Sí, es posible la esperanza!

Recebi hoje pela manhã esta bonita notícia sobre o apoio que um ateu homossexual resolveu prestar, publicamente, a um sacerdote espanhol – mais, a um bispo espanhol – que, em sua diocese [aliás, pelo que eu entendi é mais especificamente no site da sua diocese], está promovendo um espaço de ajuda para as pessoas homossexuais que estão dispostas a lutar para abandonar os seus vícios e para levar uma vida da maneira que o Todo-Poderoso deseja.

Não deixem de ler as palavras do jovem venezuelano, que são bonitas; mas o que é ainda mais bonito nesta história toda é a mensagem de esperança que Dom Juan Antonio Reig Pla publicou no site da Diocese de Alcalá. Es posible la esperanza! Estas palavras são um verdadeiro alento para as tantas pessoas que, sofrendo em sua carne os males das inclinações homossexuais, vêem-se abandonadas e privadas do acesso a informações e a pessoas que lhes possam ajudar a enfrentar com dignidade a cruz que aprouve à Divina Providência que lhes coubesse. Porque a Ideologia Gay tampouco admite que haja um homossexual insatisfeito com a sua condição e desejoso de mudar. A famosa “liberdade de escolha”, que até há bem pouco tempo ressoava em nossos ouvidos em defesa dos homossexuais, virou rapidamente uma liberdade de uma escolha só e portanto, por definição, uma não-liberdade.

O Carlos Ramalhete falava exatamente sobre isto na sua coluna de ontem na Gazeta do Povo. Não sobre homossexuais, mas sobre escolhas, e sobre os males que advêm quando terceiros tomam sob si a “responsabilidade” de decidir o que é melhor para alguém. Não é muito diferente a (hipotética) proibição do açúcar no café da (concreta) proibição dos programas de ajuda à pessoa homossexual: em um e em outro caso, temos burocratas ou ideólogos decidindo por si próprios o que é melhor para as pessoas, pouco importando o que estas pessoas pensem ou queiram.

Em última instância, ninguém pode forçar um pecador a se converter. Mas é fundamental – é uma exigência da Caridade inegociável – que os pecadores desejosos de se converterem possam receber de nós todo o apoio do qual necessitarem. Outra, no entanto, é a idéia (e a prática) do Movimento Gay: ao pregarem abertamente contra a irreversibilidade do comportamento homossexual, ao desacreditarem as iniciativas que se propõem a oferecer verdadeira ajuda às pessoas que padecem destes vícios e ao até mesmo atacarem abertamente (por via judicial, se necessário for) as pessoas ou entidades dispostas a oferecerem uma alternativa à entrega animalesca aos imundos pecados contrários à natureza, o que o Movimento Gay quer na verdade é impôr uma terrível escravidão a todas as pessoas que padecem de tendências homossexuais. Negando-lhes a possibilidade de escolher (ou, ainda pior, negando que haja escolhas), transforma-as em escravos [afinal, «a incapacidade de escolha é a maior característica do escravo», como disse o Ramalhete] de seus torpes desejos. Isto sim é degradante, e isto sim deveria ser objeto de censura dos poderes públicos – não os convites à liberdade dos filhos de Deus.

Não deixem de ver o site do Es posible la esperanza (sim, contra tudo o que dizem os baluartes da Ideologia Gay e a despeito das tentativas da Gaystapo de silenciar as vozes dissidentes, é sempre possível a esperança). E, em particular, não deixem de ver as mensagens de agradecimento ao bispo de Alcalá; o preito de gratidão por um bispo que não se rendeu à agenda gay e que está, sozinho, fazendo infinitamente mais pelos homossexuais do que todo o Movimento Gay do mundo inteiro.

Curtas

– O Carlos Ramalhete estreou ontem uma coluna semanal (que será publicada toda quinta-feira) na Gazeta do Povo. A primeira leva por título “Brasil de Verdade” e, como sempre, vale a leitura.

Aliás, há mais vídeos do professor Carlos disponíveis no seu canal do gloria.tv. Assistam lá!

* * *

– Eu não tenho tempo (nem capacidade) para traduzir na íntegra este texto do Chesterton, como sempre genial [p.s.: ele já está traduzido aqui]. Fala sobre mulheres no trabalho e nos lares, sob o ponto de vista da divisão do trabalho. Traduzo apenas o finalzinho: “O lugar onde as crianças nascem, onde os homens morrem, onde o drama da vida real se desenrola, não é em um escritório ou em um shopping ou detrás de uma mesa. É um lugar muito menor em tamanho, mais de alcance muito mais abrangente. E embora ninguém seja tão tolo a ponto de defender que este seja o único lugar onde as pessoas devam trabalhar (ou mesmo o único lugar onde as mulheres devam trabalhar), ele possui uma característica de unidade e de universalidade que não se encontra em nenhuma das experiências fragmentárias de divisão do trabalho”.

