Santa Sé: Psicologia & Discernimento Vocacional

Na avaliação da possibilidade em viver, na fidelidade e alegria, o carisma do celibato, como um dom total da própria vida à imagem de Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja, tenha-se presente que não basta certificar-se da capacidade de abstinência do exercício da genitalidade, mas é necessário igualmente avaliar a orientação sexual segundo as indicações promulgadas por esta Congregação. A castidade para o Reino, de facto, é muito mais do que uma simples ausência de relações sexuais.

Já estão disponíveis no site do Vaticano as “Orientações para a utilização das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio”, das quais foram retiradas as linhas em epígrafe. Só existe uma única referência no texto às “tendências homossexuais fortemente enraizadas”, no seu nº. 10 e, mesmo assim, entre parênteses (literalmente) e ao lado de outros exemplos de “graves imaturidades”.

O texto fala que a vocação vem de Deus, mas mediante a Igreja (n. 1); fala que existem algumas virtudes humanas que são necessárias a quem deseja ser sacerdote (n. 2); fala sobre as qualidades exigidas dos formadores e da suma importância de não cometer erros no discernimento vocacional (n. 3-4); fala no contributo que a psicologia pode dar ao discernimento vocacional dos que aspiram ao sacerdócio, na identificação das suas qualidades e limitações humanas (n. 5), deixando claro que os especialistas nesta área devem agir “sempre com o prévio, explícito, informado e livre consentimento do candidato” (id. ibid); enaltece a utilidade destes especialistas (n. 6) e dispõe que a sua utilização nos diversos seminários deve ser feita “com fidelidade e em coerência com os princípios e as directrizes do presente Documento” (n. 7).

Fala sobre as etapas do discernimento vocacional, desde os momentos iniciais (n. 8) até o período de formação propriamente dita (n. 9), afirmando que o “caminho formativo deverá ser interrompido no caso do candidato, apesar do seu empenho, do apoio do psicólogo ou da psicoterapia, continuar a manifestar incapacidade para enfrentar de modo realista, ainda que com o progresso do crescimento humano, as suas graves imaturidades” (n. 10). Reafirma o direito da Igreja de julgar quem é apto para o ministério sacerdotal e quem não é (n. 11), afirmando igualmente que isto não pode ser feito em detrimento da boa foma do candidato e garantindo assim a confidencialidade das informações que forem utilizadas para o seu discernimento vocacional (n. 12).

Lembra ainda o documento que o discernimento vocacional é feito tanto no foro externo (n. 13) quanto no interno (n. 14), dizendo que o especialista em psicologia, quando solicitado, poderá prestar auxílio tanto ao candidato quanto aos formadores (n. 15). Dispõe sobre os cuidados que devem ser tomados com a admissão de pessoas que já saíram ou foram expulsas de outros seminários (n. 16), e conclui recordando a responsabilidade de “[t]odos os que (…) estão envolvidos na formação” do futuro sacerdote no bom êxito do processo de discernimento e formação sacerdotal (n. 17). Termina o documento dizendo que “[o] Sumo Pontífice Bento XVI, no decurso da Audiência concedida em 13 de Junho de 2008, ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito, aprovou o presente documento e autorizou a sua publicação”.

Claro que o documento é muito mais rico do que o simples resumo feito acima é capaz de revelar; é, portanto, impressionante que ele tenha sido transformado pela mídia em um simples e caricato “Vaticano recorrerá a psicólogos para evitar seminaristas homossexuais”! Tal reducionismo é grotesco. O documento prevê o auxílio da psicologia “para uma avaliação mais segura da situação psíquica do candidato, das suas atitudes humanas na resposta ao chamamento divino, e para um auxílio posterior no seu crescimento humano” (n. 5); é portanto mentira dizer simplesmente, como a FOLHA (republicando a France Press) acima citada, que “[o] Vaticano anunciou (…) que recorrerá a psicólogos para avaliar se os candidatos a entrar nos seminários são homossexuais”.

Claro que – graças a Deus – este documento da Congregação para a Educação Católica aponta o homossexualismo como um problema, e veta o ingresso às ordens sagradas àqueles que não forem capazes de o superar. Muito oportuno também o documento em lembrar que o Sagrado Celibato “é muito mais do que uma simples ausência de relações sexuais”. Mas ele é, sem dúvidas, mais abrangente do que uma mera renovação da condenação ao homossexualismo. Rezemos ao Senhor da Messe, para que ele nos mande sempre santos pastores; que os ministros de Deus estejam à altura da dignidade que possuem, para que a Igreja seja exaltada e as almas possam ser salvas. Que a Virgem Maria abençoe os sacerdotes e seminaristas.

