Comunicado – Supressão de Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano em Recife

É com extremo pesar que comunico que, a partir de hoje, não haverá mais a celebração da Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano na paróquia da Imbiribeira, às onze horas do domingo, como vinha acontecendo até então.

Em comunicado lido ao final da Santa Missa de hoje (e que cito de memória), o reverendíssimo pe. Nildo Leal de Sá informou que, por uma decisão pessoal, não irá mais celebrar a Missa ou os demais sacramentos, segundo as rubricas de 1962, na paróquia da Imbiribeira ou fora dela. Pediu que respeitassem a sua decisão que, embora de per si dolorosa, já havia sido tomada, após madura reflexão e oração.

O sacerdote pediu aos fiéis que rezassem por ele. Faço coro ao pedido: peço orações. Pelo pe. Nildo, pelos fiéis que, agora, estão sem a Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano em Recife e, em última instância, por toda a Arquidiocese de Olinda e Recife da qual eu faço parte.

O assassinato em Jaboatão dos Guararapes e as autoridades eclesiásticas

Esta bomba explodiu enquanto eu estava viajando. Soube do fato, porque fui informado por telefone; não tenho tempo para fazer considerações mais aprofundadas agora porque, senão, perco a visita às igrejas que estava planejando. Por enquanto, só dois documentos e um comentário.

Os documentos: a entrevista publicada no Diário de Pernambuco, da qual destaco:

Se a menina corre risco de vida, o aborto poderia ser uma opção?

Essa decisão é médica, muito mais do que eclesial.

Mas teria apoio do senhor ou o senhor condenaria essa decisão?

Depende do parecer médico, da situação. Não pode radicalizar também as coisas. Às vezes você faz um ato para defender a vida de uma pessoa, então tem sentido.

Então se a criança grávida corre risco de morrer, o aborto deve ser uma opção a ser pensada para preservar a vida da criança?

Depende dos fundamentos. Se houver um consenso médico, de que o caso é comprovadamente necessário, então claro que aí tem que se pensar. Mas em casos onde é possível levar a gestação adiante, se deve preservar as duas vidas.

O outro documento é uma carta, presumivelmente pública (já que está circulando por emails desde o início da semana), que o coordenador-executivo do Comitê Pernambucano da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto enviou a Sua Excelência. Transcrevo-a na íntegra, abaixo. E, para nossa maior vergonha, o Iraponan nem católico é…

O comentário: um amigo de Recife comentou em outro post que “o que Dom Fernando falou foi bem diferente do que foi publicado (e replicado) nos jornais/sites”. Segundo ele, “[p]arecem estar fazendo com ele o mesmo que fizeram com seu antecessor, editar e distorcer suas palavras para transmitir o que o jornalista/jornal quer, muitas vezes contrário ao que o entrevistado disse”. Ainda não vi os vídeos, mas a hipótese é verossímil e, portanto, é necessário conceder o beneplácito da dúvida. Escrevam a Sua Excelência, sim (dfsaburido@uol.com.br), mas façam-no com caridade. Por doloroso que seja, não se esqueçam de que estão falando com um Sucessor dos Apóstolos.

Peço orações por Olinda e Recife. Estamos precisando.

A carta de Iraponan Arruda segue abaixo.

* * *

Carta Informal

Att. Dom Fernando Saburido

Querido Irmão em Cristo Jesus, Dom Fernando, hoje escrevo com tristeza para falar do caso da criança de 10 anos que foi estuprada pelo padrasto e engravidou , na cidade de Jaboatão-PE, e nos posicionarmos enquanto Comitê pernambucano da Cidadania Pela Vida – Brasil sem aborto.

