Absurdo em São José dos Pinhais

respondens autem Petrus et apostoli dixerunt obœdire oportet Deo magis quam hominibus
(Pedro e os apóstolos replicaram: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens)
[Actus Apostolorum 5, 29]

Uma reportagem do Gazeta do Povo, jornal paranaense, anuncia o inexplicável: “a Diocese de São José dos Pinhais aconselha os padres a usar vinho sem álcool ou suco de uva natural nas missas”. A razão? A absurda Lei Seca. Segundo foi noticiado,

o clero foi liberado para usar suco de uva ou vinho sem álcool durante a missa, ao invés do vinho canônico tradicional.

E isso é ridículo. O clero não pode simplesmente ser “liberado” de utilizar o vinho na celebração da Santíssima Eucaristia! Retomando as lições básicas de teologia sacramental que parecem ter sido esquecidas: todo Sacramento precisa, para “acontecer”, de matéria, forma e ministro com a intenção de fazer o que faz a Igreja. E todos os sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo, Nosso Senhor, pois somente Ele, que é Deus Encarnado, tem poder para “ligar” um sinal sensível aqui na terra a um efeito sobrenatural. Disto, decorre que absolutamente ninguém tem potestade para alterar aquilo que foi determinado por Cristo Nosso Senhor; nem mesmo o Papa, e muito menos a Diocese de São José dos Pinhais.

A matéria do Sacramento da Eucaristia é o pão de trigo (para o Corpo de Cristo) e o vinho de uva (para o Seu Preciosíssimo Sangue). De facto, assim prescreve a Instrução Redemptionis Sacramentum:

O vinho que se utiliza na celebração do santo Sacrifício eucarístico deve ser natural, do fruto da videira, puro e dentro da validade, sem mistura de substâncias estranhas [Cf. Lc 22, 18; Código de Direito Canônico, c. 924 §§ 1, 3; Missale Romanum, Institutio Generalis, n. 322.]. Na mesma celebração da Missa se lhe deve misturar um pouco d’água. Tenha-se diligente cuidado de que o vinho destinado à Eucaristia se conserve em perfeito estado de validade e não se avinagre. Está totalmente proibido utilizar um vinho de quem se tem dúvida quanto ao seu caráter genuíno ou à sua procedência, pois a Igreja exige certeza sobre as condições necessárias para a validade dos sacramentos. Não se deve admitir sob nenhum pretexto outras bebidas de qualquer gênero, que não constituem uma matéria válida [RS 50, grifos meus].

Não tenho certeza quanto ao vinho sem álcool (posto que a “desalcoolização” do vinho vai, certamente, deixar alguma quantidade ínfima de álcool presente, o que pode ser suficiente para a subsistência da matéria válida), mas o suco de uva não constitui matéria válida para a celebração da Santíssima Eucaristia. Ou seja: celebrar missa com suco de uva é a mesma coisa que celebrar missa com coca-cola, com suco de maracujá ou com cajuína: a Missa não é válida. Suco de maracujá não se transubstancia no Sangue de Cristo, e suco de uva também não. Este assunto é da mais alta gravidade – estamos falando da possibilidade dos fiéis católicos serem enganados com caricaturas de missas – e não pode ser menosprezado.

Vale salientar que existe um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, assinado pelo então cardeal Ratzinger, que afirma ser o mosto matéria válida para a celebração da Eucaristia. Segundo a definição do próprio documento,

per mustum si intende il succo d’uva fresco o anche conservato sospendendone la fermentazione (tramite congelamento o altri metodi che non ne alterino la natura);
[por mosto se entende o sumo de uva fresco ou mesmo conservado, suspendendo-se-lhe a fermentação (através de congelamento ou de outro método que não lhe altere a natureza) – tradução livre minha]

E a wikipedia define mosto como sendo “o sumo de uvas frescas obtido antes que passem [pelo] processo de fermentação”. Ou seja: não se trata de “suco de uva” simpliciter, e sim de vinho (ainda) não fermentado. A natureza do mosto é a mesma do vinho; a do suco de uva, não é. Mosto é matéria válida para a celebração da Eucaristia; suco de uva, não é.

E tem mais: o citado documento da Congregatio Pro Doctrina Fidei diz que a utilização do mosto só é permitida nos casos em que o padre possui alguma doença (como alcoolismo) que lhe impeça o consumo de álcool mesmo em mínimas quantidades; não pode ser usado “a torto e a direito”. Temos, portanto, que

a) se a declaração da Pro Doctrina Fidei salvaguarda a validade da Missa celebrada com mosto, o mesmo não pode ser dito quanto à sua licitude, posto que as condições que permitem a utilização do mosto não se encontram presentes no caso atual de São José dos Pinhais; e

b) se, ao invés do mosto [que aliás não é citado uma única vez no jornal], for utilizado suco de uva normal, a missa é inválida mesmo.

O assunto é sério. E, ao lado do absurdo da tentativa de se modificar o que foi instituído por Nosso Senhor, tem uma parte da notícia que é menos grave, mas ainda muito preocupante:

Em 11 de julho, um padre não-identificado da região de Ribeirão Preto (SP) foi flagrado no teste do bafômetro. Após rezar uma missa, o padre seguia em direção a outra paróquia, para fazer mais uma celebração, mas foi parado pela Polícia Militar. Durante a cerimônia religiosa, o pároco havia ultrapassado os limites de vinho permitidos pela nova legislação – 0,1 miligrama de álcool por litro de ar expelido no bafômetro ou 2 decigramas de álcool por litro de sangue. O padre não recebeu as sanções devidas – multa, apreensão da habilitação e detenção – porque um Policial Militar o reconheceu e o liberou.

“Um padre tem direitos e deveres”, afirma Douglas Marchiori. “O soldado agiu errado nessa situação. Não se deve abrir exceções, as pessoas devem conhecer a lei e respeitá-las. Os padres não estão acima disso.”

