Marta, Marta…

Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima porro unum est necessarium Maria optimam partem elegit quæ non auferetur ab ea.
[Evangelium secundum Lucam 10, 41-42]

Duas irmãs receberam o Senhor em sua casa. Marta preocupa-se em servir a Jesus; Maria, empenha-se em ser servida por Ele. Marta é figura da vida ativa; Maria, da vida contemplativa. Gosto de ver também Marta como figura da ascese e, Maria, da mística; e, por fim, também enxergo Marta como figura da vocação leiga e, Maria, da vocação religiosa.

Sobre a vida ativa e a contemplativa, há comentários muito bons na Catena Aurea. Em particular, a seguinte explicação de São Gregório Magno é de uma magnífica clareza:

El cuidado de Marta no se reprende, pero se alaba el de María; son grandes los méritos de la vida activa, pero son mayores los de la contemplativa.

Até porque todos temos, em uma certa medida, necessidade de ação e de contemplação. Enquanto seres humanos, precisamos ter os olhos voltados para o exterior, para as nossas necessidades naturais; enquanto cristãos, precisamos ter os olhos voltados para o interior, para a nossa alma e a sua relação com Deus. Somos seres vivos, e precisamos cuidar do nosso corpo; somos filhos de Deus, e precisamos cuidar de nossa alma. Não há maniqueísmo na Doutrina Católica, nem mesmo na aparente “dicotomia” entre a vida ativa e a vida contemplativa, entre Marta e Maria: Jesus não repreende o cuidado de Marta – tanto que, como comenta Teofilato na Catena Aurea, Jesus nada disse quando chegou e viu que Marta estava trabalhando, somente a corrigindo quando ela foi interferir na contemplação da irmã – apenas elogia o cuidado de Maria.

Acontece que Maria deve ser grata a Marta, porque Jesus provavelmente não viria à sua casa se não houvesse quem O recebesse. Marta “prepara” a casa para que Maria possa ouvir o Senhor – esta verdade torna-se ainda mais evidente se olharmos para a ascese e a mística. Se a ascese pode ser vista como o esforço da alma que busca elevar-se a Deus, a mística seria, então, a contrapartida: o Deus que Se abaixa para chegar até a alma. Uma ascese que não esteja direcionada para Deus é vã; mas a mística de Deus – salvo raríssimas exceções – também não prescinde dos esforços ascéticos da alma. Maria não estaria aos pés do Senhor se Marta não estivesse cuidando da casa. A graça pressupõe a natureza, a mística pressupõe a ascese, a vida contemplativa pressupõe a vida ativa, Maria pressupõe Marta.

Mas os exercícios ascéticos não são um fim em si mesmo, devendo ter em Deus o seu objetivo. Os cuidados do corpo devem ser tomados na medida em que possibilitem os cuidados da alma, não devendo jamais esta ser descuidada por causa daquele. O objetivo de receber Jesus em casa é ouvi-lO falar, e não simplesmente recebê-lO; o papel de Marta é sem dúvida necessário, mas perde completamente a razão de ser sem o de Maria. Por isso o Senhor repreende Marta, não quando ela estava cuidando da casa – pois a vida ativa, a ascese, são necessárias – mas quando ela quis retirar Maria do seu lugar – pois a união mística com Deus, a vida contemplativa, são mais importantes.

Não obstante coexistam em cada um de nós a vida ativa e a vida contemplativa, as vocações específicas de cada um – à vida religiosa ou à vida leiga – direcionam a maneira correta de viver cada uma delas. Um religioso que descuide da sua contemplação para resolver os problemas temporais está sem dúvidas vivendo mal a sua vocação; mas a recíproca é também verdadeira, porque um pai que tanto se dedique à vida contemplativa que descuide de sua família também não está vivendo bem a sua paternidade. Cada um é aquilo que é; Marta é Marta, e Maria é Maria. Não queira Maria fazer aquilo que compete a Marta, nem deixe Marta de fazer o que deve para agir como Maria.

No final, pode-se ficar com a impressão de que Marta é a “gêmea má” da história. Mas tal impressão é falsa; Marta e Maria são necessárias, e dizer que a parte escolhida por Maria é a melhor [optimam partem] não é a mesma coisa de afirmar ser ruim a parte de Marta. Para dissipar os equívocos e acabar com todo dualismo que possa haver, a Igreja enalteceu a vida ativa, corroborou a ascese e glorificou a vocação leiga canonizando Marta. Não apenas Maria é chamada à santidade, pois Marta também tem a honra dos altares.