Lamentamos que fato desta natureza venha tomando corpo em nosso Estado, sem que se tome providências no sentido da prevenção. Quando o caso aparece só se enxerga um caminho: Assassinar a criança em gestação dentro da outra criança. Mas parece que seja este o único caminho, Dom Fernando Saburido? Nosso código autoriza o assassinato no caso do estupro, mas é certo a Igreja concordar com a legislação assassina? Não seria o ABORTO um ato de TORTURA e ASSASSINATO, e o nosso código penal afrontador dos princípios da moral CRISTÃ?

Meu caro sacerdote, se o real representante de Jesus se colocar contra os princípios apregoados por Ele, para onde irá tal igreja? Um reino que briga entre si não sobreviverá, disse Jesus. Como defender os princípios da vida se nossos líderes silenciam.

Sem a sua ajuda, meu nobre representante da Santa Igreja, o movimento contra a legalização do aborto em nosso Estado e no Brasil perde o equilíbrio. Grupos como Sim à Vida, da Pastoral Familiar, Associação Jamais Abortar, Grupo Celebre a Vida, Pastoral da Criança, CIRCAPE, AME-EPE, Javé são algumas das mais de 30 instituições formadoras do Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida – Brasil sem Aborto. Todos nós contamos com a postura Cristã, dos nossos representantes e líderes da Igreja.

Não quero aqui ser inoportuno nem indelicado ao comentar a opinião do nobre irmão a cerca do caso acima citado, mas deixo a mensagem bíblica falar em nome dos cristãos de Pernambuco:

O que diz a Sagrada escritura a cerca do ABORTO:

–  Jeremias 1:5 “Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da mãe te santifiquei; às nações te dei por profeta.”

– O mandamento de Deus proíbe tirar a vida em Êxodo 20:13 “Não matarás.”

– Jó 31.15 diz: “Aquele que me formou no ventre materno, não os fez também a eles? Ou não é o mesmo que nos formou na madre?”

– Em Jó 10.8,11 lemos: “As tuas mãos me plasmaram e me aperfeiçoaram… De pele e carne me vestiste e de ossos e tendões me entreteceste”.

– O Salmo 78.5-6 revela o cuidado de Deus com os “filhos que ainda hão de nascer”.

– O Salmo 139.13-16 afirma: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste… Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe”.

Lucas 1 (39 à 44):

E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá,
E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel.
E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo.
E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.
E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.

CONCLUSÃO:

Todos esses textos bíblicos acima Dom Saburido, e muitos outros, indicam que Deus não faz distinção entre vida em potencial e vida real, ou em delinear estágios do ser – ou seja, entre uma criança ainda não nascida no ventre materno em qualquer que seja o estágio e um recém-nascido ou uma criança. As Escrituras pressupõem reiteradamente a continuidade de uma pessoa, desde a concepção até o ser adulto. Aliás, não há qualquer palavra especial utilizada exclusivamente para descrever o ainda não nascido que permita distingui-lo de um recém-nascido, no tocante a ser e com referência ao seu valor pessoal.

Esses textos bíblicos Dom Fernando revelam os pronomes pessoais que são utilizados para descrever o relacionamento entre Deus e os que estão no ventre materno, claro que tudo isso o Senhor já sabe.

Esses versículos e outros (Jeremias 1.5; Gálatas 1.15, 16; Isaías 49.1,5) demonstram que Deus enxerga os que ainda não nasceram e se encontram no ventre materno como pessoas. “Não há nada nas Escrituras que possa sugerir, ainda que remotamente, Dom Fernando, que uma criança ainda não nascida seja qualquer coisa menos que uma pessoa humana, a partir do momento da concepção”

À luz do acima exposto, precisamos concluir com muito zelo e carinho meu caro Pastor Católico, que esses textos das Escrituras demonstram a vida humana pertencendo a Deus, e não a nós, e que, por isso, proíbem o aborto. A Bíblia ensina que, em última análise, as pessoas pertencem a Deus porque todos os homens foram criados por Ele. Desta forma, não cabe a um representante cristão dar suas opiniões pessoais quando o assunto é de ordem divina, entende?

