Novo Arcebispo do Rio de Janeiro

Foi nomeado o novo Arcebispo do Rio de Janeiro: Dom Orani João Tempesta, até então Arcebispo de Belém do Pará. Sua Excelência escreveu uma carta ao Cardeal Scheid, a quem ele vai suceder na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A nomeação saiu na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Só me lembro de duas coisas sobre Dom Orani; a primeira, que ele é cisterciense e, a segunda, que ele recebeu uma carta do prof. Orlando Fedeli certa vez…

Que Deus abençoe o novo Arcebispo do Rio de Janeiro!

“A coroa de espinhos” – Meditação de Santo Tomás de Aquino

[Fonte: Permanência]

A COROA DE ESPINHOS

6a. feira depois das Cinzas

«Saí, filhas de Sião, e vêde o rei Salomão com o diadema de que sua mãe o coroou no dia do seu casamento e no dia do júbilo do seu coração» (Ct 3, 11)

É a voz da Igreja que convida as almas dos fiéis a contemplar quão admirável e belo é seu Esposo. Pois as filhas de Sião são iguais às filhas de Jerusalém, almas santas, habitantes do Reino de Deus, que gozam, com os anjos, da paz perpétua e da contemplação da glória do Senhor.

I. — Saí, ou seja, deixai a vida turbulenta deste mundo, para que, com o espírito livre, possais contemplar aquele a quem amais. E vêde o rei Salomão, isto é, o verdadeiro e pacífico Cristo. Com o diadema de que sua mãe o coroou; que é como se dissesse: considerai o Cristo, que, por nós, se fez carne, que tomou a carne da carne de sua Virgem Mãe. O diadema é sua carne, carne que tomou por nós, carne na qual morreu, destruindo o império da morte; carne na qual ressuscitou, deixando-nos a esperança da ressurreição.

Deste diadema, diz o Apóstolo (Heb 2, 9): « Mas aquele Jesus, que por um pouco foi feito inferior aos anjos, nós o vemos, pela paixão da morte, coroado de glória e de honra ». Diz-se que sua mãe o coroou, pois a Virgem Maria deu-lhe a carne de sua carne.

No dia do seu casamento, isto é, no tempo de sua Encarnação, quando a si uniu a Igreja, sem mácula nem ruga; ou quando Deus uniu-se ao homem. No dia do júbilo do seu coração. A alegria e o júbilo de Cristo é a salvação e a redenção do gênero humano; « e, indo para casa, chama os seus amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Congratulai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha » (Lc 15, 6).

II. — Pode-se, também, aplicar tudo isso à Paixão de Cristo, segundo a letra. Com efeito, Salomão, prevendo em espírito a Paixão de Cristo muito antes, adverte as filhas de Sião, isto é, o povo Israelita: Saí, filhas de Sião, e vede o rei Salomão, isto é, o Cristo; com o diadema, ou a coroa de espinhos, que sua mãe, a sinagoga, o coroou no dia do seu casamento, quando a si uniu a Igreja, e no dia do júbilo do seu coração, quando rejubilou-se por ter, por sua Paixão, redimido o mundo do poder do inferno.

Saí, portanto, e deixai as trevas da infidelidade, e vede, isto é, compreendei que aquele que sofre como homem, é Deus verdadeiramente. Ou ainda: saí para fora de sua cidade para o verdes, crucificado, sobre o monte Calvário.

Expositio in Canticum canticorum, III

Retrospectiva: Israel e Santa Sé

– Uma TV israelense levou ao ar um programa “humorístico” blasfemo, no qual eram ofendidos Jesus e Maria. A Santa Sé protestou imediatamente; o Estado de Israel aquiesceu ao pedido do Vaticano e censurou o programa de televisão. As relações entre o Vaticano e Israel parecem ir bem.

– O Governo da Argentina expulsou Dom Williamson do país; em todo o mundo, líderes judaicos comemoraram. Segundo o presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald Lauder, a decisão é louvável “porque o governo argentino deixa muito claro que os negadores do Holocausto não são bem-vindos no país”, mas, segundo as autoridades argentinas, o motivo da expulsão foram problemas com o Ministério do Interior; o bispo teria declarado “ser um empregado administrativo da Associação Civil La Tradición, quando sua verdadeira atividade era a de sacerdote e diretor do Seminário que a Fraternidade São Pio 10° possui na cidade de Moreno”. As relações entre os judeus e Dom Williamson parecem ir mal.

