“Sua palavra revela uma sólida coerência” – Marcos Aguinis (judeu)

[O texto abaixo é do lanacion.com, e um amigo fez a gentileza de o traduzir. É da autoria de um judeu e foi publicado no dia seguinte ao da eleição do Papa Francisco. Mostra a forma como os não-católicos vêem o Papa, e pode nos ajudar a entender os desafios que o Santo Padre precisará enfrentar para além das fronteiras da Igreja Católica; as palavras do judeu revelam as expectativas que os não-católicos têm para com o Vigário de Cristo. É um texto singelo e agradável que merece ser lido, mormente neste turbilhão de acusações contra o Papa – vindas de todos os lados! – que estamos atravessando. No mínimo, é uma insuspeita homenagem ao Card. Bergoglio; os que reclamavam de falta de virtudes humanas no Papa Francisco talvez mudem de idéia ao lerem estas elogiosas palavras dirigidas a ele por alguém que o conheceu sem comungar da sua Fé.]

Sua palavra revela uma sólida coerência

Por Marcos Aguinis (La Nacion)
http://groups.yahoo.com/group/aguinis/message/234
Tradução: Garcia Rothbard

Nós, que tivemos o privilégio de manter conversações profundas com monsenhor Jorge Bergoglio, podemos confiar que sua eleição foi uma ótima escolha. O mundo, a América Latina e a Igreja caminham por um corredor cheio de perigos. Fazem falta líderes que reúnam virtudes diferentes das que seduzem demagogicamente as massas. Em vez de gritos, o diálogo. Em vez da força, a carícia. Em vez do confronto, a aproximação. Em vez do fanatismo, a racionalidade.

Jorge Bergoglio tem exibido essas qualidades por sua longa e produtiva carreira. Mostrou ser valente sem agredir, ser perseverante sem obcecar-se. Sua formação jesuítica e sua mentalidade aberta fizeram dele um dos homens mais cultos e confiáveis da hierarquia católica argentina.

Ele não hesitou em se manifestar com clareza sobre temas perigosos. Sem cair em ofensas estéreis, ele tem atacado os que abusam de seus concidadãos. Sua palavra oral, gestual e escrita revela uma sólida coerência. É o melhor para estes tempos carregados de confusão e mentiras.

Este momento me recorda a eleição de João XXIII, a quem tive a honra de conhecer pessoalmente. Não parecia ter a elegância, a majestade nem a firmeza de seu predecessor, Pio XII. Mas alguns valorizavam os antecedentes que poucos conheciam, como por exemplo seu arriscado confronto com os nazistas enquanto foi núncio na Turquia.

Sua bonomia não antecipava a revolução que iria empreender, chamada Concílio Vaticano II. Durante seu breve reinado deu um impulso formidável à Igreja.

Jorge Bergoglio asume com o nome de Francisco. Suponho que seu coração vibra com a associação com Francisco de Assis, um homem de aparência e atitudes mansas, mas de caráter imbatível. Um homem que conhecia a pobreza e rejeitava as honrarias. Que se atrevia a enfrentar obstáculos.

Hoje em dia, a um papa o aguardam vários problemas, todos difíceis. Não dispõe de tempo para se dedicar a um por vez. Precisará de esforço e serenidade. De convicções firmes. Na Igreja se multiplicaram os atos de corrupção. Mas a vida inatacável que exibe este resplandecente papa nos faz intuir que será metódico em derrubar os obstáculos.

Têm uma virulência corrosiva os problemas econômicos, políticos e morais. Serão enfocados com atenção especial por alguém que não cessa de denunciá-los. Que conhece muito bem de que se trata, como já o deixou entrever em seus serenos e, ao mesmo tempo, vigorosos pronunciamentos. É possível que produza golpes inesperados. Na maior parte do mundo segue prevalecendo a pobreza, que é usada por líderes inescrupulosos para ganhar poder.

A pobreza pode ser diminuída, como mostram vários países. Mas pode aumentar ou se manter estável, como mostram outros países. Basta dar uma olhada a nosso continente para perceber que alguns de nossos vizinhos estão conseguindo diminuí-la, enquanto outros só a usam, anestesiando aos pobres com esmolas que se convertem em votos. Bergoglio denunciou isso em várias oportunidades. Sabe muito bem, por sua experiência argentina e latino-americana, que a pobreza aumenta com os autoritarismos. Não é por acaso que muitos políticos corruptos tenham se esquivado sistematicamente de seus sábios sermões.

Francisco é também, de agora em diante, um chefe de Estado. Em consequência, seu trabalho se estende ao campo da política internacional. Um papel extraordinário teve João Paulo II ao contribuir na queda do totalitarismo soviético. Também foi maravilhosa sua obra destinada a consolidar os ideais do pluralismo. Não resulta difícil observar que as qualidades de João XXIII e João Paulo II estão presentes no temperamento e na biografia de Jorge Bergoglio.

“10 fatos sobre o Papa Francisco”

Fonte: Canterbury Tales
Tradução: Deus lo Vult!

10 fatos sobre o nosso novo Santo Padre, o Papa Francisco. Jogada inesperada [major curveball]. Quem percebeu que isto poderia acontecer? Aqui estão dez curtos fatos sobre o Papa Francisco (Cardeal Jorge Bergoglio):

  1. O Papa Francisco, Jorge Bergoglio, nasceu em Buenos Aires, um dos cinco filhos de um trabalhador ferroviário e sua esposa.
  2. Ele é um Jesuíta. O primeiro Papa Jesuíta de todos os tempos.
  3. O Papa Francisco é conhecido por sua humildade, conservadorismo doutrinal, defesa da teologia moral da Igreja e compromisso com a justiça social.
  4. Ele tem sido um crítico da Teologia da Libertação.
  5. Ele é próximo do [Movimento] Comunhão e Libertação.
  6. Ele se opôs à legalização do casamento gay feita em 2010 pelo governo argentino. Na Argentina, foi acusado por anti-clericais de ser “medieval” (outro bom sinal).
  7. O Papa João Paulo II o criou cardeal em 2001.
  8. Ele colaborou com a Congregação para o Clero, Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, a Congregação para as Sociedades de Vida Apostólica, e a Comissão para a América Latina do [Pontifício] Conselho para a Família [? – Commission on Latin American and the Family Council].
  9. Ele foi simultaneamente nomeado Ordinário dos Católicos Orientais na Argentina, que perderam seu próprio prelado. Então ele pode, presumivelmente, celebrar a Divina Liturgia de São João Crisóstomo.
  10. O Papa Francisco escreveu apenas um livro [p.s.2.: segundo a Wikipedia, ele tem 16 obras publicadas (N.T.)], intitulado Sobre el cielo y la tierra [p.s.: escreveu também o Corrupción y Pecado (N.T.)]. Está disponível apenas para Kindle. Compre-o aqui e mostre o seu apoio.

