A metade do argumento

Brincando com o google durante o meu horário de almoço, descobri, com surpresa, que um artigo de minha autoria (publicado primeiro aqui no BLOG e, depois, no Veritatis Splendor) fora atacado em um outro BLOG que parece ser dedicado à difamação do Veritatis. O post é do dia 30 de junho; como eu só o vi agora, somente agora vai a resposta.

Primeiro, o texto por mim publicado tem um escopo muito bem definido: contra-argumentar o artigo da MONTFORT sobre Hans Küng e o Vaticano II. Ele não é, e nem pretende ser, por evidentes limitações de espaço, a defesa completa do Concílio Vaticano II contra todas as acusações rad-trads dos últimos quarenta anos. Se, nele, só tem metade do argumento, é porque no artigo original comentado não tem argumento nenhum e qualquer “meio-argumento” basta para o refutar.

Segundo, a acusação do BLOG “Falsitatis Splendor” – de estar faltando a segunda parte do argumento – só procederia se o meu objetivo fosse refutar o Küng. Aí sim, de facto, seria necessário debruçar-me sobre os argumentos do teólogo herege (por mais herege que ele fosse) para fazer o serviço completo e mostrar como ele estava errado em cada um deles. Mas acontece que – como eu disse acima – não estou contra-argumentando Hans Küng, e sim Orlando Fedeli.

Afinal de contas, o que tem no texto da Montfort? Uma acusação – a de que o Vaticano II “conseguiu introduzir e integrar na catolicidade o paradigma da reforma protestante e o paradigma iluminista da modernidade” – e um argumento – Hans Küng disse assim. Oras, qualquer um há de convir que dizer “Küng disse” não é um argumento! Gratis affirmatur, gratis negatur: assim, a simples frase “o Vaticano II não introduziu o paradigma da reforma protestante na catolicidade” já refutaria o palavrório da Montfort no artigo em litígio. Não prova nada, mas a frase de Küng também não prova e, portanto, ficamos empatados.

Terceiro, o que eu escrevi não se resume a negar de maneira gratuita o que disse o Küng e o Fedeli toma como dogma (embora eu pudesse ter feito isso). Fui além disso e propus uma comparação entre o que disseram e dizem dois teólogos participantes do Vaticano II: um deles diz que o Concílio foi herético, o outro diz que foi ortodoxo. A análise de um deles a Montfort subscreve, a do outro eu subscrevo. Um deles é Hans Küng, o outro é Joseph Ratzinger. Um deles é herege, o outro é Papa.

O Papa pensa diferente de Küng, como foi citado, e isso muda a história: afinal, a uma opinião, foi contraposta outra, que – por acaso – é a do Vigário de Cristo. Alguém poderia redargüir que o Papa não é infalível quando emite opiniões sobre o Vaticano II, e isto é verdade, mas tampouco Hans Küng o é. Outrossim, é óbvio para qualquer pessoa que não tenha perdido o sentido de catolicidade que as opiniões do Papa são mais garantidas do que as opiniões dos hereges.

Quarto, há equívocos no texto do BLOG “Falsitatis Splendor”:

Mas precisamos mostrar que a letra é boa, enquanto que a leitura modernista é falsa.

Não, não precisamos, porque o ônus da prova cabe a quem acusa. Faltando – como falta no texto da Montfort – quaisquer argumentos contra a letra do Vaticano II, é evidente que não ficamos nós obrigados a contra-argumentar. Além do quê, há uma enormidade de textos escritos em português mostrando que é boa a letra do Vaticano II (por exemplo, veja-se este dossiê), que eu não preciso ficar reproduzindo aqui no BLOG o tempo inteiro sem que haja argumentos da parte contrária!

Afinal, graças à letra ambígua que surge esse espírito modernista.

Errado, o Modernismo existe desde antes do Vaticano II; afinal, foi condenado por São Pio X no início do século XX. Portanto, a causa do espírito modernista não é a “letra ambígua”.

Resumindo, o cerne da questão é o seguinte: Hans Küng dizer alguma coisa sobre o Vaticano II é, antes, motivo de cautela do que de adesão entusiasmada. Se, além disso, o que ele diz contraria frontalmente o que diz o Papa, então a cautela deveria ceder lugar ao repúdio direto. O fato de alguns darem mais ouvidos aos hereges do que ao Papa é lamentável e preocupante. Quem tem olhos, que veja.

Ah, EJC! Ah, EJC!

Shalom – Sou estrangeiro aqui

Neste final de semana, dias 19 e 20 de julho, aconteceu o XI EJC Torre. A paróquia da Torre é a minha paróquia; passei os dois dias trabalhando para tentar fazer com que os cerca de 80 jovens que participaram do evento conhecessem um pouco mais a Cristo Jesus.

Foram meses de preparação, de muito stress, muito tempo empregado, muita correria… tudo isso consumido em dois dias, que passam depressa como um relâmpago. Vale a pena?

Vale. Porque eu (ainda) sou jovem, e sei do que eles são capazes. Porque – como rezamos na missa antiga – o altar que subimos é do Deus que alegra a nossa juventude (cf Sl 42, 4). Porque os jovens são fortes, a palavra de Deus permanece neles, e eles venceram o Maligno (cf 1Jo 2, 14). Porque os jovens são – como disse o Papa Bento XVI quando esteve no Brasil e eu ouvi lá – não apenas o futuro da Igreja, mas sim o presente da Igreja.

Cansado. Muito cansado. Mas a sensação de dever cumprido. Ó Virgem Santíssima, Maria, Mãe da Igreja, rogai por eles!

Comentando o adeus do Arcebispo – 10

10 – E agora, dom José? & À espera da entrevista que não houve

Por fim, chegamos à última página do especial do JC. Uma grande foto de mais de meia folha do rosto de Dom José, mitrado, entre de perfil e de costas. Ele não olha para a câmera. A mensagem implícita – já devidamente explicitada ao longo das páginas anteriores – é clara: o Arcebispo nem sequer olha para o povo. Não se importa com ele. É-lhe indiferente. Dá-lhe as costas. O título, em letras garrafais, parafraseando o poema de Drummond, é a coroação apoteótica da imagem de Dom José pintada pelo jornal: um fracassado, como o José do poeta.

