[OFF] Eu, com câncer (XII): Um ano se passou…!

Ontem eu completei um importante aniversário. Há exato um ano, era um sábado e eu me dirigia, pela manhã, à emergência do Hospital Português, com irritante e persistente dificuldade de respirar… O resto da história vocês já conhecem, mas chega a ser impressionante olhar para trás, agora, e ver o local privilegiado em que me encontro hoje, depois de tudo o que passei.

Um câncer é um câncer e não tem lá muito o que se fazer: é combater a doença em ato, precaver-se contra a recidiva e mudar o estilo de vida. Quanto ao primeiro desses itens, não posso classificar estes últimos doze meses senão como uma vitória completa: no final de maio eu fiz a última sessão de QT, e todos os exames então realizados mostraram uma resposta extraordinária. Após oito ciclos de R-CHOP, os mais minuciosos exames davam «negativo para neoplasia linfoproliferativa em atividade». Os bens temporais – entre os quais a saúde ocupa um lugar proeminente – as mais das vezes não estão sob nosso controle. Com relação a eles, o Senhor dá e o Senhor tira, ensina-nos o livro de Jó, e mesmo do fundo do poço é importante que se bendiga o nome d’Ele. Mas a história continua, e é reconfortante notar que, às vezes, Ele os concede novamente. Sit nomen Domini benedictum.

Um câncer tem toda aquela história de um período de monitoramento, mais ou menos longo, estendendo-se desde a última quimioterapia até (via de regra) cinco anos adiante: é a fase em que me encontro. Faço “manutenção”, como disse da última vez que escrevi sobre o assunto, o que significa que a cada dois meses eu tomo uma dose de medicamentos que objetiva acabar com qualquer resquício de células cancerígenas que porventura ainda existam em meu organismo, impedindo assim o linfoma de se restabelecer. O Rituximab é uma droga de altíssima qualidade: trata-se de anticorpos artificiais, que reagem especificamente contra as células doentes do meu tipo de linfoma, destruindo-as. Alguém perguntou certa feita se era como se fosse uma vacina para imunizar contra o câncer, mas é exatamente o contrário: é como se fosse um sistema imunológico artificial que destrói as células cancerígenas tão-logo apareçam, não dando a elas a chance de se multiplicarem.

Que Deus abençoe os responsáveis por este avanço da medicina! Sem ele, o meu tratamento seria muitíssimo mais complicado; além disso, essa manutenção que faço bimestralmente não me prejudica em nada. Lembro-me dos dias mais complicados da quimioterapia, em que eu ficava tonto, vomitando de madrugada, com o cabelo caindo, com o sistema imunológico baixo… nada disso acontece quando faço a manutenção. Vou à clínica depois do almoço, passo a tarde tomando o soro e, à noite, já inclusive saí de lá direto para a Faculdade, novo e sem maiores complicações. Não tenho nenhum efeito colateral, nada de náuseas, sem comprometer o sistema imunológico, nada, nada. Claro, há o incômodo do tempo passado na clínica, do cateter subcutâneo (que ainda mantenho) etc.; mas, perto das corredeiras bravias que tive que descer, isso é uma marola insignificante. Não dá nem para reclamar.

Ter uma doença como câncer faz você mudar o seu estilo de vida: já falei sobre isso aqui com talvez irritante frequência. Mais algumas poucas palavras, somente, sobre o assunto. Ter se debruçado sobre o abismo e praticamente sentido a vertigem da queda faz você retornar para o chão firme de um modo diferente: é como se as coisas não fossem tão firmes assim e, no fundo, como se a segurança não fosse assim tão importante. Na verdade, o que acontece é que você sabe que o chão pode voltar a se abrir sob os seus pés – e isso, depois de um tempo, tira-lhe o medo de cair. Mais do que a garantia paranóica pela firmeza do solo, você aprende a valorizar a caminhada com mais leveza e desenvoltura. Certamente alguém já falou em carpe Diem, naquele «Carpe Diem» barroco que é um eco daquela exortação de São Paulo de que «agora é o tempo favorável» (cf. IICor 6, 2), e é exatamente isso: o dia corre, e importa que ele seja bem vivido. Não dá para saber o futuro; dá pra saber, contudo, que o presente está aí e precisa ser aproveitado. O resto, como sempre, está nas mãos de Deus – e a experiência do último ano deixa essa impressão ainda marcada com vívida nitidez em minha alma. Que ela não se apague.

Muitos foram os que rezaram (e rezam ainda!) por mim, aos quais não posso senão agradecer do fundo do coração e oferecer-lhes as pequenas contrariedades – agora já tão raras…! – da minha doença em agradecimento pela caridade. Que o bom Deus os recompense com maior generosidade do que eu. Quanto a mim, que Ele não me deixe desperdiçar o “tempo extra” que me concedeu sobre esta terra; que eu saiba, sempre, na doença como na saúde, tudo ordenar para a glória d’Ele, é o que mais sinceramente desejo e o que peço aos que teimam em não se esquecer de mim em suas orações.

Hoje vivo diferente: alimento-me melhor e preocupo-me menos, por exemplo, e é realmente uma coisa extraordinária trocar a dispnéia do derrame pleural pela respiração ofegante dos exercícios físicos necessários para baixar o colesterol. Tudo já voltou ao normal; mas num nível mais alto, como numa espiral ascendente, onde me encontro no mesmo lugar de antes de adoecer, sendo que em um patamar mais elevado. Daqui dá para olhar para trás – para baixo! – e para adiante – para o Alto! – e, com um sorriso nos lábios, dar graças a Deus por este ano que já finda. Obrigado, Senhor! Superaste as minhas expectativas. E sigamos vivendo. Vejamos o que ainda posso fazer por Cristo enquanto estou cá por estas paragens. Vejamos que outras maravilhas Ele ainda tem reservadas para mim.

A terrível e sangrenta polêmica sobre se os animais vão ao Céu

O Diário de Pernambuco publicou recentemente uma matéria sob a manchete «Cães e gatos podem ir ao céu? Frase do Papa Francisco reabre discussão»; lê-la é uma daquelas experiências que nos dão alguma dimensão de o quanto o homem moderno está perdido, sem fazer a mais remota idéia daquilo do que fala.

O nonsense perpassa a reportagem inteira. Logo no subtítulo, é possível se ler que o «[t]ema é controverso na Igreja Católica, com opiniões contrárias e a favor». Ora, isso é um completo disparate: não há e nem pode haver controvérsia alguma com relação a isso, que envolve aspectos tão básicos do Cristianismo  que qualquer conhecimento mínimo seu revela, de maneira cabal e evidente, o quanto a discussão toda é embaraçosamente estapafúrdia e sem lógica.

“Céu”, no sentido estrito, é o estado de amizade definitiva com Deus do qual gozam os Bem-Aventurados. Amizade, na medida que envolve uma relação entre duas pessoas, pressupõe e exige uma natureza racional: dotada de inteligência e vontade, capaz de conhecer o outro e querê-lo. Não tem lógica absolutamente nenhuma perguntar-se, por exemplo, se uma pedra ou uma árvore pode “gozar da amizade de Deus” (!): tais seres não possuem a natureza necessária ao estabelecimento de uma relação interpessoal – e, por conseguinte, nem muito menos podem “ir ao Céu”, que é a realidade relacional por excelência.

