Prêmio Dardos

premiodardos

A caridade é uma virtude maravilhosa. Graças a ela, este blog recebeu cinco – isso mesmo, cinco! – indicações para o Prêmio Dardos, o que foi para mim motivo de muita alegria. O Deus lo Vult! entrou agora no sei oitavo mês; lendo as palavras gentis – e caridosas, principalmente caridosas! – que os meus amigos utilizaram para se referir a este pequeno espaço virtual, tenho a grata sensação de que o tempo aqui empregado não foi em vão.

Fui indicado pel’O Possível e o Extraordinário, pelo blog da Julie Maria, pelo Meus Pensamentos, pelo Blogocop e pelo De tudo um pouco. A idéia do prêmio é a seguinte:

Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

Existem ainda as regras da premiação, que são as seguintes:

  1. Exibir a imagem do selo;
  2. Linkar o(s) blog(s) de onde veio a sua indicação;
  3. Indicar 15 outros blogs para quem entregar o prêmio.

Tenho uma crítica a fazer quanto às regras. Quinze BLOGs indicados são muitos blogs. Conforme o prêmio vai se disseminando e os BLOGs premiados vão elaborando as suas listinhas (ou listonas), vai ficando cada vez mais difícil para que as listas subseqüentes sejam elaboradas. Esta regra deveria ser para, no máximo, cinco blogs (três já estava de bom tamanho). Mas, como não tenho poder para alterar as regras (quem foi que criou o Prêmio Dardos?), fica apenas a sugestão e, por ora, ainda estão valendo as regras vigentes.

Pois bem! Eis, portanto, a minha lista de indicados:

Blog do Fernando: o jeito como o homem do saco vê o mundo! Blog do Fernando Tavolaro.

Estilo Macho: “Comidas, bebidas, charutos, cigarros, armas, roupas e outros prazeres: para machos sofisticados!”. O autor dispensa apresentações: Rafael Vitola Brodbeck.

Amo Roma!: de um grupo de amigos daqui de Recife, da Paróquia da Torre. “Fica dito desde já: aqui ressoa a voz da Igreja. Com nossas pobres palavras, é verdade; com nosso parco vocabulário”. ;-)

O Castelo de Aquino: de um jovem professor católico carioca, e caríssimo amigo, o Thiago Amorim.

Fazei o que Ele vos disser: blog pessoal da Evelyn Mayer, “[u]ma filha de Deus, jovem mulher, esposa e mãe desejosa em cumprir a doce missão que o Senhor me deu”.

ICTYS: uma verdadeira pérola que precisa de mais atualizações! Nem que sejam em espanhol… Blog do Joathas Bello.

O Ultrapapista Atanasiano – a Verdade Contra o Mundo: por Carlos Eduardo Maculan e sua “mais que amada” Izabel Ribeiro Filippi.

Miscelâneas Multiformes: Luíza Helena, brasiliense, cientista política, violeira e escritora nas horas vagas! Blog pessoal.

O Pulo do Tamanduá: blog excelente que bem que poderia ser reativado! Do Luiz Silva – recifense que agora está em Brasília -, vulgo Retrógrado Reacionário da Silva.

Acarajé conservador: o título é bem adequado ao autor. Trata-se do blog do ” Grupo de Estudos do Pensamento Conservador – BA”.

Oblatvs: acredito que seja de um padre de Campos. Comentários sobre notícias atuais.

Cultura da Vida: “atualizado diariamente”. Por Silvio Medeiros e Karen Fernandes, “é um espaço orientado para o resgate do valor da dignidade humana, em todas as suas etapas: do início ao seu fim natural”.

Diga não à erotização infantil: não é um blog religioso, mas faz um excelente trabalho na defesa da infância.

Tubo de Ensaio: do Marcio Antonio, na Gazeta do Povo. Blog sobre ciência e religião.

“Erguei-vos, Senhor”: last but not least, o novíssimo blog de um precioso amigo de todas as horas e todas as circunstâncias, o Gustavo Souza.

Enfim! Obrigado, mais uma vez, aos que indicaram o Deus lo Vult!, e parabéns aos contemplados!

Sobre músicas protestantes

Tenho uma natural repulsa a músicas protestantes. O problema não é propriamente teológico – porque, como alguém já apontou, se a música não contiver heresias ela é uma música católica, num sentido análogo àquele em que a “fé protestante” em Jesus Cristo como Deus e Senhor não é uma “fé protestante”, e sim a exata Fé Católica -, mas sim PASTORAL. É muitíssimo inconveniente que os católicos sejam levados a acreditar que não tem problema algum em ser herege protestante, já que as músicas deles podem ser usadas pelos católicos. É inconveniente que os católicos tomem gosto por músicas que são intrinsecamente pobres (já que há uma gama enorme de verdades da Fé Católica que os protestantes nunca colocarão em suas músicas, porque não as aceitam). É inconveniente favorecermos os grupos heréticos, quando poderíamos favorecer e fomentar os grupos católicos. Enfim, a utilização de músicas reconhecidamente protestantes (excluo deste rol aquelas que já se tornaram praticamente de domínio público, e que quase ninguém associa ao protestantismo quando a escuta) por católicos é muito inconveniente.

Trago as considerações do excelente Dom Estêvão, de saudosa memória, sobre o assunto, publicadas na Pergunte & Responderemos (n/] 516, 2005):

“Não é conveniente adotar cânticos protestantes em celebrações católicas pelas razões seguintes:

1)Lex orandi lex credendi (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Isto quer dizer: existe grande afinidade entre as fórmulas de fé e as fórmulas de oração; a fé se exprime na oração, já diziam os escritores cristãos dos primeiros séculos.

