Carta de um Arcebispo a uma comunidade “Progressista” [2008]

[Publicação original: 15 de dezembro de 2008]

Carta de um Arcebispo

[traduzida daqui]
Casa do Arcebispo
790 Brunswick Street
New Farm
Australia

22 Agosto de 2008

Rev. Padre P. Kennedy,
administrador da Paróquia de Santa Maria (St. Mary’s Parish)
20 Merivale Street
South Brisbane

Caro Peter e comunidade,

Obrigado por suas cartas. Tenho recebido uma grande quantidade de correspondência a respeito de St. Mary’s, pedindo para que a paróquia não fosse fechada. A questão para mim não é tanto se St. Mary’s deve ser fechada, mas se St. Mary’s vai fechar a si própria através de práticas que a separam da comunhão com a Igreja Católica Romana.

Há muito que se admirar em St. Mary’s, especialmente sua paixão pela justiça social. Eu acho isso inspirador. No entanto, os problemas em St. Mary’s não são tanto sobre justiça social, tema importante como é, mas sobre a comunhão de St. Mary’s com a Igreja Católica Romana, com a qual ela está ligada e para a qual foi fundada. Este problema da sua comunhão surgiu somente nos últimos anos. Eu falei sobre ele em uma carta ao senhor no dia 19 de julho de 2004. A controvérsia naquela época era a respeito da prática de administração do Batismo em St. Mary’s, mais tarde declarado inválido por um decreto da Congregação para a Doutrina da Fé de 2008 .[Nota do VS: Esta foi uma das paróquias cuja prática resultou neste documento da CDF). Infelizmente, minha carta de 2004 sobre esta questão da comunhão com a Arquidiocese foi largamente desprezada pela paróquia e suas lideranças como não importante, talvez até ridícula. A mais recente acusação contra St. Mary’s refere-se à colocação de uma estátua budista na Igreja, junto com questões sobre a ortodoxia de suas orações eucarísticas e a administração da Eucaristia.

Uma estátua budista numa Igreja ou Santuário Católico simplesmente não faz sentido. Sua presença, entretanto, de nenhuma maneira justifica a utilização de violência para destruí-la. Não obstante, somente uma imprudência extrema poderia colocar uma estátua budista numa Igreja Católica. Não importa onde ela esteja, há total possibilidade de que ela desperte sentimentos de fúria, particularmente entre cristãos de diferentes culturas religiosas.

Entretanto, o incidente da estátua é apenas um exemplo de prática inapropriada na paróquia. St. Mary’s parece ser a sua própria autoridade. A despeito do bem que faça, ela se coloca fora das práticas da Igreja Católica. Conseqüentemente, nós podemos muito bem perguntar: é ela uma paróquia em comunhão com a Igreja Católica, ou uma comunidade em cisma? Não há duvidas de que St. Mary’s promove um forte senso de comunidade, mas o mesmo fazem muitas outras comunidades como Hillsong em Sydney, que acolhe a todos e se achega aos pobres, mas visivelmente não está em comunhão com a Igreja Católica Romana.

Mais uma vez, eu gostaria de indicar algumas matérias que rompem a comunhão com a Igreja Católica Romana:

1 – A questão de Fé

Os católicos acreditam em um Deus Trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Nosso Deus é um Deus de amor. As pessoas da Trindade vivem em uma comunhão de mútuo amor. Tão grande é o amor dentro da Trindade que ele transborda na Segunda Pessoa da Trindade, que se faz homem e vive entre nós como Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador, único mediador da nossa Salvação. Em St. Mary’s, Jesus Cristo é aceito como Senhor e Salvador, como Filho de Deus, ou é Jesus considerado apenas como outra pessoa sagrada como Buda ou Maomé? Certamente, em tais circunstâncias, a colocação de uma estátua budista em uma Igreja Católica provoca extrema confusão. Em St. Mary’s há uma forte ênfase em Jesus como profeta da justiça social, como campeão dos pobres e necessitados, o que é bom. Mas é dada uma ênfase igual a Jesus como amante do Pai e homem de oração, que em Lucas 5,16 deixa pessoas doentes e sofridas para retirar-se e orar ao Seu Pai, tão importante é a “vontade do Pai”? O Papa Bento XVI escreveu em 2004: “A primazia do culto é o pré-requisito fundamental para a redenção de todos os homens”. Hoje em dia, freqüentemente é dada muito pouca atenção a Deus e ao culto, e muita atenção à ação, importante em si mesma, mas necessitada de estar absolutamente ligada à oração e ao culto. Hoje, em nosso mundo secular, nunca houve uma grande necessidade de se entender Jesus e Sua visão. Infelizmente, hoje o aspecto mais excitante da visão cristã dificilmente é entendido pelos cristãos. É impressionante o número de pessoas que se satisfazem perguntando “o que Jesus faria?”. Somente pessoas muito humildes e santas aceitariam responder a esta questão e, se elas o fizessem, seria com a maior cautela. É impressionante como algumas pessoas têm certeza de que sabem o que Jesus faria, ao mesmo tempo em que neglicenciam 2000 anos de sabedoria do Espírito Santo disponível na Igreja.

2 – A questão da Liturgia

Decisões “ad hoc” foram tomadas em St. Mary’s a respeito da Liturgia, com certeza nos Sacramentos do Batismo, da Confirmação e do Matrimônio, e especialmente no Sacramento da Eucaristia. A respeito do Batismo, eu ainda não estou certo de que, mesmo agora, o ritual válido seja sempre utilizado. Foi sugerido que pedidos ainda podem ser feitos para a utilização de diferentes formas, de acordo com o desejo dos envolvidos. Outrossim, o Sacramento do Matrimônio às vezes despreza completamente os requisitos normais da Igreja para a validade. Alguns casamentos parecem acontecer sem o menor respeito à Lei Canônica.

No Sacramento da Eucaristia, membros da assembléia parecem recitar as palavras da Consagração, que dentro de um ortodoxo rito Católico devem ser ditas somente pelo ministro ordenado. As orações eucarísticas aprovadas pela Igreja são completamente desprezadas, em favor de orações selecionadas aleatoriamente.

3 – A questão de Governo

Padre Petter Kennedy tem sido administrador de South Brisbane por muitos anos. Ele foi indicado legitimamente pela Arquidiocese. Padre Terry Fitzpatrick nunca foi indicado para St. Mary’s. Ele é um padre da Diocese de Toowoomba que se apossou da paróquia de St. Mary’s no início dos anos 90 com a aprovação dos paroquianos. Ninguém nega que ele tenha praticado o bem, mas em nenhum momento ele foi indicado oficialmente para St. Mary’s pela Arquidiocese de Brisbane. A despeito de sua falta de autoridade, em numerosas ocasiões ele falou à mídia sobre St. Mary’s como se fosse o pároco. Como eu falei em minha carta de 19 de julho de 2004, St. Mary’s tende a ser “congregacional em governo e em cultura”. Ela não parece ser conduzida por um líder apontado oficialmente como as paróquias católicas geralmente o são. A relutância de seus padres em serem vistos como ministros liturgicamente ordenados, diferentes dos membros leigos de sua congregação, parece ser outro indicativo de sua recusa em aceitar qualquer diferença entre os membros ordenados e os não-ordenados. A estrutura pastoral da Igreja Católica foi desenvolvida ao longo de milhares de anos. E ela certamente não é baseada em liderança congregacional.

4 – A questão da Autoridade

A Igreja Católica Romana tem uma certa estrutura que precisa ser respeitada. Às vezes, o seu poder pode ser abusado. Ao mesmo tempo, o reconhecimento da autoridade e do Magistério da Igreja é necessário para a comunhão com a Igreja. A autoridade da Igreja brota em última instância de Jesus, a Palavra de Deus, que entregou a Sua autoridade para os Apóstolos. A Tradição Apostólica, que perpetua a autoridade de Jesus, é expressa através do Papa junto com os Bispos da Igreja. Rejeitar deliberadamente esta autoridade apostólica é colocar-se fora da comunhão com a Igreja Católica Romana.

Na verdade, St. Mary’s de South Brisbane tomou uma paróquia católica e estabeleceu lá sua própria marca de religião. Indubitavelmente ela pratica o bem, ela promove um forte senso de comunidade, abre suas portas para todos os que desejam vir, mas o seu estilo próprio de culto e administração sacramental dificilmente pode ser descrito como Católico Romano. Como tal, ela está fora da comunhão com a Arquidiocese Católica Romana de Brisbane e com a Igreja Católica Romana Universal sob a liderança do Bispo de Roma.