Que Deus, meu Irmão Fernando, em sua Santa Misericórdia, continue encontrando espaço no teu coração para fazer brotar, cada dia, a sabedoria, a paz, o amor e fraternidade real.

Paz e Vida!!!!

Iraponan Chaves de Arruda Coordenador Executivo
Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida- Brasil Sem Aborto

“Na luta em defesa da vida, só temo o silêncio dos bons”

Pirâmide

A música abaixo constava em um livro de cantos que foi distribuído na Assembléia Pastoral Arquidiocesana de Olinda e Recife. É uma pérola, eu nunca tinha ouvido, e merece a nossa meditação. Obra de incomensurável valor poético e piedoso.

Por questões de justiça, quero registrar que um meu amigo, presente à supracitada assembléia em dois dos seus três dias, afirmou não ter ouvido a execução da peça. Mas já é sintomático que ela estivesse na seleção de cantos do encontro.

Domine, miserere nobis.

* * *

1. Na terra dos homens pensada em pirâmide
há poucos em cima, e muitos na base.
Na terra dos homens pensada em pirâmide
os poucos de cima esmagam a base.

Ref: Ó, povo dos pobres, povo dominado,
que fazes aí com ar tão parado?
O mundo dos homens tem de ser mudado.
Levanta-te, povo, não fique parado.

2. Na terra dos homens pensada em pirâmide
viver não se pode, pelo menos na base.
O povo dos pobres que vive na base
vai fazer cair a velha pirâmide.

3. E a terra dos homens já sem a pirâmide
pode organizar-se em fraternidade.
Ninguém é esmagado na nova cidade.
Todos dão as mãos em viva unidade.

Carta aos fiés de Olinda e Recife – Dom Leme

[Carta pastoral do Cardeal Leme, em 1916, quando era Arcebispo de Olinda e Recife. Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra foi o segundo arcebispo desta diocese. O atual Arcebispo, Dom Fernando Saburido, é o oitavo. Muitas águas corridas neste quase um século… Muitas coisas mudaram e, outras, continuam as mesmas…

Fonte: Adversus Haereses. Grifos meus.]

Ora, da grande maioria dos nossos católicos, quantos são os que se empenham em cumprir os mandamentos de Deus e da Igreja? É certo que os sacramentos são caudais divinos por onde corre a seiva vivificadora da fé. E, no entanto, parte avultada dos nossos católicos vive afastada dos sacramentos. A Penitência e a Eucaristia, focos de luz divina, são sacramentos conhecidos tão somente da maioria eleita dos nossos irmãos. E os outros? Não carecem do perdão magnânimo do Cristo? Não precisam, quem sabe, das luzes, do conforto e das inenerráveis graças do Pão Eucarístico? Não são católicos! É que são católicos de nome, católicos por tradição e por hábito, católicos só de sentimento. Ensinou-lhes uma santa mãe a beijar a cruz e a Virgem. Eles ainda o fazem. Mas, das práticas cristãs, dessas que purificam e salvam, eles se apartaram desde os primeiros dias da mocidade. (…)

Somos a maioria absoluta da nação. Direitos inconcussos nos assistem com relação à sociedade civil e política, de que somos a maioria. Defendê-los, reclamá-los, fazê-los acatados, é dever inalienável. E nós não o temos cumprido. Na verdade, os católicos, somos a maioria do Brasil e, no entanto, católicos não são os princípios e os órgãos da nossa vida política. Não é católica a lei que nos rege. Da nossa fé prescindem os depositários da autoridade. Leigas são as nossas escolas; leigo, o ensino. Na força armada da República, não se cuida da Religião. Enfim, na engrenagem do Brasil oficial não vemos uma só manifestação de vida católica. O mesmo se pode dizer de todos os ramos da vida pública.

