem uma onde as pessoas matassem umas às outras. E, sim, qualquer civilização que se proponha a ser duradoura, que tenha um mínimo de “instinto de sobrevivência”, precisa ser intolerante para com aquilo que a pode destruir. Isto é óbvio; tão óbvio que os medievais o entenderam perfeitamente (o que fica mais do que demonstrado pelos excessos – pontuais – cometidos pelos homens daquele tempo), ao passo em que os tolerantes modernos nunca conseguiram fazer com que as suas teses fossem abraçadas pela grande massa da população. Mas, claro, isto deve ser culpa da influência católica!

A “intolerância” da Idade Média, combatida pelos auto-intitulados “livres-pensadores” (que, no entanto, de livres não têm nada, porque só repetem chavões e perconceitos anti-clericais), foi o que construiu o mundo moderno onde estes mesmos livres-pensadores podem vomitar o seu ódio à Igreja Católica. Quer eles gostem, quer não. A despeito da ideologia preconceituosa dos anti-clericais, entre as fogueiras da Idade Média levantaram-se campanários e cúpulas de catedrais aos céus, ergueram-se universidades e lançaram-se as bases do mundo moderno, de modo que resumir os mil anos nos quais “a filosofia do Evangelho guiava as nações” às fogueiras da Inquisição é de um simplicismo criminoso. Mas contra preconceitos – insisto – não há argumentos possíveis. E o preconceito do século XXI parece ser o pior de todos os preconceitos que já se abateram sobre a humanidade.

De nonnullis sententiis et erroribus

[Tomo a liberdade de publicar o documento abaixo. Ele não está no site da Santa Sé, embora esteja lá citado: é o último da página, n. 67 (AAS 58 (1966) 659-661; Nuntius 1 (1967) 17-19; DOCUMENTA 3). Trata-se de uma carta da Congregação para a Doutrina da Fé escrita pelo então prefeito, o Cardeal Ottaviani, e que chegou-me às mãos em um grosso volume de “Documentos Doutrinais” enviado por um sacerdote amigo. O texto vai em espanhol, como o recebi. É interessante porque ilustra (a) a existência de más interpretações do Concílio Vaticano II já no pós-concílio imediato, e (b) a posição constante das autoridades da Igreja quanto à causa delas, referente à qual destaco: “los abusos en la interpretación de la doctrina del Concilio“. A lista de erros é atualíssima; que as sábias palavras do velho cardeal possam nos ajudar a encontrar a melhor forma de saná-los, para a maior glória de Deus e exaltação da Santa Madre Igreja.]

Carta sobre algunas opiniones erróneas en la interpretación de los decretos del Concilio Vaticano II

[Epistula ad Venerabiles Praesules Conferentiarum Episcopalium et ad Superiores Religionum: De nonnullis sententiis et erroribus ex falsa interpretatione decretorum Concilii Vaticani II insurgentibus]

Habiendo promulgado el Concilio Ecuménico Vaticano II, felizmente concluido en fecha reciente, sapientísimos documentos, tanto sobre cuestiones doctrinales, como sobre cuestiones disciplinares, para promover eficazmente la vida de la Iglesia, incumbe a todo el Pueblo de Dios la grave obligación de luchar con todo empeño para que se realice todo lo que, con la inspiración del Espíritu Santo, fue solemnemente propuesto o decretado en aquel amplísimo sínodo de Obispos, presidido por el Romano Pontífice.

A la Jerarquía compete el derecho y el deber de vigilar, dirigir y promover el movimiento de renovación que el Concilio ha comenzado, de modo que los Documentos y Decretos del referido Concilio reciban una recta interpretación y se lleven a efecto con exactitud según la fuerza y el sentido de los mismos. Por tanto, esta doctrina ha de ser defendida por los Obispos, ya que, como tales, gozan de la potestad de enseñar estando unidos con la cabeza de Pedro. Es encomiable el que muchos Pastores del Concilio ya hayan tornado sobre si la obligación de explicarla convenientemente. Sentimos, sin embargo, el que desde diversas partes nos hayan llegado desagradables noticias de como no solo van pululando los abusos en la interpretación de la doctrina del Concilio, sino también de como aquí y allí van surgiendo opiniones peregrinas y audaces, que perturban no poco las almas de muchos fieles. Hemos de encomiar los trabajos o intentos de penetrar más profundamente la verdad, distinguiendo rectamente entre lo que ha de ser creído y lo que es opinable; pero, por los documentos examinados en esta Sagrada Congregación, consta que existen no pocas sentencias que, pasando por alto con facilidad los limites de la simple opinión, parecen afectar un tanto al mismo dogma y a los fundamentos de la fe.

Conviene que expresemos, a modo de ejemplo, algunas de estas sentencias y errores, tal como son conocidas a través de las relaciones de los doctores y de las publicaciones escritas.

1) En primer lugar, nos referimos a la misma Sagrada Revelación: hay quienes recurren a la Sagrada Escritura, dejando a un lado intencionadamente la Tradición, pero coartan el ámbitoo y la fuerza de la inspiración y de la inerrancia, a la vez que piensan equivocadamente acerca del valor de los textos históricos.

2) En lo que se refiere a la doctrina de la Fe, se dice que las formulas dogmáticas han de estar sometidas a la evolución histórica, de tal manera que el sentido objetivo de las mismas queda expuesto a cambios.

3) Se olvida o se subestima el Magisterio ordinario de la Iglesia, principalmente del Romano Pontífice, de tal manera que se relega al plano de las cosas opinables.

4) Algunos casi no reconocen la verdad objetiva absoluta, firme e inmutable, y todo lo exponen a un cierto relativismo, aduciendo el falaz argumento de que cualquier verdad ha de seguir necesariamente el ritmo de evolución de la conciencia y de la historia.