Minha autoridade como Arcebispo da Arquidiocese de Brisbane é escassamente reconhecida pela paróquia de St. Mary’s. Não é fora de propósito considerar que, em St. Mary’s, sempre houve criticismo contra o Papa João Paulo II. Se tal criticismo aos Papas amplia-se ainda mais, eu não sei. Um criticismo básico contra a Igreja ainda parece florescer em sua comunidade. Desde o tempo de São Pedro e Judas, a Igreja nunca repudiou a humanidade. Não obstante a fraqueza de alguns dos seus membros e algumas vezes de seus líderes, não há outro caminho para encontrar Jesus que não seja a Igreja. As palavras de São Pedro ditas a Jesus (Jo 6, 68), quando parecia que os Apóstolos iam abandoná-lo, foram: “Senhor, para quem iremos? Só tu tens palavras de Vida Eterna”. A despeito de suas culpas e falhas, os católicos sabem que o lugar de encontro supremo com Jesus é na Igreja. Entre as cartas escritas a mim nesta semana, uma delas disse muito claramente que St. Mary’s acredita que “é a Igreja Institucional no mundo moderno, e não St. Mary’s, que está em descompasso com o que Jesus falou e o exemplo que Ele deu”. É precisamente aqui que repousa o problema. St. Mary’s parece reivindicar para si própria isoladamente uma autoridade e autenticidade que pretencem somente à Igreja Católica Romana inteira. Quando a paróquia de St. Mary’s foi estabelecida originalmente, ela estava em comunhão com a Arquidiocese, com a Igreja Católica Romana, e com a multidão de paróquias que, juntas, formam a comunhão desta Arquidiocese. Infelizmente esta comunhão de St. Mary’s com a Igreja parece não existir mais. St. Mary’s existe independentemente da Arquidiocese. Minha esperança é que St. Mary’s coloque-se novamente em comunhão com a Igreja Católica Romana à qual ela esteve originalmente ligada e na qual ela se rejubilou. Agora, só depende de St. Mary’s tomas quaisquer decisões que sejam necessárias à sua existência futura. Vou rezar para que estas decisões sejam tão sábias no presente quanto o foram no passado. E rezarei também para que Maria, a Mãe de Jesus, em homenagem a quem St. Mary’s é nomeada, possa interceder a fim de que a sabedoria do Espírito Santo de Deus desça sob a Sua paróquia.

Sinceramente em Cristo,

+ John Bathersby
Arcebispo de Brisbane

Se Obama fosse Papa

Comento com um pouco de atraso, mas comento: Hans Küng – “um dos teólogos católicos mais importantes da atualidade”, segundo uma notícia publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – saiu nos últimos dias com uma das idéias mais estapafúrdias que eu já vi no clero católico: “se Obama fosse Papa”, artigo publicado na Adital. Como muito acertadamente comentou um amigo meu, é a maior concentração de clichês contra a Igreja por centímetro quadrado de texto que se poderia encontrar.

A Montfort classificou o texto como “o programa de um Papa Anti-Cristo”; não deixa de ter razão, porque o artigo de Küng é tão estranho à Doutrina Católica que provoca náuseas…

Logo no início, a comparação do Papa Bento XVI com George W. Bush é um grande elogio dirigido ao ex-presidente dos Estados Unidos: Tanto Bush quanto Ratzinger não conseguem aprender nada em matérias de controle de natalidade e aborto, não são propensos a implementar quaisquer reformas sérias, são arrogantes e sem transparência na forma como exercem os seus cargos, restringindo liberdades e direitos humanos.

A última parte da frase é calúnia barata – a menos que o pe. Küng entenda que o aborto é uma “liberdade” e um “direito humano”; afinal, a Igreja Católica é a maior – ou melhor, é a Única – defensora integral da liberdade do homem e dos direitos humanos em sua plenitude e no seu verdadeiro sentido. A que liberdade maior do que a dos filhos de Deus os homens podem aspirar? Quais direitos humanos podem ser mais sólidos e verdadeiros do que aqueles alicerçados sobre a dignidade intrínseca do ser humano que – ainda pecador – é criado à imagem e semelhança de Deus? Não dá para entender as acusações baratas do pe. Küng, que são o oposto mesmo da verdade… afinal, são as ideologias “modernas” que são inimigas da liberdade e dos direitos humanos, e a Igreja de Cristo sempre esteve vigilante, intrépida, fazendo oposição a todas elas e proclamando bem alto o fim último ao qual os homens são chamados. Pobres são as ideologias que estão voltadas para esta terra; enquanto isso, a Igreja acena para o Céu.

Sugere o pe. Küng que o Papa deveria convocar “um concílio ecumênico para promover a mudança de rumo”. A idéia traz uma confissão interessante: é eloqüente que, para os modernistas, o Vaticano II não seja suficiente. É revelador que a Igreja “precise” de um Novo Concílio para que execute a Sua “mudança de rumo”; o que nos deixa entrever que, portanto, a mudança de rumo almejada ainda não aconteceu. Na verdade, o pe. Küng apresenta-se como um exemplo vivo daquilo que o Santo Padre já falou no seu discurso à Cúria Romana no natal de 2005:

A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio.

Seriam o resultado de compromissos em que, para alcançar a unanimidade, foi necessário arrastar atrás de si e confirmar muitas coisas antigas, já inúteis. Contudo, não é nestes compromissos que se revelaria o verdadeiro espírito do Concílio mas, ao contrário, nos impulsos rumo ao novo, subjacentes aos textos: somente eles representariam o verdadeiro espírito do Concílio, e partindo deles e em conformidade com eles, seria necessário progredir.

Diz exatamente isso o teólogo que queria que Obama fosse Papa: é necessário progredir, é necessário convocar um novo concílio. Podemos assim notar como as palavras do Papa à Cúria Romana fulminam precisamente as propostas do teólogo suíço; e é igualmente revelador que, mais de três anos após a condenação de Bento XVI à “hermenêutica da descontinuidade”, Hans Küng venha a público propôr precisamente esta hermenêutica condenada…

O resto do artigo é um monte de blá-blá-blá, mostrando o “contraste deprimente” entre o presidente dos Estados Unidos e o Chefe da Igreja Católica. Na verdade, de todo este palavrório, é possível perceber que Hans Küng odeia a Igreja à qual pertence e para a qual foi ordenado sacerdote: preferiria uma igreja “aberta ao mundo”, uma igreja de “rumos mudados”, uma igreja “democrática”, e uma igreja que, em virtualmente tudo, é o contrário da Igreja fundada por Nosso Senhor. Não entendo como este péssimo teólogo é ainda considerado como referência para alguma coisa e ainda encontra espaço na mídia – ou, na verdade, até entendo: porque Satanás não dorme, e asinus asinum fricat, e os inimigos de Deus estão sempre ávidos por encontrar munição para os seus maus propósitos e a sua guerra contra a Igreja de Jesus Cristo. Mas non praevalebunt; afinal, passarão céus e terra, passarão modernistas e TLs, passarão veículos de mídia irresponsáveis, passarão teólogos suíços hereges, e a Igreja permanecerá tal e qual sempre esteve, qual Esposa Fiel que é, à espera de Nosso Senhor.

As coisas que não mudam [2006]

[Publicação original: 01 de fevereiro de 2006]

As coisas que não mudam

“Porque eu sou o Senhor e não mudo”. (Ml 3,6a)

É fato facilmente verificável por qualquer um – embora, muitas vezes, possa passar despercebido por muitos – que o mundo moderno idolatra o “Progresso”. Essa idéia de que a História caminha numa “evolução”, sempre para um estado cada vez melhor; essa idéia de que as coisas estão em contínuo melhoramento; essa idéia de que mudanças são sempre necessárias, pois as coisas que não mudam levam o mundo à estagnação e à morte; essa idéia de que as coisas precisam ser constantemente “atualizadas”, porque as coisas “antigas” estão sempre “ultrapassadas” e “não servem mais”; enfim, essas idéias todas conseguem penetrar nas pessoas quase que por osmose, quase que pela força, num bombardeio diuturno feito pelos mais diversos meios. E o homem moderno, sufocado que está por todas essas idéias que lhe são atiradas por todos os lados, muitas vezes é condicionado a tomá-las para si, sem nem perceber que o está fazendo. É condicionado a “pensar” assim, sem nem se perguntar por que o faz.

E essas idéias todas são inimigas da Religião. Existem coisas que não mudam, e essas coisas são exatamente o que há de importante neste mundo, o que o homem deve conseguir, aquilo de que o homem precisa. Deus não muda. E, quando um católico adota – às vezes sem o perceber – essas idéias das quais estamos falando, ele se coloca numa posição difícil e estranha.

Deus não muda. E existe, dentro do homem, uma sede de Deus: nos conhecidos dizeres de Santo Agostinho, Deus criou-nos para Ele, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa n’Ele. Deus é o fim último do homem, é aquilo que ele deseja com todas as suas forças, é aquilo a que ele deve aspirar. Mas Deus não muda. E o que acontece quando o homem, que deveria aspirar às coisas que não mudam, é ensinado a pensar que as coisas precisam sempre mudar, e está absolutamente convencido (sim, essa contradição é possível e empiricamente verificável) disso?

Acontece que o homem perde o rumo. Desvia-se da sua meta, às vezes por não a reconhecer como tal (os que rejeitam manifestamente a Religião), às vezes por “inventar” outros caminhos – novos caminhos – para chegar até ela (uma estranha espécie de católico).

Cito um exemplo para ilustrar esse segundo caso. Durante séculos, o homem foi ensinado a passar das coisas sensíveis às realidades invisíveis, a subir do visível ao inefável. Esse é, aliás, um dos objetivos da Liturgia: conduzir, por meio dos sentidos, o homem às realidades superiores, que escapam à percepção humana. Deus não muda, mas os homens, na sua realidade temporal, mudam. Cumpre “contradizer”, de alguma forma, isso que os homens percebem ao investigar o mundo.

Há uma música bonita de Suely Façanha que expressa bem isso:

A cada passo descobrir
Que o tempo esconde o que é Eterno.
E que tu és o sentido,

Ó meu Senhor,
De tudo!

Essa frase – o tempo esconde o que é Eterno – resume o que estou dizendo. O homem aspira ao Eterno, mas o tempo O esconde. O que é preciso fazer? Evidenciar, de alguma forma, esse Eterno. Chamar a atenção para as coisas que não mudam.

E chamar a atenção para as coisas que não mudam é exatamente um dos propósitos da Liturgia, em particular da Santa Missa. Essa deve exprimir, de maneira tão perfeita quanto possível, a Realidade que o homem precisa conhecer, a Realidade Imutável.