O jornal já não diz mais quase nada; apenas regozija-se com a “vitória” sobre o inimigo. A enxurrada difamatória varreu do senso crítico do leitor qualquer possibilidade de não ter ojeriza por esta figura que personifica o atraso da Arquidiocese. O trabalho sujo foi feito, e tudo está consumado. Há festa na roda dos escarnecedores.

É, todavia, muito fácil ganhar a batalha quando se está lutando sozinho contra um boneco de palha pré-fabricado. No texto seguinte, o jornal vai “se defender” dizendo que Dom José não quis dar entrevistas; mas é claro que não. Qual pessoa iria, em seu juízo perfeito, perder tempo com palavras que seriam distorcidas ou, na melhor das hipóteses, sufocadas pela avalanche de ataques contrários? Foi mostrado aqui, neste BLOG, qual a linha do Jornal do Commercio e quais os pontos abordados pelo seu caderno especial. Com qual propósito o Arcebispo iria dar entrevistas? Diante de Herodes, Jesus também se calou – Iesus autem tacebat. Diante da intimação do Governo para que se defendesse, Dom Vital fez o mesmo. Diante do Jornal do Commercio, então, que é muitíssimo mais irrelevante do que o Governo Imperial ou do que o Rei Herodes, por que deveria um Sucessor dos Apóstolos falar?

Uma última alfinetada irônica – dom José garante ser um homem de diálogo – e pronto: agem os responsáveis pelo jornal como se tivessem cumprido candidamente a sua missão jornalística. Todavia, como foi mostrado aqui nos últimos quinze dias, a missão do JC é deformativa, e não informativa. Calou-se Dom José, e o Jornal do Commercio, na ânsia de sujar a imagem do Arcebispo, resfolegou-se na lama, e saiu sujo. Sujo pela gritante parcialidade com a qual redigiu o seu caderno especial. Sujo com a falta de honestidade na exposição dos fatos. Sujo pelas insinuações ofensivas feitas ao longo das oito páginas. Sujo pela falta de profissionalismo dos seus jornalistas, que deveriam informar, e não apresentar um espantalho aos seus leitores como se fosse o responsável pela Arquidiocese de Olinda e Recife nas últimas duas décadas. Sujo pelo vergonhoso espetáculo que representou.

Dom José não vai ficar em Recife, é a informação passada pelo Jornal do Commercio. Ao menos, reconhece o jornal que a sua partida não tem ainda data definida:

Está nas mãos do papa Bento XVI decidir quando exatamente dom José deve arrumar as malas. (…) Poderá demorar meses e até anos.

A informação está corretíssima. Logo depois, o jornal tenta polarizar a discussão sobre o “perfil” do sucessor de Dom José (provavelmente, quem escreveu esta página não leu o artigo do prof. Delgado na página anterior). Falando em linha dura, em perfil mais moderado e em Igreja libertária e mais progressista, o jornal deixa clara a sua posição: contra Dom José, e contra qualquer bispo que seja “da mesma linha” dele, ou seja, contra qualquer bispo católico que o seja de fato. O texto termina (de novo…) com a fala de uma fulana qualquer do “Igreja Nova”, que expressa em poucas e elegantes palavras a sua apostasia:

Não estamos procurando alguém para seguir, mas alguém que siga com a gente[.]

Mas, no final, nada disso tem relevância, porque a nomeação dos bispos para as dioceses é uma prerrogativa da Igreja de Roma, e tentativas de se fazer “lobby” contra ou a favor um ou outro “candidato” é extrapolação de competência. Nem mesmo os fiéis católicos podem influenciar na escolha dos seus bispos – quanto mais aqueles que, se são católicos, não são fiéis e, se são fiéis, não são católicos! A Igreja não é uma democracia; esperemos o Sucessor de Pedro volver os olhos para o nordeste brasileiro e confiar este rebanho a um outro Arcebispo. Quem quer que seja ele, será o Bispo legítimo, cabeça desta Igreja Particular, a quem os fiéis católicos estarão – sem dúvida alguma – unidos, pois sabem que, separados dele, não podem pretender estar em comunhão com a Igreja de Cristo, que têm como Mãe, e fora da qual não se podem salvar.

* * *

Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O ADEUS DO ARCEBISPO
E agora, dom José?
Publicado em 04.07.2008

No dia em que fez 75 anos, data-limite para o cargo, o arcebispo garantiu que deixará o Recife para garantir liberdade ao sucessor

[A ]sombra do arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, acompanha dom José Cardoso até na hora de traçar os seus planos para o futuro. E, por mais que tenha tentado fugir das comparações, quem resgata a lembrança do antecessor é o próprio dom José. “Posso garantir uma coisa: quando deixar o cargo, não vou permanecer no Recife. Acho que não convém. O meu sucessor deve ter liberdade de tomar as diretrizes como ele quiser. Eu passei por essa experiência. Você assume uma arquidiocese com plenos poderes e o seu antecessor está presente. Isso não é bom.” Uma crítica clara a dom Hélder. Mesmo na despedida, dom José olha para a frente, com os pés no passado.O arcebispo nunca aceitou o fato de dom Hélder ter continuado na arquidiocese, após a sua substituição, em abril de 1985. Ele garante que tomará um rumo diferente. “Vou me esconder num convento carmelita. Procurar uma residência e continuar servindo a Igreja. Mas será fora do território da arquidiocese.” No auge da crise com o rebanho, o incômodo com a presença de dom Hélder era tanto que dom José chegou a mandar um emissário falar com o arcebispo emérito para cobrar o seu silêncio. Coube ao então bispo auxiliar dom João Evangelista Martins Terra dar o recado.

Que dom José vai sair, isso é fato. Está determinado nas leis da Igreja, as mesmas que ele segue com devoção e fidelidade. Agora, quando isso vai acontecer, só o Vaticano sabe. A carta de renúncia, escrita em 15 minutos, segundo contou o arcebispo, foi enviada para a Nunciatura Apostólica, em Brasília, na última segunda-feira, data em que ele completou a idade-limite para continuar no cargo. Está nas mãos do papa Bento XVI decidir quando exatamente dom José deve arrumar as malas. Mesmo que a renúncia seja aceita, padres e leigos acreditam que a saída não será imediata. Poderá demorar meses e até anos.