5) Es atacada la misma adorable Persona de Nuestro Señor Jesucristo, cuando, al reflexionar sobre la cristología, se utilizan tales conceptos de naturaleza y de persona, que apenas pueden conciliarse con las definiciones dogmáticas. Se insistía un cierto humanismo por el que Cristo es reducido a la condición de simple hombre, que fue adquiriendo poco a poco conciencia de su filiación divina. Su concepción virginal, sus milagros y su misma Resurrección se conceden de palabra, pero a menudo se reducen a un mero orden natural.

6) Igualmente, al tratar de la teología de los Sacramentos, algunos elementos son ignorados o no se les presta la suficiente atención; sobre todo, en lo que se refiere a la Santísima Eucaristía. No faltan quienes discuten acerca de la presencia real de Cristo bajo las especies de pan y de vino, defendiendo un exacerbado simbolismo, como si el pan y el vino no se convirtiesen en el Cuerpo y la Sangre de Nuestro Señor Jesucristo por la transubstanciación, sino que simplemente fuesen empleados como cierta significación. Hay quien insiste más en el concepto de agape con respecto a la Misa, que en el de Sacrificio.

7) Algunos desean explicar el Sacramento de la Penitencia como un medio de reconciliación con la Iglesia, sin explicar suficientemente la reconciliación con Dios ofendido. Pretenden que, al celebrar este Sacramento, no sea necesaria la personal confesión de los pecados, sino que solo se preocupan de expresar la función social de reconciliación con la Iglesia.

8) No faltan quienes menosprecian la doctrina del Concilio de Trento acerca del pecado original o quienes la interpretan oscureciendo la culpa original de Adán, o, al menos, la transmisión del pecado.

9) No son menores los errores que se hacen circular en el ámbito de la teología moral. En efecto, no pocos se atreven a rechazar la razón objetiva de la moralidad; otros no aceptan la ley natural y defienden, en cambio, la legitimidad de la llamada moral de situación. Se propagan opiniones perniciosas acerca de la moralidad y de la responsabilidad en materia sexual y matrimonial.

10) A todos estos temas hemos de añadir una nota sobre el Ecumenismo. La Sede Apostólica, ciertamente, alaba a todos los que en el espíritu del Decreto Conciliar sobre el ecumenismo promueven iniciativas para fomentar la caridad con los hermanos separados y atraerlos a la unidad de la Iglesia; pero lamenta que no faltan quienes, interpretando a su modo el Decreto Conciliar, exigen una acción ecuménica que va contra la verdad, así como contra la unidad de la Fe y de la Iglesia, fomentando un peligroso irenismo e indiferentismo, que es totalmente ajeno a la mente del Concilio.

Esparcidos por aquí y por allá esta clase de errores y peligros, los presentamos recogidos sumariamente en esta carta a los Ordinarios de lugar, para que cada uno, según su cargo y oficio, cuide de frenarlos y prevenirlos.

Este Sagrado Dicasterio ruega encarecidamente que los Ordinarios del lugar traten de ellos en las reuniones de sus Conferencias Episcopales y envíen relaciones a la Santa Sede, aconsejando lo que crean oportuno, antes de la fiesta da la Navidad de Nuestro Señor Jesucristo del año en curso.

Esta Carta, que una obvia razón de prudencia nos impide hacer del dominio publico, ha de ser guardada bajo estricto secreto por los Ordinarios y por todos aquellos a los que con justa causa la enseñen.

Roma, 24 de julio de 1966.
A. Card. Ottaviani

Host in the Post

Existem umas idéias que, de tão estúpidas, a gente quase se recusa a acreditar. Esta é uma delas: uma igreja episcopal independente na Inglaterra vai enviar hóstias pelos correios (!!). Você solicita as hóstias “pré-consagradas” (seja lá o que isso signifique) pela internet e o novo serviço da igreja, chamado “host in the post”, faz com que elas cheguem na sua casa. Isto serve para atender “não apenas às pessoas que não podem comparecer à missa por idade avançada ou problemas de saúde, como também às que acabaram se distanciando da religião”.

Quanto mais as pessoas se afastam da Igreja, “Coluna e Sustentáculo da Verdade”, mas elas afundam nas práticas mais estapafúrdias. Perdem o senso do divino, do sagrado, do zelo, do respeito; aliás, perdem o bom senso. A prática de levar a Eucaristia aos doentes, presos e demais pessoas que não podiam assistir à Santa Missa remete, sim, aos princípios do Cristianismo, mas era feita com toda a reverência exigida à Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo nas espécies consagradas. São Tarcísio foi martirizado justamente porque, interpelado no caminho por alguns curiosos sobre o que levava – estava levando a Eucaristia aos cristãos prisioneiros -, não quis entregar Nosso Senhor à turba de incrédulos que O exigiam. Cristão verdadeiro, preferiu morrer a expôr o Santíssimo Sacramento à impiedade dos pagãos. Estes que se auto-intitulam “cristãos” no século XXI, no entanto, devem achar que São Tarcísio fez uma tremenda bobagem, porque as hóstias poderiam ter sido enviadas nas algibeiras dos mensageiros, ou no meio dos trapos que chegavam às prisões, ou via pombo-correio, ou qualquer outra coisa.

É o cúmulo da falta de piedade. Estes episcopais não acreditam na presença real de Nosso Senhor, é óbvio, porque caso acreditassem não conceberiam jamais que Ele pudesse ser despachado pelo correio! E, quando confrontado com as objeções de alguns hereges de um pouco mais de bom senso, que diziam “que a hóstia pode acabar nas mãos de ateus e satanistas, que podem usá-las para rituais impróprios”, o “bispo” Jonathan Blake disse não estar preocupado com isso (!), porque “Jesus não fez essa distinção. Ele se doou a cada um e a todos. Não faz diferença, o corpo de Cristo é redentor”.

