O homem e a mulher que se amam: esta é a obra-prima!

A história de que o Papa Francisco teria chamado uma dupla gay de “família” foi explorada ad nauseam nos últimos dias pela militância LGBT. Aconteceu que o sr. Toni Reis, conhecido militante homossexual, enviou uma carta para o Papa dando notícia, segundo ele, da sua satisfação por ter logrado batizar na Igreja os seus filhos adotivos — coisa que lhe foi muito difícil conseguir por conta da união homossexual em que ele vive publicamente. O Vaticano enviou uma resposta educada à carta. Por conta disso os meios de comunicação se apressaram a alardear que o Papa Francisco teria afirmado que o “casal gay” é também uma forma de família.

Ora, a notícia se trata, à toda evidência, de uma falsa matéria, sem absolutamente nenhum fundamento. Afinal de contas, a carta recebida pela dupla curitibana

a) não é assinada pelo Papa Francisco pessoalmente, mas sim por um secretário do Vaticano;

b) não traz o nome do destinatário, muito menos do seu “companheiro”, nem nenhuma outra informação que permita concluir, ainda que indiretamente, ter sido enviada especificamente para uma dupla gay; e

c) é um modelo-padrão que o Vaticano utiliza para responder às cartas recebidas — certamente às centenas ou mesmo milhares — pelo Santo Padre todos os dias.

Ou seja, de nenhuma maneira é possível inferir que o Papa tenha querido, nem mesmo indiretamente, estabelecer qualquer relação de similaridade entre a família — a sagrada união entre o homem e a mulher — e as uniões homossexuais — o pecado da sodomia institucionalizado em uma caricatura matrimonial. Neste caso não se trata nem mesmo de uma frase descontextualizada ou uma declaração mal-interpretada, nada disso: foi apenas uma lamentável falta de cuidado do setor vaticano responsável por cuidar da correspondência do Santo Padre. Não chega sequer a ser uma notícia distorcida; é uma não-notícia.

O assunto ganhou tanta repercussão que recebeu importantes desmentidos. O próprio Arcebispo de Curitiba — que, segundo a matéria do Congresso em Foco, foi precisamente quem providenciou o batizado das crianças — publicou uma nota no site da Arquidiocese onde desautoriza a forma como o assunto vem sendo explorado:

Não se trata (…) de uma aprovação à união estável do casal (rectius, dupla) em causa. Tampouco se tratou de permissão. Trata-se de uma simples resposta cordial a um gesto também cordial. Deve ser interpretada, portanto, com o tamanho e a importância que realmente tem.

E até mesmo a Sala de Imprensa da Santa Sé sentiu necessidade de prestar esclarecimentos:

“Em relação à carta assinada pelo Monsenhor Assessor da Secretaria de Estado, reitero que a afirmação do senhor Toni Reis de que se trata de uma resposta ao casal é falso. A carta estava dirigida apenas a ele (‘Prezado Senhor’)”, indica García Ovejero.

Vivemos em tempos estranhos, nos quais as pessoas pensam poder colocar um Papa contra outro Papa e atribuir, ao Soberano Pontífice reinante, posições em assuntos de Fé e Moral que contrariem aquilo que a Igreja sempre ensinou e o mundo moderno escolheu rejeitar. É por isso que divulgam coisas como essa: incapazes de vencer no campo doutrinário, porfiam por enganar os incautos no campo das narrativas. Mas o caso atual é particularmente esquizofrênico porque o Papa Francisco já se posicionou, por diversas vezes, e inclusive solenemente, contra o movimento homossexual.

Durante o ano de 2015 o Papa reservou a maior parte das Audiências Gerais das quartas-feiras para tratar do tema da família, de janeiro até setembro.

Desde o dia de Santa Inês:

Reevocando a figura de são José, que protegeu a vida do «Santo Niño», tão venerado naquele país, recordei que é preciso proteger as famílias, que enfrentam diversas ameaças, para que possam testemunhar a beleza da família no projecto de Deus.

É preciso também defender as famílias das novas colonizações ideológicas, que ameaçam a sua identidade e a sua missão.

Até a festa de São Cornélio, Papa:

Caminhemos juntos com esta bênção e com esta finalidade de Deus, de nos tornarmos todos irmãos na vida, num mundo que caminha em frente e que nasce precisamente da família, da união entre o homem e a mulher.

O Papa Francisco sempre falou da família nos seus elementos constituintes: o homem, a mulher e, consequentemente, os filhos. Ora, insistindo na diversidade dos sexos e na fecundidade conjugal, não há espaço absolutamente nenhum para afirmar que o Papa não tenha sempre diante dos olhos a figura sagrada da união entre o homem e a mulher; ou que não entenda a importância fundamental, insubstituível, dessa união; ou que não a queira promover e defender em face do mundo moderno! Veja-se, por todas, esta elegia rasgada da complementaridade dos sexos para a formação da família:

Isto faz-nos recordar o livro do Génesis, quando Deus conclui a obra de criação e faz a sua obra-prima; a sua obra-prima é o homem e a mulher. E aqui Jesus começa os seus milagres, precisamente com esta obra-prima, num casamento, numa festa de núpcias: um homem e uma mulher. Assim, ensina que a obra-prima da sociedade é a família: o homem e a mulher que se amam. Esta é a obra-prima!