– Dom Williamson retratou-se de suas declarações – que provocaram mal-estar – sobre o Holocausto; no entanto, e nada surpreendentemente, os judeus não aceitaram. Segundo eles, “Williamson não se retratou de suas teses mentirosas sobre o Holocausto. Só lamentou que o que disse tenha gerado tanta polêmica”. Óbvio. O que mais Dom Williamson poderia ter dito? A censura judaica sobre a discussão histórica está ultrapassando todos os limites do tolerável. As relações entre os judeus e Dom Williamson parecem estar indo muito mal. Espero que esta tensão não seja elevada às instâncias superiores, e não comprometa as relações entre Israel e a Santa Sé. Afinal, Israel é maior do que alguns judeus birrentos; e a Igreja evidentemente não é Dom Williamson.

Divulgação de obra apologética

Recebi por email a informação de que o sr. Fernando Nascimento, autor do cordel aqui reproduzido em fins do ano passado, escreveu um texto contra um pseudo-documentário protestante chamando “O Estado do Vaticano”. A extensa e valiosa obra apologética está aqui disponível.

É com muito prazer que divulgo, agradecendo imensamente quer ao autor da obra (que daria facilmente um livro), quer ao remetente do email que me fez a gentileza de informar sobre o assunto. Que a Virgem Santíssima, inimiga de todas as heresias, possa abençoá-los em abundância, e conservá-los sempre firmes na Fé Católica e Apostólica, sem a qual é impossível agradar a Deus.

Mais sugestões de leituras diversas

– Não lembro (perdoem-me a minha amnésia pós-carnaval) se já linkei isto aqui antes, mas este texto de um jornal português sobre “Excomunhão e Tolerância” ilustra bem o que se pode falar sobre o caso Williamson. Muitíssimo feliz o autor na forma utilizada para criticar a censura anti-qualquer-coisa-referente-ao-Holocausto:

Num mundo que gosta de se anunciar sem preconceitos e repudia a censura, existe um bloqueio drástico sobre o Holocausto. Comentar o horror nazi não pode ser feito fora da versão oficial. São admitidas todas as opiniões, menos essa. O pior é a forma inquisitorial, fanática e abespinhada com que o assunto é enfrentado. Quem nega as câmaras de gás deveria ser tratado com um sorriso pela ignorância e uma gargalhada pela tolice. Hoje o disparate é tanto que não merece mais. Em vez disso todos estes democratas e republicanos, supostamente tolerantes, condenam da forma mais persecutória o Papa por ele terminado o castigo canónico. Parece que Williamson devia ser excomungado de novo, agora não por insubordinação mas por opinião histórica. E Bento XVI também, mesmo não concordando com ele.

– Dois textos do Heitor de Paola sobre o aborto: “Alguns mitos e fatos científicos no debate sobre o aborto” e “Quando começa a vida”. Excelentes, porque argumentam sob uma ótica estritamente científica, evitando ao máximo (julgo eu, propositalmente) qualquer referência ética ou religiosa a fim de que o discurso seja assimilável por qualquer um e se evitem as cretinas acusações de “ingerência religiosa” e “estado laico” e blá-blá-blá. Do segundo:

[É] inevitável concluir que o aborto é uma espécie de homicídio, ou filicídio, de um ser já com individualidade que tem, in potentia, todas as condições de se desenvolver plenamente. Qualquer decisão, seja pessoal, seja jurídica, não deve evitar este conhecimento.

– Mais do Krause: uma tréplica ao artigo de Lucas Camarotti, no Jus Navigandi. A tréplica chama-se Laicismo antimetafísico e o colapso do Ocidente. O cara é muito bom! Excerto:

Tal conceito [de “laicidade ateu e materialista”], além de insustentável do ponto de vista lógico, é propugnado por uma fragorosa minoria, ainda que influente na sociedade. Nele, vislumbra-se a aversão às religiões positivas e a aversão à metafísica, tão cara aos grandes filósofos gregos. Por melhor que seja Richard Rorty, estou certo de que, diante de Aristóteles, que tanto se preocupou com a “filosofia primeira”, posteriormente denominada “metafísica”, ele é um menino de colo.

