Sobre comos e porquês

Hoje, voltando para casa, eu ouvia na CBN os apresentadores comentarem sobre uma mulher que roubou um trem na Suécia que, conduzido em alta velocidade, terminou descarrilhando e se chocando contra uma casa. E, para mim, o mais surpreendente foi o comentário do repórter: segundo ele, não se sabia ainda como a mulher – de vinte anos – conseguira as chaves do trem.

Ora, parece-me um sinal de que alguma coisa está profundamente errada quando a curiosidade humana, diante de um fato insólito, direciona-se para aquilo que é mais banal e corriqueiro, e não para o que é curioso e extraordinário. O grande mistério por detrás de uma jovem sueca que rouba um trem não está nos artifícios por ela empregados para obter a chave da locomotiva: a primeira óbvia pergunta instigante a se fazer aqui é por que raios alguém quereria roubar um trem! Diante da profunda inquietude desta indagação, chega a ser obsceno silenciá-la com uma trivialidade sobre roubos de chaves. Afinal de contas, chaves são roubadas todos os dias: as estranhas razões que levam alguém a roubar um trem é que constituem, aqui, o fato fora do comum que é digno de nossa atenção. Como alguém o fez é somente um detalhe, profundamente insignificante diante da terrível questão sobre o porquê disso ter sido feito. E se as pessoas não têm interesse em questionar o porquê das coisas nem mesmo diante de um fato extraordinário como este, acaso poderão perguntá-lo a respeito dos triviais?

Não creio ser exagerado alertar para os riscos de uma certa atrofia mental provocada por atitudes assim. E temo que isso não tenha sido um simples deslize do repórter, mas muito pelo contrário: infelizmente, penso que seja um tipo de condicionamento intelectual, ao qual as pessoas são (até involuntariamente) levadas por conta da filosofia moderna que, como ar poluído, respiram sem disso se aperceberem.

Durante séculos, os filósofos se perguntaram sobre o porquê das coisas. Com a advento da ciência moderna, estas questões foram degredadas para os obscuros reinos da Metafísica, tanto mais irrelevantes quanto mais deslumbrados os intelectuais ficavam com as respostas que obtinham sobre como as coisas funcionavam. Até que o desinteresse degenerou em ignorância e, hoje, o pensamento filosófico dominante (e, por extensão, o raciocínio ordinário das pessoas comuns) muitas vezes não é sequer capaz de formular uma questão sobre por que algo é de tal ou qual maneira.

Com este texto não se quer, absolutamente, desmerecer o conhecimento sobre os modos como as coisas se operam. É claro que entender as causas materiais que produzem os efeitos que observamos no mundo é da mais alta importância: é isso que nos permite prever, evitar ou provocar uma enorme variedade de coisas, e esses conhecimentos são absolutamente fundamentais para a nossa existência no universo. Isso não está em discussão. O ponto é que direcionar unilateralmente a inteligência humana para a investigação sobre como as coisas funcionam é contrair uma terrível estreiteza intelectual, cuja conseqüência menos dramática é se deparar com uma jovem dirigindo desgovernadamente um trem roubado e não ser capaz de fazer nenhuma pergunta mais interessante do que “e como ela fez isso?”.

Li há muito tempo um certo texto do Gustavo Corção dirigido contra um filósofo de nome engraçado que afirmara ter Dante errado ao dizer, no final do “Paraíso”, que é o «amor que move o sol e as outras estrelas». Lembro-me de que à época julguei isso uma polêmica profundamente vazia; mas hoje eu vejo a importância do encarniçado debate então conduzido com tanto denodo pelo famoso articulista católico. Porque confundir os “porquês” com os “comos”, as razões profundas com as causas materiais, é uma infame agressão à razão humana, é uma terrível confusão intelectual que – quando menos, por amor à verdade – cumpre ser desfeita.

Afinal, sem certos conhecimentos corre-se o risco de ter muitas informações e, simultaneamente, não entender nada de realmente importante. É como se a uma criança que perguntasse por que aquele móvel grande da sala faz “tic-tac” o pai começasse a falar sobre movimentos pendulares e mecânica de engrenagens, quando na verdade o que ela precisava saber era “porque ele marca o tempo, e papai precisa saber as horas”. Depois é possível falar em engrenagens e pêndulos, que é como os relógios funcionam; mas é profundamente estúpido dedicar-se com afinco às minúcias da relojoaria antes de sedimentar o conhecimento de que os relógios existem porque as pessoas querem saber que horas são. E, pela mesma razão, achar que o mecanismo do relógio é mais relevante do que o fato de que ele serve para ver as horas denota uma grave deficiência intelectual, que é dever de justiça apontar e tentar corrigir.

Multidões de franceses acorrem às ruas de Paris para protestar contra o “casamento gay”!

Confesso que fiquei emocionado com os franceses que, no último domingo (13 de janeiro), reuniram-se – às centenas de milhares! – em Paris para protestar contra o “casamento gay” que o presidente prometeu introduzir na legislação francesa. A manifestação «começou em três pontos diferentes da capital francesa, com as colunas partindo da Place d’Italie, da porta Mailot e de Denfert-Rochereau, convergindo para o a Torre Eiffel». E ainda: foi «uma das maiores manifestações na capital francesa desde 1984, quando a população saiu às ruas contra a reforma educacional». O Fratres in Unum também repercutiu.

