Miscelânea: aborto, relativismo, pedofilia, Papa Francisco

Gostaria de comentar com mais vagar cada um dos temas abaixo, mas a escassez de tempo mo impede. Prefiro, então, simplesmente indicar os assuntos agora, remetendo às leituras das quais disponho; pois, se não o fizer, temo que a agitação do dia-a-dia me leve a passá-los em silêncio.

– O julgamento de um monstro e a omissão da grande mídia nos EUA: «Embora não fosse obstetra, nem ginecologista, apenas clínico geral, Gosnell era proprietário de uma clínica de abortos. Ele atendia mulheres que queriam abortar seus filhos mesmo depois da 24ª semana de gestação, o limite imposto por uma lei estadual. Sua clínica não seguia várias normas sanitárias, contratava pessoas sem formação e desprezava os procedimentos pré-abortivos, que preveem uma lista de exames e orientações à mãe. As maiores atrocidades, no entanto, ocorriam quando algo dava “errado” na mesa de cirurgia. Conforme conta a colunista Kirsten Powers, do jornal USA Today, Gosnell decapitava os bebês sobreviventes, e os guardava em jarras, na geladeira». Também no Wagner Moura: «Nunca é fácil falar sobre aborto. E por isso mesmo é normal que nos reconheçamos quase que obrigados a ridicularizar católicos pró-vidas de cultura inglesa que nessa questão de defesa da vida parecem tão… Tão pouco diplomáticos!».

– O relativismo relativo ou a justa relatividade da verdade: «Sendo assim, quando uma afirmação é verdadeira a sua contraditória necessariamente será falsa. Isso quer dizer que se uma pessoa diz “isso que está diante de mim é um computador”, não pode dizer no mesmo tempo “isso que está diante de mim não é um computador”. Quem está certo da verdade da primeira afirmação, não pode aceitar a verdade da segunda. Isso é o princípio básico de coerência do pensamento e da linguagem humana. Quem nega esse primeiro princípio se torna incapaz de fazer qualquer afirmação, de raciocinar, de dialogar, de viver em sociedade. Se torna, para continuar com o exemplo de Aristóteles, semelhante a um vegetal, com quem não é educado discutir». Trata-se de mais um texto sobre o tema da lavra do revmo. pe. Anderson Alves, de quem eu já tive o prazer de recomendar outros textos aqui no blog.

Sobre Igreja, celibato e pedofilia: «O celibato mete medo, causa pavor. A castidade e a pureza dos padres e das freiras humilham-nos, desconcertam-nos. Não nos sentimos capazes de imitá-los. Desconfio que também os que vivem a homossexualidade sintam-se confundidos pelas pessoas continentes. Estas acusam a nossa sociedade encharcada de sexo. A mesma TV que promove a sacanagem, hipocritamente, condena a pedofilia. O celibato é um incômodo feixe de luz atirado aos olhos de quem está no breu, cambaleando, trôpego, embriagado pelo prazer dos sentidos (gostaria de perguntar a Arnaldo Jabor se prazer e alegria são a mesma coisa). A luz em si é boa, mas incomoda a quem está nas trevas. A continência sexual em si é um bem, mas agride quem quer comer o alimento dos porcos. Quem deplora o celibato é porque se sente incapaz de vivê-lo. Julga impossível aos outros o que é impossível para si. O inepto julga os demais ineptos».

– ¡Alerta tradis y conservadores, Dios no lo quiera, pero cualquier cosa mala que le pase a Francisco la culpa será vuestra!, que peço perdão por não traduzir. A idéia, simultaneamente cômica e cretina, é insinuar a existência de um complô conservador para ferir o Papa – ou, melhor dizendo, é pintar com cores tão tétricas a figura dos tradicionalistas que eles possam ser facilmente usados como bodes expiatórios naturais para qualquer coisa que aconteça com o Santo Padre. A insídia talvez mais cretina sai da pena do Leonardo Boff, que menciona João Paulo I e dispara: «Es un peligro, porque hay una historia en el Vaticano de muchos asesinatos, hace mucho tiempo. Él debe tener cuidado porque donde hay disputa del poder no hay amor, y el poder siempre busca más poder».

– O primeiro golpe contra o Papa Francisco: «Diga-se contra o dogma relativista que não há afirmação sem a negação do seu contrário. Não dá para confirmar na fé, sem negar o que se opõe a ela. Penso que o próximo passo dos bispos americanos é partir para o ataque contra um jornal que se apresenta com o nome “católico” e, sob esta fantasia, promove o seu oposto. Os católicos precisam conhecer sob que vestes o diabo se apresenta, pois eles sabem atacar, e como! Quando alguma mínima reação é esboçada, apelam para a caridade fraterna, numa versão tão melíflua quanto antievangélica». O autor fala sobre a confirmação, feita recentemente pelo Papa Francisco, das reformas na vida religiosa feminina americana: «Muitos esperavam que o Papa Francisco adotasse uma posição paternalista e transigisse com o império das freiras. […] Mas o Papa Francisco reafirmou o resultado do trabalho, chamado “Doctrinal Assessment” (Avaliação Doutrinária), e o programa de reformas desta mesma conferência de religiosas. E ao que parece, a Congregação para os Religiosos ficou à margem do processo».