Hoje é dia de Santa Marta! Que ela possa interceder a Deus por nós, para que saibamos cuidar corretamente do nosso corpo e da nossa alma, esforçando-nos nos cuidados de nossa casa para que possamos estar aos pés de Jesus – e por nenhum outro motivo! – ouvindo as palavras de Vida Eterna que somente Ele tem para nos oferecer.

Sancta Martha,
ora pro nobis!

São Thomas More e os anglicanos


[Foto: apostles.com]

Nascido em Londres em 1477[78] e martirizado na mesma cidade em 6 de julho de 1535 (ver biografia), São Thomas More é um belíssimo exemplo de resistência católica ao cisma anglicano. Após ter perdido o beneplácito da coroa real inglesa por não aceitar o Ato de Supremacia que declarava ser Henrique VIII cabeça da Igreja da Inglaterra, Thomas More foi condenado à morte e decapitado; sua cabeça ficou exposta durante um mês na ponte de Londres. Em carta escrita na véspera do seu martírio, o santo dizia à sua filha:

Farewell, my dear child, and pray for me, and I shall for you and all your friends, that we may merrily meet in heaven.
[Adeus, minha querida criança, e reze por mim; e eu irei [rezar] por você e [por] todos os seus amigos, que nós poderemos nos encontrar alegremente no Céu].

Morria o homem que não vendeu a sua alma “antes das nove da manhã”, i.e., antes do horário previsto da execução. Suas últimas palavras foram:

I die the King’s good servant and God’s first.
[Morro como bom servo do Rei, mas de Deus primeiro]

Com tudo isso, entretanto, seu nome consta no calendário anglicano de santos (!!), e há uma diocese (anglicana) Thomas More no sul do Brasil. Nestes dias em que a Santa Sé estuda um pedido de “unidade corporativa” de um grupo de anglicanos, que São Thomas More, assassinado por não aceitar que os seus conterrâneos rompessem com o Vigário de Cristo no seu tempo, possa conseguir do Todo-Poderoso que – grandiosa graça! – os descendentes dos rebeldes reformistas do século XVI retornem alegremente à Igreja de Cristo no século XXI.

Sanctus Thomas Morus,
ora pro nobis!

Enquanto isso, no Canadá

Que exemplo: Romena dá à luz o seu 18º filho! Firme posição contra os antinatalistas, eloqüente testemunho de vida familiar do qual o mundo tem tanta necessidade. Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras; a foto a seguir basta para refutar os editoriais londrinos et caterva:


[Foto: AP apud G1]

E ela tem só 44 anos. Não parecem ser muçulmanos… ainda há esperança no mundo!

“Nós agradecemos a Deus por todos eles serem saudáveis e felizes.” [Alexandru Ionce, pai da menina]

Sim, felizes. Afinal, há coisa mais feliz do que uma família grande e unida? :-)

Uma luz no fim do túnel

Escrevi ontem que uma revista britânica – a British Medical Journal – havia se levantado contra a Humanae Vitae, publicando, no quadragésimo aniversário do documento de Paulo VI, um editorial que era a anti-encíclica, até mesmo pelas expressões utilizadas. O G1 fez o papel do “retransmissor” tupiniquim do besteirol.

Por outro lado, a edição de 30 de julho da VEJA (que já estava em circulação na sexta-feira, 25 de julho) traz uma matéria de capa gratificante, abordando o mesmíssimo assunto, mas (a julgar pela capa, pois ainda não li a matéria) sem a cegueira voluntária do especialista britânico. Ei-la:

No blog do Reinaldo Azevedo, todavia, contrariando explicitamente o que se poderia julgar pela capa da VEJA, encontra-se um texto que parece até ter sido escrito pelo sr. Guillebaund. Imagino que haja outros artigos na revista que sirvam de contraponto e possam dar uma visão mais razoável da questão. Eis o trecho apud Reinaldo Azevedo:

A quantidade de crianças que as mulheres dão à luz tem impacto direto na economia e na sociedade de uma nação. São muitas as razões que levam os casais de países ricos a ser mais propensos a formar famílias pequenas. A adesão das mulheres à competitividade no trabalho ou na vida acadêmica é certamente uma delas. O certo é que, hoje, só as nações muito pobres, como as da África Subsaariana e o Afeganistão, com renda per capita miserável, apresentam altas taxas de fecundidade e de crescimento populacional.

