Não soube do mundo

Não soube do mundo

[Renato de Azevedo]

Era tão pequeno
que ninguém o via.
Dormia sereno
enquanto crescia.
Sem falar, pedia
– porque era semente –
ver a luz do dia
como toda a gente.
Não tinha usurpado
a sua morada.
Não tinha pecado.
Não fizera nada.
Foi sacrificado
enquanto dormia,
esterilizado
com toda a mestria.
Antes que a tivesse,
taparam-lhe a boca
– tratado, parece,
qual bicho na toca.
Não soltou vagido.
Não teve amanhã.
Não ouviu “Querido”…
Não disse “Mamã”…
Não sentiu um beijo.
Nunca andou ao colo.
Nunca teve o ensejo
de pisar o solo,
pezito descalço,
andar hesitante,
sorrindo no encalço
do abraço distante.
Nunca foi à escola,
de sacola ao ombro,
nem olhou estrelas
com olhos de assombro.
Crianças iguais
à que ele seria,
não brincou com elas
nem soube que havia.
Não roubou maçãs,
não ouviu os grilos,
não apanhou rãs
nos charcos tranquilos.
Nunca teve um cão,
vadio que fosse,
a lamber-lhe a mão
à espera do doce.
Não soube que há rios
e ventos e espaços.
E invernos e estios.
E mares e sargaços.
E flores e poentes.
E peixes e feras –
as hoje viventes
e as de antigas eras.
Não soube do mundo.
Não viu a magia.
Num breve segundo,
foi neutralizado
com toda a mestria.
Com as alvas batas,
máscaras de entrudo,
técnicas exactas,
mãos de especialistas
negaram-lhe tudo
(o destino inteiro…)
– porque os abortistas
nasceram primeiro.
[AZEVEDO, Renato de. Apostolado Veritatis Splendor: NÃO SOUBE DO MUNDO . Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4922. Desde 4/11/2008.]

Chineses nas olimpíadas

Muito feliz o artigo do João Pereira Coutinho publicado hoje na FOLHA DE SÃO PAULO. Nas Olimpíadas, a China segue no topo do Quadro de Medalhas, com a considerável diferença [hoje] de 17 medalhas de ouro para os Estados Unidos, que ocupam a segunda colocação. Eu não tenho acompanhado os jogos olímpicos, mas o Coutinho sim, e diz que chama a atenção a expressão dos atletas chineses – “o rosto exibe uma tensão e uma infelicidade que não se encontram nos outros”. Acredito nele, porque não se conseguem quase quatro dezenas de medalhas douradas sem esforços. E compartilho a mesma visão do articulista sobre as explicações do fenômeno. Basicamente, duas.

A primeira, é o fato de que o esporte é usado como “arma política”, para mostrar a superioridade de verniz do regime fracassado perante todos os países do orbe terrestre. O fato não é inusitado, porque a mesma política foi usada na antiga União Soviética e é usada hoje em Cuba [inclusive, esta reportagem atual, deste ano, diz a mesma coisa sobre os esportes na ilha de Fidel: “Usando o sucesso esportivo como arma de marketing da revolução, os cubanos deixaram de ser uma nação insignificante no cenário olímpico para se tornar uma das maiores potências esportivas do planeta”]. Se o regime produz vencedores, ergo ele não é fracassado, é a lógica utilizada pelos comunistas. O problema é que nem mesmo o ponto mais alto do pódio é capaz de satisfazer os dissidentes do regime ditatorial. Direto do túnel do tempo: De volta ao exílio, VEJA, dez anos atrás. Em comparação com as notícias atuais, nada de novo debaixo do sol.

A segunda [interessantíssima] explicação, ainda segundo o articulista, é a política de filho único da China adotada há 30 anos. Nas palavras de João Coutinho,

essa política tem um preço: quando os casais têm um único filho, a pressão e as expectativas de sucesso aumentam, esmagando os desgraçados.

