Partilha – Almoço com o Santo Padre

Um amigo, o Vinícius Andrade, foi um dos jovens escolhidos para almoçar um dia com o Papa Francisco durante a JMJ. Ele escreveu o bonito testemunho abaixo, que me autorizou publicar, pelo qual agradeço. Que as palavras do Vinícius possam nos inspirar a nós, jovens católicos nele representados junto ao Vigário de Cristo. Que ela nos levem a amar ainda mais ao Vigário de Cristo, ao Papa Francisco, a fim de que possamos junto a ele dar a nossa colaboração para a expansão da Igreja de Cristo no mundo.

* * *

Queridos amigos,

Durante a JMJ tive uma das graças mais especiais da minha vida: a de ser um dos doze jovens a almoçar com o Santo Padre, o Papa Francisco. Nunca imaginei que, na minha curta caminhada na Igreja (desde 2008), pudesse ter essa oportunidade. Não vejo como um prêmio, nem merecimento… Penso que foi uma oportunidade que Deus me deu para amá-Lo mais, amar mais a Sua Igreja e aumentar em meu coração este amor pelo Papa, o Vigário de Cristo na terra. Foi também uma oportunidade de conversão e espero que sirva de motivação para tantos jovens que estão afastados ou desmotivados na fé. O almoço foi um diálogo muito próximo e fraterno, compartilhamos testemunhos e vivências dentro da Igreja. É incrível ver como, independente do país, temos os mesmos desafios e dificuldades, talvez porque lutamos pelo mesmo ideal: a santidade.

Algo que me chamou a atenção durante o almoço foi a proximidade que ele tinha conosco: suas falas, seus gestos, tudo falava de amor ao próximo. Senti em mim mesmo o mandamento de Cristo: amai o próximo como a ti mesmo. Me senti muito amado por Deus naquele instante; cada palavra que dizia o Papa trazia uma paz e um conforto ao meu coração. Mas acredito que todos nós que fomos à JMJ Rio, em algum momento, nos sentimos assim, pois o coração do Papa Francisco é muito acolhedor. Como lição de vida e busca da santidade, levo o seu exemplo: olhar para todos com misericórdia, não viver em ilhas, segregando as pessoas ou no individualismo, mas sim em comunidade, sempre buscando amar mais o próximo, como ele mesmo disse durante o almoço.

O Papa nos falou um pouco da realidade do jovem, do alto índice de desemprego nessa faixa etária em alguns países da Europa. Disse que muitos deles, e também os idosos, são descartados pela sociedade e falou da importância do trabalho: “O trabalho traz dignidade para as pessoas, todos deveriam trabalhar”, mas que tudo se perde se nos falta a caridade. Para ilustrar, usou o exemplo da torre de Babel: “Era trabalhoso fazer um tijolo, era preciso preparar o barro, colocar para assar, transportar até o local onde iria ser colocado. O tijolo, para o povo que construía a torre, era um verdadeiro tesouro. Se algum tijolo caísse e se quebrasse, o trabalhador era muito castigado, mas se um operário caísse, todos continuavam como se nada tivesse acontecido”. Então juntos chegamos à conclusão que a crise não é somente econômica e não se restringe à Europa, temos outra crise que atinge todos os povos e nações e permanece pelos séculos: a crise do relacionamento entre as pessoas, a cultura do descartável.  Dizendo isso, acrescentou que a sociedade de hoje muitas vezes tira a esperança dos jovens, e nos encorajou: “Vocês devem ser portadores da esperança, não deixem que ninguém roube sua esperança”.

Depois ele partilhou conosco a experiência que teve com jovens na Argentina. Grupos de 40 ou 50 jovens faziam uma reflexão do Evangelho e depois saiam para distribuir sopa. “Não eram todos católicos”, dizia. Mas disse que no período de um ou dois anos muitos conheciam a Fé. Frisava: “É importante para o jovem sair de si, para ir ao encontro dos mais necessitados”. Bem, nem preciso dizer que me comovi muito nesse momento, pois a experiência da minha conversão tinha sido exatamente esta: sair ao encontro do próximo. “Aí está a verdadeira experiência de Cristo”, dizia.

Em outro momento conversamos sobre a vocação do leigo. Ele nos falou que todos nós deveríamos entregar as nossas vidas a Deus, que como batizados temos este dever. Jesus irá nos mostrar o caminho de nossa vocação, mas independente de qual for, precisamos nos colocar a serviço. Nessa hora ficou claro, ao menos para mim, que a vocação leiga não pode ser uma desculpa para não se entregar para as coisas de Deus, afinal, não podemos ter dois senhores. Nesse momento ele também exortou: “Toda pessoa, desde que põe os pés na terra até morrer, precisa ter um orientador espiritual, eu mesmo tenho o meu”. Disse que a orientação espiritual é importante na caminhada espiritual de todo católico, pois deve nos ajudar a encontrar com Cristo e achar as respostas para as nossas inquietudes. Destacou também a importância de se ter um confessor.

O momento mais marcante certamente foi quando ele nos falou sobre o sofrimento, as misérias e a ausência de Deus no mundo. Ele falou que deveríamos nos questionar sobre essas situações e que nosso coração deveria chorar por isso: “Quando nosso coração chorar por isso, nós estaremos muito próximos de Jesus Cristo”. Lembrei-me muito de Santa Faustina, que dizia em seu diário: “Sinto uma tristeza profunda, quando observo os sofrimentos do próximo. Todas as dores do próximo se repercutem no meu coração; trago no meu coração as suas angústias, de tal modo que me abatem também fisicamente. Desejaria que todos os sofrimentos caíssem sobre mim, para dar alívio ao próximo.” Que amor é esse, que chora com o sofrimento do próximo, que se compadece das dores mais profundas da humanidade? É o amor quando o medimos a partir de Deus e não a partir do mundo. Acredito que muitos de nós descobrimos que não amamos como deveríamos, que somos egoístas e nos preocupamos somente conosco; e estamos ainda muito longe da santidade. Ali tive a certeza que não era um prêmio ou um mérito estar no almoço com o Papa, mas uma oportunidade para amar mais! Chorei (todos choraram), mas eu chorei por ver a realidade belíssima da caminhada espiritual de todo cristão: poder todos os dias lutar pela santidade, lutar por esse tesouro escondido em Deus. É uma caminhada que nos leva diariamente ao encontro com Jesus e com Maria. E que graça tão especial poder aprender do Santo Padre a ter compaixão, algo talvez tão esquecido, mas tão necessário para nossa santificação e de tantas outras almas que Deus nos entrega.

Mas a graça mais especial eu já tinha antes do almoço: a graça de pertencer à amada Igreja Católica, de ter conhecido a Igreja por meio do Movimento Regnum Christi, de poder, a partir dele, servir à Igreja e consequentemente aos meus irmãos. Graças ao Movimento também tenho minha orientação espiritual e meu apostolado, dicas tão preciosas que o Santo Padre deixou para nós e para todos. Que todos os jovens católicos do mundo consigam ter acesso a um orientador espiritual e a alguma oportunidade de servir a Cristo na Igreja. Como disse o Santo Padre, é preciso sair!

Não posso deixar de agradecer a Deus por esses grandes pais espirituais que são os Papas, que sempre nos lembraram do mandamento maior do amor; também por minha família e meus amigos (em especial meus companheiros de caminhada do Regnum Christi e da equipe dos Jovens Conectados). Meu carinho e agradecimento ao Padre Sávio, ao Padre Toninho e ao Dom Eduardo, por sempre acreditarem nos jovens e lutarem tanto por esta Juventude no Brasil! Agradeço aos meus diretores espirituais que me auxiliaram na caminhada e a todos os padres que passaram por minha vida, todos vocês me edificaram muito.

Que nosso querido Papa Francisco consiga continuar mostrando ao mundo, e principalmente a nós católicos, esse lado amoroso e misericordioso de Deus e que possamos acolher em nossas vidas o lema do Santo Padre: olhando-o com amor, o escolheu.

Obrigado por fazerem parte desta história! Contem com minhas orações por suas intenções.

Em Cristo,
Vinícius Andrade

JMJ: Encontro do Papa com os voluntários

No início desse mês, eu falei um pouco à Radio Maria sobre o encontro do Papa Francisco com os voluntários durante a JMJ. Coloco o áudio abaixo. Relevem, por favor, a terrível gripe com a qual eu estava na ocasião :)

[podcast]https://www.deuslovult.org//wp-content/uploads/podcast/encontro-voluntarios.mp3[/podcast]

A Jornada da Juventude não-católica

Três milhões de peregrinos nas ruas é um contingente expressivo de pessoas, que por sua própria natureza não é passível de ser tratado com indiferença. Não dá para simplesmente fingir que aquela multidão de gente não está lá. Era natural que a JMJ, portanto, influenciasse também a vida de pessoas que não são católicas. O que elas têm a dizer sobre a Jornada?

Trago alguns exemplos. O site do Pe. Paulo Ricardo publicou um interessante texto sobre a «Jornada Mundial da Juventude que comoveu os evangélicos»; enquanto certos pastores xingavam muito no Twitter, outros filhos de Lutero munidos de um grau maior de boa vontade comoviam-se com esta gigantesca manifestação de Fé Católica e, em certo sentido, uniam-se aos que transformaram o Rio de Janeiro em um gigantesco campo da Fé. Por exemplo, a foto abaixo correu as redes sociais:

protestante-jmj

É claro que nem todos os protestantes estavam imbuídos destes santos desejos de unidade entre os cristãos; outros aproveitaram o encontro para fazer o seu proselitismo herético e inclusive atrapalhar os católicos (*) que queriam ver o vigário de Cristo. Mas a própria existência destes espíritos de porco serve para tornar mais admirável os gestos de apoio que recebíamos espontaneamente de muitos de nossos irmãos separados. Que o Deus Altíssimo leve em consideração a sua boa vontade e lhes conceda as graças necessárias para chegarem um dia à plena união com a Igreja de Cristo, pela qual as suas almas anseiam mesmo que – por vezes – sem o perceber.