Anticatólicos ou indiferentes são as obras da nossa literatura. Vivem a achincalhar-nos os jornais que assinamos. Foge de todo à ação da Igreja a indústria, onde no meio de suas fábricas inúmeras, a religião deixa de exercer a sua missão moralizadora. O comércio de que nos provemos parece timbrar em fazer conhecido que não respeita as leis sagradas do descanso festivo. Hábitos novos, irrazoáveis e até ridículos, vai introduzindo no povo o esnobismo cosmopolita. Carnavais transferidos para tempos de orações e penitência, danças exóticas e tudo o mais que o morfinismo inventou para distração de raças envelhecidas na saturação do prazer.

Que maioria-católica é essa, tão insensível, quando leis, governos, literatura, escolas, imprensa, indústria, comércio e todas as demais funções da vida nacional se revelam contrárias ou alheias aos princípios e práticas do catolicismo? É evidente, pois, que, apesar de sermos a maioria absoluta do Brasil, como nação, não temos e não vivemos vida católica. (…)

Os deveres religiosos, como não cumpri-los? Ou cremos em Deus e na sua Igreja ou não cremos. Sim? Então não podemos recusar obediência ampla e incondicional às suas leis sagradas. Não cremos em Deus e na Igreja? Nesse caso, não queiramos esconder a nossa descrença. Digamo-lo francamente: não somos católicos. Se, porém, temos a dita de o ser, não há tergiversação possível. Pautando a vida pelos ditames do Credo e dos Mandamentos, deles não nos é permitido selecionar o que nos agrada e o que nos contraria as paixões. Seria ofender a consciência e faltar à coerência. Dessa incoerência, menos rara do que se pensa, resulta a quase nenhuma influência dos princípios regeneradores do cristianismo nos atos da vida individual. E não é só. Privados do influxo benéfico e incomparável do Cristo, privamos a família, a sociedade e a pátria da nossa influência salvadora. Se Cristo não atua sobre a nossa vida individual, como poderemos atuar sobre o meio social?

E, no entanto, da influência social dos católicos é certo que muitos precisa a nossa pátria amada. Ela tem o direito indiscutível a exigir de nós uma floração de virtudes privadas e cívicas que, estimulando a todos no cumprimento do dever, em todos se infiltrem para germe de probidade e são patriotismo.

Da nossa parte, a consciência nos impele a nos desobrigarmos dos deveres que temos para com a sociedade e a pátria. Eles nascem da fé que nos anima e vivifica. Temos fé, somos possuidores da verdade! Como não querer propagá-la? Como não difundi-la? Seria desumano que pretendêssemos insular a nossa fé nas inebriações de perene doçura extática.

É natural, é cristão, é lógico que devo pôr todo o empenho em que meu Deus seja conhecido e amado. Devo esforçar-me para que se dilate o seu reinado e ele – o meu Jesus – viva e reine, impere e domine nos indivíduos, na família e na sociedade. Devo esforçar-me, em tudo e por tudo, para que o meu Deus, Mestre e Senhor, viva e reine, principalmente, nos indivíduos, na família e na sociedade que, irmanadas comigo nos laços do mesmo sangue, da mesma língua, das mesmas tradições, da mesma história e do mesmo porvir, comigo vivem sobre a mesma terra, debaixo do mesmo céu.

Sim, ao católico não pode ser indiferente que a sua pátria seja ou não aliada de Jesus Cristo. Seria trair a Jesus; seria trair a pátria! Eis por que, com todas as energias de nossa alma de católicos e brasileiros, urge rompamos com o marasmo atrofiante com que nos habituamos a ser uma maioria nominal, esquecida dos seus deveres, sem consciência dos seus direitos. É grande o mal, urgente é a cura. Tentá-lo – é obra de fé e ato de patriotismo.

Fonte: Deus e a pátria: Igreja e Estado no processo de Romanização na Paraíba (1894-1930) / Roberto Barros Dias. – João Pessoa, 2008.