A inaudita pretensão de mudar o mundo. Trago apenas as palavras do Papa Francisco no dia 06 de abril, recolhidas por Sandro Magister, que foram proferidas em uma de suas homilias espontâneas e, por isso, não constam no site do Vaticano, de modo que nós só temos acesso a elas de segunda mão: «“A fé não se negocia. Esta tentação sempre existiu na história do povo de Deus: cortar um pedaço da fé, ainda que não seja muito. Mas a fé é assim, tal como a recitamos no Credo. É necessário superar a tentação de fazer o que todos fazem, não ser tão, tão rígidos, porque precisamente daí começa um caminho que acaba na apostasia. De fato, quando começamos a destroçar a fé, a negociá-la, a vendê-la à melhor oferta, começamos o caminho da apostasia, da não fidelidade ao Senhor”».

Sim, defender a vida vale a pena

Comento, apenas brevemente, um parágrafo de um texto de D. Odilo Scherer publicado este fim de semana no Estadão, que merece uma leitura na íntegra. O parágrafo é o seguinte:

Não é por demais inglório manifestar-se sobre essa questão antipática, recebendo o carimbo de “conservador” e “mente fechada”? Dia mais, dia menos, o aborto será aprovado; existem pressões muito fortes sobre os legisladores e diversos interesses estão em jogo. Vale mesmo a pena? Eis o problema. A questão delicada da dignidade humana e do direito à vida é demasiado séria para ficar refém da pressão ideológica.

Eu penso já ter dito aqui que o valor das causas não está simplesmente na sua possibilidade de sucesso, mas que lhes é intrínseco. A verdade não deixa de ser verdade ainda que todo mundo dê crédito a mentira, e uma causa justa não deixa de ser justa (muito pelo contrário, aliás) se todo mundo estiver comprometido com a injustiça. Há muito de verdade no famoso bordão atribuído a Santo Atanásio: «se o mundo estiver contra a Verdade, Atanásio estará contra o mundo».

Isto não significa fechar por completo as possibilidades de diálogo (palavra tão mal entendida nos dias de hoje!); significa apenas ser capaz de manter uma sadia intransigência em certos princípios inegociáveis. Conversar com as pessoas que não pensam como nós é não somente possível como necessário: é somente dessa maneira que será possível a estas pessoas mudarem de idéia, afinal de contas. Não sei por que cargas d’água a palavra “diálogo” parece evocar na mente de alguns uma igualdade absoluta entre os interlocutores. Ora, isto absolutamente não é verdade e, se é necessário estabelecer um terreno comum entre os dialogantes como condição mesma para a existência do diálogo, isso de modo algum significa colocar em pé de igualdade as posições defendidas pelos dois lados antagônicos no debate de idéias. Santo Tomás já dizia que usava a razão contra os pagãos, o Antigo Testamento contra os judeus e as Escrituras inteiras contra os hereges; não penso que isso se distancie muito daqueles «círculos concêntricos, em que a mão de Deus nos colocou» sobre o qual Paulo VI fala na sua Encíclica sobre o Diálogo (Ecclesiam Suam, nn. 54ss).

Em uma palavra, por fim: o (justo) desejo de não ser antipático não pode levar à entrega de territórios cuja defesa não nos é lícito abandonar. Precisamos nos fazer ouvir, é certo; mas se os nossos interlocutores só nos concederem o beneplácito de sua atenção em troca de abandonarmos as nossas mais profundas convicções doutrinárias e morais, então não poderemos aceitar as suas condições porque, se o fizermos, nada mais teremos a lhes dizer. É essa a pertinente resposta que D. Scherer dá no seu artigo: há questões que são «demasiado séria[s] para ficar[em] refém da pressão ideológica». Se não nos querem ouvir, precisamos continuar falando; se a derrota é inevitável, então somos obrigados a morrer defendendo aquilo que sabemos ser certo.

Sim, lutar contra o inevitável pode parecer inglório, mas é somente aparência. A verdadeira glória está em defender o que é certo, independente das pressões que porventura soframos no caminho. Sim, defender a vida vale a pena. Por mais que o horizonte se nos descortine fechado e por mais que não pareça haver luz no fim do túnel, não temos o direito de duvidar jamais disso.

Nota de repúdio à posição abortista do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco

[Publico nota de repúdio do “Comitê Pernambucano da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto” à decisão do CREMEPE (Conselho Regional de Medicina de Pernambuco) de continuar apoiando o lobby pró-aborto do CFM. Aproveito também o ensejo para chamar a atenção para esta nota da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família/CNBB, que dirigiu ao Conselho Federal de Medicina palavras duras como estas: «[s]ua decisão (…) deixa uma mensagem inequívoca: quando alguém atrapalha, pode ser eliminado».