Só se pode amar aquilo que se conhece. Como os homens podem amar as coisas que não mudam, se são doutrinados a pensar que todas as coisas precisam mudar? Como os homens podem conhecer o que é Eterno, se este se esconde por trás do Tempo, e se as coisas que deveriam conduzir o espírito ao Eterno estão, também, impregnadas desse pensamento de que “tudo precisa mudar”?

Como o homem pode aprender a amar as coisas que não mudam, se ele é ensinado a odiá-las? Na Santa Missa, expressão máxima da Fé Cristã, que devia – insisto – conduzir a alma humana à contemplação do Imutável, o que aprendem os católicos? Que as missas são “monótonas” se forem sempre iguais. Que é necessário, num dia, dar uma bênção às carteiras de trabalho; n’outro, vestir-se de vermelho; n’outro, vestir-se de verde-e-amarelo e subir ao Altar cantando o Hino Nacional; n’outro, levar garrafas d’água para serem abençoadas e aspergir a casa; n’outro, abençoar as chaves de casa, do carro, et cetera, et cetera, et cetera. Num dia é necessário cantar tais e tais músicas, n’outro dia essas músicas estão ultrapassadas e é necessário cantar tais e tais outras, no outro dia ninguém agüenta mais essas músicas e o padre deveria deixar que cantássemos os últimos sucessos dos Ministérios de Música que existem! Como os católicos podem ser levados a amar as coisas que não mudam, se são condicionados, no mundo e – lamentavelmente – nas igrejas a idolatrarem o Progresso?

Deus não muda – como diz a epígrafe desse texto. E somos levados a esquecer essa verdade. Até quando…? Hoje em dia, especialmente, é difícil manter os olhos fitos no Eterno, porque mudam as coisas que deveriam nos levar a amar o que não muda. Que Maria Santíssima, inimiga de todas as heresias, possa nos livrar desse erro tão pernicioso e tão disseminado ao nosso redor, nesses tempos de Trevas. E que a Luz não tarde a resplandecer.

“Minha alma está muito perturbada; vós, porém, Senhor, até quando?…”(Sl 6,4)

A paz e as bênçãos de Deus.

Parecer – Estado Laico e Capelães

Si non è vero, è bene trovato: trata-se de um parecer da Xª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, sobre um militante laicista maluco que dizia que, pelo fato do Brasil ser um Estado Laico, vagas de capelães para o Corpo de Bombeiros não poderiam ser abertas, “porque isso discrimina outras religiões e também os ateus”.

Recebi de uma amiga; a data é 1º de abril de 2008, coisa que só percebi depois e me fez questionar se não seria uma brincadeira. No entanto, dada a situação de insensatez atual dos nossos dias, é verossímil – forçoso reconhecer! Se alguém puder confirmar, eu ficaria bastante grato.

Clique aqui para baixar a íntegra do parecer. Excerto:

Falando em nome dos ateus – menos de 1% da população brasileira, segundo o órgão público IBGE, este, laico a mais não poder –, o autor popular clama que eles “são cidadãos em direitos e deveres como qualquer cristão”, o que nunca foi infirmado por ninguém. Ecce homo: o ponto derradeiro da peça inicial, quando se fala em “crença dos ateus”. A crença dos ateus – a certeza de que Deus não existe – levaria à hipótese de abertura de vaga em concurso para capelão ateu, o que é impossível, porque isso simplesmente não existe. Seria como concurso para professor analfabeto ou tradutor simultâneo surdo. Só Santo Anselmo entende o autor popular: fides quaerens intellectum; credo ut intelligam. O milenarismo laico está com os dias contados. Quantos se salvarão?

Certamente o autor popular não gosta da idéia de pagar salário de profissionais cristãos. Ele deve achar que ninguém é obrigado a ser cristão, e nisso está coberto de razão. Mas ser cristão é um direito, e não ser obrigado à conversão ao ateísmo também — e essas obviedades ele já não percebe.

Marchinhas de Carnaval [2007]

[Publicação original: 17 de setembro de 2007]

Marchinhas de Carnaval

“A nossa vida é um carnaval,
a gente brinca, escondendo a dor;
e a fantasia do meu ideal
é você, meu amor!”

Isso é uma música de carnaval. Eis uma festa que sempre exerceu em mim um fascínio espetacular! Ela sempre me pareceu ter algo de bastante paradoxal. De fato, se existe um tema recorrente nas marchinhas de carnaval é essa dicotomia entre a felicidade e a tristeza, entre o sonho bom e a dura realidade. O carnaval é uma festa que subsiste na tensão entre o Sábado de Zé Pereira e a Quarta-Feira de Cinzas; entre a felicidade sem limites momentânea que ele oferece, e a dura consciência de que o tempo caminha, inexorável, rumo às cinzas da quarta-feira. A sua alegria é meticulosamente delimitada no tempo.

A euforia do carnaval é permeada pela tristeza da quarta-feira de cinzas! Isso está presente nas músicas que são características desse período; quando não há referência explícita ao fim do Carnaval (“É de fazer chorar / Quando o dia amanhece / e obriga o frevo a parar… / Oh, Quarta-Feira ingrata, / chega tão depressa / só pra contrariar!”), há as histórias dos amores impossíveis de Colombinas e Arlequins (“Quanto riso, ah, quanta alegria / – mais de mil palhaços no salão! / Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / no meio da multidão…”), ou ainda de paixões passageiras (“Mas é carnaval, / não me diga mais quem é você… / Amanhã tudo volta ao normal!”)… não importa. As marchinhas de Carnaval, para serem boas, precisam ser tristes, porque o carnaval tem, intrinsecamente, a tristeza de ser passageiro.

E é precisamente este paradoxo do carnaval – a tristeza na alegria – que sempre me encantou. Os prazeres do mundo são tentadores, bem o sabemos; mas vejam que espécie estranha de tentação! Um prazer que se diz expressamente passageiro… uma alegria que carrega, em si, a tristeza da própria efemeridade. Quem é que vai se enganar, tomando como absoluto um prazer que se define, repetidamente, como limitado?

Mas, se olharmos um pouco melhor, veremos aí a malícia da tentação! Pois, note-se bem: uma coisa é escolher algo mau, mas que está “revestido” de uma roupagem boa, capaz de enganar. E outra coisa, bem diferente e bem pior, é gostar do algo mau sabendo ser ele mau, despido daquilo que pode enganar um incauto. Coisa lamentável é entregar-se a um bem menor sem avaliar corretamente as suas (reduzidas) dimensões; coisa muito mais lamentável é entregar-se a este bem menor conhecendo exatamente o seu parco tamanho! Ah, o carnaval pode parecer bem pouco enganoso, para quem gosta de escutar marchinhas… mas como é pior o abismo que ele abre, como é tão mais desgraçado quem nele cai, precisamente por causa da falta de engano… precisamente pela verdade revelada nua e crua!

E esta visão de mundo carnavalesca é o extremo oposto da visão de mundo cristã. Os católicos vivem num “vale de lágrimas”, num mundo de sofrimentos, sabendo todavia que esta vida é curta e que, sofrendo bem neste mundo, poderemos gozar um dia da Bem-Aventurança celeste que não tem fim. O carnaval é um “vale de prazeres”, onde se deve aproveitar bem a festa que é curta, porque depois voltará a tristeza do quotidiano…

A festa curta do carnaval, que deve ser aproveitada, porque o futuro é só tristeza… As lágrimas do dia-a-dia enquanto caminhamos nesta curta vida, que devem ser choradas, porque o futuro é a Glória da Vida Eterna! Uma perfeita correspondência antitética! Eis aí a tentação de Momo!

“Vê, Colombinas azuis a sorrir, lá-láiá…
Vê, serpentinas na luz reluzir…
Vê os confetes do pranto no olhar
desses palhaços dançando no ar!

Vê, multidão colorida a gritar, lá-laiá…
Vê, turbilhão desta vida passar…
Vê os delírios dos gritos de amor
nesta orgia de sol e de dor!”

Se nos for permitido tomar catequese do carnaval, que peguemos (como um exemplar da sua filosofia) esta música, e a entendamos do jeito certo: não gastemos os nossos dias vendo o turbilhão desta vida passar! Sim, a vida passa depressa, como um turbilhão – como nos ensina a Doutrina da Igreja – e importa que cuidemos com zelo do pouco tempo que nos é dado, a fim de não o vermos simplesmente passar! Como nos diz o finalzinho daquele soneto de Frei Antônio das Chagas:

“Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis vosso tempo em passatempo!
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.

Pois aqueles que, sem conta, gastam o tempo,
quando o tempo chegar de prestar conta,
chorarão, como eu, o não ter tempo.”

Permita-nos Deus cuidar bem do nosso tempo; para que não aconteça de, arrastados pelo turbilhão da vida, chorarmos depois o ter ela passado tão depressa!

A Princesa Isabel – Dom Luiz de Orleans e Bragança

[Fonte: Brasil Imperial]

A Princesa Isabel – 160 anos

Palestra de S.A.I.R o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança
16 de agosto de 2006 – sede da Pró Monarquia

Atendi com muito prazer ao amável convite para falar às senhoras e aos senhores sobre minha bisavó, a princesa Isabel, de memória tão marcante, que até o fim da vida soube representar aquilo que ela era, uma princesa brasileira, carinhosamente lembrada como a “Redentora” dos escravos.