Também em editorial da Folha de São Paulo de ontem, dia 28 de julho, podem-se ler as seguintes palavras sensatas:

A fase de bônus da transição demográfica já vem com data para acabar.  O rápido envelhecimento da população logo produzirá significativos impactos sobre os sistemas de saúde e de previdência. É fundamental que o Estado e as famílias se preparem desde já.

Coisas assim alimentam a esperança de que o povo brasileiro, enfim, não seja mais ludibriado pelo bombardeio maciço e constante de somente um dos lados da moeda. Que tais esperanças não sejam infundadas, e que a luz que desponta no fim do túnel seja o sol a brilhar no campo aberto, é o que pedimos a Deus.

Gays, a Santa Missa e Frei Caneca

Não sei se todos viram, mas saiu n’O Fluminense: um transexual interrompeu [pelo que eu entendi] a homilia de um padre durante a Santa Missa, porque se sentiu ofendido pela Doutrina Católica na sua “opção sexual”:

De acordo com o religioso, padre Ademar rezava a missa normalmente, quando citou uma passagem da Bíblia que dizia sobre a família ser composta da união entre um homem e uma mulher e seus descendentes.

“Foi uma surpresa e me causou estranheza quando ele teve essa atitude. Ele simplesmente saiu do lugar onde estava e subiu ao altar. Arrancou o microfone das mãos do padre Ademar e proferiu palavras de baixo calão e preconceituosas como ‘macaco’ e ‘preto safado’”, relatou o seminarista.

As “palavras de baixo calão” são somente um detalhe aqui. O escandaloso é o transexual ter tomado o microfone do padre – ter tomado a palavra e arrogado-se o direito de falar durante a Missa no lugar de um sacerdote de Jesus Cristo. Seria intolerável, ainda que o “fiel” fosse de uma educação francesa no seu arrazoado. Tenhamos cuidado para que não confundamos o agravante do problema com o problema em si.

* * *

Em São Paulo, querem uma “rua gay”! Projeto enviado para a Câmara Municipal quer tornar a Rua Frei Caneca “a primeira oficialmente gay da cidade”. Os moradores estão descontentes, mas os militantes da Ditadura das Minorias não estão nem aí para isso.

E a lei da mordaça gay, que não foi aprovada, segue sendo aplicada como se já fosse cláusula pétrea constitucional, tencionando “penetrar por osmose” no inconsciente coletivo e preparar o terreno para a sua própria aprovação. Tenha Deus misericórdia de nós todos.

Ainda o catastrofismo antinatalista

“Deixai vir a Mim as criancinhas e não as impeçais” (Lc 18, 16).

Na última sexta-feira, a carta encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, completou 40 anos. Com uma clarividência impressionante, o papa apontava os problemas nos quais a humanidade afundaria caso continuasse com a política (então nascente) de controle de natalidade, condenada pela Igreja como contrária ao plano de Deus (pois “[o] matrimônio não é, portanto, fruto do acaso, ou produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor (…) [onde os esposos colaboram] com Deus na geração e educação de novas vidas” – HV 8; cf. HV 13) e degradante da natureza humana (cf. HV 17).

Desgraçadamente, as pessoas não ouviram a Igreja. E, quando as pessoas não ouvem a Igreja, inevitavelmente acontecem tragédias. Tudo o que o Papa falou quarenta anos atrás é, hoje, uma triste realidade:

  • “o caminho amplo e fácil” aberto – “[a]os jovens especialmente, tão vulneráveis neste ponto” – “à infïdelidade conjugal e à degradação da moralidade”;
  • a perda do “respeito pela mulher” e a sua consideração “como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como (…) companheira, respeitada e amada”;
  • a existência de governos que favorecem ou impõem “às suas populações (…) o método de contracepção que eles reputassem mais eficaz”.