É, sr. Blake, não faz diferença nenhuma guardar as hóstias consagradas em vasos de ouro ou em papelotes de correios, distribui-las somente aos cristãos ou lançá-las aos cães e aos porcos. Não faz diferença nenhuma ser São Tarcísio ou entregar o Corpo de Cristo à impiedade dos incrédulos. Na cabeça deste cego sem Fé, nada disso faz diferença.

Acaso uma “religião” dessas pode satisfazer a sede de Deus que têm os homens? Um bispo que trate com tamanha irreverência o que, para ele, é o Corpo de Cristo, acaso pode fazer com que as pessoas acreditem no que ele prega? Só o que me consola é que estes hereges sem Fé não consagram validamente o Corpo de Deus, e as únicas coisas que enviarão pelos correios serão pães normais, e não Hóstias Consagradas. Porque, ao contrário do que acha o sr. Blake, há muita diferença entre ser católico e ter Fé e ser herege e pedir hóstias pela internet: os primeiros nutrem a alma com o Pão dos Anjos, os últimos enchem a barriga com bolachas secas. Há muita diferença entre São Tarcísio e um herege impiedoso: enquanto aquele, do Céu, ensina-nos a reverenciarmos o Santíssimo Corpo de Cristo, este arrasta as almas ao Inferno. Que os fiéis episcopais acordem, e voltem depressa à Igreja de Nosso Senhor, que é onde Ele pode verdadeiramente ser encontrado; não em embalagens enviadas pelo correio por “pastores” sem Fé.

Os paradoxos do Cristianismo – Chesterton

Este estranho efeito provocado pelos grandes agnósticos, de levantarem dúvidas ainda mais profundas do que as suas próprias, poda ser exemplificado de várias maneiras. Citarei apenas uma. Quando li e reli todos os relatos não-cristãos e anticristãos a respeito da Fé, de Huxley a Bradlaugh, logo uma lenta e horrível impressão gravou-se, gradual mas graficamente, sobre o meu espírito – a impressão de que o Cristianismo devia ser algo extraordinário. De fato, o Cristianismo (como eu o entendia) tinha os mais  violentos vícios, mas tinha também, aparentemente, o místico talento de conciliar defeitos que pareciam incompatíveis entre si. Atacavam-no por todos os lados e pelas mais contraditórias razões. Assim que um racionalista acabava de demonstrar estar o Cristianismo demasiadamente longe para o leste, outro vinha demonstrar, com igual clareza, que ele estava muito mais longe para o oeste. E tão logo minha indignação esmorecera perante sua angular e agressiva quadratura, logo minha atenção era despertada para observar e condenar sua enervante e sensual esfericidade. Caso algum leitor não tenha compreendido o que quero dizer, dar-lhe-ei tantos exemplos quantos, ao acaso, lembrar-me a respeito desta auto-contradição do ataque cético. Começarei por apresentar quatro ou cinco exemplos; existem mais de cinqüenta.

Por exemplo, deixei-me influenciar bastante pelo eloqüente ataque contra o Cristianismo por sua desumana melancolia, pois sempre pensei (e ainda penso) que o pessimismo sincero é o pecado imperdoável. O falso pessimismo é uma realização social, mais aceitável do que qualquer outra coisa e, felizmente, quase todo o pessimismo carece de sinceridade. Mas, se o Cristianismo fosse, como se costumava dizer, algo meramente pessimista e contrário à vida, então eu estaria inteiramente disposto a mandar pelos ares a Catedral de S. Paulo. O mais extraordinário, porém, é o seguinte: provaram-me, no Capítulo I (para minha absoluta satisfação), que o Cristianismo era demasiadamente pessimista; mas, depois, no Capítulo II, provaram-me que ele era, em grande parte, otimista demais. Uma das acusações contra o Cristianismo era a de que ele impedia os homens, por meio de lágrimas e terrores mórbidos, de procurarem a alegria e a liberdade no seio da Natureza. Outra acusação, porém, era que ele confortava os homens com uma fictícia providência e os colocava numa creche rosa e branca. Um grande agnóstico perguntava por que motivo a Natureza não era suficientemente bela, e por que razão custava tanto ser livre. Outro agnóstico argumentava que o otimismo cristão – “esse vestido ‘de mentirinha’ tecido por mãos piedosas” – escondia de nós o fato de que a Natureza era feia e que era impossível ser livre. Quando um racionalista classificava o Cristianismo como um pesadelo, já outro começava a chamá-lo de paraíso dos tolos. Isso me intrigavam porque tais acusações pareciam-me incompatíveis. O Cristianismo não podia ser, ao mesmo tempo, uma máscara preta sobre um mundo branco e uma máscara branca sobre um mundo preto. A situação de um cristão não podia ser, ao mesmo tempo, tão confortável a ponto de ser ele um covarde para prender-se a ela, ou tão desconfortável a ponto de ser um tolo para nela permanecer. Se o Cristianismo deturpava a visão humana, devia deturpá-la de uma forma ou de outra: o cristão não poderia usar, ao mesmo tempo, óculos verde e óculos cor-de-rosa. E, como todos os rapazes daquele tempo, eu repetia com terrível alegria as zombarias que Swinburne proferia contra a monotonia do credo:

“Venceste, ó pálido Galileu, e o Mundo tornou-se sombrio com o Teu hálito”.