[(*) Houve inclusive um deles que, portanto um bandeirão amarelo gigantesco, colocou-se rente à grade que demarcava o espaço de passagem do Papamóvel, impedindo muitos católicos que estavam atrás de verem a passagem do Sucessor de São Pedro. Na quinta-feira, o desgraçado estava bem à minha frente. Pensando que se tratava simplesmente de um católico sem noção que estava querendo ver o Papa, eu próprio (e muitos outros) nos esforçamos por conter os gritos de “baja la manta!” que ameaçavam evoluir para atitudes efetivas de desobstrução do espaço à nossa frente. Soubesse que o canalha era um herege que havia se colocado entre o Papamóvel e os católicos com o fito explícito e deliberado de impedi-los de ver a passagem do Romano Pontífice, tinha eu próprio “bajádole la manta” para que ele aprendesse a não aporrinhar de maneira tão cretina a manifestação pacífica da fé alheia.]

Durante a semana da Pré-Jornada, quando nós voluntários já estávamos no Rio, éramos parados amiúde nas ruas por pessoas que simplesmente nos parabenizavam pelo que estávamos fazendo, mesmo que não estivéssemos fazendo nada a não ser andar por aí com os sinais distintivos da JMJ. Nem todas eram católicas, e elas às vezes faziam questão de nos dizer. Eu particularmente não recebi nem presenciei um único sinal de hostilidade durante estes dias; muito pelo contrário até. Uma senhora, que se apresentou como evangélica, chegou inclusive a nos oferecer a casa dela para hospedar voluntários ou peregrinos que porventura estivessem precisando. Tinha acabado de nos conhecer na rua. Fez questão de nos dar o seu telefone e ainda pediu desculpas porque não ia poder ficar em casa, uma vez que tinha que trabalhar, mas disse que nós podíamos ficar à vontade porque ela, com muito gosto, colocava o que tinha à nossa disposição. Ora, tamanha hospitalidade é extremamente admirável! Dona Joelma, que Deus lhe retribua a generosidade. A senhora verdadeiramente nos comoveu com a simplicidade do seu exemplo de amor ao próximo, mesmo aos desconhecidos e diferentes.

Mas nem só os protestantes se permitiram admirar a Jornada. Outras pessoas a elogiavam até por razões não-espirituais. O testemunho abaixo, por exemplo, foi outro que correu a internet. O Dr. Rodolfo Hartmann é professor universitário e juiz federal; a julgar por sua página no Facebook, não parece católico, ao menos não católico praticante. Podia perfeitamente ser um ateu ou agnóstico. No entanto, escreveu o seguinte pequeno texto sobre a JMJ, que faço questão de copiar aqui na íntegra porque é bonito o bastante para merecer um pouco mais de durabilidade do que o Facebook é capaz de lhe proporcionar:

Moro em Copacabana. Fiquei praticamente 4 dias em prisão domiciliar. Grande parte do comércio estava fechada e o que funcionava tinha fila que não acabava. Era difícil sair de carro e era impossível correr ou caminhar na praia. Nem academia funcionou. Vi 5 filmes em 3 dias (a última vez que fiz isso devia ter uns 15 anos). Simplesmente ficou mais cheio do que no réveillon e por mais dias. Mas não escrevo para criticar, pelo contrário. Essa JMJ poderia repetir todo ano aqui em Copacabana. Nesses dias, não vislumbrei desrespeito, sujeira, sedução barata ou mesmo uso de substâncias ilícitas e abuso de álcool. Simplesmente, eu observava as filas e ninguém furava. Carros que eventualmente passavam não eram socados. Não vislumbrei agressões. Também não vi lata ou sujeira no chão. Não tinha gritos e sim cantorias. Peregrinos com as suas bandeiras. Ficou muito cheio, é verdade. Os sanitários disponibilizados eram poucos. Mas, independentemente da fé pessoal de cada um, o que eu vi foram jovens e adultos em uma celebração saudável. E vão embora daqui felizes. E deixaram muitos aqui felizes. Eu curti essa meninada. :)

E, é claro, os meios de comunicação social seculares não puderam ignorar um evento desta magnitude. Muita coisa se escreveu sobre aqueles dias; a maior parte delas eu não pude ler, ocupado que estava em acompanhar in loco o desenvolvimento da JMJ. Mas foi gratificante retornar para casa e ler no El País – no El País conhecido por seu anticlericalismo! – uma matéria procurando explicar por que o papa Francisco fascina tanto os jovens. E não pude conter um sorriso ao ler estas palavras:

Em tempos de descrença geral, enquanto grupos de adultos fazem ritos aqui na rua para “desbatizar-se” ou exibir seu ateísmo, uma boa surpresa é que centenas de milhares de jovens de tantos países e línguas diferentes se apaixonaram por um papa que lhes pede que se despojem da casca do supérfluo para sentir a vibração do que permanece e vale a pena saborear.

Sim, é impressionante como o Papa consegue (e com tanta facilidade) angariar a simpatia de tantos. Para mim, isto é um claro sinal da sede de transcendência – da sede de Deus! – da qual padece o mundo moderno, ainda que não tenha coragem de a admitir. Que não seja somente entusiasmo vazio. Que esta boa vontade concedida ao Vigário de Cristo possa fazer essas pessoas – ao menos algumas dessas pessoas – abrirem o seu coração à Doutrina Católica da qual o Sucessor de Pedro é porta-voz. Rezemos pelo Papa Francisco! A fim de que ele consiga se utilizar desta extraordinária popularidade da qual goza no mundo atual para confirmar na Fé estes tantos que o admiram mesmo sem entender ao certo o porquê.

A Jornada da Juventude Pró-Vida

A JMJ foi também palco de uma série de iniciativas pró-vida, de algumas das quais eu tive a honra de participar mais ativamente.

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No dia 22 de Julho, segunda-feira, no Rio Centro, ocorreu o Vida in Concert. Foi um show realizado pela Elba Ramalho e convidados, que entremearam canções religiosas e seculares com testemunhos e brados pró-vida. Os artistas que subiram ao palco eram os mais variados: tivemos cantores católicos (como a Celina Borges, o Dunga, a Ziza Fernandes) e seculares (Geraldo Azevedo, Nando Cordel, a própria Elba, o Toni Garrido). Todos unidos em torno de uma causa comum a diferentes confissões religiosas: a defesa incondicional da vida humana e o repúdio a todas as formas de violência das quais ela é vítima, em especial o aborto.

Permito-me um parêntese. Segundo me informou uma amiga, o Luan Santana estava originalmente escalado para participar deste show. O motivo é que ele ajudou certa vez a Elba Ramalho a dissuadir uma garota de praticar um aborto. A história é a seguinte: enquanto a Elba estava no telefone com a menina, grávida, tentando convencê-la a ter a sua criança, ela (a jovem mãe) teria retrucado algo do tipo: «mas grande coisa a Elba Ramalho… ainda se fosse o Luan Santana…!». A paraibana não se fez de rogada. Ligou imediatamente para o Luan Santana, que topou falar com a menina. Ela ficou felicíssima e desistiu de abortar a criança.

Por favor, não me venham questionar a mentalidade de quem desiste de abortar só porque falou com o Luan Santana. Eu sei que é fútil e irresponsável. Alguém poderia dizer que um filho indesejado por sua mãe a ponto dela cogitar abortá-lo não está em condições muito melhores do que o mesmo filho cuja mãe desistiu de matá-lo no ventre porque falou com um astro teen. A isso eu responderia: está sim, porque ao menos está vivo. É claro que todas as mães deveriam amar os seus filhos, e não os utilizar como moeda de troca para satisfazer as suas tietagens. Mas se a um filho há de ser negado o amor de sua mãe, que ao menos não lhe seja negado também o próprio direito à vida por conta disso. Por vias tortas que sejam, aquela jovem fez a coisa certa; e que Deus possa tocar o coração dela, para que – se ela optou por ficar com a criança; não sei o desfecho da história – possa amar verdadeiramente o filho que ela um dia decidiu deixar viver por razões tão mesquinhas. Há sempre espaço para mudanças de postura nesta vida. Uma conversão verdadeira é sempre possível, e é sempre melhor que ela ocorra sem um aborto consumado.

Esta seria a participação original do Luan Santana da JMJ, e aqui ao menos ele seria edificante: tratava-se de um show não especificamente católico, realizado longe dos holofotes dos Atos Centrais, e aqui ele poderia contar a história que relatei brevemente acima. No entanto, os inimigos das coisas de Deus preferiram arrancá-lo do testemunho pró-vida para o colocar nos Atos Centrais da Jornada, com toda a repercussão negativa que esta infeliz escolha teve. Não falemos mais sobre este assunto. Ao menos a sua interpretação da Oração de São Francisco em Copacabana foi breve e bonita, após a qual ele permaneceu e parecia acompanhar com atenção as palavras do Papa Francisco (*). Que elas possam encontrar terreno fértil no coração ferido do jovem artista.