ZENIT: anti-nazismo e anti-comunismo

Em ZENIT, dois coelhos com uma caixa d’água só: a Igreja perante o nazismo empenhada no auxílio aos judeus, e as desgraças provocadas pelo comunismo da União Soviética.

Contra o nazismo: “operação papéis falsos”.

«Nós, os judeus refugiados em Assis, não nos esqueceremos nunca do que se fez por nossa salvação. Porque em uma perseguição que aniquilou seis milhões de judeus, em Assis não afetou nenhum».

Contra o comunismo: “a grande fome da Rússia”.

«Hoje celebramos o 75º aniversário do Holodomor – a grande fome – que entre os anos 1932 e 1933 causou milhares de mortes na Ucrânia e em outras regiões da União Soviética durante o regime comunista».

O Papa expressou vivamente seu desejo de que«nenhum regime político possa jamais, em nome de uma ideologia, negar os direitos da pessoa humana e sua liberdade e dignidade», e aproveitou a ocasião para assegurar sua oração pelas «vítimas inocentes daquela enorme tragédia».

“Derramai Vosso furor…” (Jr 10, 25)

A atual subserviência do Ocidente começou com um pequeno passo; na década de 60, as Igrejas Ocidentais retiraram de sua liturgia uma oração, “Oremus et pro perfidis Judaeis”; “Oremos pelos pérfidos judeus: que Nosso Deus e Senhor remova o véu que cobre os seus corações, a fim de que eles aceitem a luz de Sua verdade que é Nosso Senhor Jesus Cristo e saiam das trevas em que se encontram”. Isto foi considerando “anti-semita”, embora fosse um eco distante da oração judaica “Shepokh Hamatha”, “Senhor, enviai a Vossa fúria sobre os goyim que não conhecem o Vosso Nome”. Mas os judeus preservaram a sua oração de vingança, enquanto cristãos perdidos e dominados abandonaram sua oração de misericórdia.
[Israel Adam Shamir, Gaza: Of Mice and Men – “Sobre ratos e homens”]

Leio no Fratres in Unum que ainda tem judeu reclamando da oração da Sexta-Feira por sua conversão! E quanto ao Sh’foch chamoscho el ha’Goyim da Pessach judaica? Eu, sinceramente, não me incomodo com ela (até porque são trechos bíblicos, que Deus não há de ouvir em desfavor da Sua Igreja), mas gostaria muitíssimo que os judeus nos deixassem rezar por eles em paz.

O católico e a Ditadura do Relativismo

O professor Felipe Aquino escreveu ontem um excelente texto no seu blog, chamado “o cristão e o respeito humano”, que é muitíssimo atual e vale muito a pena ser lido. Aproveito a oportunidade para tecer mais alguns comentários sobre o assunto.

No início do ano, o Cardeal Tarcisio Bertone – secretário de Estado do Vaticano – pronunciou uma conferência na Universidade de Havana, em Cuba. Entre outras coisas, o Eminentíssimo Cardeal mostra como uma errônea consideração da razão humana – predominante no mundo moderno, é importante salientar – termina por conduzir àquilo que Sua Santidade o Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Joseph Ratzinger, chamou de “Ditadura do Relativismo”. Os passos dessa degeneração são relativamente simples: a razão humana, passando a ser considerada sob uma ótica exclusivamente empírica (nas palavras do Card. Bertone, a “redução da razão a uma ciência experimental”), conduz a um conseqüente abandono da metafísica. Deste modo, tudo aquilo que não é passível de investigação científica (p. ex., Deus) é tratado como se fosse inexistente, ou indiferente, ou estranho à racionalidade humana, de modo que não pode ser levado em consideração a não ser no foro íntimo. Desta maneira, não admitindo qualquer valor absoluto, chega-se à conclusão irracional e intrinsecamente contraditória de que a única verdade absoluta é… que não existem verdades absolutas! Nas palavras do Eminentíssimo Cardeal:

A lógica deste dinamismo leva àquilo que Bento XVI denominou “a ditadura do relativismo”. Ou seja, diante da impossibilidade de estabelecer normas comuns, com a validade universal para todos, o único critério que permanece para determinar o que é bom ou mau é o uso da força, quer a dos votos quer a da propaganda ou das armas e da coerção. “Está-se a constituir uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida somente o próprio “eu” e os seus desejos” (J. Ratzinger, Homilia na Missa “pro eligendo Romano Pontifice”, 18 de Abril de 2005). A partir de tais pressupostos, seria impossível construir ou manter a vida social.