No século IV, por ocasião da controvérsia ariana (que debatia a Divindade do Filho), os hereges queriam incutir o arianismo através de hinos religioso, ao que Sto. Ambrósio opôs os hinos ambrosianos.

Mais ainda: nos séculos XVII-XIX o Galicanismo propugnava a existência de Igrejas nacionais subordinadas não ao Papa, mas ao monarca. Em conseqüência foi criado o calendário galicano, no qual estava inserida a festa de São Napoleão, que podia ser entendido como um mártir da Igreja antiga ou como sendo o Imperador Napoleão.

Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos através de cuja letra se exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.

2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: A Eucaristia, a Comunhão dos Santos, a Igreja Mãe e Mestre… Esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.

3) Deve-se estimular a produção de cânticos com base na doutrina da fé.”

(Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB)

Recomendo ainda a leitura deste artigo do Amo Roma!. E que nos esforcemos para resgatar a riqueza da música católica.

Não dá para entender…

Não consigo imaginar nenhuma justificativa para o que fez a Canção Nova. Nenhuma. Num evento chamado “Hosana Brasil”, foram colocados para desempenhar papéis na Liturgia – respectivamente, Primeira Leitura e Prece dos Fiéis – a sra. Dilma Rousseff e o sr. Gilberto Carvalho. A sra. Rousseff é pré-candidata à presidência do Brasil pelo Partido Totalitário, ex-terrorista (como já foi dito aqui) e ABORTISTA. O sr. Carvalho é um dos responsáveis pela ridícula panfletagem em São Paulo em defesa de Marta Suplicy (como também já foi dito aqui) e adepto da Heresia da Libertação. Não me consta que nenhum dos dois tenha repudiado as suas posições radicalmente incompatíveis com a Igreja Católica. Não consigo entender, então, o que os dois estavam fazendo próximo ao altar da Santa Missa, desempenhando funções litúrgicas às vistas de todos os telespectadores da Canção Nova.

A mensagem implícita transmitida por esta escandalosa atitude é a seguinte: “tudo bem” ser abortista. “Tudo bem” ser adepto de um excremento teológico já incontáveis vezes condenado pelos Papas e que tanto mal fez à Igreja. Está tudo muito bem, porque afinal a Canção Nova colocou essas pessoas, diante do Brasil inteiro, para fazerem leituras na celebração da Santa Missa! E, de repente, miraculosamente, todo o empenho destas duas pessoas na aplicação do contrário do que ensina a Igreja esvanece-se como fumaça, e passa a não ter nenhum valor, soterrado pela Missa transmitida pela Canção Nova e por meia dúzia de palavras bonitas ditas após o escândalo.

Os inimigos da Igreja zombam d’Ela, sob o beneplácito da maior Comunidade Nova brasileira! É frustrante e incompreensível. Será possível que as pessoas responsáveis por organizar a celebração não sabiam que estavam convidando uma abortista para fazer a proclamação da Primeira Leitura? Será possível que não passou pela cabeça de ninguém a enorme inconveniência desta atitude? A ex-terrorista abortista é a provável sucessora de Lula em 2010. Daqui a dois anos, quando dissermos que os católicos não podem votar em abortistas, o que vão pensar as pessoas que viram a Dilma fazer leituras numa missa do “Hosana Brasil”? Nós vamos encontrar ouvidos surdos, e parte desta culpa será da Canção Nova!

Não venham dizer que ela pode “se converter” ao se aproximar da Canção Nova. Já basta de irresponsabilidade. Poder, é claro que pode, porque para Deus nada é impossível; mas ela também pode muito bem não se converter e, aí, devolvo a pergunta: e se ela não se converter? Por acaso foi apresentada uma abortista ao povo católico, exercendo funções dentro da Liturgia da Santa Missa, pensando na possibilidade de que ela venha se converter no futuro, é isso? Isso é desprezar a Doutrina da Igreja que se deve guardar e viver, na medida em que  imprudentemente se apresenta – fazendo leituras na Santa Missa! – uma abortista confessa que (até onde eu saiba) não deu sinais de arrependimento. Isso não é evangelização, é anti-evangelização. O alcance que tem a Canção Nova no território brasileiro é invejável; ao invés de utilizá-lo para anunciar com destemor as exigências da Fé para a vida pública – mormente para a política -, gera-se escândalo na medida em que se age com subserviência aos criminosos que, hoje, ocupam os cargos públicos do nosso país.

Não dá para entender o que a Canção Nova espera com essa atitude. Conseguir favores políticos? “Limpar a barra” da ex-terrorista [e atual] abortista? Semear o indiferentismo? Cair nas graças [ou nas garras…] do PT? Afinal de contas, o quê? Qual é o papel da Canção Nova? Evangelizar a tempo integral, ou apenas “de vez em quando”, “desevangelizando” nos intervalos? Afinal, se ela “não percebe” que (obviamente) uma abortista declarada não pode fazer a Primeira Leitura da Santa Missa, sinto dizer, mas ela não tem competência para evangelizar. Esta atitude é profundamente lamentável e grandemente digna de repúdio por parte dos católicos. Após este triste episódio, algumas coisas ficam as mesmas mas, no entanto, outras mudam. Dilma Rousseff continua sendo uma abortista, mesmo fazendo leituras na Canção Nova; mas e quanto à Canção Nova, será que pode dizer, de cabeça erguida, que em tudo age buscando a maior glória de Deus e a exaltação da Santa Madre Igreja?