[(*) Nesta noite, entre outras coisas, o Papa Francisco falou: «E se cometerem um erro na vida, se tiverem uma escorregadela, se fizerem qualquer coisa de mal, não tenham medo. Jesus, vê o que eu fiz! Que devo fazer agora? Mas falem sempre com Jesus, no bem e no mal, quando fazem uma coisa boa e quando fazem uma coisa má. Não tenham medo d’Ele! Esta é a oração». E ainda: «Hoje eu roubo a palavra a Madre Teresa e digo também a você: Começamos? Por onde? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar». Que bom seria se aquela vigília em Copacabana fosse o início de uma nova vida para aqueles peregrinos que ouviam com atenção as palavras do Vigário de Cristo!]

Parêntese fechado. No Rio Centro (como mais tarde em muitos outros lugares da cidade, graças a Deus) foi feita a distribuição das réplicas de um bebê humano com doze semanas de gestação. Os meus leitores devem se lembrar: trata-se desta iniciativa daqui.

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A todos aqueles que contribuíram generosamente para que aquele projeto se tornasse realidade, os meus agradecimentos e o meu testemunho: foi graças a vocês que tantas pessoas, naquela noite e ao longo de toda a Jornada, puderam receber o seu pequeno kit pró-vida. Deus sabe o bem que foi realizado com estas ações. Num mundo em que só se dá valor ao que é visível e palpável, a distribuição de réplicas em tamanho e formato naturais de um feto com doze semanas de gestação tem um importante efeito pedagógico: ajuda a entender que o aborto não é um remédio mágico para um problema invisível, mas muito pelo contrário, é o extermínio de um ser humano bem concreto.

Entre diversas outras, foi feita também uma distribuição dos kits em Copacabana, no domingo, e o Jônatas a relatou no Blog da Vida, de onde retiro a foto abaixo. Para outras fotos e a narrativa completa, acessem o link. Outras informações bem detalhadas podem ser encontradas também no Tubo de Ensaio.

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Numa das praças em Copacabana, havia um sacerdote ostentando diversos cartazes com os métodos abortivos existentes, que também ajudou na distribuição dos kits. Infelizmente não lhe guardei o nome, mas alguns dos que passaram pelo Rio naqueles dias certamente o devem ter notado. Uma vez mais, vale registrar: o seu incansável trabalho de esclarecimento da população a respeito do maior e mais trágico holocausto da história da humanidade, que acontece todos os dias sob o nosso olhar indiferente, não há de ser inútil. Que Deus o recompense e faça os seus esforços frutificarem.

Todos os peregrinos inscritos na Jornada receberam, dentro da mochila oficial da JMJ, um interessantíssimo livreto chamado Keys to Bioethics, organizado pela Fundação Jérôme Lejeune. Estava em português – Manual de Bioética: “Chaves para a Bioética” – e continha diversas informações importantes sobre aborto, fertilização assistida, pesquisas com embriões humanos e eutanásia, entre outros assuntos. A versão portuguesa (de Portugal) dele pode ser obtida clicando-se na figura abaixo. É quase igual à que foi distribuída na JMJ.

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O nosso manual continha ainda um anexo excelente e atualíssimo sobre “teoria do gênero”, que infelizmente eu não consegui encontrar online. Se alguém tiver, eu agradeço. A charge abaixo faz parte dele. Fantástica.

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Essas e outras iniciativas concorreram para que JMJ fosse, em acréscimo a tudo, também um grande evento pró-vida, onde a mensagem de que a vida humana é um bem que deve ser protegido desde a concepção até a morte natural foi proclamada com coragem e criatividade por um sem-número de pessoas que se entregaram generosamente a este objetivo.

E os frutos já estão chegando. Estamos na Semana Nacional da Família. A Arquidiocese do Rio de Janeiro preparou uma «Celebração Eucarística pela Vida», que acontecerá no dia 21 de agosto (quarta-feira da semana que vem) e tem «o objetivo de reparar os pecados cometidos contra a vida, como o crime do aborto, através de oração em nome dos inocentes». Ainda, na mensagem que o Papa Francisco enviou às famílias brasileiras no último dia 06 de agosto consta um explícito apelo pela vida, que deve «sempre ser defendida, já desde o ventre materno». São palavras do Vigário de Cristo:

De modo particular, diante da cultura do descartável, que relativiza o valor da vida humana, os pais são chamados a transmitir aos seus filhos a consciência de que esta deva sempre ser defendida, já desde o ventre materno, reconhecendo ali um dom de Deus e garantia do futuro da humanidade.

Este é, em suma, o apelo lançado no Rio de Janeiro: a vida é um dom de Deus que como tal deve ser defendido. Que ele ecoe para muito além das fronteiras da Cidade Maravilhosa, e que possa alcançar os corações dos homens dos nossos tempos. Que o Altíssimo nos ajude nesta empresa; que a Santíssima Virgem da Conceição Aparecida interceda por nós, e nos livre sempre da maldição do aborto.

A Jornada da Juventude Tridentina

Durante os dias da JMJ, a Antiga Sé do Rio de Janeiro ficou oficialmente sob os cuidados da Administração Apostólica São João Maria Vianney. A velha igreja se converteu, assim, em um cenáculo de espiritualidade católica tradicional, que pôde ser aproveitada pelos que lá passaram naqueles dias. Com missas diárias na Forma Extraordinária do Rito Romano (inclusive mais de uma ao mesmo tempo, nos altares laterais, como era costume antigamente) e catequeses ministradas por S. E. R. Dom Fernando Arêas Rifan, as atividades que lá se realizaram foram bastante proveitosas. E concorridas.

Pude estar presente em duas ocasiões. A primeira delas, na quarta-feira à noite, para participar do Pontifical que Dom Rifan celebrou. A igreja completamente abarrotada era uma coisa linda de se ver! Cheguei um pouco tarde e praticamente não havia mais espaço; inclusive um amigo desistiu de assisti-la ao ver como estava lotada a Antiga Sé. Entrando pelos corredores e salas internas, consegui sair lá na frente do lado esquerdo, próximo ao presbitério; a visão era péssima, mas havia lugar para ficar de pé e – principalmente – para ouvir com tranqüilidade.

Assisti ao Pontifical mesmo sem o ver. Participei do Santo Sacrifício sem contudo admirar os sinais externos tão ricos da cerimônia, castigado que fora por não ter chegado a tempo de conseguir um bom lugar. Mas foi espetacular mesmo assim. Não posso dizer que conheço em pormenores a celebração episcopal solene segundo os livros litúrgicos antigos: devo ter assistido somente a uns dois ou três pontificais na minha vida inteira. Naquela concorrida cerimônia da quarta-feira, contudo, aceitei contente que outras pessoas pudessem acompanhá-la com mais detalhes do que eu. Talvez tenha sido o primeiro Pontifical de alguém, e sabe-se lá quando aquelas pessoas terão a oportunidade de assistirem a outro novamente.

No dia seguinte eu voltei, e voltei de manhã cedo. Cheguei antes das nove, e Dom Rifan ainda não iniciara a sua catequese; tive tempo de encontrá-lo na sacristia e o cumprimentar. No interior da igreja, as músicas tradicionais animavam a multidão que já começava a se avolumar: provando que não é necessário fazer muito barulho para “acolher” a juventude, um órgão e um coral cantavam cânticos clássicos que eram alegremente acompanhados pelos que estavam presentes. Dessa vez, tendo chegado mais cedo, sentei mais confortavelmente num degrau que levava a uma capela lateral: os bancos já estavam todos ocupados.

Sua Excelência falou sobre o discipulado, explicando o étimo da palavra e dizendo que discípulos são aqueles que aprendem de alguém: a origem do termo é a mesma de “corpo discente”, o conjunto dos alunos de uma universidade. Um discípulo é portanto um aluno; um discípulo de Cristo, um aluno do Mestre. Vez por outra o bispo descia do presbitério para tocar alguma música no órgão, e era acompanhado animadamente e aplaudido com entusiasmo sempre que o fazia. Tudo acontecia em um clima suave e frutuoso: aqueles jovens recebiam doutrina sólida de uma forma leve, longe de ser cansativa.

Falando da SSma. Virgem, d’Aquela que soube aprender com perfeição do Seu Divino Filho, Dom Rifan nos instigava a recorrermos sempre à Sua maternal proteção. Guardei um ponto curioso da prédica. Lá pelas tantas, falando sobre a Virgindade Perpétua da Bem-Aventurada Virgem Maria, Sua Excelência lembrava que certas traduções antigas eram mais enfáticas sobre este assunto: elas, dizia ele, professavam a crença de que Cristo nascera “de Maria Virgem”, e isso era um pouco diferente (em ênfase, claro) de falar simplesmente que Ele nasceu “da Virgem Maria”. Porque a ordem das palavras às vezes importava. Afinal de contas, uma enxada cara era diferente de uma cara inchada. Escrito, o gracejo não tem o mesmo impacto de falado; mas dá para imaginar.

Meia hora antes da Missa, o senhor bispo franqueou a palavra aos presentes, abrindo uma sessão de perguntas e respostas. As perguntas, eram sobre assuntos os mais diversos, não necessariamente abordando o tema da catequese recém-findada. E perguntaram sobre a Missa e sobre interpretação bíblica, sobre a Presença Real de Cristo e sobre a possibilidade de se ser santo nos dias de hoje, sobre assuntos vários enfim. O bom bispo respondia com tranqüilidade: não era sempre possível proferir um tratado sobre aqueles temas, mas as sínteses que ele fazia eram preciosas. Penso que aqueles jovens devem ter saído satisfeitos. Não é sempre que os fiéis têm a oportunidade de interagir assim com o pastor.

Depois disso, a Santa Missa, dessa vez rezada: bem diferente do Pontifical da véspera, mas o mesmo Sacrifício de Cristo tornado presente de modo incruento sobre o altar. Findada a cerimônia, ainda me encontrei com Sua Excelência à porta da igreja, paramentado, cumprimentando os fiéis: despedi-me, agradecendo pela agradável manhã e dizendo-lhe não saber se conseguiria encontrá-lo ainda durante a Jornada.