“Trazer tantas almas para Deus quanto seja possível”: o ministério frutuoso de um pároco da França

Publico uma tradução ligeira dos trechos que mais me chamaram a atenção nesta reportagem do “Religión en Libertad” sobre o pároco de Marsella, o reverendíssimo pe. Michel Marie Zanotti Sorkine. O ministério sacerdotal deste pároco tem se mostrado profícuo de uma maneira extraordinária, revigorando uma paróquia que estava em vias de ser demolida e transformando-a no mais vicejante centro católico no meio de uma cidade dividida entre agnósticos e muçulmanos. Que o exemplo do pe. Michel possa inspirar os nossos sacerdotes e inspirar também a nós: que ele nos faça ver que o Evangelho sempre dá frutos, ainda que esteja confinado a um ambiente estéril e hostil, bastando para isso que conte com servos abertos à graça de Deus e empenhados honestamente em realizar a Sua vontade.

* * *

El nuevo cura de Ars de la Marsella agnóstica multiplica los fieles en un barrio islámico

“Trazer tantas almas para Deus quanto seja possível”. O padre Michel Marie Zanotti Sorkine levou esta frase muito a sério, e a transformou em seu principal objetivo como sacerdote.

Assim ele vem fazendo após transformar uma igreja que ia ser fechada e demolida na paróquia com mais vida de Marsella. Seu mérito é ainda maior quando [se vê que] o templo está localizado em um bairro com enorme presença de muçulmanos, em uma cidade onde menos de 1% da população é católica praticante.

Havia sido músico de sucesso

A chave para este sacerdote que anteriormente fora músico de sucesso em uma multidão de cabarets de Paris e Montecarlo é a “presença”, tornar Deus presente no mundo de hoje. As portas de sua igreja estão o dia inteiro abertas de par em par, e [ele] se veste de batina porque “todos, cristãos ou não, têm o direito de ver um sacerdote fora da igreja”.

De 50 fiéis por missa para 700

Seu balanço é assombroso. Quando chegou em 2004 à Paróquia de São Vincente de Paula do centro de Marsella, a igreja permanecia fechada durante a semana e a única missa dominical era celebrada na cripta, à qual acorriam 50 pessoas.

Como ele mesmo conta, a primeira coisa que fez foi abrir o templo todos os dias e celebrar no altar-mor. Agora a igreja permanece aberta quase todo dia, e faltam assentos extras para abrigar todos os fiéis. Mais de 700 todos os domingos, e ainda mais nas grandes solenidades. Quase 200 adultos se batizaram desde que ele chegou, 34 na última Páscoa. Converteu-se num fenômeno de massas não apenas em Marsella como em toda a França, com reportagens de todo o país atraídas pela quantidade de conversões.

O novo cura d’Ars na Marsella agnóstica

Uma das principais iniciativas do pe. Zanotti Sorkine para revitalizar a fé da paróquia e conseguir tamanha afluência de gente de todas as idades e condições sociais é a Confissão. Antes da abertura do templo, às oito da manhã, já há gente esperando na porta para poder receber este Sacramento ou para pedir conselhos a este sacerdote francês.

Tal como contam os seus fiéis, o pe. Michel Marie está boa parte do dia no confessionário, muitas vezes até depois das onze da noite.

[…]

O templo deve favorecer a ligação com Deus

Em uma entrevista de televisão afirmava estar convencido de que “se hoje em dia a igreja não está aberta, isto é porque nós, de certa maneira, não temos nada para propôr; [é como se disséssemos que] tudo o que oferecemos já se acabou. Enquanto que, neste caso, a igreja está aberta todos os dias, as pessoas vêm, quase nunca temos assaltos, há pessoas que rezam e eu lhe garanto que esta igreja tem se transformado num instrumento extraordinário que favorece o encontro da alma com Deus”.

Era a última oportunidade de salvar a paróquia

O bispo lhe mandou para esta paróquia como última oportunidade de salvá-la, e lho disse explicitamente quando lhe mandou que abrisse as portas. “Há cinco portas sempre abertas e, assim, todo mundo pode ver a beleza da casa de Deus”. 90.000 carros e milhares de viajantes e turistas deparam-se com a igreja aberta e com os sacerdotes à vista. Este é o seu método: a presença de Deus e de seu povo no mundo secularizado.

A importância da Liturgia e da limpeza

E aqui chega-se a outro ponto-chave para este sacerdote. Logo após a sua chegada e com a ajuda de um grupo de fiéis leigos, renovou a paróquia, limpou-a e a deixou resplandecente. Para ele este é outro motivo pelo qual as pessoas escolhem voltar à Igreja. “Como querem que se creia que Cristo vive em um lugar se ele todo não está impecável? É impossível”.

[…]

A liturgia se torna o ponto central de seu ministério e muita gente foi atraída a esta igreja por conta da riqueza da Eucaristia. “Esta é a beleza que conduz a Deus”, afirma.

As missas estão sempre repletas e, nelas, há procissões solenes, incenso, cantos bem preparados… Tudo feito em atenção ao detalhe. “Dou um trato especial à celebração da Missa para mostrar o significado do Sacrifício Eucarístico e a realidade da Presença [Real]”. “Não se concebe a vida espiritual sem a adoração do Santíssimo Sacramento e sem um ardente amor a Maria”, motivo pelos quais introduziu [na paróquia] a adoração e a recitação diária do terço, dirigida por estudantes e jovens.

Seus sermões são também muito esperados, e os seus fiéis até mesmo os acessam na internet. Neles [o padre] chama sempre à conversão para a salvação do homem. Em sua opinião, a falta desta mensagem na Igreja de hoje “é talvez uma das principais causas da indiferença religiosa que vivemos no mundo contemporâneo”. Antes de tudo, a clareza da mensagem evangélica. Por isso adverte contra a frase tão repetida de que “todos vamos ao Céu”. Esta é, para ele, “outra canção que nos pode enganar”, uma vez que todos precisamos lutar – começando pelo sacerdote – para chegar ao Paraíso.