A decisão dos médicos de Pernambuco de apoiar o aborto, este retrocesso legislativo (porque, em pleno século XXI, quaisquer medidas legais que se proponham a revogar direitos humanos a duras penas conquistados é um retrocesso), é lastimável. Mancha a imagem deste estado perante o Brasil e nos cobre de vergonha diante de nossos compatriotas. Fica aqui ao menos o nosso protesto e, ao menos como desagravo, o registro de que nem todos em Pernambuco são favoráveis a esta atitude vergonhosa que o CREMEPE adotou. Ao contrário do que o CREMEPE disse para o CFM, Pernambuco não apóia o assassinato de crianças inocentes.]

NOTA DE REPÚDIO
AO CREMEPE

O Comitê Pernambucano da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto vem a público repudiar o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE), por sua intransigência em permanecer apoiando a Circular 46/2013 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que propõe a descriminalização do aborto em diversas situações, inclusive, pela simples vontade da gestante, até a 12ª semana de gestação.

Após manifesto público em frente ao CREMEPE, organizado pelo Grupo Natureza Humana, tendo a participação de diversos Movimentos em Defesa da Vida de Pernambuco, incluindo o Brasil Sem Aborto Estadual, a Dra. Helena Maria Carneiro Leão, Presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE) se dispôs a receber, na tarde do dia 08 de abril, uma comissão representativa da Sociedade Civil Organizada, representados pelo Movimento Nacional da Cidadania Pela Vida – Brasil Sem Aborto/PE e RJ, Grupo Natureza Humana/PE, Associação Jamais Abortar/PE, Casa das Gestantes/PE, Círculo Católico de Pernambuco, Comunidade Maanaim/PE, Obra dos Santos Anjos/PE, Comissão Estadual de Espiritismo/PE, Associação Médico-Espírita de Pernambuco, bem como representação da Grande Loja Maçônica de Pernambuco, através de seu Grande Secretário de Assuntos Filantrópicos.

Na ocasião a Presidente do CREMPE confirmou ser uma decisão da maioria dos Conselheiros de Pernambuco apoiar o documento pró-aborto do CFM, e que ela apenas levou para o Conselho Federal de Medicina o que aqui já haviam também decidido; representando desta forma a opinião e decisão dos Médicos de Pernambuco.

Nós do Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida – Brasil Sem Aborto lamentamos o fato de que os médicos representados pelo CREMEPE tenham deixando de lado o fato de que a dignidade humana independe do período da gestação.

Ratificamos o posicionamento e o discurso da Executiva Nacional do Brasil Sem Aborto: “qualquer estudante do segundo ano de Medicina já aprende, em suas aulas de embriologia, que os doze pares de nervos cranianos se formam durante a quinta e a sexta semanas do desenvolvimento. Que na nona semana ocorre a inervação dos músculos, e a criança em formação salta dentro do útero, exercitando perninhas e bracinhos, organizando as conexões nervosas. Que na décima semana de gestação o embrião está praticamente todo formado e, a partir daí, haverá basicamente a maturação e crescimento dos órgãos e sistemas do bebê.”

A Presidente do CREMEPE justifica o seu apoio e de seus conselheiros a descriminalização do aborto com base em uma pretensa “autonomia da mulher”. Desconsiderando, assim, o direito à vida, primeiro de todos os direitos, cláusula pétrea da nossa Constituição.

Repudiamos o posicionamento dos Conselheiros do CREMEPE, porque como médicos eles deveriam ser os primeiros a reconhecerem, como diz a Dra. Lenise Garcia – Presidente do Nacional do Movimento Brasil Sem Aborto, que a solução do problema do aborto está na prevenção, na educação com o fim de se evitar  gravidez indesejada, no apoio à mulher que se encontra em situações difíceis, na vigilância pública de clínicas clandestinas e na devida punição dos responsáveis por elas.

Se o aborto é o problema, o aborto não pode ser a solução.

Iraponan Arruda
Coordenador-Executivo Estadual

Nota da Província Camiliana Brasileira sobre o pe. Christian de Barchifontaine e o aborto

[Referente à denúncia de que o sacerdote camiliano pe. Christian de Barchifontaine – feita, entre outros lugares, aqui mesmo no Deus lo Vult! – estaria flertando com o abortismo mais descarado e sem-vergonha, recebemos a seguinte nota de esclarecimento da Província Camiliana Brasileira.

Especificamente sobre o evento do CFM ocorrido em Belém do Pará, foi aparentemente este o material usado pelo referido padre na malfadada mesa redonda. A apresentação é sucinta e mal contém os tópicos que devem ter sido abordados durante a preleção do revmo. sacerdote; por ela somente, não dá para concluir nada. Inobstante, o padre Christian é conhecido pela proeza de escrever livros sobre bioética nos quais não menciona o aborto uma única vez (!), e este tão inusitado fato é por si só indício suficiente de que provavelmente existe alguma coisa de muito errada no conceito de “defesa da vida” do padre de Barchifontaine. Sentimo-nos, assim, no direito de continuar desconfiados. Reservamo-nos o direito de permanecer com um pé atrás.]