A expectativa agora é em torno do sucessor. A questão central não é tanto o nome, mas o perfil de arcebispo que o Vaticano escolherá para substituir dom José. Pelos ventos conservadores que sopram em Roma, muitos acreditam que o próximo chefe da Igreja Católica em Pernambuco será da mesma linha dura. É quando o nome do arcebispo da Arquidiocese da Paraíba, dom Aldo Pagotto, aparece. Ele foi vigário-geral da Arquidiocese de Olinda e Recife, em 1997, e é próximo a dom José. Com carreira e personalidade semelhantes à do atual arcebispo, o atual bispo de Garanhuns, dom Fernando Guimarães, também aparece na lista de apostas.

Num perfil mais moderado, padres e leigos lembram o nome do recém-nomeado arcebispo de Vitória da Conquista (BA), dom Luiz Gonzaga Silva Pepeu. Mas o sonho dos seguidores de uma Igreja libertária e mais progressista é o retorno do bispo de Sobral (CE), dom Fernando Saburido, que já atuou como bispo auxiliar de dom José Cardoso. “O que nós queremos é um bispo mais pastor e menos administrador. Que deixe a Igreja caminhar. Não estamos procurando alguém para seguir, mas alguém que siga com a gente”, afirma a bióloga Bete Barbosa, integrante do grupo de leigos Igreja Nova. Ela cita uma frase de dom Hélder para mostrar que a esperança do rebanho está renovada: “Quanto mais negra é a noite, mais carrega em si a madrugada”.

Anexo 2 – .O adeus do arcebispo

O ADEUS DO ARCEBISPO
À espera da entrevista que não houve
Publicado em 04.07.2008

Em um ponto os críticos e defensores de dom José parecem concordar: o arcebispo de Olinda e Recife é um homem coerente. Nunca voltou atrás numa decisão, por mais polêmica e desgaste que ela tenha causado. Pelo menos, não publicamente. E no trato com a imprensa não foi diferente. Dom José sempre foi avesso a repórteres e alimentou a visão de que os jornais o perseguiam. Em todos os anos de arcebispado, contam-se nos dedos da mão as entrevistas exclusivas concedidas por ele, para tratar de questões pertinentes ou não à Igreja. A postura foi a mesma desta vez. Procurado para fazer um balanço dos seus 23 anos à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife, a resposta, repassada por sua secretária, foi curta e direta: “Dom José não dá entrevistas ao Jornal do Commercio”.De pouco adiantou argumentar, com seus assessores, que seria para um caderno especial, abordando diferentes questões da atual administração e que agora, no momento de sua saída, seria importante ele analisar tudo o que havia ocorrido em seu arcebispado. “Ele sabe disso, mas não vai falar”, encerrou a conversa a secretária. Em outras situações, a arquidiocese tinha a preocupação de indicar alguém para falar em nome do arcebispo. Desta vez, nem isso.

Mas dom José garante ser um homem de diálogo. Em novembro do ano passado, ele concedeu uma entrevista à jornalista Graça Araújo, na Rádio Jornal, e respondeu à primeira pergunta defendendo essa idéia. “Eu acredito no diálogo. Tem uma frase muito famosa de um escritor católico francês que diz que o diálogo é o encontro de dois amigos da verdade eterna. Eu gosto muito dessa definição. Quando a gente dialoga com uma pessoa, pressupõe que ela é também um amigo da verdade eterna, a verdade de nosso senhor Jesus Cristo.”

Numa última tentativa de entrevistar o arcebispo, a reportagem esteve na celebração dos seus 75 anos, realizada segunda-feira, na Cúria Metropolitana. Após a missa, ele conversou com a imprensa. Falou da sua biografia e das pessoas importantes na sua vida religiosa. Mas, na primeira pergunta sobre o modelo de Igreja que deixava na arquidiocese, a entrevista foi encerrada pelos seus assessores. “Dom José, o povo está lhe esperando.” E o arcebispo foi cortar o bolo do seu aniversário.

Jornada Mundial da Juventude 2008


[foto: Catholic Diocese of Sale]

Começou, desde a última terça-feira, a XXIII edição da Jornada Mundial da Juventude. O evento, que reúne (como o nome diz) jovens católicos do mundo inteiro com o Papa, aconteceu pela primeira vez em 1986, sendo um legado do papa João Paulo II.

O site oficial do evento é o http://www.wyd2008.org/; em português, a cobertura está sendo feita pelo http://jmjbrasil.com.br/. Neste último, aliás, há uma excelente cobertura de vídeos com atualizações constantes.

Para quem quiser acompanhar o evento, os sites acima – além, claro, do site da Santa Sé – são parada obrigatória. Não esperem para saber da Jornada pela mídia brasileira; vocês não vão saber.

Indulgência plenária, só quem recebe são os peregrinos; mas quem fica aqui longe também pode lucrar indulgência parcial, bastando para isso apenas elevar «ao menos com ânimo contrito suas orações a Deus Espírito Santo, para que impulsione os jovens à caridade e lhes dê força para anunciar o Evangelho com sua própria vida». Garantindo, então, a indulgência parcial (oração pessoal):

“Deus Espírito Santo, que transformastes os homens rudes da Galiléia em Apóstolos da Igreja após revestir-lhes com o Vosso Poder em Pentecostes, fazei com que os jovens católicos, de maneira especial os que estão unidos, em espírito ou em peregrinação, ao Santo Padre o Papa Bento XVI nesta XXIII Jornada Mundial da Juventude, sejam de tal maneira abrasados pela Vossa caridade que, à semelhança dos Doze Apóstolos, anunciem com a própria vida o Evangelho da Salvação. Por Cristo, Senhor Nosso, amém”.

Hoje, houve um encontro ecumênico na Cripta da Catedral de Sydney. Do discurso do Santo Padre:

Este sacramento [o Batismo], que é a porta de ingresso na Igreja e o «vínculo de unidade» para quantos renasceram por ele (cf. Unitatis redintegratio, 22), é consequentemente o ponto de partida de todo o movimento ecuménico. Mas não é o destino final. O caminho do Ecumenismo visa em definitivo chegar à celebração comum da Eucaristia (cf. Ut unum sint, 23-24.45), que Cristo confiou aos seus Apóstolos como o sacramento por excelência da unidade da Igreja.

