Está consumado

Ontem foi a tomada de posse do presidente eleito dos Estados Unidos. Está consumado: o país mais poderoso do mundo tem, agora, um presidente abortista. Há quem reclame (aliás, quase todo mundo) que eu insisto demasiado no assunto, que é bobagem ficar olhando somente para um aspecto do programa de governo do sr. Obama, que as pessoas precisam fazer algumas concessões se quiserem chegar ao poder e blá-blá-blá. Acontece que não dá para ser diferente, porque este “pequeno detalhe” da gestão Obama é o detalhe mais importante de todos. Como confiar no discernimento moral de um sujeito que defende o assassinato sistemático de crianças por suas próprias mães? Já citei aqui Madre Teresa, segundo a qual o maior inimigo da paz é o aborto, porque, se dissermos para uma mãe que ela pode matar o próprio filho, não poderemos dizer às pessoas que elas não podem se matar umas às outras. E isso é lógico. Do mesmo modo, se o homem mais poderoso do mundo diz que as crianças podem ser assassinadas por suas mães… que garantia pode haver para o resto das decisões que ele será capaz de tomar? Como confiar num sujeito que promove o assassinato de crianças inocentes? Se o seu senso moral falha numa coisa tão crucial, como garantir que não vai falhar também em outras coisas?

Por isso que o aborto não é somente “uma” questão. É a questão. Dela dependem todas as outras, pelo duplo motivo de que (1) ela evidentemente precisa ser tratada com a máxima prioridade e (2) descuidar dela faz com que nada garanta o cuidado com todas as demais; afinal, por que motivo alguém que despreza as coisas mais importantes estaria imune ao desprezo daquelas que são menos importantes?

Defender o aborto é um indicativo infalível de se ter um senso moral radicalmente defeituoso. Isso não significa necessariamente que os abortistas sejam pessoas sem moral alguma; mas significa, sim, infalivelmente, que o senso moral destas pessoas tem um sério problema. É lógico que não merece confiança alguém que despreze a vida humana; as pessoas que me acusam de não olhar para as qualidades do presidente recém-empossado não percebem esta coisa tão evidente. Um senso moral sem bases sólidas pode ruir a qualquer momento: defender o crime do aborto é não ter solidez alguma na sua base moral.

* * *

Curiosa a reação nonsense da mídia à posse do presidente abortista; a tradução para o português deste artigo do New York Times aponta bem a concepção que virou senso-comum do messianismo obamista: o discurso de posse de Barack Obama foi um repúdio enérgico à era de George W. Bush e uma promessa de conduzir os Estados Unidos a “uma nova era”, com a reforma dos valores do período anterior. Com muita propriedade criticou o Reinaldo Azevedo (grifos no original):

Quem ouviu ou leu o discurso de Obama e prestou atenção a seus comentadores fica com a impressão de que, ontem, teve termo uma ditadura e se inaugurou nos Estados Unidos o regime democrático. E, no entanto, Bush pegou o helicóptero, depois o avião e se mandou para seu rancho no Texas. Ao longo de seus oito anos de mandato, vejam que coisa, o Congresso mais poderoso do mundo jamais deixou de funcionar — parte do tempo com maioria democrata. Não gostaria de deixar ninguém chocado, especialmente aqueles que foram às lágrimas, mas a democracia americana esteve vigilante durante todo esse tempo.

[…]

ELE VAI MUDAR TUDO NUMA SUPOSTA VELHA ORDEM A SER VENCIDA QUE, NÃO OBSTANTE, DEU À LUZ O DEMIURGO DA NOVA ORDEM.

Quando existe uma campanha tão vasta de desinformação em torno de um acontecimento contemporâneo, não sei o que se pode esperar. Se é triste  e não raro trágico para um povo ignorar o seu passado, quanto mais ignorar a sua história presente…? Que Deus tenha misericórdia dos Estados Unidos.

“Provavelmente, não existe motorista”

Esta eu vi no Fratres in Unum e é muito boa. Refere-se à campanha ateísta que começou recentemente – mas que já havia sido noticiada há algum tempo – na Grã-Bretanha, composta de slogans nos ônibus dizendo (tradução livre) “Provavelmente, Deus não existe”:

Provavelmente, não existe motorista.

Grã-bretanha. Segundo a rádio britânica (“Britische Rundfunk”), o motorista crente Ron Heather de Southampton, em Südengland, negou-se a dirigir um ônibus público com um slogan ateísta. Ao entrar em serviço, Heather viu o seguinte anúncio publicitário no ônibus: “Provavelmente, Deus não existe. Pare de se preocupar e desfrute a sua vida”. O motorista explicou ao seu chefe que não conduziria o ônibus e foi para casa.

Excelente.

U.S.C.C.B. to Obama

As we may easily see, from the map on the bottom of the column, some of our visistor have their ip’s pointing to many, many places around the globe, specially the western Europe and the United States of America, to whom this first english written post is addressed. I cannot guarantee at all  any frequence on these posts, for my english — as you all may see — isn’t that great. Although, i found myself in trouble when I was trying to translate the letter sent to Mr. Obama by the United States Conference of Catholic Bishops and signed by Msr. Francis Cardinal George, bishop of Chicago and president of this conference, as I didn’t want to compromize the meaning of any word, so i thought that this was a good chance to a post in this blog to welcome the english speakers (and non-portuguese speakers as well), so welcome!