Esta liberação é sensata, mas acontece que não está prevista na Lei e, portanto, não temos nenhuma garantia de que ela será aplicada sempre, ficando os padres à mercê do bom ou mau humor dos policiais que lhes abordarem; e isto, francamente, é um absurdo. E, para acabar de completar a desgraça, o tal “Douglas Marchiori” que afirmou ter o soldado agido errado é… diácono permanente da Diocese de São José dos Pinhais!!

Que São Pedro, o primeiro Papa, aquele que afirmou ser mais importante obedecer a Deus que aos homens, possa interceder por esta terra de Santa Cruz, para que os bispos brasileiros sejam fiéis ao seu sucessor, a fim de que, por causa de uma lei positiva absurda, uma Igreja Particular não venha a deixar de oferecer o Sacrifício Santo e Imaculado que é devido ao Deus Todo-Poderoso.

Quebrando o silêncio

[O] IBP foi criado para criticar o Concílio Vaticano II e celebrar exclusivamente a Missa de sempre.

Muitos de nós da Montfort apoiamos o IBP – e continuaremos a apoiá-lo – sempre que ele cumprir as suas finalidades: criticar o Concílio Vaticano II e defender a Missa de sempre com exclusividade e, portanto, recusando os erros da Nova Missa de Paulo VI.

Agora só nos resta rezar pelo IBP, para que seja fiel aos objetivos que lhe foram incumbidos pelo Vaticano: criticar o Concílio Vaticano II e rezar exclusivamente a Missa de sempre.

Todas as citações acima são do sr. Alberto Zucchi, e foram publicadas hoje no site da MONTFORT. Três vezes ele repetiu que os objetivos do IBP são (i) criticar o Vaticano II e (ii) recusar a “Missa Nova”. É passada, muito claramente, a idéia de que a razão de ser do IBP são estes dois objetivos, e que este é o “carisma” do instituto, é a nota essencial que faz com que ele seja o que é. Fica a impressão de que o IBP existe única e exclusivamente para criticar o Vaticano II e rejeitar a Missa Nova.

Pois bem; tal informação não existe no site do vaticano, não existe no Decreto de Ereção do IBP, não existe em lugar nenhum! Peço encarecidamente, a quem informar possa [óbvio, por meio de fontes oficiais] quanto segue, que se digne fazê-lo:

Primum: se o reconhecimento do rito próprio do IBP como sendo o Rito Romano em sua forma tradicional implica em um direito ou dever de se rejeitar por princípio o Novus Ordo Missae como herético, ilícito, inválido, mau em si, impiedoso, que contém erros, ou coisa parecida;

Secundum: se a tal “crítica construtiva ao Vaticano II” inclui o direito ou dever de afirmar que há heresias nos documentos conciliares tal e qual foram aprovados;

Tertium: se estas são as únicas coisas para as quais foi erigido o IBP.

Já basta de tanta confusão.

A propósito, se alguém tiver acesso aos Estatutos do IBP (em qualquer idioma – a gente dá um jeito de traduzir), seria excelente e encerraria de vez esta confusão toda.

Profanação na internet

Caríssimos,

Um doente pôs na internet profanações por ele feitas (supostamente) em uma Hóstia Consagrada. No fundo, recuso-me a acreditar e acho que isso é teatro; mas, ainda que o seja, as palavras e as atitudes do delinqüente são revoltantes. Minha alma está numa tristeza profunda. Rezemos em desagravo, e soframos junto com Nosso Senhor.

Oração reparadora ao Santíssimo Sacramento

Divino Salvador Jesus, dignai-Vos baixar um olhar de misericórdia sobre Vossos filhos que, reunidos em um mesmo pensamento de fé, reparação e amor, vêm chorar a Vossos pés suas infidelidades e a de seus irmãos, os pobres pecadores. Possamos nós, pelas promessas unânimes e solenes que vamos fazer, tocar o Vosso divino coração e Dele alcançar misericórdia para o mundo infeliz e criminoso e para todos aqueles que não têm a felicidade de Vos amar!
Daqui por diante, sim, todos nós Vô-Lo prometemos:

Do esquecimento e da ingratidão dos homens, Nós Vos consolaremos Senhor! (Repetir após cada verso).
Do abandono em que sois deixado no santo tabernáculo, …
Dos crimes dos pecadores, …
Do ódio dos ímpios,…
Das blasfêmias que se proferem contra Vós, …
Das injúrias feitas à Vossa divindade, …
Dos sacrilégios com que se profana o Vosso Sacramento do amor, …
Das imodéstias e irreverências cometidas em Vossa presença adorável, …
Da tibieza do maior número dos Vossos filhos, …
Do desprezo que se faz a Vossos convites cheios de amor, …
Das infidelidades daqueles que se dizem Vossos amigos, …
Do abuso das Vossas graças, …
Das nossas próprias infidelidades, …
Da incompreensível dureza do nosso coração, …
Da nossa longa demora em Vos amar, …
Da nossa frouxidão em Vosso santo serviço, …
Da amarga tristeza em que sois abismado pela perda das almas, …
Do Vosso longo bater às portas do nosso coração, …
Das amargas repulsas de que sois saciado, …
Dos Vossos suspiros de amor, …
Das Vossas lágrimas de amor, …
Do Vosso cativeiro de amor, …
Do Vosso martírio de amor, …

Amen.

* * *

Anexo: recebido por email

Notícias de um fato ocorrido nos EUA. Professor da Universidade de Minessota Morris, declaradamente “ateu militante”, roubou uma hóstia consagrada e a profanou violentamente, postando fotos em seu site, e ainda pedindo que outras pessoas roubem e enviem a ele mais hóstias consagradas para ele profanar e postar na internet fotos do ato (infelizmente tendo recebido respostas de apoio), isto junto de ofensas e ataques. Isso como reação à ação da comunidade católica local a um estudante que sequestrou a Sagrada Eucaristia e a manteve por muito tempo com ele, até que, por pressão de outros estudantes e da comunidade a devolveu à Igreja. A Universidade de Minessota demitiu o professor, mas infelizmente ele continua com suas ambições. No último dia 30 o clero americano fez um dia de reparação pelas profanações.

