Estas ruas são do centro da cidade do Recife – conheço-as. Passo por elas freqüentemente, pois ficam relativamente próximas do local onde trabalho. Este é o Bloco da Saudade; toca frevo de bloco, bem diferente do frevo de rua que estamos acostumados a ver nas apresentações culturais onde os passistas dançam Vassorinhas. Mas também é frevo e, por frevo, eu tenho um particular apreço.
O carnaval não precisava ser a depravação moral que nós, muitas vezes, vemos. Poderia ser uma bela festa: vejam só as fantasias que o pessoal da velha guarda usa para desfilar nas ruas do Recife! Nas mesmas ruas do mesmo carnaval onde vemos, muitas vezes, violência, depravação, drogas, excessos…
A imagem do carnaval não é muito bonita. Concedo que – como escrevi num blog antigo um dia – pode até haver uma certa razão nisso. Mas há o outro lado, o lado que me fascina e encanta: a brincadeira sadia nas ruas da cidade, ao som de músicas que têm décadas, e que a cada ano são cantadas com alegria, dando forte testemunho contra as “músicas descartáveis” que fazem sucesso estrondoso por pouquíssimo tempo nas nossas rádios. O frevo que é tradição, porque os nossos pais e avós cantavam. A festa que é o povo que faz – se o povo não saísse / não havia carnaval, como canta o Hino da Pitombeira. E o povo não precisa destruir o carnaval, sufocando-lhe com tudo o que não presta. Porque há muita coisa que presta.
Não fui às ruas de Recife nem às ladeiras de Olinda este ano, pois estava viajando no carnaval. Mas cantei frevo em Toulouse com meus dois amigos que comigo estavam. Os franceses devem ter pensado que éramos malucos, mas que importa? Frevo é muito bom, e é impossível passar o carnaval sem lembrar dele. Os comentários dos visitantes do Deus lo Vult!, hoje, trouxeram-me boas lembranças. Obrigado! :-)