Aqui, faço eco àquilo que o Marcio Antonio já disse há quase um mês no “Eles não sabem o que escrevem”. Não me detenho muito em analisar o porquê das reportagens sobre as indulgências estarem erradas; o Marcio já fez isso. Há, no entanto, outra raça de gente que tem bem menos direito de errar sobre o assunto do que a mídia secular: são os hereges do Centro Apologético Cristão de Pesquisas que escreveram um artigo sobre o assunto.
Logo o subtítulo já revela a seriedade do “estudo”: Indulgência agora é gratuita. Voltou com João Paulo II e, sob Bento XVI, cresceu para varrer pecados do mundo. Três erros em uma única linha! Primeiro, indulgências sempre foram gratuitas; segundo, elas não “voltaram” com João Paulo II (porque sempre existiram); terceiro, as indulgências apagam as penas temporais dos pecados já perdoados, no máximo “varrendo”, portanto, as penas, e não os pecados em si. Eis um exemplo verdadeiramente invejável de como conseguir falsear uma notícia maximizando o número de erros por frase escrita! Tem coisas que só o CACP faz por você…
Aliás, eu tenho a impressão de que este site se baseia na mídia secular para escrever os seus artigos, porque não é possível uma tão grotesca coincidência: em certo ponto, o artigo aqui comentado diz que [o] Concílio Vaticano II (1962-1965) a aposentara [a indulgência] com a missa em latim e a dieta de carne às sextas-feiras. Permito-me citar o Marcio:
Como a missa em latim e as sextas-feiras sem carne, a indulgência foi uma das tradições separadas da prática da maioria católica nos anos 60 pelo Concílio Vaticano 2º
Não, não adianta você ir aos documentos do Vaticano II. Lá você não encontrará nada sobre acabar com a missa em latim, a abstinência das sextas-feiras (ela ainda existe, sabiam?) e as indulgências. Acho que deve haver uma regra nas redações. Se o jornalista não sabe por que algo mudou no mundo católico, coloca a culpa no Vaticano II. Hoje as casulas góticas são mais usadas? “Deve ter sido coisa do Vaticano II”, pensa o repórter. Temos padres cantores? “Humm, acho que foram incentivados pelo Concílio”, dirá ele.
Não, o Marcio não está comentando o artigo do CACP, e sim o do NYT reproduzido pela Folha. Não acredito que um erro tão absurdo quanto o acima exposto possa ter surgido, simultânea, idêntica e independentemente, em duas cabeças distintas; portanto, a única explicação plausível para o fenômeno é que os consultores teológicos do CACP são os jornais leigos como o New York Times! É uma verdadeira piada; com fontes dessas, como é que o site tem a cara de pau de pretender oferecer “apologética” na internet?!
É muita cretinice; os “apologetas” hereges do CACP manifestamente não fazem a mínima idéia daquilo sobre o que estão falando e, mesmo assim, têm a pachorra de apresentar, julgar e condenar uma doutrina cujo conteúdo lhes escapa completamente. Um mínimo de honestidade intelectual é exigido de quem pretende comentar idéias alheias; caso contrário, pode-se falar em fraude, pode-se falar em engodo, pode-se falar em empulhação, pode-se falar em mentira, pode-se falar em safadeza, pode-se falar em engano, pode-se falar em desonestidade, pode-se falar em qualquer coisa, mas – por razões óbvias – não se pode, de modo algum, falar em apologética.