* * *

Anexo: [tradução (bastante…) livre deste texto]

Blasfêmia na internet

Como se nós precisássemos de mais evidências da crescente rejeição a Deus existente no mundo moderno, em julho, um professor universitário de Minnesota, Paul Myers, fez uma promessa pública de profanar a Eucaristia, com o intuito de “defender” as suas doentes crenças atéias. Aparentemente, agora ele cometeu a sua façanha blasfema, com a ajuda de alguém que o enviou uma hóstia roubada de uma Missa em Londres. Esta pessoa publicou na internet um vídeo do roubo, mostrando como a arrogância de um resultou no sacrilégio do outro. Infelizmente, na era da internet, é provável que este tipo de crime contra Nosso Senhor gere ainda mais profanações. Nunca na história do mundo houve uma campanha tão profunda e ampla de blasfêmias contra Jesus, e somente há uma única palavra que pode descrevê-la: satânica.

Prof. Myers afirma ser um ateu militante; eu somente espero, por amor à alma dele, que ele esteja em Ignorância Invencível sobre as terríveis consequências da sua “fé”. Em nossa sociedade, a Primeira Emenda [n.t. da Constituição Americana] permite-lhe praticar qualquer religião, inclusive o ateísmo, que é um sistema de crenças que geralmente agrada a pessoas de mentes estreitas como professores universitários liberais, editores de jornais e astros de Hollywood. Até o presente momento, entretanto, ele não está autorizado a profanar maldosamente as crenças e os Sacramentos dos outros! Seu ato de sacrilégio deve ser encarado como uma odiosa ofensa contra todos e cada um de nós que acreditamos em Deus.

Myers afirma ter deliberadamente profanado a Santíssima Eucaristia no mês passado. Estas foram as palavras que este professor dos infernos publicou em seu blog explicando o ato satânico: “Eu pensei em uma coisa simples e rápida para fazer; furei-a [a Hóstia] com um prego enferrujado (eu espero que as vacinas anti-tetânicas de Jesus estejam em dia). E então eu simplesmente joguei-a no lixo, junto com os clássicos itens decoraticos de latas de lixo de todos os lugares do mundo, como sobras de café e uma casca de banana. Minhas desculpas àqueles que esperavam por mais, mas o pior que eu pude fazer foi mostrar o meu indiferente desprezo”.

Neste que foi, aparentemente, o cumprimento de sua promessa de profanar a Hóstia, ele convidou outras pessoas a se juntarem a ele em sua conspiração contra Nosso Senhor: “Pode algum de vocês aí fora enviar-me alguns destes biscoitos consagrados? É-me impossível pegá-los pessoalmente – as igrejas próximas a mim têm fogueiras preparadas para mim, eu tenho certeza – mas se algum de vocês estivesse disposto a fazer o que for preciso para me conseguir alguns, ou mesmo um só, e enviá-lo para mim, eu vou mostrá-lo o sacrilégio, satisfeito e com muita festa. Eu não serei tentado a mantê-lo como refém…, mas ao invés disso eu o tratarei com profundo desrespeito e abusarei atrozmente o biscoito, e tudo será fotografado e mostrado aqui na web. Eu o farei alegremente e com risadas no meu coração”. Nada poderia agradar mais ao Demônio.

Infelizmente, a pessoa que presumidamente roubou a hóstia do Oratório de Londres pôs um vídeo na internet, no qual fotografava as Espécies Sagradas ao lado de uma camisinha, culpando o Vaticano pela pandemia de AIDS na Africa. (Eu mencionei que estas pessoas eram “estreitas de mente”, não mencionei?)

Nossa resposta a estes crimes: renovar nossas promessas de Batismo. Nós, vigorosamente, “rejeitamos a Satanás, com todas as suas pombas e suas obras”, e nós rejeitamos estes atos de sacrilégio contra Nosso Sagrado Senhor. E quanto ao professor Myers e seus cúmplices na blasfêmia – que sejam advertidos de que, a maldade que eles fazem agora, os seus espíritos imundos terão uma eternidade para receber. Nós, como homens e mulheres de fé, vamos simplesmente rezar por suas miseráveis almas, a fim de que sejam salvas deste mal que os aprisiona.

Os oratorianos de Londres emitiram uma chamada geral às pessoas de Fé esta semana, a fim de que façam reparação por “todos os ultrajes contra o Santíssimo Sacramento em todo o mundo”. Dada a nova abundância de blasfêmias na internet estes dias, nós temos muito trabalho para fazer.

Sinceramente vosso em Cristo,

Rev. Thomas J. Euteneuer,
President, Human Life International

Campanha por conversões!

É, sem dúvida, necessário que os fiéis católicos na empresa ecuménica se preocupem com os irmãos separados, rezando por eles, comunicando com eles sobre assuntos da Igreja, dando os primeiros passos em direcção a eles.
[Unitatis Redintegratio 4]

Aderindo à excelente campanha lançada pelo BLOGOCOP: pela conversão de uma alma! O objetivo é, a cada mês, rezar pelo menos um terço pela conversão de uma determinada pessoa. Afinal, “o santo propósito de reconciliar todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo excede as forças e a capacidade humana” (UR 24) e, assim, fiamo-nos na poderosa intercessão d’Aquela que é dispensadora das graças de Cristo, de quem jamais se ouviu dizer que tivesse desamparado a quem reclamasse o Seu socorro.

E a pessoa que vai receber as nossas orações durante este mês de agosto é:

ANA PAULA VALADÃO


[Foto: Blog da Ana]

Por quê?  Vejam no blog do Wagner. E, a propósito, a foto acima é na Terra Santa, no Getsêmani, no lugar onde hoje existe a Basílica da Agonia. Bom sinal…

A fim de que a cantora protestante possa, o quanto antes, fazer parte da verdadeira Igreja de Cristo, Domine, Te rogamus, audi nos!

