“O Conclave e a Crise” – Dom Fernando Rifan

[Às vésperas do conclave, reproduzo na íntegra este interessantíssimo artigo de D. Fernando Rifan que, sem menosprezar a gravidade da crise atual, ao menos nos revigora com uma lufada de esperança. A Barca de Pedro é sacudida e faz água no mar agitado deste mundo, sim; mas podemos ter a certeza de que o Senhor do mundo – e dono da Igreja! – é mais forte do que o mar revolto. Lembremo-nos de que Ele um dia fez com o que o mar e o vento se calassem a uma ordem Sua; e penso que deve ter desta vez mostrado visivelmente o poder da Sua palavra para que acreditássemos n’Ele quando, de outra vez, sem grandes milagres visíveis, Ele dissesse que as portas do Inferno não prevaleceriam sobre a Sua Igreja.

Amanhã começa o conclave. Rezemos pela Igreja de Deus!]

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O Conclave e a Crise

 A Igreja aqui na terra chama-se militante, quer dizer, continuamente em guerra, contra inimigos internos e externos, ou seja, “em crise”. Mas isso já há dois mil anos! A paz completa só será na Igreja triunfante do Céu, quando a “Barca de Pedro”, após passar pelas ondas do mar bravio desse mundo, chegar ao porto da salvação eterna.

“Para levantar a Igreja do estado de relaxamento e de confusão em que se encontram universalmente todos os níveis, nem toda a ciência e prudência humana conseguem remediar, mas é preciso o braço onipotente de Deus. Entre os bispos, poucos são os que têm verdadeiro zelo pelas almas. As comunidades religiosas, quase todas e mesmo sem o quase, estão relaxadas, porque nas congregações, na presente confusão das coisas, falta a observância e a obediência se perdeu. No clero secular as coisas estão piores e, por isso, faz-se necessária aí uma reforma geral para todos os eclesiásticos, de maneira a reparar a grande corrupção dos costumes, que existe entre os seculares”.

“Por isso é preciso rezar a Jesus Cristo que nos dê um Chefe da Igreja que, mais do que de doutrina e de prudência humana, seja dotado de espírito e de zelo pela honra de Deus, e seja totalmente alheio a qualquer partido e respeito humano, porque se, por nossa desgraça, acontecesse um Papa que não tem apenas a glória de Deus diante dos olhos, o Senhor pouco o assistirá e as coisas, como estão nas presentes circunstâncias, irão de mal a pior”.

“As orações podem trazer remédio a tanto mal, ao obter de Deus que ele mesmo ponha a sua mão e conserte… eu desejaria ver reformados tantos desarranjos presentes… Em primeiro lugar, gostaria que o próximo Papa escolhesse, entre aqueles que lhe serão propostos, os mais doutos e zelosos pelo bem da Igreja… Que se usasse diligência ao escolher os bispos (dos quais, principalmente, depende o culto divino e a salvação das almas), solicitando informações a mais pessoas sobre a sua vida digna e doutrina necessária para governar as dioceses. E que, também para aqueles que já estão em suas igrejas, se exigisse dos metropolitanos e de outros, secretamente, a informação sobre aqueles bispos que pouco atendem o bem de suas ovelhas… Sobretudo, desejaria que o Papa reconduzisse universalmente todos os religiosos à observância do seu primeiro Instituto, pelo menos nas coisas principais… Nada podemos fazer, a não ser rezar ao Senhor, que nos dê um Pastor pleno do seu espírito, que saiba estabelecer estas coisas que acenei brevemente, conforme for mais conveniente à glória de Jesus Cristo”.

Essas considerações acima foram feitas em 24 de outubro de 1774 e são trecho de uma carta de Santo Afonso Maria de Ligório ao Cardeal Castelli, que lhe havia solicitado observações sobre a eleição do novo Papa e os principais abusos que deveriam ser extirpados da Igreja, pretendendo o Cardeal levar a carta ao Conclave próximo. Essa descrição de Santo Afonso nos mostra que as crises na Igreja não são de agora. A “barca de Pedro” já venceu outras tempestades.

“Peçamos com insistência ao Senhor que nos ofereça um pastor segundo o seu Coração, um pastor que nos guie ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria” (Cardeal Joseph Ratzinger, na preparação para o Conclave de 2005).