– O Gustavo teceu uns comentários sobre o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação. A matéria completa está lá (para quem tiver estômago); os comentários sensatos do meu amigo, intercalados ao longo do texto, ajudam a torná-lo menos indigesto.

Querer “desenvolver” (isto é: inventar) uma teologia que sirva às nossas pretensões é desonestidade. É como iniciar uma pesquisa científica com uma conclusão pré-fabricada; é ir a campo querendo apenas coletar dados que corroborem o resultado que se quer obter

– O Marcio colocou no Tubo de Ensaio um texto longo, mas que vale muitíssimo a pena, sobre a controvérsia na qual esteve envolvido Galileo; trata-se de uma resenha de um livro publicado recentemente no Brasil pela Loyola. Recomendo fortemente, por ser um compêndio bem interessante e completo (tanto quanto é possível) sobre o assunto.

O tempo mostrou que Galileu tinha razão – mas as descobertas recentes sobre seu processo desmentem vários mitos e mostram que é impossível dividir os personagens do episódio em mocinhos e bandidos. Então, por que ainda hoje existem pessoas (inclusive professores) que continuam a afirmar coisas como “Galileu foi morto na fogueira”? “Quem tem algum preconceito contra a Igreja vai perpetuar os mitos porque sequer vai procurar conhecer os fatos, ou os argumentos contrários. Enquanto o mundo for mundo, essa postura permanecerá”, avalia dom Sérgio.

Estatutos do IBP

Há uns seis meses atrás, eu perguntei sobre os Estatutos do IBP, quando, cansado com a insistência de algumas pessoas em repetir ad nauseam que o Instituto havia sido criado “para criticar o Vaticano II e a Missa Nova” e blá-blá-blá, perdi a paciência e quis saber de onde havia sido tirada esta informação. Silêncio sepulcral; se o IBP havia sido erigido com este propósito, tal fato não havia sido divulgado para ninguém.

Anteontem o Fratres in Unum noticiou que foram publicados – finalmente – os Estatutos do IBP. A íntegra – em francês – pode ser aqui encontrada; é um documento relativamente curto, de cinco páginas. Nem uma palavra sobre uma suposta crítica ao Vaticano II e à Missa Nova, como é natural. E agora, como ficam os que repetiram isso à exaustão?

O Ferretti fez o enorme favor de resolver o mistério e mostrar para todo mundo qual é a fonte desta informação, em comentário que me permito reproduzir aqui:

[A] possibilidade de crítica construtiva ao Vaticano II está prevista nas “Atas de adesão” assinadas pelos Padres do IBP quando da fundação do Instituto.

“A propósito de certos pontos ensinados pelo Concílio Vaticano II ou relativos às reformas posteriores da liturgia e do direito, que nos parecem dificilmente conciliáveis com a Tradição, nos comprometemos a ter uma atitude positiva de estudo e de comunicação com a Sé Apostólica, evitando toda polêmica. Esta atitude de estudos quer participar, por uma crítica séria e construtiva, à preparação de uma interpretação autêntica por parte da Santa Sé desses pontos do ensinamento do Concílio Vaticano II, bem como de certos elementos de textos e disciplinas litúrgicas e canônicas que decorrem”.

http://blog.institutdubonpasteur.org/spip.php?article46

Convenhamos: a “crítica construtiva” do IBP, que não é estatutária, que é uma “atitude positiva” em “comunicação com a Sé Apostólica”, e ainda por cima “evitando toda polêmica”, é completamente diferente daquilo que foi por muito tempo alardeado (e diligentemente praticado) por alguns “baluartes da tradição” (esta, com ‘t’ minúsculo mesmo) que não medem esforços para – per fas et per nefas – “justificar” de alguma maneira os seus desvarios. A Verdade sempre aparece. Já disse Nosso Senhor que não há nada de oculto que não venha a ser descoberto.

O Papa apóia a Campanha da Fraternidade?

ZENIT noticiou que o Papa Bento XVI apóia Campanha da Fraternidade da Igreja no Brasil. A mensagem enviada pelo Papa, publicada em ZENIT e também na Canção Nova, no entanto, destoa tanto da CF que me faz pensar exatamente o contrário. O Papa não “apóia” esta palhaçada que fazem no Brasil. Muito ao contrário, “puxa as orelhas” dos responsáveis pelo escândalo e pela vergonha, esforçando-se para trazer um sentido cristão à politicagem vazia transvestida de evento religioso.

