Não, Bento XVI não fracassou como papa

Um pouco instigado pela curiosa peculiaridade intelectual de um comentarista do blog que conseguiu a proeza de recomendar um texto de um autor que acabara de desqualificar, peço licença aos meus leitores para voltar um pouco ao Pondé. Um outro leitor, por email, já me solicitara algumas considerações sobre o mesmo texto; de modo que, tecendo-as agora, procuro atender a ambos.

O texto em questão, que se pretende uma “Análise” do atual pontificado, defende a tese de que Joseph Ratzinger «é brilhante como teólogo, mas fracassou como papa». A análise é terrivelmente injusta e já o digo o porquê; antes, porém, duas palavras sobre o articulista. Não concordo que o Pondé seja simplesmente “do contra”, como foi comentado aqui; parece-me, isto sim, que os seus textos são via de regra pessimistas. Isto não é de per si um demérito; apenas exige um pouco de contraponto, a fim de que a compreensão da realidade não fique prejudicada pelo único viés negativo a partir do qual o colunista costuma escrever os seus textos. Ainda: ser pessimista não implica em ser superficial. Ser levianamente “do contra” é uma invectiva que de modo algum merecem os textos do Pondé, ao menos não os que eu já li e comentei aqui.

Sem mais delongas, ao texto. Não posso concordar mais com o articulista quando ele fala que «Bento 16 foi um duro crítico da ideia de que a igreja deva aceitar soluções modernas para problemas modernos»; ao mesmo tempo, contudo, quando ele fala que «[s]ua ideia de igreja é a de um pequeno grupo coeso de crentes, fiéis ao magistério da igreja (conjunto de normas para condução moral da vida), distante das “modas moderninhas”», não posso discordar mais dele.

Por diversas razões. Primeiro porque o Papa não tem nenhuma “idéia” eclesiológica diferente das diversas definições de “Igreja” que o Magistério multissecular legou à humanidade – e, portanto, em se tratando do Papa Bento XVI, falar em “idéia de Igreja” é até incorreto.

Segundo, porque a referência ao “pequeno grupo coeso de crentes” é recorrente em Ratzinger e não tem, absolutamente, o sentido que Pondé lha dá. Ela aparece, p.ex., n’O Sal da Terra e em Dios y El Mundo (excerto aqui, pág. 43), sempre contraposta à noção de “Igreja de massas” e sempre como constatação do fenômeno moderno da diminuição do número de cristãos no mundo – nunca como um ideal a ser buscado ou um “modelo” de Igreja a ser perseguido.

Terceiro, porque a fidelidade ao Magistério é conditio sine qua non para se pertencer à Igreja, quer se esteja falando de Igreja de massas, quer de minorias. Isto não é uma “visão” ou uma “idéia” exclusiva do Papa Bento XVI, é uma decorrência necessária do significado de “Igreja” dentro do Catolicismo. Não existe e nem pode existir Igreja de outra maneira.

Quarto, porque o Magistério não se refere somente à forma como se deve agir (= “conjunto de normas para condução moral da vida”), mas também e principalmente àquilo em que se deve crer. Sem fazer referência sequer remota à Fé, o articulista induz o leitor a cair na velha dicotomia entre ortodoxia e ortopráxis – ironicamente, tendo sido esta última condenada pelo próprio Cardeal Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, na sua famosa Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação.

Por fim, quinto, porque o “distante das modas moderninhas” que o Pondé emprega para dizer como os cristãos (na alegada visão do Papa!) deveriam agir passa uma forte impressão de sectarismo ou de fuga do mundo, e nada pode ser mais contrário ao Catolicismo do que isso. Os fiéis, embora obviamente devam evitar as más práticas do mundo (do moderno, do renascentista ou do medieval, tanto faz), devem ser para este o fermento que leveda a massa e não têm o direito de se furtar a esta missão. É isso o que diz o Cardeal Ratzinger no Dios y El Mundo citado, falando exatamente sobre a igreja “pequena”:

A Igreja não pode ser um grupo fechado, auto-suficiente. Devemos, sobretudo, ser missionários, no sentido de voltar a propor à sociedade aqueles valores que são os fundamentos da forma legal que a sociedade deu a si mesma, e que estão na base da própria possibilidade de construir qualquer comunidade social verdadeiramente humana. A Igreja continuará a propor os grandes valores humanos universais.

Isto, sim, é o que pensa o Papa Bento XVI – não o que o Pondé resumiu em três linhas que, lidas em si mesmas, chegam às raias da falsificação do pensamento alheio. E, compreendidas as coisas da forma como o Papa as compreende, desaparece o modelo de Igreja fadado ao fracasso ao qual a análise da Folha induzia o leitor desatento. Porque o Papa, diferentemente do Pondé, exala em tudo o que diz o doce e revigorante odor do otimismo cristão.

Sobre a dificuldade do Papa em fazer a Doutrina Católica chegar límpida e pura aos fiéis católicos, o colunista da Folha acerta em cheio ao culpar o “fogo amigo” dos sacerdotes – padres e bispos, em geral. Está certíssimo: a Igreja está repleta de sabotadores internos, que dedicaram os últimos anos a dificultar enormemente o trabalho do Papa Bento XVI. Ao contrário do que insinua o Pondé, no entanto, os fiéis não têm papel significativo neste processo diabólico de boicote doutrinário. Embora eles sejam em sua maioria de «países pobres», disto não segue que estejam «mais próximos de um discurso contaminado pelas teorias políticas de esquerda» – a menos, é claro, que não se esteja falando de uma predisposição sócio-cultural, e sim da mera proximidade dos líderes demagogos de plantão.