Eis, portanto, o mundo em que vivemos: a “mutilação” da Razão Humana, que conduz à impossibilidade de se afirmar valores absolutos que tenham validade universal e supra-cultural, faz com que seja impossível a manutenção de uma sociedade minimamente civilizada. Afinal, se não existe uma Moral pela qual todos os povos e culturas precisam se pautar, então o que impera é a lei do mais forte, e vai ser “certo” ou “errado” aquilo que as pessoas “decidirem” que é certo ou errado. Se decidirem que é certo equiparar a dupla de homossexuais à família, então isso passa a ser certo. Se decidirem que é certo a mãe matar o próprio filho no ventre, então isso passa a ser certo. Se decidirem que é certo matar judeus, então isso passa a ser certo. Em uma palavra: se não existe uma Lei, estamos condenados a viver em uma terra sem lei, onde qualquer coisa pode passar a ser certa ou errada dependendo da vontade de quem for mais forte. E, digam o que disserem, isto não é liberdade, não é progresso, não é evolução, não é civilização. É, ao invés disso, a mais cruel barbárie.

Sua Santidade o Papa Bento XVI, quando esteve na Espanha dois anos atrás, escreveu o seguinte aos bispos da Conferência Episcopal Espanhola: “Segui, pois, proclamando sem desânimo que prescindir de Deus, actuar como se não existisse ou relegar a fé ao âmbito meramente privado, mina a verdade do homem e hipoteca o futuro da cultura e da sociedade”. E, no mesmo sentido, disse o Cardeal Bertone em Havana: “Portanto, é necessário inverter o axioma do relativismo ético e postular vigorosamente a existência de uma ordem de verdade que transcende os condicionamentos pessoais, culturais e históricos, e que tem uma validade permanente”. Nós, católicos, estamos com o Papa. A Fé não é uma questão de foro íntimo. Deus não é um elemento estranho ao debate público. Existem valores que são universais e que precisam, como tais, ser defendidos. E nós temos a obrigação de travar este combate, com coragem e destemor, a fim de que Cristo reine.

A Igreja Católica nunca apresentou o Evangelho como sendo apenas um conjunto de crenças irracionais que não almejavam senão o foro íntimo. Jamais. A Fé Católica e Apostólica é a Fé Verdadeira – a Única Fé Verdadeira – e, portanto, pode e deve ser apresentada a todos os homens, no “terreno comum” a todos eles, na razão natural considerada em sua plenitude. Porque a Fé é também absoluta, e a Verdade é verdadeira para todos os homens; a pregação do Evangelho não faz nenhum sentido dentro de um mundo relativista e subjetivista, onde a Fé é enxergada exclusivamente como um assunto de foro íntimo.

Na relação entre os que crêem e o que não crêem, portanto, é mister haver uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que a Fé evidentemente não pode ser imposta à sociedade, a anti-Fé tampouco o pode! Esta última não se pode apresentar como a única atitude racionalmente válida para a vida em sociedade, pois ela é precisamente o contrário: é uma atitude irracional que torna impossível a vida em sociedade. Há verdades universais que não são exclusivas da Fé Católica, sendo acessíveis à razão natural; de novo citando o Secretário de Estado do Vaticano, “a lei natural manifesta-se como uma espécie de “gramática” transcendente que permite o diálogo entre os povos, ou seja, um conjunto de regras de realização individual e de relacionamento entre as pessoas na justiça e na solidariedade, que está inscrita nas consciências nas quais se reflecte o sábio projecto de Deus”. Importa que os católicos tragam Deus à vida pública, desafiando a Ditadura do Relativismo, proclamando em alta voz a existência da Verdade, Eterna e Imutável, longe da qual só existe obscurantismo e barbárie. Já chega de covardia. A defesa da Fé é essencial para a defesa da humanidade. Defendamos com destemor as leis e os direitos de Deus. Não recuemos diante dos gritos, das ameaças e dos xiliques dos laicínicos de todos os naipes. Que São Miguel Arcanjo nos defenda no combate.

