Ó tempos! Ó costumes!

Imaginar que a Igreja de Cristo se fundamenta numa contínua perseguição à autoridade eclesiástica, é querer transformar a real pregação de Jesus.

Jesus afirmou trazer a espada (Mt 10, 34), porque a Sua palavra se fundamenta, sempre, no amor e este não tem sentido na vida dos que amam o prazer, o poder, a fama e a riqueza. Alguns que se intitulam cristãos autênticos, mergulharam em uma contínua discordância à Lei de Deus. Jamais deixaram de publicar slogans, querendo desmoralizar o Arcebispo, aviltando a sua imagem por métodos desumanos e cruéis, como os apresentados no Jornal do Commercio.

“Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos: mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor da terra. Passado o tremor da terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se um murmúrio de uma brisa suave, e Deus ali estava” (1Rs 19, 11ss).

A injustiça, o desamor, a impiedade não são brisa suave.

Como é triste o menosprezo às pessoas, como é desolador uma perseguição sem tréguas. Quem poderia, impunemente, estender a mão contra um ungido do Senhor (1Sm 26, 9)?

Santos de hoje? Uma “santidade” sem amor, sem caridade e sem justiça?!

“Ó tempos! Ó costumes!”

[Monsenhor Romeu Gusmão da Fonte,
“Ouve-me”, Jornal Informativo da Paróquia Nossa Senhora do Rosário – Torre,
Ano XXXVIII, junho-julho-agosto de 2008, nº3

Recife, PE]

Dom Aloísio questiona campanha de vacinação

E a quantidade de pessoas desconfiadas com a campanha de vacinação contra a rubéola não pára de crescer. O texto abaixo é de Dom Aloísio Roque, Arcebispo de Uberaba, MG. Mais um capítulo sobre o mistério das vacinas… permita Deus que ele seja desvendado em breve.

Repito o que já disse aqui várias outras vezes: não há motivos para pânico, pois há fortes indícios de que seja boato. Mas é inegável que o assunto está tomando proporções tão grandes que não pode simplesmente ser ignorado. Respostas, já! Que a verdade venha à luz.

* * *

Fonte: CatolicaNet

Dom Aloísio Roque – O estranho caso da rubéola – 26/08/2008 – 08:54

Quando se trata do atual ministro da saúde do governo Lula, qualquer iniciativa, por mais normal que aparente ser, nos deixa desconfiados. Suas falas públicas contra a Igreja já encheram muitas páginas de jornal. Entre os atuais homens de confiança do governo federal, que não simpatizam com as posições da Igreja, – embora o doutor seja provindo de família cristã – ele está imbatível, na linha de frente. Estão aí suas falas contundentes a favor do aborto; sua propugnação pelos preservativos sexuais, disponíveis para o uso livre dos alunos das escolas públicas. Isso significa que a escola se declara incapaz de educar a nova geração. Não consegue mais levá-la à prática dos “bons costumes”.  Para haver menos despesas para o poder público, se lança mão desse artifício, para coibir os gastos com tratamentos anti-HIV, e complicações com as adolescentes gestantes. E o mais incrível disso tudo, é que a maioria das mães (querem salvaguardar suas filhas), acha isso muito certo.  É o estímulo para a devassidão. Não há mais tentativa de procurar educar.

Nessa questão da vacinação contra a rubéola, há fatos estranhos. Existem atualmente, 17 casos por ano. Mas isso justifica aplicar 70 milhões de vacinas, mesmo em pessoas que já tiveram a rubéola, e em quem já foi vacinado? Nunca se viu tanto zelo. O desconfiômetro acende a luz vermelha, porque na Argentina, nas Filipinas e na Nigéria foi detectado, em outros tipos de vacina, a presença do hormônio “gonadotrofina coriônica”, conhecido artifício para controle da natalidade, distribuído por certas ONGs. A vacina será aplicada em povos indígenas e em outros grupos, de preferência, selecionados. Diante dessas dúvidas, o ministro da saúde é instado a se pronunciar em público, com afirmações bem categóricas, de que o procedimento nada tem a ver com essa iniciativa de duplo efeito: querer evitar um surto de rubéola (que pode prejudicar o nascituro), e de presente, ainda diminuir mais o índice do crescimento populacional. Este já empata com países destinados a zerar, no futuro, os nascimentos. Essa tranqüilidade o ministro deve conceder à população. E caso a suspeita seja verdadeira, deve dizê-lo em público.

Pelo fim da hipocrisia

A VEJA entrevistou o Ministro Marco Aurélio Mello. A cretinice explícita alcançou patamares inauditos na entrevista, na qual o relator do processo que tenciona legalizar o assassinato eugênico de crianças deficientes destila o seu instinto assassino e o seu desprezo pelas questões éticas e morais mais elementares. Em situações normais, a entrevista deveria provocar horror e repulsa; hoje em dia, é bem capaz que ela seja aplaudida. Cito alguns trechos mais significativos e faço alguns comentários.

A propósito, o texto da matéria na edição impressa da revista é (diferente do que aparece na internet) “Pelo fim da hipocrisia”. Não poderia ser mais apropriado.

Por que o senhor defende o aborto de anencéfalos?
Para mim é pacífico: não há a menor possibilidade de sobrevivência quando não se tem cérebro.

Há. Marcela de Jesus que o diga. E há diversos casos de crianças anencéfalas mundo afora que viveram após o parto. Entre os diversos graus de anencefalia existentes, temos exemplos (todos diagnosticados como “anencéfalos” nos exames pré-natais; todos cujos pais receberam a sugestão de “interromper a gravidez”) dos mais variados: um dia, três dias, uma semana, doze dias, e até dois anos.