III Caminhada Arquidiocesana em Defesa da Vida

[Divulgando, conforme recebi por email. Todo mundo lá.]

cartaz-da-caminhada

Queridos irmãos, em reunião com a Coordenação da Caminhada Sim a Vida, ficou definido que a saída do Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida – Brasil Sem Aborto, com as faixas, em fila indiana, será na praça de Boa Viagem, em direção ao segundo jardim.

Nesse caso nosso ponto de encontro deixa de ser no castelinho apenas para os que vão fazer o evento na areia.

Iremos fazer nossa concentração no calçadão em frente a pracinha de Boa Viagem, das 07:30 as 08:30, de onde sairemos em torno das 09:00 em dois grupo ( panfletagem e fila indiana).

Lembro a todos que o calor e o sol serão intensos, portanto não esqueçam o protetor solar e a hidratação (água), além de uma alimentação adequada, pois o percurso é longo e cansativo. Usem roupas leves.

Paz e Vida!

“Na luta em defesa da vida, só temo o silêncio dos bons”

Iraponan Chaves de Arruda
Coordenador Executivo
Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida
(Brasil Sem Aborto)

Bento XVI aos bispos da Regional Nordeste II

[O]s fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da Igreja. Diversamente, os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos. É importante fazer crescer esta consciência nos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado.

O aprofundamento harmônico, correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais delicados do ser e da vida da Igreja. É que o número exíguo de presbíteros poderia levar as comunidades a resignarem-se a esta carência, talvez consolando-se com o fato de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos. Mas, não é a falta de presbíteros que justifica uma participação mais ativa e numerosa dos leigos. Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação.

Ad Limina dos Bispos do Brasil – Regional Nordeste 2,
17 de setembro de 2009,
Papa Bento XVI

Novo Arcebispo de Olinda e Recife

O báculo de Dom Vital
Dom Fernando Saburido ergue o báculo de Dom Vital

Ontem foi a cerimônia de posse de S.E.R. Dom Fernando Saburido, novo Arcebispo de Olinda e Recife, que teve lugar na Igreja da Madre de Deus, no Recife Antigo. Após a cerimônia, Sua Excelência celebrou, na praça do Marco Zero, a sua primeira missa.

Fui a ambas as cerimônias. Na Igreja da Madre de Deus eu teoricamente não poderia entrar, porque estava reservada para o clero, os convidados pessoais do novo Arcebispo e… a imprensa. Mas com a recente decisão do STF de acabar com a exigibilidade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, bom, eu sou imprensa… Entrei com o Gustavo Souza – que já escreveu no seu blog sobre as cerimônias de ontem, leiam – e me pus a observar.

A igreja é bonita, foi restaurada recentemente. Não chega a ser uma basílica, mas tampouco é uma capela: no entanto, ficou lotada ontem. Todo o clero recifense – o que deveria estar lá e o que, teoricamente, também não deveria, mas enfim… -, membros do clero de Sobral (antiga diocese de Dom Fernando), bispos de vários lugares do país. O colégio dos consultores da Arquidiocese esperava à porta. Chegou Dom José Cardoso, chegou Dom Lorenzo Baldisseri, Núncio Apostólico e, por fim, chegou Dom Fernando Saburido, e o cortejo entrou na igreja.

A cerimônia seguiu normalmente: os epíscopos ajoelharam-se diante do altar-mor da igreja, Dom José pronunciou as suas palavras de despedida, foi feita a leitura da bula de nomeação (em latim e depois em português), Dom Lorenzo fez o seu pronunciamento; então, o Núncio e o Arcebispo Emérito entregaram o báculo ao novo Arcebispo. O báculo de Dom Vital, honra e glória da igreja de Olinda, Servo de Deus, cujo processo de canonização tramita no Vaticano: que o jovem frei possa interceder pelo seu sucessor na Sé de Olinda. Dom Fernando foi então conduzido à cátedra pelo Núncio, enquanto a igreja inteira entoava o Veni Creator Spiritus: Domine, exaudi nos.