O que uma análise mais acurada dos fatos nos mostra é que o êxodo católico no Terceiro Mundo é diretamente proporcional à cantilena marxistóide que substituiu o gregoriano nas nossas igrejas. Os católicos militantes – mesmo aqueles de “países pobres”, e talvez até principalmente estes de países pobres – não suportam o Evangelho falsificado que sói ser hoje em dia pregado nos nossos púlpitos. Nada mudou nesta Terra de Santa Cruz: hoje, como à época do pe. António Vieira, é por culpa dos pregadores que a palavra de Deus não dá fruto nem mesmo nesta abençoada terra em que se plantando tudo dá.

Por fim, sobre os seminários, o Pondé tem toda razão em denunciar o estado lastimável em que eles se encontram, mas comete um enorme erro de perspectiva ao omitir o fato de que, com toda a desgraça, nós estamos hoje incomparavelmente melhores do que há vinte ou trinta anos. Trata-se, mais uma vez, do idiossincrático pessimismo do autor, que o impede de ver os inegáveis avanços concretos que obtivemos nesta questão da educação católica.

É somente este pessimismo, aliás, que o leva a sentenciar que «o papado de Bento 16 fracassou». Ora, mesmo sem considerar as coisas abertamente históricas que ocorreram neste pontificado – a liberação da Missa Tridentina, o levantamento das excomunhões dos bispos da FSSPX, o Ordinariato erigido para os anglicanos -, é forçoso reconhecer que Bento XVI obteve silenciosos sucessos administrativos cuja contribuição para a Igreja será fundamental nos próximos anos: coisas como a demissão de dezenas de bispos, o enfrentamento da pedofilia, a reorganização da Caritas Internationalis, as leis sobre transparência financeira, a transferência dos seminários para a jurisdição da Congregação para o Clero, etc. Como se pode ver, trata-se de um pontificado extraordinariamente profícuo! Sob que ótica é possível dizer que ele “fracassou”? Queríamos, porventura, que todos os chefes de Estado do mundo fossem em romaria ao Vaticano para, de joelhos, jurar vassalagem ao Vigário de Cristo da Terra? Esperar mais do que efetivamente foi feito por Bento XVI não seria um idealismo utópico demais, totalmente irreal dentro das atuais conjunturas?

A provocação final do Pondé é deliciosa, quando ele se refere à Igreja como quem pensa que a vida é «mais do que conforto, prazer e liberdade pra transar com quem quisermos e quando quisermos». Mas a imagem da «Igreja [que] agoniza diante de um mundo que cada vez [Lhe] é mais opaco» é de uma retórica apocalíptica caricata extremamente dispensável. No final das contas, descontados os exageros do texto, é-nos possível vislumbrar um quadro muito mais promissor e reconfortante do que aquele que o Pondé nos pintou originalmente. Oxalá o professor de Filosofia possa perceber a seletividade da sua análise e chegar a uma visão mais equilibrada – e justa! – do que realmente significou, para a Igreja e para o mundo, este pontificado de Bento XVI.

Dois textos de não-católicos sobre a renúncia do Papa

Para mostrar que é possível não ter Fé e, mesmo assim, escrever sobre a renúncia do Papa com erudição e compostura, sem cair na mediocridade anti-clerical dominante dos nossos dias. O Pondé é de origem judaica e eu não sei se segue algum culto específico; o Jacques Le Goff, eminente medievalista francês, é agnóstico.

– Vale a pena ler o Pondé. Dê-se-lhe um desconto, que ele não é católico; releve-se-lhe a irreverência, que aliás já esteve muito pior. Retenha-se somente o que é bom: particularmente, a insuspeita admiração elogiosa dirigida à Igreja como um todo e, em específico, ao Papa Bento XVI. Excerto:

Estudei anos num colégio jesuíta. Graças aos padres aprendi a coragem intelectual, o gosto pelas letras, o valor da liberdade religiosa, o esforço de pensar de modo claro e distinto, o respeito pelas meninas, ao mesmo tempo em que crescíamos num ambiente no qual Eros nunca foi demonizado; enfim, só tenho coisas boas para dizer sobre meus anos de escola jesuíta.

Cresci numa escola na qual, durante a semana, discutíamos como um “mundo mau” pode ter sido criado por um Deus bom. No final de semana, íamos à praia todos juntos, dormíamos lá, meninos e meninas, em paz, namorando, e enchíamos a cara. Noutro final de semana, o mesmo grupo ia a favelas ajudar doentes.

Tive, numa pequena amostra, uma prova do enorme papel civilizador da igreja e do cristianismo como um todo no mundo.