Algumas fotos do evento foram publicadas no Facebook (p.ex. aqui e aqui) e nos órgãos de imprensa internacionais (p.ex., esta galeria da BBC): são bonitas de se ver! As enormes ruas que Napoleão mandou abrir no coração da França tomadas por multidões e mais multidões de cidadãos franceses defendendo o casamento entre um homem e uma mulher. Homens e mulheres dos mais variados pontos da França afluindo à capital do país para dizer um sonoro “não!” ao casamento gay.

protesto-paris

Como era de se esperar, houve quem reclamasse. A mesma trupe avant-garde que aplaude com entusiasmo qualquer protesto de mau gosto contra os valores cristãos não gostou nem um pouco do protesto pacífico dos franceses: num átimo surgiram as acusações de sempre de gente retrógrada e imbecil que não tem o que fazer, reacionários implicantes que querem regular a vida sexual dos outros, etc., etc. É até engraçado: manifestação social só é boa quando está a serviço da agenda ideológica da vez. Ao contrário, quando ela defende valores tradicionais, os manifestantes esclarecidos se transformam em idiotas manipulados e o povo soberano vira plebe ignara que não sabe o que está fazendo.

Nunca é demais repetir que ser contra o “casamento gay” não tem nada a ver com proibir os homossexuais de se relacionarem com quem eles bem entenderem. Como já tivemos a oportunidade de falar aqui, substituir arbitrariamente, no ordenamento jurídico de uma sociedade, a entidade familiar por outro agrupamento social distinto dela é entregar o bom senso às feras. A questão jurídica não depende de elementos subjetivos como o “amor” que porventura os cidadãos sintam ou deixem de sentir entre si. O Matrimônio é um tipo específico de contrato firmado entre duas pessoas, que possui algumas características próprias e dos quais decorrem alguns deveres. Pegar outros tipos de uniões e chamá-las de “casamento” é no mínimo uma leviandade lingüística. Contudo, como as deficiências conceituais sempre têm conseqüências práticas, equiparar a dupla de homossexuais à família formada pela união entre o homem e a mulher é solapar as bases da organização social, porque toda sociedade tem por célula-mater a família, e não uniões genéricas de outro tipo, e isto simplesmente não tem como ser de outra forma.

Foi para repetir esta verdade óbvia que, no domingo passado, os franceses encheram as ruas de Paris. Uma manifestação, serena, sóbria e educada: que diferença entre isto e aquelas quatro senhoritas que, no mesmo dia, tiraram a roupa na Praça de São Pedro para defender o homossexualismo! Elas atrapalharam tanto os católicos que queriam acompanhar a oração do Angelus que precisaram ser arrastadas para fora por policiais. O contraste entre este protesto raivoso (que fica patente pelas fotos divulgadas na mídia – cuidado, contém cenas de nudez!) e a manifestação pacífica ocorrida em Paris já é, por si só, evidência suficiente de quem está com a razão.

O governo garantiu que, mesmo com o protesto do domingo, nada muda no seu propósito de legalizar o “casamento gay” em breve. «A porta-voz governamental Najat Vallaud-Belkacem, que também é ministra para assuntos femininos, disse à rádio Europe 1 que nada mudou e que a intenção do governo continua sendo a de submeter o projeto ao Parlamento neste mês e sancioná-lo até junho». Rezemos pela França! No entanto, a manifestação do dia 13 foi histórica. O governo francês pode até legislar a iniqüidade; mas não poderá borrar da História a bela página heroicamente escrita por estes franceses que, num domingo, reuniram-se em Paris para dizer em alta voz o que é um casamento de verdade.

Os números cabalísticos da homofobia no Brasil

O Grupo Gay da Bahia divulgou ontem a versão 2012 do seu já famoso levantamento sobre os crimes “homofóbicos” no Brasil; isto motivou um nada educado bate-boca no Twitter entre o Danilo Gentili e o Jean Wyllys e, na esteira da polêmica, o deputado ex-BBB abordou o mesmo assunto em um artigo publicado hoje no “Brasil 24/7”. Aproveito o ensejo para fazer alguns comentários sobre o assunto.

1. Sinceramente, não é de hoje que os dados do GGB são uma piada. Na tentativa desesperada de encontrar uma justificativa estatística para o coitadismo patológico do qual vive o Movimento Gay, vale tudo: segundo a matéria do Estadão supracitada, estes alardeados números da homofobia no Brasil incluem «suicídios, casos em que as vítimas foram confundidas com homossexuais e mortes de brasileiros no exterior». E olhe que o jornal nem citou aquela que é (de longe!) a maior causa de violência entre os gays: crimes passionais cometidos por outros gays. Oras, e desde quando um gay que é espancado por pit-boys na Av. Paulista é a igual a uma lésbica que se suicida ou a um travesti drogado que é morto por traficantes? No entanto, para esta gente, tudo isto é a mesma coisa e é tudo homofobia! Os números precisam ser defendidos a todo custo, pois somente eles têm o condão de legitimar a militância gay!

2. Antes que reclamem que estou citando dados de segunda mão (v.g. matéria d’O Estado de São Paulo, que – sei lá! – pode ser acusado de ser um veículo homofóbico…), eu me justifico antecipadamente: os “números da homofobia no Brasil” são dados completamente esotéricos e fora do alcance dos simples mortais! Quando a gente quer procurar o relatório completo, é um ninguém-sabe-e-ninguém viu. Entrei no site do GGB e lá não tem nada. Procurando no Google também não consegui achar coisa alguma. Nós estamos no século XXI! Se este pessoal quisesse realmente ser levado a sério, o relatório completo e detalhado estaria disponível na internet antes mesmo que os jornais falassem sobre o assunto. Mas de repente a mídia inteira começa a falar sobre isso e, quando a gente procura as fontes originais, não as encontra. Isto é democracia? Isto é transparência? Isto é debate honesto sobre alguma coisa?