O filho único! Realidade inexistente há alguns anos (ou, pelo menos, circunscrita à casualidade biológica), cujas implicações ainda não foram totalmente identificadas [“42 por cento de alterações de caráter” segundo uns, ou até “maior tempo para amadurecimento da identidade heterossexual” segundo outros]; hoje, os filhos são caros e escassos [vale a leitura]. Filhos, muitos filhos [também vale a leitura] são raros, mesmo fora da China; esta conseguiu criar “uma juventude admirável: pequenos monstros que jogam a existência, sua e dos progenitores, em cada prova desportiva ou académica” – que nos sirva de exemplo a não seguir. Que o Brasil se livre dessa cultura; não importemos o que não presta!

Diz, por fim, o articulista:

Moral da história? Para começar, o suicídio é a primeira causa de morte entre os chineses mais jovens (entre os 20-35 anos); e só entre os universitários, 25% têm recorrentes pensamentos suicidas (nos EUA, por exemplo, só 6%).

É este o paraíso que nos acena? É este o futuro que nós queremos para os nossos filhos? Livre-nos Deus. Da já citada aqui Casti Conubii:

Se uma mãe verdadeiramente cristã meditar nestas coisas, compreenderá certamente que se lhe aplicam, no sentido mais alto e cheio de consolação, estas palavras do Nosso Redentor: “A mulher… quando deu à luz uma criança, já não recorda os seus sofrimentos, pela alegria que sente porque um homem veio ao mundo” (Jo 16, 21); tornando-se superior a todas as dores, a todos os cuidados, a todos os encargos da maternidade, muito mais justa e santamente do que aquela matrona romana, mãe dos Gracos, gloriar-se-á no Senhor de uma florescentíssima coroa de filhos. Ambos os cônjuges olharão estes filhos, recebidos das mãos de Deus, com alvoroço e reconhecimento, como a um talento que lhes foi confiado por Deus, não já para o empregar somente no seu próprio interesse ou no da pátria terrestre, mas para Lho restituir depois, com o seu fruto, no dia do Juízo Final. [CC 15]

Nossa Senhora, Rainha da Família,
rogai por nós!

In Assumptione Beatæ Mariæ Virginis


[Arquivo pessoal – Madrid]

5. Que opróprio não se apresenta para a condição humana o túmulo com a sua podridão! Jesus, isento deste opróprio universal, também dele isentou a Santa Virgem, porque a carne de Jesus é a de Maria.

7. Se Maria foi tão justamente ornada durante toda a sua vida com graças, mais abundantemente do que todas as outras pessoas, após a sua morte, a intensidade dessas graças haveria de diminuir? Por certo que não. Pois se a morte de todos os santos é preciosa (Sl 115, 15), a de Maria, certamente, é mais preciosa ainda. Ela, que pôde ser chamada Mãe de Deus e que o foi de fato.

8. Era justo ficar isenta da corrupção aquela que fora inundada com tantas graças. Deveria viver, toda inteira, aquela que gerou a Vida perfeita e completa de todos os humanos.

Que ela esteja com aquele a quem trouxe no seio: que esteja junto àquele que pôs no mundo, a quem aqueceu e nutriu. Maria, a mãe de Deus, a ama de Deus, o reino de Deus, a imitadora de Deus.

[Tratactus De Assumptione B. Mariae Virginis 5.7.8. Escrito atribuído.
in “Santo Agostinho – a Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários”
Ed. Paulus
São Paulo, 2002
]

Assumpta est Maria in Caelum…


[André Gonçalves, pintor português – Séc. XVIII]

… gaudet exercitus Angelorum!

Signum magnum apparuit in coelo: mulier amicta sole, et luna sub pedibus ejus, et in capite ejus corona stellarum duodecim. — Cantate Domino canticum novum: quia mirabilia fecit. V.: Gloria Patri … — Signum magnum apparuit in coelo …
[Intróito da missa de hojeRECOMENDO UMA VISITA!]

Hoje a Igreja celebra a festa da Assunção da Santíssima Virgem. Da MUNIFICENTISSIMUS DEUS:

[E]sta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.
[MD 41]

E compartilho um ótimo texto escrito por um amigo, o Gustavo Souza, que é uma síntese da festa hoje celebrada em toda a Igreja. Apenas saliento que o dogma hoje celebrado concerne somente à Assunção da Virgem, deixando (propositalmente) aberta a questão de se Maria morreu ou não “terminado o curso da vida terrestre”, que é quaestio disputata.

* * *

Assumpta est Maria in Caelum!