Os únicos seres capazes do Céu são, portanto, por definição de «Céu», aqueles que possuam natureza racional: que sejam dotados de inteligência e de vontade. A única possibilidade, assim, de “animais irem ao Céu”, para que essa pergunta fizesse algum sentido, seria se os animais fossem seres espirituais, capazes de estabelecer uma relação pessoal com os seres externos a eles. E, embora haja de fato quem queira atribuir inteligência a – e.g. – golfinhos, o fato totalmente indiscutível é que, no âmbito da filosofia católica, semelhante hipótese não foi jamais aventada. Nenhum santo, Papa ou mesmo teólogo católico afirmou, nunca, que os animais possuíssem alma racional. O tema não é controverso: é ponto pacífico mesmo entre as mais distintas correntes heterodoxas que a História viu surgirem em vinte séculos de Cristianismo. Ninguém, no Oriente ou no Ocidente, na antiguidade ou no mundo contemporâneo, entre os protestantes ou os ortodoxos orientais, ninguém jamais pretendeu que os animais possuíssem alma como a do homem!

Fiz questão de destacar alma racional e como a do homem acima porque (e isso é também ponto pacífico na filosofia católica) todos os seres vivos possuem alma. As pedras, por exemplo, são seres inanimados; mas as plantas possuem alma vegetativa, os animais, sensitiva, e, o homem, intelectiva (também dita racional, ou espiritual). Isso é outra coisa sobre a qual ninguém discute; confira-se a Summa, I-a Pars, q.78. Não é, portanto, verdade que o «Papa João Paulo II causou frisson em 1990 ao dizer que os animais possuíam alma», como afirmou o Diário de Pernambuco: quem disse isso foi Santo Tomás na Idade Média, repetindo o que Aristóteles já dissera na Antiguidade Clássica, e tal jamais provocou “frisson” algum – porque é óbvio!

São, portanto, três coisas bastantes simples, fáceis de entender e sobre as quais não há nem nunca houve controvérsia alguma na Igreja:

  • todos os seres vivos – as plantas e os animais inclusive – possuem “alma”;
  • apenas os seres humanos possuem alma racional;
  • “pecado”, “salvação” e “Céu” são realidades somente aplicáveis aos seres racionais.

A conclusão, evidente, é que não existe sentido nenhum em se perguntar se os cães e gatos podem “ir ao céu”, e nem muito menos em rematar uma matéria nonsense sobre o assunto afirmando que «[o] Papa Francisco está escrevendo uma encíclica sobre questão (sic) ambientais, mas não se sabe se ele vai tocar no assunto». Ora, não há um “assunto” aqui para ser tocado. Ler uma coisa dessas dá vergonha.

E o pior é que haveria espaço para se escrever alguma coisa lógica sobre o tema. Por exemplo, “Paraíso” é uma expressão multívoca, que designa tanto o estado de visão beatífica das almas que morrem na amizade de Deus quanto o próprio mundo material criado que se há de transformar após o Juízo Final: os «novos céus e nova terra» de que fala o Apocalipse. Sobre estes, ensina o Catecismo (cf. até o parágrafo 1060):

1046. Quanto ao cosmos, a Revelação afirma a profunda comunidade de destino entre o mundo material e o homem:

Na verdade, as criaturas esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus […] com a esperança de que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que escraviza […]. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo» (Rm 8, 19-23).

1047. Assim, pois, também o universo visível está destinado a ser transformado, «a fim de que o próprio mundo, restaurado no seu estado primitivo, esteja sem mais nenhum obstáculo ao serviço dos justos», participando na sua glorificação em Jesus Cristo ressuscitado.

Algumas perguntas poderiam ser colocadas aqui: como será esse cosmos «restaurado no seu estado primitivo»? De que maneira se dará essa transformação do «universo visível»? De modo mais específico: o quê, exatamente, haverá nos «novos céus e nova terra»? Árvores? Plantas? Rios e cachoeiras? Animais…?

Note-se que a pergunta sobre se haverá animais após a Ressurreição da Carne é completamente diferente da primeira, se os «cães e gatos podem ir ao céu»! Nesta, eles seriam sujeitos da Redenção, o que é um completo absurdo e nonsense; naquela, pergunta-se qual o papel do mundo visível (incluídos aí os animais, mas também as plantas e o mundo inorgânico) no mundo futuro que Deus tem planejado para os que O amam. E, não, perguntar se ainda haverá praias e montanhas após o Juízo Final não é o mesmo que perguntar se as montanhas e praias “vão ao Céu” quando deixam de existir. Ser incapaz de separar uma coisa da outra não é senão um sinal de que não se sabe (mais) o que é o homem, o que o mundo, o que é o Paraíso – e, mesmo assim, tem-se a pretensão de informar os outros sobre o assunto.

Bento XVI desautoriza o professor Ratzinger a respeito da comunhão dos divorciados

Há alguns meses, o Card. Kasper começou a fazer alvoroço em público com as suas teses a respeito da admissibilidade dos divorciados recasados à comunhão eucarística. Conhecemos a história: em um seu artigo publicado no início do ano, o prelado apresentava as suas idéias e coligia os fundamentos que julgava possível apresentar na defesa delas.

O passo do prelado, contudo, foi maior do que as suas pernas. Ele poderia ter somente defendido a sua posição particular nesta seara; para angariar maior força de persuasão, contudo, julgou preferível trazer para junto de si a opinião abalizada de um dos maiores teólogos da atualidade. Resolveu defender «la práctica de la tolerancia pastoral, de la clemencia y de la indulgencia» baseando-se em ninguém mais, ninguém menos do que Joseph Ratzinger.

À época, Kasper desenterrou um artigo publicado em 1972 pelo então prof. Ratzinger, e o apresentou aos seus leitores da seguinte maneira:

A Igreja dos primórdios dá-nos uma indicação que pode servir como caminho para escapar a este dilema, ao qual o professor Joseph Ratzinger já fez menção em 1972. […] Nas Igrejas locais havia um direito consuetudinário, de acordo com o qual os cristãos que viviam um segundo vínculo [matrimonial], mesmo que o primeiro cônjuge ainda estivesse vivo, depois de um tempo de penitência tinham à sua disposição […] não um segundo matrimônio, mas – através da participação da comunhão [eucarística] – uma tábua de salvação. […]

[…]

J. Ratzinger sugeriu [em 1972] retomar de maneira nova essa posição de [São] Basílio. Pareceria uma solução apropriada, solução esta que está na base das minhas reflexões.

As conclusões agora apresentadas por Kasper apoiavam-se, de fato, em um nome vultoso. A solução que ele ressuscitava agora tinha o inegável mérito de ter sido já defendida, na década de 70, pelo acadêmico Joseph Ratzinger. O arranjo fora muito bem preparado. Kasper só não contava com um pequeno detalhe: Bento XVI ainda estava vivo, lúcido e não gostou nem um pouco da maneira como o seu artigo (de há mais de quatro décadas) fora citado.