Por exemplo, a mensagem de Sua Santidade fala em “tempo de conversão”, fala que “a justiça humana é sempre frágil e imperfeita”, fala em “pecado original”, em “Nosso Senhor”. É uma mensagem católica. E quanto à Campanha da Fraternidade?

Na oração, a palavra “conversão” aparece duas vezes. É, aliás, digna de louvor, pois fala em esmola, jejum, oração e penitência. Já no Texto Base da CF/2009, a coisa muda um pouco de figura, pois a palavra “conversão” aparece nele apenas 16 vezes (sendo uma na indexação e duas na já citada oração; sobram 13 citações ao longo do texto), num documento de modestas 176 páginas! “Pecado” (e derivados) aparece 10 vezes (e “pecado original”, nenhuma). “Redenção”, “Redentor”, “Sacrifício”, “Calvário”, “Missa”, “Confissão” (ou “Penitência” no sentido do Sacramento) não aparecem uma única vez!! Já “social” (e derivados) aparece 119 vezes, “comunidade”, 52 vezes, “economia” (e derivados), 54 vezes, “política” (e derivados), 65 vezes, “trabalho” (e derivados), 87 vezes, “povo” (e derivados), 43 vezes. E chega que não vou procurar mais.

Cabe perguntar: porventura isso é um documento católico? Na Bibliografia, os “documentos da Igreja” citados ocupam menos de uma única página (ou uma página e meia, se formos considerar como tais os documentos da CNBB…), de um total de cinco. Os títulos dos capítulos, vistos pelo índice, falam sobre coisas como “vida segura”, “pedagogia do controle”, “pirâmide social”, “tipos de violência”, “políticas públicas de segurança”. Tais baboseiras ocupam as primeiras setenta páginas do documento. A partir da página 77, começa-se enfim a falar em Deus mas, já na página 99 (ou seja, pouco mais de vinte páginas depois), voltam os títulos toscos contendo coisas como “ações educativas”, “em busca de um novo modelo penal”, “crimes não convencionais”, e pronto. Depois disso, só anexos. É vergonhoso que um documento de 176 páginas, de uma Conferência Episcopal, reserve pouco mais de 20 páginas para falar sobre coisas católicas (e isso a julgar pelo índice – nem tenho certeza se a segunda parte do documento é mesmo católica como dá a parecer…). Não, sem sombra de dúvidas, o Papa não apóia esta porcaria. Ao contrário, o que ele faz com sua mensagem é dizer “estou de olho”, enquanto tenta recolocar as coisas nos eixos (reconduzindo Cristo para a Quaresma) falando, em uma mensagem de poucas linhas, mais e melhor do que a CNBB com suas 176 páginas de texto-base.

P.S.: Entre os “objetivos específicos” citados pelo malfadado texto-base, à página 16, está escrito o seguinte: Denunciar a predominância do modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, expressão de mera vingança, a fim de incorporar ações educativas, penas alternativas e fóruns de mediação de conflitos que visem à superação dos problemas e à aplicação da justiça restaurativa. Isto é uma grande besteira, porque – como ensina a Igreja – a primeira função da Justiça é exatamente punir para restaurar a desordem introduzida. Às páginas 75 e 94 está escrito, respectivamente, que é necessário superar (…) as relações de ódio e vingança através de relações fundamentadas na misericórdia e que visam não à punição, mas à superação do mal e de suas causas e também que Jesus quer resgatar as pessoas e não puni-las. Tremenda bobagem, empulhação transvestida de ensino católico; a Igreja ensina que “[a] legítima autoridade pública tem o direito e o dever de infligir penas proporcionais à gravidade do delito. A pena tem como primeiro objetivo reparar a desordem introduzida pela culpa” (CIC 2266). É frustrante precisar corrigir coisas tão básicas em um documento emanado por uma Conferência Episcopal.