De fato, não o encontrei mais, ocupado com o serviço de voluntário que a partir de então me deu pouca folga: mas aqueles dois dias foram muito bons. E quanto a tantas pessoas que puderam acompanhar com mais calma as atividades da Administração Apostólica na Antiga Sé do Rio de Janeiro… penso que devem ter sido muito edificadas. Rezo para que tenham sido.

Os que passaram naqueles dias por aquela velha igreja erigida em honra a Nossa Senhora do Carmo – nossa padroeira cá da Cidade do Recife – tiveram a oportunidade de presenciar atividades bem pouco usuais. Missas simultâneas, confissões, latim, órgão e coral, catequeses ministradas por um “bispo tridentino”, uma miríade de coisas antigas que muitos poderiam dizer já ultrapassadas, convivendo maravilhosa e harmoniosamente com os jovens peregrinos do século XXI que foram ao Rio de Janeiro para participar da Jornada Mundial da Juventude. Certas coisas antigas são sempre novas. Que aquela espiritualidade tradicional possa ter ajudado a alguns dos tantos – centenas! – de jovens que por lá passaram. Que a Santíssima Virgem do Carmo abençoe a cada peregrino que por lá passou naqueles dias. E que Ela olhe com maternal solicitude pela Administração Apostólica, por seu bispo, seu clero e seus fiéis. A todos os que dela fazem parte, nosso muito obrigado pela riqueza daqueles dias.

As palavras do Papa Francisco no Brasil

O Papa falou um bocado quando esteve no Brasil; muito mais do que nós, ocupados que estávamos com a Jornada, podíamos acompanhar no turbilhão daqueles dias intensos. Nestes tempos de internet, contudo, é sempre possível recuperar depois as palavras que foram proferidas na Viagem Apostólica à Terra de Santa Cruz; é útil conhecermos o que o Papa Francisco julgou por bem falar enquanto esteve no Brasil.

aqui um .pdf que compila todos os discursos do Sumo Pontífice durante a JMJ. Abaixo, trago alguns excertos do que o Papa Francisco falou no Brasil. Não são os trechos mais importantes e nem talvez os mais representativos da Jornada, mas somente alguns recortes selecionados por mim que podem ser úteis à nossa meditação. E que, como em outras coisas que pus aqui no blog, faço votos de que possam servir para aguçar o interesse por conhecer mais profundamente o que o Vigário de Cristo disse quando visitou a nossa Pátria.

Ouçamos o Papa, ouçamos o Cristo-na-Terra, para que aqueles dias não sejam somente agradáveis lembranças das multidões reunidas. Para que possamos haurir deles o máximo que eles têm para nos dar. Para que, a partir deles, possamos verdadeiramente mudar a nossa vida. Para que eles possam dar os frutos que tantas pessoas se esforçaram por fazê-los dar.

* * *

– E atenção! A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo. É a janela e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço. (Papa FranciscoCerimônia de boas-vindas no Jardim do Palácio Guanabara)

– Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele. (Papa Francisco, Santa Missa na Basílica do Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida)

– Eu penso que, neste momento, a civilização mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal culto do deus dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática de exclusão dos dois pólos da vida que constituem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos, obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não se cuida dos idosos; mas há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se lhes deixa agir. (Papa FranciscoEncontro com os jovens argentinos na Catedral Metropolitana)

– A fé em Jesus Cristo não é uma brincadeira; é uma coisa muito séria. É um escândalo que Deus tenha vindo fazer-se um de nós. É um escândalo que Ele tenha morrido numa cruz. É um escândalo: o escândalo da Cruz. A Cruz continua a escandalizar; mas é o único caminho seguro: o da Cruz, o de Jesus, o da Encarnação de Jesus. Por favor, não “espremam” a fé em Jesus Cristo. Há a espremedura de laranja, há a espremedura de maçã, há a espremedura de banana, mas, por favor, não bebam “espremedura” de fé. A fé é integral, não se espreme. (Papa FranciscoEncontro com os jovens argentinos na Catedral Metropolitana)

– Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Fome de dignidade. Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano. (Papa Francisco, Visita à Comunidade da Varginha em Manguinhos)

– Vejam, queridos amigos, a fé realiza na nossa vida uma revolução que podíamos chamar copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus; a fé nos imerge no seu amor que nos dá segurança, força, esperança. Aparentemente não muda nada, mas, no mais íntimo de nós mesmos, tudo muda. (Papa Francisco, Festa de Acolhida dos jovens na Praia de Copacabana)

– Deus é pura misericórdia! «Bote Cristo»: Ele lhe espera no encontro com a sua Carne na Eucaristia, Sacramento da sua presença, do seu sacrifício de amor, e na humanidade de tantos jovens que vão lhe enriquecer com a sua amizade, lhe encorajar com o seu testemunho de fé, lhe ensinar a linguagem da caridade, da bondade, do serviço. Você também, querido jovem, pode ser uma testemunha jubilosa do seu amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho para levar a este nosso mundo um pouco de luz. (Papa FranciscoFesta de Acolhida dos jovens na Praia de Copacabana)

– Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele! Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida. (Papa FranciscoVia-Sacra com os jovens na Praia de Copacabana)

–  Com a mesma parresia –coragem, ousadia– de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais fraterno. (Papa Francisco, Santa Missa com os Bispos da XXVIII JMJ e com os Sacerdotes, os Religiosos e os Seminaristas na Catedral de São Sebastião).

– Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4). (Papa FranciscoSanta Missa com os Bispos da XXVIII JMJ e com os Sacerdotes, os Religiosos e os Seminaristas na Catedral de São Sebastião)

– Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho! (Papa FranciscoSanta Missa com os Bispos da XXVIII JMJ e com os Sacerdotes, os Religiosos e os Seminaristas na Catedral de São Sebastião)

– Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la (cf. Lc 24, 13-35). (Papa FranciscoSanta Missa com os Bispos da XXVIII JMJ e com os Sacerdotes, os Religiosos e os Seminaristas na Catedral de São Sebastião)

– Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Além da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária. (Papa FranciscoEncontro com os Representantes da Sociedade brasileira no Teatro Municipal)

– Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo! Algo maior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz. E nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. É o que Jesus oferece. Mas ele pede que paguemos a ingresso. Jesus pede que treinemos para estar ‘em forma’, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, dando testemunhos de fé. Como? Através do diálogo com Ele: a oração, que é um diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. (Papa Francisco, Vigília de oração com os jovens em Copacabana)

– Vocês têm o futuro nas mãos. Por vocês, é que o futuro chegará. Peço que vocês também sejam protagonistas, superando a apatia e oferecendo uma resposta cristã às inquietações sociais políticas que se colocam em diversas questões do mundo. Peço que sejam construtores do mundo. Envolvam-se num mundo melhor. Por favor, jovens, não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida. (Papa FranciscoVigília de oração com os jovens em Copacabana)

– Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor. (Papa FranciscoSanta Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude em Copacabana)

– O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido! (Papa FranciscoSanta Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude em Copacabana)

– Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão.  (Papa FranciscoSanta Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude em Copacabana)

– Eis aqui, queridos amigos o nosso modelo. Aquela que recebeu o dom mais precioso de Deus, como primeiro gesto de resposta, põe-se a caminho para servir e levar Jesus. Peçamos a Nossa Senhora que também nos ajude a transmitir a alegria de Cristo aos nossos familiares, aos nossos companheiros, aos nossos amigos, a todas as pessoas. Nunca tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! (Papa FranciscoOração do Angelus Domini em Copacabana)

– A resposta às questões existenciais do homem de hoje, especialmente das novas gerações, atendendo à sua linguagem, entranha uma mudança fecunda que devemos realizar com a ajuda do Evangelho, do Magistério e da Doutrina Social da Igreja. (Papa Francisco, Encontro com a Comissão de Coordenação do CELAM no Centro de Estudos do Sumaré)

– É uma tentação que se verificou na Igreja desde o início: procurar uma hermenêutica de interpretação evangélica fora da própria mensagem do Evangelho e fora da Igreja. (Papa Francisco, Encontro com a Comissão de Coordenação do CELAM no Centro de Estudos do Sumaré)

– Deus é real e se manifesta no “hoje”. A sua presença, no passado, se nos oferece como “memória” da saga de salvação realizada quer em seu povo quer em cada um de nós; no futuro, se nos oferece como “promessa” e esperança. No passado, Deus esteve lá e deixou sua marca: a memória nos ajuda encontrá-lo; no futuro, é apenas promessa… e não está nos mil e um “futuríveis”. O “hoje” é o que mais se parece com a eternidade; mais ainda: o “hoje” é uma centelha de eternidade. No “hoje”, se joga a vida eterna. (Papa Francisco, Encontro com a Comissão de Coordenação do CELAM no Centro de Estudos do Sumaré)

– Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”; está fora de moda? na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. (Papa FranciscoEncontro com os Voluntários da XXVIII JMJ no Pavilhão 5 do Rio Centro)

– Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. (Papa FranciscoEncontro com os Voluntários da XXVIII JMJ no Pavilhão 5 do Rio Centro)

– Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira; outros rejubilarão com a rica colheita! (Papa FranciscoCerimônia de despedida no Aeroporto Internacional Galeão/Antônio Carlos Jobim)

– Uma última coisa: rezem por mim.