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– O procurador-geral da República quer a condenação de 36 envolvidos no escândalo do Mensalão. Embora já faça anos, a expectativa – segundo a reportagem citada – é que o STF julgue o caso somente no ano que vem.

Eu ouvia a Lucia Hippolito na CBN hoje pela manhã sobre o mesmo assunto. Ela falava que havia uma possibilidade de que, com a renúncia dos réus, o processo voltasse para as primeiras instâncias dos tribunais – o que, na prática, significaria provavelmente que ninguém nunca seria punido. Em se tratando do Brasil, eu não duvido de nada.

* * *

Jovens ficam feridos em corrida de touros do festival de São Firmino. Não é a primeira vez que uma reportagem dessas é publicada (aliás, publicam-se coisas assim todo santo ano desde que eu me entendo por gente); o objetivo (às vezes expresso, às vezes velado) é provocar ojeriza a este tipo de divertimento bárbaro e perigoso.

Mas faço questão de destacar: são oito pessoas feridas (mais quatro ferimentos leves do dia anterior), sendo grave apenas um dos casos. Quantas pessoas são feridas ou morrem, p.ex., no nosso Carnaval? A desproporção é gritante (e ainda mais gritante se levarmos em consideração que, na Espanha, temos animais selvagens e violentos “à solta”) – e, no entanto,  “[d]esde 1911, esse evento [os festivais de San Firmino] causou 15 mortos”.

Ou seja: perigoso não é correr com touros. Perigosas são as festas brasileiras. Corridas com touros, já! Afinal, estes animais são evidentemente muito mais inofensivos do que outros que as nossas políticas públicas gostam de criar e proteger.

Aulas em vídeo – Prof. Carlos Ramalhete

Alvíssaras! O professor Carlos Ramalhete começou a gravar – e a disponibilizar – uma série de aulas sobre Catecismo. Até o presente momento, já foram colocadas na internet três aulas, que podem ser vistas abaixo.

As aulas também estão disponíveis em partes menores, no youtube. Os links seguem abaixo:

Aula 1

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4

Aula 2

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4

Aula 3

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4

As aulas estão sendo gravadas semanalmente. O processo de disponibilização delas ainda está em análise. Novidades serão avisadas – esperemos que em breve. Peço orações pelo bom êxito desta empreitada!

“Hierarquia dentro do Matrimônio” – prof. Carlos Ramalhete

[Em complemento ao post anterior do Deus lo Vult!, permito-me reproduzir na íntegra um email enviado pelo Carlos Ramalhete à lista Tradição Católica no início do mês passado. Achei que ele já estava disponível em algum lugar da net e ia somente linká-lo ao final do post passado; procurando, no entanto, não o encontrei. O texto é bem longo, mas é precioso. Recomendo enfaticamente a sua leitura atenciosa.

Fiz questão de mantê-lo tal e qual foi enviado, com os exemplos pessoais que foram lá citados, por considerá-los muito úteis e extremamente didáticos. Apenas fiz ligeiras correções tipográficas.

Fonte: Tradição Católica e Contra-Revolução.]

Pax Christi!

>Não concebo, e outros comigo como já falarei, que no matrimónio um
>seja superior e outro inferior, como ocorre numa hierarquia.

Creio que esteja havendo um grave engano sobre o que signifique hierarquia.

Isto não é incomum, devido à perversão do termo pela modernidade, e que é provavelmente o que faz com que ele seja evitado, a não ser em algumas raras ocasiões em que há alguma analogia com as hierarquias modernas (por exemplo, ao tratar de hierarquia eclesiática, caso em que a confusão leva a coisas como a tentativa americana de responsabilizar o Papa por crimes cometidos por um padre, como se o padre fosse um subordinado hierárquico ***no sentido moderno*** do Papa).

Vamos então ver algumas das diferenças:

Continuar lendo “Hierarquia dentro do Matrimônio” – prof. Carlos Ramalhete

PT, votos e questões morais

Aproveitando uma discussão que está rolando aqui, gostaria de sugerir enfaticamente a leitura deste simples e didático artigo do pe. Lodi: “Posso votar no PT? – uma questão moral”. Destaco:

10. Que falta comete um cristão que vota em um candidato de um partido abortista, como o PT?

Se o cristão vota no PT consciente de tudo quanto foi dito acima, comete pecado grave, porque coopera conscientemente com um pecado grave. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1868) ensina sobre a cooperação com o pecado de outra pessoa: O pecado é um ato pessoal. Além disso, temos responsabilidade nos pecados cometidos por outros, quando neles cooperamos: participando neles direta e voluntariamente; mandando, aconselhando, louvando ou aprovando esses pecados; não os revelando ou não os impedindo, quando a isso somos obrigados; protegendo os que fazem o mal.” Ora, quem vota no PT, de fato aprova, ou seja, contribui com seu voto para que possa ser praticado o que constitui um pecado grave.