A tolerância gayzista

Lembram-se de que a Califórnia rejeitou o “casamento” gay, graças à aprovação de uma Emenda à Constituição Estadual segundo a qual “[s]omente o casamento entre um homem e uma mulher é válido ou reconhecido na Califórnia” – a já famosa Proposição 8? Lembram-se de que, logo após, os gayzistas derrotados nas urnas entraram democraticamente na Justiça contra a vontade popular? Descobri, com um misto de pesar e revolta, que o espírito intrinsecamente ditatorial dos gayzistas já havia colocado as garras de fora bem antes; antes mesmo do resultado do pleito.

As cenas abaixo são (mais) um exemplo da “civilidade” e da “tolerância” que a Ditadura Gay reserva aos que ousam discordar da sem-vergonhice gayzista, e que têm a coragem de se levantar contra a imposição do vício. Trata-se de uma reportagem, provavelmente de algum jornal local californiano, na qual a repórter tenta entrevistar uma senhora que era favorável à proposição, no meio de uma horda de pobres homossexuais perseguidos e discriminados. Vale a pena assistir, mesmo que não se entenda inglês, porque as cenas – o rosto da repórter e da senhora, os gritos, a expressão dos militantes psicopatas gayzistas – são eloqüentes. O vídeo foi originalmente publicado neste blog; assistam, antes que ele também desapareça misteriosamente do youtube.

[youtube=http://it.youtube.com/watch?v=pwTtC1GKtz4]

O que dizer diante destas cenas? O que falar diante de uma cruz pisoteada pelos gayzistas? Estamos no liminar de um novo martírio, sim. E precisamos rezar. Mas precisamos também de novos cruzados. De cruzados que não tenham medo de defender Nosso Senhor. De cruzados que possam e queiram proclamar de cabeça erguida que Cristo é Rei. De cruzados que ofereçam resistência aos deboches e ultrajes lançados contra a Santa Igreja. De cruzados que combatam a Ditadura do Relativismo, e se esforcem para defender os valores eternos. Precisamos de soldados de Cristo sem medo de “darem a cara a tapa”, sem vergonha de se dizerem católicos. Precisamos de cruzados que não estejam comprometidos com o politicamente correto, e que possam proclamar a Verdade em alto e bom som, sem ambigüidades e sem respeito humano. Precisamos, enfim, de católicos: católicos de fibra, católicos de coragem, católicos fiéis, católicos verdadeiros.

Não podemos ficar parados enquanto os inimigos de Deus e da Igreja avançam com destemor, debochando da Igreja de Cristo, pisoteando a Cruz de Nosso Senhor, agredindo violentamente quem quer que ouse colocar-se em seu caminho! O contrário da barbárie não é a covardia; é possível e necessário ser valente e ser firme, sem agir com brutalidade. Vingarmo-nos, não; defendermo-nos, sim. Levantemo-nos com valentia. Façamos o que precisa ser feito. Sacudamos o pó, acabemos com a covardia, empenhemo-nos no combate. Paremos de bajular os inimigos, de fazer acordos vergonhosos em uma política de boa vizinhança pusilânime e indigna de um filho de Deus. Lutemos, com coragem, pela glória de Deus, pela exaltação da Santa Madre Igreja. Aux armes. Deus lo vult!

A Santa Sé e a Ordenação de Mulheres

Encontrei uma excelente notícia no Fratres in Unum, segundo a qual a Congregação para a Doutrina da Fé ameaçou excomungar um padre que defende publicamente a ordenação de mulheres. É motivo de profunda alegria e grata satisfação ver que temos pastores zelosos e vigilantes, empenhados em expurgar as heresias que possam pôr em risco a salvação das almas dos fiéis a eles confiados.

Analisar a questão das condenações de Roma à defesa da ordenação feminina nos últimos anos é gratificante. Percebe-se o levantar gradual de muralhas e o desenvolvimento paulatino da saudável intransigência. Na minha opinião, são três os marcos principais desta batalha travada pela Igreja de Nosso Senhor:

1994: João Paulo II afirma categoricamente “que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.
2007: a Congregação para a Doutrina da Fé diz que, “seja aquele que tenha tentado conferir a ordem sagrada a uma mulher, seja a própria mulher que tenha tentado receber a ordem sagrada, incorrem na excomunhão latae sententiae reservada à Sé Apostólica”. Só há sete excomunhões automáticas no Direito Canônico; esta é a oitava.
2008: a Congregação para a Doutrina da Fé pede que se retrate um padre que defende a ordenação de mulheres, sob pena de excomunhão.