3. Eu já havia reclamado da mesma coisa há dois anos; o que eu escrevi à época, vale perfeitamente ainda hoje. Mesmo quando os dados estão na internet, eles não permitem concluir o que pretendem provar. Ao contrário até: homofóbico e ofensivo aos homossexuais é classificar despudoradamente certos assassinatos como crimes de ódio. Cito-me integralmente (falando então sobre o levantamento de 2010, mas poderia dizer a mesmíssima coisa para o de 2011 ou para este atual):

A morte de qualquer pessoa, homossexual ou não, é um crime horrendo que deve ser punido com rigor. Isto está fora de qualquer discussão. No entanto, chega a ser embaraçoso ter que falar isso, mas a militância Gay não parece ter nenhum  respeito nem mesmo pelos homossexuais que ela, supostamente, representa. Nenhum tipo de arrazoado sólido pode ser construído com base em mentiras, meias-verdades ou dados de procedência (pra dizer o mínimo) duvidosa. Perguntei e re-perguntei, à minha interlocutora nos emails acima, onde estava a lista dos homossexuais mortos “por crime de ódio” no Brasil. Acabou que ela me enviou esta notícia do Grupo Gay da Bahia, onde pode também ser encontrada esta tabela.

A primeira coisa que salta aos olhos é a completa ausência de fontes detalhadas em um documento que se pretende “relatório completo”. E, sem isto, é impossível diferenciar (e tal diferenciação é fundamental para que se possa falar em “crime de ódio”) um assassinato violento de um assassinato violento motivado pelo fato da vítima ser homossexual. Aliás, não fui eu o primeiro a lançar esta objeção! O senhor Luiz Mott já a levantou e já “respondeu”:

Ao se questionar a presença da homofobia nos crimes contra homossexuais, o Prof.Luiz Mott contraargumenta: “quando se divulgam estatísticas de crimes contra mulheres, negros, índios, não se questiona se foram ou não crimes motivados pelo ódio, sem falar na subnotificação dos “homocídios”. Nos crimes contra gays e travestis, mesmo quando há suspeita do envolvimento com drogas e prostituição, a vulnerabilidade dos homossexuais e a homofobia cultural e institucional justificam sua qualificação como crimes de ódio. É a homofobia que empurra as travestis para a prostituição e para a margens da sociedade. A certeza da impunidade e o estereótipo do gay como fraco, indefeso, estimulam a ação dos assassinos.”

Oras, e qual pode ser a relevância de um “estudo” que, por definição, justifica-se a si mesmo? Aparentemente, pela lógica do sr. Mott, todo assassinato de homossexual é crime de ódio. “Mas ele era envolvido com drogas”; “ah, é a homofobia institucional que empurra o homossexual para as drogas”. “Mas isto foi um crime passional por conta de prostituição”; “ah, é a homofobia cultural que faz com que o homossexual seja forçado a se envolver com prostituição”. E, francamente, estas declarações são profundamente ofensivas para os homossexuais que não são usuários de drogas e nem se envolvem com prostituição. Na verdade, isto sim é que é homofobia!

4. Não gosto do Gentili (nem do Rafinha Bastos ou congêneres) e, no caso presente, o humorista acabou prestando um grande favor à causa gay. É bastante óbvio que o tweet dele foi uma piada de baixo nível, e não um argumento; mas o Jean Wyllys não perdeu a oportunidade de confeccionar o espantalho e argumentar longamente contra a tese de que «a estatística de 336 homicídios em 2012 motivados por homofobia (numa proporção de um homossexual morto a cada 26 horas) seria irrelevante já que, no mesmo período, a taxa de homicídios em geral é de mais 50 mil». Oras, a desonestidade das estatísticas gays não se revela quando a gente compara as mortes supostamente homofóbicas com os homicídios em geral, mas sim quando a gente percebe que suicídios, criminalidade comum (drogas, prostituição, etc.) e assassinatos passionais entre gays são classificados como “crimes homofóbicos”! Sobre isto ninguém fala nada, porque é o calcanhar de Aquiles da retórica homossexual vazia. E, para o Movimento Gay, é preciso forçar a todo custo uma cultura de animosidade que possa garantir a sobrevivência do seu discurso de coitadismo, mesmo às custas do bom senso e da verdade dos fatos. Na base da auto-vitimização e do populismo barato é muito fácil. Dedicar um artigo prolixo e cheio de apelo sentimental para desmontar um espantalho é chutar cachorro morto.

A tolerância e a dose de whisky

Fala-se muito em tolerância nos dias de hoje, mas de uma maneira completamente equivocada. Para alguns, a tolerância radica-se na incapacidade de emitir juízos de valor sobre coisas que – dizem – pertencem à esfera subjetiva; para outros, pior ainda, tolerância significa apoio entusiasta, e só existe verdadeiramente quando se é capaz de vestir a camisa daquilo que é tolerado.

No entanto, nenhum desses conceitos é satisfatório. Só cabe falar propriamente em tolerância quando estamos diante de um ato objetivamente equivocado, ao qual circunstancialmente não nos opomos em atenção a um bem maior que possa concretamente advir desta nossa renúncia a agir (ou para evitar um mal maior que decorresse da nossa ação, o que dá no mesmo).

