CFFCs agradecem a Mons. Fisichella

[Publico uma apressada tradução de alguns trechos de um artigo não muito recente (é do dia 23 de março), mas muito importante. É da autoria da senhora Frances Kissling, nada menos do que a “former president of Catholics for a Free Choice” – versão internacional das “Católicas pelo Direito de Decidir”. Fala o artigo sobre o grande favor que Dom Fisichella fez às pessoas que, agora, podem discutir a possibilidade do aborto direto ser, em alguns casos, um “mal menor” aceitável. Grazie, Monsignore!

O original está aqui. Rezemos pela Igreja.]

Em uma incrível mudança na estratégia do Vaticano de não destoar da sua posição de que o aborto direto não é nunca permitido, ainda que seja para salvar a vida da mãe, a maior autoridade em bioética do Vaticano, o Arcebispo Rino Fisichella, opinou que os médicos brasileiros que efetuaram um aborto em uma criança de nove anos de idade que estava grávida de 15 semanas de gêmeos não mereciam excomunhão.

[…]

[E]ste modesto desvio do arcebispo que preside a Pontifícia Academia para a Vida abre a porta para [que] os católicos que seguem os ensinamentos da Igreja sobre reprodução [possam] discutir a possibilidade de que haja alguns casos – oficialmente reconhecidos – onde as pessoas possam escolher abortar e ter uma consciência tranqüila.

[…]

Ele reafirma que o aborto é “um ato intrinsecamente mau”, mas sugere que, sob certas circunstâncias, ele possa ser o menor de dois males. Ele aceita que a vida da garota estava em perigo, e levanta esta importante questão ética: como nós devemos agir nestes casos? É, ele fala, “uma decisão árdua para os médicos e para a lei moral”. E continua: “a consciência do médico encontra-se a si mesma sozinha, quando é forçada a decidir a melhor coisa a fazer”. Está ele sugerindo que, apesar da posição da Igreja de que objetivamente o aborto é sempre errado, o indivíduo tem alguma liberdade para decidir quando ele pode ser o mal menor entre dois males e um médico pode subjetivamente, em boa consciência, decidir que o aborto era moralmente justificado em casos extremos?

[…]

Se os médicos souberem que alguém, [ocupando uma] alta posição na hierarquia, reconhece que estas situações [gravidezes de alto risco] são dilemas morais nos quais as consciências precisam decidir o que é certo ou errado, eles podem decidir que podem oferecer serviços de aborto. E, naturalmente, isto é o que o Cardeal [sic] Cardoso Sobrinho deseja evitar.

Você pode apostar que haverá uma choradeira dos ultra-conservadores na Igreja, talvez um esclarecimento do Arcebispo, mas o fato é que ele destrancou uma porta através da qual mulheres, doutores e políticos podem se arrastar [creep]. Eu sou grata pelos pequenos favores.

Frances Kissling

A renúncia do Papa

Os inimigos da Igreja estão em polvorosa! Encontro na Montfort a tradução de um artigo do Golias, intitulado “O Problema Bento XVI: IMPÕE-SE SUA DEMISSÃO”. Dá verdadeiro prazer ler o que os hereges pensam do Papa. Hoje, aquela passagem do Evangelho onde Nosso Senhor diz “[s]e o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós” (Jo 15, 18) aplica-se perfeitamente ao Santo Padre: ele faz as vezes de um Evangelho vivo, que encarna na própria vida as palavras do Salvador.

“Hoje, 43% dos católicos franceses agora desejam que o soberano Pontífice se demita do cargo, entregando-se a uma vida  reclusa, para contentamento geral”, diz o artigo. Contentamento geral, ou contentamento desta minoria (43%) que deseja a “demissão” do Santo Padre? É engraçado como estas pessoas adoram arvorar-se de porta-voz do catolicismo; é como se a ausência de sentido de suas idéias precisasse ser compensada pelo barulho que é feito em sua defesa.

Há uns dias, eu vi uma entrevista do Hans Küng onde ele se queixava de que Roma quer ter sempre razão. Mas é precisamente esta a função da Igreja de Roma: ser Mãe e Mestra de todas as igrejas. É exatamente esta a função do Sucessor de Pedro: confirmar os irmãos na Fé. Queixa-se o teólogo suíço de que Roma seja o que Deus estabeleceu que Ela fosse? O Küng também é um daqueles que querem que o Papa renuncie. Vem o artigo do Golias fazer coro ao teólogo e engrossar as fileiras dos rebeldes.