– Vale também muito a pena ler Le Goff (encontrei via O Camponês). Remeto à íntegra da entrevista (que aliás é pequena), sem comentar nada. Apenas cito:

Pessoalmente, [o trono vazio] não é uma imagem que me toca muito, mas é importante para uma religião: ela mostra que, mesmo que a religião não tenha uma cabeça humana para mostrar, há sempre o trono que simboliza a existência de um rei no céu, Deus. Consequentemente, o trono vazio é o símbolo da continuidade. Ele é um dos atout do cristianismo, que sempre evitou as rupturas e para o qual a única ruptura foi a encarnação de Jesus. Pode haver crises, reviravoltas, catástrofes, mas o trono de Deus está sempre lá. Essa eterna associação entre a mudança e a continuidade, encarnada pelo trono vazio, é uma das virtudes do cristianismo.

“Vale mais a alma de cada um de nós que todo um mundo” – pe. António Vieira

[Ah, o pe. António Vieira, sempre extraordinário! Ontem, após ouvir a Missa do Primeiro Domingo da Quaresma, encontrei-me por acaso numa livraria e topei com uma edição dos sermões do nosso conhecido orador. Aproveitando o ensejo, reli o sermão de ontem, de cuja leitura guardava boas recordações. Pois, para minha alegria, o prazer da releitura sobrepujou – em muito! – a lembrança guardada! Aqui, um pequeno excerto, para que aprendamos a dar valor à nossa alma. É Quaresma, uma Quaresma histórica, que pode muito bem ser a última de nossa vida. Vivamo-la bem!]

Vem cá, demônio, outra vez. Tu sábio? Tu astuto? Tu tentador? Vai-te daí, que não sabes tentar. Se tu querias que Cristo se ajoelhasse diante de ti, e souberas negociar, tu o renderas.

Vais-lhe oferecer a Cristo mundos? Oh! que ignorância! Se quando lhe davas um mundo, lhe tiraras uma alma, logo o tinhas de joelhos a teus pés. Assim aconteceu. Quando Judas estava na Ceia, já o diabo estava em Judas: Cum jam diabolus misisset in cor ut traderet eum Judas. – Vendo Cristo que o demônio lhe levava aquela alma, põe-se de joelhos aos pés de Judas, para lhos lavar, e para o converter. Tá, Senhor meu, reparai no que fazeis: não vedes que o demônio está assentado no coração de Judas? Não vedes que em Judas está revestido o demônio, e vós mesmo o dissestes: Unus ex vobis diabolus est? – Pois, será bem que Cristo esteja ajoelhado aos pés do demônio? Cristo ajoelhado aos pés de Judas, assombro é, pasmo é; mas Cristo ajoelhado, Cristo de joelhos diante do diabo? Sim. Quando lhe oferecia o mundo, não o pôde conseguir; tanto que lhe quis levar uma alma, logo o teve a seus pés. Para que acabemos de entender os homens cegos, que vale mais a alma de cada um de nós que todo um mundo.

As coisas estimam-se e avaliam-se pelo que custam. Que lhe custou a Cristo uma alma, e que lhe custou o mundo? O mundo custou-lhe uma palavra: Ipse dixit, et facta sunt – uma alma custou-lhe a vida, e o sangue todo. Pois, se o mundo custa uma só palavra de Deus, e a alma custa todo o sangue de Deus, julgai se vale mais uma alma que todo o mundo. Assim o julga Cristo, e assim o não pode deixar de confessar o mesmo demônio. E só nós somos tão baixos estimadores de nossas almas, que lhas vendemos pelo preço que vós sabeis.

Pe. António Vieira,
Sermão da Primeira Dominga da Quaresma – 1653

Promoção da Cultura da Vida na JMJ 2013!

Gostaria de solicitar a atenção de todos para a iniciativa abaixo. Trata-se de um projeto – idealizado por alguns jovens voluntários da JMJ 2013 – de confeccionar um pequeno “kit” pró-vida a ser colocado nas mochilas dos peregrinos que virão ao Rio de Janeiro para a próxima Jornada Mundial da Juventude. A descrição mais detalhada da proposta está aqui.

kitprovidaO kit é muito simples, e consiste apenas em uma réplica (em plástico) de um ser humano às 12 semanas de gestação e um folheto explicativo (em três idiomas) sobre o início da vida humana e a importância de que ela seja defendida desde a concepção. Cada kit (réplica + embalagem + folder + mão de obra) custa R$ 0,91 – isto mesmo, noventa e um centavos. Queremos confeccionar um milhão de kits. Como os idealizadores infelizmente não dispõem de recursos financeiros para tanto, precisam contar com a generosidade dos católicos para transformar este projeto em realidade.

A iniciativa foi recentemente divulgada em Brasília, durante o Carnaval. O Deus lo Vult! apóia com entusiasmo esta campanha. Tenho certeza de que todo mundo que está lendo este blog pode doar (ao menos!) um real e fazer com que (ao menos!) um jovem peregrino receba uma mensagem pró-vida. Tenho certeza de que pode também divulgar este projeto entre os seus amigos e familiares, a fim de angariar mais colaboradores. E, por último e mais importante, tenho certeza de que pode colocar o êxito desta campanha em suas orações pessoais, a fim de que o Espírito Santo possa abençoar esta e as demais iniciativas pró-vida que se multiplicam mundo afora.