O padre de batina

Se há algo que distingue este sacerdote em um bairro de maioria muçulmana é a sua batina, que sempre veste, e o rosário entre as mãos. Para ele é primordial que o padre possa ser distinguido entre a multidão. “Todos os homens, começando por aquele que cruza o umbral da igreja, têm o direito de reunir-se com um sacerdote. O serviço que oferecemos é tão essencial para a salvação que a nossa aparência deve fazer-se tangível e eficaz para permitir esta reunião”.

Deste modo, para o padre Michel o sacerdote é sacerdote 24 horas por dia. “O serviço deve ser permanente. O que você pensaria de um marido que, a caminho da oficina pela manhã, tirasse a sua aliança?”.

[…]

Por último, lembra um detalhe importante. A primeira coisa que os regimes comunistas faziam era eliminar o hábito eclesiástico, sabendo de sua importância para a comunicação da fé. “Isto merece a atenção da Igreja da França”, afirma.

Contudo, sua missão não se desenvolve somente no interior do templo. Ele é um personagem conhecido em todo o bairro, inclusive pelos muçulmanos. Toma o seu desjejum nos cafés do bairro, ali fala e se reúne com os fiéis e com gente não praticante. Ele o chama de sua pequena capela. Assim já conseguiu com que muitos vizinhos sejam agora [participantes] assíduos da paróquia, e tenham convertido esta igreja de São Vincente de Paula em uma paróquia totalmente ressuscitada.

Humor Conciliar

Publico uma tradução do “Humor Conciliar” que o Andrea Tornielli nos trouxe recentemente e um amigo me mostrou via Secretum Meum Mihi. As historietas fazem parte de um livro («Las burbujas del Concilio», 128 páginas, 12 euros) de 1966 que acabou de ganhar uma edição moderna, a ser vendida nas editoras (italianas, suponho) a partir do próximo dia 3 de outubro. Algumas das anedotas são demasiado mordazes, mas outras são muito boas. E todas são, no mínimo, curiosas.

À lista abaixo eu acrescento outra que um amigo nos contou por email (talvez esteja no livro, não sei), sobre o nome das duas lojas que vendiam lanches para os Padres Conciliares: o «Bar Judas» e o «Bar Abbas». Que ninguém diga que os católicos (nem mesmo a alta hierarquia católica!) não têm senso de humor.

* * *

Os primeiros efeitos da pílula

Em várias ocasiões, alguns jornais anunciaram novas nomeações cardinalícias por Paulo VI. E, a cada vez, as notícias se revelaram falsas previsões. «Por que o Papa não cria mais cardeais?», um bispo se perguntava. «Deve ter aprovado a pílula… e funcionou!», respondeu um perito.

Ecumenismo angélico

Um visitante chega ao Vaticano e pede uma audiência imediata com o Papa. O Guarda Suíço em serviço fica desconcertado: não é possível, tem que marcar um horário. O visitante insiste; o Guarda Suíço pergunta o seu nome e, depois, um Monsenhor o recebe. «Sou o Doutor Satanás», explica o visitante, «e preciso falar urgentemente com o Papa». O Doutor Satanás insiste tanto que o Monsenhor consegue, enfim, obter uma audiência extraordinária no mesmo dia, embora não sem [antes] ter verificado cuidadosamente a identidade do estranho visitante: chifres sob o chapéu, cauda ondulada, pé de bode… No dia seguinte, “L’Osservatore Romano” publica uma nota: «Sua Santidade recebeu em audiência privada o ilustre Doutor Satanás. O encontro durou cerca de 80 minutos e aconteceu em um ambiente cordial. O Santo Padre assegurou sua simpatia pelo líder dos anjos rebeldes».

Non decet

Alguns leigos participaram do famoso Esquema XIII, em particular na elaboração do capítulo sobre o Matrimônio. Entre eles havia uma mulher vinda do México (acompanhada pelo seu marido). Um dia, o cardeal irlandês Michael Browne interviu na comissão sobre o tema do «amor de concupiscência», afirmando que o esquema devia recordar este aspecto deplorável do amor humano, inclusive no âmbito do Matrimônio. De repente, a mulher o interrompeu dizendo: «Todos os bispos aqui presentes, espero, veneram a própria mãe e não se consideram frutos da concupiscência». O cardeal enrubesceu, mudou de assunto e ninguém voltou a falar sobre o tema.

Toaletes

Os banheiros do Concílio tinham duas indicações em italiano: «libre» e «ocupado». Um bispo propôs que fossem traduzidos para o latim, nestes termos: «sede vacante» e «feliciter regnante».

Mais atitudes e menos palavras.

O cardeal Suenens falava muito do diálogo no Concílio, mas (ao que parece) o praticava pouco em sua diocese. «É um especialista do monólogo no diálogo», diziam alguns dos sacerdotes da diocese de Malinas-Bruselas.

Onde está o pai?

Alguém abandona um recém-nascido nos jardins do Palácio do Santo Ofício. Dois seminaristas que passavam por lá o vêem e se perguntam quem serão seus pais: «será um bispo?», diz um. «Não, claro que não», responde o outro. «Por quê?». «Porque nunca se soube de nenhum bispo que tivesse feito algo significativo em nove meses. Talvez o Concílio?». «Impossível, o que sai dele nasce morto ou inválido. E se for de alguém do Santo Ofício?» «Nem brincando! Um filho é fruto do amor, e no Santo Ofício não há nenhum vestígio de amor».

Humor Pontifício

Ao final da Quarta Sessão, muitos Padres Conciliares criticaram duramente a prática das indulgências e chegaram até mesmo a pedir que fossem abolidas. O que dizia o Papa? Apenas se pode indicar que, ao receber os bispos latino-americanos pouco antes de terminar o Vaticano II, Paulo VI lhes dissera: «Dou-lhes minha bênção e as respectivas indulgências… porque ainda me é concedido dá-las».

A Trento

Os cardeais Ottaviani e Ruffini sobem num táxi e dizem ao motorista: «ao Concílio!». Depois começam a discutir questões teológicas. De repente, se dão conta de que o táxi saiu de Roma e se dirige ao norte. «Ei, taxista, onde nos está levando?». «Vocês me disseram: “ao Concílio!” e eu os estou levando a Trento. Creio que é o único destino possível para vocês…».