São Thomas More e os anglicanos


[Foto: apostles.com]

Nascido em Londres em 1477[78] e martirizado na mesma cidade em 6 de julho de 1535 (ver biografia), São Thomas More é um belíssimo exemplo de resistência católica ao cisma anglicano. Após ter perdido o beneplácito da coroa real inglesa por não aceitar o Ato de Supremacia que declarava ser Henrique VIII cabeça da Igreja da Inglaterra, Thomas More foi condenado à morte e decapitado; sua cabeça ficou exposta durante um mês na ponte de Londres. Em carta escrita na véspera do seu martírio, o santo dizia à sua filha:

Farewell, my dear child, and pray for me, and I shall for you and all your friends, that we may merrily meet in heaven.
[Adeus, minha querida criança, e reze por mim; e eu irei [rezar] por você e [por] todos os seus amigos, que nós poderemos nos encontrar alegremente no Céu].

Morria o homem que não vendeu a sua alma “antes das nove da manhã”, i.e., antes do horário previsto da execução. Suas últimas palavras foram:

I die the King’s good servant and God’s first.
[Morro como bom servo do Rei, mas de Deus primeiro]

Com tudo isso, entretanto, seu nome consta no calendário anglicano de santos (!!), e há uma diocese (anglicana) Thomas More no sul do Brasil. Nestes dias em que a Santa Sé estuda um pedido de “unidade corporativa” de um grupo de anglicanos, que São Thomas More, assassinado por não aceitar que os seus conterrâneos rompessem com o Vigário de Cristo no seu tempo, possa conseguir do Todo-Poderoso que – grandiosa graça! – os descendentes dos rebeldes reformistas do século XVI retornem alegremente à Igreja de Cristo no século XXI.

Sanctus Thomas Morus,
ora pro nobis!

Enquanto o mundo passa

Qual é a principal diferença entre um anel de ouro verdadeiro e um anel de ouro falsificado? Não é somente o preço, óbvio, até porque os dois podem custar a mesma coisa – se o vendedor estiver mal intencionado e não disser que a mercadoria negociada é uma imitação. Também não é “a beleza” do ouro, porque para a maioria das pessoas não é evidente a diferença do metal verdadeiro para o “metal falsificado”. A principal diferença entre o anel de ouro e o anel falsificado é que o anel de ouro dura, e o falsificado, estraga, e todo mundo sabe disso, e por isso dá valor ao ouro verdadeiro.

“Criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós” – escreveu Santo Agostinho em suas “Confissões”. E “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus” (Gn 1, 27). Tem, portanto, o homem uma certa sede de infinito, um fascínio pelo transcendente, um desejo de eternidade inscrito em sua própria natureza. É natural que o homem fuja de horror diante da morte, diante da possibilidade de deixar de existir; é-lhe um absurdo incompreensível. Como a fome física exige a existência da comida e a sede física, a existência da água, assim a fome e a sede de eternidade que o homem possui exigem a Vida que não passa. Não a encontrando no mundo visível, segue contudo buscando-a mesmo assim.

Na verdade, o homem carrega em si uma eterna insatisfação com a sua própria contingência; sabe que passa, mas não quer passar. Quer permanecer. Constrói monumentos portentosos, que possam dar testemunho dele ao porvir quando ele não for mais do que pó na terra. Busca o Elixir da Eterna Juventude, ou sob a versão “mística” prometida pelos alquimistas, ou sob a roupagem “racionalista” dos progressos científicos atuais. Cria fábulas e inveja secretamente o Peter Pan, por não ter uma Terra do Nunca onde consiga parar a inexorável marcha do envelhecimento que jamais se detém. E admira as coisas que permanecem ao longo do tempo, como os anéis de ouro.

O homem sente-se atraído pelas coisas que não passam – verdade universalmente atestada pelo comportamento humano ao longo de toda a História! Quereis, portanto, encantar uma alma? Mostrai-lhe o diamante indestrutível da Doutrina Católica, o esplendor imperecível da Verdade, o eterno brilho dourado da Fé! Oferecei-lhe um bem que não se acaba, que as traças e a ferrugem não consomem e os ladrões não roubam (cf. Mt 6, 20), e a vereis vender tudo o que possui para o adquirir (cf. Mt 13, 44).

Estranhos tempos estes em que vivemos, em que as pessoas julgam poder convencer as almas oferecendo-lhes utensílios descartáveis ao invés de diamantes eternos. Sob a desculpa de que são “úteis” e “modernas”, as idéias mais estapafúrdias são espalhadas por aí afora no lugar da “antiquada” Sã Doutrina de sempre. Para que serve esse negócio de Igreja? Digamos que as religiões são como “rios que desaguam todas num mesmo mar” – é bonito, é poético, é agradável para todos. Para que serve esse negócio de Sacrifício de Cristo? Digamos que basta às pessoas serem boas, porque, afinal de contas, Deus é Pai – não é mais lógico? Para quê tantas imposições morais? Digamos, enfim, que o homem é livre, e que o importante é o amor, pois foi Santo Agostinho quem disse “ama e faz o que queres”. E os exemplos podem multiplicar-se ao infinito. Sempre modernos, sempre descartáveis. Completamente incapazes de prender a atenção de uma alma que foi criada para os altares.

O que explica o “culto ao efêmero”, esta revolta metafísica que faz com que o homem procure, de toda maneira, sufocar as suas aspirações naturais e colocar, no seu lugar, um artificial desejo por aquilo que lhes é oposto? Acredito que foi a decepção. Após infinitas tentativas frustradas – após o tempo ter destruído até as Maravilhas do Mundo, após a alquimia ter fracassado vergonhosamente na busca da pedra filosofal, após as incuráveis doenças modernas, após as crianças terem crescido e deixado de acreditar em Peter Pan – o homem deve ter desistido de procurar aquilo pelo qual o seu coração anseia. Esqueceu-se ele de que o ouro não enferruja. Nunca subestimemos a capacidade humana de errar; quando pensávamos que os erros iriam conduzir, por via adversa, ao único acerto possível, o homem nos surpreende com mais essa: após enveredar por tantos caminhos errados que praticamente só restava o caminho correto a ser explorado, no liminar de segui-lo, pára o homem e afirma categoricamente não haver caminhos. Triste.