Frase do dia e início do conclave

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Com a sua renúncia, Bento XVI «[e]nsinou que a coisa mais importante na vida da Igreja não é papa, bispo, nada disso: é se entregar a Deus».
– Mons. José Aparecido, em entrevista ao Correio Braziliense.

O Conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI já tem data marcada: iniciar-se-á no próximo dia 12 de março, terça-feira, à tarde. Rezemos pelos nossos cardeais e pela Igreja Santa de Deus.

Parabéns a todas as mulheres!

Dizem que a data de hoje é uma comemoração feminista. Não quero entrar neste mérito; ainda que seja verdade, a mim parece-me que ela pode muito facilmente ser ressignificada, a fim de que exalte verdadeiros valores e celebre o que é realmente digno de ser celebrado. Não é preciso dar corda às feministas nem fazer propaganda indireta das bobagens que elas reivindicam; no dia de hoje nós temos algo de positivo para comemorar. Não uma ideologia estéril e sem sentido, mas a graça e a beleza da mulher, querida e criada por Deus para ser companheira do homem.

Há uma relativamente clássica música sobre Nossa Senhora que contém um garboso louvor às mulheres: trata-se daquela canção (tão comum na minha infância) que diz que «em cada mulher que a terra criou / um traço de Deus Maria deixou, / um sonho de mãe Maria plantou, / pro mundo encontrar a paz». Sei que não se trata de nenhuma sumidade teológica, mas deixemos isso de lado por enquanto. Aqui, pensemos somente em como o mundo seria melhor se todas as mulheres tivessem a consciência de que contêm “um traço de Deus” e “um sonho de mãe”. Se cada uma delas soubesse reconhecer o seu próprio valor.

É Dietrich Von Hildebrand quem fala que o amor entre o homem e a mulher é típico; isto é, o homem que ama enxerga em cada mulher um reflexo, um lampejo, uma lembrança da sua amada. Isso é uma tese de validade universal e tem uma interessante conseqüência prática dentro do Cristianismo: nós temos uma Mulher que é o arquétipo de toda feminilidade, temos uma Mãe que reúne em Si todas as belezas criadas, temos uma Senhora a Quem nos devotar com todas as forças e de todo o coração. Quando eu era pequeno e ouvia a música do Pe. Zezinho acima mencionada, sempre pensava que aquele “traço de Deus” deixado por Maria Santíssima nas mulheres era Ela própria. Sempre pensei no enorme privilégio que não deveria ser às mulheres compartilharem uma natureza feminina com Aquela que é a Mãe de Deus.

De certo modo, em toda e cada mulher está presente um reflexo da Santíssima Mãe de Deus, uma imagem d’Aquela que Deus coroou Rainha dos Céus. Ora, isto é um indiscutível valor próprio da feminilidade, é uma evidente característica – belíssima característica! – da qual as mulheres são detentoras e, por conseguinte, é razão suficiente para a comemoração de um Dia da Mulher. Assim, neste oito de março nós celebramos não os estertores de uma caquética ideologia anti-natural, mas sim as incomensuráveis graça e beleza que o Altíssimo conferiu a uma criatura – Maria Santíssima – e com as quais simultaneamente, em referência a Ela, dotou todas as mulheres do mundo.

Um feliz Dia das Mulheres para todas aquelas que, de um modo ou de outro, fazem parte da minha vida: as que me são próximas e as que não são tão próximas assim. Parabéns às que fazem parte da minha família ou do meu ambiente de trabalho, do meio acadêmico ou do bairro. Às que moram na minha cidade, às que lêem o Deus lo Vult!, às minhas conterrâneas. Às que são brasileiras como eu próprio, às latino-americanas como eu mesmo o sou; enfim, a todas as mulheres de todas as raças e todos os credos, com as quais eu – ainda que não as conheça – divido uma natureza humana e uma vocação às coisas mais altas, e nas quais refulge, ainda que elas não saibam, um reflexo da Santíssima Virgem a lhes conferir dignidade intrínseca e a lhes convidar incessantemente para tomar parte no Reino de Deus.

* * *

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Para não perder o costume, a foto acima mostra bem quais são os verdadeiros “direitos da mulher” pelo qual todos temos o dever de lutar, hoje e em todos os dias. Porque os direitos iguais devem ser iguais para todos, independente de cor, raça, credo, idade ou estágio de desenvolvimento.