Foi criada uma conta específica (do Banco do Brasil) para receber estas doações, que infelizmente não poderá ser deduzida do Imposto de Renda (terá que ser feita com totais desapego e desinteresse mesmo – o que é bom, pois a torna mais meritória!). Segue abaixo:

BANCO DO BRASIL
Agência: 3476-2
Conta: 222589-1
Nome: ASS NAC PRO VIDA PRO FAM
CNPJ 38.050.944/0001-48

A seguir, a mensagem oficial da campanha que recebi por email. Peço a ajuda e o empenho de todos: rezem, contribuam e divulguem!

* * *

Olá! Como vai?

A Jornada Mundial da Juventude se aproxima e temos a expectativa de mais de 4 milhões de participantes vindos de todo o mundo. E se pudéssemos semear a cultura da vida em seus corações? Não seria maravilhoso ver uma sociedade renovada pelo amor e respeito à vida desde a concepção?

Enviamos este email para apresentar-lhe uma proposta de valorização da vida que consiste na confecção de um kit formado por uma embalagem; uma réplica – em plástico PVC – de pessoa humana com 12 semanas de gestação (com tamanho e detalhes reais); e um folder explicativo em três idiomas (inglês, espanhol e português).

Para a realização desse projeto, conseguimos o valor de custo de R$0,91 a unidade. Por menos de um real você conscientizará um peregrino! É animador ver que muitos bebês serão salvos do aborto por causa desse jovem conscientizado, onde quer que ele esteja.

Contamos com a sua intercessão, a sua divulgação e a sua doação para que essa missão possa se concretizar. Não há limites: o quanto a sua realidade financeira permitir! Cada doação será multiplicada na partilha e na ação Divina. Imagine a alegria de chegar à Eternidade e encontrar pessoas salvas pela sua doação!

Faça sua colaboração depositando o que lhe for tocado ao coração na conta especificada abaixo. Agradecemos imensamente sua generosidade!

BANCO DO BRASIL
Agência: 3476-2
Conta: 222589-1
Nome: ASS NAC PRO VIDA PRO FAM
CNPJ 38.050.944/0001-48

Para mais informações, visite: www.escolheavida.com.br

“Não vos conformeis com nada menos do que Cristo” – obrigado, Bento XVI!

Dizem que nós passamos por cinco estágios quando experimentamos uma perda. Na última segunda-feira, dia de Nossa Senhora de Lourdes, quando acordei e soube que o Papa havia renunciado, pude entender isso um pouco melhor.

Praticamente não tive tempo de passar pelo estágio da negação: a internet é implacável. O Papa renunciou: a gente encontra a notícia num comentário do blog, no instante seguinte chega à nota em português da Rádio Vaticana (cujo site – pensamos ainda! – pode ter sido hackeado…), vai no Google e vê o mesmo dito no site da Santa Sé (com um vídeo inclusive), abre o email e percebe que está todo mundo falando disso. Não dá tempo de negar: sim, é verdade, é terrivelmente verdade. Não leva um mísero minuto para o confirmar em definitivo. Neste momento difícil, nem mesmo à dúvida nós temos direito.

Aqui é difícil organizar as idéias. No estágio da raiva, eu provavelmente seria injusto se escrevesse alguma coisa aqui. Afinal, há seiscentos anos que um Papa não renunciava e, obviamente, há alguma boa razão para isso: como apontou muito pertinazmente um amigo por email, o Papa é o Pai dos católicos, e um pai não renuncia jamais. Muitos Papas deixaram-se morrer Papas, e seria mesquinho imaginar que eles não passaram pelas agruras da idade avançada que, hoje, Bento XVI invoca como razão para apresentar a Grã Renúncia. Os Papas morrem Papas, e isso não é por acaso: a figura paterna neles encarnada não é objeto de escambo, de vil utilitarismo impessoal como se a Igreja fosse simplesmente uma grande máquina cujas engrenagens podem ser intercambiadas sem prejuízo do seu funcionamento.

E ainda há tanto por fazer! Não é justo interromper agora a obra de restauração da Igreja de Deus; o Altíssimo é Aquele que não deixa inacabadas as Suas obras e, portanto, não deveria ser lícito ao Seu maior servo fazer aquilo que o seu Senhor é conhecido precisamente por não fazer. Ainda há muito por ser feito, e a convocação de um conclave agora introduz um risco de ruptura no governo da Igreja do qual, no meio da guerra, nós não estamos em condições de nos dar ao luxo. João Paulo II foi Papa por vinte e sete anos, até o último esgar de dor, até a última respiração sôfrega; Bento XVI não está nem perto disso. Poderia perfeitamente ficar por mais tempo.

À fase da raiva segue-se a da barganha, que aqui se transforma meramente em auto-repreensão: eu devia ter rezado mais, ter jejuado com mais constância, ter feito maiores penitências, ter passado mais tempo de joelhos diante de Nosso Senhor Sacramentado; em suma, eu devia ter feito alguma coisa porque, se eu o tivesse feito, Deus teria me ouvido e o Papa ainda seria Papa. Bento XVI pediu-me expressamente para que eu rezasse por ele, a fim de que ele não fugisse por medo dos lobos: eu não rezei e, por minha culpa, propter peccata mea, agora ele está fugindo e nos abandonando.