Direi inicialmente algo sobre o contexto histórico, abordando a questão da escravidão, e pouco a pouco irei introduzindo a Princesa Isabel, para apresentar a personalidade dela, sua atuação, comentando o que ela poderia ter sido para o Brasil, se houvesse reinado como Imperatriz – o modelo de grande dama brasileira.

O problema da escravidão existiu desde quase o começo da Humanidade. Na Antiguidade, estima-se que só 10 por cento dos homens eram livres. 90 por cento constituía a enorme massa de escravos que não tinham direito algum. Os senhores podiam fazer deles o que quisessem: vender, matar, mutilar; usar como cobaia; fazer os piores horrores que se possam imaginar. As uniões, os casamentos dos escravos podiam ser desfeitos ao bel prazer do senhor. Eram tratados como animais.

A Igreja Católica, com a conversão do Império Romano do Ocidente, se empenhou em eliminar pouco a pouco a escravidão. Ela não o fez de uma só vez, pois causaria tais sobressaltos, que seria um perigo para a sociedade e para os Estados. Eu cito aqui um texto de Leão XIII, uma encíclica de 5 de maio de 1888: “Não quis a Igreja apressar-se em obter a emancipação e a libertação dos escravos, posto que isso não podia realizar-se sem alvoroço e sem prejuízo para eles próprios e para as nações, mas preocupou-se principalmente por que fossem as almas dos servos instruídas, conforme as suas capacidades, na religião cristã e que estes adotassem costumes em concordância com o batismo recebido”.

Quer dizer, a Igreja primeiro tratou das almas. Primeiro tratou das mentalidades. Depois, pouco a pouco, foi erodindo a instituição da escravidão. Leão XIII continua: “Pacificadas depois as coisas, e tranqüilos os tempos para a Igreja, os ensinamentos apostólicos sobre a união fraternal dos espíritos entre os cristãos foram expostos com admirável sabedoria pelos Santos Padres e aplicados com igual caridade em defesa dos escravos, esforçando-se em refutar que o direito dos senhores sobre o trabalho dos escravos fosse de absoluta honestidade; e que, sobretudo, fosse de modo algum lícito ao seu poder imperioso e à sua cruel sevícia atentar contra suas vidas”.

A partir de Carlos Magno, que reinou de 760 a 815, no Ocidente a escravidão praticamente desapareceu. No século 9º, segundo o autor americano Rodney Stark em seu livro “A Vitória da Razão”, a escravidão deixou de existir na Europa. Vou citá-lo: “A escravidão acabou na Europa medieval somente porque a Igreja estendeu seus sacramentos a todos os escravos e depois trabalhou para impor a proibição da escravidão de cristãos e de judeus. No contexto da Europa medieval, essa proibição foi de modo efetivo, uma lei de abolição universal”. Continuou a haver escravidão no mundo islâmico, onde, conforme explica o autor, “há uma única e insuperável barreira para a condenação da escravidão: Maomé comprou, vendeu, capturou e possuiu escravos”.

Hoje em dia, no Islã, ainda há escravos. Isso não é contado na mídia em geral, mas há escravidão, e uma boa parte do problema da Somália e daqueles países do leste da África provém do fato de que os maometanos procuram escravizar os cristãos e torná-los seus animais de serviço.

Na Antiguidade, explica esse autor, o conceito de liberdade não existia. Só havia o conceito de sujeição. O conceito de liberdade foi introduzido no Ocidente pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Paulatinamente a escravidão foi sendo substituída por um regime muito mais suave, que hoje em dia é demonizado, mas que de fato era completamente diferente da escravidão – a servidão da gleba. O servo da gleba era alguém que recebia de um senhor um pedaço de terra e era obrigado a cultivá-la. Cultivá-la para seu proveito. Podia se casar. Podia legar essa gleba. Podia juntar um pecúlio. Podia, se quisesse, deixá-la, embora a perdesse se a deixasse. Tinha unicamente que dar um dia da semana de trabalho ao senhor. Um dia da semana de trabalho por semana corresponde a um sexto do que ele trabalhava.

Eu pergunto às senhoras e aos senhores: hoje em dia, com mais de 38 por cento do PIB do Brasil absorvido pelo Estado, quem tem uma sorte mais cruel: o servo da gleba da Idade Média, ou nós, pobres cidadãos livres de uma república democrática? Não há comparação possível!

Os senhores tinham obrigações para com seus servos. Tinham que administrar a justiça e ajudá-los em casos de penúria ou calamidade. O castelo era, por assim dizer, o celeiro de toda a comunidade, onde se guardavam os grãos para as épocas de más colheitas.

O senhor tinha obrigação de proteger seus servos em caso de ataques de inimigos. E os servos só podiam ser chamados às armas se o seu torrão fosse atacado. Eles não podiam ser recrutados, de maneira compulsória, para acompanhar seu senhor numa guerra contra outro senhor ou numa guerra externa. Não havia o que só surgiu nos séculos 19 e 20 – o serviço militar obrigatório. Os servos eram livres.

Em Portugal não houve servidão da gleba. Passou-se da escravidão diretamente para o regime do senhorio, com camponeses livres. Na Espanha também não havia. Só na Catalunha houve feudalismo, e portanto servos da gleba. No resto do país, não os houve. Mesmo a servidão da gleba na Catalunha foi abolida em 1486, por Fernando o Católico.

No século 15, na França, a servidão da gleba já havia desaparecido completamente. Na Alemanha, estava sendo abolida nas províncias mais do sul, continuando ao leste. No leste europeu – eu incluo a Áustria, a Hungria, a Checoslováquia – um pouco, mas muito mitigada sempre pelo trabalho da Igreja. Na Polônia, e principalmente na Rússia, a servidão da gleba se prolongou por mais tempo.

Com a Renascença voltou a escravidão. Por que voltou?

O homem medieval era profundamente religioso. Ele tinha a noção de que sua finalidade principal era servir a Deus, amando-o sobre todas as coisas, e ter amor ao próximo por amor de Deus. Em conseqüência, ficou muito facilitado o trabalho da Igreja pela abolição da escravidão e da servidão. Entretanto, na Renascença voltou a aparecer o ideal de felicidade pagã do gozo da vida.

Como diz muito bem o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução, na Renascença voltou o ideal de vida de satisfazer o orgulho e a sensualidade, como os antigos romanos, os antigos gregos, os antigos egípcios. E com isso o egoísmo, o antropocentrismo substituiu o teocentrismo medieval. E o homem, por via de conseqüência, voltou a ser o lobo do próprio homem. O gozo da vida era para ser alcançado a qualquer preço, a qualquer custo, passando por cima dos direitos, das conveniências. A Renascença foi uma volta colossal do paganismo antigo, com todas as suas abominações.

É verdade que, pela ação da Igreja, o Cristianismo ainda tinha raízes muito profundas, que continuaram até nossos dias, embora se erodindo pouco a pouco, como é magistralmente bem descrito no referido livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Mas voltaram várias aberrações.

A América foi a região onde espanhóis e portugueses encontraram pretexto para restaurar a escravidão. Muitos afirmavam que os índios e os negros não tinham alma, e que portanto eram verdadeiros animais. Entretanto a Igreja, desde o começo, se levantou contra isso.

Carlos V consultou o Papa Paulo III sobre se era lícito escravizar os índios. E a resposta de Paulo III é lapidar. Na bula de 9 de junho de 1537 ele afirma: “A mesma verdade, que nem se pode enganar nem ser enganada, quando mandava os pregadores de sua Fé a exercitar esse ofício, sabemos o que disse: Ide e ensinai a todas as gentes.A todas disse, indiferentemente, porque todas são capazes de receber a doutrina de nossa Fé. (…) Sob pretexto de que são incapazes de recebê-la, os põem em dura servidão, e os afligem e oprimem tanto, que ainda a servidão em que têm seus animais apenas é tão grande com que afligem a esta gente. Nós outros, pois, que ainda que indignos temos as vezes de Deus na terra e procuramos com todas as forças achar suas ovelhas, que ainda estão perdidas fora de seu rebanho, para levá-las a ele, pois este é nosso ofício; conhecendo que aqueles mesmos índios, como verdadeiros homens, não somente são capazes da fé de Cristo, senão que acodem a ela, correndo com grandíssima prontidão, segundo nos consta; e querendo promover nestas cousas de remédio conveniente, com autoridade Apostólica, pelo teor das presentes, determinamos, e declaramos, que os ditos índios, e todas as mais gentes que daqui em diante vierem à notícia dos cristãos, ainda que estejam fora da Fé de Cristo, não sejam privados, nem devem sê-los, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e que não devem ser reduzidos à servidão. Dada em Roma, ano de 1537, aos 9 de julho, ano terceiro de nosso pontificado”.

Fechou a questão. Roma locuta, causa finita. Uma linguagem que dá saudades!

A Igreja, apesar de tudo, tolerou a escravidão dos negros. Por sua doutrina, ela fazia com que eles fossem mais bem tratados aqui na América do Sul e na América Central. Muito mais bem tratados que entre os pagãos. Ela batizou os negros aqui trazidos. Casava-os segundo o rito católico. Empenhava-se para que os casais não fossem separados, e eles escapavam – foi essa a razão que levou a Igreja a tolerá-la – a uma sorte muito mais cruel, se permanecessem como escravos na África.

A partir de fins do século 17 e durante o século 18, os territórios portugueses da África foram governados pelos vice-reis do Brasil. Portanto, tudo que se tratava em África passava primeiro pelo Brasil. D. João VI mandou o padre Vicente Pereira Pires, um baiano, como enviado junto ao rei do Daomé, para fazer uma aliança, um tratado. O que ele relata do que viu é espantoso. Naturalmente ele conta que os escravos que os portugueses traziam para cá eram comprados de outros reis negros, quando não de mercadores árabes. Ele relata o tratamento que os escravos tinham na África. São coisas atrozes!