A infalibilidade papal «foi, no princípio, uma heresia reprovada» (!)

Encontramos mais um didático exemplo de por que ninguém deve dar crédito à cobertura que grande parte da mídia laica faz sobre religião: este longo artigo de UOL Notícias, reproduzindo El País. O texto está repleto de sandices, mas lá pelas tantas é possível ler a seguinte barbaridade:

“O inventor [da doutrina da infalibilidade] é o excêntrico franciscano Petrus Olivi. O que ele queria era que os papas se submetessem a um decreto de Nicolau 3º favorável à corrente franciscana, que exigia a pobreza radical. Por isso, em 1324 João 22 condenou essa doutrina como obra do demônio, o pai da mentira. Consequência: o dogma da infalibilidade papal foi, no princípio, uma heresia reprovada!”

A informação vem assim, cuspida, sem fonte e sem nada, e os jornais a reproduzem com alegria sem se preocupar minimamente com o absurdo que está escrito.

Aí alguém que tem um mínimo de senso crítico olha para a alegação estapafúrdia, acha-a (no mínimo!) estranha e decide ir atrás. Em menos de um minuto no Google ele encontra o Denzinger, dá um ctrl + f e procura por “John XXII”. Começa a ler o Magistério deste Papa. Obviamente não encontra nada sequer remotamente parecido com o que estava na matéria do jornal. Mas encontra outra coisa:

Erros de Marsilius de Pádua e João de Jandun

(A Constituição da Igreja)

[Examinados e condenados no edito “Licet iuxta doctrinam”, 23 de Outubro de 1327]

[…]

496 (2) Que o Bem-Aventurado Apóstolo Pedro não tinha mais autoridade do que os outros Apóstolos, nem que foi a cabeça dos demais Apóstolos. Do mesmo modo, que Deus não estabeleceu nenhuma cabeça da [Sua] Igreja, nem constituiu ninguém Seu vigário.

[…]

498 (4) Que todos os sacerdotes, quer seja o Papa ou [um] Arcebispo ou um simples padre, são por instituição de Cristo iguais em autoridade e jurisdição.

[…]

500 Nós declaramos e sentenciamos que os artigos acima mencionados… são contrários às Escrituras Sagradas e inimigos da Fé Católica, hereges, ou heréticos e errôneos, e também que os supracitados Marsilius e João sejam hereges – ou melhor, sejam arqui-hereges manifestos e notórios.

Como é possível que o mesmo Papa tenha chamado a infalibilidade pontifícia de “obra do demônio” e depois tenha condenado com veemência os que queriam diminuir a autoridade do Romano Pontífice é um desses esotéricos arcanos da sabedoria midiática que não está ao alcance das pessoas comuns que lêem jornais. Ao que parece, estas últimas, segundo a concepção de alguns órgãos de imprensa, deveriam simplesmente aceitar qualquer informação – por evidentemente disparatada que seja – divulgada nos honestos e impolutos meios de comunicação em massa.

Infelizmente para eles, nós somos capazes de raciocinar. E a discrepância entre o que lemos nos jornais espanhóis e o que está registrado nos compêndios do Magistério da Igreja é verdadeiramente assombrosa. Para nossa sorte, destas últimas informações nós temos as fontes históricas bem detalhadas. Já sobre condenação da “infalibilidade papal”… bom, nós temos o artigo do Juan G. Bedoya (Juan-quem?) que El País publicou e a UOL traduziu!

Leonardo Boff e a Igreja, Casta Meretrix

Após cumprir a minha quota diária de penitência quaresmal com a leitura deste texto do Leonardo Boff (aliás, cujo português sofrível revela uma senilidade ainda maior do que a esperada mesmo para o Boff, que já há muito tempo parece viver somente de defender idéias patéticas), quero comentar uma única afirmação do manancial de estultícies em que se transformou o ex-franciscano. Refiro-me à seguinte passagem:

Sempre se diz que a Igreja é “santa e pecadora” e deve ser “sempre reformada”. Mas não é o que ocorreu durante séculos nem após o explícito desejo do Concílio Vaticano II e do atual Papa Bento XVI.