E não venham rasgar as vestes dizendo que a Igreja não deve se meter em política! Gastem cinco minutos do seu tempo buscando entender o que significa isso antes de lançarem pedras. Sobre este assunto, aliás, recomendo também a leitura deste artigo do Carlos Ramalhete, escrito há muitos anos mas perfeitamente atual, disponível provisoriamente no link indicado. Destaco:

O essencial é que não se use nem o espaço físico nem o nome da Igreja para apoiar Fulano em detrimento de Beltrano. O padre tampouco pode envolver-se em apoio a candidaturas.

A não ser que Beltrano seja um candidato pró-aborto, pró-sodomia, etc. (caso em que é permissível fazer campanha *contra* Beltrano, mas não *a favor*  de Fulano dentro do ambiente eclesial), a comunidade eclesial deve manter-se igualmente aberta para todos os candidatos.

STJ permite adoção de crianças por dupla de gays

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) proferiu uma decisão inovadora para o direito de família. Por unanimidade, os ministros negaram recurso do Ministério Público do Rio Grande do Sul e mantiveram a decisão que permitiu a adoção de duas crianças por um casal de mulheres“. São os fatos que nos chegam, conforme noticiados na internet.

Encontrei no site do STJ a íntegra da decisão (a propósito, o link que está disponível na própria matéria do Superior Tribunal de Justiça não está funcionando). São dezoito páginas da lavra do Excelentíssimo sr. Ministro Luís Felipe Salomão, compreendendo o relatório e o voto. Um monte de barbaridades, como por exemplo:

  • Destarte, em um mundo pós-moderno de velocidade instantânea da informação, sem fronteiras ou barreiras, sobretudo as culturais e as relativas aos costumes, onde a sociedade transforma-se velozmente, a interpretação da lei, segundo penso, deve levar em conta, sempre que possível, os postulados maiores do direito universal [e segue-se um blá-blá-blá sobre a DUDH].
  • Nesse passo, o acórdão recorrido, em análise detida sobre o tema, trouxe diversos estudos especializados (vale conferir, fls. 74-77), que, em resumo, “não indicam qualquer inconveniente em que crianças sejam adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga a seus cuidadores” [e segue-se um blá-blá-blá sobre estudos “respeitados e com fortes bases científicas”, que dizem, p.ex., que “o papel de pai nem sempre é exercido por um indivíduo do sexo masculino”].
  • Ademais, como se sabe, e é possível constatar em rápida pesquisa à rede mundial de computadores, são vários países hodiernamente onde há previsão legal expressa permitindo a adoção por casais homossexuais, valendo destacar: Inglaterra, País de Gales e Países Baixos. O mesmo ocorre em algumas províncias da Espanha, entre as quais Navarra e País Basco.
  • De fato, em vista de as uniões homoafetivas merecerem tratamento idêntico ao conferido às uniões estáveis, a circunstância de se tratar de casal homossexual, por si só, não é motivo para impedir a adoção de menores.

Ou seja: a adoção de crianças por uma dupla de homossexuais é um “direito humano”, os estudos científicos mostram que não há problemas, vários lugares do mundo já permitem a referida adoção e as “uniões homoafetivas” são iguais ao Sagrado Matrimônio. Na ordem, uma mentira (porque a DUDH não fala em adoção), um reducionismo seletivo (uma vez que certamente há profissionais que digam o contrário), um apelo “ad numerum” (posto que popularidade não é sinônimo de veracidade) e uma petição de princípio (uma vez que a equiparação entre o casal heterossexual e a “dupla gay” é precisamente o ponto em litígio). Assim é fácil ser ministro do Supremo…

Em tempo: o Reinaldo Azevedo comemorou. E recomendo o texto do Ramalhete, do qual destaco:

Na adoção, é necessário evitar toda e qualquer situação incomum e manter-se nos estritos limites do natural; tal como o Estado não pode registrar como “pais” de uma criança uma comunidade (hippie, religiosa etc.), tampouco pode fazê-lo com uma dupla do mesmo sexo que se vê como casal. Isto seria colocar a criança em uma situação atípica, forçando-a a passar a vida explicando que, sem ter escolha, tornou-se a vanguarda de uma tentativa de revolução contra a natureza.

Entrevista, apologética, desabafo

Entrevista da dra. Rozangela Justino à VEJA: entrevistador extremamente malicioso, mas a psicóloga teve jogo de cintura. “Há no conselho [Federal de Psicologia] muitos homossexuais, e eles estão deliberando em causa própria. (…) Além disso, esse conselho fez aliança com um movimento politicamente organizado que busca a heterodestruição e a desconstrução social através do movimento feminista e do movimento pró-homossexualista, formados por pessoas que trabalham contra as normas e os valores sociais”.