Great words were said by the conference, and I hope that we all can learn something about courage and the will to propagate the catholic faith and the will to extend the kingdom of Christ on earth. Before quoting the letter in integrum, I felt free to highlight some parts, as will you see. Sorry for my poor english. Feel free to correct any word or sentence.  Let us just say that the american people can be proud of their Conference of Bishops. May  each one of them say, when the time comes: “I have fought a good fight, I have finished my course, I have kept the faith.”

Here’s the letter: [ the original]

As our nation begins a new year, a new Administration and a new Congress, I write to outline principles and priorities that guide the public policy efforts of the United States Conference of Catholic Bishops (USCCB). As President of the Bishops’ Conference, I assure you of our prayers, hopes and commitment to make this period of national change a time to advance the common good and defend the life and dignity of all, especially the vulnerable and poor. We continue to seek ways to work constructively with the new Administration and Congress and others of good will to pursue policies which respect the dignity of all human life and bring greater justice to our nation and peace to our world.

As Bishops, we approach public policy as pastors and teachers. Our moral principles have always guided our everyday experience in caring for the hungry and homeless, offering health care and housing, educating children and reaching out to those in need. We lead the largest community of faith in the United States, one that serves every part of our nation and is present in almost every place on earth. From our experience and our tradition, we offer a distinctive, constructive and principled contribution to the national dialogue on how to act together on issues of economic turmoil and suffering, war and violence, moral decency and human dignity.

Our nation now faces economic challenges with potentially tragic human consequences and serious moral dimensions. We will work with the new Administration and Congress to support strong, prudent and effective measures to address the terrible impacts and injustices of the economic crisis. In particular, we will advocate a clear priority for poor families and vulnerable workers in the development and implementation of economic recovery measures, including new investments while strengthening the national safety net. We also support greater accountability and oversight to address irresponsible abuses of the system that contributed to the financial crisis.

The Catholic Bishops of the United States have worked for decades to assure health care for all, insisting that access to decent health care is a basic human right and a requirement of human dignity. We urge comprehensive action to ensure truly universal health care coverage which protects all human life including pre-natal life, and provides access for all, with a special concern for the poor. Any such legislation ought to respect freedom to choose by offering a variety of options and ensuring respect for the moral and religious convictions of patients and providers. Such an approach should seek to restrain costs while sharing them equitably.

In closing, I renew our expression of hope and our offer of cooperation as you begin this new period of service to our nation in these challenging times. We promise our prayers for you, that the days ahead will be a time of renewal and progress for our nation and that we can work together to defend human life and dignity and build a nation of greater justice and a world at peace.

Nonetheless, we offer this outline as an agenda for dialogue and action. We hope to offer a constructive and principled contribution to national discussion over the values and policies that will shape our nation’s future. We seek to work together with our nation’s leaders to advance the common good of our society, while disagreeing respectfully and civilly where necessary for preserving that same common good.

On international affairs, we will work with our leaders to seek a responsible transition in an Iraq free of religious persecution. We especially urge early, focused and persistent leadership to bring an end to violent conflict and a just peace in the Holy Land. We will continue to support essential U.S. investments to overcome poverty, hunger and disease through increased and reformed foreign assistance. Continued U.S. leadership in the fight against HIV-AIDS and other diseases in ways that are both effectively and morally appropriate have our enthusiastic backing. Recognizing the complexity of climate change, we wish to be a voice for the poor and vulnerable in our country and around the world who will be the most adversely affected by any dramatic threats to the environment.

We will work with the new Administration and Congress to fix a broken immigration system which harms both our nation and immigrants. Comprehensive reform is needed to deal with the economic and human realities of millions of immigrants in our midst. It must be based on respect for and implementation of the law. Equally it must defend the rights and dignity of all peoples, recognizing that human dignity comes from God and does not depend on where people were born or how they came to our nation. Truly comprehensive immigration reform will include a path to earned citizenship with attention to the fact that international trade and development policies influence economic opportunities in the countries from which immigrants come.

We stand firm in our support for marriage which is a faithful, exclusive, lifelong union of a man and a woman and must remain such in law. In a manner unlike any other relationship, marriage makes a unique and irreplaceable contribution to the common good of society, especially through the procreation and education of children. No other kinds of personal relationships can be justly made equivalent to the commitment of a man and a woman in marriage.

With regard to the education of children, we will continue to support initiatives which provide resources for all parents, especially those of modest means, to choose education which best address the needs of their children.

We welcome continuing commitments to empower faith-based groups as effective partners in overcoming poverty and other threats to human dignity. We will work with the Administration and Congress to strengthen these partnerships in ways that do not encourage government to abandon its responsibilities, and do not require religious groups to abandon their identity and mission.

Most fundamentally, we will work to protect the lives of the most vulnerable and voiceless members of the human family, especially unborn children and those who are disabled or terminally ill. We will consistently defend the fundamental right to life from conception to natural death. Opposed to abortion as the direct killing of innocent human life, we will encourage one and all to seek common ground that will reduce the number of abortions in morally sound ways that affirm the dignity of pregnant women and their unborn children. We will oppose legislative and other measures to expand abortion. We will work to retain essential, widely supported policies which show respect for unborn life, protect the conscience rights of health care providers and other Americans, and prevent government funding and promotion of abortion. The Hyde amendment and other provisions which for many years have prevented federal funding of abortion have a proven record of reducing abortions. Efforts to force Americans to fund abortions with their tax dollars would pose a serious moral challenge and jeopardize the passage of essential health care reform.