Contrapondo, então, a fala do Marco Mello aos fatos, chega-se inelutavelmente à seguinte conclusão: há muita possibilidade de sobrevivência quando não se tem cérebro. Chega-se até à Magistratura e ganha-se uma cadeira no Supremo Tribunal Federal!

Em 2004, o plenário do STF derrubou uma liminar concedida pelo senhor que autorizava a interrupção da gestação de anencéfalos. Por que o senhor decidiu trazer o assunto à tona novamente?
Tomei como base o resultado da recente votação na corte do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas. (…) Desta vez, a votação será menos apertada do que foi no caso das células-tronco. Diria que teremos um 7 a 4 ou um 8 a 3. E, depois que o Supremo bater o martelo, não adiantará recorrer ao Santo Padre.

Aqui, o Ministro confessa que o primeiro passo do plano orquestrado foi a aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias. O segundo passo é a aprovação do aborto para os anencéfalos. Os passos seguintes, ele dirá mais na frente. Saliento, outrossim, o desrespeito religioso do Ministro para com a figura do Santo Padre, junto com – de novo – a caracterização do problema como sendo uma questão religiosa, coisa que não é. A tática do Marco Mello é repetir o mesmo lenga-lenga ad nauseam até que a população absorva “por osmose” aquilo que ele não consegue demonstrar por via racional.

O senhor acredita que a maior flexibilização do STF abre a possibilidade para a discussão do aborto em geral?
Sem dúvida. O debate atual é um passo importante para que nós, os ministros do Supremo, selecionemos elementos que, no futuro, possam respaldar o julgamento do aborto de forma mais ampla.

Eis o terceiro passo da tática maquiavélica do Ministro: a legalização do aborto em geral. Eis, agora, os próprios abortistas a confessar que a questão das células-tronco era o primeiro passo para a legalização do aborto. Um verdadeiro efeito dominó bastante previsível, e que foi denunciado, mas infelizmente encontrou ouvidos surdos e céticos. É necessário fincar as bandeiras nos limites devidos, é necessário impedir o trem de encarrilhar; porque, uma vez que a primeira derrota é sofrida, as outras vêm quase como por conseqüência natural. Quem não oferece resistência às pequenas coisas não vai poder oferecê-la às grandes.

Para os que se opõem ao aborto, no entanto, a mulher não tem direito a essa liberdade. A Igreja Católica, por exemplo, argumenta que a vida deve sempre ser acolhida como um dom.
É preciso esclarecer que a vida pressupõe o parto. O Código Civil prevê o direito do nascituro, ou seja, daquele que nasceu respirando por esforço próprio.

Hein?!!! Cada vez mais o sr. Ministro dá provas de que é possível haver sobrevida longa sem cérebro. Em primeiro lugar, o Código Civil “põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (Código Civil, art. 2º). Em segundo lugar – e muitíssimo mais aberrante -, nascituro é justamente o ser humano concebido mas ainda não nascido, i.e., o feto no ventre da mãe! Onde o sr. Ministro foi buscar a definição dele, só Deus sabe.

Dessa forma, o debate se estende para outras áreas, talvez até mais pantanosas do que o aborto, como a eutanásia.
A eutanásia pressupõe uma irreversibilidade da vida. Mediante laudos médicos que comprovem o quadro, as decisões poderão ficar a cargo de outra pessoa. Afirmo isso com base no princípio da dignidade da pessoa humana. E não pode haver dignidade com uma vida vegetativa.

Quarto passo do plano do sr. Ministro: a Eutanásia. Trocando em miúdos, é a implantação da cultura da morte de maneira generalizada. E ainda há os que se recusam a ver.

Como católico, o senhor não entra em conflito por suas convicções a respeito desses temas?
Nenhum. Não potencializo a religião a ponto de colocar em segundo plano a razão. (…) Nós, integrantes do Supremo, os guardiões maiores da Constituição, não podemos nos render à apatia, que é o mal do nosso século.

O Ministro Marco Mello diz ser católico. Claro, tão católico quanto as Abortistas pelo Direito de Matar. Haja cretinice. Os “guardiões maiores da Constituição” são exatamente os criminosos que a seqüestram, desprezam, mutilam, deformam. O povo brasileiro deveria fazer uma campanha: pela liberdade da Constituição, e pela aposentadoria compulsória dos Magistrados descerebrados. Afinal, já basta de tanta hipocrisia.

Insurreição Pernambucana

A história de Pernambuco de uma maneira como ela não é contada. A narrativa é empolgante e faz a alma vibrar! A mensagem foi originalmente recebida por email.

* * *

João Fernandes Vieira e os heróis da Insurreição Pernambucana

José Maria dos Santos

Juntamente com Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique Dias, Fernandes Vieira liderou a expulsão dos hereges holandeses que invadiram nosso território e oprimiam o povo católico


João Fernandes Vieira

Entre as várias potências estrangeiras que cobiçaram e mesmo invadiram o território nacional, a que mais nele permaneceu foi a Holanda, de 1630 a 1654. Contra os invasores levantaram-se representantes das três raças que formariam nossa nação –– portugueses, índios e negros –– irmanados no amor à Religião e à terra em que nasceram, ou que adotaram como sua. Entre esses ressaltam as figuras de João Fernandes Vieira –– que sacrificou seu bem-estar, a fortuna e a própria energia para expulsar o herege invasor do solo pátrio –– Vidal de Negreiros, o índio Felipe Camarão e o ex-escravo Henrique Dias.