Tenha Deus misericórdia de nós todos.

Convite – Nossa Senhora de Guadalupe [2008]

Aos que moram em Recife, repasso o convite que recebi sobre as festividades em honra de Nossa Senhora de Guadalupe [p.s.: em dezembro de 2008].

* * *

convite-dez-08

Muito estimados em Cristo,

O Dia 12 de dezembro está próximo!

Vamos honrar a Nossa Mãe Morena de Tepeyac, Nossa Senhora de Guadalupe!
Vamos agradecer pelas inúmeras graças concedidas através de suas mãos intercessoras!

Será na Igreja de Belém!
Reza do Terço: às 18h20
Missa: às 19h

Vejam no convite anexo o seu rosto lindo, delicado, com um olhar cheio de amor por nós!

Divulguem!

Com carinho,
Inez
Apostolado Virgem Peregrina da Família/PE

Acendendo um cigarro

<a href=

Vi na Folha de São Paulo que “Mercosul e Venezuela querem proibir anúncios de cigarros”. A idéia nonsense e arbitrária não é novidade; no Brasil, isso já acontece há bastante tempo.

A mesma Folha de São Paulo, em uma outra notícia, questiona o mito de que os fumantes fumam porque são movidos a isso pela propaganda tabagista. Mario Cesar Carvalho, repórter da FOLHA, afirma com muita propriedade: “É claro que a publicidade ajudou o fumo a alastrar-se pelo mundo, e a indústria do cigarro é das que mais investem em propaganda. Mas acreditar que o fumante é um autômato movido a impulsos externos de desejo seria subestimar em demasia a inteligência humana”.

Não estou aqui para questionar ou defender a indústria tabagista, nem para fazer estudos sobre a eficácia (e a moralidade…) da proibição das propagandas na redução do número de fumantes, nem nada disso. No fundo, o problema digno de menção aqui é a substituição, no inconsciente popular, da Moral Católica por uma “moral arbitrária”. Afinal de contas, do ponto de vista moral, qual o problema intrínseco em fumar? Absolutamente nenhum. Os problemas podem surgir quando se fuma “para se exibir”, quando se fuma de maneira exagerada, quando um pai de família deixa de comprar a comida dos filhos para comprar cigarros, etc. No entanto, o problema não está no cigarro, e sim nas atitudes desses fumantes. O tabaco em si é moralmente neutro; o prazer de fumar um cigarro não é intrinsecamente desordenado.

A nova “moral arbitrária” que deseja tomar o lugar da Moral Católica considera as coisas neutras como más e as coisas más como louváveis. Por exemplo, é muitíssimo comum que a demonização do cigarro ande lado a lado com uma simpática afinidade para com as drogas (como a maconha, cujo uso é sim passível de condenação moral porque provoca estados alterados de consciência). No início deste ano, eu li que a Holanda havia proibido o tabagismo, mas isentado os cigarros de maconha desta proibição (!!). É uma completa inversão de valores. O uso do tabaco não é pecaminoso; o uso da maconha, salvo algum caso de prescrição médica ou outro motivo proporcionado, é pecaminoso sim. Do mesmo modo, as mesmas pessoas que consideram o tabagismo uma prática gravemente imoral muitas vezes não vêem nenhum problema no comportamento sexual desregrado dos nossos jovens. A “moral arbitrária” – que bem pode ser chamada uma Anti-Moral – ganha adeptos numa velocidade vertiginosa.

Chesterton disse certa vez que “ter horror de tabaco não é ter um padrão abstrato do que seja certo; é exatamente o contrário. É não ter padrão algum do que seja certo, e colocar certos gostos ou repulsas no lugar”. Do mesmo modo, ser um militante anti-tabagista não é ter um senso moral apurado; é, ao contrário, desconhecer a Moral da Igreja e colocar a Anti-Moral impostora no lugar d’Ela. Claro que ninguém é obrigado a fumar para ser católico; mas o católico pode muito bem fumar, se o quiser, e achar que existe alguma ilicitude moral no fumo em si (em outras palavras, achar que fumar é sempre pecado) não é de modo algum uma idéia católica. É, ao contrário, uma idéia puritana, que precisa ser expurgada porque impede a Moral Católica de ser conhecida, na medida em que coloca uma caricatura em Seu lugar.

“Se estes se calarem, clamarão as pedras!”

Ainda falando sobre o Scott Hahn, a leitura do “Todos os caminhos vão dar a Roma” (DIEL, 5ª Edição, Lisboa, 2005) revelou-me uma coisa interessante e completamente inusitada: a primeira aproximação que o casal Hahn teve da Doutrina Católica foi justamente num dos temas mais controversos e impopulares mesmo entre os que se dizem católicos: o controle de natalidade. Quando ainda eram protestantes, os dois renderam-se à força dos argumentos católicos sobre o assunto! Vale muitíssimo a pena transcrever – embora longas – as passagens mais relevantes desta narrativa:

Scott: Perguntei-lhe [a Kimberly, sua esposa] que coisa era essa tão interessante que tinha descoberto sobre a contracepção. Disse-me que até 1930 a posição de todas as Igrejas Cristãs em relação a este tema tinha sido unânime: a contracepção estava mal em qualquer circunstância.

O meu argumento foi:

– Se calhar demoraram todo esse tempo a libertarem-se dos últimos vestígios do catolicismo.

A Kimberly avançou um pouco mais:

– Mas sabes que razões eles dão para se oporem ao controlo de natalidade? Têm argumentos mais sérios do que possas pensar.