Retratação de Dom Williamson

Reproduzo como li em ZENIT. Não tem no Dinoscopus. Apenas comento que a notícia me dá um duplo sentimento, por um lado bom, por outro lado ruim. É bom que Dom Williamson saiba ceder naquilo que não é essencial, e é bom que ele tenha a humildade de fazer um pedido público de perdão, numa situação que tantas tribulações trouxe para o Santo Padre e a Igreja de Nosso Senhor. Mas é muito ruim que a opinião pública politicamente-correta tenha forçado um bispo a se retratar sobre uma posição histórica que passa longe de ser “intrinsecamente má” como querem fazer parecer.

Ele, no entanto, não negou o que disse à televisão sueca. Falou que não teria feito as declarações se soubesse do mal-estar que seria causado, falou que manifestou apenas opiniões de quem não é historiador… mas não falou “é, vocês estão certos, as câmaras de gás existiram mesmo e o número de judeus mortos foi de fato o que vocês dizem”. Um mínimo de sensatez precisa ser salvaguardado, e Dom Williamson soube fazê-lo com diplomacia.

Segue a carta.

O Santo Padre e o meu Superior, bispo Bernard Fellay, solicitaram que eu reconsidere as observações que fiz na televisão sueca quatro meses atrás, pois suas consequências têm sido muito pesadas.

Observando essas consequências, posso verdadeiramente dizer que lamento ter feito essas observações, e que se eu soubesse de antemão todo dano e dor que elas dariam origem, especialmente para a Igreja, mas também para os sobreviventes e parentes das vítimas da injustiça sob o Terceiro Reich, eu não as teria feito.

Na televisão sueca, eu manifestei apenas a opinião (… “eu penso”… “eu acho”…) de uma pessoa que não é um historiador, uma opinião formada há 20 anos com base nas provas disponíveis então, e raramente expressa em público desde então. No entanto, os eventos das últimas semanas e os conselhos de membros da Fraternidade São Pio X persuadiram-me da minha responsabilidade por tanto sofrimento causado. Para todas as almas que ficaram verdadeiramente escandalizadas com o que eu disse, diante de Deus, peço perdão.

Como o Santo Padre tem dito, todo ato de violência injusta contra um homem fere toda a humanidade.

+ Richard Williamson,

Londres, 26 de fevereiro de 2009.

[Traduzido do inglês por Zenit]

Sacerdote-Deputado suspenso de ordens

Uma notícia muito boa: o deputado petista Luiz Couto que – espantosamente – é também sacerdote católico foi (segundo G1) “afastado da função de padre por defender uso da camisinha”. Deixemos de lado as expressões escolhidas para a manchete, como se ser padre fosse uma “função” da qual alguém é “afastado” como se o é de um cargo público. Também não nos importemos tanto com o fato de que o referido sacerdote deveria ter já sido suspenso quando ingressou na vida política, e não somente agora. Por enquanto, rendamos graças a Deus e alegremo-nos pelo fato.

Reproduzo a Nota Oficial da Arquidiocese da Paraíba, conforme está disponível no Correio da Paraíba, jornal (salvo engano) de João Pessoa:

João Pessoa (PB), 25 de fevereiro de 2009

Nota Oficial

O Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto, suspendeu do uso de Ordem o padre Luiz Couto. Ele está impedido de realizar atividades próprias de um sacerdote, como celebrar missas. Abaixo seguem as explicações de Dom Aldo:

“Na edição do dia 25 de fevereiro de 2009, A/4, Política, o Jornal O Norte divulga: “Padre, deputado e adversário do celibato. Favorável ao uso do preservativo, Luiz Couto combate a intolerância e a discriminação a homossexuais, contrariando o Vaticano”.

Preposto à Arquidiocese da Paraíba, vejo-me na grave obrigação de suspender o referido sacerdote do uso de Ordem em nossa circunscrição eclesiástica, porquanto, por suas afirmações sumárias, e enquanto perdurem sem retratação explícita, provoca confusão entre os fiéis cristãos, e contraria “in noce” as orientações doutrinais, éticas e morais sustentadas pela Igreja Católica (Cf. Cânon 1317 CDC)”.