Abandonando-nos! O declive da auto-repreensão à depressão é óbvio e por ele se vai em um átimo. Aqui não convém demorar-se, que é pecado contra a virtude teologal da Esperança. Apenas registro a sensação de abandono, a impressão de que tudo está perdido, o sabor amargo da derrota que já se pode entrever sob o vão da porta, a dor de ter sido tudo em vão.

Mas Deus é o dono da Sua Igreja e, portanto, não pode ter sido tudo em vão. Aqui a aceitação começa a desabrochar, aqui a dor já começa a dar lugar à serenidade. O Papa não está nos abandonando; na verdade, ele fez tudo o que poderia fazer, e ninguém tem envergadura moral para lhe interpelar e dizer-lhe que retome a cruz sobre seus ombros e continue a subida do Gólgota até o Calvário definitivo. Porque, na verdade, a Cruz sempre esteve em seus ombros, e é somente a nossa miopia sobrenatural que nos impede de perceber esta obviedade.

Lembro-me do último conclave, do primeiro conclave dos meus vinte e muitos anos. Estava na faculdade, e a televisão ligada mostrava a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina. Esperei um pouco para ver o anúncio do novo Pontífice, e logo após ouvi pela primeira vez o “Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger” que me fez vibrar tão profundamente já então e pelos próximos oito anos. Lembro-me com clareza das palavras do Pontífice recém-eleito: un semplice e umile lavoratore nella vigna del Signore. Lembro-me, inclusive, do que pensei à época: claro que era falsa modéstia, claro que ele estava proferindo meramente um discurso protocolar, claro que ele estava só repetindo o que as pessoas esperavam que um Papa dissesse.

Os anos se encarregaram de mostrar que eu estava enganado, terrivelmente enganado, e hoje não me é permitido ter nenhuma dúvida de que o velho Joseph Ratzinger sempre se considerou, verdadeiramente, um simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor, que ele parece não ter a menor consciência da própria genialidade absolutamente insubstituível. A verdade é que o professor de teologia não queria outra coisa que não lecionar na obscuridade incógnita de alguma sala de aula empoeirada.

E eu penso entendê-lo. Li em algum lugar esta excelente metáfora: Ratzinger só queria dar aulas, mas Deus quis que o mundo inteiro fosse a sua sala de aula. Penso que talvez ao velho professor alemão incomode a sua autoridade pontifícia, como penso que deve incomodar a qualquer professor outra obrigatoriedade de ouvi-lo que não a da própria verdade que ele deseja ensinar. Mas ele engoliu o seu incômodo e ensinou-nos; por oito anos nos ensinou a amar a Cristo! Isto é um sacrifício quotidiano que não se pode olvidar.

Li muitas coisas ao longo da semana, e talvez um dos textos que mais me tocou foi este aqui. Há uma sua tradução para o português no Facebook, da qual me utilizo para a seguinte citação:

Mas agora sei, senhor Ratzinger, que vivo em um mundo que vai sentir falta do senhor. Em um mundo que não leu seus livros, nem suas encíclicas, mas que em 50 anos se lembrará como, com um simples gesto de humildade, um homem foi Papa, e quando viu que havia algo melhor no horizonte, decidiu partir por amor à sua Igreja. Vá morrer tranquilo senhor Ratzinger. Sem homenagens pomposas, sem um corpo exibido em São Pedro, sem milhares aclamando aguardando que a luz de seu quarto seja apagada. Vá morrer, como viveu mesmo sendo Papa: humildemente.

E percebo que é verdade. Alguém classificou Bento XVI como o Papa do básico da Fé Cristã, e a análise não é injusta. Estive com o Papa na última JMJ. Do discurso que ele não pronunciou em Cuatro Vientos por causa da chuva, recolho esta simples sentença que, pra mim, resume muito o pontificado do Papa teólogo:

Queridos jovens, não vos conformeis com nada menos do que a Verdade e o Amor, não vos conformeis com nada menos do que Cristo.

Simples e básico, mas nem por isso menos verdadeiro. Nem por isso menos importante. De repente, percebo que as pessoas não precisam ser extraordinárias para serem insubstituíveis, e o que vai fazer mais falta ao mundo será o jeito sereno e didático de Bento XVI falar as verdades mais básicas, das quais o mundo moderno anda ensandecidamente esquecido. De repente, percebo que a renúncia do Papa não tem nada de inusitada, muito pelo contrário até: está perfeitamente de acordo com o estilo do professor da Baviera, cuja genialidade noto decorrer precisamente da pouca conta em que ele tem a si próprio.

Sim, o velho alemão não subiu ao sólio pontifício para ser nosso Rei: apenas sentou-se na cátedra de Pedro para nos dar uma lição de amor a Deus. E levanta-se dela agora que a aula está terminada exatamente porque sabe que a lição é mais importante do que o professor, e não pode correr o risco de que os seus alunos se esqueçam disso. Na verdade, esta renúncia final é parte integrante do seu ensinamento, sem a qual ele não estaria completo. Por mais que Bento XVI seja grande, Aquele de quem o Papa é vigário é muito maior do que ele. Afinal, maldito é o homem que confia no homem, mesmo que este homem seja Joseph Ratzinger. À luz de tudo isso, é claro que o Sumo Pontífice não está fugindo de sua missão, antes a está consumando com uma fidelidade perturbadora. O Papa não deita a cruz ao chão para que outro a carregue, muito pelo contrário: acrescenta-lhe o peso da incompreensão e do ostracismo. Impossível negar o valor sobrenatural deste último sacrifício.