Antes de mais nada, não é verdade que “sempre” (!) se diz que a Igreja é santa e pecadora. Como eu já tive a oportunidade de dizer aqui há alguns anos, isso nunca foi dito a não ser uma única vez por João Paulo II, em um discurso de chegada a Fátima por ocasião de uma de suas viagens apostólicas. E mais nunca. A despeito da expressão ter sido empregada pelo falecido Pontífice no seu sentido católico (como eu também já expliquei aqui), isto não impediu que uma miríade de maus católicos (somados a gente que nem católico era) a repetisse ad nauseam para significar um conceito totalmente herético de que a Igreja, enquanto Instituição, pode ser sujeito do pecado, de que se podem atribuir pecados à Igreja Católica considerada em Si.

Contra isto, basta lembrar que tal concepção contraria frontalmente o Credo Apostólico que rezamos todos os dias, por meio do qual professamos a nossa fé «na Santa Igreja Católica». Pecadores somos nós, que fazemos parte da Igreja, e que (vale frisar) o fazemos cada vez menos quanto mais pecamos. O nosso pecado afasta-nos de Cristo, afasta-nos da Igreja. Embora obviamente congregue pecadores no Seu seio, não se pode colocar a Igreja como autora dos pecados que os Seus filhos só cometem por A desobedecerem. É nos Seus membros pecadores (e somente nos Seus membros pecadores) que se pode dizer que a Igreja necessita de purificação (cf. Lumen Gentium, 8).

Em apoio à sua tese, o Leonardo Boff saca da cartola uma suposta «longa tradição teológica que se refere à Igreja como casta meretriz» (Casta Meretrix). E cita o Urs Von Balthasar. A quem interessar possa, o pe. Paulo Ricardo também abordou este tema recentemente. Quanto a mim, confesso nunca ter lido o citado livro do Von Balthasar; mas já li o texto original de Santo Ambrósio (até evidência em contrário, único uso patrístico da expressão casta meretrix) onde ele usa esta expressão para se referir à Igreja, e ele não tem absolutamente nada a ver com o sentido de “santa e pecadora” usado e abusado nos dias de hoje!

Senão vejamos; Santo Ambrósio diz o seguinte (tradução minha):

(…) esta Rahab, mulher pública enquanto figura [da Igreja], indicando o mistério da Igreja, que não recusa o comércio de muitos amantes e, quanto ao resto, é mais casta do que ela; virgem sem mancha e sem ruga (Ef. 5, 27), intacta pela pureza, plebéia pelo amor, casta mulher pública [casta meretrix], viúva estéril, virgem fecunda: mulher pública [meretrix], pois a Ela, que não tem mancha de pecado, vêm numerosos amantes atraídos por Seu amor (pois o que se une a uma mulher pública forma um só corpo com ela, 1Cor 6, 16); viúva estéril, que não sabe ser mãe na ausência do esposo – e o esposo veio e Ela gerou este povo e esta multidão -; virgem fecunda, que gerou esta multidão com os frutos do amor, mas sem experimentar o prazer.

Que surpresa: Santo Ambrósio não usa a figura da meretriz para dizer que a Igreja é pecadora, mas sim que é Ela é desejada pelos homens! Não A chama de mulher pública para censurar-Lhe de falta alguma, mas Lhe aplica a metáfora para dizer que Ela não Se recusa a ninguém! E ainda faz questão de entremear este seu discurso com as expressões clássicas que se referem à santidade da Esposa de Cristoimmaculata uirgo, sine ruga, pudore integra, sine conluuione delicti.

Como alguém pode, em consciência, evocar esta imagem para dizer que a Igreja é “Santa e Pecadora”? Como alguém ousa, sem corar de vergonha, deduzir dessa passagem que a Igreja «é uma meretriz que toda noite se entrega à prostituição; é casta porque Cristo, cada manhã se compadece dela, a lava e a ama», como fez o nosso decrépito ex-franciscano? Como, enfim, é possível honestamente sustentar que os Padres atribuíam à Igreja santidade e pecado quando A chamavam de casta meretrix?

Que ninguém se perturbe dando ouvidos a um picareta como o Leonardo Boff, pois já se provou incontáveis vezes que ele não sabe o que diz e não merece ser levado a sério. E, ao invés de apontar o dedo para a Igreja Católica, que cada um de nós nos preocupemos com os nossos próprios pecados, suficientemente reais e bastante vergonhosos. É por estes pecados que a Esposa Imaculada de Cristo faz continuamente penitência em nosso favor, e é por nossa causa que Ela é tanto acusada e perseguida injustamente.