NOTA DE ESCLARECIMENTO

São Paulo, 27/03/2013

Prezado (a) Sr (a)

Saúde e paz!

Respondo e-mail de sua autoria, relacionado ao posicionamento do Pe. Christian de Paul de Barchifontaine, sobre a descriminalização do aborto no Brasil.

A verdade a ser dita é que, o Pe. Christian participou da mesa redonda do Conselho Federal de Medicina, CFM, defendendo a posição da Igreja Católica Apostólica Romana.

Houveram no passado, meados da década de 90, algumas denúncias, por interpretação errada da mídia, relacionadas ao posicionamento do Pe. Christian, totalmente esclarecidas pelas autoridades eclesiásticas.

A Província Camiliana Brasileira é parte da Igreja, comunga da doutrina ética cristã de defesa da vida. Em nenhuma instância é a favor da prática do aborto.

O referido religioso, Pe. Christian não tem feito nenhum pronunciamento público a favor da legalização do aborto, portanto, se o Sr.(a) está inconformado com essa questão, envie ao CFM, www.cfm.org.br, (que é a instância que está levando essa questão à diante) seu repúdio e, divulgue esta nota de esclarecimento em nome da verdade.

Respeitosamente, desejo-lhe uma Feliz Páscoa.

Pe. Leo Pessini
Provincial
Província Camiliana Brasileira

O lobby abortista do CFM: aspectos legais e médicos

Dois importantes textos sobre a posição pró-aborto do CFM. O primeiro, esclarece os aspectos legais e diz que o órgão, absolutamente, não tinha competência para encaminhar moção de apoio ao famigerado projeto que, à revelia da esmagadora maioria da população, legaliza o aborto no país. O segundo se debruça sobre os aspectos médicos e mostra que mesmo as justificativas esfarrapadas do presidente do Conselho não se sustentam à luz do que se sabe sobre o desenvolvimento embrionário humano.

– Aborto: A incompetência do Conselho Federal de Medicina, por Cícero Harada. «A proposta do aborto, pois, sequer poderia ter sido posta em discussão, ser aprovada ou rejeitada, menos ainda a sua defesa encaminhada ao Senado, em nome do CFM. São atos de desvio de finalidade e como tais nulos de pleno direito e de nenhum efeito. Cuida-se de grave instrumentalização política de entidade que sempre gozou da mais ampla respeitabilidade social, mas que agora, ao arrepio da lei, embarca na canoa da morte».

– Nota de repúdio do Brasil Sem Aborto, por Lenise Garcia e Jaime Lopes. «Na tentativa de justificar a iniciativa, o presidente do CFM afirma em sua página que a restrição à 12ª semana motiva-se em que “a partir de então o sistema nervoso central já estará formado”. Surpreende que um médico possa dizer isso. Deixando de parte o fato de que a dignidade humana independe da formação de sistema nervoso, qualquer estudante do segundo ano de Medicina já aprende, em suas aulas de embriologia, que os doze pares de nervos cranianos se formam durante a quinta e a sexta semanas do desenvolvimento. Que na nona semana ocorre a inervação dos músculos, e a criança em formação salta dentro do útero, exercitando perninhas e bracinhos, organizando as conexões nervosas. Que na décima semana de gestação o embrião está praticamente todo formado e, a partir daí, haverá basicamente a maturação e crescimento dos órgãos e sistemas do bebê».

Gazeta do Povo contra a lamentável decisão do CFM de apoiar o aborto!

Ainda sobre a obtusa posição pró-aborto do Conselho Federal de Medicina, a Gazeta do Povo – mais uma vez! – foi extraordinária na publicação deste editorial: “Médicos contra a vida”. Leiam lá! Destaco:

Não pretendemos, aqui, tratar como mera estatística as mulheres que morrem em decorrência de interrupções de gravidez, embora seja preciso desmistificar as alegações de uma suposta carnificina causada pela criminalização do aborto. Uma única morte já seria motivo para lamentar profundamente, e nos solidarizamos com as mulheres que se encontram em uma situação tão desesperadora que o aborto acaba visto como a única solução. No entanto, não acreditamos que a eliminação de um ser humano inocente e indefeso seja a resposta. Cabe ao Estado e, especialmente, à sociedade civil encontrar meios para que essas gestantes se sintam acolhidas e possam levar a gestação ao fim.

Não deixem de divulgar e de entrar em contato com o jornal, por meio da página de “Fale Conosco” ou do email <leitor@gazetadopovo.com.br>. Façamos os responsáveis pela Gazeta do Povo saberem a importância do trabalho que eles realizam no Brasil atual.

Afinal, de onde vem o abortismo do CFM?