Tive que admitir que não conhecia as suas razões. A Kimberly perguntou-me se estava disposto a ler um livro sobre o tema e deu-me O controlo da natalidade e a aliança matrimonial, de John Kippley (obra que foi posteriormente revista e intitulada O sexo e a aliança matrimonial). Eu era um especialista em teologia da Aliança e pensava que tinha lido todos os livros em que a palavra aliança figurava no título; por isso, descobrir um que não conhecia espicaçou-me a curiosidade.

Vi-o e pensei: Editorial Litúrgica? Este tipo é um católico! Um papista! O que é que anda a fazer a plagiar a noção protestante da aliança? Senti ainda mais curiosidade por ver o que dizia. Sentei-me a ler o livro. Pensei: “Isto não está certo. Não pode ser… O que este tipo diz faz sentido”. Demonstrava que o casamento não é um mero contrato, envolvendo apenas um intercâmbio de bens e serviços. O casamento é sobretudo uma aliança que implica um intercâmbio de pessoas.

O argumento de Kippley era que qualquer aliança tem um acto pelo qual se consuma e se renova; e que o acto sexual dos cônjuges é um acto de aliança. Quando a aliança matrimonial se renova, Deus utiliza-a para dar nova vida. Renovar a aliança matrimonial e usar contraceptivos para evitar uma potencial nova vida seria tanto como receber a Eucaristia para a seguir a cuspir no chão.

Kippley prosseguia dizendo que o acto conjugal demonstra de modo único o poder doador de vida do amor na aliança matrimonial. Todas as outras alianças mostram e transmitem o amor de Deus, mas só na aliança conjugal o amor é tão real e poderoso que comunica a vida.

Quando Deus fez o ser humano, homem e mulher, o primeiro mandamento que lhes deu foi o de serem fecundos e se multiplicarem. Era assim uma imagem de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, três em um, a família divina. De maneira que quando “os dois se fazem um” na aliança matrimonial, o “um” torna-se tão real que nove meses depois podem ter que lhe dar um nome! O filho encarna a unidade da sua aliança.

Comecei a compreender que sempre que a Kimberly e eu realizávamos o acto conjugal, realizávamos algo sagrado; e que cada vez que frustrávamos o poder de dar vida do amor com a contracepção, fazíamos algo profano (tratar algo sagrado de forma comum profana-o, por definição).

[…]

Foi então que descobri que todos os reformadores – Lutero, Calvino, Zwinglio, Knox, e todos os outros – tinham mantido sobre esta questão a mesma posição que a Igreja Católica. Isso perturbou-me ainda mais. A Igreja Católica era a única Igreja Cristã em todo o mundo que tinha a valentia e a integridade de ensinar esta verdade tão impopular.

[…]

Kimberly: O pequeno grupo [do trabalho do seminário] que teve que se debruçar sobre a contracepção reuniu-se brevemente no primeiro dia ao fundo da sala. Um autonomeado líder observou:

– Não temos que considerar a posição católica, porque só há duas razões pelas quais os católicos se opõem à contracepção: a primeira é que o Papa não se casa, e por isso não tem que viver com as conseqüências; e a segunda é que querem encher o mundo de católicos.

– São essas as razões que apresenta a Igreja Católica? – interrompi – Não acredito.

– Então porque é que não estudas o assunto?

– De acordo.

E assim fiz.

Em primeiro lugar, considerei a natureza de Deus e de que forma nós, como membros do casal, estávamos chamados a ser Sua imagem. Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – criou o homem e a mulher à Sua imagem, e abençoou-os na aliança matrimonial com o mandato de crescerem e se multiplicarem, enchendo a terra e dominando toda a criação para glória de Deus (cf. Gen. 1, 26-28). A imagem à imitação da qual o homem e a mulher foram criados é a unidade das três Pessoas da Trindade que se entregam totalmente umas às outras numa plena autodoação de amor. Deus reafirmou este mandato da criação na Aliança com Noé e sua família, dando-lhes o mesmo mandamento de serem fecundos e se multiplicarem (cf. Gen. 9, 1 ss). Deste modo a existência do pecado não alterou o apelo dirigido aos casais para serem imagem de Deus através da procriação.

São Paulo esclareceu que, no Novo Testamento, o casamento foi elevado à categoria de imagem da relação entre Cristo e a Igreja (nesse momento não fazia a menor ideia que o casamento fosse actualmente um sacramento). E pelo poder de dar vida próprio do amor, Deus capacitava os esposos para reflectirem a imagem de Deus na medida em que a unidade dos dois se convertia em três. A minha questão era a seguinte: O nosso uso do controlo da natalidade – que intencionalmente restringe o poder doador de vida do amor, ao mesmo tempo que se goza a unidade e o prazer que dá o acto conjugal – permite que o meu marido e eu reflictamos a imagem de Deus numa total autodoação de amor?

Em segundo lugar, examinei o que a Escritura diz sobre as crianças. O testemunho da Bíblia era arrasador! Todos os versículos que se referiam às crianças, consideravam-nas sempre e só como uma bênção (Sal. 127, 128). Não havia um só provérbio que advertisse que não valia a pena afrontar as despesas que um filho significa. Não havia qualquer bênção para os esposos que adiassem o mais possível a chegada dos filhos, nem para o casal que estivesse o número correcto de anos sem filhos antes de assumir o encargo que as crianças representam, nem para o casal que planeasse cada concepção. Tudo isto eram ideias que eu tinha aprendido nos meios de comunicação social, na escola pública ou com a vizinhança, mas não tinham nenhum fundamento na Palavra de Deus.