O referido modelo de Kübler-Ross termina no estágio da aceitação, mas a Fé Cristã nos impele a transcender este caminho natural. Ouso ir além e proclamar um outro estágio, talvez incompreensível para os homens modernos, mas que o Cristianismo chega a exigir: o estágio da gratidão. Impossível não volver os olhos para o velho Papa dessa maneira.

Obrigado, Santo Padre, por nos ter aceitado como seus alunos. Obrigado por ter consumido os últimos anos na luta quotidiana contra a sua natureza introspectiva, a fim de ser para nós o que Deus o chamava a ser. Obrigado por nos ter falado de Deus mais do que merecíamos escutar, e com a simplicidade insistente que mesmo a nossa cegueira era capaz de entrever. Obrigado por ter tantas vezes escondido a própria excelência, a fim de que a Fé resplandecesse com mais vigor. Obrigado, ainda, por nos deixar, a fim de que revigoremos a nossa Esperança; obrigado por passar a férula papal, a fim de que seja conhecido Quem, afinal, é o verdadeiro Guia da Igreja de Cristo. Obrigado, enfim, por toda uma vida dedicada a Deus e à Sua Santa Igreja, em agradecimento pela qual a tristeza que hoje nos provoca a sua renúncia é talvez o testemunho mais sincero que podemos prestar.

Obrigado, Bento XVI. O incomensurável bem realizado por Vossa Santidade ao longo dos últimos oito anos já reverbera na Eternidade, à cuja Luz eu rogo à Virgem Santíssima que não o cesse de conduzir jamais.

FAQ – A renúncia de Bento XVI

– É verdade que o Papa Bento XVI renunciou?

Sim, é verdade. No último domingo, 10 de fevereiro, reunido em consistório com os cardeais, Bento XVI anunciou a sua decisão de renunciar ao ministério petrino.

– Mas peraí, e Papa pode renunciar?

Sim, pode. O Papa é perfeitamente soberano na Igreja de Deus, inclusive para abdicar do papado.

– O que diz o Direito Canônico sobre a renúncia do Papa?

O Código é lacônico. Falando sobre os privilégios, diz que «[q]ualquer pessoa física pode renunciar ao privilégio concedido exclusivamente em seu favor» (Cân. 80 §2) e, sobre ofícios, que «[q]ualquer pessoa no uso da razão pode, por justa causa, renunciar ao ofício eclesiástico» (Cân. 187). A mim não me parece, s.m.j., que haja alguma razão para que o mesmo não se aplique para o privilégio petrino e para o ofício de Bispo de Roma.

– Isso já aconteceu antes?

Aconteceu umas três ou quatro vezes na história da Igreja, mas nenhum Papa renunciava há uns seiscentos anos. O caso mais famoso é o de São Pedro Celestino, que renunciou em 1294.

– Por que Bento XVI renunciou?

Deixemos que o próprio Papa responda: porque «no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado».

– Esta é a razão verdadeira? Simples assim? Não há nenhuma causa mais oculta?

Por mais que sejamos instintivamente afeitos a teorias da conspiração, nada nos autoriza a levantarmos especulações infundadas aqui. A Igreja está em guerra terrível e o Papa entendeu que, nestas condições, Ela precisa ser comandada por um general mais vigoroso. Simples assim.

– Como você pode ter tanta certeza?

Bom, se não fosse suficiente o simples fato dessas terem sido as exatas palavras do Papa, há também o dado de que, já há muito tempo, Bento XVI vinha dando indícios de que iria renunciar.

– Que indícios?

Por exemplo, quando ele em 2012 visitou a tumba de São Celestino (o Papa que renunciou em 1294, lembra?), deixou o seu próprio pálio sobre o túmulo do santo. Além disso, no famoso livro-entrevista com o jornalista Peter Seewald (A Luz do Mundo), Bento XVI já dissera que «[q]uando um Papa chega à clara consciência de já não se encontrar em condições físicas, mentais e espirituais de exercer o encargo que lhe foi confiado, então tem o direito – e, em algumas circunstâncias, também o dever – de pedir demissão» (apud Pe. Paulo Ricardo). Mais ainda: o jornalista italiano Antonio Socci garantiu que isto não era uma notícia secreta pelo menos desde meados de 2011 (original aqui). Não há espaço, portanto, para teorias da conspiração.

– Mas não existe nenhuma maneira de uma renúncia ser inválida?

Sim, existe. O Código determina que «[a] renúncia apresentada por medo grave, injustamente incutido, por dolo ou erro substancial ou feita simoniacamente, é inválida pelo próprio direito» (Cân. 188). Como visto, nada disso se aplica ao caso atual.

– E especificamente sobre o Papa, o Código de Direito Canônico não diz nada mais específico?

Sim. No caso específico do Papa, o parágrafo segundo do cânon 332 diz o seguinte: «Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém».

– O que isso quer dizer?