“Mas era preciso que aquela alma santíssima se separasse daquele corpo sacratíssimo. Deixou-o e uniu-se à alma de seu Filho, ela que era uma luz criada uniu-se à luz que não teve princípio. E o seu corpo, depois de ter ficado algum tempo debaixo da terra, também ele foi levado ao céu. Era preciso, com efeito, que ele passasse por todos os caminhos que o Salvador tinha percorrido, que resplandecesse para os vivos e para os mortos, que santificasse a natureza em todos os aspectos e que, em seguida, recebesse o lugar que lhe convinha. Por isso, o túmulo o abrigou durante algum tempo; depois, o céu acolheu aquela terra nova, aquele corpo espiritual, mais digno do que os anjos, mais santo do que os arcanjos. E o trono foi entregue ao rei, o paraíso à árvore da vida, o mundo à luz, a árvore ao seu fruto, a Mãe ao Filho; ela era perfeitamente digna, pois que ela o tinha gerado” (São Nicolau Cabasilas – 1320-1363 – teólogo leigo grego. Homilia sobre a Dormição da Mãe de Deus).

Celebramos hoje a Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, cujo calendário civil não prescreve como feriado esta gloriosa data, a celebração desta festa é transferida para o Domingo. Para mais amar, honrar e tornar conhecida a Santíssima Virgem, decidi escrever este pequeno resumo da Assunção.

O fato da Assunção de Nossa Senhora foi-nos transmitido pela Tradição da Igreja. Segundo uma antiga versão (disponível aqui), aos 72 anos, ocorreu a dormição de Nossa Senhora. Os apóstolos foram miraculosamente levados – todos! – a Jerusalém na noite anterior ao fato; os fiéis de Jerusalém, assim que souberam, acorreram ao lugar onde se encontrava o seu corpo para reverenciar e prestar as últimas homenagens à Mãe de Deus. Três dias depois da “morte” de Maria, conta-se que São Tomé (sim, ele mesmo, de novo!) pediu para ver o corpo. Ao removerem a pedra do túmulo, não encontraram a Virgem. Do túmulo, exalava um perfume maravilhoso, fragrância divina deixada presente, lembrança e sinal pela Rainha do Céu. Desse relato, não há uma linha sequer na Sagrada Escritura.

A festa foi instituída oficialmente, junto com a proclamação do Dogma da Assunção de Nossa Senhora, em 01 de novembro de 1950, pelo Santo Padre, o Papa Pio XII.

A data foi estabelecida com base nos escritos de São Jerônimo que afirma ter a Virgem sido elevada ao Céu no dia 18 das calendas de setembro – o que equivale a 15 de Agosto.

A lógica – mais consistente e simples – que justifica a dormição de Nossa Senhora é a seguinte: São Paulo afirma na Carta aos Romanos que a morte é o salário do pecado (6, 23). Como é sabido, a Virgem Santíssima não cometeu nenhum pecado (nem venial, nem mortal). Assim sendo, seria injusto que ela recebesse a recompensa por algo que não fez. Que morresse da exata mesma forma que os pecadores. Deus então, na sua infinita Bondade e Justiça, concedeu-Lhe [à Maria] uma “morte suave”, e como Lhe envolvesse num sono leve atraiu a Si o corpo e a alma da Virgem. Santo Agostinho enumera três razões para explicar a dormição e assunção de Nossa Senhora, a saber:

1 – Como foi Nossa Senhora que “outorgou” a Cristo a carne humana (carne essa que foi poupada da corrupção e da deterioração provocada pelos vermes), o corpo de Maria, com a Ressurreição de Jesus, participa da incorruptibilidade do corpo de Cristo;

2 – Mais do que qualquer outro corpo, o de Nossa Senhora foi autêntico Tabernáculo de Cristo. Deste modo, é mais digno e adequado guardar esse tesouro no Céu que na Terra;

3 – Para dar continuidade à integridade que a Virgem sempre preservou durante toda a sua vida. O Bispo de Hipona afirma: “a pena da corrupção não deve ser conhecida por aquela que não teve sua integridade corrompida quando gerou seu filho. Será sempre incorrupta aquela que foi cumulada de tantas graças, que viveu íntegra, que gerou vida em total e perfeita integridade, que deve ficar junto daquele a quem carregou em seu útero, a quem gerou, aqueceu, nutriu”. (Veja aqui o artigo fonte deste excerto)

Em resumo, Jesus quis honrar sua Sacratíssima Mãe elevando-a sobre todas as criaturas, e revestindo-a de glória e esplendor. E nós, Seus filhos por adoção, devemos também venerá-la para, seguindo os passos de São Luiz de Montfort, manifestar esta devoção que, segundo ele, é indispensável, não opcional, fundamental à vida cristã.