Os homens, entretanto, parecem que não aprendem. Mesmo quando a Rússia cria um feriado para incentivar a natalidade, quando há incentivos estatais para que os casais tenham filhos em países da Europa, quando a população européia envelhece a olhos vistos, quando a queda da taxa de natalidade brasileira só perde para a da China, quando o relatório Kissinger já foi desmascarado, mesmo assim, aparece na sexta-feira – dia 25 de julho, lembrem-se, aniversário da Humanae Vitae! – uma reportagem no G1 na qual um especialista em contracepção sugere menos filhos para salvar o planeta! É difícil imaginar em que mundo viva este indivíduo; mas é muito fácil imaginar qual é o propósito da reportagem. Pois vejam (todos os grifos meus):

Para Guillebaund, “algo precisa ser feito para separar o sexo da concepção – ou seja, a contracepção”. [G1]

Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador. [HV 12]

Percebam que a intervenção do “especialista” – publicada numa revista britânica da sexta-feira 25 de julho – é tão nonsense que nem mesmo os governos europeus engolem mais. Mas ela merece ser publicada “cum jubilo”, porque é a anti Humanae Vitae.  Contradi-la explicitamente, utilizando as mesmas expressões que a Igreja utiliza com relação às duas faculdades do ato conjugal. O objetivo da reportagem britânica e, por conseguinte, do G1, é contradizer o ensino da Igreja, e não outro.

Quando eu vejo certas coisas, a primeira imagem que me vem ao pensamento é a de um adolescente mimado e orgulhoso, “teimando” n’alguma coisa só para não reconhecer que estava errado quando alguém mais velho o disse antes. Lembro-me do exemplo (que se encaixa perfeitamente) dos “cientistas” que querem destruir embriões humanos a todo custo. E vejo a mesma coisa nesta reportagem que faz a apologia do controle de natalidade: é uma vontade irracional de contrariar, somente pelo “prazer” de fazer diferente. O mundo precisa acordar! Uma família é uma coisa séria demais para ficar à mercê das infantilidades dos adolescentes birrentos.

Há uma daquelas “frases de efeito” que diz o seguinte: nunca vá pelo caminho já aberto, pois ele só te leva até onde já estiveram outros antes de ti. Uma frase muito bonita, e muito errada. Um solene incentivo à imprudência, um orgulhoso desprezo pelo trabalho daqueles que nos precederam. Newton dizia que enxergava mais longe por estar sobre os ombros de gigantes; os egoístas que não querem nunca ir pelo “caminho já aberto”, só poderão dar com si próprios n’água, e precipitarem-se no abismo junto com os que lhes derem ouvidos. É o caso deste especialista inglês, que repete sandices – já historicamente demonstradas como tais – contradizendo o Vigário de Jesus Cristo. Não permita Deus que a desgraça antinatalista, após devastar o Primeiro Mundo, venha fazer vítimas aqui do lado de baixo de Equador. Que o povo católico escute a voz do Papa, que ecoa a voz de Cristo. Que os católicos deixem as criancinhas virem ao mundo, pois somente assim é possível deixá-las ir a Cristo, como Ele pediu. Nunca nos esqueçamos de que filhos são bênçãos, a despeito do que digam, porque atestam assim as Escrituras Sagradas que têm como autor Aquele que não pode enganar-Se e nem nos enganar:

O Senhor se lembra de nós e nos dará a sua bênção; abençoará a casa de Israel, abençoará a casa de Aarão, (…) O Senhor há de vos multiplicar, vós e vossos filhos  (Sl 113, 20. 22).

Enquanto o mundo passa

Qual é a principal diferença entre um anel de ouro verdadeiro e um anel de ouro falsificado? Não é somente o preço, óbvio, até porque os dois podem custar a mesma coisa – se o vendedor estiver mal intencionado e não disser que a mercadoria negociada é uma imitação. Também não é “a beleza” do ouro, porque para a maioria das pessoas não é evidente a diferença do metal verdadeiro para o “metal falsificado”. A principal diferença entre o anel de ouro e o anel falsificado é que o anel de ouro dura, e o falsificado, estraga, e todo mundo sabe disso, e por isso dá valor ao ouro verdadeiro.

“Criastes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós” – escreveu Santo Agostinho em suas “Confissões”. E “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus” (Gn 1, 27). Tem, portanto, o homem uma certa sede de infinito, um fascínio pelo transcendente, um desejo de eternidade inscrito em sua própria natureza. É natural que o homem fuja de horror diante da morte, diante da possibilidade de deixar de existir; é-lhe um absurdo incompreensível. Como a fome física exige a existência da comida e a sede física, a existência da água, assim a fome e a sede de eternidade que o homem possui exigem a Vida que não passa. Não a encontrando no mundo visível, segue contudo buscando-a mesmo assim.