Mas, quando li as narrativas deste mesmo poeta acerca do paganismo (como em “Atlanta”), cheguei à conclusão de que o Mundo era ainda mais sombrio, se isso fosse possível, antes do Galileu bafejá-lo com o seu sopro, do que depois disso. Certamente o poeta afirmava, em abstrato, que a própria vida era escura como breu. E no entanto, de uma forma ou de outra, o Cristianismo a tinha obscurecido ainda mais. O mesmo homem que acusava o Cristianismo de pessimismo era, ele próprio, um pessimista. Achei que devia haver algo errado. E, num momento de exaltação, veio-me à mente a idéia de que aqueles talvez não fossem os melhores juízes da relação entre a religião e a felicidade, pois não possuíam nem uma coisa nem outra.

Deve-se compreender que não concluí, apressadamente, que as acusações eram falsas ou que os acusadores não passavam de loucos. Apenas deduzi que o Cristianismo deveria ser algo mais estranho e perverso do que se pretendia afirmar. Uma coisa pode ter esses dois defeitos opostos, mas era necessário que fosse bastante estranha para poder concentrar tais características. Um homem podia ser muito gordo em uma parte do corpo e muito magro em outra, mas seria preciso que tivesse uma compleição deveras singular. Nesse ponto, todos os meus pensamentos centravam-se, apenas, na bizarra forma da religião cristã, sem atribuir qualquer forma bizarra ao pensamento racionalista.

Segue-se outro caso semelhante. Uma das coisas que eu julgava que mais depunham contra o Cristianismo era a acusação que lhe faziam, de que havia algo de tímido, de monacal e de desumano em tudo o que se costuma chamar de “cristão”, especialmente sua atitude perante a resistência e a luta. Os grandes céticos do século XIX eram, em grande parte, viris. Bradlaugh, de forma expansiva, e Huxley, de forma reservada, eram, decididamente, homens. Em comparação, parecia aceitável que existisse algo de fraco e de excessivamente paciente nos ensinamentos cristãos. O paradoxo do Evangelho acerca da outra face, o fato dos padres nunca lutarem em guerras, uma centena de coisas, enfim, tornava plausível a acusação de que o Cristianismo era uma tentativa de transformar o homem em um cordeiro. Li isso e acreditei, e, se não tivesse lido nada diferente, continuaria a acreditar. No entanto, li algo muito diferente depois. Virei a página seguinte do meu manual agnóstico, e logo meu cérebro ficou de pernas para o ar. Descobri, então, que tinha de odiar o Cristianismo, não por combater pouco, mas por combater demasiado. A religião cristã parecia a mãe das guerras. O Cristianismo tinha inundado o mundo em sangue. Eu, que havia ficado zangado com o Cristianismo por ele nunca se zangar, tinha, agora, de zangar-me com ele, porque sua fúria havia sido a coisa mais horrível e mais monstruosa da História da Humanidade. O seu ódio embebera-se na Terra e fumegara até o Sol. As mesmas pessoas que criticavam o Cristianismo por sua mansidão e pela não-resistência dos mosteiros eram as que vinham, agora, acusá-lo pela violência e pela bravura das Cruzadas. Fora por culpa do pobre e velho cristianismo (de uma forma ou de outra) que Eduardo, o Confessor, não combatera, e Ricardo Coração de Leão, sim. Os Quackers (assim ouvíamos dizer) eram os únicos cristãos típicos e, no entanto, os massacres de Cromwell e de Alba eram crimes tipicamente cristãos. O que tudo isso queria dizer? Que Cristianismo era este que sempre proibia as guerras e sempre estava a provocá-las? Qual poderia ser a natureza de uma coisa que era insultada, primeiramente, por não combater e, depois, por estar sempre envolvida em lutas? Em que mundo de enigmas se gerara esse monstruoso assassino e essa monstruosa mansidão? A forma do Cristianismo tornava-se mais estranha a cada instante.

Passo, agora, ao terceiro caso; o mais estranho de todos, porque envolve uma objeção real contra a Fé. A única objeção real contra a religião cristã é o fato [de] ser ela uma religião. O Mundo é um grande lugar, habitado por povos das mais diferentes espécies. O Cristianismo (parece-me razoável fazer esta afirmação) está limitado a um tipo de povo: surgiu na Palestina, e, praticamente, parou na Europa. Esse argumento impressionou-me fortemente na mocidade, e senti-me como que arrastado para a doutrina que sempre fora pregada nas sociedades éticas, isto é, a doutrina segunda a qual existe uma grande e inconsciente igreja que pertence a toda a Humanidade, fundada sobre a onipresença da consciência humana. Os credos – dizia-se então – dividiam os homens, mas a moral ao menos acabava por uni-los. A alma podia procurar as mais estranhas e mais remotas terras e épocas, e, ainda assim, encontraria o essencial senso comum ético. Podia encontrar Confúcio sob as árvores do Ocidente, mas encontrá-lo-ia escrevendo: “Não roubarás”. Podia decifrar os mais obscuros hieróglifos encontrados no mais primitivo deserto, e o seu significado, depois de decifrado, seria este: “Os meninos devem dizer a verdade”. Eu acreditava nesta doutrina da irmandade de todos os homens que diz respeito à posse de um senso moral, e nela acredito ainda, como acredito em outras coisas. Eu ficava, então, muito irritado com o Cristianismo, porque sugeria (como eu supunha) a idéia de que todas as épocas e impérios dos homens tinham escapado, inteiramente, a esta luz da justiça e da razão. Mas encontrei, depois, algo surpreendente. Verifiquei que as pessoas que diziam ser a Humanidade uma Igreja, de Platão a Emerson, eram as mesmas que afirmavam ter a moralidade mudado totalmente, afirmando, ainda, que o que era considerado certo em uma época já não o era em outra. Se eu pedisse, digamos, um altar, responder-me-iam que não havia necessidade dele, pois os nossos irmãos nos haviam deixado claros oráculos e um credo, nos seus ideais e costumes universais. Mas, se eu, serenamente, argumentasse que um dos costumes universais do homem era ter um altar, então os meus agnósticos mestres virar-se-iam completamente e responder-me-iam que os homens sempre tinham estado mergulhado nas trevas e nas superstições dos selvagens. Verifiquei que seu constante desdém em relação ao Cristianismo era por ser ele a luz de um povo, enquanto deixava todos os outros morrerem nas trevas. No entanto, pude também observar que era para eles motivo especial de orgulho o fato de serem a ciência e o progresso a descoberta de um povo, enquanto todos os outros povos jaziam na escuridão. O seu principal insulto contra o Cristianismo era, efetivamente, para eles, motivo de glória, e parecia uma estranha injustiça toda a sua relativa insistência nesses dois aspectos. Ao considerarmos algum pagão ou agnóstico, era forçoso lembrarmo-nos de que todos os homens tinham uma religião; ao considerarmos algum místico ou espiritualista, tínhamos apenas de ponderar as absurdas religiões que alguns homens professavam. Podíamos acreditar na ética de Epicteto porque a ética nunca tinha mudado, mas não devíamos acreditar na ética de Bossuet porque a ética tinha mudado. Operara-se uma mudança em duzentos anos, mas não em dois mil.