E por que motivo deveria o Papa renunciar? Por nada. Simplesmente porque os hereges do Golias et caterva não aceitam o catolicismo, e atribuem a si próprios a infalibilidade que negam ao Papa. Que outra coisa explicaria a sentença peremptória de que Bento XVI comete “evidentes erros” e que “algumas de suas posições [são] verdadeiramente inaceitáveis”? Quem disse isso? Os hereges. E por que é verdade? Só porque eles dizem? Por que motivo os católicos deveriam ouvir a voz dos lobos rebeldes, ao invés de seguirem os passos do Doce Cristo na Terra?

O Papa é retratado como “que saído de um vitral de outros tempos, talvez de um museu”… e eu não deixo de me alegrar com a comparação. Um vitral de uma catedral, por exemplo – o que estes hereges têm contra vitrais… ? -, seria uma boa opção. Os vitrais das igrejas estão cheios de papas santos. Não havendo reencarnação segundo a Fé Católica, não faz sentido que Bento XVI tenha “saído” de um desses vitrais, mas guardo esperanças de que ele possa, um dia, ir até eles. Guardo esperanças de que, num futuro – queira Deus não muito distante! – Bento XVI possa ser – quem sabe? – representado nos vitrais das igrejas. Para escândalo de Küng e seus asseclas.

Termina o artigo dizendo que “não há mais retorno” – queira Deus que, dessa vez, os hereges tenham dito a verdade! Tomara que não haja mais retorno, e as reformas realizadas pelo Papa Bento XVI gloriosamente reinante possam pôr fim à crise e dispersar os inimigos da Santa Igreja. Sim, que não haja mais retorno para os hereges de todos os naipes, e que não lhes seja dado mais espaço para devastarem a Igreja e lançarem almas à perdição. Pede o Golias “uma saída de cena de Bento XVI, rápida e voluntária, sinal de humildade e de verdadeiro sentido da autoridade como serviço”, porque isso “desbloquearia a situação, permitindo que sem tardar seja aberta uma nova página da história da Igreja”. Nós, os católicos, pedimos a Deus o contrário.

Pedimos vida longa e um fecundo pontificado para o Santo Padre, o Papa Bento XVI. Pedimos que “o Senhor o guarde e fortaleça, e o faça abençoado nesta terra, e não o abandone ante a perversidade de seus inimigos”. Pedimos que Deus tenha piedade dele, e o guie conforme a Sua bondade à vida eterna, a fim de que ele possa velar pelo rebanho que lhe foi confiado e, junto dele, alcançar a salvação. E que Deus Se digne humilhar os inimigos da Santa Igreja, para a Sua maior glória e salvação das almas pelas quais morreu Nosso Senhor. Domine, Te rogamus, audi nos!

Família, Escola de Vida

Gostaria de agradecer ao prof. Hermes Rodrigues Nery pela gentileza de me ter enviado por email a íntegra da “[a]ula inaugural promovida pela Frente Parlamentar Municipal em Defesa da Vida, no Dia da Anunciação, 25 de março de 2009, no plenário do Legislativo Municipal de São Bento do Sapucaí (SP), proferida pelo Vereador Hermes Rodrigues Nery, Presidente da Câmara Municipal”. Leva o título de “Família, Escola de Vida” e foi publicada n’O Possível e o Extraordinário, motivo pelo qual me abstenho de reproduzir aqui novamente.

É reconfortante que, em São Paulo, tenhamos como presidente da Câmara um ativista pró-vida como o professor Hermes: verdadeiro e corajoso defensor dos interesses do povo. Causa-nos alegria a existência de uma Frente Parlamentar Municipal em Defesa da Vida em São Bento do Sapucaí, porque esperamos [e rezamos para] que a iniciativa possa depressa se espalhar por outras cidades do Brasil.

Da aula inaugural citada, destaco:

Forças poderosas e adversas ao bem da pessoa humana querem destruir a família, a primeira e principal de todas as instituições humanas, e contra isso temos que resistir, heroicamente se preciso, para salvaguardar o nosso bem maior.