João Fernandes Vieira nasceu em Funchal, ilha da Madeira, em 1613. Era filho do fidalgo Francisco d’Ornelas Muniz e de uma mulher de condição humilde. Aos 11 anos emigrou para o Brasil, vindo a estabelecer-se em Olinda, Pernambuco, onde se empregou no comércio. Quando os holandeses invadiram Pernambuco em 1630, ele resistiu aos invasores no forte de São Jorge, com 20 homens, por quase um mês. Durante a trégua estabelecida entre Portugal e Holanda, ele viveu na Pernambuco ocupada, associando-se ao mercador judeu Jacob Stachower, conselheiro da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, e fez boa fortuna. Ao casar-se com rica herdeira pernambucana, tornou-se um dos mais prósperos senhores de engenho do nordeste. Era muito caritativo e esmoler.

Organiza-se a insurreição contra os invasores protestantes


Conquista de Porto Calvo por Nassau
Em 1644, tendo voltado o conde Maurício de Nassau para a Holanda e piorado a opressão a que os hereges submetiam os pernambucanos, João Fernandes Vieira julgou que era o momento para romper o jugo do invasor.

Nessa época, passando em Pernambuco o Tenente-general André Vidal de Negreiros, paraibano vindo da Bahia para visitar seus parentes, com ele traçou os planos para uma sublevação. Decidiram escrever ao governador e capitão geral de todo o Estado do Brasil, Dom Antônio Teles da Silva, “na qual carta foram assinados os mais principais e mais fiéis homens de Pernambuco, assim eclesiásticos como seculares, na qual lhe manifestaram por extenso todas as calamidades e aflições daquela miserável Província, e outrossim as traições, aleivosias, afrontas, roubos, tiranias e crueldades que os pérfidos holandeses executavam nos pobres e angustiados moradores, pelo que já quase desesperados, estavam resolutos em se defender daqueles carniceiros atrozes e vender-lhes, à custa de sangue derramado, a terça parte das vidas que lhes haviam deixado”.(1) João Fernandes Vieira escreveu também ao índio poti Antônio Felipe Camarão –– que, por sua valentia e lealdade à Coroa Portuguesa, havia recebido título de nobreza e de “Governador e Capitão-general de todos os índios do Estado do Brasil” –– pedindo-lhe para juntar-se, com os seus, aos insurretos. Escreveu, no mesmo sentido, ao ex-escravo Henrique Dias, a quem El-Rei dera o cargo de “Governador dos pretos, crioulos, minas e mulatos”. João Fernandes Vieira foi aclamado “governador da independência”.


André Vidal de Negreiros

O governador geral Antônio Teles da Silva enviou em 1644 para Pernambuco experientes militares, liderados por Antônio Dias Cardoso, para que atuassem como instrutores. Mas tudo isso foi feito muito secretamente, porque a trégua assinada entre Portugal e Holanda não permitia que se agisse às claras.

“Durante o período de treinamento da tropa por Dias Cardoso, a liderança do movimento insurgente assinou secretamente em Ipojuca, a 23 de maio de 1645, o ‘Compromisso Imortal’. Nesse documento, em que pela primeira vez aparece a palavra pátria no continente americano, os luso-brasileiros manifestam a disposição de lutar até o fim pela libertação de uma terra com a qual já mantinham vínculos indissolúveis”.(2)

A batalha do Monte das Tabocas


Felipe Camarão (indicado pelo número 4) lidera seus índios na luta contra os holandeses

Os holandeses, tendo lutado contra os luso-brasileiros em escaramuças diversas, com grande poderio os surpreenderam num matagal de tabocas (espécie de bambu muito espinhoso), querendo acabar de vez com sua reação. Mas os nossos heróis lhes fizeram face e o combate foi renhido de parte a parte. Dada a inferioridade numérica, e sobretudo de munições, os insurretos foram perdendo terreno e começaram a desfalecer. Foi então que um sacerdote, que estava com uma imagem de Cristo crucificado, fez uma patética preleção pedindo ao Senhor que, pelo seu Sangue, pelas angústias e dores de Maria, “não atentasse para nossos pecados, merecedores de eterno castigo, senão para Seu amor e misericórdia, e que não permitisse que os inimigos de Sua santa Fé, que tantos agravos lhe tinham feito, profanando Seus templos e despedaçando as sagradas imagens dos Santos, triunfassem do seu povo católico, que estava pelejando por Sua honra; e que, pois a empresa era Sua, nos desse vitória contra aqueles tiranos hereges, para que o mundo soubesse que aos que pelejavam por a honra de Deus, não lhes faltava o divino favor e adjutório. […] Todos prometeram cilícios, disciplinas, jejuns, romarias e esmolas; e o Governador João Fernandes Vieira, como não é menos cristão que bom e valoroso soldado, prometeu de levantar duas igrejas, uma a Nossa Senhora de Nazaré, e outra a Nossa Senhora do Desterro”.(3)

Nossa Senhora com o Menino socorre os católicos


Henrique Dias ferido em Porto Calvo

Fortalecidos por um espírito sobrenatural, os nossos bravos atacaram o inimigo de tal modo, que Fernandes Vieira teve que deter seus guerreiros, tal o ardor com que se entregaram ao ataque. Entretanto, tendo acuado o inimigo, este voltou-se contra os agressores com grande ímpeto, o que mudou outra vez a sorte da batalha. Foi aí que Fernandes Vieira, vendo o perigo, gritou: “Valorosos portugueses: viva a Fé de Cristo. A eles, a eles”. O padre Manuel de Morais, erguendo a imagem de Cristo, pediu a todos que rezassem uma Salve Rainha à Mãe de Deus, pedindo-lhe auxílio. “E em dizendo todos em alta voz ‘Salve Rainha, Madre de Misericórdia’, se viu logo o favor da Mãe de Deus, porque o inimigo se começou a retirar descomposto e ir perdendo terra a olhos vistos, e os nossos começaram a gritar ‘Vitória, Vitória’, e acometeram com tanto ímpeto, que o desalojaram e deitaram fora do campo, ficando a gloriosa vitória alcançada pelos merecimentos da Virgem Maria Mãe de Deus”.(4)

No dia seguinte, os católicos ouviram dos holandeses aprisionados este impressionante testemunho: “viam andar entre os portugueses uma mulher muito formosa com um menino nos braços, e junto a ela um velho venerando, vestido de branco, os quais davam armas, pólvora e balas aos nossos soldados, e que era tanto o resplendor que a mulher e o menino lançavam, que lhes cegava os olhos e não podiam olhar para eles de fito a fito. E que esta visão lhes fez logo virar as costas e retirar-se descompostamente”.(5) O mesmo fato é narrado por Frei Manuel Calado. Aí se fundou a vila de Vitória de SantoAntão, em honra do ancião que com a Virgem aparecera.