– Artigo do Carlos Ramalhete contra a sanha laicista: São Paulo ou Seu Paulo? “Ver uma ofensa a outras crenças na presença de um crucifixo implica necessariamente em vê-la nos nomes de estados e cidades, nos nomes próprios das pessoas, na organização social do país, nos dias da semana, nos meses, no preâmbulo da Constituição Federal… Querer proibir a presença do crucifixo implica em querer proibir um dado constitutivo da própria nacionalidade brasileira, importar uma noção a nós estranha do que seja a Justiça, o Bem, o certo e o errado. O Brasil não surgiu nem subsiste em um vácuo; temos uma cultura própria, com base lusitana e católica, que independe até mesmo da própria religião seguida por cada brasileiro”.

– Desabafo do Gustavo diante de um artigo escrito por um judeu: Ecumenismo judaico. “Se soubéssemos que nenhum templo de outra religião é tão digno quanto o interior de nossas igrejas: porque nelas está Deus mesmo, em sua totalidade (corpo, sangue, alma e divindade)! Se soubéssemos que nenhum líder religioso de outra religião tem a autoridade de um sacerdote católico: porque este, unindo sua voz à Palavra d’Ele, traz ao altar o Filho de Deus. Se defendêssemos, ainda que ao custo da própria vida, a Mãe de Deus – tão vilipendiada pelos hereges e descrentes”. É verdade, caríssimo, é verdade…

“Estupro, Aborto e Valores Distorcidos” – por Carlos Ramalhete

[Fonte: Gazeta do Povo]

Estupro, Aborto e Valores Distorcidos

Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso. A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já chegaram a um final feliz.

Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal – o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe, exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho contra o pai – grupos de pressão interessados na legalização do aborto apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos com pena de morte pelo crime do pai.

A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra claramente o alcance – em alguns setores bastante vocais da classe média urbana – de uma pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.

Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em si, para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças abortadas não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.

Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro, provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a abortar.

É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação de utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida dificilmente seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.

O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete vê em sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo fraco e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade da vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o que é feito com seu corpo.

A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus próprios filhos – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda, ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz a campanha pró-aborto.

Carlos Ramalhete é professor e filósofo. carlosgazeta@hsjonline.com

24 – Simone Weil

24 frases de Simone Weil. Não a conhecia; sei que é escritora francesa, filha de “judeus não-praticantes”, agnóstica na infância, religiosa no final da vida (embora não católica). Encontrei a seguinte frase como de sua autoria: “Eu não sou católica; mas considero a idéia cristã, que tem suas raízes no pensamento grego e no curso de séculos tem alimentado todas as nossas civilizações européias, como algo ao qual não se pode renunciar sem se tornar degradado”.

As frases a seguir foram retiradas deste original inglês e traduzidas pelo prof. Carlos Ramalhete; são em número de 24, uma para cada hora do dia, das 00:00 às 23:00. A despeito do comentário feito por um amigo, segundo o qual a primeira frase tem teor gnóstico, publico por três motivos; primeiro, porque no geral o conteúdo das frases é muito bom, segundo porque o deslize doutrinário da primeira frase pode-se justificar pelo fato de não ser católica a autora e, terceiro, porque é possível encontrar um sentido não-gnóstico na frase: afinal, em certo sentido, é bem verdade que as coisas visíveis escondem as invisíveis…

* * *

24 frases de Simone Weil

1. Deus só pôde criar escondendo-Se. De outro modo, só haveria Ele.

2. Uma ciência que não nos aproxima de Deus de nada vale.

3. Uma doutrina não serve para nada por si só, mas é indispensável se não quisermos ser enganados por falsas doutrinas.

4. Um ato cruel é a transferência a outros da degradação que trazemos em nós mesmos.

5. Uma mente fechada na linguagem está presa.

6. Todos os pecados são tentativas de preencher vazios.

7. A beleza sempre promete, mas nunca dá nada.

8. O mal, quando estamos em seu poder, não é percebido como mal, mas como necessidade, ou até dever.

9. Quando dois seres que não são amigos estão perto um do outro não há encontro, e quando amigos estão distantes não há separação.

10. O poder é tão impiedoso para com quem o tem, ou crê tê-lo, quanto para com suas vítimas; estas ele esmaga, aquele ele intoxica. Na verdade, ninguém o tem.

11. O humanismo não estava errado ao pensar que a verdade, a beleza, a liberdade e a igualdade tem valor infinito, mas ao pensar que o homem pode obtê-los para si sem a graça.

12. Lutando contra a angústia, nunca se produz serenidade; a luta contra a angústia produz apenas novas formas de angústia.

13. Nada pode ter como destino algo diverso da sua origem. A ideia contrária, a ideia de progresso, é um veneno.

14. A genialidade verdadeira nada mais é que a virtude sobrenatural da humildade no campo do pensamento.

15. A forma contenpoânea da grandeza verdadeira é baseada em uma civilização estabelecida sobre a estpiritualidade do trabalho.

16. A destruição do passado talvez seja o maior de todos os crimes.

17. O mais alto êxtase é a mais completa atenção.

18. Há uma, e só uma, coisa na sociedade moderna que é mais hedionda que o próprio crime, e é a justiça repressiva.

19. Para ser um herói ou heroína, é preciso dar uma ordem a si mesmo.

20. Estar enraizado talvez seja a necessidade mais importante e menos reconhecida da alma humana.

21. Colocar como padrão de moralidade pública uma noção que não pode ser definida ou concebida é abrir as portas a todo tipo de tirania.