Sim, estamos em guerra; sim, é preciso que tenhamos coragem, para nos colocarmos ousadamente na defesa daquilo que é digno de ser defendido. Sim, o mundo precisa de heróis, sob pena de desmoronar graças às investidas dos inimigos do gênero humano. Há muito trabalho a ser feito. Que São Miguel Arcanjo nos defenda no combate.

Suécia, Recife, Brasília

Suécia legaliza o “casamento gay”. Segundo a notícia, a “união civil” entre pessoas do mesmo sexo era já permitida e, agora, o que foi aprovado foi o “casamento” formal. Não sei as distinções jurídicas específicas entre as duas coisas, mas gostaria de dizer que 1. o resultado da votação [261 votos a 22] é vergonhoso e preocupante, 2. ao menos a lei (ainda! Ainda!) “não obriga os clérigos que discordam dela a celebrarem os casamentos”, 3. a Igreja Luterana Sueca “disse que está aberta a celebrar e a registrar uniões do mesmo sexo”, dando mais uma vez eloqüente testemunho da degradação moral até onde se chega longe de Roma, e 4. não entendo o motivo de “Gays faze[re]m ato pelo uso da camisinha”, como é mostrado na foto…

– O Diário de Pernambuco daqui da terrinha publicou uma matéria em defesa do aborto legal: as pessoas começam a tomar posições mais claras, e as defesas antes veladas agora são impressas e publicadas à luz do dia. Vale lembrar que não existe aborto legal no país, ao contrário do que diz a reportagem. É uma lástima que os hospitais recebam dinheiro do SUS para assassinar crianças; mas é reconfortante saber que “profissionais de saúde de hospitais públicos que oferecem o serviço de aborto legal recusam-se a realizar o procedimento”. A sanha assassina do governo não é compartilhada pelos cidadãos; estes recusam-se a entorpecer a sua consciência com argumentos falaciosos mil, e sabem que o “não matarás” que carregam inscrito no coração é indelével.

– É uma coisa impressionante encontrar uma notícia dessas na grande mídia e, portanto, gostaria somente de registrar aqui: Dilma e sua trupe planejavam seqüestrar o (então) Ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, segundo afirma o Josias de Souza no seu blog. A ex-terrorista nega peremptoriamente. E, aliás, acho bem provável que quase ninguém dê bola para isso…

Mais curtas diversos

Mais coisas para comentar do que eu tenho tempo para fazê-lo…

– Apenas para fins de registro, o Frei Betto – para variar – escreveu mais uma vez contra a Igreja. Vejam que palavras dignas de um religioso: “Comparo a atitude do arcebispo de Olinda e Recife com a de Jesus diante da mulher adúltera… Que diferença! Jesus foi capaz de compreender, perdoar, acolher. Os médicos agiram corretamente, para salvar a vida da menina e evitar o risco de três mortes”. A ubiqüidade na repetição da besteira faz-nos pensar que é orquestrado; os ataques que chegam de todos os lados – de todos os inimigos da Igreja – evidenciam que estamos do lado certo do campo de batalha. Não podemos desanimar!

– É um pouco antiga – novembro de 2008 – mas um amigo trouxe à baila, numa lista de emails da qual participo, esta matéria sobre Oxum na Santa Missa. Aproveito para trazer aqui porque é um excelente exemplo daquilo sobre o que eu falava ontem, sobre a colocação de lixo no lugar das coisas sagradas: esta obsessão em profanar tudo o que é católico parece uma sanha satânica. Mente – sim, mente descaradamente – o padre Toninho quando diz que “as missas inculturadas e, especialmente, a missa afro, são expressões legítimas de elementos das culturas africanas na celebração da Eucaristia”. Aqui tem fotos de uma missa afro. Aqui e aqui tem vídeos de missas afro. E qualquer pessoa que tenha um mínimo de senso católico percebe que há alguma coisa errada aí; percebe que essas coisas são no mínimo inadmissíveis e, no máximo, blasfemas e sacrílegas.