Quer dizer que, ao contrário das renúncias (p.ex.) dos bispos, que precisam ser aceitas pelo Papa para surtirem efeito, a renúncia do Papa não necessita ser aceita por ninguém. Ela vale por si só, bastando para isso que “seja feita livremente” e “devidamente manifestada”. Estas duas condições cumpriram-se no consistório do último domingo.

– Então a Igreja já está sem Papa?

Não. O Papa deu data e hora para a sua renúncia: disse expressamente que apenas «a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante».

– Ou seja, ele anunciou a sua renúncia mas ainda não renunciou de fato, é isso?

É, é mais ou menos isso. É como se fosse uma determinação legal com data futura para entrar em vigor.

– Então Bento XVI permanece integralmente Papa, com a totalidade dos seus poderes, até o dia 28 de fevereiro?

Sim, Bento XVI ainda é o Papa gloriosamente reinante, no pleno exercício dos seus poderes, até o dia 28 de fevereiro.

– Ou seja, se Bento XVI quiser voltar atrás e “des-renunciar”, ele pode né?

Tecnicamente pode, o Direito diz que «[a] renúncia, enquanto não tiver surtido efeito, pode ser revogada pelo renunciante» (Cân. 189, §4). Mas ele não vai fazer isso.

– Por que não?

Porque seria leviano e inconseqüente ao extremo. Ninguém pode tomar uma decisão dessa magnitude, anunciá-la em público para, uma semana depois, dizer que mudou de idéia. E, de leviandade, ninguém pode acusar o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e hoje Papa Bento XVI.

– E agora, o que acontece? Quem governa a Igreja?

Até o próximo dia 28 de fevereiro, Bento XVI governa a Igreja. Depois disso, seguem-se os procedimentos normais para o caso de Sé Vacante.

– Que procedimentos são esses?

A cessação da atividade da Cúria, a formação das comissões cardinalícias que irão preparar o conclave, etc. Trata-se, em suma, daquelas disposições que foram dadas por S.S. João Paulo II na Universi Dominici Gregis, com bem poucas mudanças (o pe. Z. fala, p.ex., que como não houve morte do Pontífice anterior então não haverá os Novemdiales, e portanto o conclave pode começar mais cedo).

– Bento XVI vai votar no conclave?

Não, o Papa Bento XVI já tem 85 anos e, portanto, não é mais cardeal-eleitor.

– Mas pode ser votado? Os cardeais-eleitores poderão votar em Bento XVI, elegendo-o novamente Papa após a renúncia?

Creio que em princípio nada obsta, mas seria indelicado para com um senhor octagenário com renúncia recém-apresentada, sem que tenham deixado de existir (obviamente) as razões que motivaram a dita renúncia.

– E o que acontece com o Papa? O Anel do Pescador é quebrado? Ele pode continuar se chamando Bento XVI, ou tem que voltar a assinar Joseph Ratzinger? Quando ele morrer, vai ter funerais pontifícios?

Rapaz, não sei. Penso que o anel é quebrado sim (porque embora o Papa não tenha morrido, o seu reinado terminou e é isso que o anel representa), que ele pode continuar assinando “Bento XVI” (afinal, São Celestino V é chamado de São Celestino, que é o seu nome de Papa, e não de Pietro del Morrone que é o de Batismo) e que terá funerais pontifícios. Mas não tenho certeza.

– O que nos resta fazer agora?

Confiar na Providência Divina e rezar ao Espírito Santo de Deus, redobrando as penitências quaresmais, a fim de que o Deus Altíssimo nos conceda um papa santo para suceder Bento XVI na Sé de Pedro.

Papa anuncia renúncia – oremus pro Ecclesia Sancta Dei!

Com tristeza e perplexidade recebemos a notícia de que o Sumo Pontífice anunciou ontem (10 de fevereiro) a terrível Grã Renúncia. Ele só permanece na Sé de Pedro até o próximo dia 28 de Fevereiro. De coração apertado, pedimos orações por Bento XVI e pela Igreja Santa de Deus.

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Esclarecimentos de Curitiba – vinho e suco de uva na Missa

[Publico abaixo a nota emitida pela Arquidiocese de Curitiba, que consta no site da Mitra (não disponível via link direto), sobre a polêmica envolvendo a autorização para que fossem celebradas Missas com suco de uva (!) no lugar do vinho. A informação constante na nota já fora divulgada anteriormente pela Folha de São Paulo.

Alegro-me pelo fato da Arquidiocese ter voltado atrás na orientação absurda que fora antes publicada, mas é preciso ainda esclarecer dois pontos:

1. Não houve aqui nenhum “mal-entendido”. Foi divulgada uma nota oficial dizendo, literalmente, que os sacerdotes «que preferirem substituir o vinho com o álcool pelo sem, ou pelo suco de uva, poderão fazê-lo, pois já estão autorizados pelo arcebispo». Ora, se houve aqui algum problema de interpretação, foi da parte da assessoria de comunicação da Arquidiocese, que divulgou tão esdrúxula nota. Jamais da parte dos fiéis, que apenas lemos o que fora divulgado e ficamos perplexos com o conteúdo do documento.