Percebam a gradação: primeiro, a Igreja define que Ela não pode ordenar mulheres (i.e., o Sacramento é inválido); depois, pune com excomunhão automática quem tente ordená-las; agora, exige retratação de um padre que defenda a ordenação feminina. Primeiro era apenas o ensino sem as punições, depois as punições passaram a valer para os que fizessem alguma coisa contra o ensino e, agora, as retratações são necessárias para os que defendem alguma coisa contra o ensino! É nítido o progresso no levantamento das defesas, é notória a construção das muralhas cada vez mais sólidas. Os maus católicos têm cada vez menos espaço, graças a Deus.

E, da carta de protesto enviada pelo pe. Roy Bourgeois à Congregação para a Doutrina da Fé após o recebimento do comunicado que exigia a sua retratação (vejam no Fratres in Unum), destaco e comento apenas um trecho escandaloso, para que se veja até que ponto são capazes de chegar os maus católicos na desobediência à Igreja:

Durante a entrevista [à Radio Vaticano, oito anos atrás], afirmei que eu não poderia apoiar a injustiça da SOA e permanecer calado sobre a injustiça em minha Igreja. Terminei a entrevista dizendo, “Nunca haverá justiça na Igreja Católica até que as mulheres sejam ordenadas”. Permaneço fiel a esta posição hoje.

Então, para o pe. Bourgeois, a Igreja de Cristo é injusta. Conseqüência lógica imediata deste despautério é que nunca houve justiça na Igreja até hoje, pois nunca houve n’Ela ordenação feminina, e até mesmo que Nosso Senhor foi profundamente injusto, já que Ele não ordenou mulheres. Mas o orgulho cega tão profundamente as pessoas que elas não conseguem ver as coisas mais elementares, as conseqüências mais imediatas das posições que adotam. É lamentável que o padre permaneça fiel à sua posição disparatada até hoje, apesar das admoestações da Santa Sé.

Presente de Natal

Recebi, por email, um excelente texto do dr. Cícero Harada escrito já há alguns anos, mas que fala sobre um assunto que estávamos tratando aqui recentemente: a campanha de destruição do Natal por meio da substituição de todas as suas características cristãs por elementos genéricos e estranhos ao verdadeiro espírito natalino. Publico-o, com alegria.

Aproveito o ensejo para fazer um ligeiro comentário: a filosofia consumista, trocando a alegria do nascimento de um Salvador pela “alegria” de presentes e toda sorte de bens materiais é devastadora nas classes sociais mais abastadas, mas os pobres têm uma esperança, já que há evidentes barreiras financeiras à entrada no jogo do consumismo genérico que nem todos são capazes de ultrapassar. Podem, portanto, aqueles que ficaram “de fora” desta cidade de futilidades escolher um de dois caminhos: chorarem recostados ao muro e invejarem os “felizes” que lá conseguiram entrar, ou então procurarem, fora do mundo consumista, um sentido para o seu Natal. Estes últimos, quiçá encontrem uma Igreja e, como o José do Dr. Cícero, quem sabe não se deparem com o seu verdadeiro presente de Natal…

* * *

Presente de Natal

Cícero Harada

José é o nome dele. Menino como tantos outros. Pés descalços, atônito, nunca vira a cidade tão apinhada. É o empurra-empurra das compras de Natal. Mal consegue caminhar. Nas vitrinas, nas ruas, nas lojas, papai Noel, obeso, roupa e gorro vermelhos, botas e cinto pretos, barbas brancas, às vezes, com um sininho à mão, mas sempre prometendo brinquedos e presentes às crianças, tirando com elas muitas fotos.

Lembra-se, em criança, de papai Noel, chegando de caminhão. Sim, num enorme caminhão, perto de casa, onde dezenas ou centenas de meninos e meninas recebiam brinquedos e os pais uma cesta básica.