Tudo isso começava a parecer alarmante. Não que o Cristianismo fosse suficientemente mau para agregar em si todos os defeitos, mas qualquer vara era suficientemente boa para açoitar a religião cristã. A que poderíamos comparar esta coisa extraordinária que todos estavam ansiosos por contradizer, sem mesmo repararem que, assim procedendo, contradiziam a si próprios? Observei o mesmo em todo o lugar. Não posso dispor de mais espaço para esta discussão em todos os seus pormenores, mas, para que não se suponha que estive selecionando, injustamente, três casos aleatórios, mencionarei, rapidamente, alguns outros. Alguns céticos descreveram que o grande crime do Cristianismo tinha sido o seu ataque contra a família. O Cristianismo arrastava as mulheres para a solidão e para a vida contemplativa de um mosteiro, longe de seus lares e de seus filhos. Mas logo outros céticos (ligeiramente mais avançados) vinham dizer que o grande crime do Cristianismo era forçar-nos ao casamento e à constituição da família, condenando as mulheres ao duro trabalho do lar e dos filhos, proibindo-lhes a solidão e a vida meditativa. As acusações eram, na verdade, contraditórias. Dizia-se, ainda, que algumas palavras das Epístolas ou do Rito do Matrimônio revelavam desprezo pelo intelecto das mulheres. No entanto, concluí que os próprios anticristãos sentiam desprezo pelo intelecto das mulheres, porque seu grande desdém pela Igreja no continente era devido ao fato de afirmarem que “só as mulheres” a freqüentavam. Outras vezes, o Cristianismo era censurado por seus trajes indigentes e pobres, por seu burel e suas ervilhas secas. Entretanto, no momento seguinte, o Cristianismo era censurado por sua pompa e ritualismo, seus relicários de pórfiro e suas vestes de ouro. Acusavam-no por ser demasiadamente humilde e por ser demasiadamente pomposo. O Cristianismo era acusado, ainda, de ter sempre reprimido em extremo a sexualidade, quando Bradlaugh, o Malthusiano, descobrira que ele a reprimia muito pouco. De um só fôlego, lançavam-lhe ao rosto uma recatada respeitabilidade e uma religiosa extravagância. Nas capas do mesmo panfleto ateu, fui encontrar a fé censurada por sua falta de união (“uns pensavam uma coisa e outros pensavam outra”) e, ao mesmo tempo, por sua união (“é a diferença de opinião que impede o Mundo de se arruinar”). No decorrer da mesma conversa, um amigo meu, livre-pensador, censurava o Cristianismo por desprezar os judeus e depois desprezava a si mesmo por ser judeu.

Eu desejava ser absolutamente imparcial, como ainda o desejo ser agora, e não concluí que o ataque ao Cristianismo fosse de todo injusto. Concluí apenas que, se o Cristianismo estava errado, estava, sem dúvida, muito errado. Tão hostis terrores poderiam ser combinados em uma só coisa, mas tal coisa devia ser bem estranha e única. Há homens que são avarentos e, ao mesmo tempo, perdulários; porém, são raros. Há também homens lascivos e, ao mesmo tempo, ascéticos, mas estes também são raros. Mas, se este amálgama de loucas contradições realmente existisse, pacifista e sanguinário, suntuoso e maltrapilho, austero e lascivo, inimigo das mulheres e seu tolo refúgio, pessimista declarado e otimista ingênuo, se este mal existisse, então haveria nele algo de supremo e único. De fato, não encontrei nos meus mestres racionalistas explicação alguma para tal excepcional corrupção. O Cristianismo (teoricamente falando) era, a seus olhos, apenas um dos mitos ordinários e um dos erros dos mortais. Eles não me davam a chave para esta retorcida e desnatural maldade. Esse mal assumia as proporções do sobrenatural. Era, sem dúvida, quase tão sobrenatural como a infalibilidade do papa. Uma instituição histórica que nunca se mostrou acertada é um milagre tão grande como uma instituição que nunca pode errar. A única explicação que imediatamente me ocorreu à mente foi que o Cristianismo não viera do céu, mas do inferno. Na verdade, se Jesus de Nazaré não fosse Cristo, devia ter sido o Anticristo.