Eu estava quase em cima do presbitério a esta altura, ansioso por não perder nada da cerimônia; foi quando os bispos da Regional Nordeste II formaram um cortejo para saudar o novo Arcebispo. Fui bater uma foto (o lado esquerdo da igreja, onde eu estava, era reservado às autoridades civis e militares; o outro lado, o direito, aos bispos), mas terminei por ficar na frente do excelentíssimo governador do Estado, Eduardo Campos. Um dos responsáveis pela organização veio reclamar que eu estava na frente do governador; tive vontade de retrucar que eu era tão filho de Deus quanto ele (e, ainda, nunca tinha apoiado a destruição de embriões humanos em pesquisas científicas, mas cala-te boca…) e estava obviamente muito mais interessado na cerimônia do que o excelentíssimo. Mas achei melhor ficar calado. “Quem é esse, o que está fazendo aqui?”, ouvi perguntarem; “sei não, manda sair”, ouvi responderem. Saí da frente do governador do Estado, mas não de próximo ao altar onde eu estava. Ainda havia coisas que eu queria acompanhar.

Como o discurso (cliquem para baixar) do reverendíssimo Monsenhor Edvaldo da Silva, até a nomeação de Dom Fernando Saburido Vigário-Geral desta arquidiocese, que falou em nome do clero arquidiocesano. Também falaram o presidente da Regional Nordeste II, o secretário da CNBB, o Arcebispo de Fortaleza, o Governador do Ceará, o Governador de Pernambuco (em cuja frente eu fiquei), etc. Neste momento, sinto um cheiro de enxofre vindo da porta da igreja. Julgando que já tinha acompanhado o que era importante acompanhar, saí da Madre de Deus para ver o que acontecia do lado de fora.

Um enorme “boneco de Olinda” – aqueles bonecos gigantes, típicos do carnaval – de Dom Hélder Câmara, e o povo gritando algumas coisas que não consegui identificar. Lembrei-me imediatamente das igrejas medievais; quando estive na Europa, um sacerdote explicou-nos que as gárgulas que ornam as paredes externas das catedrais são demônios, e o significado é que os demônios ficam fora da igreja – dentro dela, só há imagens de santos. Ontem, os demônios guincharam, mas ficaram fora da igreja da Madre de Deus. No meio da multidão ensandecida, alguns cartazes ofensivos e/ou toscos que eu já havia visto antes: “Dom Fernando, voz dos negros, pobres e oprimidos”. “Dom Fernando, o dom do amor pelos humildes. Dom José, o dom da perseguição, graças a Deus esse dia chegou…”. “Vamos reconstruir a unidade anunciando o Reino – confiamos neste anúncio. Grupo de leigos católicos Igreja Nova”. “A esperança do povo voltou”. Tenho as fotos. Mas havia também os cartazes de apoio a Dom José Cardoso Sobrinho: o povo [verdadeiramente] católico desta Arquidiocese vai ter trabalho. E dom Fernando Saburido vai ter muito trabalho. Que seja em seu favor a Virgem Soberana.

Ao final, houve ainda a missa campal, o Marco Zero repleto de gente, na festa da assunção da Virgem Santíssima e na posse do novo Arcebispo de Olinda e Recife. A primeira homilia de Dom Fernando Saburido; só comentando en passant, eu bem que gostaria de ter ouvido o que ouvi em uma outra primeira homilia de um outro Fernando, mas o mundo não é sempre como a gente gostaria que fosse. Rezemos, rezemos, rezemos sem cessar, por Olinda e Recife, por esta Sé “caríssima” ao Santo Padre – como ele disse na bula de nomeação -, a fim de que, aqui, Nosso Senhor seja sempre glorificado. Que Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Recife, olhe com particular cuidado por nós. Abaixo, algumas fotos das cerimônias.

Posse de S.E.R. Dom Fernando Saburido

Salvum fac servum tuum!
Salvum fac servum tuum!