A honestidade intelectual é uma virtude delicada; ela exige que não utilizemos as palavras de terceiros de modo a apresentar um retrato do seu pensamento com o qual eles próprios não concordariam. E, após ter já publicado – enquanto cardeal e enquanto Papa – diversos trabalhos nos quais concluía a respeito da inadmissibilidade da comunhão eucarística aos recasados, Bento XVI não se reconheceu nos textos que escrevera no início dos anos 70, agora requentados para defender uma bandeira com a qual, em absoluto, o antigo Papa não concorda.

E a resposta veio nos últimos dias [p.s.: ver abaixo]: o Bispo Emérito de Roma republicou o seu artigo de 1972, com uma retractatio em sua parte final redigida agora em 2014, onde revisa a sua posição anterior. A atitude me surpreendeu por diversos motivos.

Primeiro porque tal não seria a rigor necessário, uma vez que a posição de Bento XVI a respeito do tema era já suficientemente clara a partir dos seus textos posteriores (entre os quais merece menção, para ficar somente em um exemplo, esta carta assinada de próprio punho pelo Card. Ratzinger em 1994). Mas parece que o acadêmico sentiu-se particularmente ofendido com a mera possibilidade de ter o seu nome associado às teses de Kasper e, portanto, julgou oportuno fazer a retratação.

Segundo porque penso que o fato é inédito. Não me recordo de nenhuma outra ocasião em que Bento XVI tenha rechaçado explicitamente as posições que assumira nos anos anteriores ao cardinalato e à presidência da Congregação para a Doutrina da Fé; pelo contrário, já o ouvi até dizer que foi a revista Concilium (de cuja fundação o jovem Ratzinger participou e que se consagrou mais tarde como um famoso veículo de doutrinas pouco católicas) quem mudou de orientação, e não ele próprio. O gesto abre um importante precedente (que era óbvio, mas a respeito do qual não se pode mais, agora, alegar dúvidas): não é possível transpôr acriticamente os antigos escritos do teólogo Ratzinger para os dias atuais, passando por cima dos debates teológicos que se travaram ao longo das últimas décadas e em cujo cerne o autor – primeiro como prefeito do Santo Ofício e, depois, como Papa – ocupou muitas vezes um lugar de indiscutível proeminência.

Terceiro, por fim, porque a decisão de Bento XVI coloca o seu conterrâneo em uma verdadeira saia justa. Rompendo o silêncio do seu pontificado emérito, ele desautoriza simultaneamente as teses de Kasper e os expedientes do qual este lançou mão para as fazer valer: tomando importante partido nesta importantíssima discussão contemporânea, não faltou quem dissesse que Bento XVI, agora, provoca uma reviravolta e passa a pautar o Sínodo da Família. Não me parece que tenha sido a atitude mais deferente do mundo; contudo, parece que estamos em uma daquelas situações em que se exige que a defesa categórica da Fé seja colocada acima da polidez política. Que seja bem-vindo o auxílio do Pontífice do passado.

[P.S.: Na verdade, a retratação não é assim tão recente e, portanto, não pode ser associada diretamente aos acontecimentos do Sínodo. Em uma entrevista publicada no último domingo (07/12) por um jornal alemão, «[o] jornalista lhe perguntou [a Bento XVI] se desta maneira [com a revisão do artigo] quis adotar uma postura no Sínodo dos Bispos sobre a família, recentemente celebrado no Vaticano, e o Papa emérito qualificou esta afirmação como sendo um absurdo total, já que não interveio nem quis intervir nas questões tratadas no sínodo extraordinário sobre a família e a revisão do volume foi feita antes do Sínodo». Deve ser lida assim, penso eu, como uma resposta aos ensaios de Kasper a respeito da comunhão dos divorciados recasados (feitos já no começo do ano), mas não diretamente ao dissenso cardinalício que se instaurou imediatamente antes e durante o Sínodo recém-encerrado.]

E isso sem falar da humildade necessária para se fazer assim, já no fim da vida, uma retratação pública de repercussão tão ampla: Bento XVI é realmente uma personalidade assombrosa, cuja envergadura intelectual não pode ser posta em dúvida. Nem tampouco a sua dedicação à Igreja…! Nem tampouco o amor à Verdade que o levou a grafar aquele Cooperatores Veritatis em seu brasão episcopal. Sim, há homens para os quais a Verdade está acima de sua imagem e prestígio pessoais. Que as novas gerações o aprendam deste ancião admirável.

As imagens religiosas e a intolerância na Facvldade de Direito do Recife

No século XIX, a Facvldade de Direito do Recife foi solenemente consagrada a Nossa Senhora do Bom Conselho, dora em diante tornada a padroeira dos estudantes de direito da referida instituição. A imagem que provavelmente foi legada à Casa na ocasião encontra-se atualmente (e confesso não saber ao certo a partir de quando) como parte do acervo do Museu Franciscano de Arte Sacra.

Em 2007, na comemoração dos 150 anos da supracitada consagração, um grupo de estudantes ofereceu-se para intermediar a doação de uma imagem da Mater Boni Consilii à Casa, a fim de marcar o sesquicentenário. A matéria foi apreciada pelo Conselho Departamental – órgão deliberativo máximo da FDR – que, em sessão realizada aos 04 de dezembro de 2007, aprovou a doação, tomando diversas diligências para a oficialização do gesto.

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Foi designado um professor para supervisionar o processo, pouco tempo depois culminado com a solenidade de doação da imagem, que foi conduzida pelo Cerimonial da Universidade e acompanhada por diversos representantes do corpo docente e discente, pela pró-reitora da UFPE e pelo presidente do Diretório Acadêmico. Passava, desde então, a integrar o patrimônio público da Universidade Federal de Pernambuco.

Cerimônia de entronização da imagem de N. S. do Bom Conselho

A imagem, até a semana passada, ocupava – já há anos – um lugar discreto no hall lateral do edifício, sobre uma mesa, com uma pequena placa indicando as circunstâncias da doação. Não é o lugar que aparece nas fotos acima, mas um bastante similar, do lado oposto.

No último dia 17 de novembro, contudo, segunda feira próxima passada, determinado movimento estudantil atuante na FDR – o Movimento Zoada – adquiriu uma imagem de Iansã (uma divindade afro) e, sem obedecer a nenhuma formalidade administrativa, numa pantomima grotesca da cerimônia acima referida, afastou a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho da mesa onde ela se encontrava para a aposição, ao lado dela, da do orixá. O ato, apresentado como parte da I Semana da Consciência Negra da Faculdade de Direito do Recife, foi interpretado por alguns católicos como provocativo e suscitou vivo debate entre os estudantes.

No dia 20 de novembro, pela manhã, descobriu-se que a imagem de Iansã fora danificada, tendo a sua cabeça quebrada e separada do corpo. O vandalismo provocou viva indignação de toda a comunidade acadêmica e levou a direção a remover todas as imagens do local, até deliberação do próximo Conselho Departamental que está marcado para esta semana.

