Após tomar conhecimento dos exorbitantes gastos com a manutenção do site da Arcauniversal, a minha curiosidade foi mais forte do que o meu senso de aproveitar bem o tempo e eu me pus a dar uma rápida navegada pelo site e pelo blog do Edir Macedo. Dois minutos foram o suficiente para que eu me deparasse com esta pérola de desabafo, que me levantou a seguinte questão: será que o sr. Macedo é ateu? Vejam só o que ele diz, rebatendo as críticas que lhe são dirigidas:
E se a santidade deles é tão acentuada assim, por que não são tão abençoados por Deus como gostariam? Seria Deus injusto para com eles?
Que Deus é Esse que abençoa um “bandido” e amaldiçoa os certinhos?
Oras, o Deus que “abençoa” [muitas aspas aqui e já digo o porquê] os iníquos é precisamente o Deus da Bíblia, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó! Como o sr. Macedo não conhece o Deus a Quem diz servir?! Será que o pseudo-bispo da Universal nunca leu os Evangelhos, onde Nosso Senhor diz que o Pai “faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mt V, 45b)? Não sabe ele que, desde que o mundo é mundo, os iníquos prosperam, a ponto do Rei Davi precisar cantar nos seus salmos: “[n]ão invejes o que prospera em suas empresas, e leva a bom termo seus maus desígnios” (Sl 36, 7b)? Nunca percebeu o “bispo” Macedo que o salmista queixa-se a Deus por causa da prosperidade dos maus, dizendo “[a]té quando, Senhor, triunfarão os ímpios? Até quando se desmandarão em discursos arrogantes, e jactanciosos estarão esses obreiros do mal?” (Sl 93, 3-4)? Nunca leu ele o salmo 72? Eis um excerto:
2. Contudo, meus pés iam resvalar, por pouco não escorreguei,
3. porque me indignava contra os ímpios, vendo o bem-estar dos maus:
4. não existe sofrimento para eles, seus corpos são robustos e sadios.
5. Dos sofrimentos dos mortais não participam, não são atormentados como os outros homens.
6. Eles se adornam com um colar de orgulho, e se cobrem com um manto de arrogância.
7. Da gordura que os incha sai a iniqüidade, e transborda a temeridade.
8. Zombam e falam com malícia, discursam, altivamente, em tom ameaçador.
9. Com seus propósitos afrontam o céu e suas línguas ferem toda a terra.
10. Por isso se volta para eles o meu povo, e bebe com avidez das suas águas.
11. E dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto?
12. Assim são os pecadores que, tranqüilamente, aumentam suas riquezas.
13. Então foi em vão que conservei o coração puro e na inocência lavei as minhas mãos?
14. Pois tenho sofrido muito e sido castigado cada dia.
[Sl. 72]
O Deus, portanto, que abençoa um “bandido” e amaldiçoa os certinhos é o Deus da Bíblia, e todos os cristãos de todos os tempos e, antes deles, os judeus, sempre o souberam muito bem. Espanta-me que o Edir Macedo o desconheça! Na verdade – e este é o motivo da minha pergunta inicial -, o “argumento” por ele utilizado é precisamente aquele que os ateus utilizam para “mostrar” que Deus não existe! Compare-se a pergunta do sr. Macedo com, p.ex., este post de um blog ateu [sobre um padre assassinado em Recife] ou, para sermos mais recentes, este aqui que é desta semana [sobre um protestante que morreu ao cair do morro onde havia subido para orar]. Que Deus é esse que, ao que parece, não protege os Seus? A resposta [implícita] do “bispo” da Universal e a dos ateus é exatamente a mesma: este Deus não existe. Nós, porém, temos coragem de afirmá-lo ousadamente: este Deus é o nosso Deus!
Quanto ao problema da existência do mal [e as aspas acima colocadas que eu disse que iria explicar depois], o Papa Bento XVI disse em Auschwitz há quase três anos: “[n]ós não podemos perscrutar o segredo de Deus [vendo] apenas fragmentos e enganamo-nos se pretendemos eleger-nos a juízes de Deus e da história”. Nós acreditamos que, um dia, as injustiças serão reparadas, e toda lágrima será enxugada, e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor (cf. Ap 21, 4). Nós acreditamos, como Santo Agostinho, que Deus não permitiria o mal se, dele, não pudesse tirar um bem ainda maior – ainda que não consigamos perceber claramente que bem pode ser esse. Nós acreditamos que a história ainda não terminou; e, se é permitido ao joio crescer junto com o trigo – por motivos que Deus em Sua Providência sabe -, um dia ele será lançado fora, pois o mal não tem a última palavra. Enquanto isso, esperamos e oramos, enquanto pedimos ao Altíssimo paciência nas tribulações e encontramos conforto na Cruz de Nosso Senhor. Sim, o nosso Deus é Senhor da História. Em tudo seja bendito o Seu Santo Nome.