Rainha assunta ao Céu,
Rogai por nós!

Gustavo Souza

Rezemos pelo Equador!

Últimas notícias:

– O presidente Rafael Correa agora resolveu se meter de vez nos assuntos eclesiásticos, e pediu para que os jovens… não se deixassem catequizar!

Esta vez chamou os jovens equatorianos a não deixar-se catequizar por quem quer deixar o país “nas trevas”, em alusão à campanha dos bispos nacionais por um voto responsável no próximo referendum sobre o polêmico projeto de nova Constituição Política.

Onde estão os defensores do Estado Laico, agora, para dizerem que o presidente não pode cometer tamanha ingerência em assuntos que não lhe competem? Acaso é lícito agora fazer propaganda anti-religiosa estatal?

– A Conferência Episcopal do Equador esteve reunida ontem à tarde para produzir um documento acerca do projeto de Constituição. Podemos esperar coisas boas e atitudes firmes dos sucessores dos Apóstolos, a julgar pelo que já se pode encontrar no site da Conferência:

Marcamos aquí esquemáticamente las razones de nuestro desacuerdo con el texto constitucional (…):

1. La persona humana existe antes que el Estado. (…) Descubrimos que el estatismo parece ser un hilo conductor de la nueva Constitución.

[…]

2. No se reconoce claramente el derecho a la vida desde la concepción. Sin mencionar el término “aborto”, el proyecto constitucional deja la puerta abierta a la supresión de la nueva creatura en el seno de la madre.

[…]

3. Se atenta en contra de la familia como célula fundamental de la sociedad y del bien común. (…) De ahí se pasa a equiparar a la familia la unión de personas del mismo sexo.

[…]

4. En la educación es más patente aún el estatismo. El derecho de los progenitores y el reconocimiento de la libertad de enseñanza vienen contradichos cuando el Estado se arroga el derecho de determinar lo que se tiene que enseñar y lo que se tiene que ignorar. (…) [N]o hay ninguna garantía de futuro, cuando el Estado adquiere la facultad de regulación y control de todos los aspectos de la educación.

Rezemos para que não tenhamos mais sacrilégios.

– Pelo que saiu n’O GLOBO, a campanha para o plebiscito – que ocorrerá no dia 28 de setembro – começou ontem, quinta-feira. Disse o Ministro da Política que

o governo não utilizará a estrutura pública e nem recursos estatais para fazer campanha, o que é uma das acusações da oposição.

Oras, e a notícia logo acima, do presidente falando aos jovens para não darem ouvidos aos bispos, é o quê?! Haja cara de pau!

As pesquisas de opinião – feitas por uma empresa vinculada ao governo – mostram vitória do projeto com 49% dos votos, ficando 27% para o “não” e outros 27% entre brancos e nulos. Somando tudo, chegamos ao total de 103% dos votantes, como é lógico. Os números estão todos lá n’O Globo. Exceto a soma, que eles devem ter esquecido de fazer.

Aborto: notícia boa, notícia ruim

Primeiro a notícia boa: em Sergipe, foi fechada uma suposta clínica de aborto. A mesma coisa já havia acontecido em Goiânia, no início do mês; sinal de que as pessoas estão se empenhando para que a lei seja cumprida, e o assassinato covarde de crianças não continue impunemente.

Mas nem tudo são flores, porque o José Genoíno apresentou um recurso para que o Projeto de Lei do aborto seja julgado no Plenário da Câmara. O mesmo projeto que vem se arrastando desde 1991, e que já sofreu duas derrotas este ano. Eles não desistem nunca!