Na verdade, o homem carrega em si uma eterna insatisfação com a sua própria contingência; sabe que passa, mas não quer passar. Quer permanecer. Constrói monumentos portentosos, que possam dar testemunho dele ao porvir quando ele não for mais do que pó na terra. Busca o Elixir da Eterna Juventude, ou sob a versão “mística” prometida pelos alquimistas, ou sob a roupagem “racionalista” dos progressos científicos atuais. Cria fábulas e inveja secretamente o Peter Pan, por não ter uma Terra do Nunca onde consiga parar a inexorável marcha do envelhecimento que jamais se detém. E admira as coisas que permanecem ao longo do tempo, como os anéis de ouro.

O homem sente-se atraído pelas coisas que não passam – verdade universalmente atestada pelo comportamento humano ao longo de toda a História! Quereis, portanto, encantar uma alma? Mostrai-lhe o diamante indestrutível da Doutrina Católica, o esplendor imperecível da Verdade, o eterno brilho dourado da Fé! Oferecei-lhe um bem que não se acaba, que as traças e a ferrugem não consomem e os ladrões não roubam (cf. Mt 6, 20), e a vereis vender tudo o que possui para o adquirir (cf. Mt 13, 44).

Estranhos tempos estes em que vivemos, em que as pessoas julgam poder convencer as almas oferecendo-lhes utensílios descartáveis ao invés de diamantes eternos. Sob a desculpa de que são “úteis” e “modernas”, as idéias mais estapafúrdias são espalhadas por aí afora no lugar da “antiquada” Sã Doutrina de sempre. Para que serve esse negócio de Igreja? Digamos que as religiões são como “rios que desaguam todas num mesmo mar” – é bonito, é poético, é agradável para todos. Para que serve esse negócio de Sacrifício de Cristo? Digamos que basta às pessoas serem boas, porque, afinal de contas, Deus é Pai – não é mais lógico? Para quê tantas imposições morais? Digamos, enfim, que o homem é livre, e que o importante é o amor, pois foi Santo Agostinho quem disse “ama e faz o que queres”. E os exemplos podem multiplicar-se ao infinito. Sempre modernos, sempre descartáveis. Completamente incapazes de prender a atenção de uma alma que foi criada para os altares.

O que explica o “culto ao efêmero”, esta revolta metafísica que faz com que o homem procure, de toda maneira, sufocar as suas aspirações naturais e colocar, no seu lugar, um artificial desejo por aquilo que lhes é oposto? Acredito que foi a decepção. Após infinitas tentativas frustradas – após o tempo ter destruído até as Maravilhas do Mundo, após a alquimia ter fracassado vergonhosamente na busca da pedra filosofal, após as incuráveis doenças modernas, após as crianças terem crescido e deixado de acreditar em Peter Pan – o homem deve ter desistido de procurar aquilo pelo qual o seu coração anseia. Esqueceu-se ele de que o ouro não enferruja. Nunca subestimemos a capacidade humana de errar; quando pensávamos que os erros iriam conduzir, por via adversa, ao único acerto possível, o homem nos surpreende com mais essa: após enveredar por tantos caminhos errados que praticamente só restava o caminho correto a ser explorado, no liminar de segui-lo, pára o homem e afirma categoricamente não haver caminhos. Triste.

Pensava em tudo isso quando li uma reportagem da FOLHA segundo a qual alguns “católicos” pediram ao Santo Padre que libere os contraceptivos. A despeito de se dizerem católicos, é claro que eles não o são: os católicos se preocupam com o Eterno, não com o jornal do dia que amanhã vai estar embrulhando peixe. Os católicos julgam o mundo de acordo com as palavras do Sucessor de Pedro – estes, querem julgar o Papa de acordo com o que diz a OMS.

Hoje, a Humanae Vitae completa 40 anos. Os modernos certamente dirão que ela está velha e precisa ser substituída; os católicos, todavia, sabem que as palavras do Papa não são descartáveis. Os inimigos de Deus – afinal, os que odeiam as coisas imutáveis certamente odeiam Deus, o Ser Imutável por antonomásia – querem que o Papa “mude” a Doutrina da Igreja; as ovelhas do aprisco do Senhor sabem que a segurança só se consegue quando se constrói sobre a rocha, inabalável, inalterável. A loucura moderna pretende transformar a ferrugem em valor; não nos deixemos enganar. “Só tem valor o que muda e evolui”, diz o homem moderno; todo se pasa, Dios no Se muda, diz a santa do século XVI. Permaneçamos firmes, enquanto o mundo passa. Afinal, as coisas que permanecem são preferíveis às que se destroem; não nos esqueçamos de que o ouro não enferruja. E nem de que “[o] céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mt 24, 35).