Pensava em tudo isso quando li uma reportagem da FOLHA segundo a qual alguns “católicos” pediram ao Santo Padre que libere os contraceptivos. A despeito de se dizerem católicos, é claro que eles não o são: os católicos se preocupam com o Eterno, não com o jornal do dia que amanhã vai estar embrulhando peixe. Os católicos julgam o mundo de acordo com as palavras do Sucessor de Pedro – estes, querem julgar o Papa de acordo com o que diz a OMS.

Hoje, a Humanae Vitae completa 40 anos. Os modernos certamente dirão que ela está velha e precisa ser substituída; os católicos, todavia, sabem que as palavras do Papa não são descartáveis. Os inimigos de Deus – afinal, os que odeiam as coisas imutáveis certamente odeiam Deus, o Ser Imutável por antonomásia – querem que o Papa “mude” a Doutrina da Igreja; as ovelhas do aprisco do Senhor sabem que a segurança só se consegue quando se constrói sobre a rocha, inabalável, inalterável. A loucura moderna pretende transformar a ferrugem em valor; não nos deixemos enganar. “Só tem valor o que muda e evolui”, diz o homem moderno; todo se pasa, Dios no Se muda, diz a santa do século XVI. Permaneçamos firmes, enquanto o mundo passa. Afinal, as coisas que permanecem são preferíveis às que se destroem; não nos esqueçamos de que o ouro não enferruja. E nem de que “[o] céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mt 24, 35).

A metade do argumento

Brincando com o google durante o meu horário de almoço, descobri, com surpresa, que um artigo de minha autoria (publicado primeiro aqui no BLOG e, depois, no Veritatis Splendor) fora atacado em um outro BLOG que parece ser dedicado à difamação do Veritatis. O post é do dia 30 de junho; como eu só o vi agora, somente agora vai a resposta.

Primeiro, o texto por mim publicado tem um escopo muito bem definido: contra-argumentar o artigo da MONTFORT sobre Hans Küng e o Vaticano II. Ele não é, e nem pretende ser, por evidentes limitações de espaço, a defesa completa do Concílio Vaticano II contra todas as acusações rad-trads dos últimos quarenta anos. Se, nele, só tem metade do argumento, é porque no artigo original comentado não tem argumento nenhum e qualquer “meio-argumento” basta para o refutar.

Segundo, a acusação do BLOG “Falsitatis Splendor” – de estar faltando a segunda parte do argumento – só procederia se o meu objetivo fosse refutar o Küng. Aí sim, de facto, seria necessário debruçar-me sobre os argumentos do teólogo herege (por mais herege que ele fosse) para fazer o serviço completo e mostrar como ele estava errado em cada um deles. Mas acontece que – como eu disse acima – não estou contra-argumentando Hans Küng, e sim Orlando Fedeli.

Afinal de contas, o que tem no texto da Montfort? Uma acusação – a de que o Vaticano II “conseguiu introduzir e integrar na catolicidade o paradigma da reforma protestante e o paradigma iluminista da modernidade” – e um argumento – Hans Küng disse assim. Oras, qualquer um há de convir que dizer “Küng disse” não é um argumento! Gratis affirmatur, gratis negatur: assim, a simples frase “o Vaticano II não introduziu o paradigma da reforma protestante na catolicidade” já refutaria o palavrório da Montfort no artigo em litígio. Não prova nada, mas a frase de Küng também não prova e, portanto, ficamos empatados.

Terceiro, o que eu escrevi não se resume a negar de maneira gratuita o que disse o Küng e o Fedeli toma como dogma (embora eu pudesse ter feito isso). Fui além disso e propus uma comparação entre o que disseram e dizem dois teólogos participantes do Vaticano II: um deles diz que o Concílio foi herético, o outro diz que foi ortodoxo. A análise de um deles a Montfort subscreve, a do outro eu subscrevo. Um deles é Hans Küng, o outro é Joseph Ratzinger. Um deles é herege, o outro é Papa.

O Papa pensa diferente de Küng, como foi citado, e isso muda a história: afinal, a uma opinião, foi contraposta outra, que – por acaso – é a do Vigário de Cristo. Alguém poderia redargüir que o Papa não é infalível quando emite opiniões sobre o Vaticano II, e isto é verdade, mas tampouco Hans Küng o é. Outrossim, é óbvio para qualquer pessoa que não tenha perdido o sentido de catolicidade que as opiniões do Papa são mais garantidas do que as opiniões dos hereges.

Quarto, há equívocos no texto do BLOG “Falsitatis Splendor”:

Mas precisamos mostrar que a letra é boa, enquanto que a leitura modernista é falsa.

Não, não precisamos, porque o ônus da prova cabe a quem acusa. Faltando – como falta no texto da Montfort – quaisquer argumentos contra a letra do Vaticano II, é evidente que não ficamos nós obrigados a contra-argumentar. Além do quê, há uma enormidade de textos escritos em português mostrando que é boa a letra do Vaticano II (por exemplo, veja-se este dossiê), que eu não preciso ficar reproduzindo aqui no BLOG o tempo inteiro sem que haja argumentos da parte contrária!

Afinal, graças à letra ambígua que surge esse espírito modernista.

Errado, o Modernismo existe desde antes do Vaticano II; afinal, foi condenado por São Pio X no início do século XX. Portanto, a causa do espírito modernista não é a “letra ambígua”.

Resumindo, o cerne da questão é o seguinte: Hans Küng dizer alguma coisa sobre o Vaticano II é, antes, motivo de cautela do que de adesão entusiasmada. Se, além disso, o que ele diz contraria frontalmente o que diz o Papa, então a cautela deveria ceder lugar ao repúdio direto. O fato de alguns darem mais ouvidos aos hereges do que ao Papa é lamentável e preocupante. Quem tem olhos, que veja.