Ainda a Montfort e o IBP

Padre Renato Leite, publicado no FRATRES IN UNUM:

A casa do IBP situada no bairro do Ipiranga da qual estive à frente por oito meses, foi instituída com uma finalidade específica: “Preparar os alunos do Professor Orlando para ingressarem no seminário do IBP em Courtalain, França”. E obviamente, essa preparação estaria prioritariamente a cargo do professor Orlando que com os amigos, “pagavam todas as contas da casa”, imaginando ter uma espécie de “direito adquirido” para assim proceder no que dizia respeito à formação dos rapazes.

A casa seria um instrumento para o professor Orlando atingir um dos seus mais ousados objetivos: O ter padres sob o seu comando direto. E, para atingí-lo, seria enviado para Courtalain um número cada vez maior de alunos do professor que, ordenados padres, garantiriam a influência e o controle do Instituto do Bom Pastor pelo professor e seus amigos, recordando que o IBP já nasceu Pontifício ou seja “grande” canonicamente falando, com aprovação direta do Papa e portanto “tentador”.

Gostaria de terminar esses esclarecimentos recordando a todos que toda essa confusão deve ser “creditada” nas contas das vaidades de duas pessoas:

Primeiramente na conta do professor Orlando que vive esquecido de que, não importa o que diga ou faça, continua sempre um leigo não tendo autoridade docente na Igreja para submeter sacerdotes e formar seminaristas como pretendia nessa malfadada empreitada junto ao IBP. Tal tarefa está reservada exclusivamente aos bispos membros da Hierarquia da qual ele não faz parte.

Em segundo lugar na conta do Padre Laguerie Superior Geral do IBP que tem autoridade direta sobre os padres e sobre a formação dos seminaristas e que discordando das idéias do professor “desde sempre”, tinha a obrigação moral de deixar isso claro sem “simular” uma autorização que depois se verificou inexistente e que gerou inúmeros transtornos permitindo que o “oportunismo” prevalecesse sobre a franqueza e a sinceridade.

Lamento tudo isso e rogo a Deus Sua Misericórdia de modo particular para aqueles que defendendo a “Bandeira da Fé Católica” acabam por ter na prática, as mesmas atitudes daqueles que dizem combater.

Tais denúncias deveriam provocar em nós profunda tristeza. Gostaria de pedir a todos quantos aqui passarem que rezassem pelo Santo Padre, rezassem pela Igreja, rezassem pelo IBP, pelo padre Renato e pelo professor Orlando Fedeli. E recordo as belas palavras de Dom Rafael Cifuentes:

Todos temos de enfrentar dificuldades e sofrer decepções, mas estas trazem consigo conseqüências bem diferentes segundo sejam encaradas com espírito negativo e encolhido, envelhecido, ou com esse espírito esportivo de que falamos. Não há dúvida de que, muitas vezes, as nossas atitudes perante os fatos são mais importantes que os mesmos fatos. É o que diz certa frase do escritor católico inglês William Ward: “O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas”.
[Rafael Llano Cifuentes, “Juventude para todas as idades”, Ed. Quadrante, São Paulo, 2008]

Ajustemos as nossas velas. Não desanimemos. Não nos prendamos ao passado. Duc in altum!

P.S.: o Padre Renato escreveu o mesmo testemunho no orkut. E com um acréscimo que vale a pena ser reproduzido:

Aqui não julguei intenções que só de Deus são conhecidas.
Me restringi aos fatos e só a eles porque lá estava quando se deram.

Parabéns à boa ciência

Nasceu em São Paulo, no mês passado, o pequeno Valdir Gabriel, aos oito meses. Produto de uma gravidez extra-uterina, o feto “estava alojado não no útero, onde deveria estar, mas numa região mais acima, próxima do estômago” (GAZETA DO POVO).

A notícia veiculada por G1 reconhece:

Esse tipo de gravidez costuma ser interrompido pelos médicos para resguardar a vida da mãe, uma vez que a continuidade da gestação leva à morte em 40% dos casos e o bebê sobrevive em apenas 5% dos casos.

Entretanto a mãe, Maria Benedita, optou por fazer jus à sua vocação materna (e ao nome de batismo que carrega) e não medir esforços para salvar a vida do filho. Parabéns ao Dr. Waldemir Rezende, um dos médicos presentes ao parto, e que classificou o caso como “um milagre da vida e da ciência”:

[O]s riscos sempre existem e são grandes, mas a natureza é sábia e pode nos ajudar a procurar as soluções para os diversos problemas que encontramos pelo caminho – Dr. Rezende, in ACI DIGITAL.