Na Escritura, a fertilidade é apresentada como algo que se deve apreciar e celebrar, não como uma doença que se deve evitar a todo custo. E embora não tivesse encontrado nenhum versículo que falasse negativamente das pessoas com famílias pequenas, à luz de numerosas passagens bíblicas, não havia dúvida de que as famílias grandes pareciam ter recebido de Deus uma graça maior. Era Deus que abria e fechava o ventre, e quando Ele dava a vida isso era sempre considerado como uma bênção. Em última instância, o que Deus desejava dos fiéis era “uma prole piedosa” (Mal. 2, 15). As crianças eram descritas como “flechas nas mãos de um guerreiro…, bendito o homem cuja aljava está cheia” [cf. Sl 126, 4-5]. Quem iria à batalha apenas com duas ou três flechas se pudesse ir com a aljava cheia? A minha questão era a seguinte: o nosso uso do controlo da natalidade reflectia o modo como Deus via as crianças ou o modo como as via o mundo?

Em terceiro lugar punha-se a questão do domínio de Jesus Cristo. Como protestantes evangélicos, o Scott e eu tomávamos muito a sério o domínio de Cristo sobre as nossas vidas. No aspecto monetário pagávamos o dízimo regularmente, sem nos importarmos que os nossos fundos fossem escassos, porque queríamos ser bons administradores do dinheiro que Deus nos tinha confiado. Uma e outra vez vimos como o Senhor supria às nossas necessidades com mais do que nós Lhe tínhamos dado. Em termos de tempo, observávamos o Dia do Senhor, pondo de parte o estudo, que era o nosso trabalho, mesmo que tivéssemos exames à segunda-feira. Muitas vezes o Senhor nos premiou por esse dia de descanso, e sempre tivemos excelentes resultados nos exames que fizemos à segunda-feira. Em termos de talentos, aceitávamos que devíamos estar sempre disponíveis para servir Deus com o nosso apostolado e acrescentávamos com gosto obras de serviço ao trabalho abundante do estudo. Ver vidas abençoadas como resultado desse apostolado fortaleceu enormemente a nossa fé e o nosso casamento.

Mas, e os nossos corpos? A nossa fertilidade? O domínio do Senhor estendia-se até aí? Li então em I Cor 6, 19-20: “… não vos pertenceis. Fostes comprados a grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”. Talvez fosse uma atitude mais americana do que religiosa pensar na fertilidade como algo que podemos controlar como muito bem nos parecer. E eu perguntava-me: o uso que fazemos do controlo da natalidade, demonstra uma fiel vivência do domínio de Jesus Cristo?

[…]

No fundo, sabia bem com que é que estava a lutar: com a autêntica soberania de Deus. Só Deus conhecia o futuro e qual era o melhor modo de formarmos a nossa família com a prole piedosa que Ele desejava que tivéssemos. Certamente, Ele já tinha dado provas de ser digno de confiança de muitos outros modos. Sabia que podíamos confiar em que nos daria a fé que necessitávamos para lhe confiar este aspecto da nossa vida, e para nos dar a confiança de que esta visão fazia parte do Seu plano para nós, e que verteria o Seu amor em nós, e através de nós, em todas as preciosas almas que nos quisesse confiar. Aliás, conhecia muitos casais no seminário que “planeavam” a chegada das crianças, para descobrirem depois que afinal o calendário de Deus era diferente do deles.

[…]

Kippley fazia a seguinte comparação: tal como acontecia na Roma antiga, em as pessoas participavam num banquete e depois iam vomitar o alimento que acabavam de ingerir (para evitar as conseqüências dos seus actos), o mesmo se passa com os esposos que celebram um banquete no acto conjugal mas se opõem ao poder de dar vida que tem o acto de renovação da sua aliança. Esta acções são contrárias à lei natural e à aliança entre os esposos.

Da perspectiva de Kippley, que era a perspectiva da Igreja Católica, o fim primordial do acto matrimonial era a procriação dos filhos. Quando um casal impede esse fim intencionalmente, actua contra a lei natural. Subverte a renovação da sua própria aliança matrimonial, convertendo numa mentira o compromisso dos esposos de se entregarem totalmente um ao outro.

Agora compreendia por que razão a Igreja Católica se opunha à contracepção. Mas o que dizer dos métodos de planeamento familiar natural? Não eram simplesmente a versão católica do controlo da natalidade?

A Primeira Epístola aos Coríntios (7, 4-5) fala de períodos de tempo nos quais os esposos poderiam abster-se de manter relações sexuais para se dedicarem à oração, reatando depois as suas relações, não deixando a Satanás nenhum resquício por onde entrar no seu casamento. Lendo a Humanae Vitae cheguei a apreciar o equilíbrio da Igreja relativamente à contracepção. Havia uma forma religiosa de se levar a cabo o acto conjugal e de ser prudente em circunstâncias graves, praticando a abstinência durante períodos de mútua fertilidade.

Tal como a comida – em que podia haver temporadas nas quais o jejum fosse útil – de modo similar podia haver períodos nos quais o “jejum” do acto conjugal, por razões meditadas na oração, pudesse ser útil. Contudo, a não ser por milagre, ninguém poderia sobreviver se jejuasse a maior parte do tempo. Igualmente, os métodos naturais de planeamento familiar eram uma receita para momentos difíceis, não uma vitamina quotidiana para a saúde geral.

