Ontem à noite, fui a um batizado de adultos. Primeira vez que vi uma celebração completa; nas outras oportunidades que tive, sempre era o rito reduzido ao essencial, com pouco mais ou menos cerimônias acessórias. Ontem à noite, não; tudo foi feito com a maior riqueza de símbolos e ritos. E quão eloqüentes são os símbolos do Rito do Batismo!
No início: todo mundo para a porta da Igreja. Pro lado de fora. Os catecúmenos estão fora da Igreja, e é pelo Batismo que eles ingressam n’Ela como por uma porta. Diversas perguntas, sobre o nome dos candidatos, se eles meditaram bem sobre a decisão que estão prestes a tomar, etc. Enfim, as perguntas mais conhecidas:
– Que pedes à Igreja de Deus?
– A Fé.
– E o que te dá a Fé?
– A Vida Eterna.
As pessoas, portanto, batizam-se (como o padre frisou explicitamente depois, durante a exortação) para serem salvas. Não estão cumprindo uma agenda social, não estão diante de uma mera formalidade, não estão escolhendo com indiferença um caminho de vida que poderia ser qualquer outro, nada disso. Estão se batizando porque se querem salvar, querem a Vida Eterna, e para ter esta é necessário ter Fé e, portanto, os catecúmenos vêm pedir à Igreja de Deus – à Única Igreja de Deus – a Fé Católica e Apostólica. Sem a qual é impossível agradar a Deus.
Ainda à porta da Igreja, dirige-se o padre aos padrinhos. Pergunta-lhes se julgam ser dignos os candidatos ao Batismo. Mais um sinal de que a Igreja não é a “terra-de-ninguém” onde cada um faz o que bem quiser e está tudo por isso mesmo: são os padrinhos que apresentam os seus afilhados, são os padrinhos que dão testemunho dele: julgo que é digno. Depois, portanto, de terem os catecúmenos pedido a Fé e terem os padrinhos atestado que eles são dignos de adentrarem na Igreja, o padre os convida a entrar. Não para o batistério, ainda, mas para o interior da igreja. Onde vão ouvir algumas leituras das Escrituras Sagradas.
Após o Evangelho, uma breve exortação: pode ser resumida em “estais aqui porque quereis ser salvos”. Os catecúmenos não são chamados de “irmãos”, e sim de “amigos”, já que eles não são ainda filhos de Deus. Daqui a pouco, na pia batismal, mortos com Cristo, aí sim, receberão a filiação divina e os poderemos chamar “irmãos” – irmãos na Fé. É esta Fé que eles buscam, é a comunhão com a Igreja e com Cristo, é a filiação divina que eles desejam. Para obtê-la, precisarão morrer com Cristo, nas águas do Batismo, sobre as quais a Igreja, então, já pediu o Espírito Santo.
Diversos símbolos se sucedem. O Batismo perdoa os pecados, e então os catecúmenos, de joelhos, pedem perdão a Deus por suas faltas. São ungidos com óleo no peito e, então, são proferidos sobre eles os exorcismos – o Batismo os arranca da escravidão do pecado e os liberta do poder de Satanás. Recebém a Bíblia Sagrada e, enfim, já podem se dirigir à Pia Batismal na entrada da Igreja.
Para viverdes na liberdade dos Filhos de Deus, renunciai ao Pecado? Renuncio! Ressoam na pequena Igreja as promessas batismais. Imediatamente após, a solene profissão de Fé, com perguntas e respostas – credes em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra? Creio! Após, o Batismo propriamente dito, a parte essencial do Sacramento: qual o teu nome? Quer ser batizado? Fulano, eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, amém. Os padrinhos, segurando-lhe os ombros. Até aqui eles o acompanham, e se comprometem a acompanhá-lo pelo resto da vida – da nova vida que acaba de ser iniciada. As velas são acesas pelos padrinhos e entregues aos recém-batizados – não mais catecúmenos! -, que já são irmãos nossos, já são filhos de Deus. Encerrou-se a celebração, e a Igreja em festa acolhe os Seus novos membros, Seus novos filhos; pois só os filhos da Igreja são os verdadeiros filhos de Deus.