Assim, não é verdade que só exista tolerância porque não somos capazes de saber o que é certo (ou porque não existe certo no caso em questão), mas é exatamente o contrário: toda tolerância pressupõe e exige um juízo de valor, por meio do qual nós possamos estabelecer uma hierarquia de bens e males e, com base nela, agir ou deixar de agir: combater ou tolerar. Do mesmo modo, exigir que a tolerância sincera implique na aprovação moral da coisa tolerada é um completo nonsense. Por definição, aquilo que é certo não é objeto de tolerância: não se tolera o bem, mas tão somente o que é mal.

O uso comum de certos termos é legítimo e necessário, mas não podemos deixar que ele obscureça o sentido verdadeiro das expressões que empregamos. Assim, por exemplo, “tolerar” que minha esposa coloque água de coco no nosso whisky quando eu sei que o sabor de um bom malte só pode ser devidamente apreciado em uma dose à cowboy significa colocar o prazer dela (perfeitamente legítimo) acima das minhas exigências etílicas. Todos os elementos da tolerância estão aqui presentes: o bem objetivo (= degustar o puro sabor do malte) ameaçado, as ações possíveis (= não tomar o whisky com ela, não deixar que ela o estrague com água de coco, etc.), o bem (= o deleite e a satisfação dela em dividir uma dose comigo) obtido quando aceito a dose oferecida, o mal (= a privação do pequeno prazer doméstico) que adviria de recusá-la. O fato de fazermos (em casos simples assim) todos esses juízos de valor automaticamente não significa que eles não existam.

Algumas situações são extremamente simples. Em se tratando de doses de whisky, nós podemos dizer que tanto faz a maneira como se as toma. Nós podemos facilmente imaginar o prazer obtido por quem, por razões quaisquer, preza mais pelo doce que pelo amargo. Ainda: nós seríamos monstros insensíveis se forçássemos todo mundo a só tomar whisky puro e sem gelo. Tudo isso é verdade; no entanto, seria simplismo tratar todos os atos humanos com a mesma displicência que nos é lícito devotar ao gosto por bebidas destiladas. É bastante óbvio que existem bens maiores do que o sabor imaculado do scotch envelhecido em barris de carvalho, bem como existem males mais sérios do que a frustração de um exigente prazer gustativo. Não se pode pretender que a tolerância automática que dedicamos às preferências de paladar aplique-se indiscriminadamente a todas as demais esferas do comportamento humano.

Há hoje em dia uma tendência a se nivelar por baixo as relações interpessoais e a pretender que todos os atos humanos tenham a mesma importância social da maneira como cada um prefere a sua bebida. Como complemento a tanto quanto se disse aqui, é oportuno o artigo de hoje do Carlos Ramalhete na Gazeta do Povo, que fala sobre a tolerância brasileira. Não a caricatura de tolerância que nos pretendem vender, mas a verdadeira: aquela que sabe existirem coisas certas e coisas erradas, mas segundo a qual «é de se esperar que pessoas boas façam coisas erradas de vez em quando; devemos combater – ou mesmo tolerar – as coisas erradas, sem demonizar as pessoas». O autor acerta em dizer que uma visão dualista do mundo é uma forma de reducionismo que deve ser evitada. Mas este dualismo é criticável quando procura categorizar absolutamente seres humanos, e não quando afirma que algumas coisas são certas e, outras, erradas. Porque também é reducionista dizer que não existe bem ou mal no mundo. Também é reducionista pretender que tudo seja equiparável a colocar ou não alguma coisa na dose de whisky.

As crises atuais: a civilização, a barbárie e a defesa dos valores

Muito interessante este artigo do Rodrigo Constantino sobre as crises atuais. Analisando a maneira como o homem moderno encara o mundo ao seu redor, o articulista sentencia:

Somos os herdeiros de uma geração mimada, que colheu os frutos do árduo trabalho de seus pais, acostumados com vidas mais duras, com guerras, com diversas restrições. Essa geração, principalmente na década de 1960 e 70, pensou que bastava demandar, e todos os seus desejos seriam atendidos, sabe-se lá por quem.

A tese não é nova. Ela já se encontra na clássica obra do filósofo espanhol Ortega y Gasset, “A Rebelião das Massas”; curiosamente, o livro foi escrito no final da década de 20 do século passado, mostrando que o fenômeno se encontrava bem delineado já quarenta anos antes do período histórico citado pelo articulista d’O Globo. A análise, não obstante, é precisa. Não creio que tenhamos melhorado muito de lá para cá.

A idéia de que «[o] Estado de bem-estar social criou uma bomba-relógio, mas ninguém quer pagar a fatura» pode parecer catastrofista para alguns, mas esta recusa em aceitar o diagnóstico só reforça a existência da moléstia. Afinal, como diz o Constantino, a crise não é somente econômica, mas também moral; e o desprezo que a sociedade nutre para com os valores que foram fundamentais à sua construção é a característica mais pungente e universal das crises modernas.