Os meios de comunicação fizeram verdadeira e macabra festa em torno do cadáver, apresentando o ato como uma vergonhosa manifestação de racismo e intolerância religiosa, com grave prejuízo para a imagem da instituição perante a opinião pública. Para quem vê de fora, fica parecendo que algum membro da Casa, em atitude racista ou de intolerância religiosa, destruiu um símbolo da cultura afro que estava civilizadamente exposto no prédio onde funciona a Facvldade de Direito do Recife.

Eu, na qualidade de discente da Casa e, portanto, de observador interno de toda essa patacoada, sinto-me em condições de apresentar algumas informações a respeito do ocorrido:

1. Para a maior parte das pessoas, católicas ou não católicas, a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho nunca provocou maiores incômodos, sendo interpretada como um objeto decorativo que contava uma parte da história da Facvldade e sobre a qual, portanto, nunca houve necessidade de se suscitar grande polêmica.

2. Também sempre houve, quer no corpo discente, quer no docente, algumas pessoas profundamente incomodadas com a presença da padroeira dos estudantes de Direito do Recife no interior do prédio da Facvldade. Reclamavam contra essa flagrante violação da laicidade constitucional. Ao que consta, já chegaram inclusive a ser enviados requerimentos administrativos pedindo a retirada da imagem, sob este argumento, tendo todos eles sido indeferidos.

3. A razão pela qual a pretensão de remover a imagem da Virgem do Bom Conselho sempre fracassou é bastante óbvia: os que a levantavam eram apenas minoritários descontentes inflamando uma polêmica já pacificada e buscando ressuscitar uma questão já anteriormente decidida. Os símbolos religiosos nos prédios públicos não ferem a laicidade do Estado quando se trata de elementos histórico-culturais: a imagem específica da Virgem do Bom Conselho (e não outra imagem) estava no hall lateral do Palácio não para fazer proselitismo religioso, mas para contar um pedaço da história da Casa.

4. (É esta a razão, inclusive, pela qual não procede, em absoluto, o argumento nonsense de que “se coloca um, então tem que colocar tudo”: há casos em que a função do símbolo religioso em público não é a de representar a religião do povo, e sim a de prestar um tributo à história do país. É por conta de determinadas contingências históricas que os nossos quartéis, por exemplo, guardam ainda imagens da Conceição dos Militares, ou as nossas cédulas de Real ostentam a Marianne revolucionária, ou a cidade de Salvador tem enormes orixás dançando despreocupadamente em público no Dique do Tororó. Tais símbolos, embora conservem o seu caráter religioso, não desempenham função específica de culto, razão pela qual não incorrem na norma constitucional que proíbe ao Estado “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança” (Art. 19, I, CF). Não tem lógica, portanto, exigir representação isonômica, nos prédios públicos, das religiões do povo brasileiro: prédio público não é lugar para “representar” religião alguma, e os símbolos religiosos lá presentes não estão desempenhando este papel.)

5. É este entendimento o que prevalece na sociedade atual, quando a maior parte das pessoas não se mostra particularmente ofendida em suas crenças íntimas diante de um Crucifixo num tribunal ou de Thêmis na frente do STF. É este o entendimento que prevaleceu no CNJ, quando do julgamento que indeferiu os pedidos para a remoção de crucifixos das dependências do Judiciário. É este o entendimento, por fim, que prevaleceu no Conselho Departamental de 2007 acima referido, que decidiu que a presença de uma imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho no prédio da Facvldade de Direito do Recife não violava a laicidade do Estado.

6. É impossível não enxergar relação entre o incômodo que a imagem da santa católica provocava em alguns e o estardalhaço feito recentemente com a doação da imagem de Iansã: primeiro porque as mesmas pessoas que sempre defenderam a retirada da imagem católica foram as mais ardentes defensoras da permanência da da divindade africana; depois porque tudo foi conduzido de forma a acirrar os ânimos religiosos o mais possível; terceiro porque não faltaram membros do corpo discente e docente a falar, em público, coisas como “que a polêmica gerada pode dar frutos positivos e visibilidade à necessidade de se combater os discursos do ódio e da intolerância” – no caso, o discurso católico de que era ofensiva e desrespeitosa a colocação e a permanência da imagem de Iansã ao lado da de Nossa Senhora; por fim, porque agora as duas imagens foram retiradas e a relativa tranquilidade em que se encontra a Casa parece dar indícios de que o verdadeiro objetivo foi atingido: conseguiu-se um fato novo para levar ao Conselho a fim de anular a decisão pelo órgão tomada em 2007 e, no final das contas, alcançar o direito mesquinho de ostentar a intolerante Mesa Vazia no lugar onde os últimos anos viram repousar a serena imagem da Virgem do Bom Conselho.

7. Em declaração à mídia local, uma militante do acima referido Movimento Zoada – responsável pela “doação” à brasileira da imagem de Iansã – afirmou quanto segue:

Ainda em entrevista ao LeiaJá, a integrante do Zoada, Brisa Lira, afirmou que boa parte dos participantes não são adeptos ao candomblé. A própria estudante se diz ateia e garantiu que colocar a Iansã na Faculdade foi “apenas um ato político”. “Meu sentimento em relação ao acontecido é de total intolerância política”, completou Brisa.

8. Ou seja, a colocação da imagem de Iansã, além de não seguir as exigências legais a que se submeteram os estudantes que, em 2007, doaram a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, ainda foi feita sem nenhuma motivação religiosa sincera: tratou-se tão somente da utilização política de um símbolo sagrado – de uma religião da qual os responsáveis pelo ato não são adeptos – para atacar uma situação que eles, contrariamente ao brasileiro médio, ao Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho Deliberativo do CCJ/UFPE, consideravam injusta. É um escândalo que essa artimanha incivilizada prevaleça e, por conta dela, os derrotados em todas as esferas legais consigam reverter, ad baculum, uma decisão administrativa já há anos definitiva!

9. Last but not least, cabe perguntar quem foi que quebrou a imagem da Iansã. Como nenhuma investigação sobre o assunto foi concluída, a autoria do ato de vandalismo é, até o presente momento, desconhecida. Sendo desconhecido o autor, com ainda mais razão são desconhecidas as intenções que o motivaram a fazer o que fez. Não é possível, portanto, falar que a decapitação da imagem africana tenha sido um ato de intolerância! Com os elementos dos quais dispomos atualmente, pode ter sido qualquer coisa: tanto pode ter sido um acidente quanto uma manifestação preternatural de um Xangô furioso com a utilização desrespeitosa da imagem de sua esposa, tanto pode ter sido um cristão revoltado com a profanação da imagem da Virgem do Bom Conselho quanto um membro de algum movimento estudantil de esquerda que vislumbrou na polêmica uma oportunidade de ouro para conseguir enfim retirar da FDR a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho – e de quebra ainda culpando os católicos.

É esta a triste situação atual: um mal-estar generalizado, um profundo desrespeito à religião católica e ao Candomblé, uma sórdida capitalização político-ideológica de um ato de vandalismo cujas reais motivações ninguém sabe, e um anteparo vazio no hall da FDR. Esperemos o desenrolar dos próximos acontecimentos. Veremos se o Conselho vai respeitar a decisão tomada em 2007 ou vai abaixar a cabeça subserviente diante da truculência dos iconoclastas. Vejamos se ele vai se impôr contra essa terrível falta de caráter na última semana realizada… ou se vai se deixar ser zoado.