As batalhas de Guararapes e a reconquista


Batalha de Guararapes

No mesmo ano João Fernandes Vieira participou ainda da batalha de Casa Forte; e nos anos de 1648 e 1649, das duas batalhas dos Guararapes. Na primeira delas, que se deu no dia 19 de abril, domingo da Pascoela e festa de Nossa Senhora dos Prazeres, Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros, auxiliados por Felipe Camarão comandando seus índios, e Henrique Dias os seus negros, levaram à vitória as hostes católicas, apesar da desproporção de 2.200 homens para 7.400 hereges holandeses.

Na segunda batalha dos Guararapes, que se deu no dia 19 de fevereiro de 1649, a desproporção era menor, se bem que considerável: 5.000 holandeses contra 2.600 luso-brasileiros, índios e pretos. Nela morreram 2 mil holandeses e apenas 47 coligados. Mas entre estes estava o heróico Henrique Dias, que deu assim a sua vida em defesa da Religião e da Pátria.


Batalha de Guararapes, (detalhe) – Óleo de Victor Meirelles

As perdas das duas batalhas, que somavam quase 5 mil homens, fizeram ver aos protestantes vindos da Holanda que estava custando muito caro a invasão e conquista de nossa terra.

Em 1654 João Fernandes Vieira tomou os fortes de Salinas e Altenar, enquanto o inimigo abandonava os de São Jorge e da Barreta.

Enfim, os holandeses retiraram-se definitivamente do Brasil. E a 27 de janeiro desse mesmo ano assinaram a capitulação da Campina do Taborda, pela qual deveriam entregar Recife e todas as fortalezas que ainda lhes restavam. E João Fernandes Vieira tomou posse de Recife em nome de Sua Majestade, o Rei D. João IV de Portugal. Ficava assim o Brasil definitivamente livre dos hereges que tentaram várias vezes assenhorear-se de parte de nosso imenso território.

Governador da Paraíba, Capitão-geral de Angola


Oficiais holandeses são aprisionados pelas forças luso-brasileiras

João Fernandes Vieira foi recompensado pelo Rei Dom João IV com os cargos de governador da Paraíba (1655-1657) e de capitão-geral de Angola (1658-1661). Em 1672 foi nomeado administrador e superintendente das fortificações de Pernambuco e capitanias vizinhas, até o Ceará.

Esse grande herói de nossa Pátria faleceu em 1681 em Olinda. Por sua relevante participação na Insurreição Pernambucana, foi escolhido como um dos patriarcas do Exército Brasileiro.

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Notas:

1. Frei Manoel Calado, O Valeroso Lucideno e triunpho da liberdade, Edições Cultura, São Paulo, 1943, tomo I, p. 318.

2. Texto: Colaboração do Cel. Rosty/COTER. http://www.exercito.gov.br/05Notici/VO/175/tabocas.htm

3. Frei Manoel Calado, Id., Ib., tomo II, p. 12.

4. Id. Ib., p. 14.

5. Diogo Lopes Santiago, História da Guerra de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Recife, 1984, p. 258.

Comentários – ainda – sobre o Ir. Roger Schutz

Excelente esclarecimento postado no Fratres in Unum, traduzido de uma publicação de hoje do Rorate Coeli, sobre a “conversão” do fundador da Comunidade de Taizé já comentada aqui anteriormente. Acessem o artigo completo. Apenas destaco:

Irmão Roger gostava de dizer: ‘Encontrei minha própria identidade Cristão ao reconciliar em mim mesmo a fé do meu passado com o mistério da Fé Católica, sem ruptura de comunhão com ninguém’ (de uma alocação do Papa João Paulo II em 1980, na época de seu encontro  com a Juventude Européia em Roma).  A expressão, repetida novamente em seu último livro (Deus apenas pode dar amor), pode ser julgada como muito insatisfatória, pois não diz nada sobre as retratações necessárias para uma conversão. Mas Irmão Roger não era um teólogo.

É verdade que o segredo de sua conversão não tem a clareza e a solenidade de uma abjuração. Mas quem ousa duvidar de sua sinceridade? Cardeal Ratzinger, dando a ele a comunhão em abril de 2005, certamente agiu com pleno conhecimento dos fatos. E é falta de modos acusá-lo ainda hoje de ter “dado comunhão a um Protestante”.

E saliento ainda o fato (que eu não sabia) de que Taizé foi fundada por duas pessoas (Roger Schutz e Max Thurian). De acordo com as histórias sobre a conversão do Ir. Roger, ambos foram recebidos pela Igreja ao mesmo tempo. Max Thurian é hoje padre católico. E, passando a vista por este texto, parece-me um bom padre católico.

As intenções, só Deus conhece. Que a Virgem Maria, Janua Coeli, pela misericórdia de Deus, possa ser em favor do Ir. Roger.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
Et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace.
Amen.

Aborto – más notícias

Foi com pesar que recebi hoje as duas notícias abaixo.