Ortega y Gasset não padece das mesmas limitações de espaço que o Constantino na sua coluna de jornal e, portanto, pode se dar ao luxo de ser mais persuasivo. O filósofo espanhol gasta longas páginas para explicar como o homem moderno deixou de se sentir obrigado pelas circunstâncias exteriores – as intempéries da natureza, os conflitos entre os indivíduos e os povos, a penúria e a escassez de recursos, etc. – para se enxergar como um detentor de direitos ilimitados cujo merecimento é pressuposto como se fosse uma lei básica da natureza. Em uma palavra: estamos falando do fenômeno que produz adultos vivendo como adolescentes mimados, incapazes de fazer as coisas por conta própria e acreditando sinceramente que a tudo têm direito, bastando-lhes bater o pé e exigi-lo a plenos pulmões. Mas o alto grau de civilização ao qual fomos capazes de chegar (e que possibilita, sim, alguns benefícios perfeitamente inimagináveis a civilizações passadas) não se sustenta por si só, muito pelo contrário: exige o trabalho árduo de homens valorosos que possam mantê-lo. E as atuais circunstâncias nas quais vivemos fazem com que homens assim sejam cada vez mais raros: é a própria civilização que, se mal vivida, enseja e produz a barbárie.

Num tal cenário, são em princípio bem-vindas todas as iniciativas que intentem chamar a atenção para os riscos que corremos, por impopulares que sejam. Mas temo que elas caiam na irrelevância exatamente por pintarem um quadro demasiado tétrico, excessivamente indigesto à sensibilidade moderna. Como – a comparação é-me inevitável – o homem d’A República de Platão que, tendo saído da caverna para ver o mundo verdadeiro, é tratado com escárnio e hostilidade ao voltar para os seus e lhes contar que eles não vêm senão sombras. Penso que é necessário tomar o devido cuidado para evitar este tipo de reação: afinal de contas, não nos interessa simplesmente que as gerações futuras reconheçam o acerto de nossas análises, interessa-nos oferecer a nossa contribuição para evitar (ou pelo menos minimizar) as agruras que se anunciam no horizonte.

Muita água rolou por debaixo da ponte nesses últimos oitenta anos, e alguém pode dizer que a realidade, no geral, tem se mostrado muito mais aprazível do que os vaticínios feitos há tantas décadas por um espanhol que morreu antes do nascimento dos Beatles; à parte a Segunda Guerra, a tensão que se lhe seguiu e alguns conflitos menores aqui e acolá, o mundo ainda parece ser um lugar bem habitável e não parece que estejamos caminhando rumo à borda do penhasco. Por quê, então, ressuscitar estas teorias ultrapassadas, que o decurso dos anos já demonstrou falsas e excessivamente pessimistas?

De minha parte, eu penso que aqueles princípios estão corretos, mas tão corretos que as únicas tentativas de desmenti-los se dão no campo da casuística seletiva: “isto ainda não aconteceu”, “as coisas não estão tão ruins assim”, “em tais e quais aspectos estamos melhores do que há vinte anos”, et cetera. E, exatamente por isso, penso que é desejável apresentar o discurso sob uma ótica mais propositiva. Eu não sei se o mundo vai se transformar num lugar impossível de se viver (e nem muito menos quando isso se dará); mas sei que ele possui incontáveis problemas que poderiam ser resolvidos se as pessoas tivessem um senso moral mais apurado. Eu não sei se os netos pobres seremos nós ou os nossos filhos; mas sei que diversas coisas foram perdidas ao longo das últimas gerações e recuperá-las vai indiscutivelmente nos enriquecer. Eu não sei quais os limites exatos de flexibilidade moral que uma sociedade pode suportar antes de entrar em colapso; mas sei que existem valores, que eles são uma coisa positiva e, portanto, sempre vale a pena – independente das circunstâncias históricas que nos cerquem – defendê-los e os promover.

Jornal Hoje pede opinião de internautas sobre tema de reportagem e depois diz “ah, isto não pode”.

A mobilização dos internautas que queriam ver uma reportagem sobre a Jornada Mundial da Juventude no Jornal Hoje alcançou 25.000 participantes. No entanto, o clamor popular foi solenemente ignorado pelo jornal: seu perfil do Facebook afirmou hoje que o quadro não faz cobertura de eventos específicos, mas trata somente de «temas abrangentes, que geram discussões e dúvidas».

jornalhoje

Ao invés de abordar o assunto escolhido pela acachapante maioria dos que responderam à pergunta lançada em primeiro de janeiro, o jornal preferiu lançar uma enquete anódina com os seguintes temas: “Drogas”, “Violência”, “Consumismo”, “Independência” e “Fãs e tietagens” – os «temas mais sugeridos na última semana».

O que dizer? Decerto o jornal tem todo o direito de escolher o tema que quiser para apresentar em seu quadro. Mas é bem deselegante perguntar um tema para os usuários do Facebook e, depois, ignorá-los completamente. Oras, se não queria saber, não perguntasse. Se havia restrições de temas, que isso fosse avisado no começo. O que fica feio é esperar que dezenas de milhares de pessoas sugiram um tema para, na semana seguinte, dizer “ah, isso não pode ser, sinto muito”. É uma baita falta de respeito para com essas pessoas que se deram ao trabalho de responder ao que foi perguntado.

Também a desculpa usada soa (para dizer o mínimo) estranha. Um “evento específico” pode muito facilmente ser transformado em um “tema abrangente”, bastando um pouquinho de boa vontade. “Jornada Mundial da Juventude – Rio 2013” poderia facilmente se transformar em “Religiosidade dos jovens”, “Igreja Católica e juventude” ou até mesmo – para ficar na moda – “Estado Laico e visita do Papa: o que pensam os jovens brasileiros?”. Enfim, a impressão que fica é que não se queria falar de religião e nem muito menos de Catolicismo.