Sobre o assunto, ler também (no Facebook):

Vou tentar explicar que da melhor forma que consigo

Vamos falar de igualdade de tratamento?

Já que fui citado…

Em defesa de Iansã.

As matérias da segunda página

Certas matérias envolvendo a Igreja Católica são consideradas dignas, pela mídia anti-clerical, de ocupar com estardalhaço as manchetes das primeiras páginas: são as notícias desabonadoras à imagem da Igreja, ou as de fofoca eclesiástica que, no meio de um disse-me-disse sem fim, pretendem induzir o leitor incauto a crer que o Papa Francisco está para mudar a bimilenar doutrina moral da Igreja na próxima semana.

Outras matérias, contudo, somente a muito contragosto são noticiadas, na segunda página, em minúsculas notas de rodapé, que é para que o menor número possível de leitores tome conhecimento delas. É a típica informação que via de regra não interessa aos editores que seja lida.

Exemplo cristalino dessa segunda categoria é esta notícia, divulgada anteontem sem nenhum tipo de alarde: Vaticano oficializa excomunhão de padre que defende gays em SP. Refere-se ao famigerado caso do pe. Beto, que no ano passado protagonizou um escândalo de dimensões consideráveis aqui na Terra de Santa Cruz (afinal de contas, nos dias de hoje não é qualquer herege que ganha uma excomunhão oficial…) e não poupou nem mesmo uma patética incursão na justiça civil (!) para tentar reverter a sua pena canônica. «Nós como advogados, estaremos aptos a defender o nosso cliente até o com o Santo Padre em Roma se for preciso», disse à época um dos advogados contratados pelo padre. Não sei se eles chegaram a cumprir a ameaça. De um modo ou de outro, contudo… não deu.

Em comunicado no site da Diocese de Bauru, o Pe. Wenceslau – «Juiz Instrutor para as “matérias reservadas a Sé Apostólica”» – informa que a Congregação para a Doutrina da Fé (a quem fora submetido o caso), em comunicação oficial datada do dia 14 de outubro p.p., «ordenou que [se] tornasse formalmente pública a pena e a situação canônica» do padre Roberto Francisco Daniel. E, em obediência à determinação da Santa Sé, a Mitra de Bauru explica i) que o padre Beto «está e permanece excomungado segundo o Cân. 1364 § 1» enquanto perdurar a sua «contumácia»; ii) que esta está presentemente caracterizada «nos seus repetidos pronunciamentos e atitudes em relação à Igreja Católica e nos processos movidos nas instâncias judiciais do Estado brasileiro, contra a Igreja»; e, por conseguinte, que iii) «a Sé Apostólica confirma a referida pena até a pública retratação do réu».

Não se trata de nada excepcional: a coisa mais banal do mundo é que uma pessoa que não comunga com a visão de mundo da Igreja Católica não seja, ela própria, católica considerada. A Igreja é uma instituição que, absolutamente, não está obrigada a manter em Seus quadros os que d’Ela discordam em matérias onde Ela entende não ser possível haver discordância. Um mínimo de identidade é necessário para qualquer pertença a qualquer grupo e, se alguém não se identifica com a imagem de «fiel» que determinada religião apresenta, resta evidente que tal não pode ser identificado como a ela pertencente. Tudo isso são trivialidades tão óbvias que até cansa repeti-las.

O ponto, o grande ponto aqui, é que – nada surpreendentemente… – a realidade indômita está em franca oposição à agenda midiática. A Igreja segue excomungando. Ora, isso absolutamente não condiz com a imagem que querem passar do Novo Catolicismo: a de um Papa que, atento às novas necessidades do século XXI e liberto dos dogmas intolerantes da Idade das Trevas, abre enfim as pesadas portas da Igreja para receber alegremente a todos os que católicos não querem ser. Como poderão continuar vendendo esta imagem falsificada se a Santa Sé, veja só, tem a pachorra de reafirmar, pública e oficialmente!, a excomunhão de um padre que não crê no que a Igreja ensina?

Fala-se muita coisa sobre a Igreja nos dias de hoje. Olhando de fora, sob as lentes da mídia anti-clerical, tem-se a nítida impressão de que o Inferno venceu. Os católicos, contudo, depositários da Esperança, têm o dever de dar um pouco mais de crédito àquelas palavras de Cristo sobre non praevalebunt. Bem como de anunciar essa Boa-Nova mundo afora. E, muitas vezes, tal missão se reveste de contornos extremamente práticos e fáceis. Muitas vezes, fazê-lo consiste simplesmente em chamar a atenção para as matérias das segundas páginas dos jornais.

Sobre a inadmissibilidade da pena de morte

Um leitor do blog me envia o seguinte comentário/pergunta:

O papa disse que a pena de morte é inadmissível. Isto que é interpretar corretamente o NÃO MATARÁS!!!

Respondamos com calma. A notícia à qual faz referência o meu interlocutor é esta que diz que o «Papa Francisco considera inaceitável para um cristão apoiar a pena de morte». Manchete, permita-se o comentário, reducionista e sensacionalista; data venia, o discurso de Sua Santidade «à Delegação da Associação Internacional de Direito Penal» – que pode ser encontrado na íntegra, em português, no site do Vaticano – é um pouco mais amplo do que isso.

Não teve lá muita repercussão porque, sinceramente, trata-se de um texto bastante genérico e protocolar, falando de maneira superficial sobre os lugares-comuns da doutrina penal contemporânea. Basicamente, o Papa Francisco apresenta alguns elementos em favor do Princípio da Legalidade – defende ele uma «concepção do direito penal como ultima ratio (…) limitado aos factos mais graves contra os interesses individuais e colectivos mais dignos de protecção» – e passa a elencar algumas medidas concretas que devem servir de limites à “face violenta do Estado”.

Não vejo possibilidade de discordância alguma, nem política e nem doutrinária, no que concerne às exposições de princípios. É evidente que o Direito Penal é e deve ser a ultima ratio; é incontestável que, historicamente, a pena estatal revestiu-se de requintes de crueldades hoje completamente extemporâneos e anacrônicos; é inegável que o já referido princípio da legalidade é uma conquista e uma proteção ao ser humano frente ao poder do Leviatã – de cujas arbitrariedades mesmo a história contemporânea nos dá, a cada dia, exemplos tristemente eloquentes.

Já quanto às incursões papais no terreno dos detalhes mais específicos, explique-se-lhes o sentido em que devem ser lidas com um exemplo paradigmático. Sobre a pena de morte, por cuja abolição – segundo o Papa – «todos os cristãos e homens de boa vontade estão chamados hoje a lutar», diga-se quanto segue.

algum material no Deus lo Vult! sobre o assunto; para não me alongar em demasia, respondo que a Doutrina Moral católica é feita de princípios imutáveis que devem ser aplicados em situações de fato, contingentes; e que, embora os princípios não mudem, as situações mudam, sim, e com incômoda freqüência, de modo que é perfeitamente possível que o mesmo princípio implique em duas respostas completamente diferentes, se completamente diferentes forem as duas situações nas quais ele é aplicado.