– Um movimento gay de Pernambuco – os “Leões do Norte” – avisaram que iriam malhar um boneco de Dom José Cardoso nas ruas do centro da cidade na sexta-feira. Fizeram-no, e a matéria com algumas fotos foi publicada no blog do Jamildo. O presidente da ONG afirmou que “Dom José representa perigo para a sociedade. Foi imprudente porque colocou a vida de uma menina de 9 anos em risco. Para ele, o estupro não tem importância”. Interessante, né? Dona Terezinha percebeu

Alguns judeus são contra acordos diplomáticos com a Santa Sé. “A seis semanas da visita do Papa Bento XVI à Terra Santa, religiosos judeus fundamentalistas fazem pressão para que o governo israelense não faça concessões diplomáticas à Santa Sé sobre a questão dos impostos sobre os bens da Igreja”. Ah, esses nossos irmãos mais velhos…

– Também é um pouco antiga [25 de março], mas eu só vi agora. Depois das audiências públicas sobre células-tronco embrionárias e anencéfalos, parece que a moda pegou: a CSSF vai realizar uma audiência pública sobre a eutanásia. No entanto, desta vez quem a propôs foi o deputado Dr. Talmir (PV-SP), autor de um projeto de lei que torna a eutanásia crime hediondo. A data da audiência ainda não foi marcada.

Lixo no lugar das coisas sagradas

Santa Joana d'Arc, Notre-Dame
Santa Joana d'Arc, Notre-Dame (clique para ampliar)

Encontrei um “santinho” sendo vendido na Paulus. Comprei-o ontem – vinte centavos – só por causa da oração que está contida no verso dele. Ei-la:

ORAÇÃO A SANTA JOANA D’ARC

Corajosa menina, empunhando vosso estandarte com o desenho da cruz de Cristo e os nomes de Jesus e Maria, libertastes o rei e salvastes vossa Pátria do domínio estrangeiro. Olhai com piedade o terceiro mundo, dominado não por outros países, mas, por bancos internacionais que inventaram uma dívida injusta e cruel e pela globalização que mata de miséria e fome, em cada dois dias, o equivalente às vítimas da bomba atômica jogada sobre Hiroshima e Nagasaki.

Assim como enchestes de coragem, em vossa pequena aldeia do interior, e vos colocastes à frente de exército poderoso, enchei de coragem nossos governantes para que levantem a cabeça e partam em defesa do povo humilhado pela injustiça do desemprego, da pobreza, da fome e da falta de saúde. Louvado seja o Senhor pelo irmão fogo que separou vosso espírito da carne!

Louvado seja o Senhor pelo amor que foi o mais forte, porque ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida pelos irmãos. Amém.

Sinceramente, eu não consigo entender o que leva esse tipo de coisa ser vendida em uma livraria católica. É impressionante: não basta ignorar a religião, não basta ensinar o que lhe é contrário, não basta atacá-la e refutá-la: é necessário corrompê-la por dentro, apresentando caricaturas dela como se fossem ela própria, esvaziando-a de tudo o que ela tem de importante e colocando futilidades no seu lugar.

Lembro-me de que o monsenhor lá da paróquia gostava de propôr o seguinte problema: “imagine que existem dois homens. O primeiro deles entra sorrateiramente numa igreja à noite, arromba o sacrário, pega os vasos sagrados, espalha as partículas consagradas pelo chão e leva os vasos com ele. O segundo faz a mesma coisa mas, ao invés de espalhar as hóstias pelo chão, consome-as todas e, ao invés de levar os vasos sagrados, enche-os de lama e os coloca de volta no sacrário, fechando-o e deixando a igreja da mesma forma que encontrou. Qual dos dois cometeu pecado maior?”. E ele próprio respondia: “o segundo”. Porque colocou lama no Sacrário, sem contudo deixar claro o mal que fizera invadindo a igreja. Porque retirou Nosso Senhor do Seu lugar e, ao invés dele, colocou sujeira e imundície para ser adorada pelos fiéis. Porque fez com que os louvores e a adoração que competem a Deus fossem feitas à lama escondida nos vasos sagrados.