Contra esta tríplice afirmação acerca do «desígnio originário de Deus sobre o casal homem-mulher», de que valem divulgações maliciosas de mensagens vaticanas mal-encaminhadas por estafetas atrapalhados?

Mais ainda. Como se isso não fosse o bastante, o assunto foi especificamente tratado na Amoris Laetitia (aquela mesma que acusam de progressista):

251. No decurso dos debates sobre a dignidade e a missão da família, os Padres sinodais anotaram, quanto aos projetos de equiparação ao matrimónio das uniões entre pessoas homossexuais, que não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família. É «inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem a ajuda financeira aos países pobres à introdução de leis que instituam o “matrimónio” entre pessoas do mesmo sexo».

Repise-se: para o Papa Francisco, em um documento oficial sobre o amor na família, não é possível estabelecer analogias, sequer remotas!, entre as uniões homossexuais e o matrimônio e a família. Como seria possível, então, que Sua Santidade se desdissesse de repente? Teria acaso se comovido — até à apostasia — com a carta de Toni Reis? A história dos gays de Curitiba teria provocado tanto impacto sobre o Papa a ponto de ele decidir — sem fazer alarde, sem se explicar, sem nada, em uma carta, igual a mil outras, assinada por um secretário desconhecido — mudar a posição que vem consistentemente sustentando durante todo o seu pontificado?

É isso? Ou é que a história da mídia gay não tem pé nem cabeça?

A intolerância que não se vê

A redação do ENEM no último final de semana versou sobre intolerância religiosa e, diante do tema, eu tenho impressões contraditórias. Por um lado parece claro que a escolha gravita em torno de um enorme lugar-comum: as perseguições sofridas pelas religiões de matiz africana, e fazer tal opção argumentativa favorece — quase exige — a crítica à dita intolerância evangélica. Seguir por esse caminho é fazer a coisa mais fácil (e mais contraditória) do mundo: jogar pedra no Cristianismo para defender a tolerância.

Por outro lado, no entanto, o tema torna possível falar — e com bastante propriedade — sobre a intolerância que vitima os religiosos no debate público brasileiro, intolerância esta que (até por uma questão demográfica) tem claramente os cristãos por alvo principal. O problema aqui é um só: esta linha argumentativa destoa bastante do senso comum e, por ser assim tão destoante, eu tenho sérias dúvidas sobre a capacidade de a compreenderem os responsáveis pelas correções destas provas…

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Iniciemos a nossa argumentação com a seguinte assertiva: nem toda intolerância se manifesta em atos de agressão física. Poderíamos, sem dúvidas, citar os diversos casos de vandalismo contra igrejas que cotidianamente aparecem em nossos noticiários (p. ex. em João Pessoa, em Belo Horizonte, no Ceará e em Passo Fundo — só na primeira página do Google, todos os casos deste ano); mas isto é somente o ponto mais superficial, epidérmico do problema. A intolerância física é mais brutal, mais primitiva e, por isso mesmo, mais facilmente visível e condenável de forma mais incontroversa. A pior intolerância, aqui, é a que se reveste de ares de intelectualidade, é a que se apresenta como pensamento evoluído e padrão de comportamento socialmente exigível. A pior intolerância é a que enxerga com desconfiança e desprezo a manifestação de opiniões públicas feita por religiosos pelo fato de eles serem religiosos.

Esta “intolerância cívica” fecha aos religiosos o acesso aos espaços públicos de decisão. Transforma os que têm Fé em uma espécie de cidadãos de segunda categoria, cujas opiniões não podem ser levadas em consideração no debate público — e isso é o mais absurdo, é o mais injusto, é o mais intolerante que se pode conceber. Você é contra o aborto? O Estado é Laico, nem todo mundo é católico e as suas crenças não podem ser impostas para toda a população. É contra o “casamento” gay — ou a ideologia de gênero? Você é um fanático religioso, o Estado é Laico e as suas convicções não podem ser usadas para definir regras de conduta aplicáveis a todos os cidadãos. É a favor da isenção tributária das igrejas? O Estado é Laico e o conjunto total da população não pode sustentar a prática da crença de uma parcela dos cidadãos. É favorável à presença de símbolos religiosos em repartições públicas? Você é um intolerante, o Estado é Laico e o espaço público não se pode revestir de símbolo de religião alguma.