Praticamente nenhum dos pronunciamentos eclesiásticos das últimas décadas a respeito da pena de morte tem caráter principiológico, porque neste campo a situação já está mais do que resolvida há séculos: é prego batido e ponta virada. Na formulação do recente Catecismo, a «doutrina tradicional da Igreja, desde que não haja a mínima dúvida acerca da identidade e da responsabilidade do culpado, não exclui o recurso à pena de morte, se for esta a única solução possível para defender eficazmente vidas humanas de um injusto agressor» (CCE §2267). Isso, absolutamente, não está em discussão. O que se discute é, exatamente, a situação contingente atual: será que as atuais circunstâncias são tais que, nelas, o recurso à pena de morte é a única solução para a eficaz defesa da sociedade contra um injusto agressor?

Perceba-se que se trata aqui de um juízo de fato e, por isso mesmo, i) nem as manifestações nesta seara obrigam à Fé num nível mesmo análogo às promulgações dogmáticas; e ii) nem elas se revestem do caráter de irrevogabilidade que é próprio de matéria doutrinária. Em uma palavra, é simplesmente nonsense afirmar que a Igreja tenha revisto a Sua posição a respeito da pena capital, porque exposição racional de princípios e aplicação de princípios a situações concretas são duas esferas que de maneira alguma se confundem entre si. Na primeira delas, é legítimo, em abstrato, ao poder temporal punir os criminosos inclusive com a morte; na segunda, é perfeitamente possível que, nos Estados modernamente constituídos e com a sensibilidade contemporânea, não haja espaço para a aplicação daquela pena máxima. Como diz o poeta, mudaram as estações; nada mudou.

Todas as demais intervenções pontifícias no referido discurso – sobre questões de maioridade penal, de situações dos presídios, de punições a pessoas vulneráveis (v.g. idosos, doentes, mulheres grávidas) etc. – resolvem-se do mesmíssimo modo. Todas elas são juízos prudenciais a respeito de como se devem aplicar os princípios da Teologia Moral às questões contemporâneas, da maneira como elas concretamente se apresentam ao homem moderno – e, claro, como o Vigário de Cristo as percebe. Não são exposições de princípios  morais (e nem muito menos apresentações de novos princípios morais contrários aos anteriormente vigentes), e sim, no sentido mais clássico, casuísticas. Servem para auxiliar a razão prática, não engessá-la.

A Igreja é infalível em Fé e em Moral, sem dúvidas. Mas são bem raras as coisas que sempre são legítimas independente de qualquer coisa, ou que nunca são permitidas de nenhuma maneira (como, v.g., matar diretamente um inocente, que nunca é lícito); a maior parte delas envolve a consideração de princípios imutáveis vis-à-vis situações contingentes. E uma lista exaustiva de todas as possíveis situações de fato é obviamente irrealizável; não é a isto que se propõe a Igreja de Cristo! A Doutrina Católica é um facho de luz que devemos usar para iluminar os nossos passos, e não um sucedâneo do caminhar humano.

As feridas que precisam ser curadas

Não obstante o excelente trabalho que a Canção Nova vem fazendo (já há alguns anos!) com a tradução dos discursos, homilias, audiências gerais e tudo o que envolve o Santo Padre, há uma pequena crítica que precisa ser feita. No último dia 18 de outubro, no encerramento do Sínodo dos Bispos, o Papa Francisco pronunciou uma extraordinária homilia. Quase que imediatamente, com a celeridade que lhe é própria, a Canção Nova publicou a versão em português do texto que, por ter sido a primeira, foi provavelmente a única a que muitos católicos tiveram acesso. No entanto, a tradução apresentada pela comunidade estava truncada em um ponto – justamente um dos mais bonitos do texto! -, o qual não foi (acabei de consultar) ainda corrigido até o presente momento. As mensagens que enviei através do site ficaram sem resposta.

Foi um erro muito simples, certamente de deleção involuntária de um par de linhas, que no entanto tornou o trecho da mensagem pontifícia obscuro e lhe tirou parte considerável da sua força. A versão que está no site da Canção Nova – assim desde a semana subsequente ao pronunciamento papal – é a seguinte:

cancaonova-francisco

E a versão correta e oficial, que atualmente já consta no site da Santa Sé, é a seguinte (destaquei, em azul, o texto que foi inadvertidamente cortado na tradução pioneira da Canção Nova):

Momentos de consolação, graça e conforto, ouvindo os testemunhos das famílias que participaram no Sínodo e compartilharam connosco a beleza e a alegria da sua vida matrimonial. Um caminho onde o mais forte se sentiu no dever de ajudar o menos forte, onde o mais perito se prestou para servir os demais, inclusive através de confrontos. Mas, tratando-se de um caminho de homens, juntamente com as consolações houve também momentos de desolação, de tensão e de tentações, das quais poderíamos mencionar algumas possibilidades:

— uma: a tentação do endurecimento hostil, ou seja, o desejo de se fechar dentro daquilo que está escrito (a letra) sem se deixar surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito); dentro da lei, dentro da certeza daquilo que já conhecemos, e não do que ainda devemos aprender e alcançar. Desde a época de Jesus, é a tentação dos zelantes, dos escrupulosos, dos cautelosos e dos chamados — hoje — «tradicionalistas», e também dos intelectualistas.

— A tentação da bonacheirice destrutiva, que em nome de uma misericórdia enganadora liga as feridas sem antes as curar e medicar; que trata os sintomas e não as causas nem as raízes. É a tentação dos «bonacheiristas», dos temerosos e também dos chamados «progressistas e liberalistas».

— A tentação de transformar a pedra em pão para interromper um jejum prolongado, pesado e doloroso (cf. Lc 4, 1-4) e também de transformar o pão em pedra e lançá-la contra os pecadores, os frágeis e os doentes (cf. Jo 8, 7), ou seja, de o transformar em «fardos insuportáveis» (Lc 10, 27).

— A tentação de descer da cruz, para contentar as massas, e não permanecer nela, para cumprir a vontade do Pai; de ceder ao espírito mundano, em vez de o purificar e de o sujeitar ao Espírito de Deus.

— A tentação de descuidar o «depositum fidei», considerando-se não guardiões mas proprietários e senhores ou, por outro lado, a tentação de descuidar a realidade, recorrendo a uma terminologia minuciosa e uma linguagem burilada, para falar de muitas coisas sem nada dizer! Acho que a isto se chamava «bizantinismos»…

As razões, enfim, pelas quais estou dedicando tanto espaço a esmiuçar essa banalidade são duas:

i) eu considero bastante sério o trabalho de tradução da Canção Nova, já o recomendei aqui no Deus lo Vult! e em outros foros, acompanho-o com freqüência e a muito (senão à maior parte) das notícias corriqueiras envolvendo o Sumo Pontífice eu tenho acesso mediante o citado portal; por isso, uma má tradução nele apresentado tem o desagradável efeito de esconder, dos seus leitores habituais, a mensagem correta (eu próprio só percebi essa falha por puro acaso, quando alguém, no Facebook, chamou-me a atenção para a versão em outro idioma que estava diferente), o que tenho certeza de não ser o objetivo da comunidade; e

ii) a passagem é verdadeiramente magnífica para responder à questão – com tanto açodamento debatida nos últimos meses! – da comunhão dos divorciados recasados, e o faz com imagens fortes extremamente eloquentes: o que seria uma tal autorização senão tratar os sintomas «e não as causas nem as raízes»? O que seria semelhante mudança de disciplina senão capitular diante da tentação demoníaca e, por não suportar o calor do deserto, dar ouvido a Satanás e buscar transformar, por conta própria e à revelia da vontade de Deus, as pedras em comida?