Às vezes penso que estes falsificadores da religião agem como este segundo homem da história que o monsenhor gostava de contar. Não se contentam com a blasfêmia e o sacrilégio: desejam usurpar o lugar da Religião Verdadeira e, nele, colocar qualquer porcaria inventada por eles. Apresentam o lixo ao povo fiel como se fosse a Religião Verdadeira. Fazem as pessoas seguirem os seus delírios acreditando estarem seguindo a Sã Doutrina legada por Nosso Senhor. Agem como o que coloca lama no sacrário, para induzir o povo fiel a adorar a imundície. E não tenho dúvidas de que o pecado destes é objetivamente maior do que o daqueles que atacam a religião às claras.

40 anos

Hoje, a Missale Romanum completa exatos quarenta anos. Eu nem sabia, quando publiquei ontem à noite um texto sobre a Santa Missa… Foram quarenta anos difíceis. É impossível negar…

Quarenta é um bom número. Lembra-me os quarenta anos do deserto ao fim dos quais os judeus entraram na Terra Prometida, os quarenta dias no deserto ao fim dos quais Nosso Senhor começou a Sua vida pública, os quarenta anos da Quaresma ao fim dos quais, todos anos, nós celebramos a Santa Páscoa. E dá-me esperanças…

Quem me conhece, sabe da minha predileção pelas coisas antigas. Já falei por diversas vezes. E, quem me conhece, sabe também que eu não me alinho com as posições dos que negam a autoridade do Papa – e da Igreja – de legislar; quem me conhece, sabe que eu não julgo aceitável pôr em questão a Suprema Autoridade de Governo da Igreja Católica. O que está promulgado, promulgado está. “Non fit disputatio”, como quer que se escreva isso.

O que não me impede de ter as minhas predileções, e minhas esperanças. Não me impede de me alegrar ao ver-me, no final da Quaresma, aos quarenta anos da Missale Romanum. Quarenta anos…! Oremus pro Ecclesia Sancta Dei.

Sete Dores de Nossa Senhora

Na festa das Sete Dores da Bem-Aventurada Virgem Maria, vale a pena conhecer este Setenário das Dores de Nossa Senhora, escrito por Alphonsus de Guimaraens. São sete sonetos para cada uma das sete dores. Reproduzo aqui sete deles, um para cada uma das dores da Virgem Santíssima, escolhidos simplesmente por ser forçoso escolher: vale a pena a leitura da obra completa.

Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

PRIMEIRA DOR

Et tuam ipsius animam pertransibit gladius…
S. LUC. II, 35.

Que lhe importavam lágrimas? Chorasse
Desde o nascer do sol até o sol posto;
Tivesse prantos quando a lua nasce,
Quando, entre nuvens, ela esconde o rosto.

Junto ao seu Berço, a contemplar-lhe a Face,
De Mãe Divina no sublime posto,
Temendo que uma estrela O despertasse,
Gozo teria no maior desgosto.

Por Ele toda a mágoa sofreria…
Ah! corresse-lhe em fonte ardente o pranto
Na paz da noite e nos clarões do dia.

Sofrer por Ele… Sim. Tudo por Esse
A quem beijava os Olhos, mas contanto
Que Ele, o seu Filho amado, não sofresse!

* * *

SEGUNDA DOR

…Angelus Domini apparuit in somnis Joseph…
Qui consurgens accepit puerum et matrem ejus
nocte, et seccessit in Aegyptum.
S. MATTH. II, 13, 14.

José, filho de Reis, o Carpinteiro
Descendente da Casa do Salmista,
Acorda em plena noite, e o corpo inteiro
Treme-lhe, e um raio lhe perturba a vista.

Alvo Kerub ideal, de olhar guerreiro,
Com uns heráldicos sables de conquista,
Surge por entre nimbos, e o nevoeiro
Que faz a grande luz à treva mista.

Num pantaclo estelar estava escrito:
“Ele é o Filho de Deus. Acolhe-o, Esposo,
Ao solo ardente do abrasado Egito.”

“Meu Deus!” exclama o Santo, e mudo espia
A áurea face do Arcanjo luminoso:
Uma fonte de lágrimas corria.

* * *

TERCEIRA DOR

Fili, quid fecisti nobis sic? Ecce pater tuus et
ego dolentes quaerebamus te.