O que – repitamos – é uma abordagem perfeitamente legítima, contanto que fosse dita claramente e desde o princípio. No fim das contas, esta mudança de regras no final do jogo pegou muito mal. O Jornal Hoje poderia ter aproveitado a enorme audiência auto-apresentada no Facebook para fazer um programa direcionado para ela; mas preferiu sair pela tangente e frustrar os anseios de todos os internautas que sugeriram a JMJ para o quadro do telejornal. Que pena!

Keep Calm and defend life: abortistas vêm perdendo desde Roe v. Wade!

Alvissareira capa da TIME! Vi no Secretum Meum Mihi; o LifeNews.com também publicou.

Time Jan-14-2013 cover

“Quarenta anos atrás, os ativistas pró-aborto conquistaram uma vitória épica com Roe v. Wade. E vêm perdendo desde então”.

São os próprios abortistas que o dizem! Quanto a nós, basta mantermos a calma e seguirmos defendendo a vida. A abominação não pode durar pra sempre. O terror há de passar.

“O susto e a maravilha do bebê que chega logo”

Achei deliciosamente provocante esta imagem abaixo sobre o feminismo que está circulando no Facebook. Estampa uma frase de um texto de Chesterton sobre controle de natalidade que eu não sei se existe traduzido para o português; no entanto, de um excelente frasista como Chesterton sempre vale a pena ler uma única proposição que seja.

feminismo

Ela complementa um outro texto da Lúcia Guimarães que eu lia recentemente no Estadão. Não conheço as posições religiosas da autora do artigo, mas fica claro pelo texto que não se trata de nenhuma fundamentalista cristã despejando misoginia na internet; na feliz expressão do amigo que me indicou o texto, o que parece é que ela, simplesmente, deparou-se com a imposição da realidade. Longe de fazer apologia ideológica, ela fala com aquela constatação mais básica do mundo ao seu redor que tanto falta às militantes feministas radicais.

Não preciso me debruçar sobre publicações médicas para observar o que mudou para pior. No começo, ao notar a idade das mães que empurram carrinhos no meu bairro, um epicentro de adoções e casais ambiciosos que adiam a primeira gravidez, olhava com admiração a elaborada dedicação ao ritual reprodutivo planejado. O sucesso profissional exige mais anos de instrução superior. Educação e saúde de boa qualidade se tornaram luxo. Mas estas crianças do meu bairro começaram a falar e se manifestar como pequenos Mussolinis. Dominam as refeições noturnas. Não conseguem se distrair sozinhas. São exibidas como troféus. Seus ombros suportam o mundo e ele pesa mais do que a mão de um adulto narcisista e ansioso.

As objeções ao adiamento da gravidez apresentadas no artigo são as mais naturalistas possíveis; os problemas dos «filhos dos chamados pais-avós» são de ordem biológica, econômica, social, como p.ex.:

  1. são «mais afligidos por mutações genéticas»;
  2. têm mais «problemas de desenvolvimento psicológico»;
  3. estão «expostos ao trauma da perda prematura dos pais»;
  4. estão sujeitos ao «fardo de cuidar de idosos no começo da vida profissional».

Tudo isso está dentro da esfera de estudos das ciências naturais e mesmo do senso comum; ninguém precisa ser católico para o constatar. Mais vai harmonicamente ao encontro daquilo que a Igreja, que tem o irritante costume de sempre estar certa, ensinou e praticou ao longo dos séculos. O Código de Direito Canônico vigente estabelece o seguinte quanto à idade mínima para a contração de núpcias:

Cân. 1083 — § 1. O homem antes de dezasseis anos completos de idade e a mulher antes de catorze anos também completos não podem contrair matrimónio válido.

O parágrafo seguinte diz que as Conferências Nacionais «podem estabelecer uma idade superior para a celebração lícita do matrimónio» (ibid., §2). Parece-me que, no Brasil, a CNBB exige a idade de dezesseis e dezoito anos, respectivamente para a mulher e o homem que desejam contrair núpcias. Mas eu chamo a atenção para a escolha dos adjetivos: se a mulher tem menos de 14 anos o Matrimônio não é válido (i.e., não existe Matrimônio), mas a partir daí só cabe falar em liceidade das núpcias – isto é, se uma coisa (pressupostamente válida) pode ou não ser feita. Em outras palavras: uma mulher de 14 anos sempre pode receber o Sacramento do Matrimônio (logicamente, com um homem de dezesseis anos ou mais), mas em algumas circunstâncias ela não o deve fazer. Já uma mulher de treze anos não pode recebê-lo absolutamente [a propósito, e para reforçar a tese, esta é a mesma idade – 14 e 16 anos – que constava no CIC de 1917].

Graças principalmente ao feminismo ironizado por Chesterton no começo deste artigo, estas idades soam completamente irreais nos dias de hoje. Ouve-se falar – e muito! – em mil e um pré-requisitos a serem cumpridos pelas mulheres antes que elas possam sequer cogitar o ingresso na vida matrimonial; na arguta constatação da Lúcia Guimarães, hoje em dia «[é] impossível desvincular a fertilidade do mercado de trabalho hostil à procriação e da ideia de que procriar cedo é um problema da mulher». No entanto, é preciso ter a ousadia de questionar o paradigma vigente e de tentar, ao menos, cogitar a hipótese de que as coisas possam ser diferentes – mesmo que isto seja hoje muito dificultado pelas atuais conjunturas em que vivemos.

