“Deus não manda o Papa que merecemos, mas aquele de que precisamos” – Luís Guilherme Pereira

[Trecho de um excelente artigo publicado na Vila Nova sobre o Papa Francisco, à cuja íntegra remeto os que se interessarem pela leitura. Independente de quem calce as sandálias do Pescador, o Papa é o Doce Cristo na Terra e, como tal, merece a nossa submissão filial. Aprouve à Divina Providência conceder-nos a honra de vivermos em tempos interessantíssimos! Vivamo-los bem, trabalhando com temor e com tremor pela maior glória de Deus. Sempre cum Petro et sub Petro.]

Diz-se que Deus não manda o Papa que merecemos, mas aquele de que precisamos. Numa era de extremo egoísmo, autossuficiência, hedonismo e orgulho, Francisco parece ser o homem certo.

Sua eleição tritura a presunção da mídia. A mídia falou que seria um Papa jovem. Francisco tem 76 anos. A mídia falou que seria brasileiro. É argentino. Seria um conclave longo. Foi brevíssimo. A mídia chutou 7 papabili como principais. Errou todos. Alguém ainda confia nos ditos “vaticanólogos”?

Também exercita a humildade dos católicos ao ser, como disse no começo, o favorito de ninguém. Os tradicionalistas queriam Burke ou Ranjith, os “ratzingerianos” Scola ou Ouellet, os progressistas Maradiaga; quase todos eram o queridinho de um grupo: Erdö (o meu, inclusive), Tagle, Scherer, Dolan, O’Malley, etc. Menos, até onde sei, Bergoglio. Todos tinham um “projeto” para o Papa, e nenhum foi satisfeito.

“10 fatos sobre o Papa Francisco”

Fonte: Canterbury Tales
Tradução: Deus lo Vult!

10 fatos sobre o nosso novo Santo Padre, o Papa Francisco. Jogada inesperada [major curveball]. Quem percebeu que isto poderia acontecer? Aqui estão dez curtos fatos sobre o Papa Francisco (Cardeal Jorge Bergoglio):

  1. O Papa Francisco, Jorge Bergoglio, nasceu em Buenos Aires, um dos cinco filhos de um trabalhador ferroviário e sua esposa.
  2. Ele é um Jesuíta. O primeiro Papa Jesuíta de todos os tempos.
  3. O Papa Francisco é conhecido por sua humildade, conservadorismo doutrinal, defesa da teologia moral da Igreja e compromisso com a justiça social.
  4. Ele tem sido um crítico da Teologia da Libertação.
  5. Ele é próximo do [Movimento] Comunhão e Libertação.
  6. Ele se opôs à legalização do casamento gay feita em 2010 pelo governo argentino. Na Argentina, foi acusado por anti-clericais de ser “medieval” (outro bom sinal).
  7. O Papa João Paulo II o criou cardeal em 2001.
  8. Ele colaborou com a Congregação para o Clero, Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, a Congregação para as Sociedades de Vida Apostólica, e a Comissão para a América Latina do [Pontifício] Conselho para a Família [? – Commission on Latin American and the Family Council].
  9. Ele foi simultaneamente nomeado Ordinário dos Católicos Orientais na Argentina, que perderam seu próprio prelado. Então ele pode, presumivelmente, celebrar a Divina Liturgia de São João Crisóstomo.
  10. O Papa Francisco escreveu apenas um livro [p.s.2.: segundo a Wikipedia, ele tem 16 obras publicadas (N.T.)], intitulado Sobre el cielo y la tierra [p.s.: escreveu também o Corrupción y Pecado (N.T.)]. Está disponível apenas para Kindle. Compre-o aqui e mostre o seu apoio.

Franciscus!

13 de Março de 2013

Annuntio vobis gaudium magnum;
habemus Papam:

Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
Dominum Georgium Marium
Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Bergoglio
qui sibi nomen imposuit Franciscum

 

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Papa Francisco I, ou simplesmente “Francisco”,
Bispo de Roma, Vigário de Cristo, Sucessor de São Pedro.