A hipocrisia da mídia americana: dois pesos e duas medidas do New York Times

[Tradução do texto do Bill Donohue cujo original pode ser encontrado aqui. É sobre a hipocrisia do The New York Times, que publicou recentemente um anúncio muçulmano anti-católico [p.s.: encomendado por um grupo ateu] mas se recusou a publicar um anúncio idêntico que se dirigia contra os muçulmanos. O anúncio original na íntegra pode ser encontrado aqui. Sobre o assunto, vale a pena ler também o Reinaldo Azevedo.]

The New York Times se curva aos muçulmanos

Anúncio anti-católico publicado pelo The New York Times

O presidente da Catholic League, Bill Donohue, comentou [o assunto] conforme segue:

No dia 9 de março, o New York Times publicou um perverso [viciously] anúncio anti-católico encomendado pelo grupo ateísta radical Freedom From Religion Foundation (FFRF); para lê-lo, e a nossa réplica a ele, clique aqui. Em resposta, a ativista anti-islâmica Pamela Geller resolveu submeter um anúncio para o Times que imitava [that played off] o da FFRF [apenas] trocando as palavras, a fim de fazê-lo parecer um ataque ao Islam. Por exemplo, ela pedia aos muçulmanos para abandonar sua religião porque ela oprimia muitas pessoas.

Neil Munro do The Daily Caller escreveu hoje um esplêndido artigo sobre a corajosa jogada [gambit] de Geller [clique aqui para lê-lo]. Ela foi rejeitada [turned down] pelo Times. O artigo foi recusado, eles disseram, porque “os efeitos colaterais [the fallout] de publicar este anúncio agora poderiam colocar as tropas e/ou os civis americanos da região [do Afeganistão] em perigo”.

A razão do Times para negar o anúncio de Geller é prudente [is sound]: como um veterano, eu me oponho a colocar, desnecessariamente, nossas forças armadas em perigo. Mas eu imagino por que é necessário o medo para impedir o New York Times de veicular anúncios fanáticos. A ética não seria suficiente? Ela certamente não foi, quando eles decidiram publicar o anúncio da FFRP que agredia os sentimentos [religiosos] dos católicos [assaulting Catholic sensibilities].

Seria errado nos limitarmos ao Times. Precisamos de uma ampla discussão nacional sobre a forma como a grande mídia [elite media] está conferindo uma posição privilegiada para alguns setores da sociedade, enquanto falha em fornecer a mesma proteção para outros setores.

“Nós somos a Igreja: sejamo-lo!” – Bento XVI

Às vezes digo: São Paulo escreveu [que] “a Fé vem do ouvir” – não do ler. Tem também necessidade do ler mas vem da escuta, quer dizer, da palavra vivente, das palavras que os outros me dirigem e posso ouvir: das palavras da Igreja através de todos os tempos, da palavra atual que Ela me dirige mediante os sacerdotes, os bispos, os irmãos e as irmãs. Faz parte da Fé o “tu” do próximo e faz parte da Fé o “nós”.

Precisamente, exercitarmo-nos neste suportarmo-nos uns aos outros é algo muito importante; aprender a acolher ao outro como outro em sua diferença, e aprender que ele me deve suportar em minha diferença, para convertermo-nos em um “nós”. A fim de que um dia na paróquia possamos formar uma comunidade, chamar as pessoas a entrarem na comunidade da Palavra e estarmos juntos caminhando em direção ao Deus vivente. Faz parte disso o “nós” muito concreto, como é o seminário, como será a paróquia, mas é também preciso olhar sempre para além do “nós” concreto e limitado até o grande “nós” da Igreja de todo o lugar e de todo o tempo, para não fazermos de nós o critério absoluto.

Quando dizemos “nós somos [a] Igreja”, sim, é verdade: somos nós, e não nenhuma outra pessoa. Mas este “nós” é mais amplo do que o grupo que o está dizendo. O “nós” é a comunidade inteira dos fiéis, de hoje e de todos os lugares e de todos os tempos. E eu digo sempre: na comunidade dos fiéis, sim, ali existe (por assim dizer) o juízo da maioria de fato, mas não pode haver jamais uma maioria contra os Apóstolos e contra os Santos: isto seria uma falsa maioria. Nós somos a Igreja: sejamo-lo! Sejamo-lo precisamente em abrirmo-nos, em irmos para além de nós mesmos e em sê-lo juntamente com os outros.

[…]

Nosso mundo atual é um mundo racionalista e condicionado pelo cientificismo, embora muito freqüentemente se trate de um cientificismo apenas aparente. Mas o espírito do cientificismo, do compreender, do explicar, do poder saber, do repúdio a tudo o que não é racional, é dominante no nosso tempo. Nisto também há algo grande, ainda que com freqüência se esconda detrás de muita presunção e insensatez. A fé não é um mundo paralelo do sentimento, ao qual nos permitimos aderir; na verdade, a Fé é o que abraça o todo, o que lhe dá sentido, interpreta-o e lhe dá também as diretrizes éticas interiores, a fim de que seja compreendido e vivido com vistas a Deus e a partir de Deus. Por isso é importante estar informados, comprender, ter a mente aberta, aprender. Naturalmente, dentro de vinte anos estarão em moda correntes filosóficas totalmente distintas das de hoje: quando penso no que entre nós era a maior moda filosófica e a mais moderna e, hoje, vejo como tudo já está esquecido… Não obstante,  não é inútil aprender estas coisas, porque nelas também há elementos duradouros. E sobretudo com isto nós aprendemos a julgar, a seguir mentalmente um pensamento – e a fazê-lo de modo crítico – e aprendemos a fazer com que, no pensar, a luz de Deus nos ilumine e não se apague.

Bento XVI,
Encontro com os seminaristas
na Capilla San Carlos Borromeo del Seminario de Friburgo

Diplomacia Vaticana: documento confidencial sobre a viagem do Papa Bento XVI ao Brasil

[O Wikileaks vazou recentemente um documento da diplomacia vaticana sobre a visita do Papa Bento XVI ao Brasil em 2007. Segue abaixo uma tradução (feita às pressas e provavelmente cheia de erros) dos seus pontos mais importantes. Todos os negritos são meus.