É preciso defender, ao menos como possível e desejável, o casamento já no desabrochar da juventude. Se não é possível chegar à idade canônica, ao menos que nos esforcemos para não nos afastarmos demasiado dela sem justa causa; se formos forçados a adiá-la, ao menos que isto seja feito com a consciência de que se trata de um mal a nós imposto pelo modelo de vida que hoje se leva. E termino citando mais uma vez a articulista do Estadão: oxalá as pessoas possam ter a graça de «redescobrir o susto e a maravilha do bebê que chega logo». Mesmo com todas as dificuldades que disso possam advir; «[m]esmo que ele ainda não tenha um berço para repousar».

“Jovens do Brasil” e a JMJ Rio 2013

O perfil do Jornal Hoje no Facebook anunciou que «o Jovens do Brasil está de volta» (acho que é um quadro do Jornal) e perguntou aos internautas:

Qual assunto você quer ver no Jornal Hoje?

De ontem para hoje a página foi completamente invadida por usuários pedindo para que o assunto seja a Jornada Mundial da Juventude que acontecerá este ano no Rio de Janeiro. Neste momento estamos com mais 4.000 comentários (e aumentando!), dos quais pelo menos 3.000 pedem para que o programa aborde a JMJ.

jornal-hoje-jmj

E “os laicista pira”!

Deus lo Vult!: Restrospectiva 2012

Mais um ano terminou e, com o fim de 2012, gostaria de presentear os meus leitores com uma retrospectiva do que se passou por aqui ao longo deste ano. Selecionei os artigos abaixo dentre os que julguei mais relevantes neste espaço virtual em 2012; quem os acompanhou vai poder relembrá-los e, quem ainda não os viu, pode aproveitar a oportunidade para uma leitura, que julgo valer a pena.

Janeiro: o ano começou com um ataque – e da pena de um padre! – à Igreja Católica por conta de um Seu alegado “machismo”, que foi aqui respondido. Também foi em janeiro que o deputado Jean Wyllys deu o seu primeiro chilique contra o Papa Bento XVI; iniciei falando sobre isso aqui e, entre diversos outros textos que foram publicados sobre o mesmo assunto, vale mencionar a repercussão do tema no Twitter. Também em janeiro apareceu a pérola de uma intimação do MPF movida contra a Igreja Católica por conta de um texto alegadamente “homofóbico” que fora publicado num boletim da Universidade de Londrina.

Fevereiro: Fevereiro começou com o Laerte de saias em um banheiro feminino. Foi neste mês que nós começamos a denunciar a ampla legalização do aborto no projeto de Reforma do Código Penal. Ao mesmo tempo, aqui na nossa Facvldade de Direito, uma dissertação de Mestrado de um amigo sobre os direitos do nascituro era aprovada com distinção pela Banca Examinadora. A ministra Eleonora Menicucci foi nomeada para a Secretaria das Mulheres, e começou a mostrar a sua inépcia a nível mundial quando foi confrontada com um número totalmente absurdo de alegadas mortes maternas por ano decorrentes de aborto clandestino. E, claro, como diz a canção, em Fevereiro tem Carnaval.

Março: Refutei uma carta contra o pe. Paulo Ricardo que circulava oficiosamente pela internet. Nas manifestações do Senado comemorativas do Dia da Mulher, uma brasileira de verdade tomou o microfone e disse umas poucas e boas à corja de feministas que, ao contrário do que dizem, não representam as mulheres do Brasil. No auge da polêmica sobre os crucifixos em espaços públicos, o ex-ministro do STF Paulo Brossard escreveu umas belas linhas em defesa da Cruz. Inspirado na Campanha da Fraternidade, escrevi uma meditação sobre a Jerusalém Celeste que se esconde para além deste Vale de Lágrimas em que vivemos; e, na iminência do julgamento do STF sobre o aborto de crianças anencéfalas, tomei abertamente partido pelo direito da criança nascer, independente de quem seja a sua mãe.

Abril: Semana Santa, e a maior das tristezas da Sexta-Feira Santa. Este ano a tristeza era ainda maior porque, poucos dias depois, o STF mostrava de novo as suas garras e dizia que crianças deficientes podiam ser assassinadas se as suas mães o desejassem. Escrevi uma pequena meditação sobre o silêncio do Cânon Romano na Forma Extraordinária do Rito Romano; e, no sétimo ano do Pontificado de Bento XVI, a Gazeta do Povo publicou um artigo de minha autoria sobre o Papa.

Maio: Desmascarei aqui uma “sentença” da Inquisição contra o pe. António Vieira que o Estadão inventou para atacar gratuitamente a Igreja. Fui ao sul do país para presenciar o casamento de um grande amigo, e aproveitei para escrever algumas linhas sobre a união entre Cristo e a Igreja. Registrei aqui o meu protesto contra a Marcha das Vadias e as suas militantes com as tetas à mostra.

Junho: Mais um padre resolveu atacar a Igreja, desta vez despejando o seu veneno sobre a Santíssima Eucaristia; mais uma vez eu me levantei aqui para defender o Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo. Denunciei aqui a nova estratégia abortista do Governo, com a sua “redução de danos” para aborto ilegal. Respondi também a uma campanha idiota e hipócrita surgida nas redes sociais sobre o “Trono de Ouro” do Papa. Em junho o grande bispo de Guarulhos, D. Luiz Gonzaga Bergonzini, foi chamado às hostes celestiais para, de lá, fornecer-nos valoroso apoio na luta pró-vida; e, baseado numa conversa de almoço com um amigo, sobre filhos, defendi o verdadeiro direito de os escolher.