22. O que um país chama de interesses vitais não é o que ajuda seu povo a viver, mas o que o ajuda a guerrear.

23. Menosprezar a inteligência é degradar o ser humano por inteiro.

24. A partir do momento em que um certo tipo de gente foi colocado pelas autoridades temporais e espirituais fora do rol daqueles cuja vida tem valor, nada é mais natural ao homem que o assassinato.

“Dr. Willianson et caterva” – Carlos Ramalhete

[Na lista de emails do yahoo “Tradição Católica e Contra-Revolução”, da qual participo já há algum tempo, o professor Carlos Ramalhete postou nos últimos dias dois emails tecendo comentários muitíssimo pertinentes sobre a questão da retirada da excomunhão da FSSPX. Com a autorização do mesmo, publico-os aqui na íntegra, cum gaudium magnum, e recomendando enfaticamente a leitura, a despeito do tamanho de ambos. As duas mensagens originais estão armazenadas no baú da lista (disponível para membros), aqui e aqui. A divulgação é livre na íntegra com menção do autor.]

Mensagem 1:
(por prof. Carlos Ramalhete)

Pax Christi!

Andaram me pedindo para dar um pitaco nesta questão complicada (será?) da retirada da excomunhão do pessoal de D. Lefebvre. A pedidos, lá vai.

Na minha humilde opinião, o Santo Padre mandou muito bem, e agora compete ao Dr. Fellay e seus colegas conseguir voltar à Igreja (digo Dr., por não ter ele jurisdição e por estar ele suspenso a divinis, pecando gravemente se celebrar ou ministrar os Sacramentos. Espero ansioso poder chamá-lo de Dom e poder pedir-lhe a bênção).

Quanto eu digo voltar à Igreja falo em um sentido muito lato. Não se trata de questões legais. Questões legais o Papa resolve com uma canetada, como retirou com uma canetada a excomunhão dos quatro. Quatro que, aliás, eram cinco: o que era um núcleo cismático em Campos hoje em dia, graças a Deus, está dentro da Igreja.

O que é estar dentro da Igreja?

Não é ***só*** estar em uma situação jurídica certinha. D. Casaldáliga está em uma situação jurídica impecável. O Padre Fulano, que usa um cibório de capim prensado em volta de um vaso de barro, idem. Irmã Sicrana, que defende aberrações do arco da velha e acha que o aborto é uma opção da mãe até os dezoito anos de nascido, tbm está.

Mas tampouco é ***só*** ter a Fé Católica. Menos ainda ter os acidentes da Fé e não ter a essência.

Ser católico na segunda metade do século XX – e, por extensão, no começo do XXI – é como ser filho de pai cachaceiro. O Quarto Mandamento dói, dói de verdade. É fácil cumprir o quarto mandamento quando não há sombra de dúvidas de que quando rezamos pelo nossa mãe e a chamamos de serva devota, é isso mesmo. Mas quando o pai é cachaceiro, quando a mãe é arreligiosa, ***quando o padre é discípulo de Marx ou de algum guru da auto-ajuda***, o buraco é mais embaixo.

Já dizia Madre Teresa: Amor só é verdadeiro quando dói. Dói ir à Missa e ficar procurando a Missa, o Sacrifício Incruento, debaixo da mistura bizarra de auto-ajuda com culto protestante que o disfarça. Dói ver coisas tão medonhas acontecendo aqui e ali que Deus chega a mandar um terremoto.

Mas pai é pai, mãe é mãe, a Igreja é mãe, o Papa é pai, e o Quarto Mandamento sempre foi o mais difícil de cumprir.

Quando eu volto pra casa de uma Missa na Basílica de Aparecida em que meu filho de doze anos ficou rodando que nem um doido procurando um padre para receber o Santíssimo, e tinha dezenas deles celebrando jubileu de ordenação, concelebrando a Missa, e o Santíssimo só era distribuído por leigos, e ele ficou sem comungar por causa disso;

Quando eu viajo horas atrás de uma Missa em que – me disseram – não há abusos graves, e antes mesmo do padre entrar vem um sujeito dançando uma dancinha estranha e pedindo “palmas pra jesus” (com minúsculo, pq pelo jeito é o nome do show dele);

Quando eu me ajoelho e beijo a mão do padre, e digo “padre, peço perdão por não o ter reconhecido, com o senhor disfarçado de leigo desta maneira”…

É a hora em que Deus nos coloca como colocou aos filhos de Noé. Não quero ser Canaã (Gn. IX,18ss, e chega de dar referências. Quem conhece, conhece).

É isso que o respeito ao Quarto Mandamento exige, e é isso que parece faltar, na sua soberba, a muitos seguidores de D. Lefebvre.