É Natal, tempo de alegria. Tempo de generosidade. Tempo de bondade. Tempo de caridade. Caridade, não, a professora Lia detesta essa palavra. Nas aulas, ensina que caridade é sujeição, subordinação, e todos somos sujeitos de direito. Temos direito às coisas e não necessitamos de esmolas. José, no entanto, caminha, sem direito a comprar presentes, um presentinho sequer. Seu coração é tão grande: daria pra dar um presentinho pra cada criança pobre, pra cada idoso. Gostaria de ajudar as pessoas, mas é tão pobre…ajudar seu pai, desempregado, sua irmãzinha… Mas agora, aos doze anos, não iria pedir, como tantas vezes pediu, em vão, tantas coisas a papai Noel. –Pedir a papai Noel, nunca!– Dizia doutor Alcides, advogado e amigo de seu pai. Será que tudo isso que via é aquilo que doutor Alcides tanto criticava: a terrível sociedade de consumo? —É a sociedade do ter, afirmava em tom condenatório. Todos gastando o salário, o décimo terceiro e talvez comprometendo salários futuros. No olhar, não há generosidade, mas incontrolável ânsia de comprar, para si, para outrem, vontade quase mecânica, uma obrigação social.

José foge daquela multidão. Entra numa rua, fica espremido entre camelôs, oferecendo aos gritos suas mercadorias, e transeuntes, pechinchando e aproveitando as ofertas.

Pensa no Natal, nas festas que nunca teve…

Para diante de um bar, moços de gravatas, paletós vestindo cadeiras, gargalhadas, muita cerveja…

Anda alguns metros mais, é a igreja. Aí, muita vez orara com sua mãe. Relutante, entra: vazia…silenciosa…um presépio…um lindo presépio…é o Deus-Menino, ouve sua mãe, como se estivesse a seu lado. Ela o fazia ajoelhar sempre diante daquele menino de braços abertos, acolhedores. Vê a estrela guia, iluminando a gruta.  Lembra-se da professora Lia, explicando que natal é nascimento e que seu colega de sala tinha nome redundante, Natal Natalino do Nascimento. Então, natal é o nascimento do menino Jesus, do Menino-Deus. Deseja que sua mãe, tão distante, há tanto tempo, estivesse ao lado daquele que ela tanto amara…é o nosso Salvador, nasceu em Belém, numa grutalá, a Virgem Maria, a estrela guia, que nos leva sempre ao Deus-Menino, ensinava ela em tom maternal e carinhoso. É o nascimento, o natal do menino Jesus. É o natal de Cristo. E, de repente, naquele silêncio, uma indizível paz, uma alegria infinda…ajoelha-se…compreende que Ele, o menino Jesus, é o seu verdadeiro presente de Natal!

(O autor é advogado, Procurador do Estado de São Paulo, Conselheiro da OAB-SP, Presidente da Comissão de Defesa da República e da Democracia – OAB-SP)

Autorizada ampla divulgação

Doutrina Católica Básica

Segue abaixo um pequeno conjunto de perguntas sobre Doutrina Católica básica, a fim de que o ensinamento da Igreja seja melhor conhecido nos dias de hoje, nos quais tantas pessoas se dizem católicas sem fazerem idéia do que isso significa realmente. As respostas católicas vão entre colchetes.

Sobre Deus: Deus existe? [sim] A existência de Deus pode ser conhecida naturalmente, ou exige a Fé? [pode ser conhecida naturalmente] Há um só Deus, ou há vários deuses? [há um só Deus] O Deus que existe é ao mesmo tempo Uno e Trino? [sim] Deus é Criador de todas as coisas que existem? [sim] De todos os homens também? [também] Deus é Deus de todos os povos? [sim] Existe “um deus para cada religião” (Allah para os muçulmanos, Krishna para os hindus, Tupã para os índios, etc), ou Deus é o Deus de todos? [Deus é o Deus de todos]

Sobre Jesus Cristo: Jesus Cristo é verdadeiro Deus? [sim] E Homem verdadeiro? [também] Jesus Cristo veio realmente a esta terra? [veio] Os Evangelhos são livros históricos ou dependem da “fé” de quem lê? [são livros históricos] Jesus Cristo fundou uma Igreja? [sim, fundou uma Igreja]