Caberia lembrar o que consta na vergonhosa declaração da OAB sobre a interrupção da gravidez no caso dos bebês anencéfalos, de 2004:

12. A asserção do clássico Nélson Hungria, a respeito da gravidez extra-uterina e da gravidez molar, pode, perfeitamente, ser aplicada à hipótese do feto anencefálico:

“O feto expulso (para que se caracterize aborto) deve ser produto fisiológico, e não patalógico. Se a gravidez se apresenta como um processo verdadeiramente mórbido, de modo a não permitir sequer uma intervenção cirúrgica que pudesse salvar a vida do feto, não há falar-se em aborto, para cuja existência é necessária a presumida possibilidade de continuação da vida do feto” ( Comentários ao código penal, Forense, 1958, vol. V, p. 207/208).

Agora, que temos um contra-exemplo palpável de gravidez extra-uterina que tem não apenas uma “presumida possibilidade de continuação da vida”, mas um nascimento efetivo e uma vida pós-parto verdadeira, está na hora de enterrar o clássico Nélson Hungria. A ciência venceu a patologia – afinal, é para isso que serve a ciência.

E, en passant e ad hominem, registro que falar em “possibilidade de continuação da vida do feto” é assumir que o feto já tem vida e, portanto, deve ser protegido. Touché.

Nestes dias em que o Supremo está para julgar o aborto dos anencéfalos, é importante que a boa ciência se levante em favor dos nascituros.

Leituras relacionadas:

Se o embrião humano fosse pessoa… (pe. Lodi)
A polêmica (i)legalidade do aborto de feto anencéfálico (Guylene Vasques Moreira Martins)

A necessidade da oração – S. Francisco de Sales

A necessidade da oração

1. A oração, fazendo o nosso espírito penetrar na plena luz da divindade e expondo a nossa vontade abertamente aos ardores do amor divino, é o meio mais eficaz de dissipar as trevas de erros e ignorância que obscurecem a nossa mente e de purificar o nosso coração de todos os seus afetos desordenados. É ela a água da graça, que lava a nossa alma de suas iniqüidades, alivia os nossos corações, opressos pela sede das paixões, e nutre as primeiras raízes que a virtude vai lançando, que são os bons desejos.

2. Mas o que muito em particular te aconselho é a oração de espírito e de coração e, sobretudo, a que se ocupa da vida e paixão de Nosso Senhor: contemplando-o, sempre de novo, pela meditação assídua, tua alma há de por fim encher-se dele e tu conformarás a tua vida interior e exterior com a sua. Ele é a luz do mundo: é nele, por ele e para ele que devemos ser iluminados. Ele é a árvore misteriosa do desejo de que fala a Esposa dos Cantares. É a seus pés que temos que ir respirar este ar suavíssimo, quando o nosso coração se vai afrouxando pelo espírito do século. Ele é a cisterna de Jacó, essa nascente de água viva e pura; a ela cumpre chegarmo-nos muitas vezes, para lavar nossa alma de suas manchas. Os meninos, como é sabido, ouvem continuamente as suas mães falarem e, esforçando-se por balbuciar com elas, aprendem a falar a mesma língua; deste modo nós, unindo-nos com Nosso Senhor, pela meditação, e notando as suas palavras e ações, os seus sentimentos e inclinações, aprenderemos por fim, com a sua graça, a falar com ele, a agir com ele, a julgar como ele e amar como ele. A Ele é preciso prendermo-nos, Filotéia, e crê-me que não podemos ir a Deus, o Pai, senão por esta porta que é Jesus Cristo, como ele mesmo nos disse. O vidro dum espelho não pode deter a nossa vista, se não for aplicado a um corpo sólido, como o chumbo e o estanho; de modo análogo, jamais nos seria possível contemplar a divindade nesta vida mortal, se não se unisse à nossa humanidade em Jesus Cristo, cuja vida, paixão e morte constituem para as meditações o objeto mais proporcionado a nossas luzes, mais agradável ao nosso coração e mais útil ao melhoramento de nossos costumes.