S. LUC. II, 48.

Foi por aquelas ruas circulares
Que O perdeste, Senhora, e que O não viste,
Sorrindo sob a luz dos seus olhares,
Ele, o Cordeiro amargurado e triste…

Quem pudera chorar os teus pesares,
Quem, na angústia a que o peito não resiste,
Te guiara em via-sacra pelos lares,
Sentindo toda a mágoa que sentiste!

Três dias procuraste, em mágoa imensa,
Sofrendo a multidão dos hebreus rudes,
Do Filho eterno a celestial Presença…

(Fé, Esperança, Caridade, hinário
De alívio à Mãe aflita, áureas Virtudes
Que haveis de segui-la até o Calvário!)

* * *

QUARTA DOR

Et bajulans sibi crucem, exivit in eum qui
dicitur Calvariae locum…

S. JOAN. XIX, 17.

Pontius Pilatus olha-O. Quieto e fundo
Olhar mau que talvez de ódio não fosse;
De ódio, não, mas de dúvidas fecundo…
E Cristo era de pé, sereno e doce.

Depois, aquele olhar, que de profundo
Se fizera de escárnio, iluminou-se:
— “És o Rei dos Judeus?” Que deste mundo
O seu Reino não era. E a Voz calou-se.

— “És Rei?” — “Disseste-o”. E a multidão oprime
A Pilatus. No entanto para a turba
Ele fala: — “Não lhe acho nenhum crime.

“Ei-los, Jesus e Barabás precito:
Qual à morte votais?” (A dor pertuba
O Céu de amplo clamor…) — “Jesus”! foi dito.

* * *

QUINTA DOR

Ubi crucifixerunt eum, et cum eo alios duos
hinc et hinc, medium autem Jesum.

S. JOAN. XIX, 18.

Vê-Lo não vos bastava, doce Dama,
Longe dos vossos maternais carinhos;
Sentir que a plebe vil, que ruge e clama,
Viesse em fúria assaltá-Lo nos caminhos:

Escarros que tombavam como lama
Sobre Quem é mais alvo que os arminhos:
E a Fronte real, em radiações de flama,
Cingida pelas pontas dos Espinhos:

Açoites, bofetadas, Cravos, Chagas,
E a Esponja, e a Lança, e o Fel, e a Sede estranha,
E o Sangue santo que corria em bagas:

Tudo era pouco para as vossas Dores…
Que ainda havíeis de vê-Lo na Montanha,
Expirando entre dois salteadores!

* * *

SEXTA DOR

Joseph autem mercatus sindonem, et deponens
eum involvit sindone…

S. MARC. XV,46.

Ora José de Arimatéia viera
Tomar o Corpo de Jesus. Mais cedo
Nicodemos no Gólgota estivera,
E com mirra voltara. E tinham medo.

Pois cada um destes homens puros era
Do bom Senhor discípulo em segredo,
Por temor dos judeus. Logo o soubera
O Sinedrim judaico, injusto e tredo.

Junto ao lugar do Sacrifício, um horto
Havia, e nele um monumento aberto
Onde nunca pousara nenhum morto.

Sepultaram-No, e a lápide fechou-se.
Viu-se depois o túmulo deserto:
Voara ao Céu Quem o Céu consigo trouxe.

* * *

SÉTIMA DOR

… et posuit eum in monumento quod erat
excisum de petra.

S. MARC. XV,46.

Entorna sobre mim as soberanas
Inspirações que brotam dos Altares,
Oh carisma de amor que tudo irmanas,
Serva de Deus, Esposa dos Cantares.

São matinas e vésperas… Hosanas
E aleluias a ti por sobre os mares,
A ti, branca açucena que dimanas
Dos celestes jardins que não têm pares.

Aleluias a ti por sobre a terra:
O espírito do mal, imundo e sevo,
Como um fluido incoercível, nos aterra…

Ah! Senhora, que sempre tu me prezes
Como a um filho: eis a prece que te elevo
Em meio ao temporal dos meus reveses.