Para mim, foi uma surpresa. Ou melhor, foram diversas surpresas: a rapidez do conclave, o nome de Jorge Mario Bergoglio (que foi ventilado nos últimos dias, ma non troppo), a idade avançada do cardeal (tem 76 anos, somente dois a menos do que Ratzinger quando foi eleito), o nome de Francisco (nunca antes tomado por nenhum Papa!), a Argentina fornecendo um Papa à Igreja, um Jesuíta sentado no Trono de Pedro. Surpreendente!

Da biografia do John Allen Jr.:

Bergoglio é visto como um ortodoxo inflexível em matéria de moral sexual e como convicto opositor do aborto, da união homossexual e da contracepção. Em 2010 ele afirmou que a adoção de crianças por gays é uma forma de discriminação contra as crianças, o que lhe valeu uma reprimenda pública por parte da presidente argentina Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, ele demonstra sempre profunda compaixão pelas vítimas da aids; em 2001, por exemplo, visitou um sanatório para lavar e beijar os pés de 12 pacientes soropositivos.

Viva o Papa!

V. Oremus pro Pontifice Nostro Francisco!
RDominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius.

OREMUSDeus, omnium fidelium pastor et rector, famulum tuum Franciscum, quem pastorem Ecclesiae tuae praeesse voluisti, propitius respice: da ei, quaesumus, verbo et exemplo, quibus praeest, proficere: ut ad vitam, una cum grege sibi credito, perveniat sempiternam. Per Christum, Dominum nostrum.
R. Amen.

O telefone sem fio do Conclave

Há certas coisas na imprensa leiga que seriam cômicas se não fossem trágicas. A despeito da existência de honrosas exceções, a maior parte das pessoas que escrevem sobre religião na grande mídia geralmente não faz a menor idéia do que está falando. Na ânsia pelo “furo” jornalístico, jornalistas imprudentes acabam cometendo as maiores gafes sobre assuntos que claramente não dominam.

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No meio da profusão de matérias publicadas sobre o Conclave, esta matéria do Estado de São Paulo (ontem publicada) faz, sem perceber, uma denúncia gravíssima: algum cardeal teria vazado o resultado do primeiro escrutínio, realizado ontem à noite! A reportagem é enfática:

A contagem é secreta, mas, segundo o jornal La Repubblica, o arcebispo de Milão, Angelo Scola, saiu na frente, seguido pelo arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer. Em terceiro lugar estaria o arcebispo de Budapeste, Peter Erdö, cuja candidatura teria se fortalecido após o embate, na véspera, entre integrantes contra e a favor da Cúria.

Ora, saber quem foram os cardeais mais votados no primeiro escrutínio só seria possível se alguém de dentro do Conclave tivesse repassado a informação – o que seria uma violação gravíssima das normas eclesiásticas que o mundo inteiro assistiu, ontem, cada um dos cardeais, com a mão sobre o Evangelho, jurar cumprir. Assim prescreve a Universi Dominici Gregis:

59. De forma particular, é proibido aos Cardeais eleitores revelar, a qualquer outra pessoa, notícias que, directa ou indirectamente, digam respeito às votações, assim como aquilo que foi tratado ou decidido acerca da eleição do Pontífice nas reuniões dos Cardeais, quer antes quer durante o tempo da eleição.

Como não se concebe uma razão plausível pela qual pudesse um cardeal-eleitor violar o seu juramento recém-proferido meramente para satisfazer uma curiosidade jornalística fútil (estamos falando do primeiro escrutínio!), semelhante informação já é, antes de qualquer coisa, no mínimo suspeita e por si só deveria provocar estranheza em quem a reproduz.

Mas vamos adiante. O Estadão diz que isso veio do La Repubblica. Assumamos o trabalho que o repórter aparentemente não teve e busquemos a fonte original da informação. Curiosamente, no site do La Repubblica não se encontra nada. A coisa mais parecida que existe na internet com a informação publicada com displicência pelo Estado de São Paulo é a seguinte manchete:

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O que, traduzido, é o seguinte: “Os Papáveis”, em cima. A manchete diz “Freia a corrida de Scherer, Scola [permanece] estável e Erdo desponta nas negociações do Conclave”. É de hoje (13 de março), mas a leitura da reportagem deixa claro que se trata das especulações pré-conclave, e não do resultado da primeira votação! O repórter fez inclusive questão de dizer que «[n]essuno oggi puo pero dire cosa accadra davvero nella Sistina», i.e., “hoje ninguém pode dizer o que realmente acontece na Capela Sistina”!

