Curtas: neurônios a partir de células-tronco, yorkshires e bebês e inversão de valores, resposta da FSSPX ao preâmbulo doutrinal

– Simplesmente fundamental este texto da dra. Lenise Garcia (presidente do Movimento Brasil Sem Aborto) sobre células-tronco. Fala sobre uma pesquisa do Instituto de Química da USP que conseguiu produzir neurônios a partir de células-tronco adultas. Com a palavra, a Dra. Lenise:

Evidentemente, não pude deixar de me lembrar de meus debates públicos com a Dra Mayana Zats, quando se discutia a inconstitucionalidade de se destruírem embriões humanos, para deles retirar células-tronco embrionárias. O maior argumento dela para justificar a “necessidade” dessas células para a pesquisa era o mesmo que está publicado aqui e copio abaixo:

“Uma das grandes limitações das células-tronco adultas é a sua incapacidade de formar neurônios. Elas conseguem se diferenciar em células musculares, adiposas, ósseas, cartilagens e até células nervosas com aspecto de neurônios mas que infelizmente não são funcionais. Não transmitem o impulso elétrico. Esse foi um dos principais motivos que nos levou a lutar para ter a permissão de poder pesquisar as células-tronco embrionárias (CTE), pois elas, sim, conseguem formar todos os tecidos inclusive neurônios”.

E eu sempre dizia que talvez ainda não tivessem sido descobertas, mas que certamente existiriam as células-tronco adultas capazes de formar neurônios, pois eles não surgem do nada, e já estava demonstrado que são produzidos ao longo de nossa vida.

Assim, enquanto a empresa Geron desiste das pesquisas com células embrionárias, 15 anos e 150 milhões de dólares depois, aí estão as células-tronco adultas gerando neurônios.

Dispensa comentários.

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Hipocrisia do nosso tempo: a enfermeira de Goiás e os anencéfalos do Brasil. «Diante da morte de um bebê, acoado, tremendo no útero materno, o que é a morte de um cachorro? É razoável levantarem bandeiras e ações contra a morte de um cão e calarem sobre a morte de seres humanos? Não há nada de perigoso nessa inversão de valores?»

Ao mesmo tempo, leio esta lacônica nota – dois parágrafos!! – sobre uma dupla de lésbicas que espancou e matou um bebê de nove meses no Rio de Janeiro. Uma das poucas informações que temos: «Segundo o delegado titular da 21ª DP, Aguinaldo Ribeiro, a criança estava com o braço quebrado há cerca de um mês, mas não havia sido encaminhado para um hospital».

Onde está o clamor popular? Onde o rasgar de vestes escandalizado? Onde a repercussão do crime bárbaro? Acaso os bebês não são dignos da mesma indignação que devotamos aos yorkshires assassinados? Ou existe outro motivo para esta absurda desproporção entre crimes e reações populares?

Deus nos ajude. E ainda dizem que estamos evoluindo, que o progresso moral é inevitável e outras besteiras mais! Reconhecer os problemas é o primeiro e fundamental passo para que se busquem soluções. Enquanto o mito de que estamos sempre melhor do que no passado vigorar, nós continuaremos caminhando rumo ao abismo.

* * *

I Lefebvriani rispondono senza rispondere, via Vatican Insider. Ao que parece, a FSSPX respondeu ao preâmbulo doutrinal… sem responder se o aceitava ou se o rejeitava! Arriscando uma tradução bem livre de alguns trechos que julgo mais relevantes:

Já era esperada por estes dias, e a resposta dos lefebvristas ao «preâmbulo doutrinal» proposto pelas autoridades vaticanas chegou na última hora. No entanto, com uma certa supresa, [notou-se que] a resposta… não responde. Não se trata daquela resposta que a comissão Ecclesia Dei esperava (positiva, negativa ou com pedidos de esclarecimentos ou modificações de pontos específicos do texto do preâmbulo). O texto que chegou da Fraternidade será estudado pela comissão presidida pelo Cardeal William Levada e pelo secretário Guido Pozzo.

[…]

[Mons.] Fellay, mesmo não publicando o texto (provisório) do preâmbulo, em pelo menos duas ocasiões – uma entrevista e uma homilia – antecipou as dificuldades que os lefebvristas viam no preâmbulo. Disse abertamente que, assim como estava, o texto não podia ser aceito. Muitos, dentro ou fora de Roma, consideraram as palavras do superior [da FSSPX] como um indício das dificuldades internas da Fraternidade: a linha de Fellay estava, de fato, sendo objeto de fortes críticas e aberta dissidência por parte dos superiores de vários distritos, contrários ao acordo com a Santa Sé.

[…]

É inegável que uma forte dissidência interna, contrária ao acordo com Roma, cresceu nestes [últimos] anos no grupo lefebvrista. Agora é necessário esperar para saber como a Santa Sé reagirá à «resposta que não responde».

Que a Virgem Santíssima, Sedes Sapientiae, interceda por estas negociações que parecem não ter fim. Que as leve a um bom termo, e o quanto antes, ad majorem Dei gloriam.