Primeiro, o Ministro do Ataúde, José Gomes Temporão, disse que a anencefalia de Marcela de Jesus era uma farsa:

O ministro José Gomes Temporão (Saúde) disse que a avaliação de médicos de que Marcela Ferreira não era anencéfala desvenda uma farsa.

Segundo, a Corte Suprema de Justiça mexicana julgou ontem que o aborto no país é constitucional:

A Corte Suprema de Justiça do México considerou ontem, por oito votos a três, constitucional a lei vigente desde abril de 2007 na capital, Cidade do México, que permite o aborto até a 12ª semana de gestação.

Rezemos. Para que Deus tenha misericórdia de nós todos.

Acaso será eterna contra nós a vossa cólera? Estendereis vossa ira sobre todas as gerações?
Não nos restituireis a vida, para que vosso povo se rejubile em vós?
Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia, e dai-nos a vossa salvação.
[Sl 84, 6-8]

“O servo fiel e prudente”

(Texto escrito a quatro mãos:
Gustavo Souza et Jorge Ferraz
)

O servo fiel e prudente

“Quis putas est fidelis servus et prudens, quem constituit dominus supra familiam suam, ut det illis cibum in tempore? Beatus ille servus, quem cum venerit dominus eius, invenerit sic facientem. Amen dico vobis quoniam super omnia bona sua constituet eum”.
“Quem julgais que é o servo fiel e prudente, que o senhor pôs à frente da sua família para os alimentar a seu tempo? Feliz esse servo a quem o senhor, ao voltar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo: Há-de confiar-lhe todos os seus bens”
(Mt 24, 45-47).

Ainda no espírito do Evangelho de domingo passado (Mt 16,13-20), o qual nos apresenta a instituição da Igreja e do Papado, teceremos alguns comentários a respeito de uma figura que sempre foi sistematicamente vilipendiada pelos meios de comunicação: o Papa, verdadeiro mártir devido às inúmeras incompreensões e perseguições que sofre nos dias de hoje.

A mídia [em especial, a do Brasil] tenta sempre passar para o povo uma imagem o mais negativa possível do Sucessor de Pedro. No início do seu pontificado, o “espantalho” preferido dos meios de comunicação anticlericais era aquele segundo o qual Bento XVI seria um inquisidor (já que, quando cardeal, Joseph Ratzinger presidiu a Congregação para a Doutrina da Fé, antigo Santo Ofício). Depois, naquele malfadado episódio sobre o discurso do Papa na Universidade de Ratisbona, na Alemanha, os meios de comunicação tentaram disseminar que o Romano Pontífice era um preconceituoso “eurocêntrico” que não tinha nenhum respeito ao Islã. Depois, ainda, quando o Santo Padre declarou que os casais de segunda união representavam uma “piaga”, isto é, uma “chaga” na sociedade moderna, tentou-se mostrar que o Sucessor de Pedro tinha dado uma demonstração cabal de sua personalidade anacrônica que – “sem abertura ao novo” – considerava tais casais uma “praga”. Na visita ao Brasil, em maio de 2007, a imprensa esperava um Papa sisudo, com ares puritanos [na realidade, encontrou um homem dócil, afável, um verdadeiro pastor, disposto a largar noventa e nove ovelhas para buscar aquela que se perdeu (Mt 18, 12-13)]. Sem contar os foliões que – por ocasião das festividades do carnaval – vestem-se de papa, debochando do líder católico e, não raro, causando escândalo e praticando orgias que insinuam às pessoas ser o Papa, como eles, devasso. Enfim, os ataques são muitos e de todos os lados. Mas, diante de tantos episódios tristes de ataque ao Servo dos Servos de Deus percebemos duas coisas:

– o ministério petrino precisa ser melhor compreendido; e
– cumprem-se as promessas de perseguição que Jesus fez no Evangelho de São Marcos (Mc 10, 30).

Em face de tantas interpretações maldosas – e mal feitas -, a supracitada passagem do Evangelho de São Mateus (em epígrafe) nos convida a um questionamento muito pertinente: Quem é o Santo Padre? Como ele deve agir?

As diretrizes da ação do papa – que acabam se tornando suas características – é Jesus mesmo quem descreve, no Evangelho. Espera-se que ele seja Fiel e Prudente. Comentando este Evangelho, São João Crisóstomo vai nos dizer:

“Duas coisas o Senhor exige de semelhante servo, a saber, prudência e fidelidade. Chama em verdade fiel àquele que não se apropria de nada do que pertença a seu Senhor, nem gasta inutilmente as Suas coisas. E chama prudente àquele que conhece o modo com o qual convém administrar o que lhe foi confiado” [homiliae in Matthaeum, hom. 77,3, in Catena Aurea, tradução livre]

Olhemos estas duas características mais a fundo:

Fiel – fiel às tradições da Igreja, leal a Jesus Cristo e à sua Boa Nova. A fidelidade tem um quê de coerência e, sobretudo, de comprometimento com a Verdade; o Papa não pode se apropriar daquilo que pertence a Deus e usar ao seu arbítrio aquilo que lhe foi confiado para defender e propagar! Também de dentro da Igreja, muitas vezes surgem críticas ao Santo Padre. Muitos grupos “tradicionalistas” já ousaram [e alguns ainda ousam] dizer o Papa filiou-se ao modernismo; que já não faz as coisas “de sempre”. A pretensão de certos “fiéis” chega a tanto que muitos acabam por se esquecer de que Jesus roga pelo Seu Servo a fim de que a Fé dele não desfaleça e, assim, ele possa confirmar a Fé de seus irmãos (Lc 22, 32). A fidelidade do Papa é um dom que Deus concede em atenção à oração de Seu Filho Jesus.