Ao que parece, o repórter do Estadão (o sr. José Maria Mayrink, “enviado especial”) passou os olhos pelo jornal, viu o nome dos três cardeais, viu que a edição era de hoje, leu atravessado que o cardeal Scola estaria com 35-40 voti e “deduziu” por conta própria que isto era o resultado da votação secreta realizada ontem (!). E simplesmente tocou o boi na linha, reproduzindo na mídia tupiniquim uma informação falsa cujas graves conseqüências, se fosse verdadeira, ele não é capaz de compreender – caso fosse, provavelmente não teria protagonizado esta desabonadora versão profissional da antiga brincadeira do telefone sem fio, que lança ainda mais descrédito sobre a confiabilidade do jornal.

Questão: Dinheiro público para evento católico

Foi perguntado aqui no blog:

[A] deputada da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, Myrian Rios, destinou 5 milhões de reais para o evento católico denominado Jornada Mundial da Juventude. Myrian Rios é do movimento carismático da Igreja Católica. Houve aqui um claro privilégio à religião católica.

Segundo sua lógica, para que fosse possível essa alocação orçamentária, a AL do Rio deveria ter oferecido também 5 milhões de reais a todas as outras denominações religiosas no Brasil.

O que dizer?

Simples: em geral, os investimentos públicos são direcionados para projetos que tenham interesse social – o que é precisamente o caso aqui. Na mensagem que acompanha a Proposta Orçamentária 2013 da Cidade do Rio de Janeiro, pode-se ler o seguinte:

Está previsto a implementação de ações que visem e preparem a Cidade para receber o enorme contingente de turistas que nos visitarão por ocasião dos grandes eventos que ocorrerão durante o exercício, notadamente a Jornada Mundial da Juventude e a Copa FIFA das Confederações.

[…]

Será prioridade da SMTR a elaboração dos Planos Operacionais de Transporte Público para a Jornada Mundial da Juventude e para a Copa do Mundo de 2014.

A Companhia de Engenharia de Tráfego do Município do Rio de Janeiro – CET RIO pretende consolidar a operação de tráfego na cidade com reforço nas áreas identificadas como mais críticas, além do atendimento dos megaeventos “Copa das Confederações”, “Jornada Mundial da Juventude” e “Rock in Rio – 2013”.

Ou seja:

Este dinheiro é para financiar a passagem de católicos que virão do mundo todo para o Rio de Janeiro? Não, é para melhorar a infra-estrutura da cidade de modo que ela possa comportar os fiéis que virão por conta própria.

Este dinheiro é pra pagar espórtulas às centenas de sacerdotes que, ao longo desses dias, estarão ministrando os Sacramentos católicos? Não, é para elaborar planos de transporte público que permitam aos leigos e sacerdotes católicos se locomoverem pelo Rio de Janeiro ao longo dos dias do evento.

Este dinheiro será enviado à Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, à Sé Primacial do Brasil ou ao Vaticano? Não, será voltado para melhorias da própria cidade do Rio de Janeiro.

Sob que lógica, portanto, é possível dizer que se está usando dinheiro público para fins privados? Nenhuma. É pura implicância da mídia anti-clerical.

Ainda: dizer que, por isonomia, o Estado deveria conceder valor equivalente às outras denominações religiosas brasileiras é rigorosamente o mesmo que criticar o dinheiro gasto na Copa das Confederações e sustentar que a Prefeitura deveria destinar o mesmíssimo valor a competições de basquete, vôlei de praia, turfe e ping-pong, entre dezenas de outros esportes existentes no Brasil.

Dizer que, por conta da JMJ, o Estado deveria oferecer recursos públicos às outras denominações religiosas brasileiras é equivalente a condenar o Rock in Rio e dizer que, para destinar-lhe dinheiro público, a Prefeitura tinha a obrigação moral de financiar igualmente, entre muitos outros, o “Jazz in Rio”, o “Funk in Rio” e (neste tempo de minorias, por que não?) o “Fado in Rio” e o “Can-Can in Rio”.