G. K. Chesterton, “Ortodoxia”, pp. 114-121. Ed. LTr, São Paulo, 2001.

Hereges, Cismáticos e Concílios Ecumênicos

Motivado por alguns comentários surgidos em outro post no qual eu falava sobre um convite feito a uma cantora protestante, por um grupo carismático [que, repito, não tenho certeza se se trata de um grupo da Renovação Carismática Católica],  para que participasse de um “culto de louvor e adoração” , trago aqui algumas considerações sobre a presença de não-católicos nos Concílios Ecumênicos ao longo da história da Igreja. Vou fazer algumas citações do livro do pe. Ralph Wiltgen, “O Reno se lança no Tibre”, disponível em língua portuguesa pela Permanência.

Os Concílios Ecumênicos sempre foram vistos como oportunidades de fazer com que os cristãos que se houvessem desviado da Fé retornassem ao seio da Igreja. Por isso, a presença de não-católicos às sessões conciliares sempre foi (ao menos) desejada por todos os Papas e Padres Conciliares, inclusive com o envio de convites expressos às igrejas separadas para que mandassem delegações aos Concílios. No Concílio de Trento, por exemplo, a Enciclopédia Católica nos diz que foram emitidos até mesmo salvo-condutos para garantir a segurança dos protestantes que desejassem participar do Concílio. Uma tradução de um decreto neste sentido está disponível no Veritatis (não vou citar na íntegra, mas recomendo vivamente a leitura):

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos mesmos Legados e Núncios da Santa Sé Apostólica, insistindo no salvo-conduto concedido na penúltima Sessão, amplia suas prerrogativas nos termos que se seguem:

A todos em geral faz fé que pelo teor das presentes cláusulas, dá e concede plenamente a todos e a cada um dos Sacerdotes, Eleitores, Príncipes, Duques, Marqueses, Condes, Barões, Nobres, Militares, Cidadãos e a quaisquer outras pessoas de qualquer estado, condição ou qualidade, que sejam da Nação e Província da Alemanha e das cidades e outros lugares da mesma, assim como a todas as demais pessoas eclesiásticas e seculares em especial da revelação de augusta, os que, ou as que viriam com eles a este Concílio Geral de Trento, ou serão enviados ou se colocarão a caminho, ou que até o presente tenham vindo sob qualquer nome que lhes sejam dados, ou lhes sejam especificados, fé pública e plena e verdadeira segurança que chamam salvo-conduto, para vir livremente a esta cidade de Trento e permanecer nela, ficar, habitar, propor e falar de comum acordo com o mesmo Concílio, tratar de quaisquer negócios, examinar, discutir e representar sem nenhuma punição tudo o que quiserem e quaisquer dos artigos, tanto por escrito como por palavra, divulgá-los, e em caso necessário, declará-los, confirmá-los e compará-los com a Sagrada Escritura, com as palavras dos santos Padres e com sentenças e razões, e de responder também, se for necessário, as objeções do Concílio Geral e disputar cristãmente com as pessoas que o concílio indique ou conferenciar caritativamente sem nenhum obstáculo (…).

[…]

E este mesmo salvo-conduto e seguros devem durar e subsistir desde o início e por todo o tempo que o Concílio e seus componentes os recebam sob seu amparo e defesa, e até que sejam conduzidos a Trento e por todo o tempo que se mantenham nesta cidade, e também, depois de ter passado vinte dias desde que tenham suficiente audiência, quando eles pretendam retirar-se, ou o Concílio, depois de os ter escutado, os intime para que se retirem, os fará conduzir com o favor de Deus, longe de toda a fraude e dolo, até que o lugar que cada um escolha e tenha por seguro.

Aliás, é bom frisar que a publicação de alguns decretos que estava marcada para esta sessão foi adiada em atenção ao pedido dos protestantes que ainda não haviam chegado:

[T]endo além disso acreditado que viriam a este Sacrossanto Concílio os que se chamam Protestantes, (…) e como no entanto, não chegaram até o presente momento, e como tenham suplicado em seu nome, a este Santo Concílio que se espere até a próxima Sessão a publicação que deveria ser feita hoje, confirmando que certamente viriam sem falta, (…) transferiu à Sessão seguinte, para trazer à luz e publicar os pontos acima mencionados, no dia da festa de São José, que será em 19 de março, com aqueles que não somente tenham tempo e lugar bastante para vir, mas também para trazer propostas antes do dia marcado.

Pois bem. O pe. Ralph, no livro citado acima, diz o seguinte no capítulo sobre os observadores-delegados e convidados ao Concílio Vaticano II:

Em 8 de setembro de 1868, quinze meses antes da abertura do primeiro Concílio do Vaticano, Pio IX dirigiu a todos os patriarcas e bispos da Igreja Ortodoxa uma Carta Apostólica convidando-os a pôr fim ao estado de separação. Se o aceitassem, teriam no Concílio os mesmos direitos de todos os outros bispos, uma vez que a Igreja Católica considera válida sua sagração. Se não, eles teriam, como no Concílio de Florença em 1439, a possibilidade de tomar parte nas Comissões conciliares compostas de bispos e teólogos católicos, para discutir os assuntos do Concílio. Mas o texto da carta foi considerado ofensivo pelos patriarcas e bispos.

[Wiltgen, Ralph M., “O Reno se lança no Tibre: o Concílio Desconhecido”, p. 124. Ed. Permanência, Niterói, RJ, 2007]

Recapitulando: o Concílio de Trento convidou protestantes, e ainda lhes concedeu um salvo-conduto para que transitassem com segurança por terras católicas. O Papa Pio IX convidou ortodoxos para o Concílio Vaticano I, garantindo-lhes a possibilidade de tomar parte nas Comissões conciliares e discutir os assuntos do Concílio. O mesmo aconteceu no Concílio de Florença. Portanto, a presença de hereges e cismáticos nos Concílios Ecumênicos – ou, ao menos, o convite feito por Roma, dado que eles nem sempre aceitaram – sempre existiu na história da Igreja.