Hoje é a posse de Sua Excelência Reverendíssima Dom Fernando Saburido, novo Arcebispo de Olinda e Recife. Que a Virgem Santíssima, Onipotência Suplicante, cuja Assunção nós hoje comemoramos, possa transformar o seu episcopado em um milagre. O Jornal do Commercio prenuncia uma era de mudanças em Olinda e Recife; eu rogo à Virgem Mãe de Deus que Se digne exaltar a Igreja de Nosso Senhor, para a maior glória de Deus.

Vou às cerimônias. Mais tarde, comento.

℣. Oremus pro antistite nostro Ferdinando.
℟. Stet et pascat, in fortitudine tua, Domine, in sublimitate nominis tui.
℣. Salvum fac servum tuum.
℟. Deus meus sperantem in te.

Dom José Cardoso Sobrinho: A Vitória da Fé

O Exsurge, Domine! fez a recomendação primeiro, mas eu faço questão de enfatizá-la: é uma verdadeira pérola o livro do professor Dr. Elcias Ferreira da Costa, “Dom José Cardoso Sobrinho: – a Vitória da Fé” (Ed. do Autor, Recife, 2009), recém adquirido por mim. Está sendo vendido aqui em Recife na Flor do Carmelo, ao preço de 35 reais cada exemplar. Caso alguém deseje contactar o autor, pode utilizar o seu email disponiblizado na própria edição: elciasferreiracosta@ig.com.br.

Fonte documental primorosa – inclusive revisado pela irmã do senhor Arcebispo -, o livro possui quinhentas páginas repletas de fotos, recortes de jornais, reproduções de documentos da cúria e de cartas escritas pelo próprio Arcebispo ou por membros do clero, ao longo dos últimos 23 anos. Gostaria de reproduzir aqui o índice, mas ele é muito longo. Entre os capítulos tratados, podemos encontrar coisas como “Papa demonstra expressivo apoio a Dom José Cardoso Sobrinho, aprovando mais uma vez todas as suas decisões pastorais”, “Fiéis integralmente solidários com Dom José Cardoso Sobrinho, em 29/10/89, lotam a igreja de São Bento, em Olinda, prestando solene manifestação”, “Na véspera do Natal [de] 1989, 60 sacerdotes da Arquidiocese de Olinda e Recife censuraram seu próprio Arcebispo em manifesto publicado nos principais jornais da capital”, “No dia 18/01/90, milhares de fiéis, sacerdotes e religiosos lotam o pátio do Palácio dos Manguinhos e parte da Avenida Rui Barbosa, em desagravo ao Arcebispo”, “Frei Al[o]ísio Fragoso publica veemente nota de censura aos bispos do NORDESTE II, por terem manifestado solidariedade a Dom José Cardoso” (!!) e “Dom José Cardoso Sobrinho se oferece para substituir como refém dos presos amotinados no Presídio Aníbal Bruno, o Pe. Bibolet e companheiros da Pastoral Carcerária, seqüestrados pelos detentos em rebelião”.