(Papa FranciscoEncontro com os Voluntários da XXVIII JMJ
no Pavilhão 5 do Rio Centro
)

Conversas sobre Doutrina Social na Jornada Mundial da Juventude

Aconteceu durante a JMJ, no dia 23 de julho, no Mosteiro de São Bento, o DSI Talks. Estive presente às duas primeiras palestras, proferidas por S. E. R. Dom Antônio Rossi Keller e pelo prof. Carlos Ramalhete; não pude assistir à última conferência do evento, a do sr. Jesus Magaña, pois ela conflitava com o meu horário de serviço do dia como voluntário da Jornada e eu tive que sair mais cedo.

Mas a manhã foi extremamente proveitosa. Revi diversos amigos e pude conhecer outras pessoas com quem até então não travara senão contato virtual; e, principalmente, vi o pequeno auditório do mosteiro abarrotado de pessoas – em sua maioria jovens – preocupadas em aprender um pouco mais sobre a Doutrina Social da Igreja, e sinceramente preocupadas em encontrar formas concretas de aplicar em suas vidas o que a Igreja ensina sobre o tema.

Foi extremamente gratificante ver D. Keller chamando os leigos ao protagonismo próprio do seu estado de vida, querido por Deus e necessário à recristianização da sociedade. Vê-lo atacar – de modo até bastante duro – um certo “clericalismo” que intenta reduzir o papel do leigo a uma caricatura grotesca do serviço sacerdotal foi reconfortante, mormente nestes dias que correm em que parece que a pessoa é tanto mais católica quanto mais atribuições acumule para si dentro da paróquia, pouco importando o que faça fora dela. As perguntas surgidas após a sua fala deram um importante testemunho de que aquelas pessoas estavam, sim, interessadas no que o senhor bispo tinha para nos dizer.

Ouvir o Carlos Ramalhete falar é sempre prazeroso, e acompanhá-lo em sua busca à gênese das modernas insatisfações com a ordem social vigente – remontando até a origem da própria modernidade – era tão empolgante quanto escasso o tempo de que dispúnhamos para ouvi-lo falar. Também aqui, a participação das pessoas ao final da sua conferência testemunhava a sede de conhecimento daquele auditório: e como havia sido importante dar-lhes aquelas pequenas porções de catolicismo, mais adequadas a abrir o apetite do que a saciá-lo por completo. Saímos querendo mais, sem dúvidas; mas não é já um santo propósito e uma coisa terrivelmente necessária, isso de levar as pessoas a quererem saber mais das coisas de Deus e da Igreja?

Fiz algumas anotações sobre cada uma das duas palestras, que publico abaixo praticamente sem revisão. Apenas alguns tópicos, apenas algumas frases soltas e alguns esquemas muito mais indicativos do que desenvolvidos. Estes rascunhos decerto não substituem aquelas conferências. Mas faço votos de que eles possam aguçar a curiosidade e despertar o interesse daqueles que os lerem, reproduzindo – ainda que em menor medida – os saudáveis efeitos daquelas conversas sobre Doutrina Social da Igreja no Mosteiro de São Bento, durante a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro.

* * *

Dom Keller – @Terça-feira, 23 de julho de 2013, 9:25 AM

– Vocação e missão especifica do leigo no mundo
– Colaboração com a criação
– Colaboração com a redenção.

A fundamentação da DSI é teológica, e se encontra em grande parte no Concílio Vaticano II.

Lumen Gentium (documento central do Vaticano II), n. 31
– atuações em tarefas e ambientes que não são da Igreja, mas ordenando-os para Deus.
– “esclarecer e ordenar todas as coisas temporais, com as quais estão intimamente comprometidos”.

Catecismo: 898-899

Christifideles Laici

Casamento faz parte da missão do leigo! “Nela têm os cônjuges a própria vocação, para serem, para si e para os seus filhos, sinal do amor de Cristo!”

Não há doença pior do que o clericalismo! O leigo cristão tem que ser anti-clerical. Essa idéia de que tudo tem que passar pela mão do padre e do bispo.

A missão específica do leigo não é na Igreja! Ela não lhe vem de nenhuma delegação, mas diretamente de Deus, por meio do Batismo e da Confirmação! Por estrutura ontológica!

– Criação e Redenção

“Cuidar das coisas que Deus lhe confiou e estabelecer a Família” => Não são realidades autônomas! Devem ser realizadas de acordo com a vontade de Deus!

Conhecemos os desígnios de Deus por Revelação. Ordenar, segundo Deus, as coisas do mundo, porque Deus nos disse de forma positiva o que queria.

“Sereis como deuses” => é a tentação que hoje se faz presente na vida de todos nós. Todo o fundamento do moderno relativismo encontra-se aqui. Sociedades desenvolvidas à margem de Deus ou mesmo contra Deus!

Família, célula primeira e vital da sociedade. Quer destruir a humanidade? Quer destruir o ser humano? Comece destruindo a Família. Desestruturando-a, toda a sociedade é desestruturada.

Materialidade e Autonomia são os dois princípios – únicos princípios – aos quais estão sujeitas as coisas humanas. Falar de Deus é intromissão.

O cristão não pode adotar essas posições de encolhimento e pessimismo. “Tenho ensinado constantemente (…) o mundo não e ruim! (…) Nós, os homens, é que o fazemos ruim e feio!”

Deus nos espera para transformarmos a criação!

Redenção: apostolado dos leigos no ambiente secular, a fim de aproximar o mundo de Deus!

– vocação à santidade! Fé Católica sem o comprometimento da própria vida em busca da santidade do dia-a-dia. Pão com manteiga, pão sem manteiga: San Josemaría. O pessoal hoje em dia é burro mesmo, ganhar discussão é muito fácil. Ser capaz de calar a boca de gente burra não é salvar o mundo!

Como fazer?

– procura séria da santidade. Questão fundamental!
– um segredo em voz alta: crises mundiais são crises de santos. A alma de todo apostolado é a santidade!
– elevar o mundo a Deus e transformá-lo a partir de dentro!
– oração, expiação e ação.
– de mediocridade o mundo já está cheio. E a Igreja nem se fala!

O modo específico dos leigos contribuírem é essa ação livre e responsável no meio das atividades temporais. Espalhar o bom odor de Cristo!

Sejam, antes de tudo, leigos!

* * *

Prof. Carlos – Terça-feira, 23 de julho de 2013, 10:43 AM

Explicar tudo desde Adão e Eva: mania de filósofo…

Doutrina Social da Igreja: o que é isso?
– não é uma receita de bolo; estas fizeram um estrago danado nos últimos séculos.
– aplicação da Lei Natural à sociedade. Como o homem se encaixa na realidade?

A ordem natural é hierárquica. Como a sociedade vai se organizar? Democracia, Oligarquia ou Monarquia. No Brasil, basicamente temos uma Oligarquia.

A DSI nos dá parâmetros. Ela não determina nenhuma forma de governo específica. Isto é uma questão leiga, a Igreja no máximo diz “não é assim”.

Compete a leigos terem posições, divergentes ou não, mas debaixo de certos princípios. Os bispos expõem os princípios. Os leigos vão fazer lobby.

Doutrina Social é relativamente recente. Antes se falava em teoria do Estado, coisas assim.

Isso começou a se romper com a Reforma Protestante. “Se o rei era católico, o paiszinho dele ia ficar católico, etc.” -> isso gerou o absolutismo.

Modernidade -> outra forma de absolutismo. “O Estado sou eu”, “todo o poder emana do povo e e exercido em nome dele por mim”.

Quando chega a Revolução Francesa, começa a centralização por meio desta forma de absolutismo anônimo. Isso leva à dissolução da ordem social.

Revolução Industrial: camponeses desempregados após a revolta anglicana, que distribuiu as terras da Igreja. Capitalismo selvagem. Isso é a modernidade. Proletários: os que só têm a prole pra vender.

Coisas novas: Rerum Novarum. Deixar o território da política para invadir o da economia social.

Modernidade: Um absolutismo ainda mais absoluto por ser impessoal.

Dicta&Contradicta: vale a pena ler o próximo número.

A gente sabe que querer que o poder civil invada arbitrariamente o santuário da família é um erro grave e funesto.

É muito mais importante garantir que as leis não colem do que que elas não passem.

Rerum Novarum, contra o capitalismo;
Quadragesimo Anno, contra o comunismo;
Mit Brennender Sorge, contra o nazi-fascismo.

É preciso eliminar os que não se encaixam na idéia que querem impor à sociedade: prendendo, matando, whatever.

Modernidade é alguém que tem uma idéia de como a realidade deve ser, e quer dobrá-la àquela.

Nossa legislação é completamente louca. A realidade não tem chongas a ver com a legislação. O Estado no meio gera desordem.

Mercenários: terceirização de forças armadas. Estados estão perdendo seu poder: uma ONG matou milhares de americanos em 11 de setembro, e hoje os Estados Unidos contratam ONGs para garantir sua ocupação territorial.

Compêndio de Doutrina Social: incompreensível. Foi publicado num momento histórico complicado.

Quando uma ordem social acaba, em seus últimos estertores ela recrudesce em suas características próprias. Juliano o Apóstata, caça às bruxas, etc.

As manifestações são sinais de dissolução desta ordem hipercentralizadora. Nos USA, o TeaParty e o Occupy estão dizendo “não agüento mais”. As pessoas estão cansadas de tentar fazer a realidade se dobrar a uma idéia. As pessoas vão sempre se manifestar contra.

Realidades Naturais são sólidas demais! Simplificações da realidade não colam mais. Eles não sabem o que fazer, então eles queimam carros. Uma briga pelo timão do Titanic enquanto ele afunda.

Aqui no Brasil, a galera entrou nas manifestações. O que ela não agüenta mais é essa falsa solidez da modernidade. #NãoMeRepresenta – acabou essa lorota.