[op. cit., pp 43-45. 50-56]

Fica, assim, o testemunho do valor da Doutrina Católica, cujos argumentos, de tão claros, conseguiram convencer até mesmo dois protestantes ferrenhamente anti-católicos. Não deixa de ser profundamente irônico que, enquanto existem católicos rejeitando os ensinamentos da Moral da Igreja, dois protestantes tenham se preocupado em defendê-los. Não posso deixar de me lembrar da passagem do Evangelho (Lc 19, 39-40), onde Jesus disse que as pedras falariam se os discípulos se calassem; não consigo deixar de achar que é algo extremamente eloqüente que Deus tenha suscitado protestantes para defenderem a Doutrina Católica quando os católicos se envergonham dela.

A Família e o Divórcio

Hoje eu vi uma triste notícia que me fez lembrar de um comentário feito aqui no Deus lo Vult! algumas semanas atrás. O comentário dizia, en passant, que o divórcio “[s]eria “o fim da família” e não aconteceu isso”; a notícia que eu vi hoje em G1 diz que a taxa de divórcios cresceu 200% em 23 anos.

Lembro-me de uma música antiga, que eu não sei de quem é, chamada “Utopia”. Ela canta: Há tantos filhos / que, bem mais do que um palácio, / gostariam de um abraço / e do carinho entre seus pais. / Se os pais se amassem / o divórcio não viria, / chamam isso de utopia, / eu a isso chamo paz. O Divórcio faz guerra contra a Família, é evidente; enquanto esta fala em olhar para o(s) outro(s), aquele fala em pensar em si. Enquanto esta fala em estabilidade, aquele fala em (falsa) “liberdade”. Esta fala em sacrifício; aquele, em prazer. Esta é solidária; aquele, é egoísta.

Sinceramente, não existe um único argumento em defesa do Divórcio que não seja, ao mesmo tempo, um ataque à Família. Se há “casais que não dão certo” – coisa com a qual muito facilmente nós concordamos -, reconhecer um suposto “direito” às segundas (e terceiras, e quartas…) núpcias é dizer que a parte [= cada um dos cônjuges] tem precedência sobre o todo [= a Família]. Por que “fulaninho tem direito de ser feliz” mas a Família de fulaninho não tem direito de ser preservada? Claro que há situações em que a convivência é simplesmente impossível – e a própria Igreja reconhece a licitude da chamada “separação de corpos” -, mas isso justificaria no máximo o desquite, e não o divórcio. Lembrando que são duas coisas diferentes (aliás, nem sei se existem as duas figuras na legislação brasileira atual): o primeiro autoriza a dissolução da sociedade conjugal e, o segundo, autoriza a contração de novas núpcias. Em outras palavras: pode-se imaginar uma situação na qual um casal específico simplesmente não possa viver sob o mesmo teto e, ao mesmo tempo, manter a instituição familiar inalterada, mas não se pode imaginar uma situação em que os cônjuges possam “casar de novo” e a Família saia incólume desta afirmação.

Reconhecer que uma pessoa pode “casar de novo” é evidentemente reconhecer que a Família não é uma sociedade indissolúvel, pois pode ser dissolvida. É este o ataque que a instituição familiar sofre, e é neste sentido que a introdução do divórcio na legislação brasileira “acabou” com a Família. Quem tem “duas famílias”, na verdade não tem família nenhuma, porque a família é uma comunhão total não só de bens como também de pessoas, e uma pessoa “dividida” entre “duas famílias” não está se entregando totalmente nem a uma, nem a outra. Mesmo que haja divórcio e mesmo que o marido viva monogamicamente com a sua segunda (terceira… quarta…) esposa, há os filhos; e, assim, nem os filhos do “primeiro casamento” e nem os do “segundo” (terceiro… quarto…) têm uma figura paterna inserida solidamente numa sociedade familiar verdadeira. Não têm uma família; têm simplesmente pessoas que cuidam deles, o que é algo completamente diferente.

Após décadas de divórcio, após milhares de pessoas terem as suas famílias destruídas e serem apresentadas a caricaturas de famílias como se fossem famílias verdadeiras, após, enfim, tanta distância entre a experiência quotidiana e o ideal apresentado (isso quando ele é apresentado), é por acaso de se espantar que as pessoas tenham concepções cada vez mais errôneas sobre a Família? O acúmulo de erros só pode produzir resultados catastróficos, e a corrupção das bases só pode fazer com que todo o edifício venha ao chão. A Família é a célula-mater da sociedade e, quando a Família sofre, a sociedade a acompanha. O Divórcio, por ser um ataque à Família, provocou diversos males à sociedade brasileira, que nós não somos nem mesmo capazes de avaliar em sua totalidade. É urgente diminuir a tendência apresentada pela pesquisa do IBGE que foi citada no início do post; mesmo que digam que isso é utopia, é importante dizer que nós sabemos ser isso paz.

A violência de Recife

Recife é uma cidade violenta. De acordo com o último estudo que eu vi sobre o assunto, no início do ano passado, é a capital mais violenta do país. Lembrei-me disso porque recebi um email hoje que citava alguns dos últimos assassinatos ocorridos na capital pernambucana, e alertava as pessoas para que repensassem os planos de visitarem (ou morarem em) Recife. Eis um trecho:

Amigos e Amigas,
aproxima-se o período de férias, época de viagens, de turismo.  Preocupados com a segurança e a vida de vocês, peço-lhes encarecidamente que não venham passear e muito menos morar em Pernambuco, sobretudo no Recife. Aqui  não existe mais segurança, é uma terra sem lei, onde os marginais condenam pessoas, sobretudo da classe média,  à morte e ficam impunes.
Aqui os bandidos são vistos como vítimas. Aqui não existe solidariedade com os cidadãos assassinados e muito menos com as famílias enlutadas! Aqui a pena de morte existe, mas contra nós da classe média, que pagamos impostos,  pessoas decentes, honestas e trabalhadoras.