A recente decisão do Conselho Federal de Medicina de apoiar a descriminalização do aborto no país não saiu do nada. Veio de Belém do Pará, do “I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina 2013”; mais especificamente, de uma mesa redonda chamada “Aborto e Desigualdade Social”, com a seguinte singela composição (grifos meus):

Coordenada pelo presidente do CFM, Roberto d’Avila, [a mesa redonda] contará com a participação da professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB). Além dela, contribuirão o professor Christian de Paul de Barchifontaine, reitor do Centro Universitário São Camilo; o promotor de Justiça Diaulas da Costa Ribeiro e o secretário-geral do CFM, Henrique Batista e Silva, coordenador do grupo técnico criado para avaliar o tema.

O Wagner Moura fez-nos o favor de identificar os participantes deste evento:

  1. A Débora Diniz, velha conhecida nossa, é a provável maior expoente da ONG abortista ANIS, que faz virulenta militância a favor do aborto no Brasil.
  2. O Diaulas Ribeiro «é o jurista que autoriza que rapazes com paralisia cerebral tenham relações sexuais com prostitutas, é ele também conhecido por defender eutanásia e, advinhem, aborto».
  3. Last but not least. o sr. Christian de Barchifontaine é sacerdote católico! É o «padre camiliano que SEMPRE está nos eventos onde a ANIS – ONG pró-legalização-do-aborto da antropóloga Debora Diniz – está».

Faço coro integralmente à indignação do Wagner Moura: como é possível que um órgão que supostamente representa toda uma categoria de profissionais faça um pronunciamento com indisfarçado viés ideológico, embasado pelas conclusões de um “grupo técnico” formado exclusivamente pela patota abortista mais descarada?

Agora me expliquem que medicina é essa do Conselho Federal de Medicina que para tratar de assuntos referentes a aborto forma um “grupo técnico” no qual somente e unicamente militantes pró-aborto foram convidados?!

[…]

Quem são esses médicos que aceitam ser “orientados” por um “grupo técnico” totalmente alinhado com uma ideologia que transforma a vida humana em mero acordo social (só é humano quem o grupo decidir que seja)? Isso é ridículo. Como é que um Conselho Federal de MEDICINA se submete a essa pouca vergonha? Ora, nenhum dos peritos em aborto citado na matéria do próprio CFM é médico. NENHUM! São todos muito bem remunerados por velhíssimas conhecidas organizações internacionais que se intrometem nos assuntos do Brasil: Ford, Rockfeller e MacArthur.

Como é possível que ninguém proteste contra esta absurda ingerência de “especialistas” – a soldo de organizações pró-aborto internacionais – em assuntos de interesse de uma categoria profissional da qual eles sequer fazem parte? Médicos, escrevam ao CFM! É o nome de vocês que o Conselho está emporcalhando com toda essa empulhação!

E como é possível que um sacerdote católico esteja de conluio com esta caterva para legalizar o assassinato de crianças no Brasil? Um padreCorruptio optimi pessima, como diz o adágio latino. Quanto a isso, nós próprios podemos exigir explicações. Os contatos eletrônicos da Província Camiliana Brasileira – à qual o revmo. pe. Christian de Paul de Barchifontaine responde – seguem abaixo:

provincial@camilianos.org.br
diretoria@saocamilosede.org.br
imprensa@camilianos.org.br

Não nos calemos, senhores, não nos calemos. O mal avança despudoradamente, e está tão confiante de nossa fraqueza que nem se preocupa mais em agir às sombras: desvela-se em toda a sua fealdade à luz do dia, zombando das leis de Deus e da Sua Igreja. Mas os que militam a favor da morte não prevalecerão nesta Terra de Santa Cruz, não terão a palavra final sobre este povo do qual a Senhora de Aparecida é Imperatriz e Padroeira. Levantemo-nos em defesa d’Ela! Que o solo da nossa Pátria não seja manchado pelo sangue das crianças abortadas. Que a Virgem Santíssima nos ajude e, por Sua poderosa intercessão, livre o Brasil da maldição do aborto.

Velhas falácias em uma roupagem não tão nova assim: o CFM e o aborto

Na última segunda-feira (18 de março), o “Contra o Aborto” fez uma oportuna denúncia: o Conselho Federal de Medicina (CFM) deu os braços à militância abortista para fazer lobby a favor da legalização do aborto no Brasil. Ontem (20 de março), o “Blog da Vida” publicou uma importante matéria chamada “Por que os motivos do CFM para apoiar o aborto não se sustentam?”, levantando questões bem pertinentes (e incômodas…) sobre as alegadas razões do CFM para o órgão se posicionar a favor do aborto. Estes dois textos põem a tagarelice abortista a descoberto e dirimem (pela milésima vez) a questão para quem não tem compromissos ideológicos com a cultura da morte. Ontem, portanto, estavam já sepultados os sofismas dos quais recentemente os burocratas do CFM lançaram mão para minar a defesa da vida no Brasil. O zelo dos pró-vida brasileiros garantiu que a refutação deles estivesse disponível antes mesmo que a imprensa começasse a divulgá-los, trabalho pelo qual estão de parabéns.