Bento XVI em Castel Gandolfo

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Alguns dos meus leitores devem ter visto a foto acima no blog do pe. Z. É sem dúvidas uma belíssima foto, mas (ao contrário do que possa ser levado a crer quem a veja sem maiores detalhes) não é assim tão recente. Nela, Bento XVI ainda era Papa. Segundo o Catholic Press Photo, ela foi tirada em julho de 2010. Ao que parece, a primeira imagem do bispo emérito de Roma ainda é aquela que o Fratres divulgou hoje. E nesta Bento XVI não parece tão radiante assim.

Rezemos por Bento XVI. Rezemos pelos cardeais reunidos em Roma para o conclave. Rezemos pelo próximo Papa. Rezemos pela Igreja de Deus.

Chávez está morto. A Venezuela está livre.

Hugo Chávez acaba de morrer. Ou melhor: a sua morte acaba de ser oficialmente reconhecida pela Venezuela. Como quase tudo o que acontece no país vizinho, a morte do ditador venezuelano é obscura e inspira desconfiança. Em meados do mês passado, por exemplo, uma postagem no Twitter (!) no meio da madrugada (!!) anunciava o inesperado retorno de Chávez a Caracas. Sinceramente, na ocasião eu não acreditei e ainda hoje não sei se acredito; mas agora é irrelevante, porque a sua morte foi oficialmente declarada. Se foi hoje ou na(s) semana(s) passada(s), se foi em Caracas ou em Cuba, agora já não faz mais tanta diferença. Chávez está morto. A Venezuela está livre.

Será que está? O presidente eleito deveria ser empossado em janeiro. Não foi. A Justiça da Venezuela topou adiar a cerimônia por tempo indeterminado e, mesmo assim, a morte colheu Chávez antes que ele pudesse tomar posse como presidente da Venezuela. O vice não foi eleito. Teoricamente, deveriam ser convocadas novas eleições. Serão? Ainda é cedo para saber. O que dá para fazer com certeza é rezar pela Venezuela, cujo futuro desponta um pouco menos sombrio agora que El Comandante depôs a foice e o martelo em definitivo mas que, provavelmente, ainda deve reservar algumas agruras ao povo venezuelano.

Quanto a Chávez… o que dizer? Está morto. O provérbio manda não dizer dos mortos senão o bem, mas peço aqui licença ao adágio popular porque, no dia de hoje, um silêncio assim tão prolongado seria inconveniente e constrangedor. É preciso dizer pelo menos que o mini-ditador candanga não fez bem à sua pátria, que a sua tentativa medonha de ressuscitar um sistema político já morto e apodrecido lançou a política latino-americana cinqüenta anos para trás, que as suas demonstrações de Fé no final da vida são, se não falsas, pelo menos incoerentes com tudo o que ele fez antes do câncer e, aliás, até o último instante de vida não se preocupou em consertar. Isto são verdades que é dever de justiça não deixar caírem no esquecimento, no meio da comoção midiática que costuma transformar em herói impoluto todo aquele que sai do palco da História para não mais voltar.

Está morto o Chávez, e que o Deus Altíssimo tenha misericórdia dele! R.I.P., como rezamos para os católicos, pois nem mesmo alguém como o ex-presidente da Venezuela foi criado por Deus para se perder. Que ele tenha conseguido uma boa contrição antes da morte, é o que eu desejo sinceramente. E que Deus mostre compaixão para com ele e sua terra.

O homossexualismo, a genética e a moralidade dos atos humanos

Eu não assisti nem ao Silas Malafaia na Marília Gabriela (tentei, mas quando ele começou a mostrar sua declaração de Imposto de Renda eu perdi a paciência) e nem ao geneticista (de Londres?) cuja resposta ao pastor tornou-se viral pouco depois. Um amigo me perguntou à época o que eu achava da polêmica, e eu disse que era pura perda de tempo. Por uma razão bem simples: para a Moral Católica é totalmente indiferente se a tendência homossexual é inata (p.ex. “genética”) ou adquirida, porque a Moral trata dos atos humanos e estes, por definição, são aqueles realizados livre e conscientemente.