O divino Salvador chamou-se a si mesmo o pão descido do céu, por muitas razões, entre as quais podemos aduzir a seguinte: assim como se come o pão com toda sorte de alimento, assim devemos tomar o espírito de Jesus Cristo na meditação, e ele, nutrindo-nos, influirá em todas as nossas ações. Por isso, muitos autores repartiram em diversos pontos de meditação o que sabemos de sua vida e paixão. Entre esses autores aconselho-te especialmente S. Boaventura, Bellintani, Bruno, Capiglia, Granada e La Puente.

3. Emprega neste exercício uma hora por dia, antes do jantar, ou de manhã, se for possível, antes que percas as boas disposições e tranqüilidade de espírito que dá o repouso da noite. Mas não prolongues mais este tempo, a não ser que o teu pai espiritual o tenha fixado expressamente.

4. Se te for possível fazer este exercício com maior tranqüilidade numa igreja, parece-me ainda melhor, porque, a meu ver, nem pai, nem mãe, nem marido, nem mulher, nem pessoa alguma terá direito de disputar-te esta hora de devoção; ao contrário, em casa não podes contar com toda ela nem com tanta liberdade, em razão da dependência em que aí te achas.

5. Começa a tua oração, seja mental, seja vocal, sempre pondo-te na presença de Deus; nunca neglicencies esta prática e verás em pouco tempo os seus resultados.

6. Se em mim confias, hás de recitar o Pater Noster, Ave Maria e o Credo em latim; não omitirás, no entanto, de aprender estas orações também em tua língua materna, para que lhe entendas o sentido. Deste modo, conformando-te ao uso da Igreja pela língua da religião, compreenderás outrossim o sentido admirável destas orações e lhes saborearás a suavidade. Convém recitá-las com a máxima atenção ao seu sentido e excitando os afetos correspondentes. Não te deixes levar pela pressa infundada de fazer muitas orações, mas cuida de rezar com devoção; um só Pater, rezado com piedade e recolhimento, vale mais que muitos recitados precipitadamente.

7. O Rosário é um modo utilíssimo de rezar, supondo que se saiba recitá-lo bem. Para que tu o saibas, lê um desses livrinhos de oração que contém o método de rezá-lo. Muito recomendável é também recitar as ladainhas de Nossa Senhora e dos santos, como outras orações que se acham em manuais aprovados devidamente; mas tudo isso fica dito sob a condição de que, se tens o dom da oração mental, lhe dês o tempo principal e o melhor. Deves notar que, se depois de o fazeres, por causa de muitas ocupações ou por outro motivo, não te sobre tempo disponível para as tuas orações vocais, absolutamente não te deves inquietar; é bastante rezares antes ou depois da meditação simplesmente a oração dominical, a saudação angélica e o Símbolo dos Apóstolos.

8. Se, ao recitares uma oração vocal, te sentires atraída à oração mental, muito longe de reprimires esta inclinação, deves deixar-te levar suavemente e não te perturbes por não acabar todas as orações que te tens proposto. A oração do espírito e do coração é muito mais agradável a Deus e salutar à alma do que a oração dos lábios. Está bem de ver que a esta regra hás de excetuar o ofício divino e aquelas orações que estás obrigada a recitar.

9. Deves repelir tudo que te poderia impedir este santo exercício pela manhã; mas, se tuas múltiplas ocupações ou outras razões legítimas te roubam este tempo, procura fazer a meditação de tarde, à hora mais distante possível da refeição, quer para evitar a sonolência, quer para não fazer mal à saúde. E, se prevês que em todo o dia não acharás tempo para a oração, cumpre reparares esta perda, suprindo-a por essas elevações freqüentes de espírito e coração a Deus, às quais chamamos jaculatórias, por uma leitura espiritual, por algum ato de penitência, que impede as conseqüências daquela perda, e propõe-lhe firmemente fazer a tua oração no dia seguinte.

[São Francisco de Sales,
“Filotéia”
Parte II – Capítulo I
Vozes
Petrópolis, 2008
]

Perseguição no Equador

Ainda sobre a situação no Equador, reproduzo notícia importante e denúncia grave que recebi por email. Os grifos, estão tais e quais recebi. Procurando na internet, vi que a reportagem foi originalmente publicada no BLOG Agência Boa Imprensa, que eu não conhecia, mas que vale uma visita.