A cantilena, monótona, estende-se para alcançar quaisquer aspectos da vida cívica onde haja o mais mínimo desacordo entre a vontade dos anticlericais (que detêm o discurso vencedor da opinião pública) e os valores do Cristianismo. O fato de estes valores perfazerem — ainda — a sensibilidade moral da maioria da população brasileira é um detalhe que só torna as coisas mais trágicas: a rigor, ainda que fossem valores minoritários, eles não poderiam ser liminarmente excluídos do debate público sob a pecha do “ah, isso é crença religiosa”. Primeiro porque eles no geral não são mera “crença religiosa” — a Imaculada Conceição da Santíssima Virgem ou as Processões Divinas são crenças religiosas! Já a definição dos comportamentos que devem ser socialmente aceitos ou juridicamente coibidos são juízos prudenciais sobre temas cívicos, com ampla fundamentação na razão natural que está ao alcance de todos os homens independente do credo sob o qual militem. Segundo porque o eventual fundamento dos valores morais não pode ser usado para desqualificar a priori as posições alheias — o nome disso é preconceito e intolerância. O que deve fazer uma determinada posição política ser socialmente aceitável ou inaceitável é a sua adequabilidade para o fim a que ela se propõe — a razoável ordenação da vida em comum –, e não a sua origem metafísica. Todas essas coisas são por demais evidentes; mas a intolerância religiosa que grassa nos nossos meios intelectualizados lança um véu de ignorância mesmo sobre essas platitudes — e ninguém se preocupa com isso, e todos continuam torcendo o nariz para a “bancada da Bíblia” ou a “ideologia tefepista” sem que quase nunca precisem se dar ao incômodo trabalho de entrar no mérito das posições que elas defendem.

A intolerância que deixa rastros de dor e de sangue é no geral fácil de ser combatida, porque no geral não aparece ninguém para a defender. Ninguém defende que judeus sejam enviados para campos de concentração ou muçulmanos para Guantánamo; ninguém defende que igrejas sejam pichadas ou mães de santo sejam expulsas de suas casas por traficantes evangélicos (por inacreditável que seja essa notícia). No entanto, a maior parte das pessoas medianamente esclarecidas defende que os evangélicos não possam defender os seus valores no espaço público ou que as leis civis não atendam aos anseios dos católicos — e isso é preocupante, uma vez que tanto evangélicos quanto católicos são cidadãos iguais a quaisquer outros, cujos direitos políticos não podem ser cerceados em função de sua opção religiosa. Esta intolerância invisível pode ser menos chocante, mas não é menos injusta nem menos daninha — e decerto não é menos digna de ser combatida. O preconceito contra o Cristianismo, festejado nos meios de comunicação em massa e virtualmente onipresente entre os formadores de opinião, é talvez o último preconceito que se aceita na moderna sociedade dita esclarecida. Não deixa contudo de ser uma forma insidiosa e inaceitável de intolerância religiosa, que todos os homens de boa vontade devem se esforçar por abolir.

O Papa Francisco e o aborto: a esquizofrenia da grande mídia

Ontem correram o mundo notícias “bombásticas” sobre as críticas que o Papa teria feito à forma como a Igreja transmite a sua Doutrina Moral. Citando uma entrevista do Romano Pontífice a uma revista jesuíta, as matérias que pulularam na internet foram as mais disparatadas possíveis. Exemplo:

Para Papa, Igreja não pode interferir espiritualmente na vida dos gays
– Papa abre Igreja aos gays, aos divorciados e às mulheres que abortam
– Igreja insiste demais em homossexualidade e aborto, diz papa
Papa critica obsessão da igreja por aborto, casamento gay e contracepção
Et cetera, et cetera, et cetera.

As causas mais gerais dessa loucura generalizada se encontram no diálogo de surdos entre a Igreja e a Imprensa que o prof. Carlos Ramalhete apontou com extrema perspicácia ontem mesmo. A leitura do texto dele é recomendadíssima, para que se possam evitar perturbações provocadas pela situação atual e por outras idênticas a ela que já apareceram e sem dúvidas ainda haverão de aparecer enquanto houver jornalismo medíocre no mundo.

Quanto ao caso concreto, é importante dizer quanto segue:

1. A íntegra da entrevista de Sua Santidade pode ser encontrada aqui.

2. A frase que provocou celeuma – sobre não se poder «insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos» – não se encontra solta no tempo e no espaço, como se o Papa estivesse estabelecendo diretrizes de ação para a Igreja em geral e para todas as situações possíveis. Como se trata de uma entrevista, o Papa Francisco está dando uma resposta para uma pergunta específica, e portanto é óbvio que o alcance de suas palavras deve estar circunscrito ao contexto dela. É evidente que elas não servem para guiar toda e qualquer ação dos católicos, pela simples razão de não ter sido isso o que foi perguntado a Sua Santidade.

3. A pergunta à qual o Papa Francisco responde é a seguinte:

[E]xistem cristãos que vivem em situações não regulares para a Igreja ou, de qualquer modo, em situações complexas, cristãos que, de um modo ou de outro, vivem feridas abertas. Penso nos divorciados recasados, casais homossexuais, outras situações difíceis. Como fazer uma pastoral missionária nestes casos? Em que insistir?

4. O Papa, portanto, não está falando da ação evangelizadora da Igreja simpliciter – e nem muito menos da apologética! -, e sim da «pastoral missionária» a ser feita junto a cristãos específicos – grifo, a cristãos específicos – que sofrem com problemas de ordem moral. O Papa, assim, não está falando do combate contra o Movimento Gay internacional ou contra a Indústria do Aborto, e sim do diálogo com cristãos arrependidos de seus atos. Veja-se:

Penso também na situação de uma mulher que carregou consigo um matrimónio fracassado, no qual chegou a abortar. Depois esta mulher voltou a casar e agora está serena, com cinco filhos. O aborto pesa-lhe muito e está sinceramente arrependida. Gostaria de avançar na vida cristã. O que faz o confessor?

