Cinzas – por pe. Paulo Ricardo

Vi no Exsurge, Domine! – muito bom. São menos de dois minutos, mas mais profundos do que muitas homilias longas que escutamos por aí. “O homem se coloca debaixo do olhar de Deus com todo o realismo, dizendo: é verdade, Senhor, eu sou pó, e em Vós está a minha verdadeira alegria”.

Um conto de Carnaval

No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo…
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo…
No contato desfeito e no rumor já mudo…
No prazer que passou… Nesse nada que é tudo.

(Arlequim)

* * *

É tão doce sonhar!… A vida , nesta terra,
vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra.
(…)
não tocar a que se ama e deixar intangida
aquela que resume a nossa própria vida.

(Pierrot)

* * *

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma!

(Colombina)

Menotti del Picchia,
Máscaras

Arlequim saiu de casa na manhã colorida do sábado, a sua roupa refulgindo com todas as cores do carnaval. Saiu sozinho, porque assim se divertia mais; dirigiu-se apressado às ladeiras repletas de frevo. Tinha pressa, pois sabia que os quatro dias de folia passam rápido, e não queria perder nada. Gostava das máscaras, que enchiam os olhos de beleza e de alegria.

No caminho esbarrou em um palhaço apagado, mais adequado a um velório que ao carnaval. Não deu importância e seguiu o seu caminho, sorrindo diante das fantasias coloridas, olhando com indisfarçado desejo para as garotas que enchiam de graça as ruas de paralelepípedos, disparando gracejos a cada passo que dava. Uma delas, mais que as outras, chamou-lhe a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar deslumbrado de quem se depara pela primeira vez com um mundo de beleza até então desconhecida.

Arlequim olhou-lhe e sorriu-lhe, e ela percebeu o seu interesse. Ele aproximou-se, puxou-a e a beijou, como já tinha feito tantas vezes antes; ela não lhe resistiu. Sem dizer-lhe uma palavra ele foi embora, deixando a jovem atônita: ela não conseguia entender como era possível ser tão sem graça a ponto de não merecer nem mesmo um olhar mais demorado. Arlequim não chegou a perceber a lágrima que escorria do rosto belo de Colombina enquanto ele seguia as bandas de frevo ladeira acima.

* * *

Pierrot saiu de casa na manhã triste chuvosa do domingo, sua roupa preta e branca como se fosse um pálido reflexo do dia cinzento. Saiu sozinho, porque sempre fora diferente dos outros, e não gostava da companhia dos demais personagens carnavalescos. Dirigiu-se devagar e pesaroso às ladeiras abarrotadas de ilusões. Não tinha pressa, pois sabia que não encontraria nada nos quatro dias de festa. Não gostava das máscaras, que eram ilusórias e escondiam aquilo que as coisas realmente eram.

No caminho viu um palhaço colorido que ensaiava alguns passos de frevo e atraía a atenção dos foliões que passavam; mas não viu graça. Seguiu andando, olhando com indisfarçado desinteresse para um lado e para o outro, sem responder aos sorrisos que, de vez em quando, eram-lhe endereçados. Encontrou, no entanto, uma garota que lhe chamou a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar decepcionado de quem percebe, pela primeira vez, a efemeridade da beleza do mundo.

Pierrot olhou-a e se espantou ao ver que a moça lhe olhava de volta. Sustentou o olhar apenas por alguns segundos, tempo suficiente para que o rubor se lhe assomasse às faces pálidas. Sem dizer-lhe uma palavra ele foi embora, deixando a jovem atônita: ela não conseguia entender como era possível ser tão sem graça a ponto de não merecer nem mesmo um gracejo de carnaval. Pierrot, descendo a ladeira sem olhar para trás, não chegou a ver a lágrima que escorria pelo rosto jovem de Colombina.

* * *

Colombina saiu de casa, e era uma segunda-feira bonita. Saiu sozinha sem saber o porquê; aproveitava os dias da festa de Momo, sem pressa e sem tédio. Seu humor oscilava entre o deslumbramento e a decepção: o carnaval era-lhe uma experiência nova e estranha. Estava ainda se acostumando com as máscaras.