É interessante ver a gritante discrepância entre as preocupações da Santa Sé e a dos representantes da Igreja Católica nos países da América Latina. Enquanto o Papa está preocupado com a Fé e com a Moral, os bispos discutem política. Enquanto a Santa Sé condena e reitera a condenação à Teologia da Libertação, constata-se que (desgraçadamente) esta praga volta a crescer no Novo Mundo. Enquanto os bispos estão preocupados com questões ambientais, o clero encontra-se em uma situação deplorável.

O Papa preocupa-se com o Brasil e com a América Latina. Os documentos mostram que Roma está ciente dos problemas principais – dos verdadeiros problemas – que assolam a Igreja latino-americana, e que se empenha em saná-los. Mas é mister a boa vontade dos líderes locais. Ouçamos o Papa, e confiemos no Vigário de Cristo – que nos conhece, que se preocupa conosco, que olha por nós, que certamente reza por nós.]

— SUMÁRIO —

1. O Papa Bento XVI viaja para o Brasil entre os dias 9 e 13 de maio [de 2007], para abrir uma sessão plenária do Conselho do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (CELAM). Os três encontros continentais mais recentes (Colômbia em 1968, México em 1979 e República Dominicana em 1992) forneceram diretrizes para a Igreja Católica na região para muitos anos à frente. Este encontro em Aparecida parece que vai fazer o mesmo. As questões mais importantes na agenda incluem o crescimento do Protestantismo, pobreza, compromisso civil [civil engagement], questões familiares e o meio-ambiente. Sobretudo, em aparições antes da conferência e no seu discurso de abertura do encontro, o Papa Bento XVI espera reavivar a fé no Brasil e na América Latina, restabelecendo a força da Igreja nesta terra de coração católico [in this Catholic heartland]. Ele pretende provar que, a despeito de sua atenção para a Europa, para o Islã e outras questões, a América Latina continua sendo um foco para a Santa Sé. Destaques da agenda do papa apareçam no parágrafo dezessete. Fim do sumário.

[…]

— Por que o Brasil? —

4. A viagem ao Brasil e o encontro do CELAM oferecem ao Papa uma chance de demonstrar o seu interesse nesta região, e de colocar a sua marca na América Latina. É sua tarefa reconectar-se ao povo. O Brasil – e muito da América Latina – é como um território de missão, disse [o Monsenhor Stefano] Migliorelli, usando a terminologia católica para terras que não foram sistematicamente expostas à Fé. “Nós temos que abordá-lo como evangelização – começando do zero”, ele continua. E o Brasil é a chave para a Igreja da América Latina, Migliorelli nos disse, tanto por causa do gigantesco número de católicos que há lá quanto pelo fato de que – da perspectiva católica – ele sofre muitos dos problemas (seitas evangélicas, pobreza, desafios ambientais) que se podem ver em outras partes da região. Quando se encontrou com cardeais sul-americanos dois anos atrás, foi o próprio papa Bento XVI quem escolheu o local do encontro, dizendo ao grupo que ele queria realizá-lo no santuário mariano mais popular do Brasil.

— Valores familiares e questões políticas —

5. Em encontros preliminares e mensagens que antecederam o encontro do CELAM, o Papa focou principalmente em questões internas da Igreja, como promoção vocacional de candidatos ao sacerdócio e a defesa dos ensinamentos morais católicos sobre o casamento e a vida da família. Os bispos da região foram mais políticos em suas discussões prévias. Em suas aparições antes do início da conferência, o Papa tem mais chances de se focar em questões amplas de fé e moral, enquanto a sua mensagem para a conferência pode se tornar mais concreta, refletindo as preocupações dos bispos. Sua mensagem irá sem dúvidas estabelecer o tom do resto da conferência, um alto funcionário do Vaticano nos disse. “Os bispos não será capazes de tomar um caminho diferente depois do Papa estabelecer as suas prioridades”, acrescentou.

6. Abaixo, nós delineamos alguns dos temas que servirão como pano de fundo para as intervençoes do Papa, e os tópicos sobre os quais ele e os bispos vão tratar.

— Crescimento do Protestantismo —

7. Quando [o Papa] João Paulo II fez sua primeira viagem ao Brasi, em 1980, os católicos contavam com cerca de 89 por cento da população. De acordo com o censo de 2000, eles caíram para 74 por cento, com o total em algumas das maiores cidades chegando a menos de 60 por cento. A cada ano, milhões de católicos latino-americanos deixam as suas igrejas para se juntar, majoritariamente, a congregações evangélicas – um abandono encorajado ativamente, de acordo com a Igreja Católica, pelos pastores destes novos rebanhos. De acordo com uma análise, enquanto a Igreja Católica se concentra em “salvar almas”, a maior parte das igrejas evangélicas enfrentam problemas do dia-a-dia enquanto inventam apenas as demandas doutrinárias necessárias para satisfazer a sede de misticismo da América Latina. O Papa João Paulo II descreveu sua atividade como “sinistra”. Uma das principais tarefas do Papa Bento XVI será redespertar a comunidade católica e encorajar a resistência àquilo que ele chamou de “roubo” feito pelas “seitas” [“poaching” by “sects”].

— O “perigo” da Teologia da Libertação —

8. Outra importante questão contextual da visita é o desafio à Igreja tradicional que a Teologia da Libertação desempenha. O Papa João Paulo II (ajudado pelo papa atual quando ele era o Cardeal Ratzinger) fez enormes esforços para acabar com esta análise marxista de luta de classes. Ela veio a ser promovida por um significante número de clérigos e leigos católicos, os quais – em um compromisso político – algumas vezes sancionaram a violência “em favor do povo”. A forma mais ortodoxa da Teologia da Libertação, que tomou o partido dos pobres e oprimidos, submeteu-se a uma leitura reducionista [do Evangelho] que o Vaticano procurou corrigir. De um modo geral o Papa João Paulo II derrotou a “Teologia da Libertação”; no entanto, nos últimos, viu-se um ressurgimento dela em várias partes da América Latina.

9. Esta questão veio à tona novamente em março, quando a Congregação para a Doutrina da Fé (território familiar [old stomping grounds] do Papa Bento XVI) emitiu uma nota criticando escritos do sacerdote Jon Sobrino sobre Jesus Cristo. Sobrino, um jesuíta que trabalhou por muitos anos em El Salvador e que foi um dos mais conhecidos teólogos da libertação da América Latina. A publicação da notificação do Vaticano tão perto do evento de Aparecida foi uma mensagem clara para a Igreja na América Latina. Migliorelli diz ainda: “nós não planejamos apresentar” [to bring up] A Teologia da Libertação em nenhuma das intervenções papais. “Todo mundo sabe a situação”, continuou ele. A chave é simplesmente para que o clero seja treinado de forma mais eficaz para explicar a posição da Igreja para o povo, concluiu.