O alarmismo não é infundado; os dados mostram. Existe uma equipe de jornalismo que se dedica a “contar” as pessoas assassinadas no Estado. Acabei de acessar e, este ano, estamos com 4042; 29, neste mês de dezembro (isso mesmo, nestes últimos quatro dias). Havia um projeto análogo no Rio de Janeiro, mas acho que foi desativado.

Não sou expert em criminalidade no Brasil e só estive no Rio de Janeiro poucas vezes, a passeio; mas acredito que a principal diferença entre a Veneza Brasileira e a Cidade Maravilhosa é que, lá, há muitos assassinatos relacionados à guerra do tráfico. Aqui, também os há, mas a proporção é bem menor. Aqui morrem pessoas de bem que não têm nada a ver com a criminalidade. Aqui, suspira-se aliviado quando “não acontece nada” em um assalto.

Lembro-me da última vez em que fui assaltado, no início do ano, e da terrível frustração que senti. Caminhava, junto com um amigo, em direção à parada de ônibus, no domingo à noite; o carro parou um pouco à nossa frente, na avenida deserta, e abriu a porta traseira. Vi o assalto segundos antes de sofrê-lo, e não havia nada que pudesse fazer. Desceu o meliante apontando-nos um revólver, levou-nos carteiras e celulares, entrou no carro e foi-se embora. Fomos à delegacia prestar queixa e – horror e vergonha! – o policial que nos atendeu censurou-nos por estarmos andando de noite por aí (!!). Disse-nos ainda que ele próprio “não era doido” de andar em Recife de noite, e que gostava de sair mas estava “sempre em casa às seis horas da noite” (!!!).

Quando a única assistência que um policial pode prestar às vítimas da violência é aconselhá-las a ficarem em casa, e diz que ele próprio não tem coragem de sair às ruas, estamos no fundo do poço. É principalmente por isso, na minha modesta opinião de cidadão recifense, que a cidade está mergulhada no caos: porque as autoridades são pusilânimes, e não cumprem com o seu dever, e não coram de vergonha ao dizê-lo. A Veneza Brasileira afunda por causa da covardia institucionalizada e vista como virtude. Acostumado com estes fatos, eu fico sinceramente feliz quando leio uma notícia de que um assaltante foi morto porque a vítima (ou algum transeunte) reagiu a bala: afinal, deparo-me com alguém que – ao contrário do policial que me atendeu – ainda tem senso de responsabilidade. Mostra-me que ainda há esperança de escaparmos ao naufrágio.

Vaticano contra descriminalização da homossexualidade?

Encontrei em diversos lugares (parece, aliás, que não se fala de outra coisa): Vaticano se opõe à descriminalização da homossexualidade. O que está acontecendo? A França irá (de acordo com a Época, “com o apoio da União Européia”) defender um projeto na Assembléia Geral da ONU “para descriminalizar a homossexualidade”. E “[o] observador permanente do Vaticano na Organização das Nações Unidas (ONU), monsenhor Celestino Migliore, afirmou nesta segunda-feira (1) que a Santa Sé é contrária” a ele.

A Igreja, evidentemente, não é contra tal projeto porque ache que os gays podem ser presos, torturados e executados somente por serem gays, mas sim porque enxerga nele um instrumento a ser usado para a promoção do casamento gay. A partir daqui começam os problemas. Esta reportagem diz que a decisão do Vaticano é “totalmente estúpida e tola” porque “[a] resolução francesa não tem nenhuma relação com casamento gay”; no entanto, saiu em ZENIT o seguinte:

[A] proposta francesa não só busca «despenalizar a homossexualidade», «mas também introduzir uma declaração de valor político que pode gerar sistemas de controle, segundo os quais toda norma – não só legal, mas também relativa à vida dos grupos sociais ou religiosos – que não coloque exatamente no mesmo nível toda orientação sexual poderia ser considerada como contrária ao respeito dos direitos do homem».

«Isso pode converter-se claramente em um instrumento de pressão ou discriminação para quem, só por colocar um exemplo muito claro, considera que o matrimônio entre um homem e uma mulher é a forma fundamental e originária da vida social e como tal deve ser privilegiada», declarou o Pe. Lombardi.

Ora, temos aqui duas posições frontalmente antagônicas. Para o tal Franco Grillini, a resolução não tem nada a ver com o casamento gay; para o pe. Lombardi, pode ter a ver sim. Tenho uma sugestão para resolver o impasse: a Santa Sé já deixou claro que, “[o]bviamente, ninguém quer defender a pena de morte para os homossexuais, como alguns querem dar a entender”. Ora, se não há discordância alguma entre o que quer o projeto proposto pela França e o que quer a Santa Sé, basta então pegá-lo, identificar os trechos litigiosos e os substituir por outros que não deixem nenhuma margem de dúvida sobre o seu alcance. Deseja-se somente impedir que os homossexuais sejam presos ou executados meramente por serem homossexuais? Então, que isso seja dito bem claro! Com certeza a Santa Sé não vai se opôr. Agora, caso a intenção oculta seja facilitar a legalização do casamento gay… então a França não vai aceitar modificar a proposta, e nem o Vaticano vai apoiá-la. É esperar para ver.

Aliás, são palavras do pe. Lombardi:

«Não é por acaso que menos de 50 Estados membros das Nações Unidas aderiram a esta proposta, enquanto mais de 150 não aderiram. A Santa Sé não é a única», conclui.