Rezemos, em desagravo.

* * *

Anexo: recebido por EMAIL

Perseguição religiosa e sacrilégios no Equador
Helio Dias Viana

Inconformados com o fato de a Conferência Episcopal vir advertindo os fiéis contra a nova Constituição, recentemente votada pelos socialistas, militantes do partido governista Alianza País vêm sendo acusados de perpetrar ultimamente terríveis sacrilégios em templos católicos do Equador.

Eles temem que a Constituição, a qual estabelece o aborto e o “casamento” homossexual, subtrai dos pais o direito sobre a educação dos filhos e concede poderes ilimitados ao Presidente da República – entre outras
coisas -, seja rejeitada pela opinião pública no referendo marcado para o próximo 28 de setembro.

“A Sagrada Eucaristia, o tesouro mais precioso de todo católico, foi profanada em três ocasiões nas últimas semanas”, declarou Francisco Soyos, porta-voz da Arquidiocese de Guayaquil. E acrescentou: “Não se pode pensar que se trata de fatos isolados e sem importância. Estamos diante de um ato igual ao que sofreu Nosso Senhor em Sua Paixão e Crucifixão. Em Guayaquil, estamos flagelando novamente Nosso Senhor, que tal como um silencioso Cordeiro, recebeu todas essas ofensas.”

A primeira profanação ocorreu na Paróquia da Santíssima Trindade, em Nobol, quando foi roubada uma hóstia que estava exposta à adoração dos fiéis.

A segunda se deu no dia 31 de julho, na Capela do Menino Jesus de Praga, pertencente à Paróquia de Nossa Senhora de Loreto: os profanadores retiraram as Sagradas Espécies do cibório, espalharam-Nas pelo chão, cuspiram-Lhes e depois As pisotearam.

Um sacrilégio análogo foi perpetrado depois, na noite de domingo, 3 de agosto, na Igreja da Santa Ceia, cujo cibório foi retirado do Sacrário, e as hóstias atiradas ao chão e pisoteadas.

Em reparação por esses terríveis sacrilégios, próprios a atraírem a cólera divina, a Arquidiocese de Guayaquil mandou celebrar no domingo, 10 de agosto, uma Missa de desagravo na Catedral, bem como emitiu uma nota na qual afirma: “Quando ocorre um sacrilégio, especialmente no tocante às Sagradas Espécies eucarísticas, toda a Igreja é chamada a rezar junto, em reparação pela ofensa cometida contra Nosso Senhor Jesus Cristo, que está vivo e presente nessas hóstias”.

É o que informa a agência norte-americana Life Style News, citando a Agência Católica de Imprensa ACI, segundo a qual o Arcebispo de Guayaquil e Presidente da Conferência Episcopal, D. Antonio Arregui, vem recebendo ameaças de morte depois que, no estrito cumprimento de sua missão apostólica, fez críticas à referida Constituição. Ameaças análogas vêm sendo dirigidas também ao Sr. Amparo Medina, por sua oposição ao aborto. Por sua vez, a organização de extrema esquerda Impunidad Jamás, moveu um processo contra o Arcebispo.

O próprio Presidente da República, o socialista Rafael Correa, amigo de Chávez, de Lula e de Morales, vociferou mais de uma vez contra os dignitários eclesiásticos e a Igreja Católica, por sua oposição à nova Constituição, acusando-os equivocadamente de ingerência nos assuntos do Estado.

Nisso ele imita o seu antepassado, o ex-presidente José Eloy Alfaro (1842-1912), um socialista e perseguidor da Igreja, que tentou entrar numa igreja montado a cavalo. A população enfurecida o apeou, esquartejou, arrastou pelas ruas de Quito e depois incinerou.

Importa por fim recordar que partidários de Hugo Chávez também já praticaram na Venezuela diversos sacrilégios. Ele mesmo chegou a mandar retirar da entrada de um importante hospital de Maracaibo, uma imagem da Padroeira, Nossa Senhora de Coromoto, para substituí-la por uma do Che Guevara. Houve muita reação e ele foi obrigado a voltar atrás. O que mostra mais uma vez como, à medida que se implanta, o socialismo desfecha necessariamente na perseguição ao Catolicismo.