Com qual objetivo? O de convertê-los a Fé Verdadeira, é óbvio. O de discutir francamente com eles, mostrando-lhes a Verdade Católica e o erro no qual eles incorrem ao se separarem da Igreja de Jesus Cristo. O de permiti-los acompanhar de perto os trabalhos conciliares, a fim de que se impregnem da Doutrina Católica e possam, quiçá, ser tocados pela graça de Deus e abjurarem os seus erros. A presença de hereges e cismáticos, portanto, em Concílios Ecumênicos, não deveria escandalizar ninguém.

No Concílio Vaticano II foi feito o mesmo convite. Hereges e cismáticos participaram das sessões conciliares. Participaram, no entanto, como hereges e cismáticos – ou como “irmãos separados”, na linguagem conciliar -, podendo assistir às sessões, podendo (talvez) discutir nas comissões (como no Vaticano I e no Concílio de Florença), mas sem direito a voto, óbvio, porque não fazem parte da Igreja. Aliás, não sei nem mesmo se eles tinham direito a fazer intervenções nas Aulas Conciliares.

Ao Vaticano II fizeram-se presente diversas delegações de não-católicos. Para que isso fosse possível, ajudou o clima mundial à época da convocação do Concílio Ecumênico; permito-me citar de novo o pe. Ralph, porque ele traz uma informação muito interessante sobre este assunto (grifos meus):

O clima religioso do mundo na época de João XXIII era bem diferente do clima dos tempos de Pio IX. Desde então, o movimento ecumênico em favor da unidade dos cristãos tinha se implantado solidamente em todas as comunidades cristãs.

Numerosos fatores haviam contribuído para a expansão deste movimento verdadeiramente providencial. O primeiro era a investigação bíblica que tinha aproximado eruditos católicos, protestantes, anglicanos e ortodoxos. O segundo era a existência do Conselho Ecumênico das Igrejas, fundado precisamente para promover a união dos cristãos em todos os domínios possíveis, e que em menos de trinta anos tinha visto sua composição ultrapassar 214 igrejas-membros de pleno direito e 8 membros associados – igrejas protestantes, anglicanas, ortodoxas e velho-católicas. Enfim, a ameaça neo-pagã do nazismo na Europa durante a II Guerra Mundial tinha unido, na defesa da religião, católicos e cristãos de todas as denominações, o que explica que o movimento ecumênico tenha primeiro se manifestado na Alemanha, na França e nos Países Baixos. Entre os chefes mais ativos do ecumenismo católico figuravam jesuítas e dominicanos.

Os primeiros sucessos alcançados nesses três países receberam novo alento quando o Santo Ofício publicou, em 20 de dezembro de 1949, sua longa “Instrução sobre o movimento ecumênico”. Esta “instrução” convidava insistentemente os bispos do mundo inteiro “não somente a vigiar com cuidado e diligência todas as atividades deste movimento, mas também promovê-las e dirigi-las prudentemente, para que aqueles que estão em busca da verdade e da verdadeira Igreja possam ser ajudados, e para que os fiéis fossem prevenidos contra os perigos que corriam tão facilmente ao promoverem tais atividades”.

[op. cit., pp 124-125]

Havia, portanto, uma instrução do Santo Ofício, pré-conciliar (de 1949, 13 anos antes de se iniciar o Vaticano II), convidando os bispos a promover e dirigir as atividades ecumênicas. Com qual objetivo? Obviamente, com o objetivo de fazer com que o movimento desse frutos verdadeiros e, ao invés de proporcionar um falso irenismo, fosse um instrumento eficaz para ajudar os hereges e cismáticos a encontrarem na única Igreja de Nosso Senhor a unidade que eles estavam buscando. Não vejo, portanto, justificativas para que o Vaticano II seja condenado por coisas que, antes dele, já faziam parte da Igreja, como o convite a hereges e cismáticos para que aprendam a Doutrina Católica nos Concílios Ecumênicos ou a promoção do ecumenismo para que ele sirva como meio de regresso dos sarmentos secos à Igreja de Nosso Senhor. Aos que diferenciam o “ecumenismo conciliar” do ecumenismo do Santo Ofício em 1949, precisariam provar as suas acusações de modo inequívoco. O mesmo vale aos que diferenciam a participação de protestantes e ortodoxos no Vaticano II daquela à qual hereges e cismáticos sempre foram convidados ao longo da história da Igreja.

Concluamos: os membros de outras religiões não estiveram no Concílio Vaticano II como “palpiteiros” para dizer como “deveria” ser a Doutrina Católica, pois esta é imutável e a Igreja o sabe muito bem. Foram, repito, os prelados católicos que votaram os documentos, não os observadores ortodoxos e protestantes. Estes, aliás, se é que chegaram a discutir nas comissões os assuntos do Concílio – coisa que eu não sei se aconteceu -, não fizeram nada diferente daquilo que Pio IX já havia proposto e, antes dele, o Concílio de Florença. Não existe nenhum motivo para se rasgar as vestes quanto a isso.