— Miséria clerical [Clerical Woes] —

10. Sem dúvidas, disse Migliorelli, a crise dos clérigos é um fator importante na região. A escassez de sacerdotes em muitas partes da América Latina é de longe pior do que aquela nos Estados Unidos. De acordo com alguns cálculos, há dez vezes menos padres per capita do que nos Estados Unidos. E ainda pior, lamenta-se Migliorelli, é que o nível de educação deles é freqüentemente muito baixo, e eles freqüentemente não adotam os padrões de disciplina clerical (celibato, celebração regular dos sacramentos, etc.). Embora o Papa Bento XVI vá dedicar-se aos leigos nesta viagem, Migliorelli admite que a questão dos clérigos também exige atenção.

[…]

— Deterioração da Sociedade —

12. Na preparação do encontro do CELAM, os bispos latino-americanos expressaram suas preocupações sobre a “deterioração” geral da sociedade em suas regiões. O presidente da Conferência dos bispos da Guatemala, Alvaro Ramazzini Imeri, lamentou a violência social onipresente e descreveu “sociedades que tentam seguir estilos de vida de consumismo e hedonismo”, com pouca atenção para a justiça social. Desafios referentes à criminalidade, migração e educação estarão entre as questões que os bispos da região discutirão em Aparecida, e irão indubitavelmente encontrar seu caminho (pelo menos em traços largos) nas observações do Papa. Para a Santa Sé e para os bispos, muitas destas doenças podem ser atribuídas à dissolução das famílias e à falta de atenção aos “valores morais”. O Papa e os bispos irão certamente fazer da família uma peça central de suas observações.

[…]

— Hot Spots —

14. O Monsenhor Angelo Accattino, MFA da Santa Sé no CELAM e em muitos países latino-americanos, reconheceu as preocupações e o interesse da Santa Sé em pontos chave da América Latina como Cuba e a Venezuela. Mas este não é o lugar, ele disse, para se debruçar sobre o que ele chamou de “questões políticas”. Ele disse que o Papa não vai comentar sobre líderes controversos, e que não achava que os bispos regionais devessem agir de modo diferente. Se nós pudermos ajuda a Igreja a rejuvenescer com esta visita, será assim mais fácil tratar de outras questões (e líderes), Accattino disse. Quando pressionado, ele reconheceu que em Cuba e na Venezuela as questões em jogo eram baseadas em direitos humanos – terreno fértil para o Papa e os bispos. Ele sustentou, no entanto, que o Papa só iria orientar claramente sobre as questões mais amplas [the pope would steer clear of all but the broadest questions].

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— Comentário —

16. Quatro bispos dos EUA – incluindo maior homem da Igreja americana no Vaticano, o cardeal William Levada – irão participar da Conferência do CELAM, o que sugere que ela possa ter impacto até mesmo para além das fronteiras da América Latina. A participação de um cardeal canadense também enfatiza a visão da Santa Sé de solidariedade nas Américas. A Santa Sé tem colocado grande ênfase na viagem, antecipando que ela será um momento importante neste pontificado. Fontes nos dizem que o Papa Bento XVI tem-se isolado nos últimos dias, para se dedicar totalmente à finalização de seus discursos, que serão entregues em Português. No final, a viagem será um sucesso se Bento XVI for capaz de reacender o entusiasmo para a Igreja Católica no Brasil, e também impactar toda a região, fazendo com que os católicos se concentrem em “fé, família e moral”. Esperamos um documento para sair da reunião Aparecida até o final de 2007, focando sobre alguns dos problemas mais concretos mencionados acima. Fim do comentário.

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Rooney

Monsenhor Oliveri: O ofuscamento da fé gera devastação litúrgica

[Texto em espanhol: La Buhardilla de Jerónimo

Publicação original: Salvem a Liturgia!

Tradução para o português: Wagner Marchiori]

 

Tradução da interessante carta que Mons. Mario Oliveri, bispo de Albenga- Imperia e membro da Congregação para o Culto Divino enviou para o organizador do III Congresso sobre o Motu Próprio Summorum Pontificum, no qual declara a extraordinária importância desde documento pontifício.

Albenga, 8 de fevereiro de 2011

Reverendo e querido Padre Nuara,

Sua calorosa proposta, a mim apresentada por escrito, de uma intervenção minha no III Congresso sobre o Motu Próprio Summorum Pontificum, de Bento XVI, acerca dos conteúdos teológicos da Liturgia antiga, não me deixou indiferente, mas – com grande pesar – não pude superar uma grande dificuldade que provem das condições de saúde de um irmão meu, inválido, ao qual me vincula um primário dever de assistência fraterna.

Já que estarei longe de meu irmão entre os dias 23 e 27 de maio para participar, desta vez necessariamente, da Assembléia Geral da Conferência Episcopal Italiana (que, pelas razões familiares mencionadas, já estive ausente na Assembléia Geral Extraordinária de novembro passado), ausentar-me de casa também nos dias 13 a 15 de maio criaria graves e insuperáveis dificuldades.

Posso dizer, com toda sinceridade, que participaria com muito gosto do III Congresso sobre o “Motu Próprio”, já que seria para mim a feliz – e, creio, fecunda – ocasião para expressar a um público qualificado e com uma “audiência” muito ampla, as profundas convicções de meu ânimo de Bispo sobre a extraordinária importância para a vida da Igreja do ato magisterial e de supremo governo realizado pelo Papa Bento XVI com este Motu Próprio. Eu poderia expressar as razões que geraram e geram em mim esta convicção. Permita-me, querido padre, formulá-las agora, brevemente, nesta carta e depois – se o considerar oportuno – fazê-las ressoar em algum momento do Congresso.

Em tudo o que se refere à verdadeira essência da Igreja é de vital importância mostrar sempre, mas de modo especial nos momentos históricos nos quais se generaliza a ideia de que tudo está em perene mudança, que não são possíveis mudanças radicais que afetem a substância dos elementos constitutivos da Igreja em si, isto é, sua fé, sua realidade sobrenatural e, portanto, seus sacramentos e sua liturgia, seu sagrado ministério de governo (ou seja, sua capacidade sobrenatural de transmitir todos os dons dados por Cristo à sua Igreja por meio de seus Apóstolos e perpetuados mediante a sucessão apostólica).