Pontos principais:

  • Anti-Partidarismo (subsidiariedade)
  • Atomismo das reivindicações: chegamos à solidariedade.
  • Revolta com a política representativa. Justiça.

É isso o que devemos procurar!

Manifestações são sintomas de uma exasperação generalizada. Devemos procurar fazer com que a ordem que há de vir seja conforme à DSI. Dá pra resolver evitando a burocracia? Se sim, então vamos fazer. A ordem formal está caindo! Não é se, e sim quando.

Adesão à moral tradicional: fazê-lo com visibilidade. Devemos fazer nossa voz ser ouvida! Fortalecer a ordem endógena, que – ao contrários desses ismos todos – é conforme a DSI.

Podemos nos aproveitar delas, como um sintoma!

Em qualquer mudança de ordem social há distúrbios.

As dimensões da JMJ

“Eu nunca vi tanto gringo no Rio de Janeiro”, dizia-me um amigo já na semana anterior à Jornada Mundial da Juventude. E a mesma coisa me foi confirmada ao longo dos dias seguintes por uma infinidade de pessoas, com uma reconfortante regularidade: taxistas, motoristas de ônibus, comerciantes, moradores da cidade que encontrávamos nas ruas, todos nos diziam o mesmo: nunca se vira tanta gente no Rio de Janeiro, nem mesmo no badalado Reveillon de Copacabana. Fomos melhores do que o «melhor do mundo».

Quando voltei pra Recife, soube que um certo pastor protestante desdenhara no Twitter dos números da JMJ. Era ridículo, dizia ele, perguntar o número de participantes para os organizadores do evento, que sempre os superestimavam. Ora, os números que divulgamos não vieram dos organizadores da JMJ, e sim da prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, em parceria com outros órgãos públicos. Estes números não são nossos, e sim do Governo:

  • «Mais de três milhões de pessoas participaram da Jornada».
  • «Dados do Ministério do Turismo revelam que dois milhões de turistas estiveram no Rio durante a JMJ».
  • «Vindos de 170 países, 93% dos turistas pretendem voltar para conhecer melhor o Rio».
  • «A Comlurb removeu 345 toneladas de resíduos orgânicos e 45 toneladas de materiais recicláveis durante a Jornada Mundial da Juventude».
  • «Visitantes desembolsaram R$ 1,2 bilhão».

Os nossos números são um pouco mais generosos. D. Orani divulgou uma estimativa de 3,7 milhões para o número de participantes da Jornada, e se divulgou que o impacto econômico foi de 1,8 bilhão. Em comparação com o evento como um todo, no entanto, debater isso é discutir sobre centavos.

Ainda considerando “somente” as três milhões de pessoas estimadas pela prefeitura do Rio, ainda assim já é de longe o maior evento da história do Brasil. Nunca antes na história deste país uma cidade recebeu um evento de proporções tão gigantescas e, citando a notícia (acima mencionada) do site da Prefeitura do RJ, trata-se de «um recorde de visitação no país, considerando que todos estavam em uma mesma cidade e em um mesmo período».

Ainda considerando que os turistas tenham desembolsado “somente” 1,2 bilhão de reais durante os dias do evento, ainda assim já é um número quatro vezes maior do que os tão tagarelados “custos” (entre públicos e privados) da Jornada Mundial da Juventude. Se formos considerar somente os recursos públicos “gastos” na Jornada (R$ 118 mi), a mais baixa estimativa de retorno financeiro já é dez vezes maior do que os custos do evento. Um retorno de 1000%. Até mesmo em finanças públicas, a Igreja Católica continua sendo a única que faz milagres.

Apesar de toda a implicância ideológica dos inimigos da religião, o evento aconteceu: e foi um sucesso tão estrondoso que, por si só, cala todos os seus detratores. Querem falar de gastos públicos com um evento religioso? Vejam se conseguem seduzir com este discurso furado os comerciantes do Rio de Janeiro, que só em Copacabana dobraram o seu faturamento durante os dias da JMJ. Querem discutir talvez os tumultos característicos das grandes multidões reunidas? O que ouvíamos da polícia e do exército lá no Rio de Janeiro era que eles nunca haviam visto tanta gente para lhes dar tão pouco trabalho – coisa bem diferente dos protestos que tocaram fogo no Leblon apenas uma semana antes. Que tal alardear sobre a Igreja decrépita cujos dias estão contados, a instituição falida que não tem mais a menor importância no mundo moderno? Digam isso para os mais de três milhões de pessoas (em sua maioria jovens) que acompanharam a Missa de Encerramento no dia 28! O fato é que não há para onde correr. Sob qualquer aspecto que se lhe considere, a JMJ deu um show e reduziu ao silêncio aqueles que a criticavam. Orgulhamo-nos de ter realizado o maior e melhor evento público do qual o Brasil já foi palco. Tem coisas que só a Igreja Católica é capaz de fazer.

Os números do Datafolha são um caso à parte, porque o revisionismo numérico do instituto de pesquisa do Grupo Folha já é bem conhecido. O Datafolha usa uma unidade de medida diferente dos outros estimadores de multidões, se melhor ou pior não nos interessa analisar agora. O fato – inconteste – é que é diferente. Então, quando o Datafolha diz que em Copacabana havia no máximo 1,2 milhão de pessoas, isso não significa que havia menos gente do que no show dos Stones que reuniu lá na praia um milhão e meio de pessoas, simplesmente porque este 1,5 milhão não está em “unidades Datafolha de medida de multidões”. É bastante fácil perceber que muito mais gente foi ver o Papa Francisco do que o grupo de rock inglês: basta comparar as duas fotos.

Rolling Stones em Copacabana
Rolling Stones em Copacabana
Missa de Encerramento da JMJ em Copacabana
Missa de Encerramento da JMJ em Copacabana

Quando o Datafolha diz que havia no máximo 1,2 milhão em Copacabana, isso tem que ser comparado com outras medidas do próprio Datafolha. Ou seja, isto significa que havia seis vezes mais católicos em Copacabana do que protestantes na Marcha pra Jesus, e quase seis vezes mais católicos na Missa de Encerramento da JMJ do que manifestantes pró-sodomia na maior Parada Gay do mundo. É isto que estes números significam, e é isso que deve ser divulgado: somos muito mais do que os hereges protestantes e os militantes gayzistas juntos. Os católicos são em número muito maior do que os inimigos da Fé, e portanto não temos razão para temer. Não há por que aceitar o absurdo de que esta multidão tenha menos voz do que outras multidões incontestavelmente (muito) menores do que ela. Que não tenha espaço na vida pública a Igreja que enche as ruas é um absurdo sem tamanhos que não precisamos aceitar de graça.

Mas estas estatísticas frias e estas imagens inertes não são capazes de transmitir a exata dimensão do que foram aqueles dias. Somente quem lá esteve pode fazer deles um juízo mais acurado; a experiência daqueles dias não cabe em números e fotos. A exata dimensão da JMJ estava no sorriso de cada peregrino com o qual cruzamos pelas ruas do Rio de Janeiro; nas amizades firmadas durante as intermináveis esperas que são próprias das Jornadas; nas explosões de cânticos que surgiam espontaneamente em cada esquina; nas ruas sempre apinhadas de bandeiras e mochilas coloridas; no brilho dos olhos dos cariocas, que testemunhavam em uníssono jamais terem visto algo parecido. Estes são os registros que queremos que fiquem da JMJ! Que as pessoas possam conhecê-la e, conhecendo-a, possam se deixar seduzir por aqueles jovens que, no final de julho, maravilharam a Cidade Maravilhosa.

Sim, senhoras e senhores, a Igreja está viva. Que as águas de Copacabana testemunhem a Sua vitalidade. Que a experiência vivida naqueles dias pelos cariocas – e por todos os brasileiros! – venha em favor d’Ela. Que o brado dessas multidões – num mundo que não entende senão a linguagem das massas – possa sensibilizar os que se fazem de surdos às coisas do Alto.

A Jornada que Deus quis

Nem me lembro de quando começou a chover no Rio de Janeiro; o que eu lembro é que na terça-feira, na Missa de abertura, já estava chovendo um bocado. Eu já estava gripado, e neste dia quase morro: enrolado numa bandeira do Brasil (ou de Pernambuco?) na areia da praia, sentado, com um guarda-chuva, enquanto a chuva fina fustigava e o vento da beira-mar cortava. Eu estava doente e, portanto, não posso avaliar com certeza, mas acho que este foi o dia da sensação térmica mais baixa. Depois da Missa, a sopa quente de abóbora com não-sei-mais-o-quê revigorou-me. Santa sopa! No mesmo dia eu já era um homem novo: tanto que os meus amigos, brincando, disseram-me estar já preparados para a minha missa de corpo presente no dia seguinte, se o jantar não tivesse feito tão portentoso milagre. Voltei bem melhor para casa – ou pro alojamento que nos acostumamos, naqueles dias, a chamar de “casa”.

No dia seguinte continuou chovendo – tanto que a nossa exposição, montada em tendas no Largo da Carioca, teve que ser suspensa. Na quinta-feira estava chovendo ainda. Não era nenhuma tempestade tropical: era uma chuva fina e insistente, um céu permanentemente nublado, um derramar constante de água. Na própria quinta-feira nos vem a notícia: a vigília e a Missa de encerramento poderiam ser transferidas, por conta da chuva, de Guaratiba para Copacabana.