This outline of USCCB policies and priorities is not complete. There are many other areas of concern and advocacy for the Church and the USCCB especially: religious freedom and other civil and human rights, news media and communications, and issues of war and peace. For a more detailed description of our concerns please see Forming Consciences for Faithful Citizenship (USCCB 2008), pages 19-30

As armas na defesa da Verdade

Recebi aqui no blog alguns comentários referentes à forma segundo a qual é lícito ao cristão travar os seus debates em defesa da Verdade. Em particular, foi atacada uma característica que sempre esteve presente na história da Igreja, que é a ironia direcionada contra os inimigos de Deus. Cabe, portanto, perguntar se é lícito ao cristão utilizar-se de ironia para defender a Deus e a Santa Igreja. A questão precisa ser analisada com um pouco de atenção.

Comecemos pelo Catecismo da Igreja Católica; o único momento em que ele fala sobre “ironia” é no parágrafo seguinte:

2481. A jactância ou vanglória constitui um pecado contra a verdade. O mesmo se diga da ironia que visa depreciar alguém, caricaturando, de modo malévolo, um ou outro aspecto do seu comportamento.

A ironia é, portanto, um pecado contra a Verdade. Mas cabe-nos ainda perguntar: isto se aplica a toda espécie de ironia? Ou ainda: a quê, exatamente, refere-se o catecismo quando coloca a ironia como sendo um pecado contra a Verdade?

Santo Tomás de Aquino também fala sobre a ironia na Suma Teológica (Secunda Secundae, q. 113). Para o Doutor Angélico, no entanto, a ironia é aquela coisa “pela qual alguém finge ser menos do que é na realidade”. E ele distingue a ironia que respeita a Verdade daquela que A falseia; esta última é sempre pecado mas, a primeira, não é pecado em si. Parece-nos, todavia, que ainda não é bem este o sentido da palavra que nós estamos buscando.

Sejamos um pouco mais insistentes e mergulhemos com mais afinco nos escritos do Aquinate. Em outro lugar da Summa, falando sobre a “burla” (Secunda Secundae, q.75) e principalmente sobre a “contumélia” (Secunda Secundae, q. 72), encontramos Santo Tomás falando de algo que se assemelha mais àquilo sobre o qual estamos tratando; esta última, aliás, refere-se justamente às injúrias verbais e, salvo melhor juízo, a “ironia” que nós estamos procurando encaixa-se justamente aqui. Santo Tomás nos ensina que “nos pecados de palavras parece que deve considerar-se, sobretudo, com que intenção se pronunciam as palavras. (…) [S]e alguém pronuncia palavras de insulto ou de contumélia contra outro, mas sem intenção de desonrá-lo, e sim para corrigi-lo ou por outro motivo similar, não profere um insulto ou contumélia formal e diretamente, senão acidental e materialmente. (…) Por isso, isto pode ser algumas vezes pecado venial e outras vezes nem sequer haver pecado” (II-IIae, q.72, a.2).

Isso nos explica melhor o sentido do parágrafo 2481 do Catecismo; a ironia que é pecado contra a Verdade é aquela “que visa depreciar alguém”, que é feita “de modo malévolo”. Se, ao contrário, for usada no meio dos embates apologéticos, com o intuito de defender a Verdade e condenar o erro, para desmascarar os sofismas levantados contra Deus e expôr ao ridículo os inimigos da Santa Igreja, então a ironia pode ser não apenas lícita como também meritória. E, desta boa aplicação da ironia, há abundantes exemplos na História da Igreja.

Uma das passagens bíblicas que melhor ilustra isso encontra-se no Primeiro Livro dos Reis. Elias fez um desafio aos profetas de Baal: tanto um quanto outros colocariam um novilho sobre uma pilha de lenha, e invocariam, estes Baal, aquele o Senhor. O Deus que respondesse seria o verdadeiro Deus. Os sacerdotes de Baal foram os primeiros a fazer a prova. Após gritarem pelo ídolo pagão durante a manhã inteira sem obterem resposta, Elias começou a zombar deles:

Sendo já meio-dia, Elias escarnecia-os, dizendo: Gritai com mais força, pois (seguramente!) ele é deus; mas estará entretido em alguma conversa, ou ocupado, ou em viagem, ou estará dormindo… e isso o acordará. [1Rs 18, 27]

E eles gritaram. “Mas não houve voz, nem resposta, nem sinal algum de atenção” (v. 29). Foi quando Elias preparou um altar, e invocou o nome do Senhor, e então “o fogo do Senhor baixou do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a poeira e até mesmo a água da valeta” (v. 38). Elias debochou duramente dos seguidores de Baal, expondo-os ao ridículo diante do povo de Israel; depois disso, clamou ao Senhor e foi escutado.

E os santos que se envolveram em polêmicas foram por muitas vezes ácidos e irônicos. Existe um escrito de São Jerônimo que, na minha opinião, todos os católicos deveriam ler e reler: trata-se do Tratado da Virgindade Perpétua da Santíssima Virgem. Foi uma polêmica que o santo travou com um herege chamado Helvídio, que negava a Virgindade de Maria Santíssima. Já nas primeiras linhas da obra, São Jerônimo deixa claro qual é o seu estilo:

1. Há algum tempo, recebi o pedido de alguns irmãos para responder a um panfleto escrito por um tal Helvídio. Demorei para fazê-lo, não porque fosse tarefa difícil defender a verdade e refutar um ignorante sem cultura, que dificilmente tomou contato com os primeiros graus do saber, mas porque fiquei preocupado em oferecer uma resposta digna, que desmoronasse os seus argumentos.