Esperança na juventude

A FOLHA publicou uma notícia interessante: Brasil é o 3º país mais religioso entre os jovens, segundo uma pesquisa alemã. Os gráficos que foram publicados são auspiciosos (cliquem para aumentar) e falam por si sós:


[Hábito de rezar entre jovens]


[Jovens mais religiosos do mundo]


[Conduta religiosa no mundo]

Os comentários do sociólogo entrevistado pela FOLHA tentam jogar terra na boa notícia; segundo o que foi noticiado,

“[a] tendência é reduzir a religião a uma coleção de crenças”, afirma Pierucci. Para o professor, quando se reduz a religião “a uma simples adesão intelectual, começa-se a fazer misturas (de religiões)”.

A frase, do jeito que foi dita, soa-me absolutamente incompreensível. É justamente quando se encara a Religião sob o aspecto da adesão intelectual que ela resplandece em sua integridade, não permitindo ambigüidades e abominando todo sincretismo. Porque a Verdade é intolerante – leiam este sermão – e não admite “misturas” de nenhuma maneira.

Eu penso ao contrário do sociólogo; porque ele, enquanto “homem de ciência”, provavelmente despreza por completo a ação de Deus na vida dos homens. Não imagino que a religião será reduzida a uma coleção de crenças, mas que, ao contrário, ela irá florescer em uma Fé Viva e dar frutos verdadeiros nos próximos anos. E o motivo pelo qual eu penso assim é simples: os jovens estão rezando! Se eles rezam, então o Deus Altíssimo, que ama infinitamente, e que nos disse “pedi e recebereis”, não Se fará de surdo às preces deles, e os conduzirá – em resposta às orações – à Fé Verdadeira e à Vida em plenitude que Ele prometeu. Unamos as nossas oraçoes às deles, e peçamos de joelhos ao Senhor, por eles e por nós:

Ut mentes nostras ad caelestia desideria erigas,
R. Te rogamus, audi nos!

Amen.

Assuntos diversos

É uma pena que demore tanto para aprovar uma pesquisa importante como essa. Poderia mudar a vida de muita gente.
[Carlos Couri, endocrinologista e pesquisador que trabalha com células-tronco… adultas!]

Saiu na Gazeta de Ribeirão: Pesquisa embargada. O fato? Há uma pesquisa com células-tronco adultas em curso na USP, para o tratamento de diabetes do tipo 1, que está parada há dois anos à espera de um parecer da Comissão de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Créditos pela notícia: Wagner Moura e Rodrigo Pedroso.

A pergunta que não quer calar: por que raios uma pesquisa que pode curar pessoas estava embargada ao mesmo tempo em que a mídia fazia lobby para aprovar a destruição de embriões humanos em pesquisas que não têm futuro promissor?

Ideologia faz mal ao cérebro!

* * *

Só 14% dos americanos acreditam numa teoria da evolução que prescinda completamente de Deus, comenta o Sílvio Meira no seu BLOG. O sistema educacional americano é – o próprio Sílvio reconhece – muito superior à média do brasil. Conclusão óbvia ululante: educação não substitui Deus. Conclusão de Sílvio Meira: é preciso ampliar muito a quantidade e qualidade do ensino de lógica e ciências e da argumentação científica em geral. no mundo inteiro. Vai entender…

* * *

Alguém lembra da tese do Freakonomics de que a legalização do aborto nos U.S.A. contribuiu para a queda da criminalidade cerca de 20 anos depois? “Efeito” contrário na China: aborto contribui para aumentar a criminalidade, pelos mesmos autores do livro. O homem é sempre o homem: não cabe dentro de modelos matemáticos. Não há determinismo estatístico que consiga enjaular a – palavra (…) [que não há] ninguém que não entenda! – liberdade humana.