A Igreja é nossa mãe, nossa mãe amantíssima. Se, como houve com Noé, algo há de errado na forma como ela se apresenta, o mínimo que se pode fazer é ter a decência de trabalhar em prol dela, ***dentro dela***. Fugir para uma capelinha onde se finge estar em 1950 e onde o padre ou o leigo se coloca como juiz do Sumo Pontífice – coisa que nenhum padre ou leigo sonharia em fazer em 1950 – é uma tentação tão medonha, é um igualitarismo tão radicalmente modernista, como qualquer delírio de um “construtor de um mundo novo” nas CEBs.

Quis ut Deus? E quem em sã consciência pode se arvorar em juiz da Igreja, da catolicidade do Papa, valha-me Deus?!

A misericórdia do Santo Padre – “Dominus conservet eum, et vivivicet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius”, como rezo todos os dias nas laudes e vésperas – deu aos quatro filhos de Canaã a chance de agir como seus irmãos abençoados e voltar para a Igreja. Ótimo. Serão bem vindos, como foram bem vindos os Padres de Campos ( e confesso que digo “Benedicto”, mas do fundo do meu coração é “Ferdinando” que me vêm e por quem peço a Deus que “stet et pascat in fortitudine ea et in sublimitate nomini eius”).

Temos, senhores, quatro décadas de lixo a limpar. Quatro décadas de distorções e negações frontais do ensino perene da Igreja, feitas em nome de um “Espírito do concílio”, aproveitando cada ambiguidade e cada má leitura possível plantada pelo Inimigo, agindo no desespero de quem vê chegar ao fim os cem anos que lhe foram dados, pela cronologia do sonho de Leão XIII. Quatro décadas de violões e baterias levando a feiura demoníaca a conspurcar os acidentes do mais belo acontecimento pra cá do Céu. Quatro décadas de catequese negada, em que o protestantismo mitigado dos carismáticos é o que há de mais “religioso” em um panorama de devastação. Quatro décadas de destruição. Quatro décadas de negação da Verdade, de desobediência frontal à lei da Igreja e à Lei de Deus, sob a ridícula justificativa de que “o Concílio” (que não seria o de Trento, nem o Vaticano I…) “mudou tudo”.

Mudou, senhores, porcariíssima nenhuma. Está errado quem se apega a uma suposta refundação da Igreja para pregar barbaridades comunistas, e está errado quem se apega à mesmíssima e supositíssima refundação para se arvorar em juiz da catolicidade do Papa.

Espero em Deus e na Santíssima Virgem que os quatro bispos ora suspensos a divinis peguem suas vassouras e ajudem, deixando na porta seus egos, deixando na porta a maldita e nefanda tentação da soberba que os fez tantas vezes arvorar-se – tal como ocorre com seus seguidores – juízes do Sumo Pontífice.

Fala asneiras o Dr. Willianson? Certamente. Nem mais, nem menos que D. Casaldáliga, e ambos movidos pela mesma tentação demoníaca de usar um concílio como desculpa para a desobediência e o culto a si mesmo, a mais grave forma de idolatria.

Tanto um quanto o outro, contudo, são chamados, como eu, leigo, sou chamado, mas em grau infinitamente superior pela ordenação que receberam – aliás, cabe lembrar que a única definição doutrinal do CVII é esta: a ordenação episcopal é essencialmente diferente da presbiteral – a defender a Verdade e a estar na Igreja, atuantes, como missionários da Verdade. Missionários da Verdade, notem bem. Não juízes do Concílio – dado não haver nenhuma diferença entre o valor do juizo de um e de outro sobre ele – nem, muito menos, do Papa, e por aí vai.

O Santo Padre – Dominus conservet eum, et vivivicet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius – está encarando uma briga monstruosa. É ele, com a ajuda de Deus, contra a Revolução, contra o Inimigo, contra a imbecilidade que quer acreditar na armadilha demoníaca de duas Igrejas, uma pré-conciliar e outra pós-conciliar.

O que compete a cada membro da Igreja Militante, de um pobre leigo idiota como eu a um Bispo, um Cardeal, um sujeito ordenado padre ou bispo (repetindo:diferença dada pelo CVII) e suspenso a divinis, um padre, uma freira, quem mais for, é colocar-se de joelhos diante do Santo Padre e dizer “aqui estou. Que devo fazer?”. Fazer diferentemente é fazer como os vetero-católicos, que se separaram da igreja por acharem os jesuítas moralmente laxos e que hoje tentam ordenar mulheres, quiçá sapos ou pedras.

Espero em Deus que a armadilha da soberba não apanhe em seus laços aos quatro bispos ora suspensos – que fariam enorme bem se viessem a público proclamar que, em virtude de sua suspensão, não ministrarão os Sacramentos até a regularização de sua situação – e que eles, ao invés de ficar atrás das linhas, atirando no comandante, coloquem-se na linha de frente do campo de batalha.

Serão bem vindos.