A despeito do atraso, com monótona previsibilidade, o establishment tomou partido do Conselho. Hoje, os órgãos de mídia parecem não falar em outra coisa! Em particular, o Sakamoto ressuscitou velhos sofismas e preconceitos puídos para encher de clichês o seu blog:

  • “defesa do direito ao aborto é diferente de defesa do aborto…”
  • “aborto hoje é legal para quem é rico…”
  • “[a] discussão não é quando começa a vida, sobre isso dificilmente chegaremos ao um consenso, mas as mulheres que estão morrendo nesse processo…”
  • “eles [os abortos] vão acontecer legal ou ilegalmente…”
  • “[n]egar a uma mulher o direito a realizá-lo [o aborto] é equivalente a dizer que ela não tem autonomia sobre seu corpo…”
  • “podemos entregar a questão da saúde pública aos cuidados da Igreja Católica…”
  • “[d]efendo incondicionalmente o direito da mulher sobre seu corpo…”
  • “o Estado brasileiro, laico, não pode se basear em argumentos religiosos para tomar decisões de saúde pública ou que não garantam direitos individuais…”
  • “não se pode defender que minhas crenças, físicas ou metafísicas, se sobreponham à dignidade dos outros…”

Incrível, não? Em pleno século XXI o cara me sai com este discurso do século passado, mais furado que tábua de pirulito e mais mentiroso do que propaganda eleitoral gratuita! E o pior é que ele não se dá sequer ao trabalho de argumentar: simplesmente vomita as mesmas bobagens de sempre, como se elas fossem alguma novidade intelectualmente relevante às quais nunca ninguém tivesse sequer tentado dar resposta.

Rapidamente, ajudemos o Sakamoto a se situar no mundo moderno e tragamos à mesa o que já se disse sobre o assunto (sobre o qual ele prefere lançar um cômodo manto de silêncio, fingindo que nunca existiu ou que não é com ele):

  • Defender o direito de se fazer alguma coisa e defender a própria coisa são posições estreitamente afins, de modo que não é possível conceber um sistema de valores no qual a primeira seja moralmente exigível e, a segunda, execrável e inadmissível. A distinção é completamente irrelevante para o mérito da celeuma. Ainda: no caso concreto, insinuar que seja possível defender um “direito” mas não o exercício desse “direito” chega a ser ridículo e ofensivo à inteligência dos adversários.
  • Sim, crimes sempre vão continuar acontecendo e, sim, quanto mais recursos uma pessoa tiver mais fácil será para ela cometer um crime e permanecer impune. Isso é lamentável, mas é uma característica das relações humanas da qual os contemporâneos (e indignantes) crimes de corrupção política são talvez o exemplo mais embaraçosamente eloqüente. A óbvia bandeira de luta a ser levantada diante disso é pela punição dos poderosos, é lógico. Querer democratizar o acesso à degeneração moral e garantir que os pobres também possam cometer “em segurança” os crimes dos ricos é simplesmente nonsense.
  • Nenhum direito é absoluto. A partir do momento em que uma mulher carrega um outro ser humano no ventre ela deixa, sim, de poder dispôr do seu corpo da mesma forma que fazia quando não estava grávida. Isto é uma decorrência imediata do princípio da igualdade fundamental entre todos os homens, fundamento basilar de qualquer sistema de direitos humanos que se possa conceber.
  • Não existe nenhuma discussão sobre “quando começa a vida”, esta resposta já foi dada há muito tempo pela genética e pela embriologia: com a junção dos gametas masculino e feminino surge um novo indivíduo, distinto dos seus progenitores, que é humano e está vivo. Qualquer tentativa de negação dessa verdade é arbitrária e ideológica, nunca racional. O que os defensores do aborto propagam é que alguns seres humanos são mais humanos do que outros: e sobre tão bárbara crença, de fato, nós nunca chegaremos a um acordo.
  • Nenhum dos pontos acima é um “argumento religioso”; são sempre os promotores do aborto que trazem o tema “religião” à baila, numa tentativa patética e desesperada de desqualificar uma discussão incômoda que eles não são capazes de travar com honestidade intelectual.

Enfim, nada de novo sob o sol. No entanto, é de se lamentar que os defensores do aborto não estejam mais sequer fingindo argumentar, e tenham aparentemente partido para a estratégia de ignorar cinicamente tudo o que já se disse contra a posição macabra que eles defendem. É de se lamentar que, agora, a ideologia abortista se limite a papagaiar de tempos em tempos a mesmíssima cantilena que lhe embalou as vergonhosas derrotas passadas, sem nem sequer fingir debater mais.

Parabéns a todas as mulheres!