Havia ainda a preocupação de que um discípulo confuso (o único sujeito do mundo que se considera clérigo e leigo; único também, como se diz, que pensa que a eloquência consiste na tagarelice, e que falar mal de alguém torna o testemunho de boa fé) poderia passar a blasfemar ainda mais, caso lhe fosse dada outra oportunidade para discutir. Ele, então, como se estivesse sobre um pedestal, passaria a espalhar suas opiniões em todos os lugares.

Também temia que, quando caísse na realidade, passasse a atacar seus adversários de forma ainda mais ofensiva.

Mas, mesmo que eu achasse justos todos esses motivos para guardar silêncio, muito mais justamente deixaram de me influenciar a partir do instante em que um escândalo foi instaurado entre os irmãos, que passaram a acreditar nesse falatório. O machado do Evangelho deve agora cortar pela raiz essa árvore estéril, e tanto ela quanto suas folhagens sem frutos devem ser atiradas no fogo, de tal maneira que Helvídio – que jamais aprendeu a falar – possa aprender, finalmente, a controlar a sua língua.

Não é um exemplo isolado. De muitos que poderiam ser citados, também Santo Ireneu, quando atacava os gnósticos do seu tempo, não tinha melindres sentimentalistas e lançava-se com ardor à batalha que precisava travar para defender a Sã Doutrina:

Vejamos agora as inconstantes doutrinas deles [dos gnósticos]. São duas ou três, e como falam de forma diferente sobre as mesmas coisas e, servindo-se de nomes iguais, indicam objetos diferentes.

[…]

Outro ilustre mestre deles, dotado de gnose mais sublime e profunda, expõe assim a primeira Tétrada: existe, antes de todas as coisas, um Pró-princípio pró-ininteligível, inexprimível e inominável que chamo Unicidade. Com ele está uma Potência que chamo Unidade. Estas, Unicidade e Unidade, que são uma coisa só, emitiram, sem emitir, um Princípio inteligível, ingênito e invisível, ao qual dou o nome de Mônada. Com esta Mônada está uma Potência da mesma substância, que chamo Um. Estas Potências, isto é, Unicidade e Unidade, Mônada e Um emitiram os restantes Eões.

Ha! he! ah! ah! Valem estas exclamações trágicas diante desta audácia em inventar nomes e aplicá-los despudoradamente a esta mentirosa invenção. Com efeito, quando diz: Existe antes de todas as coisas um Pró-princípio pró-ininteligível que chamo Unicidade e com ele está uma Potência que chamo Unidade, mostra claramente que são ficção todas as palavras que pronunciou e que deu a estas ficções nomes que ninguém antes dele lhes deu. Se não tivesse esta ousadia, segundo ele, ainda hoje a verdade estaria sem nome. Por isso, nada impede que outro qualquer, ao tratar deste assunto, use estes nomes: Existe certo Pró-princípio soberano pró-esvaziado-de-inteligibilidade, pró-esvaziado-de-substância e Potência pró-pró-dotada-de-esfericidade, que chamo Abóbora. Junto com esta Abóbora coexiste uma Potência que chamo Super-vacuidade. A Abóbora e a Super-Vacuidade, sendo um só, emitiram sem emitir um Fruto visível de qualquer lugar, comestível e saboroso, ao qual dou o nome de Pepino. Junto com este Pepino existe uma Potência da mesma substância, que chamo Melão. Estas Potências, isto é, Abóbora e Super-vacuidade, Pepino e Melão emitiram a multidão restante dos Melões delirantes de Valentim. Com efeito, se é necessário ajustar a fala comum à primeira Tétrada e se cada um escolhe os nomes que quer, o que impede usar estes nomes muito mais inteligíveis, usuais e conhecidos de todos?
[Santo Ireneu, Contra as Heresias, Livro I, Parte II, 11,1-11,4]

Ora, se os santos – que nos são propostos pela Igreja como modelos de virtude – souberam atacar virulentamente os inimigos da Igreja, como poderemos sustentar que a ironia seja algo de mau em si? Como pode a ironia ser contra a caridade, se tantas pessoas piedosas e tementes a Deus souberam utilizá-la tão bem? Na verdade, o bom católico não tem o sentimentalismo piegas que parece ser característica dos nossos dias. O verdadeiro católico é um soldado de Cristo, é uma alma corajosa, dotada de fibra e de zelo na defesa da Fé e na exaltação da Igreja de Nosso Senhor. O bom católico sabe – à imitação dos santos – agir com dureza quando estão em jogo coisas importantes. O bom católico, como no lema de São Bento, ora et labora: reza, como na Ladainha de todos os Santos, a fim de que os inimigos da Igreja sejam humilhados (ut inimicos Sanctae Ecclesiae humiliare digneris – Te rogamus, audi nos!) e trabalha, com afinco, para que a Verdade triunfe sobre os erros e sejam desmascarados os inimigos de Deus. Inclusive utilizando-se da ironia, se necessário for, ad Majorem Dei Gloriam. Note-se que ninguém está obrigado a ser irônico; mas aqueles que souberem, quiserem e puderem sê-lo, não precisam ficar com escrúpulos de consciência. A ironia não é condenável em si mesma.

Obviamente, é necessário haver parcimônia; claro que a ironia pode por vezes degenerar em deboche grosseiro, em agressão gratuita, e pode se transformar sim em falta de caridade. Além do mais, o tom irônico não dispensa os argumentos, como é óbvio, sob a gravíssima pena de ser contraproducente. Mas – e isso é o mais importante aqui – nem toda ironia é falta de caridade, e é lícito empregá-la na defesa de Nosso Senhor. Que a Virgem Santíssima nos faça católicos de fibra; e que os santos nos ensinem a fugir do “politicamente correto”, sabendo reconhecer o valor e a importância de dedicar-se com zelo ao Bom Combate que todos nós somos chamados a travar.