Que Deus os guarde, e que nós os tenhamos sempre em nossas orações, bem como aos cismáticos russos e anglicanos, também caminhando de volta à Casa do Pai.

No dia de Nossa Senhora das Candeias – que ofereceu oferta de purificação sem precisar ser purificada por ser já totalmente pura -, segunda-feira da 4a semana depois da Epifania no ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2009,

seu irmão em Cristo e criado, sempre necessitado de suas orações,

Prof. Carlos Ramalhete

[Na troca de mensagens subseqüente, foram levantados dois questionamentos; que o Decreto utilizava o título “Dom Williamson” para se referir ao bispo da FSSPX, e que a existência da suspensão a divinis era controversa.]

Mensagem 2:
(por prof. Carlos Ramalhete)

Pax Christi!

>O sr. não dá o título de “Dom” a Fellay porém, no próprio decreto está
>escrito:
>
>”Con lettera del 15 dicembre 2008 indirizzata a Sua Em.za il Sig. Cardinale
>Dario Castrillôn Hoyos, Presidente della Pontificia Commissione Ecclesia
>Dei, *Mons*. Bernard Fellay, anche a nome degli altri tre Vescovi consacrati
>il giorno 30 giugno 1988…”
>
>Não sei italiano, mas aquele “Mons.” não deve ser “Dr.”…

Até pro Dalai Lama, que é escravo de milhares de demônios, foi usado o título de “Santidade”. Lamento informar, mas não sou nem nunca serei diplomata. Na carta ao novo Patriarca dos cismáticos russos tbm foi usado o termo “Sua Santidade” para referir-se a ele.

Aliás, a situação dos bispos da SSPX – por quem torço e que espero ter plenamente na Igreja em breve – tem pontos em comum com a dos orientais, cuja excomunhão também foi retirada como modo de facilitar o diálogo e uma possível volta à Igreja.

A diferença maior é que, no caso dos cismáticos orientais, tal como no caso de Campos, trata-se de uma Igreja Particular inteira que sai da perfeita comunhão. O patriarca Cirilo tem alguma jurisdição, embora ilegítima. No caso da SSPX, temos quatro pessoas que receberam ordenações episcopais ilícitas, que são seguidas por pessoas que eles mesmos ordenaram ilicitamente ao presbiterato, seguindo da melhor maneira que vêem e na melhor das intenções a santa Tradição da Igreja Latina. Jurisdição zero, só obediência voluntária, como a de meninos ao chefe de um clubinho.

Espero que isto seja sanado em breve. Os problemas, contudo, persistem. O primeiro deles é a soberba; por mais que se trate de um problema subjetivo, é este o maior obstáculo à plena regularização.

O segundo, este muito mais simples de resolver, é a questão jurídica. As ordenações dos sacerdotes e bispos da SSPX (e todo bispo é sacerdote) foi feita ilicitamente, causando sua suspensão a divinis. Do mesmo modo, foi feita fora de uma estrutura canônica regular, o que faz deles acéfalos e vagos, respectivamente. Isto é facílimo de resolver: basta dar à SSPX uma estrutura, talvez mesmo uma semelhante à dada aos Padres de Campos, mas abrangendo o mundo todo. Nada contra, muito pelo contrário. Hoje isso é ainda mais fácil devido ao Motu Próprio, que faz com que a Missa de sempre, o breviário, etc., sejam oficialmente uso oficial da Igreja. Se o padre da paróquia da esquina resolver rezar pelo Breviário ao invés de pela Liturgia das Horas, está hoje em seu pleno direito e cumprindo sua obrigação (recomendo, aliás. O breviário é acidentalmente muitíssimo superior à Liturgia das Horas; é a diferença entre algo erigido com o auxílio do Espírito Santo por séculos e o trabalho de um comitê…).

Se a SSPX voltar plenamente, inserida na estrutura canônica e hierárquica da Igreja, é de se esperar que cada vez mais padres e leigos passem a buscar cultuar a Deus na Tradição da Igreja, e não mais na imitação mal-feita e atrasada das modas do século propagada pelos hippies velhos que falam em nome da CNBB. Mas para isso é preciso que a SSPX abandone sua posição insustentável de pseudo-juiz do Papa e da Igreja, e que seus membros e fiéis percebam que católico é católico quando se submete ao Romano Pontífice. Não há diferença essencial entre alguém que desobedece frontalmente ao Papa para usar ministretes nas missas dominicais pq acha fofinho e alguém que desobedece para celebrar a Missa de sempre e fingir que dá absolvição sacramental aos incautos. Seria mesmo possível dizer ser pior a situação deste, que sabe e erra, do que a daquele, que é ignorante. Afinal, a absolvição sacramental dada por um padre da SSPX vale exatamente o mesmo que uma “absolvição coletiva” dada por um padre TL: ou o penitente está à beira da morte, ou não vale mais que uma que eu, leigo, dê pela internet – nada.