Passou por algumas esquinas com o pensamento distante; uma chuva de confete e serpentina impediu-lhe de ver o palhaço colorido, e um bloco de frevo que passava escondeu-lhe o palhaço preto e branco. Alguns jovens lhe lançavam sorrisos, e para alguns ela sorria de volta: nenhum deles, no entanto, prendia-lhe muito a atenção. Era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar indeciso de quem não sabe se ama o prazer pelo ímpeto com o qual ele vem ou se o odeia pela rapidez com a qual ele vai embora.

Colombina irritou-se consigo mesma, com sua própria inconstância, com sua própria indecisão. E, hoje, não havia ninguém que pudesse ter visto a lágrima que escorria pelo seu rosto loiro.

* * *

Arlequim, Pierrot e Colombina encontraram-se na terça-feira gorda. Olharam-se demoradamente.

O sorriso de Arlequim enaltecia o prazer carnavalesco. As lágrimas de Pierrot lamentavam as ilusões de Momo. O olhar de Colombina, oscilando entre um e outro, era indeciso: ela não queria os exageros de Arlequim, nem conseguia a indiferença de Pierrot.

Neste instante, o frevo silenciou. Findara-se o carnaval. O rosto de Arlequim era somente desespero: se não havia máscaras, não havia mais nada para ele. O rosto de Pierrot era sereno: ele não se iludira com as máscaras, chorara a sua quota de lágrimas e, agora, ficava feliz em ver as coisas face a face. Colombina nem se desesperava nem se alegrava: deixara-se enganar pelas máscaras, embora não tanto quanto Arlequim, e ainda teria lágrimas a derramar para limpar os olhos, mas conseguiria enxergar o mundo que se esconde por debaixo das fantasias.

Pierrot seguiu em frente. Colombina, embora cambaleante, seguia-lhe à distância. Arlequim ficou no chão, na espera vã de outros carnavais que lhe devolvessem o sentido da vida, irremediavelmente perdido para ele, pois sempre esteve escondido sob as máscaras para além das quais ele nunca conseguiu olhar. E, na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, Pierrot esboçava um sorriso, Colombina derramava lágrimas, e Arlequim chorava amargamente.

João do Morro e cultura média

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Até a sexta-feira passada, nunca tinha ouvido falar neste sujeito. No entanto, as músicas dele literalmente tomaram conta de todo o Carnaval de Olinda e Recife! A música acima é uma das maiores pérolas musicais de toda a discografia recifense moderna. A letra é como segue:

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
só porque
eu chamei ela de
Amara.

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
Só porque
eu chamei ela de
Amara.

Comprei um vestido pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um trancelim pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um sabonete pra ela
e ela não aceitou não

Ela gritou na minha cara
que eu não era o homem do seu coração!

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra!
Ela pegou o sabonete
jogou na minha cara…

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra:
Ela pegou o sabonete
esfregou na minha cara…

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo do chupa-cabra

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo…

Mas dali eu saí correndo,
dali eu saí correndo
com meu pobre violão…

e de repente eu caí
e ouvi uma palavra:
era a menina, tava com medo,
com medo do chupa-cabra…

e de repente eu caí
ouvi uma palavra:
era as menina, tava com medo,
chupa-chupa

Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]
Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]

Lembro-me de que um amigo de Brasília, após ter escutado isso 200 vezes (sim, tocou MUITO no Carnaval), comentou que não havia entendido esta música: afinal, por que raios a mulher havia batido no cara?! Eu comecei a rir. Acho que ele não havia ainda sido contaminado com o nonsense do cenário musical pernambucano. E, da segunda parte da música (que começa com “vinha saindo do beco”…), ele comentou que era a mesma música, mas não era a mesma história… e que estava até agora tentando saber qual era “a palavra” que Amara disse…