Não estou dizendo com isso que tudo está muito lindo e perfeito, e que os católicos hoje em dia vivem, via de regra, a mais pura expressão da Doutrina Católica, porque é claro que não vivem. É preciso fazer muita coisa, tanto para tentar descobrir o porquê do Concílio ter sido tão tremendamente distorcido, quanto para tentar propôr caminhos a serem seguidos pelos católicos; mas esse artigo já vai muito longo e eu vou deixar isso para uma outra oportunidade. Acredito que valha a pena, para finalizar, citar a intervenção feita às vésperas do fechamento do Concílio pelo chefe da delegação anglicana numa cerimônia realizada na Basílica de São Paulo Fora dos Muros para promover a unidade dos cristãos:

O Rev. Moorman, chefe da delegação anglicana, dirigiu-se ao Papa em nome dos observadores-delegados e dos convidados, cujo número atingira 103 componentes durante a quarta sessão. “Nenhuma vez sequer durante estes quatro anos”, disse, “sentimos que nossa presença incomodasse fosse a quem fosse. Ao contrário, sempre nos pareceu que ela havia contribuído, em vários aspectos, para o êxito do Concílio e da grande tarefa de reforma que ele empreendeu”. E acrescentou: “Nós acreditamos que passou o tempo do medo recíproco, do exclusivismo rígido, da suficiência arrogante. A estrada da unidade por certo será longa e difícil, mas Vossa Santidade sentirá talvez o conforto de saber que, pelo fato de nossa presença aqui na qualidade de observadores, terá a companhia de uma centena de homens (…) [reticências no original], que pelo mundo afora se esforçarão por levar às Igrejas alguma coisa do espírito de amizade e tolerância de que foram testemunhas em São Pedro. Nossa missão de observadores não terminou. Eu me refiro, caríssimo e santíssimo Padre, ao que vós pensais de nós, como amigos – como mensageiros – agora que cada um de nós retoma a própria estrada.

[op. cit., p. 285]

As besteiras teológicas proferidas pelo reverendo Moorman diante do Papa são da lavra dele, e não do Concílio. As mesmíssimas bobagens irenistas, aliás, multiplicam-se amiúde nos nossos dias, e é importante que elas sejam corrigidas. Seria ingenuidade – o próprio anglicano reconhece – achar que a unidade dos cristãos seria alcançada de outra maneira que não por uma estrada “longa e difícil”. O Vaticano II não se propôs a isso, e é aquele que falou ao Papa em nome dos observadores-delegados ao fim do Concílio que o atesta. Vale ainda destacar que o herege tem consciência de que o seu papel no Concílio é o de observador. E eu, particularmente, fico feliz em ver um herege anglicano chamando o Papa de “Vossa Santidade” e de “Santíssimo Padre”…

Ligeiro apanhado de coisas pendentes

– Frei Betto: “Mercado da fé”. Mais do mesmo: o velho dominicano destila o seu veneno contra a Igreja Católica a Quem ele deveria servir, lamentando a crise pela qual passa o catolicismo, a falta de vocações, as “missas (…) desinteressantes”, os “sermões (…) vazios de conteúdo”, reclamando da “desconstrução do Concílio Vaticano II” (sic), enaltecendo as igrejas protestantes e as CEBs, criticando o “clericalismo”, a exigência de “virtudes heróicas, como o celibato”, etc. Não percebe [ou não quer perceber?] que as coisas defendidas por ele estão exatamente na raiz da crise e que a Igreja voltará a crescer, sim, sem dúvidas, quando Se desvencilhar de Bettos, Boffs et caterva. Esta gente sem Fé que caminha a passos largos para o Inferno parece querer, por alguma comichão diabólica, arrastar a Igreja para baixo junto com ela. Mas não adianta, porque portae inferi non praevalebunt.

– Era bom demais para ser verdade: recebi por email um discurso do 1º ministro australiano à comunidade muçulmana que continha tudo o que a gente gostaria de ouvir alguém dizendo aos muçulmanos. “A maior parte do Australianos crê em Deus. (…) Se Deus vos ofende, sugiro-vos então que encarem outra parte do mundo como o vosso país de acolhimento, porque Deus faz parte da nossa cultura”. “[S]e vocês tem muitas razões de queixa, se estão fartos da nossa bandeira, do nosso compromisso, das nossas crenças cristãs, ou do nosso estilo de vida, incentivo-os fortemente a tirarem partido de uma outra grande liberdade australiana: o direito de partir”. Lindo; mas infelizmente é hoax

– Reforço as três recomendações do Gustavo. Lei Natural, aborto, Teologia Moral. Leiam lá.

– Também recomendo o texto publicado no Tubo de Ensaio contendo os comentários de um amigo comum meu e do Marcio a um texto do Marcelo Gleiser do último domingo, sobre se a matemática é algo inventado ou descoberto. Leiam lá.

– Não tenho tempo de traduzir, mas serve a indicação: uma organização americana (NOW – National Organization for Women), após o assassinato do Dr. Tiller, está exigindo que o Departamento de Justiça e Segurança Nacional classifique os pró-vida como terroristas. O fato de todos os grupos pró-vida americanos terem condenado o crime não tem nenhuma importância para a citada organização. Aliás, foi publicado um editorial do Kansas City Star onde se diz que os pró-vida bem poderiam guardar para si próprios as suas manifestações de espanto e tristeza, porque estariam intimamente – privately – agradecidos pelo assassinato do dr. Tiller! Dá para acreditar que há jornais publicando este tipo de exercício de adivinhação difamatório?

Pandemia de Lucro, sobre os interesses econômicos por detrás da gripe suína. A pergunta final, à parte o viés esquerdista, é pertinente: “Pero si la gripe porcina es una pandemia tan terrible como anuncian los medios de comunicación… Si a la Organización Mundial de la Salud le preocupa tanto esta enfermedad, ¿por qué no la declara como un problema de salud pública mundial y autoriza la fabricación de medicamentos genéricos para combatirla?”.

– Vale uma visita ao Micro Book Studio, que contém diversas obras em inglês, português, espanhol, italiano e latim disponíves gratuitamente, de Garrigou-Lagrange (A Synthesis of Thomistic Thought), de Santo Tomás de Aquino (Comentários a Aristóteles), de René Muller (As Primeiras Missões Jesuítas). Aproveitem!