Prudente – o Santo Padre deve ser prudente. Mesmo quando acusado de antiquado, retrógrado ou qualquer adjetivo semelhante, ele deve estar atento às palavras do apóstolo Paulo: “(…) virá o tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas. Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos sofrimentos, cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu ministério” (2Tm 4, 3-5). Ao mesmo tempo, deve ter o discernimento para saber como convém anunciar a Boa Nova, segundo as variedades das pessoas, dos tempos e dos lugares, de acordo com o conselho do mesmo São Paulo (Hb 5, 12-14). Jesus já havia aconselhado: “Sede prudentes como as serpentes” (Mt 10, 16).

O Papa, portanto, precisa ser ao mesmo tempo Fiel e Prudente. Alguns ditos “católicos” não percebem isto e, dissociando uma dessas características da outra, terminam por exigir que o Papa se comporte segundo a caricatura pontifícia por eles criada. Os modernistas, por exemplo, querem um Papa “somente prudente” que, em nome do politicamente correto, trabalhe incessantemente para evitar as discórdias e adaptar a Igreja às exigências do mundo moderno – mesmo que isso implique em sacrificar a Verdade. Já os rad-trads, no extremo oposto, negam ao Papa o direito de se exprimir da maneira que ele julgar mais conveniente – mesmo que, com isso, dificultem que a Boa Nova chegue ao conhecimento de todos os homens -, considerando que a menor alteração na forma como são ditas as verdades de Fé implica numa traição ao Depósito da Fé. Quando o Papa fala, pois, é duplamente atacado: os modernistas de um lado o chamam de imprudente e os rad-trads, do outro, de infiel. Levantando-se e fazendo frente aos dois erros opostos, todavia, ergue-se o Sumo Pontífice, coluna da Igreja, referencial seguro da Verdade Eterna, o servus servorum Dei. A expressão – que já era cara a São Gregório Magno – indica-nos qual é exatamente a natureza da função do Papa na Igreja de Cristo [“Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servidor (διάκονος); e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos” (Mc 10, 43-44)] e completa-nos a definição de quem é o Papa: est fidelis servus et prudens.

Além disso, o Papa deve ser amado por ter uma vocação única entre todos os homens do mundo. Alguns podem dizer: “ah, Jesus poderia ter escolhido qualquer um”. De fato, a vontade divina é soberana e poderia ter escolhido qualquer um. Mas este, precisamente o que foi escolhido, vai sempre carregar o selo da eleição divina. Quem quer que seja, a partir do momento em que Deus o chama, passa a ser “o escolhido”. A eleição é sinal de amor. Se Deus ama o Papa, por que nós não o amaremos?

Ainda olhando para o trecho bíblico de S. Mateus que encabeça este texto, podemos contemplar a figura do Santo Padre como guardião dos Sagrados Mistérios, administrador e dispensador dos tesouros da Igreja, em especial a Santíssima Eucaristia. A Eucaristia é o alimento com o qual Deus nutre a nossa alma. E o Papa Bento XVI tem exercido o ofício de guardião deste Mistério de modo magistral. Primeiro, escrevendo aquela magnífica exortação apostólica chamada Sacramentum Caritatis, na qual o mistério da Eucaristia é aprofundado (mas não esgotado), em continuidade com a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, de autoria do Papa João Paulo II, de felicíssima memória. Depois, através do motu proprio Summorum Pontificum, no qual se estabeleceu que a rica liturgia tridentina deve ser tratada como Forma Extraordinária do Rito Romano, podendo ser celebrada por qualquer sacerdote que o deseje, sem necessidade de indulto por parte do Ordinário local. Além disso, as atitudes mais recentes do Chefe da Igreja Universal têm mostrado o grande apreço que ele tem ao Santo Sacrifício: a comunhão de joelhos que tem feito questão de administrar nas celebrações em Roma, por exemplo, mostram a piedade eucarística de Bento XVI. A Igreja vive da Eucaristia – como esperar, então, que aquele que foi colocado como Cabeça Visível da Igreja (para alimentar a família de Deus no tempo oportuno) pudesse não ser profundamente devoto deste tão sublime Sacramento?

Em suma, o “servo fiel e prudente” é – de maneira especialíssima – o Papa. E ele tem feito o seu papel. Ponhamo-nos nós, leigos, no nosso lugar, e desprezemos os juízos maldosos que muitas vezes são feitos a respeito da pessoa e do ministério do Sucessor de Pedro. Roguemos a Santa Catarina de Sena que nos ensine e nos ajude a amar o “Doce Cristo na Terra”. Que possamos afirmar com os Padres da Igreja: é somente “cum Petrus et sub Petrus” (com Pedro, e sob Pedro) que queremos marchar neste Vale de Lágrimas rumo à Pátria Celeste .

Cretinice explícita

Meu Deus, como é cretino o Marco Mello!

Primeiro, ele diz claramente que as audiências públicas sobre o aborto dos anencéfalos não servem para nada, já que canta vitória de “onze a zero” antes mesmo do fim dos debates:

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello acredita que a descriminalização do aborto em casos de anencefalia será aprovada por “onze a zero” na votação, prevista para ocorrer até fim deste ano.

Depois, ele afirma expressamente que o motivo da não-aprovação deste tipo de aborto até agora era Marcela de Jesus:

Segundo o ministro, “não se terá mais o gancho para não se interromper a gravidez, que era o caso Marcela”.

E, por fim, reafirma que a “porta” para o aborto destas crianças deficientes foi aberta no julgamento sobre as células-tronco embrionárias:

“O que me incentivou a tirar o processo dos fetos anencéfalos da prateleira foi a visão do Supremo com as pesquisas com células-tronco” disse ele a jornalistas no final da audiência.