Ora, o que isso tem minimamente a ver com o movimento feminista que pleiteia um “direito” ao assassinato de seres humanos inocentes ou com a Planned Parenthood? Absolutamente nada. Carece totalmente de sentido, portanto, fantasiar que o Papa pretenda banir o movimento pró-vida católico, sacramentar o “casamento” homossexual, abolir a Moral da Igreja ou qualquer outro disparate do tipo.

5. Ainda: não se trata de pretender converter os pecadores sem lhes apontar os seus pecados, e sim de acolher os penitentes que, já arrependidos de suas faltas, buscam sinceramente a graça de Deus; e fazê-lo sem que seja necessário ficar remexendo em feridas passadas dolorosas. A situação concreta que o Papa apresenta, como vimos, é a de uma mulher que no passado abortou e agora está sinceramente arrependida. É óbvio que numa situação dessas (e em outras análogas) o confessor não pode «insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos». É óbvio que esta mulher precisa sentir-se perdoada por Deus, e não ainda mais atormentada pelo seu pecado passado e do qual já se arrependeu, sem no entanto conseguir se perdoar.

6. Mais: não se trata de deixar de falar de temas morais, mas sim de harmonizá-los com a totalidade do ensino da Igreja. Porque, caso contrário, eles podem parecer regras arbitrárias e sem sentido. O que o Papa diz está corretíssimo: «o anúncio do amor salvífico de Deus precede a obrigação moral e religiosa». E ainda: «A mensagem evangélica não pode limitar-se, portanto, apenas a alguns dos seus aspectos, que, mesmo importantes, sozinhos não manifestam o coração do ensinamento de Jesus». É claro que é assim. Não fosse a Moral radicada na obediência a um Deus que é amor, ela se transformaria em um conjunto de imposições tirânicas e desprovidas de sentido. Não existe Moral sem Deus, e desvincular aquela Deste é um erro que obviamente não pode dar frutos de conversão.

7. Estas palavras do Papa, por fim, que falam por um lado da melhor maneira de acolher cristãos já arrependidos de seus pecados e, por outro, de não apresentar a Moral Católica desvinculada da totalidade da Mensagem Evangélica para não a desacreditar, não mudam em um átimo o dever da Igreja de continuar fazendo incansável guerra contra os promotores de pecados. Pretender que se deva agir com estes últimos da mesma forma que o Papa manda acolher os pecadores arrependidos é um completo nonsense e uma falsificação grosseiríssima das palavras de Sua Santidade.

E a maior prova de que o Papa não tem (e nem poderia ter) a menor intenção de alterar a forma de pregação da Igreja está nas palavras que ele próprio dirigiu hoje (sexta-feira, 20 de setembro, um dia depois da veiculação da entrevista supracitada) aos participantes de um encontro promovido pela Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos. O original italiano desse discurso do Papa Francisco está aqui. Uma repercussão em português pode ser encontrada aqui. Desta última, destaco:

O Papa referiu-se esta sexta-feira em termos muito claros ao drama do aborto e ao direito à vida, deixando muito claro que a protecção da vida é “uma verdadeira prioridade do magistério, particularmente no caso da vida indefesa, isto é, os deficientes, os doentes, os nascituros, as crianças, os idosos”.

Numa audiência uma delegação de médicos católicos, Francisco foi mais longe e disse que as crianças que são “condenadas ao aborto” têm “o rosto do Senhor”, tal como os idosos cujo direito à vida não é respeitado.

E é exatamente isto o que está no original: «Per questo l’attenzione alla vita umana nella sua totalità è diventata negli ultimi tempi una vera e propria priorità del Magistero della Chiesa, particolarmente a quella maggiormente indifesa, cioè al disabile, all’ammalato, al nascituro, al bambino, all’anziano, che è la vita più indifesa». “Por isto, a atenção à vida humana na sua totalidade se tornou nos últimos tempos uma verdadeira e própria prioridade do Magistério da Igreja, particularmente àquela mais indefesa, isto é, ao inválido, ao doente, ao nascituro, à criança, ao ancião – que são as vidas mais indefesas”. E ele ainda vai mais longe:

O terceiro aspecto é um mandato: sede testemunhos e difusores desta “cultura da vida”. O vosso ser católico comporta uma responsabilidade maior: antes de tudo com relação a vós mesmos, pelo empenho de coerência com a vocação cristã; e depois diante da cultura contemporânea, para contribuir a reconhecer na vida humana sua dimensão transcendente, marca [impronta] da obra criadora de Deus, desde o primeiro instante de sua concepção. Este é um empenho da nova evangelização que muitas vezes exige andar contra a corrente, pessoalmente [pagando di persona].

E termina:

Nunca deixem de rezar ao Senhor e à Virgem Maria para terem sempre a força de cumprir bem o trabalho de vocês, testemunhando com coragem – com coragem! Hoje se exige coragem! -, testemunhando com coragem o “Evangelho da Vida”. Muito obrigado!

Não se trata de “deixar de lado” a pregação moral da Igreja, e sim de saber que esta é uma «prioridade do Magistério». Não se trata de “falar menos” nestes assuntos, e sim do «mandato» de agirmos «contra a corrente», «testemunhando com coragem o Evangelho da Vida». Ora, isso é rigorosamente o oposto do que se alardeou ontem na mídia irresponsável!