O disfarce dos lobos

Vindo sabe-se lá de qual recôndito do inferno, um certo “Anjo” apareceu aqui no Deus lo Vult! para defender o indefensável e contrariar a Igreja de Nosso Senhor no tocante ao homossexualismo. Lançando mão de um vazio jogo de palavras e citando “autoridades” desconexas da Igreja e a Ela frontalmente contrárias, pretende este sujeito ter autoridade de ensino e pregar a própria moral à margem da Moral Católica, apresentando-a no entanto como se fosse a mais pura expressão do Cristianismo.

A coerência é em si uma virtude, que se pode encontrar também entre aqueles que não cerram fileiras com a Igreja de Cristo. É coerente que um homossexual, que não queira renunciar aos seus maus hábitos, opte por não ser católico; no entanto, é profundamente indignante quando este homossexual, não contente em ter a sua própria concepção de mundo, quer negar à Igreja o direito de ter a Sua e, por meio de um palavrório vazio, tenta obscurecer a clareza da posição católica sobre o assunto e apresentar o anti-catolicismo como se catolicismo fosse. As “Católicas Pelo Direito de Decidir” fazem, sobre o tema do aborto, a mesmíssima coisa que o tal site da “Diversidade Católica” faz sobre o tema do homossexualismo: ambos os grupos de pessoas apresentam a própria visão de mundo (clara e insofismavelmente contrária à católica) como se fosse a visão da Igreja. Urge desmascarar os mentirosos.

O tal “Anjo” citou um artigo (desgraçadamente, da autoria de um padre) chamado “Eles também são da nossa estirpe”, publicado numa revista da Vozes da década de 60, no qual é apresentada uma “teologia” (i)moral completamente independente e destoante da Teologia Moral Católica. Convém insistir: uma coisa é a apresentação das próprias idéias como sendo próprias, e outra muito diferente é apresentá-las indevidamente como se fossem de outrem. Neste último caso, é fraude e engodo. É exatamente o que o padre Jaime Snoek faz no artigo citado.

Separemos desde logo os termos: a mera atração sexual por pessoas do mesmo sexo não é, em si, pecado. Quer isso seja chamado de “inclinação desordenada”, quer de “homofilia nuclear”, quer de “homossexualidade” [reservando “homossexualismo” para as relações sexuais], ou qualquer outra coisa. A nomenclatura utilizada para designar a coisa não muda a coisa em si; e, dentro do que ensina a Igreja, é muito clara a diferença entre “sentir” e “consentir”, não sendo passíveis de moralidade os atos que são involuntários. Não precisaria, portanto, o reverendíssimo sacerdote gastar tanto tempo na definição e utilização de termos estranhos ao leitor mediano, quando poderia simplesmente dizer as coisas de modo direto e acessível a todas as pessoas. Aliás, vale salientar que as discussões sobre a origem da “homofilia” e sobre as diferentes designações que manifestações distintas dela podem receber não têm nada a ver com o ponto em litígio, que é a licitude moral dos atos anti-naturais.

O que realmente interessa no artigo vem a partir da página 797, sob o título de “A Homofilia Perante a Moral”. Para fugir da clareza cristalina da posição católica e torcer a evidência das Escrituras e da Tradição, o pe. Snoek tergiversa sobre três sub-tópicos: a Bíblia, a Atitude das Igrejas e a Reflexão Teológica. Não se sabe qual dos três é mais digno de lástima.

Sobre a Bíblia, o problema é muitíssimo evidente, porque quem detém autoridade para a interpretação das Escrituras Sagradas é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e ponto final. Torcendo de maneira absurda os mais claros textos escriturísticos, quer do Antigo Testamento, quer das Epístolas de São Paulo, ao final das contas o que o pe. Snoek faz é, simplesmente, expôr a sua própria e particular interpretação (não importa se referendada por fulanos ou sicranos, é mesmo assim interpretação particular pelo simples fato de não ser interpretação da Igreja). Não é necessário entrar no mérito da validade das suas interpretações, até porque isso não é possível, pois ou se reconhece uma autoridade capaz de dar a última palavra, ou haverá tantas interpretações quanto cabeças interpretantes. Basta mostrar que a interpretação da Igreja – única intérprete autorizada das Escrituras Sagradas – difere radicalmente da interpretação proposta pelo artigo da revista da Vozes. Citemos o Catecismo:

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
[Catecismo da Igreja Católica, 2357]

Mais claro, impossível. Para a Igreja, a Sagrada Escritura “apresenta [os atos de homossexualidade] como depravações graves”. Para o pe. Snoek, no entanto, parece ser “bastante claro que estas proibições [entre elas, “a severa condenação da homofilia”], no seu contexto, foram inspiradas pela idéia de pureza cultural, abolida pela Nova Lei”. São portanto duas posições contrárias e inconciliáveis. É, aliás, revelador que o artigo em análise cite o Catecismo Holandês, ao invés do Romano, para justificar a sua posição injustificável: fica, portanto, evidente que a posição do pe. Snoek não está de acordo com a posição da Igreja de Roma. Que se apresentem teorias escabrosas e imorais, vá lá, toleremos; mas não queiram enganar os incautos, fazendo crer que tais teorias são referendadas pela Igreja de Cristo.