Viva o Papa!

Comentando o adeus do Arcebispo – 09

9 – Um difícil arcebispado

Este é o único artigo publicado pelo Jornal do Commercio no seu especial que se presta a transmitir uma imagem positiva do Arcebispo de Olinda e Recife. Exceção honrosa, refulge o texto no meio dos ataques desferidos pelo jornal como um lírio entre os espinhos, como um oásis no deserto; parabéns ao prof. José Luiz Delgado, que já tem louváveis precedentes no mesmo Jornal do Commercio (tentem buscar no site do jc por “josé luiz delgado”).

Para que se tenha uma idéia mais clara da desproporção com a qual o jornal distingue entre os que são favoráveis ao Arcebispo e os que lhe são contrários, a foto abaixo foi retirada da versão digital do Jornal do Commercio e mostra duas das oito páginas (ou sete, se desconsiderarmos a capa) que perfazem o especial “O adeus do arcebispo”. O texto do prof. Delgado está à direita, circundado em vermelho. E é, como se pode verificar pelo que foi mostrado neste BLOG ao longo das últimas duas semanas, o único texto em todas as páginas do caderno do JC que merecia uma publicação:

Desta vez, é desnecessário fazer comentários – leiam o artigo abaixo. Deixo apenas uma frase do texto, que brilha pela sabedoria e catolicidade, e que é certamente uma paráfrase de algo que falou o próprio Dom José Cardoso na sua missa de aniversário do dia 30 de junho, à qual o articulista provavelmente esteve, como eu, presente:

Porque o importante não são os bispos, que passam, mas a Igreja, que, fundada sobre a pedra, não passa.

Boa leitura!

* * *

Anexo – .O adeus do arcebispo

ARTIGO
Um difícil arcebispado
Publicado em 04.07.2008

[S]empre pensei que uma das mais difíceis tarefas na Igreja seria suceder a dom Hélder, indiscutivelmente um dos grandes nomes da Igreja universal. Coube a dom Cardoso a árdua missão, em que qualquer um experimentaria especiais aflições. Acresce que dom Cardoso veio numa outra hora da história do catolicismo, não mais aquela fase exuberante e criativa do Concílio, mas agora o tempo de repensar as mudanças, reponderar o que estava sendo feito.Divisões entre os católicos é claro que sempre houve. Nos tempos de dom Hélder, inclusive, quando muitos havia descontentes com suas idéias e sua ação. A diferença está menos no fato da divisão do que na forma de reagir: enquanto os chamados conservadores, por mais que discordem da autoridade diocesana, contêm-se silenciosos e respeitosos, muitos dos autodenominados progressistas ousam fazer estardalhaços, agredir, injuriar, escandalizar.

O grande mérito do arcebispado de dom Cardoso, fidelíssimo seguidor das determinações da Igreja universal nesta nossa igreja particular, é a integral obediência a Roma. Quantas decisões não foram mais de Roma do que dele? Entre os vários fatores que se levantaram contra o arcebispo terá havido também uma oposição fundamental à Igreja como tal, a perseguição-geral do “mundo” (aquele mundo que é inimigo) à Igreja. No fundo, a contestação barulhenta é menos a ele do que a Roma. Não querendo se opor frontalmente ao papa, alguns se revoltam contra o representante do papa nesta nossa diocese.

Certa timidez pessoal, certa patente não-exuberância, podem ter agravado as incompreensões. As pessoas têm temperamentos diferentes e diferentes estilos e modo de ser. Nenhum papa – embora mantenha a mesma doutrina, a mesma fé – é igual a outro. Nenhum bispo, nenhum sacerdote, nenhum de nós. Dom Cardoso tem nítida personalidade: é essencialmente religioso, piedoso, com profunda consciência da própria responsabilidade, integralmente dedicado à Igreja. E há, ainda, a profunda diferença entre ser um simples padre e ser um bispo: o bispo é responsável por toda a comunidade, por todos os padres, é sacerdote, pastor e mestre. A ele cabe velar por todos os padres, como um pai faz com a própria família. E assim como o pai é obrigado, algumas vezes, a repreender e castigar o filho, do mesmo modo o bispo. Se não cumprisse essa tarefa elementar, seria um mau bispo. Creio que ao zelo que dom Cardoso tem no tocante a esse dever da missão episcopal é que se deve a pecha de “autoritário”. A mim ele não parece nem autoritário nem avesso ao diálogo.

Ao cabo, serenamente vistas as coisas, o episcopado de dom Cardoso, como todos os outros, é mais um passo importante na imensa peregrinação pela salvação das almas, que é a história da Igreja. Porque o importante não são os bispos, que passam, mas a Igreja, que, fundada sobre a pedra, não passa. A fidelidade que se requer é à Igreja, não a um bispo X ou Y. Não se pode, na Igreja católica, ser “helderista” ou “cardosista”. Parece que alguns se julgavam (e ainda se julgam) mais “helderianos” do que católicos. É uma brutal traição ao pensamento e à vida do próprio dom Hélder. Dom Hélder era o primeiro a condenar esse tipo de seguidor, ele que quis sempre ser apenas um jumentinho a serviço do Senhor, para levar o Cristo pelos caminhos do mundo. Dom Hélder era um sacerdote muito bem formado, formado à antiga. Imagino, por isso, que, nos começos do episcopado do seu sucessor, alguns “helderianos” tenham ido ao “Dom” para reclamar de atitudes e decisões de dom Cardoso e querer que aquele os liderasse numa contestação à autoridade diocesana. Com certeza, dom Hélder terá dissuadido esses pretensos insurretos recordando-lhes a necessidade de seguir a Igreja institucional, de aderir a ela, não promover divisões. Recusar a autoridade do sucessor, a autoridade legítima do bispo diocesano, é contrariar frontalmente a lição permanente do próprio dom Hélder.

» José Luiz Delgado é professor universitário

Mais uma mentira da mídia

Foi noticiado na segunda feira: Igreja filipina libera preservativos para portadores do HIV. A notícia foi recebida com incredulidade pelos católicos; o Marcio Antonio registrou no seu blog a impressão de desconfiança geral.