Quando algum escravo desagradava o rei negro, ele era enterrado até o pescoço e mantido até a morte sob o sol escaldante, untado com uma substância que atraía os insetos. E se queria construir uma nova choça, para fazer uma certa argamassa ele mandava sangrar algumas centenas de escravos, como se sangra um animal. Recolhia aquele sangue, misturava com barro e fazia os tijolos para construir a choça. O fato é que, quando aqueles escravos – que eram prisioneiros de guerra – sabiam que iam ser vendidos para mercadores portugueses, davam vivas, pulavam de alegria, porque sabiam que iam ter uma sorte muito mais humana do outro lado do Atlântico. Notícias disso atravessaram o oceano, e os negros da África sabiam dessa realidade.

Os negros que vinham para o Brasil encontravam senhores católicos. Não só isso, mas encontravam uma virtude tipicamente brasileira, que é a grande bondade que impera em nosso País, herdada de Portugal, e que aqui, por assim dizer, se alargou de uma maneira extraordinária.

Há mil exemplos de como os escravos eram bem tratados por seus senhores. Fala-se muito mais do tronco, do açoite, mas quase não se fala da dedicação que os escravos tinham pelos seus senhores. Isso só se dá quando há bons tratos. A mãe-preta, a ama-de-leite que amamentava o filho do patrão, e que depois se tornava ama-seca e como que uma segunda mãe para o filho do patrão, permanecendo na família até a morte.

O pior escravagista – segundo o mito, barão de Cotegipe, chefe da bancada escravagista – quando ia ao Parlamento, ia de carruagem e levava consigo, além do cocheiro, um menino negro para levar recados, levar uma coisa aqui, acolá etc. Se começava a chover, o barão dizia: Zezinho, Zezinho, vem cá, entra aqui na carruagem, para não pegar um resfriado. Praticamente tratava-o como filho. E esse era o chefe dos escravagistas no Parlamento!

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira contava que sua avó, Da. Gabriela Ribeiro dos Santos, uma grande senhora que marcou muito a sociedade paulista no fim do século 19 e início do século 20, costumava conversar longamente com uma velha ex-escrava. Entretinham-se, recordando os velhos tempos. Quer dizer, era tratada como um membro da família. E não eram exceções. Era a regra geral em nosso grande, querido e bondoso Brasil.

Os escravos às vezes eram castigados. Mas conta-se que em muitos casos o fazendeiro dizia para a filha: Olha, vou ter que chicotear tal escravo; quando o feitor levantar o chicote, você vem e me pede misericórdia. É bem típico do jeitinho brasileiro!

Eles tinham também a possibilidade de comprar a própria liberdade. A alforria era uma instituição. Poucos sabem que a Caixa Econômica foi fundada para que os negros pudessem depositar suas economias, fazer um pecúlio, e finalmente comprar a liberdade.

Os escravos que obtinham a liberdade, freqüentemente ficavam com seus senhores. Recebiam um pedaço de terra. Alguns voltaram para a África, e lá se tornaram elite, pois tinham recebido a influência da sabedoria cristã. No meio da barbárie dos seus congêneres, faziam fortuna. Tornaram-se grandes empresários, políticos etc. E a superioridade dos negros brasileiros é reconhecida na África – em Daomé, no Benin, na Costa do Marfim. Isso mostra como foi vantajoso para os negros virem para o Brasil, apesar do regime de escravidão que, embora reprovável, foi tolerado como um mal menor.

A Família Imperial se empenhou desde o começo pela abolição. D. Pedro I quis incluir uma cláusula com a abolição da escravidão na primeira – e única! – constituição do Império. Foi José Bonifácio que o demoveu, dizendo que uma medida de tão grandes conseqüências causaria convulsões, problemas sociais e políticos, e no momento era inviável para o Brasil, que se arriscava a perder sua integridade, esfacelar-se em várias repúblicas. Mas os imperadores sempre tiveram essa meta diante dos olhos.

D. Pedro II premiava os senhores que libertavam seus escravos. Fala-se muito do caderninho preto e do lápis fatídico de D. Pedro II. É o caderno onde ele anotava suas observações de viagem. Se encontrasse algum funcionário, um governador, uma pessoa qualquer indigna, ele anotava, e essa pessoa estava com a carreira cortada. O caderninho dele era muito temido, e o lápis dele era chamado lápis fatídico. Mas, é preciso dizer, esse lápis não era só fatídico, era também premiante. O senhor que libertava seus escravos recebia uma comenda ou alguma honraria.

Joaquim Nabuco, que era um dos próceres da abolição, narra sua estadia em Roma, pouco depois de passar por Londres, para tratar da abolição. Com Leão XIII ele se empenhou para que o Papa escrevesse uma encíclica contra a escravidão. No relato de viagem, que consta no livro “Minha Formação”, no capítulo “O Papa e a Escravidão”, ele diz: “Descrevi ao Papa o movimento abolicionista como tendo-se tornado, proeminentemente, um movimento da própria classe dos proprietários. E dei, como devia e é justo, aos operários desinteressados de última hora a maior parte, a solução do problema, que sem a sua generosidade seria insolúvel. Expus que não havia na história do mundo exemplo de humanidade de uma grande classe, igual à desistência feita pelos senhores brasileiros de seus títulos de propriedade escrava. Quanto à Família Imperial, repetia ao Sumo Pontífice que o que há de feito em nossas leis, em favor dos escravos, é devido à iniciativa e imposição do Imperador, ainda que seja pouco”.

Quer dizer, o Imperador estava limitado pela Constituição. Mas o que ele podia, ele fazia.

O Conde d’Eu, logo que terminou a Guerra do Paraguai – sendo o comandante-em-chefe das forças aliadas -, e tratando de reorganizar e levantar o Paraguai de suas ruínas, como primeira medida aboliu a escravidão. Isso em 1870, 18 anos antes da Lei Áurea. É evidente que ele fez isso de acordo com o Imperador.

Agora, vamos à Princesa Isabel. D. Pedro II era casado com Da. Teresa Cristina Maria de Bourbon, das Duas Sicílias. Teve quatro filhos, dois varões e duas mulheres. Os filhos homens morreram cedo, e portanto às filhas transmitiu-se o direito de sucedê-lo no trono diretamente. Primeiro D. Isabel, que nasceu em 20 de julho de 1848, batizada a 15 de novembro do mesmo ano com o nome de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Rafaela Gonzaga, na capela imperial, pelo Bispo Conde de Irajá. Padrinhos por procuração: D. Fernando, rei de Portugal, e a rainha Maria Isabela, viúva do rei Francisco I da Áustria, sogra de D. Pedro II. Conta o livro de Hermes Vieira: “Antes do batismo, na escadaria da capela imperial, o Imperador, aproximando-se da filha e tomando-a nos braços, avançou um passo e a apresentou ao povo, que lá fora, curioso, comprimido, correspondeu ao gesto do monarca ovacionando Sua Alteza e aos soberanos do Brasil. Ouviram-se então os sons heróicos do Hino Nacional, confundidos com o vozerio consagratício da multidão, entoadas pelas bandas de música postadas no passadiço e no coreto armado junto ao alpendre da torre da capela imperial”.

Da. Teresa Cristina, nossa terceira imperatriz, é da Casa de Nápoles, que é sumamente católica. É uma Casa que se esmerou sempre na aliança com o Papado, na defesa da Igreja. Por ocasião do chamado Risorgimento Italiano, perdeu seu trono porque não quis usurpar os Estados de outros soberanos, principalmente os Estados Pontifícios. Perdeu seu trono em 1860, dez anos antes da queda de Roma frente às tropas garibaldinas. Garibaldi e os Savóia concentraram todas as suas forças contra Nápoles, e só depois foram atacar os Estados Pontifícios.Da. Teresa Cristina recebeu, e transmitiu, essa profunda formação católica à sua filha.

A Princesa Isabel realmente foi católica no fundo da alma, até o fim da vida. Com 14 anos ela prestou o juramento de estilo perante as Duas Câmaras. Aos 48 anos, foi reconhecida solenemente como herdeira presuntiva do trono. Em 1864 se casou com o conde d’Eu, como resultado de um fato pitoresco e até comovedor. D. Pedro II procurava noivos para suas duas filhas, a Princesa Isabel e Da. Leopoldina. E pediu à sua irmã, que era casada com o príncipe francês de Joinville – daí o nome de nossa cidade em Santa Catarina – que procurasse para suas sobrinhas dois noivos apropriados, entre as Casas Européias. E a Princesa de Joinville encontrou dois primos irmãos: o Duque de Saxe e o Conde d’Eu, que era um príncipe da Casa de Orleans. Portanto, muito proximamente aparentado com o marido dela. O Duque de Saxe estava destinado à Princesa Isabel e o Conde d’Eu a Da. Leopoldina. Mas, chegando aqui, os noivos viram que não combinavam, e resolveram trocar. A Princesa Isabel escreve, com muito charme: Deus e nossos corações decidiram de outra maneira. O Conde d’Eu se casou então com a Princesa Isabel, e Da. Leopoldina com o Duque de Saxe. O Conde d’Eu, segundo Hermes Vieira, se sentia bem ao lado dela. Era simples, boa, afetuosa e pura. Possuía uma voz bem educada e tocava piano com sentimento e graça. Tinha uma sadia ingenuidade, uma singeleza de idéias, quer dizer, uma clareza de idéias admirável, além de muita sensibilidade. Isso, sem falar dos seus talentos, da sua instrução pouco comum para a época. Dominava corretamente o francês, o alemão e o inglês.