Os tentáculos do monstro gayzista

E para desde já ambientar o leitor mais cético quanto à gravidade da homofobia em nosso país, comprovando a dramática e crudelíssima discriminação de que são vítimas os homossexuais, transcrevemos dois corpus documentais bastante diversos quanto à composição sociológica de seus expoentes,  mas semelhantes por manifestarem a homofobia na  plenitude de sua intolerância.
[Mott, Luiz & Cerqueira, Marcelo. “Matei porque odeio gay”. Editora Grupo Gay da Bahia, 2003]

O texto epigrafado é de um livro que se encontra disponível integralmente na internet, no site do “Grupo Gay da Bahia” – site que, misteriosamente, é mantido pela Universidade Federal da Bahia. Possui uma importância capital porque o Projeto de Lei 122/2006, que criminaliza a “homofobia” e está às portas de ser aprovado no Brasil, vem sendo recentemente “defendido” das “deturpações” que os “cristãos fundamentalistas” estão fazendo sobre o texto. Por exemplo, em coluna da Veja do mês passado, saiu um artigo do André Petry (que já foi devidamente comentado aqui no BLOG) no qual o temor dos cristãos de que a sua liberdade religiosa estaria sendo ameaçada pelos pretensos direitos reinvidicados pelos gayzistas é chamado de uma interpretação tão grosseira da lei que é difícil crer que seja de boa-fé. Vejamos se o sr. Petry tem razão. Vamos diretamente às fontes gayzistas. Vejamos o que o sr. Mott chama de homofobia na  plenitude de sua intolerância:

Eis o que pensam e não se envergonharam de proclamar, nem foram punidos por tais declarações discriminatórias, alguns de nossos “respeitáveis” formadores de opinião:

“O homossexualismo é pura aberração”. [Deputado Federal Enéas Cordeiro, Prona/SP]

“O casamento gay demonstra a decadência moral que vai minando todos os valores de nossa sociedade”. [Deputado Severino Cavalcanti, PFL/PE]

[…]

“Por maior que seja a misericórdia, com que a Igreja trata os homossexuais, ela não pode deixar de pregar que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados”. [Dom Aloysio Penna, Arcebispo de Botucatu, SP]

“O homossexualismo é, simplesmente, uma aberração ética”. [D.Amaury Castagno, Bispo de Jundiaí ]

[…]

“Os homossexuais cínicos e agressivos devem merecer dos católicos o repúdio votado a todos os pecadores públicos e insolentes, que se declaram ou se comportam como inimigos de Deus e de Sua Santa Lei.  Homossexuais assim são como células cancerosas e pútridas no corpo social. Devem ser repudiados, com nota de execração. Que Nossa Senhora livre o Brasil dessa infâmia. E não permita seja aprovado no Congresso Nacional o torpe projeto de lei que institui o “casamento” entre homossexuais. Isto constituirá uma insolente ofensa feita a Deus e a Nossa Senhora pelos legisladores do País,  e que atrairá sobre o Brasil grandes castigos, pois será a legalização e a legitimação oficial de um pecado infame que clama a Deus por vingança, alinhando-nos a Sodoma e Gomorra…” [Cônego José Luiz Marinho Villac, SP]

“Em nosso seminário, pessoas desse tipo (homossexuais) não entram”. [Padre Jorge Cunial, CS,  Pároco do Alto do Ipiranga, SP]

“O comercial do Ministério da Saúde (mostrando uma família que aceita seu filho gay) é uma safadeza por fazer apologia ao homossexualismo: o Governo Federal está  jogando dinheiro fora”. [Pastor Silas,  da Associação Vitória em Cristo, RJ]
[id. ibid]

Percebam a gravidade da situação: para as lideranças gayzistas, deveriam ser punidos por suas declarações discriminatórias:

  • alguém que ache que o casamento gay demonstra a decadência moral da sociedade;
  • um bispo que diga que o homossexualismo é uma aberração ética;
  • um arcebispo que diga que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados;
  • um padre que peça a Nossa Senhora para não permitir que o Brasil aprove o casamento gay;
  • um padre que não permita que homossexuais entrem no seu seminário.

E agora? Será mesmo que os cristãos não têm motivos para dizer que esta lei é absurda e que irá provocar perseguições religiosas no Brasil, caso seja aprovada? Será que as lideranças gayzistas são inocentes e não sabem exatamente o que querem atingir com a mordaça gay?

Precisamos nos mobilizar enquanto é tempo. Que os cristãos tenham coragem de proclamar bem alto a sua Fé, quaisquer que sejam as circunstâncias, é o que pedimos à Virgem Maria Aparecida, Mãe de Deus e Padroeira do Brasil.