Julho: Respondi a outra campanha idiota das redes sociais sobre religiosidade e hipocrisia, e também a um comentário TL materialista que fora publicado n’O Domingo da Paulus. Em julho perdemos também o grande Card. Sales, e as imagens do seu funeral eram um belíssimo símbolo de Fé. Também em julho morreu – aos dois anos e meio – a pequena Vitória de Cristo, diagnosticada com anencefalia ao nascer. Em dois episódios neste mês a intolerância da militância anti-católica mostrou-se sem máscaras: na repercussão contra o Carlos Ramalhete por conta de um artigo sobre a Marcha das Vadias e nos protestos virulentos contra a Chick-Fil-A por sua posição contra o “casamento” gay.

Agosto: Em Agosto nós tiramos do ar um site que vendia medicamento abortivo no Brasil. Aos quinze dias deste mês celebra-se a Festa da Assunção da Virgem Santíssima, e escrevi-Lhe algumas linhas de louvor aqui. Com a morte do astronauta Neil Armstrong, lembrei que a viagem à Lua era um hino de louvor a Deus. E, ao escrever contra a adoção de crianças por duplas de homossexuais, o Carlos Ramalhete transformou-se em alvo da truculência da turba de bárbaros apoiadores desta insensatez.

Setembro: Na esteira da autorização do STF para o assassinato de crianças anencéfalas, como era de se esperar, aumentou o rol dos que podem ser mortos “legalmente” e um juiz autorizou o assassinato de uma criança com uma deficiência que não era anencefalia. O caso “Pernambuco não te quer” também ganhou as manchetes de jornais em setembro. Este ano, mais uma vez e infelizmente, a Arquidiocese de Olinda e Recife fez-se presente – na pessoa do Metropolita – a um evento esquerdopata no Sete de Setembro. No meio da polêmica sobre um fragmento de papiro que poderia insinuar ter sido Cristo casado, mostrei aqui que isto faz diferença dentro do Cristianismo sim. Visitando uma igreja fechada para reformas no centro da cidade do Recife, escrevi umas pequenas memórias. E, last but not least, foi neste mês a belíssima noite em que eu fui Cristo celebrando um Sacramento diante do Altar de Deus.

Outubro: Em meio à euforia generalizada por conta do julgamento do Mensalão conduzido implacavelmente pelo STF, busquei trazer as pessoas de volta à realidade lembrando que não há juízes em Brasília. Aproveitando a celebração do patrono da educação brasileira, falei um pouco sobre os frutos podres da pedagogia de Paulo Freire. Tivemos belas notícias: o “Sim à Vida!” em Recife foi mais uma vez um sucesso e conhecemos a belíssima história do pe. Michel Marie Zanotti Sorkine, pároco de Marselha. Num raro momento de mostrar-se sem máscaras, um seminário LGBT propôs explicitamente a desconstrução da cultura judaico-cristã como objetivo da luta do movimento gay. E, após a dor e destruição provocadas nos USA pelo furacão Sandy, uma imagem da Santíssima Virgem permanecia em pé no meio da desolação.

Novembro: Escrevi esta reflexão sobre o sentido da vida e o pecado contra o Espírito Santo. Levantei minhas armas contra a cruzada fundamentalista atéia que intentava banir o “Deus seja louvado!” das cédulas de Real. Referente ao “casamento” gay, dissertei um pouco sobre mudanças legislativas e militâncias políticas. Teci alguns comentários sobre a crise em que estavam as universidades católicas brasileiras, em particular as PUCs do Paraná e de São Paulo. E recolhi esta preciosa confissão de alguns protestantes: os Padres do Cristianismo primitivo são, de fato, os pais da Igreja Católica Apostólica Romana.

Dezembro: Contra os que dizem ser necessário à Igreja “abrir-Se” aos costumes modernos, demonstrei que – na verdade – os homens querem é ouvir falar de Deus. Sobre a legislação “anti-gay” da Uganda, eu falei e refalei aqui. Na morte do Niemeyer e na missa de corpo presente à qual teve direito o defunto ateu, escrevi este texto. Para desmascarar as mentiras abortistas sobre o grande número de mortes maternas decorrentes de abortos ilegais, trouxe estes dados: na Dinamarca, onde o aborto é legalizado há décadas, a mortalidade das mulheres que abortam é três vezes maior do que a das que não abortam. O Jean Wyllys voltou a dar piti contra o Papa, e eu voltei a confrontá-lo aqui no blog. Por fim, diante do massacre na escola infantil de Sandy Hook (e das discussões sobre controle de armas que se lhe seguiram), lembrei que, geralmente, quando a polícia chega a chacina já está feita.

E é este o balanço do ano. A quem interessar, disponibilizo também o simpático relatório do Jetpack sobre o blog, do qual colho as seguintes informações estatísticas: o blog foi visitado 430.000 vezes em 2012, ano no qual foram publicados 326 novos posts. É quase um por dia; é uma boa meta. O blog recebeu visitas de 114 países: naturalmente, Brasil e Portugal têm o maior número de acessos, até por questões de afinidades lingüísticas. Mas da Itália vieram-me mais visitantes do que de todos os demais países da América do Sul somados; mais até do que de Angola ou de Moçambique, onde se fala português – e isto me foi uma grata surpresa.

Aos meus leitores, um feliz Ano-Novo! Que a Santíssima Virgem nos guarde a todos, e que o Seu Divino Filho aja para com todos com liberalidade. E que nós saibamos demonstrar bravura e coragem no enfrentamento das batalhas que 2013 nos reserva.