E o castigo para a leviandade da imprensa é a contradição, que chega às raias da esquizofrenia; ontem diziam que o Papa criticara a «obsessão da Igreja com o aborto», hoje anunciaram que o Papa disse ser «a defesa da vida uma verdadeira prioridade do Magistério». E continuarão dizendo ora uma coisa e ora o seu contrário, mesmo de um dia para o outro, porque a preocupação de certa mídia sensacionalista não é (e nem nunca foi) com a verdade dos fatos ou com a coerência do seu discurso, mas tão-somente com o “novo”, com o “sensacional”, com o “bombástico”. Esta é a função desta mídia. Engana-se quem pensa que o objetivo dela é informar alguém de alguma coisa.

Do nosso lado, enganar-nos-emos ainda mais terrivelmente se lhe prestarmos ouvidos. Confudir-nos-emos e nos perderemos, porque a missão dela é confundir e dispersar. Não caiamos nesta armadilha tão tosca e pueril! Os nossos olhos devem estar fitos no Eterno, e não nas inconstâncias esquizofrênicas dos meios de comunicação.

Uma reação é esboçada

No último dia 22 de maio, o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira protocolou, junto à Presidência do Senado, dois blocos de assinaturas contra o PLC 122/2006 e contra o projeto de Reforma do Código Penal. O primeiro deles continha mais de três milhões de assinaturas.

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No último domingo, 26 de maio, multidões de franceses foram mais uma vez às ruas de Paris para protestar contra o casamento gay que a França aprovou no último abril. Eram mais de um milhão.

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No Jus Navigandi, conhecido portal brasileiro de Direito, o texto de um procurador do Banco Central em Minas Gerais conclama os cartórios a não obedecerem à recente decisão do CNJ que os pretende obrigar a registrarem “casamentos gays”: «A norma emanada da Resolução n.º 175 do CNJ é ato inexistente. Tanto quanto a união civil e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não encontra suporte no ordenamento jurídico brasileiro, no estado de direito, na soberania popular, na separação de poderes, na laicidade do Estado e no art. 226, § 3.º, da Constituição. Não vale a tinta com que foi escrita. É uma ficção e não merece cumprimento».

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A iniqüidade avançou demais e se tornou insuportável: uma reação é esboçada! Que ela cresça e se torne verdadeira oposição à barbárie que nos ameaça. Que estimule os bons a romperem a cortina de silêncio em que viviam. Que se levante em defesa da moral, dos bons costumes, da justiça, da civilização enfimQue ela possa contagiar os que julgavam estar sozinhos.

Curtas: “Casamento Gay”, aborto na Irlanda e comunhão de joelhos

Três notícias que peço perdão por não aprofundar, mas que julgo não deverem passar em branco.

1. La aprobación del matrimonio gay en Francia no desactiva la oposición, vindo ao encontro do que eu falei aqui ontem. Não temos o direito de desanimar, há muita coisa que pode e deve ser feita. As tiranias um dia caem. Não esqueçamos.

2. Comissão médica derruba pretexto para legalizar aborto na Irlanda – lembram-se do caso? «Os médicos designados para a tarefa, felizmente, não cederam e apresentaram no relatório aquilo que constataram: a morte não teve nada a ver com o feto». Fica assim desmascarado mais um expediente escuso dos pró-aborto: a gritaria inicial não passava de gritaria mesmo, vil tentativa de manipular a opinião pública com base em mentiras. Não nos esqueçamos de que é assim que eles agem.

3. Nos passos de Bento XVI, o Papa Francisco continua distribuindo a Sagrada Comunhão somente na boca, e negando-A aos que tentam pegá-La com as mãos. Negando-A [p.s.: na verdade, o homem que tentou comungar na mão fê-lo não com o Santo Padre, e sim com um diácono, tendo sido este quem lhe A negou. Seguindo os passos do seu predecessor, o Papa Francisco distribuiu normalmente a comunhão (por intinção) diretamente na boca dos comungantes]. Eis um detalhe que devemos gentilmente lembrar aos que nos vierem opôr o Sumo Pontífice ao seu predecessor.

A França legalizou o “casamento gay”

Como é sabido, na última terça-feira a França legalizou em definitivo o “casamento gay” no país. Nós acompanhamos o desenrolar dessa tragédia (aqui, aqui e aqui), e o (previsível) resultado de dois dias atrás pode passar a impressão de que nós perdemos, não valeu a pena, foi tudo em vão. Será que é isso mesmo?

Alguém insinuou ironicamente aqui no blog que isso deve ter acontecido porque os argumentos do movimento pró-família francês são tão ruins quanto os seus equivalentes brasileiros. Ledo engano. Na verdade, isso aconteceu porque o mundo moderno anda enlouquecido e absolutamente não dá mais importância a argumentos. Ora, em que lugar do planeta essa discussão é conduzida sobre bases argumentativas? Muito pelo contrário: os arautos da Revolução Moral só sabem agir na base da truculência e do apelo emocional, nada mais. Qualquer pessoa que já tenha tentado discutir esse tema com algum pró-gay sabe perfeitamente do que estou falando, e no próprio Deus lo Vult! é possível encontrar abundantes exemplos dessa curiosa patologia intelectual.