Dizem que a data de hoje é uma comemoração feminista. Não quero entrar neste mérito; ainda que seja verdade, a mim parece-me que ela pode muito facilmente ser ressignificada, a fim de que exalte verdadeiros valores e celebre o que é realmente digno de ser celebrado. Não é preciso dar corda às feministas nem fazer propaganda indireta das bobagens que elas reivindicam; no dia de hoje nós temos algo de positivo para comemorar. Não uma ideologia estéril e sem sentido, mas a graça e a beleza da mulher, querida e criada por Deus para ser companheira do homem.

Há uma relativamente clássica música sobre Nossa Senhora que contém um garboso louvor às mulheres: trata-se daquela canção (tão comum na minha infância) que diz que «em cada mulher que a terra criou / um traço de Deus Maria deixou, / um sonho de mãe Maria plantou, / pro mundo encontrar a paz». Sei que não se trata de nenhuma sumidade teológica, mas deixemos isso de lado por enquanto. Aqui, pensemos somente em como o mundo seria melhor se todas as mulheres tivessem a consciência de que contêm “um traço de Deus” e “um sonho de mãe”. Se cada uma delas soubesse reconhecer o seu próprio valor.

É Dietrich Von Hildebrand quem fala que o amor entre o homem e a mulher é típico; isto é, o homem que ama enxerga em cada mulher um reflexo, um lampejo, uma lembrança da sua amada. Isso é uma tese de validade universal e tem uma interessante conseqüência prática dentro do Cristianismo: nós temos uma Mulher que é o arquétipo de toda feminilidade, temos uma Mãe que reúne em Si todas as belezas criadas, temos uma Senhora a Quem nos devotar com todas as forças e de todo o coração. Quando eu era pequeno e ouvia a música do Pe. Zezinho acima mencionada, sempre pensava que aquele “traço de Deus” deixado por Maria Santíssima nas mulheres era Ela própria. Sempre pensei no enorme privilégio que não deveria ser às mulheres compartilharem uma natureza feminina com Aquela que é a Mãe de Deus.

De certo modo, em toda e cada mulher está presente um reflexo da Santíssima Mãe de Deus, uma imagem d’Aquela que Deus coroou Rainha dos Céus. Ora, isto é um indiscutível valor próprio da feminilidade, é uma evidente característica – belíssima característica! – da qual as mulheres são detentoras e, por conseguinte, é razão suficiente para a comemoração de um Dia da Mulher. Assim, neste oito de março nós celebramos não os estertores de uma caquética ideologia anti-natural, mas sim as incomensuráveis graça e beleza que o Altíssimo conferiu a uma criatura – Maria Santíssima – e com as quais simultaneamente, em referência a Ela, dotou todas as mulheres do mundo.

Um feliz Dia das Mulheres para todas aquelas que, de um modo ou de outro, fazem parte da minha vida: as que me são próximas e as que não são tão próximas assim. Parabéns às que fazem parte da minha família ou do meu ambiente de trabalho, do meio acadêmico ou do bairro. Às que moram na minha cidade, às que lêem o Deus lo Vult!, às minhas conterrâneas. Às que são brasileiras como eu próprio, às latino-americanas como eu mesmo o sou; enfim, a todas as mulheres de todas as raças e todos os credos, com as quais eu – ainda que não as conheça – divido uma natureza humana e uma vocação às coisas mais altas, e nas quais refulge, ainda que elas não saibam, um reflexo da Santíssima Virgem a lhes conferir dignidade intrínseca e a lhes convidar incessantemente para tomar parte no Reino de Deus.

* * *

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Para não perder o costume, a foto acima mostra bem quais são os verdadeiros “direitos da mulher” pelo qual todos temos o dever de lutar, hoje e em todos os dias. Porque os direitos iguais devem ser iguais para todos, independente de cor, raça, credo, idade ou estágio de desenvolvimento.

Esclarecimentos: Conferência Episcopal Alemã e “pílula do dia seguinte”

Ganhou repercussão recente (parece-me que saiu até no Jornal Nacional) uma notícia sobre a Conferência Episcopal Alemã ter autorizado o uso da chamada “pílula do dia seguinte” em casos de estupro. No início deste mês, eu escrevera aqui algumas coisas sobre uma declaração do Card. Meisner neste sentido, cuja leitura é importante para se entender o que está acontecendo. Aproveito que o assunto voltou à tona para insistir n’alguns pontos.

– A vida começa no momento da concepção, i.e., quando o espermatozóide do homem fecunda o óvulo da mulher. A partir deste instante, qualquer tentativa de impedir o desenvolvimento deste indivíduo humano recém-fecundado é um atentado à vida de um ser humano inocente, e não pode ser aceita sob nenhuma justificativa. O Vaticano sabe disso, nós sabemos disso e os bispos alemães sabem disso.

– Há três maneiras de uma relação sexual consumada não resultar em um bebê alguns meses depois: se a mulher não tiver ovulado (1), se os espermatozóides do homem não conseguirem fecundar o óvulo (2) ou se o óvulo fecundado não conseguir se desenvolver (3).