Esta é a resposta que a mídia laica não faz a menor questão de divulgar – perceberam o quanto ela ficou pianinha depois do fim do Sínodo? -, esta é a mensagem que nós, por outro lado, temos a obrigação de difundir. Satanás ronda à nossa volta, ávido por nos fazer chamar o mal de bem, o justo de injusto, as pedras de pães…! É importante lhe darmos um rotundo e sonoro “não!”. É importante divulgarmos a Doutrina da Igreja, quando ninguém mais parece interessado em lhe dar a conhecer.

A mídia quer que a Igreja troque a doutrina de Cristo pelas demandas imorais modernas; qual Satanás, insta-A a transformar as pedras em pão para Lhe matar a fome – para acabar com o sofrimento dos que tiveram o seu matrimônio destruído… – e a cobrir as feridas purulentas ainda, escondendo-as, apenas para as tirar de vista, por não lhes conseguir suportar a fealdade. Ora, tal a Igreja não pode jamais aceitar, e é da mais alta importância que todos o saibam com clareza. Para que escutem Aquela somente que possui palavras de Vida Eterna. Para que – trocando a voz da Igreja pela do mundo – não morram de gangrena ao abafar as próprias feridas abertas, não quebrem os dentes ao morder as pedras que têm junto a si.

As esquerdas e a bandeira dos pobres

No momento em que as más notícias a respeito da desastrosa administração do PT vêm finalmente à tona – a mais recente é esta informando que o número de miseráveis, olha só, a despeito de toda a maquiagem petista, voltou a crescer no país -, cumpre dizer duas ou três coisas sobre o assunto.

Antes de mais nada, sobre o significado do pleito, é óbvio que ele não significa (à exceção de nos depravados devaneios do sr. Mantega) que o governo atual conta com apoio popular. De maneira alguma; e é necessário insistir nesse assunto. Não o significa

  1. porque a diferença entre os votos (51,64% x 48,36%) foi mínima, como já falei aqui;
  2. porque o povo brasileiro optou antes pela “não-concessão” de um mandato a Aécio Neves que pela chancela do da sra. Rousseff; e
  3. porque a vergonhosa ocultação, durante o período eleitoral, do estado calamitoso no qual se encontra o Brasil (como, por exemplo, o já citado crescimento da miséria, o aumento dos juros nos dias seguintes à eleição e o recorde no rombo das contas públicas, entre outros), com a liberação torrencial das informações somente após o pleito, caracteriza evidente caso de estelionato eleitoral.

O regime petista não conta com o beneplácito da população brasileira – importa não deixar que, à força de repetição, o contrário disso venha a prevalecer no discurso público. Porque o Partido dos Trabalhadores já emitiu uma resolução absurda (leiam na íntegra) no último três de novembro (i.e. anteontem), baseando-se em uns tais «milhões de brasileiros e brasileiras que saíram às ruas para apoiar Dilma Rousseff», para apresentar suas propostas políticas escabrosas. Não vou nem me deter sobre a cantilena a respeito de «democracia direta» e «mídia democrática»; quero apenas chamar a atenção para um período que está lá na terceira página do documento:

É urgente construir hegemonia na sociedade, promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização da mídia.

Devo entender que isso foi um ato falho e, por hegemonia, o partido quis simplesmente dizer que se deve construir consenso social a respeito de temas importantes? Ou preciso interpretar ad litteram (como os próprios petistas fazem quando lhes é conveniente; por exemplo, quando o «vamos enfrentar essa minoria [de homossexuais]» nos lábios do Levy Fidelix se entende não como inscrita num processo democrático de discussão pública a respeito dos privilégios atualmente concedidos aos pederastas e às safistas (ler aqui a sensacional «Eremildo vai ao casamento de Suzane»), mas sim como se fosse uma conclamação a que os heterossexuais espancassem homossexuais nas ruas) e concluir que o PT quer se estabelecer como Partido Único na sociedade brasileira, fora do qual não existe governo e nem política?

O atual governo, por fim, e isso é talvez o mais importante, não conta tampouco com o monopólio do combate à pobreza. O Papa Francisco, muito recentemente, afirmou que a bandeira dos pobres foi roubada pelos comunistas aos cristãos; e isso significa não que o Papa seja comunista, como alguns absurdamente interpretaram, mas sim que o cuidado dos pequeninos, antes de ser privilégio das esquerdas modernas, é uma nota evangélica de vinte séculos. É um apanágio do Cristianismo! E o combate à revolução pretendida pela sra. Rousseff (não leram lá na resolução que «para transformar o Brasil, é preciso combinar ação institucional, mobilização social e revolução cultural» – grifos meus?) precisa passar pela reconquista do que é nosso. Por mais absurdo que pareça, tem [muita] gente que sinceramente associa um eventual governo PSDBista com um retrocesso a tempos obscuros de miséria e escravidão. E não nos enganemos: foi com o diferencial dessas pessoas que o PT emplacou o aviltante tetracampeonato que hoje amargamos.

Importa limpar a sujeira que o PT passou os últimos anos espalhando; e isso precisa ser feito com cuidado. Porque é fundamental que, ao atacarmos o PT, não ataquemos desavisadamente os valores positivos que as pessoas honestas projetam nele. Ser contra o Partido dos Trabalhadores não é o mesmo que ser contra aqueles que o PT diz proteger, nem contra aqueles que se sentem representados pelo partido! É com base nessas falsas identidades que o atual governo vem se perpetuando; e, no meu entender, este é o ponto onde é preciso melhor trabalhar para que os nossos interlocutores sejam melhor receptivos a nós.

Os herdeiros dos que já se foram

Todos conhecemos, das aulas de Catecismo, a tríplice “divisão” (permitamo-nos essa impropriedade terminológica em se tratando da Igreja Una) da Igreja em Militante, Triunfante e Padecente. Os fiéis que nos encontramos ainda no caminho desta vida, lutando contra o pecado a fim de, um dia, merecermos o convívio dos eleitos; os fiéis que já se encontram diante do Trono do Altíssimo, gozando da visão beatífica para a qual a infinita bondade de Deus os chamou; e os fiéis que, tendo morrido na amizade de Deus mas ainda com penas a pagar pelos seus pecados, encontram-se no Purgatório a expiar as suas faltas, preparando-se para a entrada definitiva na Jerusalém Celeste. Os primeiros são lembrados na Solenidade de Cristo-Rei; os segundos, comemoram-se na Festa de Todos os Santos; aos últimos dirige-se a Liturgia do dia de hoje, do dia de Finados.