Uma amiga revela a sua preocupação com o fato do metrô não ter vendido bilhetes para este dia. Eu prontamente respondo que a venda de bilhetes por horário só atrapalhara: aquela multidão se auto-organizava. Eu já o vira antes. Em Madrid, voltando de Cuatro Vientos, vi dois milhões de jovens entrarem em uma única estação de metrô após uma Missa celebrada no extenuante verão europeu, organizados por um único “guardinha” que, postado à entrada da estação, gritava “stop!” quando lhe parecia que a plataforma já estava suficientemente cheia. E funcionou. Não via razão para que o prodígio não se repetisse do lado de baixo do Equador; como em muito do que ocorreu no Rio de Janeiro, o excesso de preocupação com o controle detalhado das multidões atrapalhava a Jornada, e melhor fariam os organizadores se se preocupassem com o que estava a seu alcance fazer.

Eu tinha certeza de que as pessoas conseguiriam chegar a Copacabana. A minha preocupação era outra: ora, a peregrinação para o local da Vigília é parte constituinte da JMJ. Colocando os dois últimos atos centrais dentro da cidade, o ineditismo da decisão acabava por sepultar um aspecto (a meu ver muito importante) da Jornada: a peregrinação propriamente dita. Graças a Deus, os organizadores do evento tiveram esta mesma preocupação. E decretaram: a peregrinação (de 10 km) não deixará de existir, mas será dentro da cidade, da estação Central à Praia de Copacabana, via aterro do Flamengo e Botafogo.

E eu gostei sobremaneira daquela peregrinação dentro da cidade do Rio de Janeiro. Ora, embora fosse um sábado, muitas das coisas da cidade estavam abertas: passamos por estabelecimentos comerciais, pelos pontos de ônibus, pelas vias repletas de carros, pelos viadutos cheios de pedestres. Em todos os lugares éramos recebidos com um sorriso no rosto; muitas pessoas – que não estavam na peregrinação, habitantes normais da cidade que estavam somente passando – acenavam e cantavam conosco, tiravam fotos e filmavam, e depois seguiam o seu caminho. Nós íamos felizes, enfrentando cada quilômetro com a tranqüilidade de quem está anunciando a Deus da maneira mais fácil possível: com o simples fato de estarmos lá, engrossando aquela multidão. Nem mesmo as (já relatadas) dificuldades com o recebimento do kit-vigília ou a escassez de sanitários no caminho arrefecia o nosso ânimo. Íamos andando e cantando, e era emocionante ver como aqueles túneis reverberavam ao som de “eu / sou brasileiro / com muito orgulho / com muito amor” ou “esta es / la juventud del Papa” quando por dentro deles passávamos.

Estimo que mais de um milhão de pessoas tenha passado por aquele caminho (reservado para nós) entre a Central do Brasil e a Praia de Copacabana. Não houve um único instante ao longo de todo o dia em que ele estivesse vazio: ao contrário, estava sempre repleto de grupos e mais grupos de peregrinos, caminhando animados em direção ao local da Vigília com o Santo Padre. Uma multidão contínua, espalhando-se ao longo de 10 km, das primeiras horas da manhã até depois de cair à noite: eis o que éramos na Cidade Maravilhosa! De longe, a maior manifestação pública que aquela cidade já recebeu. De longe, a maior passeata da qual o Rio de Janeiro já foi palco. E nós, católicos de todos os cantos do mundo, testemunhávamos a vitalidade da nossa Fé pelo simples fato de seguirmos aquele caminho, com as nossas orações e cânticos alegres, com as nossas bandeiras e camisas e mochilas da Jornada. Nunca era tão fácil ser publicamente católico, e nunca um testemunho público era tão eloqüente como naquele sábado.

Num sábado, aliás, em que já não chovia! Já estiara desde a véspera. A chuva durou só o suficiente para que a organização do evento transferisse os atos centrais de Guaratiba para Copacabana: depois disso, dir-se-ia que Aquele que «faz chover sobre os justos e sobre os injustos» (Mt V, 45) já Se dera por satisfeito, já atingira o Seu intento. E que intento sagrado era esse?

Tenho a íntima convicção de que era vontade positiva do Deus Altíssimo que a Vigília e a Missa de Encerramento da JMJ acontecessem em Copacabana. Ora, todos os cariocas com os quais eu conversei foram unânimes em dizer que aquela chuva era completamente atípica para aquela época do ano. E ela só durou o suficiente para que o local dos últimos eventos fosse alterado: a mesma chuva que forçou uma mudança de planos de última hora e que inviabilizou um lugar que estava sendo preparado há meses para receber a Vigília e a Missa da JMJ deu delicada licença para que estes atos acontecessem tranqüilamente em Copacabana, sem a menor contrariedade provocada por eventuais intempéries da Natureza. Somando-se a isso o extraordinário público em Copacabana e o belo testemunho dado por aqueles milhões de peregrinos atravessando o Rio de Janeiro, o que se pode dizer senão que Deus, dos insondáveis arcanos da Sua Providência, dispôs positiva e harmoniosamente as coisas para que elas acontecessem exatamente desta maneira?

Esta foi a Jornada que Deus quis, contra o que desejavam os seus organizadores. Após a JMJ, conversando no metrô com uma carioca, ela me disse que achava um absurdo que tivessem planejado “esconder Deus lá em Guaratiba”: a vitrine do Rio de Janeiro era o centro e a Zona Sul e, portanto, para o evento ser mostrado para o mundo inteiro, era lá que ele precisava ocorrer. Concordo com a análise dela: os últimos eventos da Jornada não teriam um público tão grande e nem seriam tão visíveis se não tivessem acontecido no coração da Cidade Maravilhosa. E eu tenho ainda uma outra hipótese para a teoria: Deus Se ofendeu com o par de chifres em cujo meio os organizadores da JMJ queriam que o Papa celebrasse a Santa Missa, e humilhou os que queriam zombar d’Ele fazendo com que uma chuva fina, quase uma garoa, levasse todos os seus planos por água abaixo. Que a lição tenha servido aos ímpios: que eles tenham aprendido que de Deus não se zomba. E todos nós, que participamos da Jornada ou a acompanhamos, tenhamos a certeza de ter presenciado, no Rio de Janeiro, a ação poderosa do Onipotente. O brado de «queremos Deus!» no meio de um mundo secularizado foi proferido com estrondo: que o ouçam. Que a semente lançada germine. Que o espetáculo daqueles dias desperte-nos do estado letárgico em que estivemos até agora. Esta é a Terra de Santa Cruz! Que não nos esqueçamos disso. Que a força da Igreja reunida aos milhões em torno do Vigário de Cristo nas areias de Copacabana nos lembre dessa importante verdade.

O caos dos bastidores

A Jornada foi um estrondoso sucesso, mas este não pode (por questões de Justiça) ser atribuído aos seus organizadores. A todos os que participaram da JMJ, eu, na qualidade de voluntário do evento, gostaria de pedir sinceras desculpas – ex imo cor meum – pelo mais criminoso desleixo com o qual vocês foram tratados pela organização do evento, quer por parte das autoridades seculares, quer pelo Comitê de Organização Local (COL) da Jornada, empenhados todos que estavam – ao que parece – em tornar a experiência desses dias a pior possível.

Não penso que exagero. Falo do que eu vi e vivi ao longo de quinze dias no Rio de Janeiro, e que merece um registro, quando menos para que a glória de Deus resplandeça com um fulgor mais vívido ao se perceber quão adversas eram as circunstâncias em que ela se manifestou. Convivi com incontáveis pessoas de coração generoso e de boa vontade, e justamente por isso posso falar um pouco das dificuldades que encontramos para que esta Jornada Mundial se realizasse de maneira a servir à maior glória de Deus e à salvação das almas.

Dizem que peregrino não está à procura de luxo e que a JMJ é uma peregrinação repleta de provações. É verdade. No entanto, não havia nenhuma necessidade de se infligir contrariedades e sofrimentos desnecessários àquelas pessoas que foram ao Rio de Janeiro para ver o Doce Cristo na Terra. A impressão forte que passava a todos os que contemplavam atônitos as absurdas diretrizes emanadas das altas esferas de tomada de decisões era a de que tudo estava sendo feito da pior maneira possível, que por vezes nem o mais irresponsável amadorismo poderia explicar. Muitas vezes, a impressão que nos dava era a de haver uma vontade deliberada de melar de alguma maneira o evento.

Eu não vou nem mencionar as barbaridades feitas com os voluntários, amontoados na Catedral numa fila que nunca andava, alguns jogados para alojamentos distantes e depois tirados deles às pressas no meio da noite, outros obrigados a participar de treinamentos concorrentes, outros ainda separados de seus cônjuges (voluntários igualmente) por uma burocracia estúpida e sem sentido. Concedamos aos organizadores o benefício da dúvida, e concedamos que a semana da pré-Jornada tenha sido o “teste” que eles precisavam para acertar os ponteiros e prestar um serviço melhor na próxima semana. Nada justifica, no entanto, que na semana seguinte os mesmíssimos erros tenham sido repetidos de novo e mais uma vez, transformando todo o evento numa sucessão de martírios kafkianos que, não fosse a sede de Deus daqueles que foram ao Rio de Janeiro, teria certamente comprometido todo o evento.

Havia necessidade de se entregar kits peregrinos para centenas de milhares de pessoas? Que tal descentralizar a distribuição? Que tal separá-los por estado de procedência, por ordem alfabética, por número de inscrição, por qualquer coisa? Que tal antecipar o início da distribuição? Mas, não. Todos os peregrinos foram enviados (alguns inclusive sem o voucher de confirmação da inscrição que deveriam ter recebido…) para um único ponto, o Sambódromo [p.s.: conforme uma voluntária teve a gentileza de me avisar aqui no blog, havia um outro ponto de distribuição, menor, em Santa Cruz], onde enfrentavam diversas filas para pegar sucessivamente as credenciais, as mochilas, os livros que compunham o seu conteúdo, os vales transporte e alimentação.  Custava ao menos entregar o kit completo de uma vez só? Era realmente necessário forçar os peregrinos a pegarem-no aos pedaços, enfrentando uma nova fila quilométrica para cada item do kit que deveriam receber? As filas se formavam desde as primeiras horas da manhã, e a distribuição só começava as 10h. Custava iniciá-la mais cedo, ao se perceber o estado caótico em que as coisas se encontravam?