Por fim, afirmar que só seria possível à Prefeitura do Rio de Janeiro (e, por extensão, a qualquer órgão da Administração Pública) reservar uma parte do seu orçamento para um projeto católico caso reservasse igualmente a mesma quantia para projetos de (todas as) outras denominações religiosas é inviabilizar completamente qualquer gestão municipal (ou estadual ou federal), porque aí ninguém ia poder destinar dinheiro para asfaltar uma rua sem simultaneamente destinar o mesmo para asfaltar todas as outras ruas da cidade, ninguém poderia reformar uma escola ou equipar um hospital sem ao mesmo tempo oferecer a mesma quantia para reformar todas as outras escolas e todos os outros hospitais do município, et cetera – o que é um patente absurdo.

Na verdade, a destinação de recursos públicos para projetos de fomento à cultura, ao turismo, ao lazer e congêneres segue políticas públicas específicas, com normas próprias emanadas pelas autoridades competentes. Obviamente não é necessário (e nem sequer é possível) que todos os projetos do mundo recebam sempre igual financiamento para garantir a isonomia do processo de concessão de verba pública; basta que todos eles possam se candidatar e concorrer em igualdade de condições. É somente esta última proposição que se refere aos princípios (nos quais não pode haver privilégios injustificados), porque a destinação concreta de um orçamento concreto, por definição, não é mais um princípio e sim um caso concreto. E é bastante óbvio que os casos concretos não precisam conter em si todas as aplicações possíveis dos princípios (o que aliás é uma impossibilidade lógica): basta que não os contradigam. Como este caso da JMJ não os contradiz.

Por fim, somente como parêntese, eu particularmente considero que em certas áreas não é papel do Estado atuar, como por exemplo (o que aparentemente não é o caso aqui, mas poderia ser) em projetos de “cultura”. Ao contrário, penso que cultura é iniciativa “de baixo pra cima” que, simplesmente, não pode ser produzida à força de investimentos. Melhor seria se o Estado nos aliviasse um pouco a carga tributária e nos deixasse mais folgados para exercitarmos nossa produção cultural por conta própria. No entanto, havendo (como há) políticas públicas para incentivar a cultura, aí não pode haver nenhum tipo de discriminação entre os projetos que podem receber estas verbas: em particular, pouco importa se a iniciativa é católica, protestante, budista, ateísta, seicho-no-ie, umbandista ou o que seja. E, até onde eu saiba, é assim que as coisas funcionam  por aqui: ao menos na questão dos princípios, não há incoerência que precise ser justificada.

Diário de Pernambuco homenageia conclave!

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Impressionante capa do Diário de Pernambuco. No dia do aniversário de Recife e Olinda! O conclave mereceu enorme destaque na primeira capa do jornal, e o Espírito Santo teve direito de ser mencionado em letras garrafais na mídia laica. Que dia, senhoras e senhores, que dia!

Pro Eligendo Pontifice

Da homilia do Cardeal Sodano na missa Pro Eligendo Pontifice que foi celebrada agora de manhã:

A atitude fundamental de todo bom Pastor é, portanto, dar a vida por suas ovelhas (cfr Jo 10,15). Isto vale, sobretudo, para o Sucessor de Pedro, Pastor da Igreja universal. Porque quanto mais alto e mais universal é o ofício pastoral, tanto maior deve ser a caridade do Pastor.

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Mais tarde começa o conclave. O livreto da celebração – com o juramento dos cardeais e o “extra omnes” – encontra-se aqui. Ladainha de Todos os Santos, Veni Creator Spiritus e Sub Tuum Praesidiumos cardeais estarão bem munidos das forças do Alto! Que possam corresponder generosamente às graças de Deus. Que saiam – em breve! – da Capela Sistina com um novo Romano Pontífice – com um santo Romano Pontífice! – para a Igreja de Cristo.

Que crédito merecem as especulações sobre quem vai ser o próximo Papa?

Nos últimos dias já me perguntaram uma vez ou outra quem vai ser o próximo Papa, como se eu tivesse a mínima condição de responder a esta pergunta ou como se a minha opinião sobre o governo da Igreja tivesse alguma importância neste momento terrível que estamos vivendo. O conclave vai começar amanhã e a única “dica” que eu posso dar (inclusive e principalmente para mim próprio) é que rezemos com fervor e confiança. Mais do que isso é muito difícil dizer.