Sinceramente, eu não sei quem são os bárbaros (sobre a enfermeira e o Yorkshire)

Nos últimos dias, eu ouvi falar muito sobre a enfermeira que espancou e matou um Yorkshire. Vi também o vídeo do Youtube que mostra os maus-tratos; não é nada bonito. A garota chuta o cachorro, deixa-o preso sob um balde, joga-o para cima a fim de que caia no chão. E tudo isso na frente de uma criança (ao que parece, filha dela).

A repercussão (como sói acontecer em casos assim) foi imediata e violenta. O referido vídeo tem neste momento mais de sessenta mil comentários, entre os quais é possível encontrar coisas como (toda a pontuação e ortografia dos originais):

  • Da um joinha ae Para quem tem vontade de colocar essa mulher de 4, amarra uma coleira no pescoço dele e mete a bicuda, socos e ponta pé nela. Essa cadela vadia. OBS: sou contra a violência com as propias mão, mas no caso dela eu abro uma exeção!
  • ha jente muito ruin nete planeta ,mas eu apostu que eles teem uma localsinho marcado so pra eles . ARDE NU INFERNU MINHA VACA SEM ESCRUPULOS !
  • Ela não merece a morte, ela merece sofrer vagarosa e dolorosamente pra sentir pior que o cão sentiu. Depois disso tem que ir pro inferno sofrer eternamente sendo mordida por cachorros e estando acorrentada com corrente com lâminas, pra quando ela se debater de dor cortar a pele. Eu odeio essa vadia, sem cerébro! Morra demonio!!
  • Essa mulher teem problema!!! Vadiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaa! Você tem q ser espancada até a morte pra ver como é bom! Desgraçadaa!!!Voce podia viver sem fazer milhões de pessoas chorarem!! Vacaaaa se entrega logo ASSASINAAA!!!!

E daí (muito!) para baixo. Isto foi apenas uma pequena amostragem colhida ao acaso, navegando aleatoriamente pelas muitas páginas de comentários. Ao que parece, o sentimento universal é o de que esta mulher merece

  1. ser torturada;
  2. ser (violentamente) morta;
  3. ir pro inferno.

Há também diversas petições na internet para serem assinadas; a maior delas pede, no título, que a enfermeira sofra a pena máxima do crime de maus tratos (já está beirando as 400.000 assinaturas e tem muitos comentários como os que foram acima citados). Aliás, este abaixo-assinado é bem sucinto e merece ser citado na íntegra:

PARA PENA MÁXIMA DE CRIME DE MAUS TRATOS PARA A ENFERMEIRA QUE MATOU O YORKSHIRE. PUNIÇÃO POR CRIME DE MAUS-TRATOS E INCLUSIVE PENA PARA OS FAMILIARES QUE OMITIRAM SOCORRO! CASSAÇÃO DO REGISTRO DO CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM!

É isto. Gritos e exclamações indignadas do original. Estas três linhas conseguiram, simplesmente, a simpatia de quase 400.000 brasileiros em uma semana. É verdadeiramente impressionante.

Falemos abertamente: é óbvio que não é normal uma pessoa espancar e matar um cachorro ou qualquer outro animal. Chesterton já dizia (salvo gravíssimo engano em “Ortodoxia”) que é evidente haver mal no mundo, e dava como exemplo de evidência disto um sujeito esfolando um gato. É também óbvio que o mal (e, neste caso, com o agravante de ser o mal que costuma ficar impune, o mal tratado com indiferentismo) costuma provocar indignação nas pessoas normais. Tudo isto é perfeitamente razoável. O que foge a qualquer razoabilidade é o exagero destas reações, tanto em quantidade quanto em qualidade.

Tenho certeza de que é possível encontrar com relativa facilidade notícias recentes de crimes de agressão e de morte praticados contra seres humanos neste Brasil afora, e não me recordo de ter jamais visto uma mobilização virtual desta magnitude quando as vítimas são pessoas humanas as quais, por sua própria natureza, valem infinitamente mais do que cachorros (por bonitinhos e fofinhos que eles sejam) ou qualquer outra coisa. Além disso, as manifestações contra a enfermeira incluem divulgação de foto, endereço, nome do marido e telefone (que eu vou ter o bom senso de não colocar aqui, mas a maior parte dos meus leitores deve ter recebido no Facebook ou por email) e, por conta disso e segundo esta notícia, a enfermeira está “escondida, pois já recebeu mais de 40 mil ameaças de morte”.

E isto, sinto muito, passa muito longe de ser demonstração de civilidade e de respeito, de ser o justo repúdio ao mal praticado. É fora de quaisquer dúvidas que é errado espancar e matar um cachorro, mas também é inquestionável que fazer incitação ao crime, ameaçar de morte e divulgar as informações necessárias para que tais ameaças se concretizem é muito mais errado e, se as pessoas não conseguem perceber isto, estão em um nível de degradação moral ainda pior do que o da enfermeira. Alguém comentou que é desanimador pensar no futuro de um país onde há pessoas que espancam e matam animais como se não estivessem fazendo nada, e eu concordo totalmente. No entanto, é ainda mais desanimador pensar no futuro de um país onde se defende abertamente o linchamento (moral e também físico) de um ser humano, a sua tortura e morte pela turba revoltosa seguida de condenação eterna, e onde os que fazem isso julgam-se os paladinos de uma civilidade que não possui a enfermeira condenada no júri popular virtual. Sinceramente, eu não sei quem são os bárbaros aqui.