A quem quiser ver a reportagem completa, está aqui. Tenha Deus misericórdia de nós todos, e seja em favor do Brasil a Virgem Soberana, Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Ana Clara desafia a medicina

Diante do lobby abortista para que seja aprovado o quanto antes o assassinato de crianças anencéfalas, argumentando-se que estas crianças nascem mortas ou vivem pouco após nascer, cabe perguntar: há outras doenças que, à semelhança da anencefalia, apresentam ao nascituro uma alta probabilidade de morte antes do parto ou de curta sobrevida?

O artigo a seguir, da autoria do Marcio Antonio Campos, foi publicado no Gazeta do Povo de Curitiba, em 12 de junho de 2005.

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Ana Clara desafia a medicina

Bebê portador de doença rara contraria estatísticas
e família dá exemplo de amor e aprendizado

Os Alcântara têm vários motivos para comemorar o primeiro ano de uma vida que quase não existiu

Quando Antônio Carlos e Fernanda Alcântara souberam que o bebê que esperavam tinha uma doença genética, ouviram o mesmo veredito de vários médicos: a chance de a criança nascer viva era pequena; e, se nascesse, morreria logo, ou viveria como um vegetal. Na quarta-feira, Ana Clara comemora seu primeiro aniversário – apenas 1% dos portadores da síndrome de Edwards chegam a tanto. Se a risonha menina de olhos azuis soubesse o que tantos homens de branco disseram dela, teria uma razão a mais para sorrir.

Ana Clara chegou com uma surpresa atrás da outra. Antônio e Fernanda passaram anos tentando uma gravidez, sem sucesso. “Fizemos praticamente de tudo até o médico me dizer que não havia jeito”, lembra a psicóloga de 35 anos, casada há 6. O casal resolveu adotar uma menina – Maria Luíza, que chegou em setembro de 2003 e fará dois anos em agosto. Poucos meses depois, Fernanda estava grávida. “Acho que foi de felicidade de ter a Maria Luíza em casa”, arrisca.

Logo no início da gestação, houve descolamento de placenta, e a psicóloga precisou de repouso absoluto. Por causa do excesso de líquido amniótico, os exames foram intensificados e mais detalhados, até o diagnóstico: síndrome de Edwards – 9 em cada 10 bebês não chegam a sobreviver à gestação. No sexto mês de gravidez, Fernanda já sentia contrações, e o obstetra sugeriu uma micro-cesárea: o bebê tinha 630 gramas e tinha alguma chance de sobreviver. Além disso, Fernanda corria risco: seu útero frágil podia se romper, provocando hemorragia interna. O casal refletiu por dias e não aceitou a sugestão. “Para mim não havia diferença entre micro-cesárea e um aborto”, explica Antônio, que é advogado.

Com 8 meses de gravidez, Fernanda foi ao hospital Santa Brígida para o parto. Do lado de fora, uma UTI móvel do Pequeno Príncipe, onde duas salas de cirurgia diferentes esperavam o bebê: uma para o caso de hidrocefalia, e outra para problemas cardíacos, ambas conseqüências da síndrome de Edwards. Quando veio ao mundo, Ana Clara não chorou. “O silêncio era tão grande que dava para ouvir o coração de todo mundo na sala de cirurgia”, conta a mãe. Mas um dos obstetras percebeu que o cordão umbilical pulsava. Não demorou muito para o primeiro berro – e a estrutura do Pequeno Príncipe nem precisou ser usada.

Ana Clara tinha 1 quilo e 710 gramas, e foi para a UTI. Lá, teve crises de apnéia (paradas respiratórias durante o sono), paradas cardíacas e suspeita de meningite. Chegou a pesar 1,3 quilo. Durante dois meses, Fernanda e Antônio só podiam ver a filha por 1 hora e meia diária. “E nem podíamos pegar, ela estava na incubadora”, recorda a mãe. Foi quando apareceu um dos anjos da guarda da família, a pediatra Cristina Okamoto. “Eu perguntei como a Ana Clara estava, e ela respondeu ‘está bem hoje’. Como ela ia ficar no dia seguinte, não sabíamos. Mas o que importava era que, naquele momento, ela estava bem. A dra. Cristina nos ensinou a viver um dia de cada vez”, resume Fernanda. Quando Ana Clara finalmente foi para casa, Fernanda teve uma semana infernal: “eu só ficava com ela no colo, o tempo todo. Se engasgava, corria para o hospital. Estava pirando, dizendo bobagens.” Em seu auxílio veio o socorro de toda mãe iniciante: a avó de Ana Clara.

Depois da segunda internação na UTI, o casal conseguiu, depois de muita briga com o plano de saúde, um serviço de home care, com enfermeiras em casa por 24 horas. “O plano não queria: alegaram que não era preciso; que nossa filha tinha doença preexistente; e, quando cederam, chegaram a dizer que ofereciam o home care para a Ana Clara poder morrer em casa e não no hospital”, conta Antônio. Ainda houve uma terceira passagem pela UTI, da qual o bebê saiu em fevereiro – em um ano de vida, quase metade no hospital.

Hoje, Ana Clara tem 5 quilos e 52 centímetros – o tamanho de um bebê de dois meses. Um de seus rins não funciona e ela tem dois pequenos furos no coração, que a fazem se cansar mais rapidamente, além de uma lesão cerebral grave cujas conseqüências ainda não são conhecidas. Dependendo das áreas afetadas, ela pode não aprender a falar, ou andar. A pediatra Cristina conta que atualmente o bebê toma 10 remédios. Um aparelho monitora batimentos cardíacos e a respiração, e Fernanda sabe como agir em caso de apnéia.