Logo que a Princesa Isabel se estabeleceu com casa própria – no hoje palácio Guanabara, que era o palácio Isabel da época – ela procurou, no seu papel de princesa herdeira mas não regente, fomentar uma vida cultural e social no Rio de Janeiro. Então havia toda semana um serão e um jantar, mais ou menos elegante, mais ou menos cultural etc. Isso para fomentar a cultura geral na Corte. E eram bastante concorridos esses serões. O próprio Imperador ia uma vez por semana na casa da filha para jantar com ela. Em 1871, por motivo da viagem do casal imperial, Isabel prestou juramento como Regente do Império perante as Duas Câmaras. “Juro manter a Religião Católica Apostólica Romana, a integridade e indivisibilidade do Império, observar e fazer observar a Constituição política da Nação Brasileira e mais leis do Império, e prover o bem do Brasil quanto a mim couber. Juro fidelidade ao Imperador e entregar-lhe o governo logo que cessar o seu impedimento”.

Nesse mesmo ano, a 27 de setembro, sendo presidente do Conselho o visconde do Rio Branco, pai do barão do Rio Branco, foi votada a Lei do Ventre Livre, na sessão que ficou chamada Sessão das Flores. Quando aprovada a Lei do Ventre Livre, uma chuva de rosas desatou-se no plenário da Assembléia. O ministro dos Estados Unidos no Rio de Janeiro colheu algumas dessas flores, e disse: “Vou mandar estas flores para meu país, para mostrar como aqui se fez uma lei que lá custou tanto sangue”. A Guerra de Secessão nos Estados Unidos custara seiscentos mil mortos. Não é preciso dizer mais nada.

Em 1876, na segunda regência, começou uma campanha de detração pelos círculos republicanos positivistas, maçônicos também, contra a Princesa Isabel, por causa de seu catolicismo. Eles viam que ela – por sua firmeza de princípios, por sua formação profundamente católica, mas também pelo pulso que demonstrou nas regências – seria uma imperatriz que faria da Terra de Santa Cruz realmente uma exceção no mundo. Ela exerceria uma profunda influência por sua autenticidade, sua cultura, sua religiosidade, e por tudo aquilo que pode elevar o espírito de um povo. Isso eles não queriam, então começaram a campanha de detração: era feia; não era patriota; não gostava do Brasil; preferia ter médicos franceses a brasileiros. E quantas outras calúnias. O Conde d’Eu era um surdão, arrogante, mantinha cortiço. Até a surdez – da qual ele, coitado, não tinha culpa – era assacada em meio às calúnias. De tal maneira que, pouco a pouco, foram demonizando esse casal, para evitar que mais tarde subissem ao trono. Dizia-se, em certos círculos, que era preciso fazer a república logo, porque se a Princesa Isabel subisse, acabaria com todo esse movimento ateu, positivista e republicano. Ela teria pulso, teria prestígio para fazer isso. Tornou-se corrente a frase: “Precisamos fazer a república enquanto o velho está vivo, senão a filha dará cabo de nós”.

Em 1888 foi a Lei Áurea. Caindo o gabinete Cotegipe, a Princesa Isabel chamou o Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, abolicionista, à presidência do Conselho. Ele fez votar a Lei Áurea e a apresentou para a assinatura da Princesa Isabel. O Conde d’Eu, nessa ocasião, teve um momento de hesitação : “Não o assine, Isabel. É o fim da Monarquia”. Ao que ela respondeu: “Assiná-lo-ei, Gaston. Se agora não o fizer, talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade tão propícia. O negro precisa de liberdade, assim como eu necessito satisfazer ao nosso Papa e nivelar o Brasil, moral e socialmente, aos demais países civilizados”.

Depois da assinatura, grande festa no Rio de Janeiro, o povo aclamando etc. Estando a Princesa Isabel junto ao barão de Cotegipe na janela do palácio – o barão a estimava, só estavam em desacordo na questão da escravidão – ela lhe indagou: “Então, senhor Barão, V. Excia. acha que foi acertada a adoção da lei que acabo de assinar?”. Ao que o Barão, com muito carinho, respondeu: “Redimistes, sim, Alteza, uma raça, mas perdestes vosso trono…”

D. Pedro II nesse momento estava em Milão, muito doente e com a perspectiva de morte. Mas a 22 de maio ele sentiu uma certa melhora e a Imperatriz teve a coragem de lhe dar a notícia da Abolição. Diz Heitor Lira: “Enchendo-se de coragem, debruçada sobre a cabeceira do marido, deu-lhe com brandura a grande nova. O Imperador abriu lentamente os olhos amaciados e depois perguntou como quem ressuscitava: ‘Não há mais escravos no Brasil?’. ‘Não – respondeu a Imperatriz – a lei foi votada no dia 13. A escravidão está abolida’. ‘Demos graças a Deus. Telegrafe imediatamente a Isabel enviando-lhe minha bênção e todos os agradecimentos para o País’. Houve um momento de silêncio. A emoção dos presentes era grande. Virando-se depois, lentamente, o Imperador acrescentou com voz quase sumida – ‘Grande povo, grande povo’ – e desatou a chorar de emoção. O telegrama que foi mandado à Princesa Isabel tinha o seguinte teor: ‘Princesa Imperial. Grande satisfação para meu coração e graças a Deus pela abolição da escravidão. Felicitação para vós e todos os brasileiros. Pedro e Tereza'”.

O Papa Leão XIII resolveu premiar a Princesa Isabel com a maior distinção que os Soberanos Pontífices davam a chefes de Estado e a pessoas de grande relevo, nas ocasiões em que eles adquiriam méritos especiais. Enviando-lhe a Rosa de Ouro, que foi entregue a 28 de setembro de 1888, no 17º aniversário da promulgação da Lei do Ventre Livre. A data foi escolhida pelo próprio Núncio Apostólico, para a cerimônia que se realizou com toda magnificência na capela imperial. Entretanto, apesar de tudo, continuou a campanha de detração contra a monarquia, agora contra o Imperador: o velho está gagá; ele dorme o tempo todo; o Conde d’Eu e a Princesa Isabel vão se tornar tiranos aqui; e toda uma leva de calúnias, espalhadas por todo o País.

A 15 de novembro, os militares que estavam no Rio de Janeiro – eram uma minoria, representavam um terço do Exército Brasileiro – proclamaram a República. O golpe foi totalmente alheio à vontade do povo, tanto é que eles embarcaram a Família Imperial à noite, rumo ao exílio, para que não houvesse reação popular. Na partida, a Princesa Isabel passando junto à mesa onde havia assinado a Lei Áurea, bateu em cima e disse: “Mil tronos houvera, mil tronos eu sacrificaria para libertar a raça negra”.

D. Pedro II recusou 5 mil contos de réis – cerca de 4 toneladas e meia de ouro, uma fortuna – que lhe ofereceram os revoltosos, porque, dizia, o governo não tinha direito de dispor assim dos bens nacionais. Da. Tereza Cristina, mal chegando a Portugal, morreu de desgosto no Grande Hotel do Porto. Eu estive lá alguns anos atrás, quando o hotel inaugurou uma placa. E D. Pedro II faleceu a 4 de dezembro de 1891, no Hotel Bedfor, em Paris, onde uma placa recorda o passamento do ilustre hóspede. Tal era o prestígio que cercava sua pessoa, que a República francesa lhe concedeu funerais completos de Chefe de Estado.

Conde d’Eu e a Princesa Isabel compraram um palacete em Boulogne-sur-Seine, que é um bairro de Paris periférico mas nobre. Lá ela abria seus salões para os brasileiros que iam visitá-los. E não só isso. Conseguiu se impor na sociedade parisiense a tal ponto que nas memórias de várias pessoas, era quase uma rainha daquela sociedade. Era tida como a principal personalidade lá. Somente ela e o presidente da República podiam entrar de carruagem no pátio interno da Ópera de Paris.

Uma indu, que se tornaria mais tarde Maarani Karkutula, escreve em suas memórias, que ela via a Princesa Isabel como uma verdadeira rainha, uma fada. Não só isso – uma rainha, uma fada – mas, mais uma vez, com toda a bondade brasileira e católica, que era própria da Princesa Isabel. A Maarani conta que, quando menina, teve uma crise aguda de apendicite. Operada com os recursos incipientes da época, passou uma longa convalescença no hospital. A sociedade parisiense toda, curiosa, ia visitá-la. Ela dizia que se sentia um bichinho exótico, que as pessoas iam ver como num zoológico, e a única que foi visitá-la com bondade e para lhe fazer bem, foi a Princesa Isabel. Ela conta que a Princesa Isabel se aproximou do seu leito, agradou-a muito, acariciou, consolou etc. E no fim, disse: “Minha filha, eu não sei que religião você tem. Mas sei que há um Deus que ama todas as crianças do mundo. Aqui está uma imagem da mãe dele. Guarde-a consigo, e quando você estiver numa grande aflição, peça a ela para interceder junto ao Deus verdadeiro”. A Maarani não se converteu à Igreja Católica, permaneceu pagã até o fim da vida, mas nos momentos de apuro se ajoelhava diante da imagem de Nossa Senhora, que a Princesa Isabel tinha lhe dado. Porque ela sabia que seria ouvida.