Bom, João do Morro – isso é meio óbvio porque, afinal, caso contrário provavelmente não faria lá tanto sucesso… – não é lá o melhor exemplo de música recomendável. O show dele no Carnaval foi, ao que dizem, apoteótico. Ele – e isso é um ponto positivo – sofreu um processo de uma ONG gayzista por conta de uma suposta homofobia em uma de suas músicas politicamente incorretas. Mas, biografia à parte, o ponto que me interessa aqui é outro: o que raios explica a decadência musical (e, por extensão, cultural) moderna? A futilidade erigida como padrão máximo de arte aceitável e desejável? Eu reconheço que dá para rir (eu mesmo ri à beça) com a música da Amara e com algumas outras também, mas duas coisas me incomodam profundamente (e isso é apanágio de toda a música moderna, ao menos em Recife, e apenas tomo João do Morro como estudo de caso): um, a existência de imoralidades gritantes que não me atrevo a reproduzir aqui mas, no entanto, são cândida e publicamente entoadas como se fossem a coisa mais natural do mundo; e, dois… o monopólio da futilidade e o local de destaque que lhe é dado. É claro que nem tudo precisa ser sério o tempo todo – um pouco de bom humor é sem dúvidas importante -, mas me incomoda a… seriedade que se aplica à falta de seriedade das coisas.

E talvez seja este um dos maiores problemas da “cultura” moderna: ela está preenchida, em sua virtual totalidade, com coisas fúteis! Parece haver um empenho organizado, um esforço conjunto, para que as pessoas fiquem ocupadas com coisas sem nenhuma importância, que aprendam a gostar delas, e que – por ausência de padrão comparativo – passem a considerá-las como parte substancial de suas vidas. Há incontáveis exemplos, da música ao Big Brother, passanto pelas novelas da Globo, etc, etc. Com a cabeça cheia de entulho, como se pode esperar que as pessoas se ocupem de coisas sérias?

Às vezes, fico desanimado, porque tenho a quase irresistível impressão de que é simplesmente impossível conversar com algumas pessoas sobre as coisas que realmente são importantes. É necessário um dedicado trabalho de… alargamento intelectual, para que coisas como, digamos, metafísica possa ser acomodada em mentes que foram acostumadas, desde a mais tenra infância, à futilidade. E este trabalho não pode ser feito unilateralmente. Não adianta discutir com quem não quer discutir e, muitas vezes, as pessoas simplesmente não são capazes de discutir sem um grande esforço para sair da pocilga e ousar elevar os olhos para o mundo… e muitos, muitos, muitos não estão dispostos a empreender este necessário esforço…

O que é possível fazer? Na minha opinião, oferecer resistência, e oferecer educação, não da maneira mágica e demagógica como falam os nossos políticos, mas educação cristã verdadeira, desde a mais tenra infância, às pessoas mais próximas de nós, em respeito à subsidiariedade, e com um verdadeiro esforço para preservarmos os educandos do ambiente deseducativo no qual eles estão inseridos. Não consigo vislumbrar uma possibilidade mágica de conversão da geração que hoje está aí; é somente nas gerações futuras que está a nossa esperança. E, aliás, urge trabalharmos, apressando a vinda destas, pois não sei ainda quantas gerações como as nossas o mundo é capaz de suportar.

Marchinhas de Carnaval [2007]

[Publicação original: 17 de setembro de 2007]

Marchinhas de Carnaval

“A nossa vida é um carnaval,
a gente brinca, escondendo a dor;
e a fantasia do meu ideal
é você, meu amor!”

Isso é uma música de carnaval. Eis uma festa que sempre exerceu em mim um fascínio espetacular! Ela sempre me pareceu ter algo de bastante paradoxal. De fato, se existe um tema recorrente nas marchinhas de carnaval é essa dicotomia entre a felicidade e a tristeza, entre o sonho bom e a dura realidade. O carnaval é uma festa que subsiste na tensão entre o Sábado de Zé Pereira e a Quarta-Feira de Cinzas; entre a felicidade sem limites momentânea que ele oferece, e a dura consciência de que o tempo caminha, inexorável, rumo às cinzas da quarta-feira. A sua alegria é meticulosamente delimitada no tempo.