Os fiéis defuntos! É de um misto de tristeza e alegria o dia dos Mortos: dizê-lo é uma banalidade. Sim, é triste porque eles partiram e gostaríamos que estivessem ainda conosco. Mas é feliz por conta da esperança da Vida Eterna, em cuja ante-sala os nossos entes queridos se encontram (ou, ao menos, temos a esperança de que se encontrem). Mas é mais do que isso: há uma certa incompreendida justiça no dia de hoje.

Porque este é o dia em que a presença dos que já partiram se prolonga no tempo para além do curso de sua existência terrestre, e nos atinge com a força de uma realidade inamovível: recusamo-nos a esquecer. O esquecimento, acho que alguém já disse, é pior do que a morte. Há uma certa tendência (cada vez mais institucionalizada, eu diria) a tratar como se nunca tivessem existido aqueles que não existem mais: eu o percebia dia desses, no Facebook, quando procurava certa postagem feita por um amigo há poucos meses falecido. Rolei e rolei o grupo sem encontrar o que procurava; de repente me dei conta de que o perfil dele havia sido apagado e, com isso, todas as suas intervenções simplesmente desapareceram da rede social, como se nunca houvessem estado lá. E podem dizer que são mórbidos “perfis de gente morta”, observação com a qual eu talvez até concorde; mas que os registros da passagem de um nosso ente querido pelo mundo sejam apagados a ponto de alguém não ser capaz de saber que ele existiu… tal é profundamente injusto e, do contrário disso, ninguém será capaz de me convencer.

finados

Hoje, na Missa de Finados, diante da Essa mortuária liturgicamente colocada na nave central da igreja, eu pensava nessas coisas. A vida passa num átimo, disso eu já me apercebera há algum tempo; mas o dia de hoje nos diz mais do que isso. A celebração dos fiéis defuntos nos ensina que é necessário um esforço consciente a fim de não deixarmos cair no esquecimento a memória dos que nos precederam no caminho desta vida. Importa que eles sejam lembrados! É, como eu dizia, uma questão de justiça. Afinal de contas, o mundo só é do jeito que é por conta das contribuições, pequenas ou grandes, que lhe fizeram os que hoje celebramos (isso é particularmente verdadeiro para os nossos entes queridos, mas tem validade universal). De fato, há diversos caminhos que poderiam, teoricamente, ter nos conduzido até aqui; mas foi um caminho específico e determinado o que nós percorremos; e reconhecê-lo nos faz mais humanos. As estradas que agora trilhamos foram abertas pelos que vieram antes de nós, para com os quais temos uma dupla dívida: por um lado, temos que lhes ser gratos e, por outro, temos que lhes continuar a luta. Afinal, até aqui eles nos trouxeram. Temos que deixar os que nos sucederão um pouco mais além.

No dia de Finados, é momento de elevar ao Altíssimo algumas orações em sufrágio pelas almas dos que padecem no Purgatório. Que o Bom Deus tenha misericórdia deles! Que lhes conceda o descanso eterno, a luz e a paz. E que nos ajude, a nós, a honrarmo-lhes a memória. A nós, que ficamos, e temos o dever de sermos um pouco mais do que nós mesmos: temos o dever de ser um reflexo dos que já não são. Somos os herdeiros dos que hoje comemoramos: não o esqueçamos. Que eles nos olhem com orgulho e admiração. Que descansem em paz.

Domingo, fizemos história!

A despeito da reeleição da sra. Rousseff no último domingo (com 51,64% dos votos válidos), esta é a primeira vez na história das minhas eleições em que me encontro, num certo sentido, satisfeito. Sim, trata-se de verdadeira tragédia e vergonha, sem dúvidas; mas as condições sob as quais esta ignomínia se abateu sobre o povo brasileiro dão alento e alívio. O opróbrio veio e a mácula negra, desgraçadamente, há de ficar para sempre na nossa história, é verdade; mas há também linhas bonitas e cheias de esperança a serem contadas. Que merecem ser registradas.

Antes de mais nada, a diferença foi pequena, tão pequena que nós quase chegamos lá. Isso, que provoca à primeira vista a maior frustração – e passa talvez uma sensação de que se nadou, nadou e nadou para morrer na praia -, é na verdade um bálsamo quando a decepção primeira esmorece um pouco e dá lugar à serena reflexão sobre o assunto: pela primeira vez desde 1998, nós reunimos cinquenta milhões de eleitores brasileiros contra a máquina de opressão petista. Cinquenta milhões de almas que não suportam mais os desmandos dos nossos governantes! É um contingente grande demais para ser desprezado e, considerando-o, não é possível fugir à sensação de conforto e segurança. Não estamos sós; e isso é um alívio.

Três milhões e meio de votos…! É uma diferença tão pequena que qualquer Região Metropolitana do Recife poderia, matematicamente, fazer a balança pesar pro outro lado. Os votos que foram anulados (cinco milhões) poderiam fazer o candidato derrotado ser eleito. Pouco mais de 10% das abstenções (trinta milhões) poderiam fazer o resultado final ter sido diferente. Em uma palavra: nunca antes havíamos imposto aos bárbaros um risco tão grande e real de derrota. Tremei, ó petistas, que desta vez chegastes ao fim do combate presidencial quase à morte! E não deixaremos as feridas sararem. Nós ainda não terminamos; na verdade, não estamos nem perto de terminar.

Se a moral da sra. Rousseff no atual mandato já estava baixa, agora está a ponto de desaparecer: dos mais de cento e quarenta milhões de brasileiros eleitores, apenas cinquenta e quatro milhões – 38% – querem a Dilma como presidente. Bem menos da metade do eleitorado, portanto. Das eleições de 2010 para cá, a candidatura da oposição cresceu 7,5 milhões de votos, enquanto a Dilma teve um milhão e duzentos mil votos a menos do que conseguiu quatro anos atrás – e isso em números absolutos, sem levar em conta o crescimento do eleitorado! Apesar da derrota, encurtamos a distância de maneira magnífica. Estamos de parabéns. Fizemos história.

Avaaz.org – isso mesmo, Avaaz! – registra, neste momento, um abaixo-assinado para o impeachment da sra. Rousseff que já conta com mais de um milhão de assinaturas, número que aumenta a cada minuto. A imagem da presidente está irremediavelmente desgastada, e não vai ser esta vitória eleitoral apertada (apertadíssima!) que terá o condão de a restaurar. O monstro está ferido de morte. Cumpre-nos, agora, não o deixar convalescer.

E, a nós outros, coragem! Há mais valor no Brasil do que querem nos fazer crer os bárbaros que usurparam o governo. O combate será terrível, e eu posso até aceitar que ele se tenha agora tornado mais difícil: mas, agora, combatemos lado a lado, ombro a ombro, com os outros cinquenta milhões de brasileiros que não querem o PT na presidência da República. Coragem, que ainda há esperança para o Brasil: foi isto e não outra coisa o que resplandeceu quando se abriram as urnas domingo passado. Coragem, perseverança e foco, que ainda há – e muito – o que fazer.