Santos Dumont, nessa época, fazia suas experiências em Paris. Sabendo que ele passava muito tempo no campo onde fazia seus experimentos, mandava-lhe farnéis para que ele não precisasse voltar à cidade para almoçar. Certa vez, escreveu-lhe: “Sr. Santos Dumond, envio-lhe uma medalha de S. Benedito, que protege contra acidentes. Aceite-a e use-a na corrente de seu relógio, na sua carteira ou no seu pescoço. Ofereço-a pensando em sua boa mãe, e pedindo a Deus que o socorra sempre e ajude a trabalhar para a glória de nossa Pátria”. E noutra ocasião: “Suas evoluções aéreas fazem-me recordar nossos grandes pássaros do Brasil. Oxalá possa, o Sr., tirar de seu propulsor o partido que aqueles tiram de suas próprias asas, e triunfar para a glória de nossa querida Pátria”.

Muito tocante também é o fim da carta que ela escreveu para o Diretório Monárquico, para anunciar os casamentos de seus filhos mais velhos. O Diretório era composto pelo Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, pelo Visconde de Ouro Preto e pelo Conselheiro Lafaiete. A carta é datada de 9 de setembro de 1908: “Minhas forças não são o que eram, mas o meu coração é o mesmo para amar a minha Pátria e todos aqueles que lhe são dedicados. Toda a minha amizade e confiança”. Quer dizer, era o jeito brasileiro, a bondade brasileira perfeitamente encarnada naquela senhora.

Uma outra amostra de seu profundo interesse pelo Brasil está numa carta ao Cons. João Alfredo. O Banco do Brasil, não me recordo agora no período de qual presidente, estava num descalabro propriamente republicano: desordem completa; contas não estavam acertadas; funcionalismo completamente rebelde. E o presidente da República concluiu então que o único que teria inteligência, força, garra e pulso para pôr ordem ali seria o Cons. João Alfredo, e o convidou a assumir a presidência do Banco do Brasil. João Alfredo respondeu: “Eu sou monarquista, e portanto só posso aceitar esse cargo se a minha Imperatriz autorizar”. Escreveu à Princesa Isabel, explicando o caso, e ela respondeu: “Para o bem de nossa Pátria, o Sr. deve aceitar”. João Alfredo assumiu a presidência do Banco do Brasil, pôs em ordem o funcionalismo, pôs em ordem a contabilidade. Pagou todos os atrasados, todas as dívidas, deixou tudo em perfeito estado. Depois pediu demissão e morreu pobre, porque não levou um tostão daquela gestão. Outros tempos! Hoje em dia… (risos…)

Agora uma carta da Princesa Isabel à irmã de um monarquista eleito deputado, Ricardo Gumbelton, de uma boa família, muito conhecida. Ele não queria aceitar o cargo de deputado, e a princesa Isabel diz: “Não concordo, absolutamente! Diga ao seu irmão que ele deve aceitar a cadeira de deputado e propugnar pela grandeza moral, econômica e social de nossa Pátria. Não aceitando é que ele estará procedendo de maneira contrária aos interesses da coletividade. Não nos deve importar o regime político sob que esteja o Brasil, mas sim conseguir-se colaboradores de boa vontade capazes de elevar o nosso País. De homens como ele é que o Brasil precisa para ascender mais, para fortalecer-se mais. Faça-lhe sentir que reprovo sua recusa”. Quer dizer, o bem do Brasil estava acima dos interesses próprios.

Ela ainda viveu até 1921. Cada vez mais fraca, mas sempre com aquela grande classe, com aquele grande porte. Nas fotografias dela no exílio, ela tem um porte imperial que não tinha aqui no Brasil. No infortúnio, a noção da missão dela foi se cristalizando cada vez mais, e ela era realmente, nessas fotografias, uma imperatriz. No batizado de meu pai – pena que eu não tenha aqui a fotografia, que gostaria de apresentar para as senhoras e os senhores – ela é uma senhora de uma nobreza e de uma categoria impressionantes. E foi assim até o fim da vida.

Morreu sem poder voltar ao Brasil. Ela representou na França o que havia de melhor no Brasil. Muito mais do que nosso corpo diplomático, muito mais do que nossos homens de negócio, ela foi um exemplo do que o Brasil era ou deveria ser. E a França entendeu isso. Assis Chateaubriand, em Juiz de Fora, a 28 de julho de 1934, escreveu: “Apagada a sua estrela política, depois de vencida a tormenta da abolição, ela não tinha expressão dura, uma palavra amarga para julgar um fato ou um homem do Brasil. No mais secreto de seu coração, só lhe encontrávamos a indulgência e a bondade. Este espírito de conduta, esse desprendimento das paixões em que se viu envolvida, era a maior prova de fidelidade, no exílio, à pátria distante. Mais de 30 anos de separação forçada não macularam a alvura dessa tradição de tolerância, de anistia aos agravos do passado, que ela herdara do trono paterno”.

Faleceu no castelo d’Eu. Apagou-se suavemente, docemente. Aí sim, a República reconheceu o que o Brasil tinha perdido. Epitácio Pessoa determinou três dias de luto nacional, e que fossem celebradas exéquias de Chefe de Estado. Também a Câmara Federal votou que seu corpo fosse trazido para o Brasil num vaso de guerra, o que só se realizou em 1953. Em 13 de maio de 1971, seu corpo e o do Conde d’Eu foram levados solenemente à catedral de Petrópolis, e lá repousam à espera da ressurreição dos mortos e do juízo de Deus.

Essa era a grande mulher que nosso Brasil tinha. Ela não foi uma grande intelectual. Foi uma princesa até o fundo da alma. Foi uma patriota até o fundo da alma. Uma senhora que sabia que tinha nascido para o bem de um país, e encarnou essa missão na Pátria e no exílio até o fim da vida. Foi um exemplo de princesa, um exemplo de imperatriz, um exemplo de católica. Ela foi o tipo perfeito do que deveria ser a mulher brasileira. (aplausos)

Se houver alguma pergunta, estou à disposição.

Aparte: V. Alteza antecipou alguma coisa na palestra, mas faço apenas um comentário, por curiosidade. É a respeito dessa medalha que foi encaminhada ao Santos Dumont, porque se propagava que Santos Dumont era um homem ateu. Mas, na verdade, essa medalha – na tradução constou como medalha de S. Benedito, mas é uma medalha de S. Bento – ele a usou no pulso direito até o fim da vida, e ele mostrava essa medalha. Talvez, quem sabe, Deus tenha tocado a alma dele, de algum modo.

D. Luiz: Quem sabe. Deus queira! Isso mostra quanto a Princesa Isabel representava para os brasileiros, e neste caso um brasileiro de escol!

Aparte: Ele mandou fazer uma cópia em ouro dessa medalha, e a deu de presente à primeira aviadora brasileira, Anésia Pinheiro Machado, que tinha sido brevetada com apenas 18 anos de idade. Ela usou também a medalha até o fim da vida.

Aparte: Não foi apenas coincidência a lei do banimento ser extinta somente após a morte dela. Porque, se a Princesa voltasse para o Brasil em vida, certamente a República balançaria.

D. Luiz: É preciso dizer o seguinte. Em 1920 houve umas comemorações no Brasil em que foram convidados os membros da Família Imperial, e ela poderia ter vindo, mas a saúde dela estava tão alquebrada que ela não pôde empreender a viagem. Vieram o Conde d’Eu e alguns membros da Família Imperial.Ela praticamente já não teria mais atuação aqui no Brasil. Mas o problema para a República era meu avô, D. Luiz de Orleans e Bragança, o chamado Príncipe Perfeito. Ele era muito empreendedor, com muita garra, muito pulso, muito inteligente, muito culto, muito viajado, e a República o temia. Foi só depois da morte dele, em 1921 também – antes do falecimento da Princesa Isabel, em conseqüência de uma doença adquirida no fronte da I Guerra Mundial – que a República se sentiu segura para abolir a lei do banimento.

Por ocasião das comemorações da Independência, em 1922, o Conde d’Eu veio com minha avó paterna, meu pai e seus irmãos, e também com o filho D. Pedro de Alcântara, que tinha renunciado ao trono. Ele veio aqui por um sentimento de dever para com o Brasil também, porque com a renúncia de D. Pedro de Alcântara era perigoso que, apesar disso, se formassem partidos, principalmente tendo meu avô morrido. Então o Conde d’Eu fez questão de vir aqui para apresentar meu pai como herdeiro legítimo da Princesa Isabel. Ele veio apesar de seus médicos desaconselharem formalmente a viagem. De fato, ele morreu a bordo do navio, antes de chegar ao Rio de Janeiro. Sua atitude foi de um soldado indo ao campo de batalha, sabendo que poderia sacrificar sua vida para o bem da Pátria.

Alegria e Esperança [2006]

[Publicação original: 28 de março de 2006]

Alegria e Esperança

Não é novidade para ninguém que me conheça, um mínimo que seja, o meu interesse pela Liturgia da Igreja e a minha predileção pelas “coisas antigas”, pelo Rito do qual participaram os santos através de séculos de catolicismo, pelo Santo Sacrifício de Nosso Senhor celebrado segundo as fórmulas anteriores à Reforma Litúrgica do século XX.

Não pretendo, aqui, fundamentar a minha opinião sobre a Reforma, nem explicar detalhadamente ambos os ritos e a diferença entre ambos, nem nada disso. Hoje, quero apenas aproveitar o Gaudete et Laetare do domingo último para expressar a minha felicidade e as minhas mais vivas esperanças em relação às mudanças que se anunciam no Horizonte da História, e que, lá longe, em Roma, já podem ser visualizadas.