Foi noticiado na quarta feira: CBCP hasn’t ok’d condom use for HIV/AIDS patients [Conferência de Bispos Católicos das Filipinas não liberou o uso de preservativos para portadores do HIV]. O site é o órgão de notícias oficial da Conferência Filipina. No texto, destaco:

“Media misinterpret Church’s teachings especially regarding contraceptives and abortion to suit their political and media agenda and sensationalize it accordingly to increase readership and viewers and attract advertisers,” Castro told CBCPNews.
[A mídia distorce os ensinamentos da Igreja, especialmente os que se referem ao uso de contraceptivos e ao aborto, para os adequar à sua agenda política, provocar sensacionalismo e, por conseguinte, aumentar o número de leitores e atrair anunciantestradução livre minha]

Não tive notícias de nenhuma correção por parte da EFE (fonte original da informação falsa) nem encontrei nenhuma errata no site da FOLHA (disseminadora da desinformação nas terras tupiniquins). Vai ficar tudo por isso mesmo?

“Mãe, ó Mãe, abre Teus braços e acolhe Recife”…

Da série “tecnologia inadequada”: passei, na saída do trabalho, pelo Pátio do Carmo, a tempo de pegar a saída da procissão. Havia muita gente, e deu vontade de registrar; como a única coisa que eu tinha à mão era o aparelho celular, foi o que eu usei mesmo. As imagens abaixo – sofríveis, reconheço – são, assim, da festa de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira de Recife, aos 16 de julho de 2008. Cliquem para ampliar:

Terrível, não? Garanto que, lá, estava muito mais bonito :-)

Virgem do Carmelo,
rogai por nós!

Comentando o adeus do Arcebispo – 08

8 – Ações voltadas só para a Igreja

Até mesmo quando o Jornal do Commercio precisa noticiar os bons feitos da administração de Dom José Cardoso (porque a omissão seria demasiado escandalosa), ele faz questão de fazê-lo da maneira mais negativa possível. O Movimento Pró-Criança foi criado por Dom José em 1993 para atender menores de rua; segundo o último relatório disponibilizado na internet,

[d]urante o exercício de 2006, o MPC atendeu o número inédito de 1.749 pessoas, maior índice alcançado na história do projeto. Desse total, 150 foram mães de alunos que participaram de cursos profissionalizantes.

O mesmo documento conta ainda um pouco das realizações do projeto:

Por meio das atividades desenvolvidas pelo MPC, vários alunos ganharam destaque no Brasil e no exterior.
Confira alguns desses exemplos de sucesso:

  • O ex-aluno de dança da Unidade do Recife Antigo, Wanderson Wanderley, admitido na escola Perfoming Center, em Viena, Áustria, foi convidado para fazer parte de uma versão de Carmen, de Bizet, na Ópera de Viena.
  • Júnior dos Santos, ex-aluno de fotografia da Unidade dos Coelhos, está estudando em Zurich, na Suíça, onde trabalha como fotógrafo profissional. Júnior foi credenciado pela FIFA para cobrir a última Copa do Mundo, realizada na Alemanha, façanha que pouquíssimos fotógrafos que trabalham por conta própria conseguiram.
  • Ex-aluna do Espaço Cultural Maria Helena Marinho, Gláucia Pereira dos Santos foi contratada pelo Balé Popular Brasileiro, em turnê na China há dois anos, o que garantiu a ela estabilidade financeira.
  • Aluno da Unidade de Piedade, Eduardo Bernardino dos Santos passou no vestibular e está cursando Engenharia Civil, na Universidade de Pernambuco (UPE), e estagiando na Hábil Engenharia Ltda.
  • Graciele Maria Coelho Andrade foi aprovada no curso de Licenciatura em Artes Plásticas, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

E, no mesmo site, pode-se encontrar as seguintes informações:

O Pró-Criança é hoje uma das principais instituições do país no desenvolvimento sócio-educativo de crianças, adolescentes e jovens em situação de marginalização e exclusão social, segundo pesquisa da KANITZ & Associados realizada em 2002.

O resultado do trabalho desenvolvido pelo MPC se revela nos dados divulgados pelo Centro Interuniversitário de Estudos da América Latina (CIELA) que apontam para a diminuição do número de crimes praticados por adolescentes no Estado de Pernambuco. De acordo com o CIELA entre 1992 e 1999, o índice caiu de 1.649 para 314, enquanto no resto do país sofreu considerável aumento. Entre as causas apontadas para essa diminuição estão as ações desenvolvidas pelo Pró-Criança.

O trabalho desenvolvido pelo MPC também conta com a aprovação de 80% da população do Recife, de acordo com levantamento realizado, em setembro de 2003, pelo o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE).

Todas essas informações são públicas e estão ao alcance de qualquer um que saiba pelo menos usar o google. No entanto, ao invés de alardear o sucesso deste projeto da Arquidiocese, o que faz o JC? Cita-o muito a contragosto, ainda reclamando por ser este o único fruto da “pastoral social” da Arquidiocese!

[O Movimento Pró-Criança é] praticamente o único fruto de pastoral social que o arcebispo deixa para seu rebanho. O trabalho com as comunidades realizado em algumas paróquias, como a de Casa Forte, já existia antes de dom José e continuou a ser feito independentemente dele.

Sobre o trabalho com as comunidades realizado em algumas paróquias, a ressalva feita pelo JC é importante, porque ele só está “considerando” como trabalho social aquele que é feito a nível Arquidiocesano. E as pastorais das paróquias (só na paróquia em que eu frequento – e que não é a de Casa Forte – existem mais de dez, que atendem crianças, idosos, gestantes, oferecem serviços odontológicos, cestas básicas, etc), são porventura todas feitas independentemente do Arcebispo? Então as paróquias que têm pastoral são todas independentes de Dom José Cardoso? Que estranha organização eclesial o JC quer atribuir à Arquidiocese! O Arcebispo é pintado pelo jornal como se tivesse ojeriza a atividades sociais, sendo necessário deixar bem claro, logo a princípio, que as pastorais sociais desenvolvidas nas paróquias são independentes de Dom José!