Sobre a Igreja: Jesus Cristo fundou uma única Igreja, ou várias? [uma única Igreja] Jesus Cristo é o Esposo Fiel que tem uma Única Igreja por Esposa, ou é um adúltero que tem “várias igrejas” – ou (pior ainda) várias religiões – por concubinas? [é o Esposo que tem uma Única Igreja por Esposa] A Igreja é infalível quando ensina sobre Fé e Moral? [é infalível] Todos fazem parte da Igreja, ou entra-se n’Ela pelo Batismo? [entra-se n’Ela pelo Batismo] Existe salvação fora da Igreja? [não] Fora das estruturas visíveis da Igreja, é possível pertencer “à alma” d’Ela e ser salvo?  [sim] Todos pertencem “à alma” da Igreja, ou é necessário para isso estar em Ignorância Invencível e ter ao menos implícito o Batismo de Desejo? [é necessário estar em Ignorância Invencível e ter ao menos implícito o Batismo de Desejo] Os não-católicos, portanto, salvam-se caso não estejam em Ignorância Invencível, ou caso não tenham pelo menos implicitamente o Batismo de Desejo? [não, os não-católicos não se salvam se não estiverem em Ignorância Invencível e não tiverem pelo menos implícito o Batismo de Desejo] Todas as pessoas, portanto, precisam conhecer a Igreja e segui-lA? [sim]

Sobre a Missa: a Missa é o Sacrifício de Cristo tornado presente em nossos altares, ou é uma reunião do povo de Deus, uma confraternização dos irmãos na Fé, uma festa para que os católicos se encontrem e vivam em comunidade, ou alguma outra coisa parecida? [é o Sacrifício de Cristo tornado presente em nossos altares] Na Eucaristia, Jesus Cristo está verdadeiramente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade? [sim] Isso depende da Fé de quem celebra, da Fé de quem comunga, ou é assim em virtude do sacramento? [é assim em virtude do Sacramento] Os não-católicos podem comungar? [não] Quem está em pecado mortal pode comungar? [não] A missa é celebrada para o povo, ou para Deus em favor do povo? [para Deus em favor do povo] Existe Missa com o povo reunido, sem o padre? [não] Existe Missa só com o padre, sem o povo reunido? [sim]

Sobre assuntos diversos: é pecado mortal ter relações sexuais fora do casamento? [é] É pecado mortal usar métodos artificiais de controle de natalidade? [é] É pecado mortal abortar? [é] É pecado mortal deixar de assistir missa nos domingos sem que haja motivo grave? [é] A sodomia é pecado mortal e, ainda, um pecado contra a natureza? [sim] Católico pode defender o aborto? [não] Católico pode ser socialista? [não] Existe Purgatório? [sim] Existe inferno? [sim] O inferno é para sempre? [sim] Existe Satanás? [sim] As pessoas que morrem em pecado mortal sem arrependimento vão para o inferno? [vão] É necessário buscar o Sacramento da Confissão com um padre quando se comete um pecado mortal? [sim] Nossa Senhora é Mãe de Deus? [é] Nossa Senhora foi e é Virgem antes, durante e depois do parto? [sim, Ela foi e é Virgem antes, durante e depois do parto] Nossa Senhora nasceu com o Pecado Original? [não] Nossa Senhora foi assunta aos Céus em Corpo e Alma? [sim]

Há muitas outras perguntas que poderiam ser feitas, mas estas bastam por enquanto. Que possamos nos esforçar para sermos em tudo servos fiéis da Igreja, repetindo todos os dias com alegria: esta é a nossa Fé, que da Igreja recebemos, e sinceramente professamos!

Expulsando os lobos do redil

Não me incomodam tanto as pessoas que atacam a Igreja estando fora d’Ela. O que realmente me tira do sério são aqueles que se dizem “católicos” e, mesmo assim, fazem tudo de maneira diametralmente oposta àquilo que a Igreja ensina e pede. O mau testemunho que estas pessoas dão, o escândalo, as feridas que se disseminam por todo o Corpo Místico de Cristo – afinal, lembremo-nos da comunhão dos santos – são simplesmente terríveis. Tais pessoas terminam por “queimar o filme” da Igreja e, assim, afastar d’Ela as almas sinceras que buscam a Verdade que liberta, e que só na Igreja de Nosso Senhor pode ser encontrada em plenitude.

“Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!”, disse Nosso Senhor no Evangelho (Mc 9, 42). Pode-se traduzir também “todo o que escandalizar a um destes pequeninos” – no latim de São Jerônimo, o verbo é scandalizaverit – e, na minha opinião, desta forma fica mais evidente o mal que é o escândalo. Comentando esta passagem do Evangelho, o Catecismo da Igreja diz o seguinte:

O escândalo reveste-se duma gravidade particular conforme a autoridade dos que o causam ou a fraqueza dos que dele são vítimas. Ele inspirou esta maldição a nosso Senhor: «Mas se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar» (Mt 18, 6). O escândalo é grave quando é causado por aqueles que, por natureza ou em virtude da função que exercem, tem a obrigação de ensinar e de educar os outros. Jesus censura-o nos escribas e fariseus, comparando-os a lobos disfarçados de cordeiros.
[CIC 2285]

Todo este preâmbulo foi necessário para que eu comentasse um caso que eu vi no Jornal Nacional de ontem, sobre um padre “casado” que insistia em celebrar os Sacramentos mesmo estando suspenso de ordens. O padre Osiel dos Santos chegava mesmo a dizer: “o que eu faço não é com ordem da diocese”. Ou seja: estamos diante de um caso de deliberado e consciente desprezo à autoridade da Igreja de quem o padre recebeu o ministério sacerdotal!