Ita, in fide muneribus,

Aldo di Cillo Pagotto,

Arcebispo Metropolitano da Paraíba

Então, corrigindo as expressões utilizadas pelo GLOBO: o padre Luiz Couto foi suspenso de ordens pelo Arcebispo da Paraíba. E, aparentemente, não está nem aí para isso, porque, como declarou a G1:

“Eu vou continuar celebrando, posso celebrar na minha casa, com meus amigos, ou seja, o direito de celebrar, a ordem que eu recebi tem um caráter indelével, que ninguém pode tirar. Isso não significa nenhum combate aquilo que a Igreja tem na sua doutrina”, afirma o padre e deputado.

O Correio da Paraíba, na reportagem acima linkada, reproduziu também a matéria original, publicadas pelo Portal Congresso em Foco, na qual o deputado fala as besteiras que provocaram a justa indignação dos católicos. Que Deus nos conceda sempre santos bispos; e nos livre sempre dos maus sacerdotes.

Mensagem de Quaresma – Bento XVI

[Quarta-Feira de Cinzas, abrindo a Quaresma. Para fins de registro, trago a – já deve ter sido lida por vocês – mensagem de Sua Santidade o Papa Bento XVI para a Quaresma de 2009. Nestes dias em que caminhamos para as comemorações da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor, que a Virgem Santíssima nos conceda a graça de nos prepararmos bem para a Semana Santa.

“Memento, homo, quia pulvis es…” – lembra-te, ó homem, de que és pó… – Se és pó, por que te há de incomodar que te pisem? (Sulco, 281)]

* * *

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
O PAPA BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2009

“Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e,
por fim, teve fome”
(Mt
4, 1-2)

Queridos irmãos e irmãs!

No início da Quaresma, que constitui um caminho de treino espiritual mais intenso, a Liturgia propõe-nos três práticas penitenciais muito queridas à tradição bíblica e cristã – a oração, a esmola, o jejum – a fim de nos predispormos para celebrar melhor a Páscoa e deste modo fazer experiência do poder de Deus que, como ouviremos na Vigília pascal, «derrota o mal, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, a alegria aos aflitos. Dissipa o ódio, domina a insensibilidade dos poderosos, promove a concórdia e a paz» (Hino pascal). Na habitual Mensagem quaresmal, gostaria de reflectir este ano em particular sobre o valor e o sentido do jejum. De facto a Quaresma traz à mente os quarenta dias de jejum vividos pelo Senhor no deserto antes de empreender a sua missão pública. Lemos no Evangelho: «O Espírito conduziu Jesus ao deserto a fim de ser tentado pelo demónio. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome» (Mt 4, 1-2). Como Moisés antes de receber as Tábuas da Lei (cf. Êx 34, 28), como Elias antes de encontrar o Senhor no monte Oreb (cf. 1 Rs 19, 8), assim Jesus rezando e jejuando se preparou para a sua missão, cujo início foi um duro confronto com o tentador.

Podemos perguntar que valor e que sentido tem para nós, cristãos, privar-nos de algo que seria em si bom e útil para o nosso sustento. As Sagradas Escrituras e toda a tradição cristã ensinam que o jejum é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele induz. Por isto, na história da salvação é frequente o convite a jejuar. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura o Senhor comanda que o homem se abstenha de comer o fruto proibido: «Podes comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). Comentando a ordem divina, São Basílio observa que «o jejum foi ordenado no Paraíso», e «o primeiro mandamento neste sentido foi dado a Adão». Portanto, ele conclui: «O “não comas” e, portanto, a lei do jejum e da abstinência» (cf. Sermo de jejunio: PG 31, 163, 98). Dado que todos estamos estorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o jejum é-nos oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor. Assim fez Esdras antes da viagem de regresso do exílio à Terra Prometida, convidando o povo reunido a jejuar «para nos humilhar – diz – diante do nosso Deus» (8, 21). O Omnipotente ouviu a sua prece e garantiu os seus favores e a sua protecção. O mesmo fizeram os habitantes de Ninive que, sensíveis ao apelo de Jonas ao arrependimento, proclamaram, como testemunho da sua sinceridade, um jejum dizendo: «Quem sabe se Deus não Se arrependerá, e acalmará o ardor da Sua ira, de modo que não pereçamos?» (3, 9). Também então Deus viu as suas obras e os poupou.