Sobre a Atitude das Igrejas, incrivelmente, o autor do texto vai buscar a atitude das… igrejas protestantes! Uma única palavra retirada da Tradição da Igreja, dos escritos dos Padres, dos Decretos dos Concílios Ecumênicos, dos documentos papais, nada disso consegue o pe. Snoek aduzir em favor da sua tese. E é óbvio que não consegue, porque ela – como já foi dito – é radicalmente incompatível com o Cristianismo. Estranho que este padre queira apresentar as suas conclusões estapafúrdias como sendo católicas; baseando-se na livre-interpretação das Escrituras Sagradas e citando atitudes de igrejas protestantes, deveria o reverendíssimo sacerdote ser coerente com a sua argumentação e abraçar o protestantismo. No entanto, prefere disfarçar-se de católico para, assim, enganar mais pessoas e arrastar mais almas para longe do estreito caminho que conduz à Salvação.

Haurindo as suas premissas de fontes tão lamacentas, o que se poderia esperar da Reflexão Teológica que propõe o sacerdote? Nada além de falsas conclusões oriundas de falsas premissas, de desprezo ao ensino do Magistério da Igreja e de descalabros completos – não tenho mais fôlego para comentar, e isso só iria tornar este post (ainda mais) maçante. É suficiente ter bem claro que as posições defendidas pelo padre Jaime Snoek em particular e pelo site “Diversidade Católica” em geral estão em franca oposição à Moral da Igreja, e imagino que isso já tenha ficado mais do que evidente. Movido por um sentimento (justo) de compaixão para as pessoas que sofrem de problemas homossexuais, esforça-se contudo o pe. Snoek não para libertá-las de seu pecado, e sim para aprisioná-las ainda mais nos seus maus hábitos, ensinando-as não a lutarem contra as tentações, mas a se entregarem de maneira vil a elas. Assusto-me ao imaginar o mal que este tipo de atitude pode causar: ao invés de reconduzir as ovelhas desgarradas aos prados verdejantes, esforça-se o lobo vestido de pastor para convencer as ovelhas que é uma coisa muito boa viver cercada por lama nos pântanos e charcos do mundo.

Bush e o dia da Santidade da Vida humana

Em algum momento do intervalo entre postar a íntegra do — já mencionado — belíssimo discurso do presidente George W. Bush (soon-to-be ex) em inglês e fazer uma tradução traditora, encontrei, por acaso, no orkut, a tradução, que me parece bastante acurada. Uma vez que o autor do tópico não deixou claro se a reproduzia de outro lugar, ou se traduziu o discurso ele mesmo, deixo o espaço vacante para o reclame de autoria da tradução. De qualquer modo, reproduzo-a abaixo:

Dia Nacional da Santidade da Vida Humana, 2009

Proclamado pelo Presidente dos Estados Unidos da América

Toda vida humana é um dom de nosso Criador, que é sagrado, único e digno de proteção. No Dia Nacional da Santidade da Vida Humana, nosso país reconhece que cada pessoa, incluída toda pessoa que espera para nascer, tem um lugar e um propósito especiais neste mundo. Nós também sublinhamos nossa dedicação em divulgar esta mensagem de consciência ao clamar pelos que, entre nós, são fracos e sem voz.

O dever mais básico do governo é proteger a vida do inocente. Minha Administração tem se comprometido em construir uma cultura da vida ao promover vigorosamente leis de notificação de adoção e de paternidade, ao se opor ao financiamento federal de abortos no exterior, ao encorajar a abstinência aos adolescentes e ao financiar programas de gravidez de risco. Em 2002, tive a honra de sancionar a Lei de Proteção a Crianças Nascidas Vivas, que estende a proteção legal a crianças que sobrevivem a uma tentativa de aborto. Assinei uma legislação em 2003 para banir a prática cruel do aborto de nascimento parcial, a aquela lei representa nosso compromisso em construir uma cultura da vida na América. Também me orgulho de ter assinado a Lei de Não-nascidos Vítimas de Violência em 2004, que permite às autoridades acusar uma pessoa que causou a morte ou lesão a uma criança no ventre como uma acusação separada em acréscimo a outras acusações relacionadas à mãe.

A América é uma Nação atenciosa, e nossos valores devem nos conduzir enquanto aproveitamos os benefícios da ciência. Em nosso zelo pelos novos tratamentos e curas, não podemos jamais abandonar nossos valores morais fundamentais. Nós podemos alcançar as grandes descobertas, que todos procuramos, com reverência pelo dom da vida.

A santidade da vida está escrita nos corações de todos os homens e mulheres. Neste dia e ao longo do ano, aspiramos à construção de uma sociedade em que toda criança é bem-vinda à vida e protegida pela lei. Também encorajamos mais dos nossos compatriotas americanos a se unirem a nossa causa justa e nobre. A história nos ensina que com uma causa enraizada em nossos princípios mais profundos e recorrendo aos melhores instintos de nossos cidadãos, nós vamos prevalecer.

AGORA, PORTANTO, EU, GEORGE W. BUSH, Presidente dos Estados Unidos da América, em virtude da autoridade investida em mim pela Constituição e leis dos Estados Unidos, pelo presente ato proclamo 18 de janeiro de 2009 como Dia Nacional da Santidade da Vida Humana. Eu conclamo os americanos a marcar este dia com cerimônias apropriadas e a destacar nosso compromisso com o respeito e a proteção à vida e à dignidade de todo ser humano.