2. A nota insiste no erro, uma vez que – como mostramos – ninguém, nem o Papa, tem autoridade para autorizar o uso de “suco de uva” na celebração da Santa Missa, uma vez que suco de uva não é matéria válida para o Sacramento da Eucaristia. O que o Papa pode autorizar (aliás, cumpridas certas exigências, o bispo também) é a substituição do vinho canônico por mosto, que é vinho ainda não fermentado (ou baixissimamente fermentado), mas nunca por suco de uva simpliciter.

No resto, alegramo-nos pela correção da nota anterior e ficamos aliviados por saber que, em Curitiba, não haverá nenhuma Missa celebrada invalidamente por deficiência de matéria.]

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NOTA DE ESCLARECIMENTO – INGESTÃO DE VINHO A PARTIR DA NOVA LEI SECA

Da: Chancelaria

 

Diante das normas sobre a nova Lei Seca, Dom Moacyr José Vitti, arcebispo da Arquidiocese de Curitiba, concedeu entrevista para alertar o clero sobre a ingestão da quantidade de vinho (Corpo de Cristo) durante as celebrações. Na entrevista, afirmou que todos os padres deveriam portar a sua identidade clerical (carteirinha) para apresentar às autoridades competentes, no caso de uma blitz, porém, ciente de que a carteirinha não isenta qualquer motorista de uma possível multa.

A respeito do sacramento, todo sacramento é composto de “matéria” e “forma” (teologia tomista). No caso da Eucaristia (missa) a “forma” são as palavras “… isto é o meu corpo…Este é o cálice do meu sangue…” e a “matéria” pão e vinho (elementos visíveis, palpáveis). Dom Moacyr não quis modificar nem a matéria e nem a forma. Houve um mal entendido, porque no decorrer da entrevista ele comentou que “em casos extremos, especiais, a Santa Sé pode permitir o uso do suco de uva, como por exemplo, os padres que têm a doença do álcool ou outras doenças” (Nota do Cân. 924 do CDC). Foi entendido que o arcebispo estava autorizando os padres a usarem o suco de uva, causando polêmica. Foi um mal entendido.

O presidente da CNBB, Cardeal Dom Raymundo Damasceno orientou a Arquidiocese de que “não podem ser usados nas missas o vinho sem o álcool e nem o suco de uva, pois esta ordem compete unicamente a Santa Sé”.

Dom Moacyr solicita que os sacerdotes que celebram várias missas no final de semana e que devem se deslocar, respeitem um prazo de tempo para passar o efeito alcoólico. Solicita também que diminuam a quantidade da matéria (vinho) a ser ingerida.

Esperamos ter explicado o mal entendido e continuemos celebrando nossas missas para a maior glória de Deus!

Vigário Geral e Chanceler da Arquidiocese
Côn. Élio José Dall’ Agnol

Convite: Gloria Polo e Elba Ramalho

O Círculo Católico de Pernambuco tem o prazer de convidar a todos para o evento “Sua vida vai mudar!”, em Recife, no dia 03 de Março de 2013, que contará com palestras de Gloria Polo e Elba Ramalho, além da presença de sacerdotes atendendo confissões e da celebração da Santa Missa.

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A Elba Ramalho tenho certeza de que todos conhecem. Gloria Polo é uma médica (odontologista) colombiana que foi atingida por um raio e, enquanto estava inconsciente, diz ter morrido e caído no Inferno, de onde foi retirada por misericórdia de Deus para que tivesse uma segunda chance e contasse a todos a sua experiência, a fim de que os que a ouvissem acreditassem que o Inferno existe e é para lá que vão as almas dos pecadores e, com isso, se arrependessem. Isso aconteceu em 1995 e, desde então, ela vem dando conferências pelo mundo afora. O seu testemunho é bem conhecido e pode ser facilmente encontrado na internet. O encontro será imperdível, não deixem de participar!

O quê: Palestras de Gloria Polo e Elba Ramalho
Quando: Domingo, 03 de março de 2013, das 08h00 às 17h30
Onde: Centro de Convenções de Pernambuco – Teatro Tabocas
Valor: R$ 5,00

Divulguem e façam já a sua inscrição!

Ives Gandra sobre a Lei Seca e a liberdade religiosa

Primoroso este texto do Dr. Ives Gandra Martins sobre as kafkianas exigências que a Lei Seca impõe aos sacerdotes católicos. Já falei recentemente no blog sobre a Lei Seca no geral e sobre os seus iníquos desdobramentos no tocante ao culto católico em particular; trago agora as palavras do eminente jurista para se somarem às que já escrevi aqui.

A lei de tolerância zero, que cerceia a liberdade de culto – culto este que tem 2 mil anos no mundo inteiro e em todos os países, até mesmo na maioria dos islâmicos – é, neste particular, manifestamente inconstitucional, pois impede o exercício da atividade pastoral dos sacerdotes católicos apostólicos romanos, proibindo-os de dirigir os seus próprios carros para atender os fiéis nos casos em que sua presença se faz necessária, desde o nascimento até a morte (batismo, casamento, extrema unção e encomenda de corpo).

Viveríamos em tempos melhores se os nossos governantes não padecessem da mais crônica indigência até do bom senso mais elementar. Mas somos governados por delinqüentes. E pior: toleramos os mais patentes autoritarismos legislativos, talvez por julgarmos que isso não tem nada a ver conosco. Infelizmente tem. Oxalá o percebamos antes que seja tarde demais.