Prossegue o jornal com um parágrafo relevante, dando algumas informações – embora tímidas – sobre o Movimento Pró-Criança. A seguir, logo no parágrafo seguinte, vem a alfinetada:

[A]s atividades mais relevantes do arcebispo ficaram mesmo voltadas para a formação religiosa do clero e dos leigos.

A formação religiosa do clero e dos leigos provavelmente não tem relevância alguma para o pessoal do Jornal do Commercio, mas é de fundamental importância para os católicos da Arquidiocese. Cito, com orgulho, aquilo que o especial do JC noticia com desdém: dentre os feitos de Dom José Cardoso, ao longo do seu arcebispado, podem e devem ser destacados:

  1. a reabertura do Seminário Maior de Olinda;
  2. a criação do Seminário Menor;
  3. [o envio de] vários sacerdotes a Roma e à Espanha para a obtenção de títulos acadêmicos nas ciências eclesiásticas;
  4. [o] aumento da quantidade de paróquias;
  5. [a ordenação de m]ais de 40 sacerdotes diocesanos;
  6. [a criação da] Escola Diaconal São José, para a formação de diáconos permanentes;
  7. [a criação de] um programa na Rádio Olinda;
  8. a criação do jornal A Mensagem Católica.

Parabéns ao Arcebispo, que realizou bem o seu trabalho! Some-se a isso todos os outros feitos que já foram comentados neste BLOG (e eu acrescento mais um: há na Arquidiocese mais de 30 institutos religiosos femininos), e será fácil ver como foi profícuo o Arcebispado de Dom José Cardoso e como ele fez bem a Olinda e Recife.

A reabertura do processo de canonização de Dom Vital é mais um feito de Dom José que merece destaque; e, de novo, o jornal a noticia com desdém. Sobre a opinião – que fecha o artigo – de Inácio Strieder, a de que Dom José faz homilia voltada para crianças, cabe lembrar que foi o próprio Jesus a elogiar as criancinhas e a exigir que elas fossem imitadas, sob pena de não se entrar no Reino dos Céus (cf. Lc 18, 16-17). Ademais, o “teólogo” da “Igreja Nova” certamente não entende as palavras de Dom José; também houve muitos que não entenderam as de Jesus. Permita Deus que ele possa, um dia, receber a Doutrina Católica “como uma criancinha” e, assim, entrar no Reino de Deus – na Igreja Católica – que hoje ele ataca, mas que tem sempre os braços abertos esperando o retorno dos filhos rebeldes e, à semelhança do Seu Divino Esposo, está sempre disposta a perdoar a todos os que a Ela retornam arrependidos.

* * *

Anexo – .O adeus do arcebispo

O ADEUS DO ARCEBISPO
Ações voltadas só para a Igreja
Publicado em 04.07.2008

[O ]legado de dom José, por ele mesmo, é um retrato do que foi seu arcebispado nesses 23 anos. A arquidiocese fez uma lista das “principais realizações” e apontou 14 itens. Em 13 deles, todas as ações relacionadas eram voltadas para a Igreja como instituição. Apenas uma tinha um caráter mais social, destinado a transformar a realidade que existe em volta dos templos. O Movimento Pró-Criança, com sede no bairro dos Coelhos, atende a meninos e meninas em situação de risco. É praticamente o único fruto de pastoral social que o arcebispo deixa para seu rebanho. O trabalho com as comunidades realizado em algumas paróquias, como a de Casa Forte, já existia antes de dom José e continuou a ser feito independentemente dele.Criado há 15 anos, o Pró-Criança possui três endereços de atendimento. Além dos Coelhos, tem casas no Bairro do Recife e em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Hoje, 1.343 crianças e adolescentes são atendidos pelo programa, com aulas de violão, dança, coral e artes plásticas. A profissionalização é uma das preocupações do movimento. São oferecidos cursos para formar fotógrafos, eletricistas, serigrafistas e pedreiros. Um dos maiores orgulhos do coordenador do Pró-Criança, Sebastião Barreto Campelo, são os exemplos de meninos beneficiados pelo programa que ganharam destaque fora do Brasil. “Tudo o que esses garotos querem é uma oportunidade. É isso que nós tentamos oferecer. Já conseguimos resgatar mais de sete mil jovens. Dom José tem muito orgulho desse trabalho”, afirma.Ele reconhece, no entanto, que as atividades mais relevantes do arcebispo ficaram mesmo voltadas para a formação religiosa do clero e dos leigos. “Realmente, foi o que mais se sobressaiu”, reconheceu. A arquidiocese diz que dom José imprimiu “novos rumos à formação dos futuros sacerdotes diocesanos” e aponta três ações que permitiram esse feito: a reabertura do Seminário Maior de Olinda, a criação do Seminário Menor e a preparação de uma equipe com “formadores idôneos”. Em relação a esse último item, o texto ressalta que foram enviados vários sacerdotes a Roma e à Espanha para a obtenção de títulos acadêmicos nas ciências eclesiásticas. São esses padres que constituem hoje o corpo docente dos seminários da arquidiocese.

O aumento da quantidade de paróquias foi outra preocupação do arcebispo. Foram fundadas mais 20, ampliando o número para 100. Mais de 40 sacerdotes diocesanos foram ordenados e a arquidiocese criou a Escola Diaconal São José, para a formação de diáconos permanentes. A lista de “realizações” inclui até um programa na Rádio Olinda, no qual o arcebispo explica aos ouvintes o catecismo da Igreja Católica, e a criação do jornal A Mensagem Católica, que substituiu o Boletim Arquidiocesano, que antes era mimeografado.

[INTERTITULO2]BEATIFICAÇÃO[/INTERTITULO2]

A arquidiocese dá destaque à reabertura do processo de beatificação de dom Vital, que havia sido interrompido na década de 70 do século passado. O religioso tornou-se bispo da diocese de Olinda aos 27 anos e a ele são atribuídos diversos milagres. A Igreja estaria esperando apenas a comprovação de um milagre para que o padre seja elevado à categoria de santo. Seria o primeiro do Nordeste brasileiro.

O teólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Inácio Strieder avalia que a supervalorização do rito e da Igreja como instituição fez encolher a prática pastoral da arquidiocese e sua dinâmica transformadora. “É uma religiosidade desencarnada, sem ligação com a vida terrena”, observa. E cita, como exemplo, as homilias feitas pelo arcebispo dom José Cardoso, durante as celebrações. “É uma homilia voltada para crianças, infantilizada. Um estilo devocional que não traz nenhuma conseqüência para além das paredes da igreja.”

Virgem do Carmo, rogai por nós!


[Foto: wikipedia]

Recordare, Virgo mater, in conspectu Dei, ut loquaris pro nobis bona, et ut avertat indignationem suam a nobis. [Offertorium]

16 de julho – festa da Virgem do Carmelo, padroeira de Recife! Temos missas de hora em hora, aqui na Basílica do Carmo – recomendo, aliás, enfaticamente, esta galeria de imagens da igreja. A missa campal presidida por Sua Excelência ocorre às 15:30, seguida de procissão pelas ruas do centro da cidade. Eu vou.

Na foto, uma imagem da Virgem cercada de anjos, olhando para as almas do purgatório que Lhe imploram o auxílio, em uma referência à devoção do escapulário e ao privilégio sabatino: Nossa Senhora promete livrar do purgatório, no primeiro sábado após a sua morte, as almas daquelas pessoas que, em vida, praticaram bem esta devoção. O professor Felipe Aquino fala sobre o assunto.

Na epígrafe, a bonita oração do ofertório da missa de hoje, segundo o calendário tradicional: alguma coisa como “lembrai-vos, ó Virgem Mãe, na presença de Deus, de dizer-Lhe coisas boas de nós”. Que reconfortante esperança: a de que temos, diante de Deus, uma Mãe que se preocupa em dizer a Ele coisas boas a nosso respeito! Quando o que temos de bom é tão insignificante perto da imensidão das nossas faltas, consola saber que mesmo este pouco tem o valor da doce voz da Rainha, por meio da qual ele chega aos ouvidos do Rei.

Quando os filhos de Nossa Senhora do Carmo dão exemplos tão lastimáveis (p.ex., aqui e aqui), rezemos, em desagravo, à Flor do Carmelo (em português, ele tem quase todo – à exceção das duas últimas estrofes – nesta revista dos Arautos):

FLOS Carmeli,
vitis florigera,
splendor caeli,
virgo puerpera
singularis.

Mater mitis
sed viri nescia
Carmelitis
esto propitia
stella maris.

Radix Iesse
germinans flosculum
nos ad esse
tecum in saeculum
patiaris.

Inter spinas
quae crescis lilium
serva puras
mentes fragilium
tutelaris.

Armatura
fortis pugnantium
furunt bella
tende praesidium
scapularis.

Per incerta
prudens consilium
per adversa
iuge solatium
largiaris.

Mater dulcis
Carmeli domina,
plebem tuam
reple laetitia
qua bearis.

Paradisi
clavis et ianua,
fac nos duci
quo, Mater, gloria
coronaris. Amen.

Nossa Senhora do Carmo,
rogai por nós!

Comentando o adeus do Arcebispo – 07

7 –  Pensar no que se crê…

Um belo título seria este para um artigo católico, sobre um assunto tão necessário hoje em dia: a Fé enquanto atitude intelectual. Poder-se-ia falar tanta coisa! Desde Santo Agostinho, com o seu fides si non cogitatur nulla est e o seu intellige ut credas, crede ut intelligas; passando por Santo Tomás de Aquino e toda a Escolástica Medieval; chegando até o Concílio Vaticano I e os cânones sobre a relação entre a Fé e a Razão; citando a excelente Fides et Ratio de João Paulo II! Este tema é tão vasto e interessante que seria mais do que suficiente para se fazer um artigo primoroso. Todavia, quem escreve sob este título no especial do JC é… a Ivone Gebara!

Esta senhora é aquela que escreve artigos para as Católicas pelo Direito de Matar (aquien passant, notem o banner nojento em apoio descarado ao homossexualismo que se encontra no site dessas fulanas!) defendendo o aborto. Por que não provoca surpresa que ela tenha sido convidada pelo Jornal do Commercio para escrever um artigo contra o Arcebispo?

Devido às suas posições que contradizem frontalmente a Doutrina da Igreja, esta senhora não se pode pretender católica; apresenta-se todavia como teóloga (teóloga feminista, seja lá o que signifique isso, como ela se auto-define no texto) e pretende fazer uma análise sobre o legado de Dom José Cardoso. O blá-blá-blá é absolutamente intragável para qualquer pessoa que tenha um mínimo de capacidade crítica que seja.

Ela diz que viveu durante os últimos 23 anos fora das atividades oficiais da arquidiocese (por que será?), que participou de lutas que não entravam nos espaços oficiais da Igreja, que se abriu para além dos muros e das preocupações da instituição (para longe, bem longe da Igreja…), que se debruçou sobre outras maneiras de entender a tradição cristã… enfim, resumindo a tagarelice enfadonha, ela se declara herege. Reconhece ainda assim – e isso é precioso – que Dom José foi um Arcebispo fiel à Igreja, pois escreve:

O arcebispo de Olinda e Recife foi um instrumento, entre outros, da crença na restauração da Igreja através da disciplina e do Direito Canônico. Essa foi uma das tendências que se expandiu no pontificado de João Paulo II e tornou-se para muitos uma nova cruzada cristã. Nesse sentido, dom José foi um fiel servidor das orientações papais e das orientações das instâncias romanas de governo da Igreja.