A alimentação é feita com uma sonda que vai direto a seu estômago, mas aos 10 meses Ana Clara também começou a receber papinhas, depois de aprender o reflexo de deglutição. “Eu passei uma semana só dizendo ‘gente, minha filha come de colher!’ Com ela saboreamos cada vitória como essa”, diz Fernanda. A fisioterapia conseguiu fazê-la abrir as mãos e bater palmas. Nos primeiros meses, a pele sensível transformava qualquer toque em agressão. A solução foi encher o bebê de beijos sempre que possível – as “chuvas de beijos” são um jeito seguro de fazer Ana Clara sorrir. “Ela é movida a amor”, resume a mãe.

O riso de Ana Clara não esconde uma realidade que pode até passar despercebida nos melhores dias da criança: ela tem uma doença grave e crônica. A pediatra Cristina explica: “quando o bebê é recém-nascido e está lutando para viver, o pai sabe do risco e está pronto para aceitar o destino. Mas, depois da primeira vitória, ele se acostuma, até cair a ficha de novo de que ele pode perder o filho.” Para lidar com isso, o casal procurou um psicólogo. “Se eu a perdesse com um dia de vida, nosso vínculo ainda teria muito de fantasia, de como eu gostaria que tivesse sido. Mas perdê-la com um ano é totalmente diferente. Agora Ana Clara é real, e um terço do meu coração seria jogado fora”, conta a mãe.

Uma outra pergunta também passou pela cabeça dos pais. “Durante uma das internações, até nós nos perguntamos se não estávamos fazendo nossa filha sofrer demais”, lembra Antônio. A resposta veio em um papel que um amigo recebeu na igreja. “Dizia que felicidade é fazer bem o que a gente tem de fazer”, define Fernanda, que acredita estar seguindo a receita desde o começo. Ela trabalha com mulheres que fizeram aborto: “a culpa as persegue pelo resto da vida, mesmo tendo outros filhos depois”, explica.

Em um ano, Fernanda diz ter aprendido muitas lições: “não se pode ser professor de Deus. Engravidei, descobrimos o problema e me disseram que não havia perspectiva. Minha filha nasceu viva, e disseram que morreria logo. E veja só, ela nos reconhece, brinca com a Maria Luíza, tem uma boneca favorita, gargalha quando chega em casa.” Para comemorar, o casal dará “uma super-mega-festa para seis pessoas”– não é possível reunir tanta gente em casa em torno de uma criança tão frágil. Nas lembrancinhas, uma frase: “eu só existo porque você me ama.”

Marcio Antonio Campos

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Em 90% dos casos, bebês não chegam a nascer

O geneticista Salmo Raskin, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR) e membro do projeto Genoma Humano, define a síndrome de Edwards como “acidente genético”, já que ela não tem características hereditárias. A doença é provocada pela chamada “trissomia do 18”: cada célula humana tem normalmente 23 pares de cromossomos (em cada par, um cromossomo vem do pai e outro da mãe), mas em alguns casos um par pode receber um cromossomo a mais, a chamada trissomia – se ela for observada no par 21, por exemplo, o resultado é a síndrome de Down.

A síndrome de Edwards recebeu o nome do médico inglês John Edwards, o primeiro a descrever a doença, em 1960. As chances de um bebê ter a síndrome são de uma em 8 mil (dez vezes mais que a síndrome de Down), mas Raskin explica que não se vêem muitas crianças com Edwards porque 90% delas morrem antes do parto. As que chegam a nascer raramente passam do primeiro ano de vida. Em 5% dos casos, observa-se o “mosaicismo”, uma variedade mais leve em que apenas parte das células tem o cromossomo a mais, enquanto as outras são normais – não é o que acontece com Ana Clara, que tem todas as células com a trissomia. Enquanto se conhecem alguns poucos pacientes com mosaicismo que chegaram até a adolescência, uma situação como a de Ana Clara foi definida por Raskin como “raríssima”.

O geneticista descreve algumas das conseqüências da síndrome: atraso no desenvolvimento, problemas cardíacos, respiratórios e renais, lesões cerebrais. Nas mãos, alguns dedos fecham-se sobre os outros, e os pés têm pontas arqueadas. “É uma qualidade de vida muito baixa”, observa Raskin. Para a psicóloga Rosa Mariotto, especialista em psicologia do desenvolvimento, uma ligação afetiva forte entre pais e o bebê pode prolongar sua vida. “O modo como os pais reagem interfere na criança, para bem e para mal. Isso não está escrito em DNA nenhum”, explica. A troca de olhares entre mãe e filho constitui um dos vínculos mais fortes. “Mesmo de forma frágil, a criança responde aos estímulos”, afirma a professora do curso de Psicologia da PUCPR.

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STF ainda não decidiu sobre aborto de anencéfalo

A polêmica judicial sobre a autorização para o aborto em fetos com anencefalia deve chegar a um ano sem solução definitiva. Em 2004, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde entrou com uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental, e em 1.º de julho o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar que permitia o aborto em caso de anencefalia. O plenário do STF derrubou a liminar em outubro, mas ainda deve se reunir para uma decisão final sobre o assunto. Durante a vigência da liminar, 58 mulheres fizeram abortos amparadas pela medida.

Em 9 de março deste ano, o Conselho Nacional de Saúde aprovou o aborto em caso de anencefalia. No entanto, o órgão não tem poder legal de autorizar definitivamente o procedimento no país. Enquanto isso, o aborto continua considerado crime em todos os casos, mas, de acordo com o artigo 182 do Código Penal, não tem punição nas situações de gravidez decorrente de estupro ou que ameace a vida da mãe – algumas correntes defendem que, ao extinguir a pena, o Código Penal também permitiria a interpretação de que o aborto nestes dois casos é permitido pela lei. O governo federal criou um grupo de trabalho com o objetivo de encontrar formas de legalizar o aborto no Brasil.