O Motu Próprio Summorum Pontificum declarando que a Liturgia pode ser celebrada em sua forma antiga, isto é, na forma em que foi celebrada por séculos até a “reforma” realizada depois do Concílio Vaticano II, sancionou de maneira solene:

a) A imutabilidade do conteúdo da Divina Liturgia e que, portanto, as mudanças que em seu elemento ou forma exterior podem ser introduzidas não podem nunca ser tais que alterem a fé da Igreja que a Liturgia expressa ou, então, que mudem seu conteúdo divino-sacramental ou seu conteúdo de graça sobrenatural. Dando um exemplo: as variações exteriores no Rito da Santa Missa, ou da Divina Eucaristia, não podem induzir ou impulsionar a ter outra concepção de fé sobre o conteúdo da mesma, nem podem legitimamente induzir a pensar que em sua celebração se torne supérfluo ou não necessário o rol celebrativo que compete somente a quem recebeu sacramentalmente a capacidade sobrenatural de atuar ‘in persona Christi’; não podem, sobretudo, ofuscar o caráter sacrificial da Santa Missa;

b) Que não se pode legitimamente interpretar a “reforma” pós-conciliar como uma mutação ‘in substantialibus’: se assim foi considerada, se aqui ou ali se celebra na forma que o Motu Próprio chama “ordinária” de modo tal que possa induzir ao erro sobre o verdadeiro conteúdo da Divina Liturgia que ofusque, ainda que minimamente, a autêntica fé no verdadeiro conteúdo da Santa Missa ou de outros Sacramentos, é necessário, então, que haja correções. É mais urgente que nunca chegar a uma “reforma da reforma” estudando cuidadosamente quais elementos da “reforma” pós-conciliar são tais que se podem interpretar em descontinuidade com a Liturgia antiga e quais podem facilitar – se não induzir – celebrações não corretas. De imediato, é necessário uma catequese litúrgica que dissipe toda sombra e, também, é necessário que todos os abusos na celebração não sejam tolerados e sejam claramente corrigidos.

c) Converteu-se em algo particularmente imperativo respeitar de modo muitíssimo claro o vínculo inseparável entre Fé e Liturgia e entre Liturgia e Fé. O ofuscamento da fé gera devastação litúrgica, devastação na “lex orandi” e, esta devastação , corrompe a fé ou, ao menos, a ofusca, a torna incerta.

Estas considerações poderiam ser concretamente mostradas por um estudo comparativo entre a antiga e a nova forma de outorgamento da Ordem Sagrada, do Sacramento da Ordem, mas estou seguro de que serão bem expostas e desenvolvidas com sabedoria e competência pelos eminentíssimos e excelentíssimos relatores do Congresso. A eles me uno de todo coração e a eles manifesto minha profunda comunhão espiritual.

Invoco a assistência do Espírito Santo sobre o desenvolvimento do Congresso e desejo que traga muito bem à Igreja, a nós Bispos e a todos seus ministros que devem agir tendo bem presente que o cume e fonte de toda a vida e missão da Igreja é a Divina Liturgia, a Celebração dos Divinos Mistérios.

A ti, querido padre, minha especial e devota estima,

Seu estimadíssimo no Senhor,

+ Mario Oliveri

Bispo de Albenga-Imperia

Líder pro-aborto: “Não vamos recuperar o terreno perdido”

[Tradução (bem) livre do original publicado em “Notifam” no final do mês passado. Às vésperas do dia da vida (também aqui), é muito interessante conhecermos esta auto-crítica feita pelo movimento pró-aborto.]

WASHINGTON, Distrito de Colômbia – 28 de fevereiro de 2011 (Notifam). Frances Kissling, ex-presidente das “Católicas pelo Direito de Decidir” (Catholics for Choice) e uma importante figura dentro da comunidade pró-aborto, aconselhou ao movimento pró-aborto que não continue ignorando a humanidade do bebê concebido, antes que a onda popular pró-vida leve por água abaixo [tire por la borda] todas as leis pró-aborto.

Uma coluna de opinião escrita para o jornal “Correio de Washington” (The Washington Post) dos Estados Unidos da América [escrita por Kissling] tinha por título “Direito ao aborto sob ataque – enquanto os ativistas a favor da opção pelo aborto encontram-se aprisionados [atrapados] em outra dimensão do tempo”. Na citada coluna, Kissling disse que os argumentos pró-aborto sobre a “privacidade” da mulher estão perigosamente obsoletos.

“Nós dizemos que o aborto é uma decisão que se toma em privado, e que o Estado não tem poder sobre o corpo de uma mulher. É possível que estes argumentos tenham sido eficazes durante a década de 1970, mas hoje em dia não nos servem [mais]. A idéia de nos mantermos focados nele faz com que nos arrisquemos a perder todos os sucessos [logros] que alcançamos”, ela assinalou. “A marca ‘pró-aborto’ desgastou-se consideravelmente”.

A mentalidade pró-aborto, advertiu Kissling, está-se vendo, mais e mais, como uma mentalidade cruel e indiferente quando comparada com a cultura pró-vida. “Já não podemos fingir que o feto é invisível”, ela disse. “Temos que pôr um fim à ficção de que o aborto às 26 semanas de gestão não se diferencia do aborto às seis semanas de gestação. O feto é mais visível naquele momento, mais do que antes. O movimento pró-aborto precisa aceitar sua existência e seu valor”.

“É possível que o mesmo não tenha um direito à vida, e que seu valor não seja igual ao de uma mulher grávida. Sem embargo, o ato de terminar com a vida do feto não é um evento de pouco significado moral”.

Kissling disse que a opinião popular tende a reconhecer a obrigação de proteger a vida do bebê concebido, [ainda] mais quando [ele] cresceu o suficiente para poder sobreviver fora do ventre materno – sendo [este] um fato que os defensores [proponentes] do aborto ignoram por sua conta e risco. “O aborto não é somente um assunto médico. E, nesta alegação, está presente uma crueza não intencionada”, ela disse.