A Via-Sacra da Campanha da Fraternidade

Vale a pena ler o artigo do Percival Puggina  sobre a Campanha da Fraternidade; é muitíssimo oportuno porque – e isto precisa ficar claro – esta Campanha da Fraternidade deste ano não é somente inútil, é errônea mesmo, transmitindo valores [no mínimo] questionáveis e propagando idéias [no mínimo] estranhas. O articulista demonstra isso muito bem [vale a pena, repito, ler o artigo inteiro]:

O mesmo matiz ideológico concede uma espécie de indulgência plenária à criminalidade que mais asusta o país, toda ela vista como conseqüência do tipo de sociedade onde vivemos. Denuncia as penas de prisão como “vingança” social e convoca os fiéis a “assumir sua responsabilidade pessoal no problema da violência”. Trata-se, em resumo, da velha luta de classes, segundo a qual as vítimas da criminalidade são socialmente culpadas, ao passo que os criminosos são inocentados por inexistência de outra conduta exigível. É a tese do Marcola, sendo acolhida pela CNBB.

E é lamentável que os católicos sejam [na prática] obrigados a engolirem este lixo durante a Quaresma. É frustrante que os nossos bispos, que deveriam ser sentinelas fiéis zelosos pela integridade da Sã Doutrina, pouco ou nada façam para proteger os fiéis destes perigos. A coisa é particularmente grave em cidades de interior, sobre as quais posso falar um pouco porque, já há alguns anos, participo das atividades da Juventude Missionária na Semana Santa. Todo ano vamos a uma cidade diferente; em todas elas, a situação é muito diferente daquela que encontramos na capital. O único ponto de contato daquelas pessoas com a Igreja é o seu pároco – cercado pelos leigos que o ajudam no desempenho das atividades paroquiais. Se elas recebem, destes, lixo “CFista” no lugar de Doutrina Católica, vão acreditar piamente que a Doutrina Católica é o conjunto das besteiras contidas nas Campanhas da Fraternidade.

Conto um caso. Não me lembro da cidade, mas me lembro do fato: 2007, sexta-feira santa, quatro horas da manhã, via-sacra. Todo o povo da cidadezinha reunido. Nós, recém-acordados, não percebemos a tragédia: ia ser rezada a via-sacra da Campanha da Fraternidade. Amazônia. Infelizmente não a consegui encontrar na internet, mas recordo-me que era repleta de coisas como “rios e pororocas”, e “mártires índios”, e “irmã Dorothy Stang” e coisas do gênero. Nós não rezamos. E ficamos contemplando aquele povo simples, inocente, piedoso, em procissão de madrugada, rezando qualquer coisa tosca e estranha ao catolicismo como se fosse a Via Sacra de Nosso Senhor.

Não estou exagerando: estas orações não são católicas. Encontrei neste documento da Diocese de Cachoeiro [v. Anexo 01] a Via Sacra 2009. Só à guisa de exemplo:

  • Primeira Estação: “O nosso país é marcado por grandes escândalos. Corrupção, tráfico de influências, desvios de verbas, entre outros, estão sempre presentes no nosso noticiário. São crimes que trazem trágicas conseqüências para a nossa sociedade (…). O pobre é quase sempre preso, mas as pessoas que pertencem às altas rodas do crime estão apenas respondendo processos e recorrendo às instâncias diversas do sistema judiciário, e muitas vezes até conseguindo da opinião pública a aprovação de seus atos, com a expressão: ‘esse rouba, mas faz!'”.
  • Canto: “Ó Senhor, Caminho e Vida / o Brasil pede perdão / Pelas mortes e agressões” – tiraram os tradicionais versos à Virgem Santíssima!!
  • Sexta Estação: “Assim como essa mulher [Verônica] que se aproxima de Jesus, existem entidades e organizações que trabalham com a formação da consciência das pessoas e com a organização da sociedade para que aconteça a luta por direitos e por uma nova sociedade fundamentada em uma nova hierarquia de valores que tem no seu topo a pessoa humana e a sua dignidade”.
  • Décima Estação (Oração): “Livrai-nos da concentração dos bens nas mãos de poucos. Ajudai-nos a colocar, fraternalmente, nossos bens a serviço do povo desta terra”.
  • Décima Quarta Estação: “Enquanto os poderosos chefes dessa rede de produção e distribuição [narcotráfico] dispõem de muitos meios para escapar da repressão policial, inclusive fazendo a “lavagem de dinheiro”, os pequenos traficantes e os usuários de droga acabam atrás das grades ou mortos pelos becos das favelas. São culpados também, mas é injusta a diferença de punição dos pequenos e a impunidade dos grandes”.