Todavia, tem uma visão completamente marxista da sociedade. Os padres chegam a ser grandes capitalistas (…), que dão as diretivas para o funcionamento político do cristianismo no mundo! Com tamanha miopia religiosa, que espécie de análise esta mulher poderia fazer? Todo o artigo é o mesmo besteirol de sempre, de uma superficialidade infantil: por um lado, destila rebeldia contra o Papa ([n]ão podemos mais acreditar que o destino de uma comunidade está nas mãos de um só homem como se fôssemos todos crianças dependentes de sua orientação e pensamento) e, por outro, conclama as pessoas à “Revolução” (convido os leitores a descobrir as boas novas que estão hoje no meio de nós, (…) [que] deram um outro rumo à vida, um rumo que foi capaz de reavivar esperanças e renovar a força libertária de muitos). Não tenho mais paciência para escrever contra esse tipo de coisa (e, aliás, acho que tampouco ninguém tem paciência para ler). Este artigo entra no conjunto daqueles que servem como elogios “pelo caminho contrário”. Para terminar, somente destaco um ato falho cometido pelo jornal:

Mas o arcebispo não estava só nas posições que tomou, por exemplo, contra o aborto, a distribuição de preservativos, as atividades políticas de alguns sacerdotes ou as posições críticas de leigos. Foi respaldado por um bom número de adeptos locais e, sobretudo, pelas instâncias do poder romano.
[grifos meus]

Talvez por falta de revisão, aquilo que é evidente “escapuliu” e entrou na reportagem: Dom José Cardoso – ao contrário do que o caderno especial do JC inteiro dá a entender – nunca esteve sozinho nesses 23 anos em que governou a nossa Arquidiocese, e quem o diz não é um carola amigo do bispo, mas sim uma senhora que lhe é contrária. Ao longo das tribulações, Sua Excelência sempre contou com o apoio do povo fiel, do povo que não é modernista nem TLista, do povo que é católico simplesmente, e que enxerga no seu Arcebispo um sucessor dos Apóstolos, enviado por Deus para o conduzir, aqui na terra, pelos caminhos estreitos e difíceis da vida cristã; caminhos abertos pelo Crucificado, e que – se forem seguidos com sinceridade – conduzem, no final, à Vida Verdadeira e à Glória que não tem fim. São estas as coisas com as quais o povo realmente se importa; o resto, são preocupações vazias de gente desocupada que não tem mais o que fazer.

* * *

Anexo – .O adeus do arcebispo

ARTIGO
Pensar no que se crê…
Publicado em 04.07.2008

[A]ceitei, não sem hesitação, escrever algumas linhas sobre o legado de dom José Cardoso depois de 23 anos de arcebispado. Confesso que vivi todo esse tempo, por opção própria, fora das atividades oficiais da arquidiocese. Abracei causas que não cabiam nas preocupações de sua missão em Olinda e Recife, embora estivessem no dia-a-dia da vida do povo. Como filósofa e teóloga feminista, participei de lutas que não entravam nos espaços oficiais da Igreja. Abri-me para outros desafios, para além dos muros e das preocupações da instituição. Discordei de posições oficiais e me debrucei sobre outras maneiras de entender a tradição cristã. Creio que esse caminho foi trilhado também por outras pessoas e grupos que não se sentiam “em casa” na arquidiocese, pois haviam descoberto em suas vidas referências diferentes das existentes na instituição religiosa. Estou convencida de que essa situação não está necessariamente ligada à pessoa do arcebispo, mas à acelerada mutação do mundo em que vivemos. O cristianismo se tornou mais plural do que sempre foi e a competição entre as várias interpretações e denominações do legado de Jesus estão na ordem do dia dos mercados religiosos. Os sacerdotes hoje não são apenas os jovens que continuam sendo ordenados pelas dioceses, mas os grandes capitalistas ditos cristãos, que dão as diretivas para o funcionamento político do cristianismo no mundo. O arcebispo de Olinda e Recife foi um instrumento, entre outros, da crença na restauração da Igreja através da disciplina e do Direito Canônico. Essa foi uma das tendências que se expandiu no pontificado de João Paulo II e tornou-se para muitos uma nova cruzada cristã. Nesse sentido, dom José foi um fiel servidor das orientações papais e das orientações das instâncias romanas de governo da Igreja. Houve uma nítida pretensão de volta à hegemonia do poder católico romano na sociedade, orquestrada pelo Vaticano. Crença talvez ingênua nos países de passada maioria cristã onde o pluralismo religioso cresce a olhos vistos.

Tenho procurado distanciar-me das posturas saudosistas e dos revanchismos. Creio que essas posturas nos impedem de assumir a responsabilidade de não só entendermos o que se passa em nosso mundo, mas de reagirmos com responsabilidade não só diante das políticas do Estado, mas das políticas das Igrejas. Não podemos mais acreditar que o destino de uma comunidade está nas mãos de um só homem como se fôssemos todos crianças dependentes de sua orientação e pensamento. Sem dúvida, não desprezo a capacidade das lideranças, mas não creio que elas tenham o poder de mudar a história à revelia da maioria ou sem a força de uma elite poderosa. A maioria, em nosso caso, estaria ocupada em outras coisas ou desinteressada dos rumos da instituição? Ou estaria habituada a ser conduzida e, por isso, não assumiu a responsabilidade de conduzir-se? De fato, sob a liderança de dom José muitas polêmicas se abriram em relação a assuntos da maior importância social. Mas o arcebispo não estava só nas posições que tomou, por exemplo, contra o aborto, a distribuição de preservativos, as atividades políticas de alguns sacerdotes ou as posições críticas de leigos. Foi respaldado por um bom número de adeptos locais e, sobretudo, pelas instâncias do poder romano. Vivemos essa situação como um conflito político e cultural de grande alcance mundial. O conflito religioso é apenas uma parte desse conflito e nele algumas pessoas “religiosas” aparecem como responsáveis. Na verdade são apenas, em pequeno grau, responsáveis. São parte de um grupo ideológico religioso em conflito com outros grupos. No cristianismo do passado esses conflitos fizeram história e continuam fazendo-a no presente. Dom José faz apenas parte desse conjunto maior de conflitos históricos. Nesses 23 anos muitas coisas novas e desafiantes aconteceram, talvez propulsadas pela postura defensiva e legalista da arquidiocese. Essas coisas novas são, a meu ver, a herança indireta ou o legado de nossas ações coletivas e individuais. Por essa razão, convido os leitores a descobrir as boas novas que estão hoje no meio de nós, para além de nossos desapontamentos. Elas deram um outro rumo à vida, um rumo que foi capaz de reavivar esperanças e renovar a força libertária de muitos. Há tesouros humanos espalhados no meio de nossa cidade. Podemos vê-los, reconhecê-los como serviços ao bem comum e dar graças à vida porque estão vivos no presente, graças ao passado que tivemos.

» Ivone Gebara é filósofa e teóloga