COMO TESTEMUNHO, com referência a isto eu ergo minha mão neste décimo quinto dia de janeiro, no ano de nosso Senhor de dois mil e nove, e no de duzentos e trinta e nove da Independência dos Estados Unidos da América.

GEORGE W. BUSH

O original pode ser visto em: http://www.whitehouse.gov/news/releases/2009/01/20090115-1.html

Errando o alvo

Acho que tenho um amigo que é fã do Carlos Cardoso, sobre quem eu já teci alguns ligeiros comentários aqui. Vira e mexe, ele me manda algum post provocativo que dá vontade de comentar. As mais das vezes, declino. No entanto, preciso tecer umas rápidas linhas sobre um post da semana passada, sobre pecado e confissão.

O Cardoso fez uma lista dos pecados que só podem ser “perdoados pelo Papa em pessoa” – é o que chamamos de reservados à Sé Apostólica. Com o perdão do trocadilho, é preciso precisar. Em primeiro lugar, o que é reservada é a excomunhão e não o pecado; nunca ouvi falar em “pecado reservado à Sé Apostólica”, e sim em “excomunhão reservada à Sé Apostólica”. Em segundo lugar, a lista está pelo menos parcialmente incorreta; falta a Sagração Episcopal sem mandato pontifício (o caso, p.ex., de Dom Lefebvre – vide o motu proprio Ecclesia Dei), a agressão ao Sumo Pontífice não precisa ser “tentar assassinar” (é qualquer agressão física), e eu nunca ouvi falar nesta última que fala sobre o impedimento à ordenação sacerdotal (se bem que é verossímil, e eu posso estar enganado).

Terceiro lugar, e mais importante: o Cardoso fica escandalizado porque profanar a Santíssima Eucaristia faz incorrer em excomunhão reservada à Sé Apostólica e matar uma pessoa, não. Mas aí ele comete a grossíssima besteira de julgar a Igreja sob as convicções dele próprio. Acho razoável que este sujeito – que eu não sei quem é – não acredite no dogma católico da transubstanciação; o que não é razoável e nem honesto, sob nenhuma ótica, é transpôr a não-crença dele para as penas canônicas da Igreja Católica.

Todo mundo sabe que os católicos acreditam que a Eucaristia não é “um pedaço de pão”, e sim o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Portanto, quando a Igreja estabelece uma pena para quem profanar a Eucaristia, evidentemente não está punindo quem faltar com o respeito devido para com “um pedaço de pão”, e sim quem faltar com o respeito devido ao Deus substancialmente presente sob as espécies do pão e do vinho. Acho razoável e perfeitamente normal que o Cardoso não acredite nisso, mas não é razoável que ele critique “a escala de valores desse pessoal” falseando aquilo no que “este pessoal” acredita. É um grosseiro erro de alvo.

Criticar a escala de valores de alguém evidentemente só faz sentido se se estiver criticando os valores deste alguém da forma como ele próprio os entende, e não como um estranho os concebe. O senso de proporções dos católicos está perfeito e intacto – afinal, o que é mais precioso (o Corpo de Deus) é mais severamente protegido, e não há nada mais natural do que isso. O que não está intacta é a “pontaria” do Carlos Cardoso. Se ele fosse criticar o dogma católico, a despeito de não conseguir, ao menos o seu esforço intelectual faria sentido. No entanto, criticando os valores católicos por algo que eles não são, ele só consegue mostrar-se incapaz de perceber até mesmo o conteúdo daquilo sobre o qual se propõe a falar.

Abusos Sexuais, Guerra de Israel, Lar Homossexual

Três comentários ligeiros:

– Sabe quando você lê alguma coisa e tem certeza absoluta de que é mentira? Foi a minha sensação ao ver esta notícia do Estado de São Paulo que diz que “[o] arcebispo de Santo Domingo, capital da República Dominicana, Nicolás de Jesús López, afirmou que roupas decotadas e mini-saias, por exemplo, provocam os homens, e por isso acusou as mulheres de serem culpadas pelos abusos de que são alvo”. Que as roupas inadequadas das mulheres são uma tentação para os homens, é evidente; mas daí a dizer, como na manchete, que as “mulheres são culpadas [pelos] abusos sexuais” que sofrem vai uma distância enorme, que ultrapassa de longe qualquer margem de equívoco de interpretação possível e só é explicável por uma tremenda má-fé. Desafio qualquer um a trazer aqui o texto completo do discurso do arcebispo de Santo Domingo, para vermos se Sua Excelência disse realmente o que o Estadão disse que ele disse.

– Israel está unido, como eu comentei aqui em outra ocasião; vi uma notícia ontem segundo a qual uma manifestação de judeus pela paz em São Paulo aprova a ação de Israel. Enquanto tem gente até chamando os israelenses de nazistas (!!), é bom saber que os próprios judeus sabem o que está em jogo. Rezemos pelas crianças da faixa de Gaza.

– No blog do professor Felipe Aquino: testemunho de uma mulher criada por um homossexual. Vale a pena ler. Excerto:

“Mais de duas décadas de exposição direta a estas experiências estressantes causaram insegurança, depressão, pensamentos suicidas, medo, ansiedade, baixa auto-estima, insônia e confusão sexual. Minha consciência e minha inocência foram seriamente danificadas. Fui testemunha de que todos os outros membros da família também sofriam”, sustenta Stefanowicz.