Comentando o adeus do Arcebispo – 10

10 – E agora, dom José? & À espera da entrevista que não houve

Por fim, chegamos à última página do especial do JC. Uma grande foto de mais de meia folha do rosto de Dom José, mitrado, entre de perfil e de costas. Ele não olha para a câmera. A mensagem implícita – já devidamente explicitada ao longo das páginas anteriores – é clara: o Arcebispo nem sequer olha para o povo. Não se importa com ele. É-lhe indiferente. Dá-lhe as costas. O título, em letras garrafais, parafraseando o poema de Drummond, é a coroação apoteótica da imagem de Dom José pintada pelo jornal: um fracassado, como o José do poeta.

O jornal já não diz mais quase nada; apenas regozija-se com a “vitória” sobre o inimigo. A enxurrada difamatória varreu do senso crítico do leitor qualquer possibilidade de não ter ojeriza por esta figura que personifica o atraso da Arquidiocese. O trabalho sujo foi feito, e tudo está consumado. Há festa na roda dos escarnecedores.

É, todavia, muito fácil ganhar a batalha quando se está lutando sozinho contra um boneco de palha pré-fabricado. No texto seguinte, o jornal vai “se defender” dizendo que Dom José não quis dar entrevistas; mas é claro que não. Qual pessoa iria, em seu juízo perfeito, perder tempo com palavras que seriam distorcidas ou, na melhor das hipóteses, sufocadas pela avalanche de ataques contrários? Foi mostrado aqui, neste BLOG, qual a linha do Jornal do Commercio e quais os pontos abordados pelo seu caderno especial. Com qual propósito o Arcebispo iria dar entrevistas? Diante de Herodes, Jesus também se calou – Iesus autem tacebat. Diante da intimação do Governo para que se defendesse, Dom Vital fez o mesmo. Diante do Jornal do Commercio, então, que é muitíssimo mais irrelevante do que o Governo Imperial ou do que o Rei Herodes, por que deveria um Sucessor dos Apóstolos falar?

Uma última alfinetada irônica – dom José garante ser um homem de diálogo – e pronto: agem os responsáveis pelo jornal como se tivessem cumprido candidamente a sua missão jornalística. Todavia, como foi mostrado aqui nos últimos quinze dias, a missão do JC é deformativa, e não informativa. Calou-se Dom José, e o Jornal do Commercio, na ânsia de sujar a imagem do Arcebispo, resfolegou-se na lama, e saiu sujo. Sujo pela gritante parcialidade com a qual redigiu o seu caderno especial. Sujo com a falta de honestidade na exposição dos fatos. Sujo pelas insinuações ofensivas feitas ao longo das oito páginas. Sujo pela falta de profissionalismo dos seus jornalistas, que deveriam informar, e não apresentar um espantalho aos seus leitores como se fosse o responsável pela Arquidiocese de Olinda e Recife nas últimas duas décadas. Sujo pelo vergonhoso espetáculo que representou.

Dom José não vai ficar em Recife, é a informação passada pelo Jornal do Commercio. Ao menos, reconhece o jornal que a sua partida não tem ainda data definida:

Está nas mãos do papa Bento XVI decidir quando exatamente dom José deve arrumar as malas. (…) Poderá demorar meses e até anos.

A informação está corretíssima. Logo depois, o jornal tenta polarizar a discussão sobre o “perfil” do sucessor de Dom José (provavelmente, quem escreveu esta página não leu o artigo do prof. Delgado na página anterior). Falando em linha dura, em perfil mais moderado e em Igreja libertária e mais progressista, o jornal deixa clara a sua posição: contra Dom José, e contra qualquer bispo que seja “da mesma linha” dele, ou seja, contra qualquer bispo católico que o seja de fato. O texto termina (de novo…) com a fala de uma fulana qualquer do “Igreja Nova”, que expressa em poucas e elegantes palavras a sua apostasia:

Não estamos procurando alguém para seguir, mas alguém que siga com a gente[.]

Mas, no final, nada disso tem relevância, porque a nomeação dos bispos para as dioceses é uma prerrogativa da Igreja de Roma, e tentativas de se fazer “lobby” contra ou a favor um ou outro “candidato” é extrapolação de competência. Nem mesmo os fiéis católicos podem influenciar na escolha dos seus bispos – quanto mais aqueles que, se são católicos, não são fiéis e, se são fiéis, não são católicos! A Igreja não é uma democracia; esperemos o Sucessor de Pedro volver os olhos para o nordeste brasileiro e confiar este rebanho a um outro Arcebispo. Quem quer que seja ele, será o Bispo legítimo, cabeça desta Igreja Particular, a quem os fiéis católicos estarão – sem dúvida alguma – unidos, pois sabem que, separados dele, não podem pretender estar em comunhão com a Igreja de Cristo, que têm como Mãe, e fora da qual não se podem salvar.

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Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O ADEUS DO ARCEBISPO
E agora, dom José?
Publicado em 04.07.2008

No dia em que fez 75 anos, data-limite para o cargo, o arcebispo garantiu que deixará o Recife para garantir liberdade ao sucessor

[A ]sombra do arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, acompanha dom José Cardoso até na hora de traçar os seus planos para o futuro. E, por mais que tenha tentado fugir das comparações, quem resgata a lembrança do antecessor é o próprio dom José. “Posso garantir uma coisa: quando deixar o cargo, não vou permanecer no Recife. Acho que não convém. O meu sucessor deve ter liberdade de tomar as diretrizes como ele quiser. Eu passei por essa experiência. Você assume uma arquidiocese com plenos poderes e o seu antecessor está presente. Isso não é bom.” Uma crítica clara a dom Hélder. Mesmo na despedida, dom José olha para a frente, com os pés no passado.O arcebispo nunca aceitou o fato de dom Hélder ter continuado na arquidiocese, após a sua substituição, em abril de 1985. Ele garante que tomará um rumo diferente. “Vou me esconder num convento carmelita. Procurar uma residência e continuar servindo a Igreja. Mas será fora do território da arquidiocese.” No auge da crise com o rebanho, o incômodo com a presença de dom Hélder era tanto que dom José chegou a mandar um emissário falar com o arcebispo emérito para cobrar o seu silêncio. Coube ao então bispo auxiliar dom João Evangelista Martins Terra dar o recado.