A euforia do carnaval é permeada pela tristeza da quarta-feira de cinzas! Isso está presente nas músicas que são características desse período; quando não há referência explícita ao fim do Carnaval (“É de fazer chorar / Quando o dia amanhece / e obriga o frevo a parar… / Oh, Quarta-Feira ingrata, / chega tão depressa / só pra contrariar!”), há as histórias dos amores impossíveis de Colombinas e Arlequins (“Quanto riso, ah, quanta alegria / – mais de mil palhaços no salão! / Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / no meio da multidão…”), ou ainda de paixões passageiras (“Mas é carnaval, / não me diga mais quem é você… / Amanhã tudo volta ao normal!”)… não importa. As marchinhas de Carnaval, para serem boas, precisam ser tristes, porque o carnaval tem, intrinsecamente, a tristeza de ser passageiro.

E é precisamente este paradoxo do carnaval – a tristeza na alegria – que sempre me encantou. Os prazeres do mundo são tentadores, bem o sabemos; mas vejam que espécie estranha de tentação! Um prazer que se diz expressamente passageiro… uma alegria que carrega, em si, a tristeza da própria efemeridade. Quem é que vai se enganar, tomando como absoluto um prazer que se define, repetidamente, como limitado?

Mas, se olharmos um pouco melhor, veremos aí a malícia da tentação! Pois, note-se bem: uma coisa é escolher algo mau, mas que está “revestido” de uma roupagem boa, capaz de enganar. E outra coisa, bem diferente e bem pior, é gostar do algo mau sabendo ser ele mau, despido daquilo que pode enganar um incauto. Coisa lamentável é entregar-se a um bem menor sem avaliar corretamente as suas (reduzidas) dimensões; coisa muito mais lamentável é entregar-se a este bem menor conhecendo exatamente o seu parco tamanho! Ah, o carnaval pode parecer bem pouco enganoso, para quem gosta de escutar marchinhas… mas como é pior o abismo que ele abre, como é tão mais desgraçado quem nele cai, precisamente por causa da falta de engano… precisamente pela verdade revelada nua e crua!

E esta visão de mundo carnavalesca é o extremo oposto da visão de mundo cristã. Os católicos vivem num “vale de lágrimas”, num mundo de sofrimentos, sabendo todavia que esta vida é curta e que, sofrendo bem neste mundo, poderemos gozar um dia da Bem-Aventurança celeste que não tem fim. O carnaval é um “vale de prazeres”, onde se deve aproveitar bem a festa que é curta, porque depois voltará a tristeza do quotidiano…

A festa curta do carnaval, que deve ser aproveitada, porque o futuro é só tristeza… As lágrimas do dia-a-dia enquanto caminhamos nesta curta vida, que devem ser choradas, porque o futuro é a Glória da Vida Eterna! Uma perfeita correspondência antitética! Eis aí a tentação de Momo!

“Vê, Colombinas azuis a sorrir, lá-láiá…
Vê, serpentinas na luz reluzir…
Vê os confetes do pranto no olhar
desses palhaços dançando no ar!

Vê, multidão colorida a gritar, lá-laiá…
Vê, turbilhão desta vida passar…
Vê os delírios dos gritos de amor
nesta orgia de sol e de dor!”

Se nos for permitido tomar catequese do carnaval, que peguemos (como um exemplar da sua filosofia) esta música, e a entendamos do jeito certo: não gastemos os nossos dias vendo o turbilhão desta vida passar! Sim, a vida passa depressa, como um turbilhão – como nos ensina a Doutrina da Igreja – e importa que cuidemos com zelo do pouco tempo que nos é dado, a fim de não o vermos simplesmente passar! Como nos diz o finalzinho daquele soneto de Frei Antônio das Chagas:

“Ó vós, que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis vosso tempo em passatempo!
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.

Pois aqueles que, sem conta, gastam o tempo,
quando o tempo chegar de prestar conta,
chorarão, como eu, o não ter tempo.”

Permita-nos Deus cuidar bem do nosso tempo; para que não aconteça de, arrastados pelo turbilhão da vida, chorarmos depois o ter ela passado tão depressa!