Falso(s) site(s) católico(s)

Denúncia: há um site na internet que se apresenta como “Seminário de Doutrina Católica” e que, no entanto, não tem nenhuma relação com a Igreja Católica. Não é a primeira vez que recebo um email sobre o assunto; há uns meses atrás, esta palhaçada já foi objeto de discussão numa lista da qual participo. É, contudo, frustrante que, após tanto tempo, a porcaria ainda esteja do mesmo jeito na internet para enganar os incautos.

É preciso avisar aos navegantes: o site www.seminariocatolico.com.br não é um site católico! Parece piada, mas o site oferece matrícula em cursos e promete, entre outras sandices, títulos honoríficos como “Mestre em Espiritualidade Cristã” e “Doutor em Antropologia Social”. Tentei um “Mestre em Hebraico”. Deve ser o meu dia de sorte, porque o curso está com incríveis 70% de desconto e, pela bagatela de 700 reais – “DE R$ 2.350,00 POR APENAS R$ 700,00″ -, posso obter “estudos dentro das divisões do ensino desenvolvido em etapas da docência a nível superior, acadêmico e Religioso, descrito no Decreto Administrativo conforme Controle Internacional”.

Impressionante! Eles vendem até prêmio Nobel! Na tentativa de descobrir quem é o responsável por essa brincadeira de péssimo gosto – até porque, aliás, isso não é brincadeira e sim crime -, consultei o whois do registros.br. Descobri que o domínio está registrado no nome de um senhor de Uberlândia, MG.

E, inacreditavelmente, o mesmo CNPJ usado para registrar este domínio está associado a 95 (isto mesmo, noventa e cinco) domínios do mesmo teor, como “serpadre.com.br”, ou ainda “doutoresemteologia.com.br”, e até mesmo “bispocatolico.com.br”, entre outras coisas. Qualquer um deles que o internauta digite vai abrir a mesmíssima tela, que é a barraquinha-de-diplomas à qual fiz referência acima. Isso caracteriza evidentemente má-fé e desejo de ludibriar as pessoas.

Ao que me conste, o fato já foi denunciado à CNBB; não faço idéia de como o setor jurídico da Conferência esteja tratando o problema. Um amigo meu, delegado de polícia, disse que também era possível registrar uma ocorrência em alguma DP do estado onde esteja hospedado o site (no caso, Minas Gerais). É importante divulgar, para que as pessoas não sejam enganadas por aqueles que usam indevidamente o nome da Igreja, e também para que alguém possa tomar as providências legais cabíveis.

Carta aos Amigos da Cruz – S. Luís de Montfort

Na realidade, toda a perfeição cristã consiste nisto:

1) na firme vontade de tornar-se santo: “se alguém quer vir após Mim…”

2) na conversão: “renuncie a si mesmo…”

3) na mortificação: “tome a sua cruz…”

4) na ação: “e siga-Me”.

A – “Se alguém quer vir após Mim”

Se alguém quer… Repare-se no desafio, que aparece no singular. Não está escrito “se alguns… mas se alguém”: isto para indicar que será sempre um número reduzido de cristãos que aceitarão tornar-se conformes a Jesus Cristo Crucificado e carregar a própria cruz. Será sempre um número de tal maneira reduzido que, se o conhecêssemos, morreríamos de desgosto; é um número tão minúsculo que não haverá mais do que um em cada dez mil – fazendo fé em revelações a diversos santos, tais como a S. Simeão Estilita, segundo narra o santo abade Nilo, bem como Santo Efrém, S. Basílio e outros -; enfim, é tão pequeno que se Deus quisesse reagrupá-los, lhes gritaria como fez outrora pela boca de um profeta: “E vós sereis recolhidos um a um” [Is 27, 12], um desta província, outro daquele reino.

Se alguém quer…, ou seja, se alguém tiver vontade de verdade, uma vontade total, que provém não já da natureza, da tradição, do amor próprio, do interesse ou do respeito humano, mas sim de uma graça eficaz do Espírito Santo, que não é concedida a todos: “Nem a todos é dado conhecer os mistérios do reino dos céus” [Mt 13, 11; Mc 4, 11].

O conhecimento do mistério da Cruz, na sua real experiência, é dado a pouquíssimas pessoas. Quem quiser subir ao Calvário e deixar-se pregar na Cruz com Cristo, sob o olhar de sua própria gente, deve ser um corajoso e um herói, um homem decidido e uma pessoa de fé; deverá desprezar o mundo e o inferno; não deverá preocupar-se com o próprio corpo e vontade própria; pelo contrário, deverá estar disponível a deixar tudo e a tudo empreender e tudo sofrer por Jesus Cristo.

Ficai sabendo, queridos Amigos da Cruz, que aqueles entre vós que não tiverem esta vontade firme, caminham com um só pé, voam com uma só asa, e não são dignos de estar no meio de vós, porque não satisfazem condignamente o nome dos Amigos da Cruz, daquela Cruz que, à semelhança de Jesus, é preciso amar “com um coração grande e ânimo resoluto” [2 Mac 1, 3]. Uma vontade a meias – o mesmo que uma só ovelha sarnosa – será o suficiente para contaminar todo o rebanho. Se, porventura, houvesse já no vosso rebanho uma assim, que eventualmente se tivesse infiltrado pela falsa porta que utilizam os mundanos, eu vos esconjuro – em nome de Jesus Cristo crucificado – que a expulseis de imediato, tal como se expulsa uma loba do meio das ovelhas.

[…]

[S. Luís de Montfort, “Carta aos Amigos da Cruz”, Edições Monfortinas, 1ª Ed., Maio/2005]