Que dom José vai sair, isso é fato. Está determinado nas leis da Igreja, as mesmas que ele segue com devoção e fidelidade. Agora, quando isso vai acontecer, só o Vaticano sabe. A carta de renúncia, escrita em 15 minutos, segundo contou o arcebispo, foi enviada para a Nunciatura Apostólica, em Brasília, na última segunda-feira, data em que ele completou a idade-limite para continuar no cargo. Está nas mãos do papa Bento XVI decidir quando exatamente dom José deve arrumar as malas. Mesmo que a renúncia seja aceita, padres e leigos acreditam que a saída não será imediata. Poderá demorar meses e até anos.

A expectativa agora é em torno do sucessor. A questão central não é tanto o nome, mas o perfil de arcebispo que o Vaticano escolherá para substituir dom José. Pelos ventos conservadores que sopram em Roma, muitos acreditam que o próximo chefe da Igreja Católica em Pernambuco será da mesma linha dura. É quando o nome do arcebispo da Arquidiocese da Paraíba, dom Aldo Pagotto, aparece. Ele foi vigário-geral da Arquidiocese de Olinda e Recife, em 1997, e é próximo a dom José. Com carreira e personalidade semelhantes à do atual arcebispo, o atual bispo de Garanhuns, dom Fernando Guimarães, também aparece na lista de apostas.

Num perfil mais moderado, padres e leigos lembram o nome do recém-nomeado arcebispo de Vitória da Conquista (BA), dom Luiz Gonzaga Silva Pepeu. Mas o sonho dos seguidores de uma Igreja libertária e mais progressista é o retorno do bispo de Sobral (CE), dom Fernando Saburido, que já atuou como bispo auxiliar de dom José Cardoso. “O que nós queremos é um bispo mais pastor e menos administrador. Que deixe a Igreja caminhar. Não estamos procurando alguém para seguir, mas alguém que siga com a gente”, afirma a bióloga Bete Barbosa, integrante do grupo de leigos Igreja Nova. Ela cita uma frase de dom Hélder para mostrar que a esperança do rebanho está renovada: “Quanto mais negra é a noite, mais carrega em si a madrugada”.

Anexo 2 – .O adeus do arcebispo

O ADEUS DO ARCEBISPO
À espera da entrevista que não houve
Publicado em 04.07.2008

Em um ponto os críticos e defensores de dom José parecem concordar: o arcebispo de Olinda e Recife é um homem coerente. Nunca voltou atrás numa decisão, por mais polêmica e desgaste que ela tenha causado. Pelo menos, não publicamente. E no trato com a imprensa não foi diferente. Dom José sempre foi avesso a repórteres e alimentou a visão de que os jornais o perseguiam. Em todos os anos de arcebispado, contam-se nos dedos da mão as entrevistas exclusivas concedidas por ele, para tratar de questões pertinentes ou não à Igreja. A postura foi a mesma desta vez. Procurado para fazer um balanço dos seus 23 anos à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife, a resposta, repassada por sua secretária, foi curta e direta: “Dom José não dá entrevistas ao Jornal do Commercio”.De pouco adiantou argumentar, com seus assessores, que seria para um caderno especial, abordando diferentes questões da atual administração e que agora, no momento de sua saída, seria importante ele analisar tudo o que havia ocorrido em seu arcebispado. “Ele sabe disso, mas não vai falar”, encerrou a conversa a secretária. Em outras situações, a arquidiocese tinha a preocupação de indicar alguém para falar em nome do arcebispo. Desta vez, nem isso.

Mas dom José garante ser um homem de diálogo. Em novembro do ano passado, ele concedeu uma entrevista à jornalista Graça Araújo, na Rádio Jornal, e respondeu à primeira pergunta defendendo essa idéia. “Eu acredito no diálogo. Tem uma frase muito famosa de um escritor católico francês que diz que o diálogo é o encontro de dois amigos da verdade eterna. Eu gosto muito dessa definição. Quando a gente dialoga com uma pessoa, pressupõe que ela é também um amigo da verdade eterna, a verdade de nosso senhor Jesus Cristo.”

Numa última tentativa de entrevistar o arcebispo, a reportagem esteve na celebração dos seus 75 anos, realizada segunda-feira, na Cúria Metropolitana. Após a missa, ele conversou com a imprensa. Falou da sua biografia e das pessoas importantes na sua vida religiosa. Mas, na primeira pergunta sobre o modelo de Igreja que deixava na arquidiocese, a entrevista foi encerrada pelos seus assessores. “Dom José, o povo está lhe esperando.” E o arcebispo foi cortar o bolo do seu aniversário.

Comentando o adeus do Arcebispo – 09

9 – Um difícil arcebispado

Este é o único artigo publicado pelo Jornal do Commercio no seu especial que se presta a transmitir uma imagem positiva do Arcebispo de Olinda e Recife. Exceção honrosa, refulge o texto no meio dos ataques desferidos pelo jornal como um lírio entre os espinhos, como um oásis no deserto; parabéns ao prof. José Luiz Delgado, que já tem louváveis precedentes no mesmo Jornal do Commercio (tentem buscar no site do jc por “josé luiz delgado”).

Para que se tenha uma idéia mais clara da desproporção com a qual o jornal distingue entre os que são favoráveis ao Arcebispo e os que lhe são contrários, a foto abaixo foi retirada da versão digital do Jornal do Commercio e mostra duas das oito páginas (ou sete, se desconsiderarmos a capa) que perfazem o especial “O adeus do arcebispo”. O texto do prof. Delgado está à direita, circundado em vermelho. E é, como se pode verificar pelo que foi mostrado neste BLOG ao longo das últimas duas semanas, o único texto em todas as páginas do caderno do JC que merecia uma publicação:

Desta vez, é desnecessário fazer comentários – leiam o artigo abaixo. Deixo apenas uma frase do texto, que brilha pela sabedoria e catolicidade, e que é certamente uma paráfrase de algo que falou o próprio Dom José Cardoso na sua missa de aniversário do dia 30 de junho, à qual o articulista provavelmente esteve, como eu, presente:

Porque o importante não são os bispos, que passam, mas a Igreja, que, fundada sobre a pedra, não passa.