Quando a Santa Sé recebeu de volta os Padres de Campos, foram retiradas a excomunhão *e todas as outras censuras* ( http://www.adapostolica.org/modules/wfsection/article.php?articleid=293 ). No caso presente da SSPX, foi retirada a excomunhão, ponto. Isto significa que se os padres e bispos da SSPX procurarem algum padre que tenha – ao contrário deles – o poder de dar a absolvição e se confessarem, podem comungar. Ótimo, é um bom começo.

O que não é um bom começo é a estranhíssima visão individualista e modernista que parece ainda animar grande parcela dos membros e fiéis da SSPX, que se referem ao Papa como um igual, como – na melhor das hipóteses – primus inter pares.

Na minha modesta opinião, esta soberba é fruto da horrenda derrocada da Europa e da América do Norte ao pensamento modernista. Enquanto aqui no Brasil os Padres de Campos obedeciam – ainda que no erro – ao Bispo (D. Castro Mayer, de quem aliás se diz ter tentado voltar à Igreja antes de sua morte), a SSPX age como uma seita protestante, espalhando-se e atacando a Igreja abertamente. O raciocínio deles é tipicamente modernista, racionalizando a insubmissão à santa hierarquia, fazendo malabarismos com o CIC como se a Igreja fosse uma democracia ocidental em que um juiz pode levantar-se contra o monarca.

Isto leva, na melhor das hipoteses, a um sedevacantismo material. Se o Papa é tratado não como pai, mas como “ex-marido” na vara de família (“vamos arrancar dele a guarda das crianças e uma pensão, e ele vai ver o que é bom pra tosse”), para eles Papa ele não é. Alguns membros da SSPX perceberam que só faria sentido lógico aderir formalmente ao sedevacantismo, e o fizeram (www.sspv.net). É pelo menos mais honesto, ainda que leve ao Inferno do mesmo jeito.

Os outros, agora, estão sendo recebidos no portão pelo pai, tal como o filho pródigo. Que seja morto um boi gordo, que recebam o anel e o manto!

De nada vale fazer pouco disto, de nada vale arrotar grandezas e se negar à necessária humildade. Espero em Deus que em breve, que em muito breve, eu possa dizer “Dom Ricardo” e não Dr. Willianson. Mas chamá-lo de “Dom” (“Dominus”, Senhor) agora é dizer que um anel feito de palha da pocilga é o mesmo que o anel de ouro do pai que recebe o filho pródigo. É fazer pouco da caridade, da família, da hierarquia e da Igreja.

Vai ser necessário no mínimo fazer a sanatio in radici de todos os matrimônios nulos que a SSPX tentou celebrar, para não falar dos medonhos casos em que a SPPX arrogou-se o direito papal de decretar nulidades matrimoniais e o direito dos ordinários de reduzir diáconos ao estado laical, etc. Vai ser necessário levar todos os que se confessaram aos padres da SSPX de volta ao confessionário. Vai ser necessário sair da brincadeira de casinha na capelinha em que só se obedece ao próprio umbigo. Vai ser necessário, em outras palavras, abandonar o protestantismo e o modernismo que hoje dominam a SSPX para tê-la de volta, dentro da Igreja, atuando e lutando contra as barbaridades que hoje a assolam.

Se os seus líderes tiverem a humildade de reconhecer que fazer malabarismos canônicos ignorando a vontade expressa do Sumo Pontífice tem exatamente o mesmo valor que espernear no chão gritando que vai prender a respiração até ficar roxo se não ganhar o brinquedo, se eles se dispuserem a entrar na briga para valer, vai ser maravilhoso. Meninos mimados brincando de casinha não ajudam em nada, só atrapalham quando a guerra está comendo solta. Que venham, que se submetam, que peguem suas armas e entrem nas trincheiras reais.

Vamos tê-los propagando as belezas litúrgicas e devocionais da Tradição, levando aos poucos os outros padres a abandonar os delírios e invencionices com que hoje fazem frequentemente da liturgia um circo dos horrores. Vamos tê-los nas Conferências episcopais, falando e sendo ouvidos. Vamos tê-los no rádio, na TV, pregando com autoridade.

E isso abrirá as portas para a volta dos cismáticos orientais, tal como a volta dos Padres de Campos deu aos anglicanos tradicionalistas a oportunidade de pensar em voltar. É provável que em breve tenhamos um grupo enorme de ex-anglicanos voltando para a Igreja, com seus pseudo-sacerdotes recebendo as ordens sacras, com suas capelas sendo consagradas, com o que era uma farsa tornando-se verdade. O mesmo pode acontecer com patriarcados orientais inteiros, se a SSPX voltar.

A Barca está voltando, como no sonho de S. João Bosco, a seu lugar entre as colunas. É isto o necessário para trazer de volta todos os cismáticos que procuram manter a Fé. Uma etapa fundamental é a volta da SSPX, por que rezo todos os dias, mas para que isso aconteça, é necessário que eles percebam que são o filho pródigo, não um juiz do pai.

É preciso humildade.

[]s,

seu irmão em Cristo,

Carlos