É uma preciosidade. Folheando-o ao acaso, encontro a nota de frei Aloísio à página 278: “Será que o episcopado da Região se sente lúcido ao se apresentar à Igreja e à opinião pública identificado com as ações e as palavras do arcebispo de Olinda e Recife, que têm provocado progressivamente a desaprovação e a rejeição da sociedade, expressa publicamente por pessoas e entidades da maior significação social?”. É uma piada: esta nota foi escrita pelo próprio franciscano e mais três leigos. Avanço algumas páginas, e vejo que 60 sacerdotes do clero assinaram um manifesto “ao povo da Arquidiocese de Olinda e Recife” (p. 289), na véspera do Natal de 1989. Comenta o dr. Elcias: “Nem gloria in excelsis Deo, nem pax homínibus bonae voluntatis, nem vôo de anjos no céu, mas solidariedade com todos os insultos que haviam sido dirigidos por alguns padres contra o Arcebispo e solidariedade, ainda, com os atos de indisciplina e de rebeldia publicamente praticados. Em lugar de Noite Feliz, qualquer coisa parecida com um pressago non serviam” (p. 288). A resposta do povo: “na tarde de ontem [18/01/90], quinta-feira, o povo católico da Arquidiocese compareceu em massa ao Palácio do Manguinho (sic), a fim de prestar grande homenagem ao seu querido Arcebispo, Dom José Cardoso Sobrinho. (…) Presentes, além de 91 (noventa e um) sacerdotes, inúmeras religiosas de várias Congregações sediadas na Arquidiocese e representações de todos [os] Movimentos e Associações, que aqui funcionam, como Apostolado da Oração, Círculo Católico, Comissão de Justiça e Paz, Focolarinos, Mães Cristãs, Movimento Eucarístico Arquidiocesano, OAF (Organização do Auxílio Fraterno), Ordem Terceira do Carmo, Renovação Carismática, Serra Clube, representantes das paróquias, etc.” (p. 310).

Dá vontade de continuar lendo e de colocar mais coisas aqui; mas para uma indicação de leitura já está de bom tamanho, pois terei oportunidades de voltar a citar o livro – que é mais do que recomendado. Registro os meus sinceros agradecimentos ao Dr. Elcias Ferreira da Costa, por trazer a lume uma obra de tamanha importância para a compreensão da Arquidiocese de Olinda e Recife, da qual tenho a graça de fazer parte.

P.S.: O livro também está sendo vendido na sede do Círculo Católico.

Rua do Riachuello, edf. Círculo Católico, numero 105.
Telefone: (81) 3222-4816

Igreja Nova x Igreja Católica

Eu acho que já falei aqui algumas vezes do jornal “Igreja Nova”, lixo recifense pretensamente católico que envergonha esta Veneza Brasileira. Para o meu imenso desprazer, uma amiga daqui me avisou hoje que eles produziram uma nova edição do jornaleco herético, que foi distribuído nas portas das paróquias (não sei quais, ela não me disse) e que ela conseguiu digitalizado. Ei-lo abaixo: cliquem em cada uma das páginas para ampliar.

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Simplesmente ridículo. “Seja bem vindo Dom Fernando, animador do modelo de Igreja do Vaticano II e discípulo de Dom Hélder. (…) Temos certeza que podemos anunciar com alegria que o desmonte acabou. Agora é tempo de reconstruir!” (p.1). “Nada temos contra o cidadão caruaruense, católico fervoroso, frade carmelita e especialista em Direito Canônico, José Cardoso Sobrinho. […] Foi a sua falta de vocação para Pastor que o levou a denunciar o padre Edwaldo Gomes aos tribunais da Cúria Romana, pela presença de um irmão anglicano na concelebração eucarística em ação de graças pelos 50 anos de sacerdócio, e a anunciar a excomunhão dos componentes da equipe médica que salvou a vida de uma menina vítima de estupro” (p. 2). Acaso quem escreve este tipo de lixo ainda pode se pretender católico? Nem há necessidade de refutar os textos; eles se refutam por si sós.

Reafirmo, no entanto, o que já disse aqui em outra oportunidade: estão claramente tentando manipular a imagem do novo Arcebispo de Olinda e Recife para que ele seja apresentado ao público como uma espécie de “anti-Dom-José-Cardoso”, paladino de uma “igreja nova” inventada pelos hereges modernos que é em tudo diferente d’Aquela fundada por Nosso Senhor. E, isso, nós não aceitaremos. A Igreja de Cristo é Aquela que foi fundada sobre Pedro e, enquanto o pastor que ocupar a Cátedra de Olinda estiver em comunhão com o bispo de Roma, teremos em Recife uma Igreja Católica, e não uma “igreja nova”. Que o Espírito Santo possa guiar Dom Fernando Saburido, o sucessor do gigante Dom José Cardoso Sobrinho.