Ninguém será julgado por sentir-se sexualmente atraído por pessoas do mesmo sexo, da mesma forma que não será julgado por sentir-se atraído (digamos) pela mulher do vizinho. Em um e outro caso, só há culpa quando se passa do sentimento ao consentimento, do impulso à atitude, da tentação ao pecado. Se em um homossexual a genética explica sua disfunção da libido (que nele se dirige a alguém não do sexo oposto, como seria natural, mas a alguém do mesmo sexo), ótimo: porque aí talvez ela possa também apresentar formas de minimizar o problema. Mas isso não justifica o comportamento homossexual mais do que a compulsão genética por parceiros múltiplos justificaria o adultério. Moral não é uma questão de genes, e sim da justa ordenação dos atos humanos ao seu fim último.

Aqui é importante deixar claro duas coisas:

  1. A existência de comportamento homossexual na natureza não faz com que ele seja natural em seres humanos. Se fosse assim, então seria natural às mulheres comerem os seus próprios bebês, aos homens terem várias mulheres, às pessoas comerem fezes, à mulher praticar canibalismo após a cópula, et cetera, et cetera.
  2. Igualmente, o fato do homossexualismo ser ou não genético não define a moralidade do ato homossexual. A cleptomania pode ser genética também, assim como a pedofilia ou a satiríase, e isto – absolutamente! – não transforma em atos moralmente corretos o furto, o abuso de crianças ou o sexo desregrado.

Isto posto, para quem ainda assim quiser se aprofundar na questão genética, aproveito para recomendar este vídeo chamado “Geneticista Embusteiro” (podem acessar, é público), que consiste em uma resposta ao Eli Vieira. Como foi mostrado, para a moralidade do comportamento homossexual tanto faz que ele tenha origem genética ou não; mesmo assim, fazer picaretagem intelectual para vender uma tese furada é muito feio e precisa ser desmascarado. Assistam, baixem e divulguem o vídeo enquanto ele ainda está no ar. Para certo movimento revolucionário intolerante, histérico e pitizento, mesmo um vídeo assim é uma agressão e uma ofensa que, como tais, deve ser denunciado (e se possível censurado).

Porque não usar a expressão “Papa Emérito”

Com a devida vênia, não gosto da expressão “Papa emérito” e imagino que não a devamos empregar para se referir a Bento XVI. Ao contrário, penso que “Bispo Emérito de Roma” é suficientemente descritivo e deve ser preferido àquela.

A razão é simples: “Papa Emérito” me parece uma imprecisão terminológica. O adjetivo “emérito” implica em conceder ao que o detém algumas características ou privilégios do substantivo ao qual ele se refere. Um “bispo emérito” continua sendo bispo, e aqui a expressão se justifica; um “Papa emérito” não é Papa sob nenhuma circunstância, e aqui chamá-lo assim induz ao erro.

Logo após a renúncia de Bento XVI ter sido anunciada, ZENIT publicou uma interessante reportagem do [padre?] Manuel Jesus Arroba, dizendo que um Papa Emérito não podia existir. A justificativa dada pelo professor de Direito Canônico da Lateranense é esta: «Juridicamente só existe um Papa. Um “papa emérito” não pode existir: o cargo ocupado por ele é supremo, ou seja o mais alto em responsabilidade». Poucos dias depois, o anúncio de que Bento XVI seria Papa Emérito pegou a todos de surpresa e – alguém poderia dizer – fez o professor da Lateranense morder a língua. Eu penso que não.

Porque o sentido em que se pode chamar Bento XVI de “Papa Emérito” é um sentido todo particular, sui generis, e justamente por isso eu penso que ele deveria ser evitado. Dizer “Emérito” a Sua Santidade é dizer, simplesmente, que ele fora Papa e agora já não é mais; ao contrário dos outros casos, aqui não cabe falar em nenhum privilégio próprio do ministério petrino que Bento XVI tenha mantido após renunciar. O Papado não é como o Sacramento da Ordem, que imprime caráter indelével na alma de quem o recebe: um bispo validamente ordenado nunca deixa de ser bispo, mas um Papa validamente eleito pode deixar de ser Papa caso renuncie. Os dois casos não são nem minimamente análogos e, portanto, chamar a um e a outro de “emérito” é insinuar um paralelismo totalmente descabido.