Ela disse [também] que uma parte importante da nova estratégia é não ser demasiado ambicioso. “Desafortunadamente, não vamos recuperar o terreno perdido”. Portanto, os defensores pró-aborto devem, “de modo claro e firme, rechaçar os abortos passada a viabilidade [rechazar los abortos pasada la viabilidad][!! o termo parece se referir à “viabilidade legal” de se praticar um aborto nos EUA (NT)], exceto em casos extremos”. Segundo Kissling, estes devem incluir os abortos eugênicos de crianças incapacitadas, ou quando a gravidez “ameaça seriamente” a saúde da mulher, de modo a agravar sua “condição médica ou psiquiátrica”.

Kissling exortou seus colegas a que deixem um pouco de lado [relajen su agarre] o conceito de aborto por demanda.

“Alguns de meus colegas no movimento a favor do direito ao aborto resistem a que haja sequer uma pequena mudança nos abortos durante os três primeiros meses, temendo que um compromisso [aqui] seja sinal de debilidade”, ela assinalou. “Se o movimento pró-aborto não muda, o controle da política pública sobre o aborto permanecerá nas mãos daqueles que o querem penalizar”.

Kissling também fez um chamando para que se regulamentem os abortos tardios, a fim de assegurar que haja razões adequadas para obtê-los. Também advogou a favor de umas normas de observância mais estritas para as clínicas de aborto. “Devemos também trabalhar para que as clínicas de aborto cumpram com as normas necessárias. Não é questão de proibir o acesso às mesmas, mas sim de assegurar que estejam presentes as devidas medidas de proteção”.

No mês passado, a indústria do aborto foi objeto de uma atenção indesejada, quando foi preso o aborteiro Kermit Gosnell na cidade de Philadelphia, nos Estados Unidos, junto com alguns dos seus empregados sem licença. A eles foram imputadas acusações pelo assassinato de uma cliente e de várias crianças recém-nascidas. Foi informado que Gosnell provocava o nascimento dos bebês concebidos, passada sua viabilidade [(NT) de novo, aparentemente, isto significa “passada a possibilidade do aborto (dito) legal”, pelo fato da gravidez já estar avançada], e então lhes cortava as medulas espinhais.

Quando a polícia entrou no edifício, deparou-se com uma cena de sujeira por todos os lados, de pisos ensangüentados, de mulheres parcialmente conscientes e gemendo, colocadas sobre móveis sujos, e de restos desmembrados de crianças concebidas, abarrotados no congelador que ficava no piso de baixo e em outros cantos da clínica.

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Cobertura relacionada de Notifam:

Líder pro-vida: Tratar a los niños no nacidos como no-personas es clave para la agenda de Paternidad Planificada

Periodista holandesa amenazada con tortura y muerte después de la carta que escribió condenando el aborto

Abortero brutalmente asesinó cientos de recién nacidos vivos: empleada de la clínica

“Montones” de víctimas de la abortista “Casa del Horror” hablan de abortos forzados, de lesiones para toda la vida

Outros links:

Un análisis sobre la organización Católicas por el Derecho a Decidir – Vida Humana Internacional

No rechazaremos el aborto hasta que no lo veamos cara a cara – Sacerdotes por la Vida (advertencia: en esta página cibernética se puede acceder a unas fotos de abortos realizados durante los nueve meses de embarazo)

Versão do original em inglês:

http://www.lifesitenews.com/news/top-pro-abort-were-not-going-to-regain-the-ground-we-have-lost

Dois investigadores à caça de falsos milagres nos arquivos vaticanos: fracasso absoluto

[Ofereço tradução livre de interessante artigo divulgado originalmente no Religión y Libertad. Vale a leitura.]

Dois investigadores à caça de falsos milagres nos arquivos vaticanos: fracasso absoluto

É o sonho de todo ateu ou cético: demonstrar que o que ontem a medicina não podia explicar, hoje já pode. Contudo, não.

[Religión en Libertad] A cada ano, a Sagrada Congregação para as Causas dos Santos oferece um curso (Studium) de dois meses no Vaticano para formar postuladores de causas de beatificação e canonização, [aberto inclusive] a todas as pessoas que tomam parte neste tipo de processos.

Este ano [o curso] ocorreu entre janeiro e março, e concluiu-se na sexta-feira passada [11 de março de 2011], com uma assistência de oitenta alunos de doze países: leigos, sacerdotes, religiosas e advogados civis e canônicos receberam formação naquilo que, nas palavras do secretário da Congregação e professor do curso, é «um processo judicial que deve seguir um procedimento estrito, porque uma pessoa que é beatificada – e ainda mais se é canonizada – converte-se em um “bem público” para a Igreja». As formalidades jurídicas que aprendem os participantes do curso «não são simples formalidades, mas garantem ao máximo [aportan las máximas garantías] a seriedade do processo».

E uma parte fundamental [do processo] são os milagres, requisito para todas as causas (à exceção das dos mártires), e que em sua esmagadora [abrumadora] maioria consistem em curas inexplicáveis.

Neste sentido Patrizio Polisca, presidente da comissão médica da Congregação e médico pessoal do Papa, revelou um fato de grande importância. Após explicar que os cientistas que participam dos processos não julgam sobre milagres, «porque um milagre é um juízo teológico», mas que se limitam a afirmar, se procede, que um fato «não tem explicação natural», o doutor Polisca contou que dois investigadores recentemente estiveram estudando a fundo os arquivos da Congregação.

Tratava-se de desenterrar [desempolvar] casos antigos que os médicos de seus tempos haviam considerados inexplicáveis, e que haviam servido para beatificar ou canonizar alguma pessoa, para averiguar se, no estado atual da medicina, estes casos teriam encontrado [alguma] explicação. A conclusão foi clara: «não se encontrou nenhum caso que, em outros tempos, foi considerado inexplicável e que tenha, hoje, uma explicação médica».

Uma prova a posteriori do rigor com o qual a Igreja trata estes casos. De fato, sublinhou monsenhor Bartolucci, para a cura de casos de câncer a Congregação exige um mínimo de dez anos sem recaídas para começar a estudar seu suposto caráter milagroso, prazo que se estende ainda mais para o caso de tumores cerebrais.

De fato, as normas seguidas [nestes casos] não mudaram desde que foram estabelecidas por Bento XIV em 1734: a enfermidade tem que ser grave, não deve estar catalogada entre aquelas que se curam espontaneamente, a cura não pode ser atribuída a tratamento algum e deve ser completa e duradoura.

Os avanços da Medicina nestes três séculos não permitiram desmentir nenhum dos juízos emitidos desde 1734.