No Novo Testamento, Jesus ressalta a razão profunda do jejum, condenando a atitude dos fariseus, os quais observaram escrupulosamente as prescrições impostas pela lei, mas o seu coração estava distante de Deus. O verdadeiro jejum, repete também noutras partes o Mestre divino, é antes cumprir a vontade do Pai celeste, o qual «vê no oculto, recompensar-te-á» (Mt 6, 18). Ele próprio dá o exemplo respondendo a satanás, no final dos 40 dias transcorridos no deserto, que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). O verdadeiro jejum finaliza-se portanto a comer o «verdadeiro alimento», que é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34). Portanto, se Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor «de não comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal», com o jejum o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia.

Encontramos a prática do jejum muito presente na primeira comunidade cristã (cf. Act 13, 3; 14, 22; 27, 21; 2 Cor 6, 5). Também os Padres da Igreja falam da força do jejum, capaz de impedir o pecado, de reprimir os desejos do «velho Adão», e de abrir no coração do crente o caminho para Deus. O jejum é também uma prática frequente e recomendada pelos santos de todas as épocas. Escreve São Pedro Crisólogo: «O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza jejue. Quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto em seu benefício o coração de Deus não feche o seu a quem o suplica» (Sermo 43; PL 52, 320.332).

Nos nossos dias, a prática do jejum  parece ter perdido um pouco do seu valor espiritual e ter adquirido antes, numa cultura marcada pela busca da satisfação material, o valor de uma medida terapêutica para a cura do próprio corpo. Jejuar sem dúvida é bom para o bem-estar, mas para os crentes é em primeiro lugar uma «terapia» para curar tudo o que os impede de se conformarem com a vontade de Deus. Na Constituição apostólica Paenitemini de 1966, o Servo de Deus Paulo VI reconhecia a necessidade de colocar o jejum no contexto da chamada de cada cristão a «não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e… também a viver pelos irmãos» (Cf. Cap. I). A Quaresma poderia ser uma ocasião oportuna para retomar as normas contidas na citada Constituição apostólica, valorizando o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40).

A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Santo Agostinho, que conhecia bem as próprias inclinações negativas e as definia «nó complicado e emaranhado» (Confissões, II, 10.18), no seu tratado A utilidade do jejum, escrevia: «Certamente é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe; castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para alcançar o agrado da sua doçura» (Sermo 400, 3, 3: PL 40, 708). Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus.

Ao mesmo tempo, o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?» (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Precisamente para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos, encorajo as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola. Foi este, desde o início o estilo da comunidade cristã, na qual eram feitas colectas especiais (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27), e os irmãos eram convidados a dar aos pobres quanto, graças ao jejum, tinham poupado (cf. Didascalia Ap., V, 20, 18). Também hoje esta prática deve ser redescoberta e encorajada, sobretudo durante o tempo litúrgico quaresmal.

De quanto disse sobressai com grande clareza que o jejum representa uma prática ascética importante, uma arma espiritual para lutar contra qualquer eventual apego desordenado a nós mesmos. Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana. Exorta oportunamente um antigo hino litúrgico quaresmal: «Utamur ergo parcius, / verbis, cibis et potibus, / somno, iocis et arcitius / perstemus in custodia – Usemos de modo mais sóbrio palavras, alimentos, bebidas, sono e jogos, e permaneçamos mais atentamente vigilantes».

Queridos irmãos e irmãos, considerando bem, o jejum tem como sua finalidade última ajudar cada um de nós, como escrevia o Servo de Deus Papa João Paulo II, a fazer dom total de si a Deus (cf. Enc. Veritatis splendor, 21). A Quaresma seja portanto valorizada em cada família e em cada comunidade cristã para afastar tudo o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma abrindo-a ao amor de Deus e do próximo. Penso em particular num maior compromisso na oração, na lectio divina, no recurso ao Sacramento da Reconciliação e na participação activa na Eucaristia, sobretudo na Santa Missa dominical. Com esta disposição interior entremos no clima penitencial da Quaresma. Acompanhe-nos a Bem-Aventurada Virgem Maria, Causa nostrae laetitiae, e ampare-nos no esforço de libertar o nosso coração da escravidão do pecado para o tornar cada vez mais «tabernáculo vivo de Deus». Com estes votos, ao garantir a minha oração para que cada crente e comunidade eclesial percorra um proveitoso itinerário quaresmal, concedo de coração a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 11 de Dezembro de 2008.

BENEDICTUS PP. XVI