Boa leitura!

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Anexo – .O adeus do arcebispo

ARTIGO
Um difícil arcebispado
Publicado em 04.07.2008

[S]empre pensei que uma das mais difíceis tarefas na Igreja seria suceder a dom Hélder, indiscutivelmente um dos grandes nomes da Igreja universal. Coube a dom Cardoso a árdua missão, em que qualquer um experimentaria especiais aflições. Acresce que dom Cardoso veio numa outra hora da história do catolicismo, não mais aquela fase exuberante e criativa do Concílio, mas agora o tempo de repensar as mudanças, reponderar o que estava sendo feito.Divisões entre os católicos é claro que sempre houve. Nos tempos de dom Hélder, inclusive, quando muitos havia descontentes com suas idéias e sua ação. A diferença está menos no fato da divisão do que na forma de reagir: enquanto os chamados conservadores, por mais que discordem da autoridade diocesana, contêm-se silenciosos e respeitosos, muitos dos autodenominados progressistas ousam fazer estardalhaços, agredir, injuriar, escandalizar.

O grande mérito do arcebispado de dom Cardoso, fidelíssimo seguidor das determinações da Igreja universal nesta nossa igreja particular, é a integral obediência a Roma. Quantas decisões não foram mais de Roma do que dele? Entre os vários fatores que se levantaram contra o arcebispo terá havido também uma oposição fundamental à Igreja como tal, a perseguição-geral do “mundo” (aquele mundo que é inimigo) à Igreja. No fundo, a contestação barulhenta é menos a ele do que a Roma. Não querendo se opor frontalmente ao papa, alguns se revoltam contra o representante do papa nesta nossa diocese.

Certa timidez pessoal, certa patente não-exuberância, podem ter agravado as incompreensões. As pessoas têm temperamentos diferentes e diferentes estilos e modo de ser. Nenhum papa – embora mantenha a mesma doutrina, a mesma fé – é igual a outro. Nenhum bispo, nenhum sacerdote, nenhum de nós. Dom Cardoso tem nítida personalidade: é essencialmente religioso, piedoso, com profunda consciência da própria responsabilidade, integralmente dedicado à Igreja. E há, ainda, a profunda diferença entre ser um simples padre e ser um bispo: o bispo é responsável por toda a comunidade, por todos os padres, é sacerdote, pastor e mestre. A ele cabe velar por todos os padres, como um pai faz com a própria família. E assim como o pai é obrigado, algumas vezes, a repreender e castigar o filho, do mesmo modo o bispo. Se não cumprisse essa tarefa elementar, seria um mau bispo. Creio que ao zelo que dom Cardoso tem no tocante a esse dever da missão episcopal é que se deve a pecha de “autoritário”. A mim ele não parece nem autoritário nem avesso ao diálogo.

Ao cabo, serenamente vistas as coisas, o episcopado de dom Cardoso, como todos os outros, é mais um passo importante na imensa peregrinação pela salvação das almas, que é a história da Igreja. Porque o importante não são os bispos, que passam, mas a Igreja, que, fundada sobre a pedra, não passa. A fidelidade que se requer é à Igreja, não a um bispo X ou Y. Não se pode, na Igreja católica, ser “helderista” ou “cardosista”. Parece que alguns se julgavam (e ainda se julgam) mais “helderianos” do que católicos. É uma brutal traição ao pensamento e à vida do próprio dom Hélder. Dom Hélder era o primeiro a condenar esse tipo de seguidor, ele que quis sempre ser apenas um jumentinho a serviço do Senhor, para levar o Cristo pelos caminhos do mundo. Dom Hélder era um sacerdote muito bem formado, formado à antiga. Imagino, por isso, que, nos começos do episcopado do seu sucessor, alguns “helderianos” tenham ido ao “Dom” para reclamar de atitudes e decisões de dom Cardoso e querer que aquele os liderasse numa contestação à autoridade diocesana. Com certeza, dom Hélder terá dissuadido esses pretensos insurretos recordando-lhes a necessidade de seguir a Igreja institucional, de aderir a ela, não promover divisões. Recusar a autoridade do sucessor, a autoridade legítima do bispo diocesano, é contrariar frontalmente a lição permanente do próprio dom Hélder.

» José Luiz Delgado é professor universitário

Mais uma mentira da mídia

Foi noticiado na segunda feira: Igreja filipina libera preservativos para portadores do HIV. A notícia foi recebida com incredulidade pelos católicos; o Marcio Antonio registrou no seu blog a impressão de desconfiança geral.

Foi noticiado na quarta feira: CBCP hasn’t ok’d condom use for HIV/AIDS patients [Conferência de Bispos Católicos das Filipinas não liberou o uso de preservativos para portadores do HIV]. O site é o órgão de notícias oficial da Conferência Filipina. No texto, destaco:

“Media misinterpret Church’s teachings especially regarding contraceptives and abortion to suit their political and media agenda and sensationalize it accordingly to increase readership and viewers and attract advertisers,” Castro told CBCPNews.
[A mídia distorce os ensinamentos da Igreja, especialmente os que se referem ao uso de contraceptivos e ao aborto, para os adequar à sua agenda política, provocar sensacionalismo e, por conseguinte, aumentar o número de leitores e atrair anunciantestradução livre minha]

Não tive notícias de nenhuma correção por parte da EFE (fonte original da informação falsa) nem encontrei nenhuma errata no site da FOLHA (disseminadora da desinformação nas terras tupiniquins). Vai ficar tudo por isso mesmo?