Sejamos claros: ninguém é obrigado a ser católico. Para quem é católico, ninguém é obrigado a ser padre. No entanto, se o sujeito livremente se decide por ser católico e – ainda – por ser ordenado sacerdote, tem a obrigação de “seguir as regras do jogo”, e ter pelo menos um mínimo de coerência e de consideração à Igreja para cujo serviço ele foi ordenado. Ninguém tem o “direito” de ser sacerdote do Deus Altíssimo; uma vez que atinja este estado, portanto, é necessário esforçar-se para ser digno dele. Agir como lobo que dispersa as ovelhas e pôr-lhes as almas em risco quando se tinha o encargo de guardá-las e conduzi-las a Deus é uma atitude particularmente perversa. Foi a pessoas assim que Jesus dirigiu aquelas duras palavras dos Evangelhos citadas mais acima.

Os Sacramentos da Igreja não são todos iguais. A Eucaristia, por exemplo, é validamente celebrada mesmo por um padre que esteja suspenso de ordens – embora seja ilícita. Mas as confissões e os matrimônios são inválidos mesmo, porque são Sacramentos que exigem o exercício da jurisdição da Igreja – coisa que um padre suspenso não possui. Portanto, o padre Osiel estava não somente escandalizando os fiéis, mas também enganando-lhes ao lhes oferecer “teatros” de Sacramentos que não têm valor. Ele deveria dizer não somente que não age “com ordem da diocese”; deveria dizer claramente que está fazendo teatro e “celebrando” casamentos sem valor algum, dizendo ainda – para que as pessoas que o procuram pudessem entender – que um casamento em presença dele e em presença de ninguém eram a mesma coisa, ou seja, nada. Mas por que alguém que despreza a Igreja iria se preocupar com as almas dos fiéis que Ela tem a missão de guardar?

N’O Globo, foi publicada a mesma notícia com um outro detalhe que vale a pena mencionar:

– Eu sempre lutei pelo celibato opcional e pela ordenação de mulheres – diz Osiel.

Eis, portanto, as garras do lobo de fora. Embora o celibato seja uma disciplina da Igreja, é antiquíssima, e santa e santificante, e a Igreja já deixou claro (inclusive recentemente) que não pretende alterá-la (cf. Sacramentum Caritatis, 24); mas a ordenação de mulheres é uma impossibilidade doutrinária, que simplesmente não pode ser feita, como a Igreja também já o disse outras vezes. Mulheres não podem ser ordenadas, como papagaios não podem ser batizados ou pedras não podem ser crismadas. Em qualquer um dos casos o sacramento é inválido e é um sacrilégio. A função da mulher – importantíssima e insubstituível – na Igreja é outra; leiam a Mulieris Dignitatem! E não aceitemos que um padre, que deveria guiar os fiéis pelo estreito caminho da Salvação, despreze a dignidade feminina com base em um inexistente igualitarismo entre os gêneros.

O padre diz que não crê estar fazendo nada de errado. Sim, está, é claro que está. Está traindo a Igreja, escandalizando o povo fiel, oferecendo simulações de sacramentos no lugar dos sacramentos verdadeiros, defendendo disparates já há muito tempo condenados pela Igreja. No site da Arquidiocese, encontra-se um comunicado de Sua Excelência Reverendíssima Dom Washington Cruz, avisando a todas as pessoas que o padre Osiel não pode celebrar os Sacramentos. Graças a Deus, as pessoas estão se cansando dos escândalos, e os bispos estão agindo verdadeiramente como sentinelas que são, defendendo os fiéis católicos de tudo aquilo que pode colocar em risco a salvação de suas almas, e expulsando valentemente os lobos do meio das ovelhas. Rezemos pela Igreja, para que Ela tenha sempre santos pastores, dignos do grave encargo que lhes foi confiado.