É já difícil imaginar um excremento desta magnitude sendo impresso e distribuído com a assinatura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; contudo, ainda mais doloroso é ver o povo humilde rezando isso, de madrugada, com a melhor das boas intenções, acreditando que está praticando o catolicismo tradicional que receberam de seus pais. Isso é escandaloso, ignominioso, vergonhoso, ultrajante, revoltante, é um pecado que brada aos Céus. Para piorar, já existe o regulamento para o concurso do Hino da Campanha da Fraternidade 2010, cujo tema éEconomia e Vida! Isso não pode ficar assim. Já basta de ofender a Nosso Senhor. Queremos uma Quaresma de verdade.

Introibo ad altare Dei

missa-pos-guerra
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Não sei exatamente onde e quando foi tirada esta foto; talvez seja até muito famosa e eu não a conheça. O amigo que me enviou, disse-me que foi uma missa celebrada em uma igreja destruída na Segunda Guerra Mundial, logo após o fim da guerra. Gosto sobremaneira dela: dá pra ver os escombros e, mesmo assim, quase dá para sentir o quanto as pessoas estão compenetradas no serviço litúrgico. O templo está em ruínas; mas a Santa Missa é celebrada com toda a dignidade, como se estivesse sendo celebrada na mais imponente igreja da Europa. O templo está destruído, mas a Fé está viva: a Fé sobreviveu à Guerra, sobreviveu aos bombardeios, sobreviveu à destruição. Após o fim da Guerra, volta-se a celebrar a Santa Missa; o sacerdote mais uma vez se paramenta, os assistentes mais uma vez se preparam, os degraus do altar são mais uma vez subidos, o Sacrifício de Cristo mais uma vez se faz presente.

E gosto de olhar para esta foto e pensar que… Deus não nos abandona jamais. O templo físico pode estar destruído, mas basta um sacerdote para que, lá, aconteça o maior milagre da Graça, para que Deus Se faça real e substancialmente presente. Mesmo em meio aos escombros. Mesmo quando tudo está destruído, é possível subir ao altar de Deus, que é a nossa alegria – introibo ad altare Dei / ad Deum qui laetificat iuventutem meam. Mesmo em meio ao pó e às ruínas, é possível cantar os louvores do Altíssimo – confitebor tibi in cithara, Deus, Deus meus. Mesmo quando não temos mais nada, é-nos possível esperar em Deus – spera in Deo, quoniam adhuc confitebor illi.

E, ao mesmo tempo, é triste olhar para esta foto e imaginar que, se fosse nos dias de hoje… quem iria oferecer a Santa Missa nestas condições? Em uma igreja em ruínas, após a guerra, sem luz elétrica, [aparentemente] sem povo… em quantas almas católicas encontraríamos hoje o zelo pelas coisas de Deus demonstrado por estes cinco homens numa fotografia em branco e preto? E, no entanto, isto é tão importante, pois é para isso que os sacerdotes são ordenados…!

Nos escombros de uma igreja, sozinho, o sacerdote se mantém firme porque sabe que está diante de Deus. Sabe que é à Trindade Santa que ele está ofertando o Sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor. Sabe que o ritual por ele desempenhado tem valor infinito, e Deus é digno de ser infinitamente adorado. Sabe que toda a Igreja está com ele; que a Santa Missa transcende o tempo e o espaço e o coloca diante do Trono Eterno do Altíssimo. Sabe tudo isso e, por isso, porta-se como convém. Mesmo numa igreja em ruínas.

Será pedir muito encontrar este zelo nos sacerdotes dos nossos dias? Será sonhar muito alto querer que os ministros do Deus Altíssimo sejam ciosos das coisas sagradas, inflamados de um santo desejo da glória de Deus e da salvação das almas? Rezemos ao Senhor da Messe, para que nos mande bons trabalhadores. E elevemos os olhos para os Céus, de onde nos virá o nosso socorro. Esperemos em Deus. Nunca nos esqueçamos dessa verdade tantas vezes repetidas na Liturgia da Santa Igreja: adjutorium nostrum in nomine Domini / qui fecit coelum et terram.