Ao contrário do que aconteceu à época da morte de João Paulo II, Bento XVI não me parece ter um “sucessor natural”. Ratzinger foi por muitos anos o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e, principalmente nos últimos anos, o braço direito de João Paulo II; hoje, não existe ninguém que exerça este papel junto a Bento XVI. Isto, aliás, é reforçado pelo próprio fato da renúncia, uma vez que de todos os papas, no final da vida, quando não estão mais em condições de governar a Igreja, pode-se dizer que “deixam” o seu governo, ao menos em linhas gerais, a cargo dos seus colaboradores mais próximos.

Não nos enganemos: é claro que Bento XVI não foi o primeiro Papa a sentir, já próximo do final da vida, a perda do vigor do corpo e do espírito. Todos os Papas que morreram em idade avançada certamente sentiram a mesma coisa. A diferença é que Bento XVI, ao que parece, não se sente suficientemente confortável para deixar a Igreja ser governada a partir dos bastidores, como é natural que aconteça quando o avançar dos anos obriga qualquer monarca a delegar cada vez mais responsabilidades. Bento XVI não tem quem seja para ele o que ele próprio foi para João Paulo II no fim da vida; a frase já foi bastante repetida e, de minha parte, penso que ela faz uma análise correta da situação atual.

Isto, no entanto, parece-me ser o máximo que nos é lícito fazer. Via de regra, a especulação da mídia em torno do nome do próximo Papa tem somente dois objetivos. Primeiro, é uma tentativa pueril de influenciar os cardeais para que escolham (ou não escolham) algum determinado candidato – tentativa que é bastante inócua porque a mídia laica ainda não chegou aos umbrais da política eclesiástica. Não entendem a Igreja Católica e muitas vezes aparentam não A querer entender. Ao contrário da política mundana, o Colégio Cardinalício não se deixa conduzir pelas palavras de ordem do momento, porque um Papa é eleito para servir à Igreja de Deus e não para impôr ao governo da Igreja um programa político-partidário. Embora seja monarca plenipotenciário, o horizonte de ações possíveis de um Romano Pontífice é em certo sentido muito mais restrito do que o de um síndico de prédio ou presidente de associação de moradores.

O segundo objetivo da especulação é igualmente inútil, e pode ser comparado àquilo que faz com que videntes charlatões não percam a chance de espalhar “previsões” genéricas e abertamente chutadas: é a possibilidade de gozarem de algum glamour e prestígio na eventualidade de acertarem alguma delas. Não se enganem: a imprensa, quando diz quem vai ser o provável próximo Papa, está realizando rigorosamente um exercício adivinhatório cujo valor não é maior do que o das previsões de Mãe Dináh para o próximo ano. Sobre este assunto recomendo a leitura deste texto, do qual traduzo o finalzinho:

Luis Badilla Morales, colaborador da Radio Vaticana e observador que há anos navega na internet, observou argutamente que, desde o dia 11 de fevereiro, os nomes dos “papáveis” subiram de 23 para 47 [N.T.: bem mais de um terço do número total de cardeais-eleitores!], embora os mais recorrentes sejam “só” uma dúzia. E não são poucos os seus colegas que se apressam a acrescentar nomes em suas listas pessoais. Deste modo, poderão dizer a seus netos: “Eu o havia previsto!”.

Tentar acompanhar as mudanças de opinião da mídia nesta seara é um exercício extenuante, fútil e vão. Importa mais rezar e fazer penitência para que o Altíssimo nos conceda um Papa santo. Por exemplo, este “ramalhete espiritual” entregue recentemente aos cardeais em Roma – que eu já havia mencionado aqui no blog – tem muito mais valor do que duas centenas de textos de “especialistas” demonstrando por ‘a’ + ‘b’ quem é ou deveria ser o próximo Papa. A única certeza que temos é a de que ele virá, independente do que dissermos ou deixarmos de dizer sobre o seu nome. Amanhã os cardeais-eleitores entrarão na Capela Sistina alheios a todo o burburinho que podemos fazer aqui fora. Esforcemo-nos para lhes ser úteis! E, do extra omnes ao habemus Papam, é somente por meio das nossas orações que podemos ajudar os príncipes da Igreja a escolherem o próximo Vigário de Cristo.