E aí? Será mesmo que mais de três quartos dos membros das Nações Unidas são “totalmente estúpidos e tolos”? Ou a única que merece tal invectiva é a Santa Sé?

Em tempo: a Catholic League defendeu o Vaticano.

Os últimos dias de Voltaire – por Rodrigo Pedroso

[O texto abaixo foi-me gentilmente enviado pelo Rodrigo Pedroso, por email. Lembrei-me imediatamente dos últimos dias de vida de um outro grande inimigo da Igreja, Antonio Gramsci, cuja possível conversão às portas da morte foi noticiada recentemente. Já havia lido sobre a conversão de Voltaire; sei que é controversa. No entanto, aqui vale o mesmo que foi dito sobre a conversão de Gramsci: é próprio da Igreja abraçar os penitentes que um dia A perseguiram. Todos os homens – Voltaire inclusive – precisam da Igreja; e certamente Ela esteve de braços abertos a esperá-lo até o último suspiro. Que a Virgem Santíssima, Refúgio dos Pecadores, possa ter-lhe ajudado a levantar-se da lama e voltar para Casa, nem que tenha sido ao último suspiro.]

Voltaire não terminou seus dias como ateu. Terminou-os como um desesperado.

No início de sua longa agonia, Voltaire mandou ao abade Gaultier o seguinte bilhete:

Vous m’aviez promis, Monsieur, de venir pour m’entendre; je vous prie de vouloir bien vous donner la peine de venir le plus tôt que vous pourrez. Signé Voltaire. A Paris, le 26 février 1778.

Dias depois, ele ditou a seu secretário e assinou, perante duas testemunhas (o abade Mignot, seu sobrinho, e o Marquês de Villevielle), a seguinte declaração, que foi registrada nos arquivos de M. Momet, tabelião público em Paris:

Je soussigné declaré qu’étant attaqué depuis quatre jours d’un vomissement de sang, à l’âge de quatre-vingt-quatre ans, et n’ayant pu me traîner à l’église, M. le curé de Saint-Sulpice ayant bien voulu ajouter à ses bonnes ouvres celle de m’envoyer M. Gaultier, prêtre; je me suis confessé à lui; et que si Dieu dispose de moi, je meurs dans la sainte Église catholique où je suis né, espérant de la miséricorde divine, qu’elle daignera pardonner toutes mes fautes; si j’avais jamais scandalisé l’Église, j’en demande pardon à Dieu et à elle, 2 mars 1778. Signé Voltaire, en présence de M. l’abbé Mignot mon neveu, et de M. le marquis de Villevielle mon ami.

Depois de assinada a declaração por Voltaire e pelas duas testemunhas, ele ainda ditou mais essas palavras:

M. l’abbé Gaultier, mon confesseur, m’ayant averti qu’on disait dans un certain mode que je protesterais contre tout ce que je ferais à la mort, je déclare que je n’ai jamais tenu ce propos; et que c’est une ancienne plaisanterie attribuée dès longtemps très faussement à plusieurs savants plus éclairés que moi.

Com o consentimento de Voltaire, o abade Gaultier levou a declaração assinada e registrada em cartório ao vigário de St.-Sulpice e ao arcebispo de Paris, para saber se era retratação suficiente para lhe poder dar a absolvição sacramental. Quando o abade Gaultier retornou com a resposta, foi impedido de aproximar-se do moribundo por seus “amigos”, entre eles D’Alembert e Diderot, que passaram a controlar rigidamente o acesso de qualquer pessoa ao doente.

Duas testemunhas da agonia de Voltaire, seu medico M. Tronchin e o marechal de Richelieu, narram que seus últimos dias foram dolorosos e cheios de desespero. Segundo Tronchin, “les fureurs d’Oreste ne donnent qu’une idée bien faible de celles de Voltaire”. Angustiado pelo remorso, alternativamente invocava e blasfemava o nome de Deus em altos gritos: “Jésus-Christ! Jésus-Christ!”. O marechal de Richelieu narrou sua agonia nas Circonstances de la vie et de la mort de Voltaire e nas Lettres Helviennes.Voltaire morreu no dia 30 de maio de 1778. Seu corpo, vestido com roupas de mulher e disfarçado de inválido, foi levado numa carruagem; ao seu lado, um empregado cuja função era mantê-lo na posição. A essa carruagem eram atrelados seis cavalos, de tal modo que as pessoas pensassem que alguém rico viajava. Outra carruagem a seguia, na qual viajavam o abade Mignot, sobrinho de Voltaire, e outros dois primos seus. Viajaram durante toda a noite, e no dia seguinte chegaram à abadia de Scellières. O abade Mignot apresentou ao prior da abadia a declaração de Voltaire acima referida e a resposta do vigário de St.-Sulpice, considerando-a retratação válida. Foi rezada missa de corpo presente e realizado o sepultamento.

Os “amigos” de Voltaire, todavia, sustentaram desde aquela época, que a declaração por ele assinada e registrada em cartório não era sincera, mas apenas um meio de que ele se valeu para que não se recusasse a seu corpo sepultura em cemitério cristão. Com certeza, talvez saberemos a verdade apenas no dia do Juízo.

Os dados sobre a morte e o sepultamento de Voltaire encontram-se no tomo XII de uma revista francesa da época, Correspondance Littéraire, Philosophique et Critique, que circulou até 1793.

Está na página 87 do tomo XII da revista Correspondence littéraire, philosophique et critique, editada pelos iluministas Barão de Grimm e Diderot.

A declaração começa no finzinho da página, continuando na página seguinte da revista.