– Do exposto, segue-se que não há aborto nos casos (1) e (2) acima. Provocando-se o caso (3), ao contrário, há a destruição de um ser humano e, portanto, há um atentado direto contra uma vida já existente, há um aborto. Para a moralidade do ato não faz diferença se esta ação é feita diretamente (com pinças de aborto, p.ex.) ou indiretamente (p.ex., danificando o ambiente onde o embrião humano haveria de se desenvolver): em qualquer um dos casos há um aborto. Em particular, impedir a nidação (= a fixação do embrião já fecundado na parede uterina) equivale a abortar.

– “Pílula do dia seguinte” é um nome genérico dado a uma gama de medicamentos, cujos efeitos não são necessariamente idênticos no modo como operam. Há os que agem dos modos (1), (2) e (3) acima e – atenção! – há os que alegadamente não têm efeitos pré-implantatórios no embrião já fecundado (ou seja, que não são capazes de impedir a nidação). O mecanismo de ação desses últimos, supostamente, englobaria apenas os modos (1) e (2) acima.

– A Teologia Moral Católica diz ser lícito à mulher estuprada procurar impedir a concepção (veja-se o meu texto anterior). Assim, a mulher violentada pode (p.ex.) fazer uma lavagem interna para tentar se livrar do sêmen do estuprador e, deste modo, impedir uma gravidez. Não há pecado algum aqui.

– Uma droga que impedisse apenas a ovulação ou a concepção seria um equivalente químico da lavagem íntima pós-estupro. Assim, hipoteticamente, se existisse um composto químico que pudesse impedir a fecundação mas não fosse capaz de causar nenhum tipo de dano a um eventual embrião já fecundado, este composto poderia ser utilizado em casos de violência sexual como legítima defesa da vítima contra o sêmen do estuprador.

– Foi exatamente a utilização desta hipotética droga que a Conferência Episcopal Alemã autorizou, e não a de todos os compostos que atendem pelo nome de “pílula do dia seguinte” independente do seu mecanismo de ação. As declarações são claras, mesmo na mídia secular: «Métodos médicos e farmacêuticos que induzem à morte de um embrião [p.ex. – acrescento eu – impedindo a nidação] continuam sem poder ser usados» (Terra).

– Se só existem drogas que impedem a nidação do óvulo fecundado no útero da mulher, então nenhuma dessas drogas pode ser usada nem mesmo em casos de estupro, e é exatamente isso o que os bispos da Alemanha estão dizendo com todas as letras: métodos «que induzem à morte de um embrião continuam sem poder ser usados».

– Os documentos da plenária da Conferência Episcopal da Alemanha que decidiu esta questão estão disponíveis aqui. A declaração (em inglês) sobre o uso da pílula do dia seguinte em casos de estupro está aqui.

 – O que se autorizou foi o emprego de um composto que possa impedir a fecundação mas não a nidação; em suma, de uma droga que aja dos modos (1) e (2) acima enumerados, mas não do (3). Foi isso e somente isso o que a Conferência Alemã autorizou. Em nenhum momento os bispos da Alemanha autorizaram o uso de micro-abortivos, muito pelo contrário até: eles reforçaram a sua proibição. A Pontifícia Academia para a Vida, a propósito, também declarou que jamais deu aprovação ao uso da pílula do dia seguinte. Não há espaço para dizer o contrário disso.

– O que resta aqui é uma questão de fato, um problema de ordem prática, a saber: se existe uma droga capaz de impedir a ovulação (1) ou a fecundação do óvulo (2), mas que seja totalmente inofensiva para um eventual embrião já fecundado (3).

– Infelizmente, nenhuma das pessoas (entre médicos e biólogos) com as quais falei parece acreditar na existência de tal composto químico: a afirmação mais generosa que obtive foi a de que pílulas a base apenas de progestágeno teoricamente não teriam como impedir o embrião fecundado de nidar, mas que isso – embora seja aparentemente consenso entre médicos – é uma coisa que não foi ainda demonstrada na prática com o rigor científico que a seriedade do assunto exige. Ou seja: a dúvida fundada sobre se o composto é ou não capaz de impedir a nidação é o bastante para justificar o óbice moral ao seu uso mesmo em casos de estupro, e esta dúvida de fato existe.

– Em suma, a autorização dos bispos da Alemanha é exclusivamente para uma droga que possa simultaneamente impedir a concepção e deixar ileso um eventual embrião já fecundado. Esta autorização para casos de estupro, como vimos, está perfeitamente correta dentro da Moral Católica. O que se pode objetar contra os bispos é que eles, por falta de assessoria científica adequada, talvez tenham autorizado o uso de um composto que não existe no mundo real. O que revela um problema de ordem prática e científica, mas não de ordem moral. Assim, pode-se no máximo acusar a Conferência Episcopal Alemã de mal-informada; mas não de tentar deturpar a Doutrina Moral da Igreja Católica.