Aviso

Arlequim <i>in</i> Família Oficina - http://www.familiaoficina.com.br/index.html
Arlequim in Família Oficina - http://www.familiaoficina.com.br/index.html

Blog de recesso até a Quarta-Feira de Cinzas. Atualizações programadas (com re-publicações de textos meus antigos, textos de outros autores e alguns comentários ligeiros meus que tive tempo de preparar) ao longo dos dias do carnaval; acesso do dono restrito durante o período. Um bom feriado para todos!

A Saúde Pública fazendo a sua parte

Entre alguns comentários – que foram deletados – da sra. você-sabe-quem* de hoje (um salmodiando loas ao “Dom da Paz”, outro me chamando de anti-semita, homofóbico e misógino, etc.), um deles continha esta relevante informação:

O Governo do Estado de São Paulo está distribuindo centena de milhares de camisinhas nas escolas de samba.

Os postos de saúde, Estaduais e Municipais ficarão aberto para distribuição de “pílulas do dia seguinte” e preservativos masculinos ou femininos.

Seringas descartáveis serão distribuídas em pontos estratégicos.

A saúde pública está fazendo sua parte.

Ou seja: os nossos impostos estão sendo gastos para estimular a promiscuidade e o uso de drogas, além de custear a distribuição de medicamentos abortivos. Maravilha. Enquanto isso, brasileiros esperam até dois anos por cirurgia de próstata no SUS. É, a Saúde Pública está fazendo sua parte…

* [P.S.] A referida senhora enviou-me dois emails ameaçando denunciar-me na delegacia de crimes eletrônicos de São Paulo, por “uso indevido” do nome dela (!!), mesmo tendo sido, sempre, ela própria a vir voluntariamente aqui fazer os seus “comentários” preciosos. Visivelmente descontrolada, disse no primeiro que o faria “da próxima vez” que o seu nome fosse citado; e, no segundo (agora há pouco – segunda-feira, 16 de fevereiro, perto das sete horas da manhã – enviado), disse estar aguardando “por mais doze horas” a retirada do seu nome. Como eu já havia dito (antes do xilique dela) que não ia tornar a citá-la nominalmente e como eu não tenho tempo para perder com esse tipo de gente nem emporcalhar o blog com as suas cretinices, retiro (com muito prazer!) o nome dela deste post, e o diabo que a carregue para bem longe daqui (cf. 1Tm 1, 20).

“A flor da Magnólia…”

Estas ruas são do centro da cidade do Recife – conheço-as. Passo por elas freqüentemente, pois ficam relativamente próximas do local onde trabalho. Este é o Bloco da Saudade; toca frevo de bloco, bem diferente do frevo de rua que estamos acostumados a ver nas apresentações culturais onde os passistas dançam Vassorinhas. Mas também é frevo e, por frevo, eu tenho um particular apreço.

O carnaval não precisava ser a depravação moral que nós, muitas vezes, vemos. Poderia ser uma bela festa: vejam só as fantasias que o pessoal da velha guarda usa para desfilar nas ruas do Recife! Nas mesmas ruas do mesmo carnaval onde vemos, muitas vezes, violência, depravação, drogas, excessos…

A imagem do carnaval não é muito bonita. Concedo que – como escrevi num blog antigo um dia – pode até haver uma certa razão nisso. Mas há o outro lado, o lado que me fascina e encanta: a brincadeira sadia nas ruas da cidade, ao som de músicas que têm décadas, e que a cada ano são cantadas com alegria, dando forte testemunho contra as “músicas descartáveis” que fazem sucesso estrondoso por pouquíssimo tempo nas nossas rádios. O frevo que é tradição, porque os nossos pais e avós cantavam. A festa que é o povo que faz – se o povo não saísse / não havia carnaval, como canta o Hino da Pitombeira. E o povo não precisa destruir o carnaval, sufocando-lhe com tudo o que não presta. Porque há muita coisa que presta.

Não fui às ruas de Recife nem às ladeiras de Olinda este ano, pois estava viajando no carnaval. Mas cantei frevo em Toulouse com meus dois amigos que comigo estavam. Os franceses devem ter pensado que éramos malucos, mas que importa? Frevo é muito bom, e é impossível passar o carnaval sem lembrar dele. Os comentários dos visitantes do Deus lo Vult!, hoje, trouxeram-me boas lembranças. Obrigado! :-)