Mas, de uma forma ou de outra, o casamento gay foi legalizado na França, é fato. E agora, simplesmente perdemos? Foi tudo em vão? Penso que é possível sermos um pouco mais otimistas.

A França legalizou o “casamento gay”, mas os gritos de protesto dos que se levantaram contra essa infâmia foram ouvidos no mundo inteiro, e serviram de exemplo e estímulo àqueles que não concordam com a ideologia anti-natural que lhes está sendo imposta.

A França legalizou o “casamento gay”, mas a imprensa foi obrigada a noticiar que, em pesquisa recente, «58% dos [franceses] entrevistados se disse a favor do casamento gay» mas, por outro lado, «uma maioria (53%) se disse contra a adoção [de crianças], contra 45% a favor» – adoção esta incluída na lei aprovada anteontem, na contramão portanto da expressa vontade da maior parte dos franceses.

A França legalizou o “casamento gay”, mas sofreu dura e terrível resistência dos que são contrários à exaltação do vício e à equiparação legal entre “família” e “dupla gay”:  tanto quanto lembro, foi a primeira vez que uma lei desse tipo recebeu resistência pública tão clara e generalizada.

A França legalizou o “casamento gay”, mas não convenceu e nem silenciou os que mantêm a cabeça no lugar. Muito pelo contrário: o La Manif Pour Tous promete continuar protestando, como nos diz o Wagner Moura.

A França legalizou o “casamento gay”, mas a guerra cultural ainda não terminou, e dela ainda precisamos tomar parte – não nos é permitido desanimar. Faz diferença. Diante de um monstro tão grande e tão forte a se lançar sobre nós, qualquer mínimo dissabor que lhe consigamos impingir faz diferença.

Curtas: O filo-gayzismo mal-disfarçado de D. Piero Marini e do pe. Beto

D. Marini a favor do casamento civil gay, vejo quase ao mesmo tempo no pe. Z. e no Fratres in Unum. O que dizer? Bom, parece-me que os temores de que o antigo cerimoniário pontifício pudesse ressurgir das cinzas estão agora – graças a Deus! – mais difíceis de se concretizarem. Afinal, todo mundo sabe que o Papa Francisco é um ferrenho opositor tanto do casamento gay quanto dessa sua versão mais “light” chamada união civil gay.

Quanto ao mérito das declarações de D. Piero Marini, remeto às (já tradicionalmente) lúcidas palavras do Everth Queiroz:

E agora, o que vocês vão dizer, com um bispo da Igreja defendendo a união civil gay? – Ora, o mesmo de sempre: que “[em] presença do reconhecimento legal das uniões homossexuais ou da equiparação legal das mesmas ao matrimônio, com acesso aos direitos próprios deste último, é um dever opor-se-lhe de modo claro e incisivo”, como está disposto em um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, de 2003. Note-se bem: é um dever opor-se tanto ao “reconhecimento legal das uniões homossexuais” quanto à “equiparação legal das mesmas ao matrimônio, com acesso aos direitos próprios deste último”. E, se as palavras do então Cardeal Joseph Ratzinger valiam com toda a força também para quem não comunga da fé católica, quanto mais para os fiéis da Igreja, quanto mais para seus bispos! Não tem essa de “o que não se pode reconhecer é que esse par seja um matrimônio”. Há o dever de oposição clara e incisiva também ao reconhecimento civil das uniões de pessoas do mesmo sexo.

É simples assim: não há nada de novo sob o sol. Seríamos mais felizes se nos acostumássemos a ignorar o ruidoso vai-e-vem das opiniões humanas (mesmo que sejam emitidas por prelados católicos!) e, ao contrário, repousássemos tranqüilos na solidez permanente do Ensino Moral da Igreja de Cristo.

* * *

– Sobre o mesmo assunto, aliás, o Bispo de Bauru exigiu a retratação de um sacerdote católico que, em um vídeo recentemente popularizado na internet, afirmou (entre outras barbaridades) que «hoje em dia não dá mais para você enquadrar o ser humano em homossexual, bissexual ou heterossexual (nós nos deveríamos ser enquadrados simplesmente seres sexuados), e que o amor pode surgir em qualquer desses níveis. […] Então a Igreja tem que mudar sim. Ela vai ter que mudar».

Soube da publicação da nota via Ecclesia Una, e ela já se encontra devidamente divulgada no site da Mitra de Bauru. Dela (que é curta – leiam lá), destaco:

Determino [o padre Roberto Francisco Daniel (padre Beto)] a se retratar através do mesmo meio utilizado (site, Facebook e YouTube), no prazo até 29 de abril de 2013, confessando humildemente que errou quanto a sua interpretação e exposição da doutrina, da moral e dos costumes ensinados pela Igreja.

Que beleza, hein? Quem diria! Os nossos mais sinceros e efusivos agradecimentos a S. E. R. Dom Frei Caetano Ferrari, ofm, Bispo Diocesano de Bauru, que Graças a Deus interveio quando a pureza do Ensino Moral da Igreja se viu publicamente ameaçada. Tivéssemos mais atitudes assim, o Brasil estaria em condições bem melhores. Que a SSma. Virgem possa sustentar Sua Excelência nesse santo propósito, e que Ela suscite outros prelados dispostos a imitar o bom exemplo do bispo de Bauru.