Os órgãos de imprensa estão anunciando, abundantemente, esses dias, que o Papa está interessado no problema dos lefebvristas e do Missal de S. Pio V. Para quem não está por dentro da situação, uma rápida pincelada no quadro geral:

Lefebvristas são os membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada por D. Marcel Lefèbvre. São padres que não aceitaram o Concílio Vaticano II e o Missal promulgado por Paulo VI, tendo permanecido na celebração da Missa Antigo, no rito de S. Pio V. Hoje, encontram-se oficialmente em cisma [p.s.: porque Dom Lefèbvre sagrou bispos sem mandato pontifício, incorrendo – junto com os bispos sagrados – em excomunhão latae sententiae], e em negociações com a Santa Sé para que possam voltar à comunhão da Igreja. Cabem muitas considerações aqui, mas não as vou fazer por hoje.

O Missal de S. Pio V é o missal que contém o rito da missa celebrado até cerca de quarenta anos atrás, antes da Reforma Litúrgica. Hoje em dia, só pode ser celebrado sob licença especial do Bispo local. Também aqui cabem muitas considerações, mas, como disse no início, não as vou fazer.

Pois muito bem: pelas notícias que me chegam, parece-me que Sua Santidade Bento XVI estaria pensando em um acordo de reconciliação com os padres da Fraternidade, e em uma liberação universal do Missal de S. Pio V. Se isso vier realmente a acontecer, teremos dois efeitos maravilhosos:

1- Todos os seminários da Fraternidade estarão a serviço de Roma. E (apesar de algumas questões sobre as quais não vale a pena entrar em detalhes agora) todos dizem que seus seminários são excelentes.

2- A Missa de São Pio V poderá ser celebrada livremente, sem a necessidade da licença do Bispo Local que, hoje em dia, é o maior entrave à popularização desse rito.

Esses efeitos, a meu ver, são maravilhosos porque:

1) A presença de bons seminários seria uma valorosa ajuda para elevar o péssimo nível dos sacerdotes que (com honrosas exceções) (des)orientam os católicos, nesses nossos dias difíceis.

2) A presença regular de missas celebradas segundo o rito antigo seria uma valorosa ajuda para resgatar o senso de sagrado que (novamente, com honrosas exceções) não existe nos católicos atuais.

As notícias são animadoras. O Pastoralis[1] noticia:

O Cardeal Francis Arinze, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, abordou, à tarde o tema da reforma litúrgica pós-conciliar e a utilização do Missal de São Pio V. Sobre este assunto se destacou o interesse do Pontífice em escutar o parecer dos cardeais sobre se o Missal, vigente até 1962, deveria receber um indulto universal; quer dizer, se poderá ser utilizado livremente na Igreja, sem necessidade de uma aprovação explícita do Bispo local, como atualmente requerem as normas.

O ZENIT[2] nos diz que, numa reunião na Quinta Feira última para discutir os grandes desafios que a Igreja enfrenta atualmente, foram colocados três temas de particular importância: a Igreja e o Islã, a questão dos bispos eméritos, e as negociações com a Fraternidade São Pio X.

De minha parte, fico feliz que as coisas estejam tomando este rumo. Ano passado, chateado com a nulidade dos meus esforços para que a Liturgia da Igreja fosse adequadamente celebrada na paróquia que frequento, escrevi (5 de agosto de 2005[3]), em tom de desabafo:

Estou cansado de missinhas animadazinhas, estou cansado de padres que parecem muito mais organizadores de encontros sociais que Sacerdotes do Deus Altíssimo, estou cansado de ‘fiéis’ que vão à missa para ‘viver o amor de Cristo’ e não para participar do Sacrifício do Filho de Deus! Será que sou só eu? Será que somente eu sinto vontade de poder assistir duas missas iguais, independente de quem seja o celebrante? Será que sou só eu que tenho dificuldade em enxergar, na Igreja, o Cristo Vítima e Sacerdote por detrás dos cantos protestantes no momento da consagração?

E terminei, em súplica, com o salmista:

“Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha.

Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou.

Aqueles que a queimaram e cortaram pereçam em vossa presença ameaçadora.

Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o homem que haveis fortificado.E não mais de vós nos apartaremos; conservai-nos a vida e então vos louvaremos.

Restaurai-nos, Senhor, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos.”

(Sl 79, 15-20)

Agora, vários meses depois, alegro-me sobremaneira em ver a minha prece – na época tão distante, e tão improvável! – ganhar traços de realização. Louvado seja Deus! E que rezemos, incessantemente, confiantemente, para que o Espírito Santo produza a autêntica renovação da Sua Igreja, para a maior glória de Deus e salvação das almas.

Referências:

Aviso

Arlequim <i>in</i> Família Oficina - http://www.familiaoficina.com.br/index.html
Arlequim in Família Oficina - http://www.familiaoficina.com.br/index.html

Blog de recesso até a Quarta-Feira de Cinzas. Atualizações programadas (com re-publicações de textos meus antigos, textos de outros autores e alguns comentários ligeiros meus que tive tempo de preparar) ao longo dos dias do carnaval; acesso do dono restrito durante o período. Um bom feriado para todos!

Mais curtas sobre o aborto

– Na Espanha foi aprovada uma lei que permite o aborto livre, dentro de um prazo que, no entanto, ainda resta estipular. E este prazo pode ainda ser estendido, para os casos de má-formação fetal e riscos de saúde para a mãe. Quanto ao primeiro caso, configura assassinato; quanto ao segundo, configura eugenia; quanto ao terceiro, configura inexistência, já que não existe aborto terapêutico.

Na verdade, não existem argumentos razoáveis para se defender o aborto – absolutamente nenhum. A sanha abortista é um ato de vontade perversa, e nunca uma conclusão isenta de princípios racionais válidos. Comentando com um amigo sobre o assunto certa vez, ele me disse que, para ele, “saúde da mulher” incluía a sua “saúde psíquica”… o aborto deve ser combatido em todos os casos. O assassinato de crianças em hipótese alguma pode ser legalizado; todos os sofismas e pseudo-motivos alegados por ele são, sempre, passíveis de extensão, são sempre pequenos territórios conquistados, que naturalmente conduzem para além deles porque, derrubado o princípio primeiro e inegociável de que a vida humana é um bem que deve ser protegida, a diferença entre uma restrição e uma outra restrição um pouco menos restrita é meramente quantitativa.

– Há um outro ato público – este NÃO é aquele que foi aqui noticiado – promovido pelo  Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto, que tenciona exigir a não-expulsão dos deputados pró-vida do PT e a imediata instauração da CPI do aborto. Ocorrerá “em frente ao prédio da sede nacional do PT no SCS Qd.02 Ed. Touffic, dia 19/03/09 a partir das 09h”.

A favor da imediata instauração da CPI do aborto, é claro que nós somos. Já com relação à expulsão do Bassuma [e de outros deputados] do PT, eu tenho uma posição diametralmente oposta: sou a favor de que ele seja expulso o quanto antes, para que fique claro para todos a verdadeira face do Partido Abortista e para que os deputados pró-vida, livres dos tentáculos do monstro assassino, possam trabalhar verdadeiramente pela causa da vida. Vale muito a pena ler a carta do pe. Lodi ao Bassuma, onde o reverendíssimo sacerdote diz: Faço votos de que os pró-vida do Brasil inteiro se unam para acelerar o processo de expulsão, não só de Vossa Excelência, mas de todos os que não concordam com o programa petista de desintegração dos valores cristãos. Que o trigo seja expulso, sim, do meio do joio.

Hamas pede a Espanha de volta

Olha só que coisa interessante: os muçulmanos querem a Espanha de volta! Ao que parece, não foram suficientes os oito séculos da Guerra da Reconquista; ainda há muçulmanos que, na sua sanha expansionista, objetivando empurrar a sua falsa religião goela abaixo de quem quer que apareça na sua frente, ousam reclamar uma terra que nunca lhes pertenceu e da qual eles já foram expulsos uma vez.

São os jovens terroristas do Hamas que fazem o “pedido”. Choramingando pela “expulsão” que eles sofreram (graças ao povo cristão da Península Ibérica não ter aceitado a imposição muçulmana) e dizendo que o “paraíso perdido” (ao que parece, a Andaluzia; mas não sei se o Hamas se refere apenas a esta região, ou a toda a Espanha, já que Al-Andalus era o nome que os sarracenos davam a toda a Península Ibérica) precisa voltar às mãos muçulmanas para que nela “reine a felicidade”, sinceramente, não dá para garantir que tal texto seja apenas uma obra literária e não uma ameaça verdadeira.

«Soy la ciudad de Sevilla, la novia de la tierra de Al-Andalus. Antes fui la capital del Reino de Sevilla, comunicada con el Atlántico a través del río Guadalquivir. Llevo sobre mi cuello la bufanda del río más hermoso, que gana en belleza al Éufrates, al Tigris y al Nilo, y donde navegan los barcos de paseo y de pesca unas 24 millas, bajo los árboles y el canto de los pájaros

[…]

Os ruego, queridos míos, que me llaméis para volver con las demás ciudades del paraíso perdido (Al-Andalus) a las manos de los musulmanes, para que reine la felicidad en mi tierra y me visitéis, ya que soy la novia de la tierra Al-Andalus».

Conhecendo os filhos de Maomé, é justificável ficar com um pé atrás, e se precaver contra os “mártires” [= os “homens-bombas”] que porventura desejem fazer – de novo – com que a felicidade reine em terras espanholas sob os escombros da civilização cristã…

Que Santiago Matamoros proteja a Espanha!