Parece que João Paulo II teria dito não haver “lugar na Igreja para um papa emérito”, e penso que ele tinha razão. Não sei quem determinou que Bento XVI fosse chamado de “Papa Emérito”; e quando a notícia saiu eu pensei simplesmente em ignorá-la. No entanto, tenho visto da semana passada pra cá muitos usos da expressão, o que – pelas razões que expus acima – pode confundir. Assim, convido a todos a usarem outra forma de se referir àquele que foi Papa e ainda está vivo: simplesmente “Bento XVI” ou mesmo “o bispo emérito de Roma, Bento XVI”. A expressão é um pouco mais longa, mas é mais rigorosa e mais precisa – e por isso vale a pena usá-la.

O trono está de novo vazio…

Chegou o dia terrível, chegou a hora ingrata. O Sólio Pontifício está vacante, a Cátedra de Pedro está desocupada, o Trono do Vigário de Cristo está vazio. Esta sedevacância é diferente das demais, pois irrompe na História com dia e hora marcados; mas nem por isso ela é menos triste, e nem por isso nós, católicos, deixamos de senti-la.

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O glorioso pontificado de Bento XVI está agora definitivamente encerrado. No meio da Quaresma de 2013, o Papa nos deixa. Diz ele que fica conosco, porque vai subir ao monte para rezar; mas o mesmo não se pode dizer dos outros pontífices que, colhidos pela Morte, foram instados a se apresentar diante de Deus e, de lá, passam a interceder pela Igreja que tiveram a honra e a responsabilidade de conduzir nesta terra? Diz Bento XVI que fica conosco, e é verdade; mas não estivemos sempre unidos a todos os Papas santos do passado por meio do Corpo Místico de Cristo, por meio daquela Comunhão sagrada à qual a morte não impõe limites e com a qual o tempo não faz fronteiras? E, mesmo assim, vestimo-nos de luto quando a Santa Sé está vacante! Também hoje, portanto, estamos enlutados, mesmo que Bento XVI ainda esteja neste mundo conosco. Também hoje nos constrange e machuca a imagem do Trono Vazio. Também hoje temos direito às lágrimas, à tristeza, a nos sentirmos órfãos.

É a primeira Sé Vacante do Deus lo Vult!, mas já é a segunda da minha relativamente curta vida. Dentro em breve, já poderei dizer que vivi sob três papas; e, ditas as coisas dessa maneira, parecem-me muitos. Seria naturalmente utópico imaginar que isso não fosse acontecer em breve: afinal, Bento XVI já vai completar 86 anos, e quando ele renunciou já era mais velho do que João Paulo II quando morreu. Mas uma coisa é o futuro antevisto e, outra, é a sua metamorfose em presente; uma flecha que nós conhecemos vem mais lenta, como Dante diz n’O Paraíso, e é verdade, mas nem por isso os ferimentos que ela provoca em nós são menos reais.

A Sé de Pedro está vazia, e agora precisamos suplicar ao Altíssimo que envie depressa um homem para ocupá-la. Que nos conceda o quanto antes um outro pastor. Que nos dê com presteza outro capitão para guiar a Nau da Igreja. Agora, mais do que nunca, precisamos rezar pelo conclave que se avizinha! Neste sentido, é extremamente louvável esta iniciativa de alguns amigos de criar um site para incentivar as orações pela escolha do próximo Papa, à qual eu remeto os meus leitores através deste link. Se a Quaresma já é em si mesma tempo especialíssimo de oração, os próximos dias nos obrigam a rezar de maneira redobrada. Os Príncipes da Igreja nos darão em breve um Rei. Que eles possam ser dóceis às inspirações do Espírito Santo, e que o próximo Papa tenha a força e a coragem necessárias para dar continuidade ao terrível combate que Bento XVI soube conduzir com tanta galhardia. Que, sob seu comando, a Igreja Militante possa se lançar com zelo e ferocidade sobre os inimigos de Deus, para a Sua maior glória e a salvação das almas. Que os Infernos tremam à vista da Esposa de Cristo resplandecente na figura de um Papa valoroso, seguido de perto pelos que somos servos e servas de Deus. Que Deus proteja a Sua Igreja. Que Ele nos conceda dias brilhantes logo à frente.