Rápidas sobre o “casamento” gay no Brasil e no mundo

Enquanto por aqui a Veja tenta transformar o “casamento” gay em «uma questão inadiável no Brasil» (sic!), na França o Senado «aprova lei do casamento homossexual» a despeito de todos os protestos dos cidadãos franceses que enchem as ruas de Paris às centenas de milhares contra esta infâmia.

As esdrúxulas tentativas da mídia tupiniquim de forjar apoio popular para o tema chegam ao cúmulo de G1 ter simultaneamente duas enquetes sobre o mesmo assunto: uma encerrada ontem e, outra, no dia 08/04. Duvida-se, no entanto, que a opinião popular mereça qualquer respeito da parte dos nossos delirantes governantes.

Também enquanto isso, Lech Wałęsa, Nobel da Paz, «diz que minoria gay “persegue e castiga” heterossexuais». Acto contínuo, confirmando involuntariamente e em menor escala tudo o que Wałęsa falou, políticos gays protestam na Polônia contra as declarações do ex-presidente. Para demonstrar a validade universal da denúncia, aqui no Brasil um casal de famosos cantores diz que a sua vida virou um inferno após a mulher ter se manifestado contra o “casamento” gay.

E assim segue a vaca para o brejo. De nossa parte, cabe lutar contra esta vergonhosa exaltação do vício contra a natureza. Principalmente, nestes tempos em que bordões parecem valer tanto, importa deixar bem claro: não nos representam. Estão agindo contra o Brasil e contra os brasileiros.

Homossexuais franceses contra o “casamento” gay e a adoção de crianças por duplas gays

[Fonte: infoCatólica.
Tradução: Wagner Marchiori

Trata-se de novo protesto acontecido no último domingo (24/03) na capital francesa, à semelhança daquele realizado em janeiro último, sobre o qual falamos aqui. Há uma verdadeira (e compreensível) luta midiática pelo verdadeiro número de manifestantes: segundo Le Figaro, as estimativas variam entre 300.000 e 1.400.000 pessoas. Novamente, os nossos parabéns aos franceses que tiveram a coragem de tomar as ruas de Paris – de Paris! – para protestar contra o experimento social que está convulsionando a sociedade francesa.

Na entrevista abaixo referida, é uma mulher lésbica [p.s.: de acordo com este comentário (que cita esta referência, que me pareceu verídica), ela não é lésbica, e sim mãe de família casada há vinte e cinco anos – por favor, levem isso em consideração ao ler todo o resto] que dá a sua opinião sobre o assunto – e toma posição firme e decidida contra o projeto que pretende legalizar o “casamento” gay e a adoção de crianças por duplas de sodomitas e safistas. Genial a declaração dela: se a dupla homossexual adota uma criança que perdeu seus pais biológicos, então esta criança está sendo mais uma vez privada de um pai e uma mãe. Por infortúnio da primeira vez; mas, desta, por capricho ideológico premeditado. E isto é cruel. Contra esta terrível discriminação contra as crianças nós temos que lutar. Por mais que sofismem os bárbaros. Por mais que nos agridam e nos tentem calar.]

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«SOU FRANCESA, SOU HOMOSSEXUAL E A MAIORIA DE NÓS NÃO QUEREMOS O CASAMENTO E NEM A ADOÇÃO»

Diferentemente do que costuma divulgar a mídia, Nathalie Williencourt, uma das fundadoras do HOMOVOX, considera que a maioria dos homossexuais, incluído ela, não quer nem o matrimônio gay e nem a adoção de crianças e, portanto, não concordam com a proposta de lei do presidente da França François Hollande. Em uma entrevista concedida em 11 de janeiro ao site italiano Temp.it, Nathalie afirmou que “o par homossexual é diferente do par heterossexual por um simples detalhe: não podemos dar origem à vida”.

Williencourt afirmou com clareza: “sou francesa, sou homossexual e a maioria de nós não queremos o casamento e nem a adoção de crianças. Sobretudo, não queremos ser tratados como heterossexuais, porque somos diferentes; não queremos igualdade, mas sim justiça”.

A líder gay disse, ainda, que “cremos que as crianças têm direito a ter um pai e uma mãe, se possível, biológicos e, se possível, que se amem. Uma criança que nasce fruto do amor de seu pai e de sua mãe tem o direito de saber disso. Se os pares homossexuais adotam crianças que já estão privados de seus pais biológicos, deixá-las-ão sem um pai e uma mãe mais uma vez”.

“Os pares heterossexuais estão esperando anos sem poder adotar uma criança, e corre-se o risco de que muitos países não permitam mais adoções para pais franceses se essa lei for aprovada. China e outros países da Ásia contam com procedimentos que excluem a possibilidade de adoção por pares do mesmo sexo”.

“A paz se constrói na família e para ter paz na família é necessário dar às crianças a imagem mais natural e que mais segurança infunde para crescer e ser adulto. Isto é, a composição clássica de homem e mulher”.