Para se locomoverem no interior da cidade, os peregrinos recebiam um cartão de transporte que lhes permitia pegar os ônibus e o metrô. De repente, o MetrôRio decide que estes bilhetes não vão valer para a cerimônia de recepção do Papa da quinta-feira e nem para a Via-Sacra da sexta. Exige que adquiram um outro bilhete, válido por horário, para estes dois dias. E, de repente, o peregrino se vê na rua com um bilhete que pode usar para ir pra qualquer canto do Rio de Janeiro, exceto o único lugar para ir ao qual ele estava na cidade: o lugar onde o Papa estava. Pode-se adquirir o bilhete sem ônus na estação “Carioca”, dizem: e lá se vão outras filas quilométricas e mais um dia inteiro perdido para se conseguir um bilhete de metrô.

Na quinta-feira, o metrô do Rio pára, e esta foi uma das situações que me fizeram pensar em sabotagem explícita: de repente, toda a linha metroviária da cidade do Rio de Janeiro pára por completo, e justamente no instante em que todas as pessoas estavam se dirigindo à Zona Sul para recepcionar o Papa! Peregrinos ficam presos no subterrâneo, entre duas estações. Nem ligam: cantam, batem palmas, rezam, depois saem e vão como podem, andando ou de ônibus, ao encontro do Vigário de Cristo. Dizem depois que uma latinha de refrigerante jogada nos trilhos provocou o colapso. Eu fico pensando em quem foi o responsável por este caos.

Na sexta, durante a Via-Sacra, a Av. Atlântica é fechada do Forte ao palco (que ficava quase no Leme) para a passagem do Papamóvel. As grades são colocadas quando a avenida estava já tomada: grupos ficaram separados, e quem estava do lado da praia não conseguia atravessar para o lado dos prédios, e nem vice-versa. Passa o Papa, começa a Via-Sacra: eu, no cordão de isolamento, a orientação que recebo é que as grades só serão retiradas quando acabarem todas as estações, dali a uma hora e meia pelo menos. Uma senhorita de língua espanhola me chama às lágrimas: ela está do lado dos prédios, e quer ir à praia para rezar com o Papa. Onde ela está o som não chega, diz, e eu constato que é verdade. Digo-lhe que ela está coberta de razão. Reclamações análogas começam a pulular por todos os cantos: decidimos, nós mesmos voluntários, por conta própria, tirar as grades. Fazemos um cordão somente para impedir que as pessoas seguissem pela avenida, onde a Via Sacra ainda estava acontecendo: mas deixamos que elas passem de um lado para o outro. Lá pelas tantas, uma garota vem correndo dizendo que era para liberar a via para a passagem de não-sei-o-quê e perguntando quem havia mandado tirar as grades. Respondo que nós tiramos a grade sim, e há muito tempo, porque era necessário. Ela reclama alguma coisa e sai praguejando; ainda a ouço dizer que “os voluntários só atrapalham”. Quanto à senhorita de língua hispânica, não a vi mais, mas rezo para que ela tenha conseguido acompanhar a Via-Sacra como desejava.

No sábado, outras filas quilométricas se formam no MAM para pegar o kit vigília. Horas e horas e horas desperdiçadas. Quando chego no lugar de entrega dos kits, percebo que é um pavilhão que possui uns balcões de uns cinqüenta metros no total, atrás dos quais estão voluntários com os kits a serem entregues. A forma mais óbvia de se fazer esta distribuição seria formar diversas filas de frente para os balcões; mas as pessoas fizeram uma fila única vinda por somente um dos lados, no mesmo sentido do comprimento do pavilhão, e as pessoas entravam de dez em dez ou de vinte e vinte e eram orientadas a correrem até o fim para pegarem o kit. Claro que muitas ficavam no início do balcão, em cujo final distribuía-se kits com muito menor freqüência do que era possível.

Ainda no sábado, no percurso entre a Central e Copacabana, disseram haver banheiros para os peregrinos. De fato, há: duas ou três cabines a cada quilômetro ou mais, evidentemente insuficientes para uma marcha de um milhão de católicos. Também aqui formam-se filas. Na praia há também banheiros, em quantidade ridícula e que não foram limpos: no domingo pela manhã, o espetáculo dos peregrinos formando filas a mais de dez metros das cabines (para só correrem rapidamente em direção a ela quando chegasse a sua vez, e saírem depois o mais depressa possível) era digno das mais escabrosas cenas do “Ensaio sobre a Cegueira”. Ainda no domingo pela manhã, uma outra coisa me levou a cogitar a hipótese de sabotagem: fechada mais uma vez a avenida para a passagem do Papa com mais de duas horas de antecedência, as pessoas que estavam na praia não podiam atravessar para o lado dos prédios – e do lado da areia não havia banheiros químicos. Quero dizer, pelo menos um milhão de pessoas que haviam passado a noite em Copacabana e, de manhã, não tinham banheiros para se aliviar! Havia os banheiros dos postos. No que eu estava, o banheiro estava fechado: já há horas que faltava água, papel, material de limpeza. A fila se formava enorme na frente; muitas pessoas pediam pelo amor de Deus para que as deixassem entrar, e não havia como. Já perto das sete horas da manhã, a fila começou a andar em conta-gotas. Dali a que todas entrassem, passaram-se horas: a fila continuou durante toda a manhã.

E não falei do transporte público que escasseava a ponto de praticamente desaparecer à noite; dos protestos (de “Fora Cabral!” e da “Marcha das Vadias”) que permitiram acontecer em meio aos peregrinos; das irresponsabilidades ocorridas com as hospedagens (com locais totalmente inadequados recebendo peregrinos, e casas de família que haviam aberto as suas portas junto à organização do evento esperando os seus hóspedes que nunca chegavam); do pessoal do COL arrogantemente dizendo aos voluntários “só vá trabalhar onde foi alocado” quando era óbvio que havia necessidade de mais gente nos lugares onde a desorganização estava mais crítica (e, quando lá chegávamos, eram as próprias pessoas que lá estavam trabalhando a pedirem a nossa ajuda); dos cafés da manhã servidos não nos alojamentos, mas nos locais de catequese que muitas vezes distavam daqueles uma hora ou mais de locomoção; et cetera. A lista é extensa e este post já vai longo e chato demais. Apenas quero dizer mais três coisinhas.

Primeiro, é óbvio que nenhuma cidade no mundo comporta três milhões de pessoas a mais do que as que já vivem nela. Filas e locais lotados eram naturalmente esperados, mas havia uma infinidade de coisas simples que poderiam ter sido feitas para minimizar estes problemas. Coisas como melhor organização dos pontos de distribuição de kits, maior contingente de veículos de transporte público (inclusive madrugada adentro), maior número de banheiros químicos e melhor cuidado com eles. Estas coisas são básicas, e não existe justificativa possível para que tenham sido tão mal feitas.

Segundo, que os voluntários estão de parabéns por terem sabido se desvencilhar das orientações estapafúrdias do COL e organizarem as coisas à própria maneira, da melhor forma possível dentro das condições precárias em que eram colocados. O que dizíamos entre nós era que quaisquer pessoas conversando por dois minutos diante de um problema específico eram capazes de arranjar uma solução muito melhor do que a que fora dada pelo COL, e isso era verdade; trabalhamos muito e trabalhamos duro, às vezes sem apoio “dos bastidores” algum, para que as coisas pudessem acontecer de modo menos traumático.

Terceiro, e mais importante, e é isso que eu quero que fique deste post (e não somente a reclamação generalizada que pode fazer parecer que nada prestou ou valeu a pena): tenho certeza que cada um daqueles peregrinos passaria por tudo aquilo de novo para viver o que viveu. Aquela multidão era diferente das outras multidões, e os que tentaram expôr os jovens a situações-limite para forçar reações impensadas que pudessem comprometer o espírito da Jornada foram fragorosamente derrotados pelo espírito cristão daquelas multidões que, com cânticos nos lábios e amor a Deus nos corações, ultrapassaram todas as dificuldades com os olhos fitos no Cristo que foram encontrar. Não houve nenhum incidente, nenhuma briga, nenhum confronto com a polícia, nenhum quebra-quebra, nada enfim que pudesse desmerecer a Jornada Mundial da Juventude. Se é na nossa fraqueza que se revela a força de Deus, o fato da JMJ ter sido um sucesso mesmo com todo o caos dos bastidores revela de modo insofismável a ação poderosa d’Ele que, ultrapassando toda a má-vontade humana, foi capaz de congregar junto a Si em espírito de paz e harmonia aqueles milhões de pessoas dos quatro cantos do mundo que foram ao Rio de Janeiro para se encontrar com o Romano Pontífice. Com um tão vasto número de problemas, qualquer evento mundano teria sido um estrondoso fracasso; é somente porque a Jornada era um evento de Deus que tantos que lá estiveram podem hoje se lembrar daqueles dias como uma experiência espiritual positiva e frutuosa, que levarão com gratidão para sempre em suas vidas. Deus não Se deixa vencer em generosidade, mesmo quando O tratam com descaso. Deus realiza a Sua vontade, mesmo quando os homens trabalham e conspiram para a frustrar.