Williencourt denunciou que “na França somos censurados (Homovox.com). Escuta-se sempre o lobby dos ativistas LGBT que sempre falam nos meios de comunicação, mas a maior parte dos homossexuais estão incomodados pelo fato dessa organização fazer lobby em nosso nome. Não votamos neles para que nos representem”.

Nathalie explicou que os membros do lobby gay já têm uma ferida em relação à sua homossexualidade “porque não a aceitam, reivindicam ser como os heterossexuais . Em vez disso, nosso movimento reinvidica que os homossexuais sejam tratados de forma distinta dos heterossexuais porque somos diferentes”. “Não podemos pedir igualdade porque somos diferentes. Não é a igualdade que é importante, mas a justiça. É uma desigualdade justa e uma igualdade injusta”, insiste.

Homovox é a associação que reúne o maior número de homossexuais na França. A associação foi uma das organizações gays que marcharam pela ruas de Paris no último 13 de janeiro com mais de um milhão de pessoas em defesa do autêntico matrimônio.

 

Multidões de franceses acorrem às ruas de Paris para protestar contra o “casamento gay”!

Confesso que fiquei emocionado com os franceses que, no último domingo (13 de janeiro), reuniram-se – às centenas de milhares! – em Paris para protestar contra o “casamento gay” que o presidente prometeu introduzir na legislação francesa. A manifestação «começou em três pontos diferentes da capital francesa, com as colunas partindo da Place d’Italie, da porta Mailot e de Denfert-Rochereau, convergindo para o a Torre Eiffel». E ainda: foi «uma das maiores manifestações na capital francesa desde 1984, quando a população saiu às ruas contra a reforma educacional». O Fratres in Unum também repercutiu.

Algumas fotos do evento foram publicadas no Facebook (p.ex. aqui e aqui) e nos órgãos de imprensa internacionais (p.ex., esta galeria da BBC): são bonitas de se ver! As enormes ruas que Napoleão mandou abrir no coração da França tomadas por multidões e mais multidões de cidadãos franceses defendendo o casamento entre um homem e uma mulher. Homens e mulheres dos mais variados pontos da França afluindo à capital do país para dizer um sonoro “não!” ao casamento gay.

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Como era de se esperar, houve quem reclamasse. A mesma trupe avant-garde que aplaude com entusiasmo qualquer protesto de mau gosto contra os valores cristãos não gostou nem um pouco do protesto pacífico dos franceses: num átimo surgiram as acusações de sempre de gente retrógrada e imbecil que não tem o que fazer, reacionários implicantes que querem regular a vida sexual dos outros, etc., etc. É até engraçado: manifestação social só é boa quando está a serviço da agenda ideológica da vez. Ao contrário, quando ela defende valores tradicionais, os manifestantes esclarecidos se transformam em idiotas manipulados e o povo soberano vira plebe ignara que não sabe o que está fazendo.

Nunca é demais repetir que ser contra o “casamento gay” não tem nada a ver com proibir os homossexuais de se relacionarem com quem eles bem entenderem. Como já tivemos a oportunidade de falar aqui, substituir arbitrariamente, no ordenamento jurídico de uma sociedade, a entidade familiar por outro agrupamento social distinto dela é entregar o bom senso às feras. A questão jurídica não depende de elementos subjetivos como o “amor” que porventura os cidadãos sintam ou deixem de sentir entre si. O Matrimônio é um tipo específico de contrato firmado entre duas pessoas, que possui algumas características próprias e dos quais decorrem alguns deveres. Pegar outros tipos de uniões e chamá-las de “casamento” é no mínimo uma leviandade lingüística. Contudo, como as deficiências conceituais sempre têm conseqüências práticas, equiparar a dupla de homossexuais à família formada pela união entre o homem e a mulher é solapar as bases da organização social, porque toda sociedade tem por célula-mater a família, e não uniões genéricas de outro tipo, e isto simplesmente não tem como ser de outra forma.

Foi para repetir esta verdade óbvia que, no domingo passado, os franceses encheram as ruas de Paris. Uma manifestação, serena, sóbria e educada: que diferença entre isto e aquelas quatro senhoritas que, no mesmo dia, tiraram a roupa na Praça de São Pedro para defender o homossexualismo! Elas atrapalharam tanto os católicos que queriam acompanhar a oração do Angelus que precisaram ser arrastadas para fora por policiais. O contraste entre este protesto raivoso (que fica patente pelas fotos divulgadas na mídia – cuidado, contém cenas de nudez!) e a manifestação pacífica ocorrida em Paris já é, por si só, evidência suficiente de quem está com a razão.

O governo garantiu que, mesmo com o protesto do domingo, nada muda no seu propósito de legalizar o “casamento gay” em breve. «A porta-voz governamental Najat Vallaud-Belkacem, que também é ministra para assuntos femininos, disse à rádio Europe 1 que nada mudou e que a intenção do governo continua sendo a de submeter o projeto ao Parlamento neste mês e sancioná-lo até junho». Rezemos pela França! No entanto, a manifestação do dia 13 foi histórica. O governo francês pode até legislar a iniqüidade; mas não poderá borrar da História a bela página heroicamente escrita por estes franceses que, num domingo, reuniram-se em Paris para dizer em alta voz o que é um casamento de verdade.