Na última sexta-feira, à noite, houve uma palestra do Revmo. Pe. Paulo Ricardo no auditório do Círculo Católico de Pernambuco. O sacerdote estava de passagem por sua terra natal – sim, ele é meu conterrâneo, para orgulho desta Veneza Brasileira -, a caminho de Fortaleza, e dignou-se proferir algumas palavras para um auditório improvisado.
“Não houve divulgação!”, ouvi alguns amigos reclamarem depois. De fato, não houve. Não havia estrutura preparada para um evento com o Pe. Paulo Ricardo. O encontro foi organizado à moda antiga, boca a boca, via telefonemas, conversas de viva voz, mensagens de celular. Nada de mass media. Algumas exceções se justificaram: os seminaristas foram informados pelo reitor (ou por um dos Vigários Episcopais, agora não lembro ao certo), a diretoria do Círculo foi previamente comunicada, etc. Mas divulgação pública, estritamente falando, não houve mesmo e nem poderia ter havido.
Se o maior auditório do qual dispúnhamos já estava abarrotado de gente sem que divulgássemos nada, onde acomodaríamos os outros que viriam por conta da divulgação? Não havia condições. Recife ainda aguarda um verdadeiro evento com a presença do pe. Paulo. Na última sexta-feira, tivemos apenas um pequeno regalo oferecido pelo sacerdote que estava de passagem. Precioso, mas restrito.
Quisera ter a palestra completa para a disponibilizar aqui; talvez a consiga em breve. Por enquanto, cito de memória algumas das coisas mais interessantes que retive daquele pequeno encontro da sexta-feira ao qual tive a graça de estar presente.
O Pe. Paulo começou falando sobre a moderna concepção de “Família”, e como este novo conceito em tudo se opõe ao que é ensinado e vivido pela Igreja Católica. Citou desde o começo: de como as idéias de Marx consignadas no “A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” de Engels influenciaram o pensamento sociológico posterior. Afirmou que esta revolução, pelo menos no que toca à dissociação entre ato sexual e reprodução, está plenamente estabelecida mesmo entre bons católicos, e o demonstrou com três simples perguntas:
– Levantem a mão aqueles cujo pai ou cuja mãe, qualquer um dos dois, tem perto de 10 irmãos. Muitos levantaram a mão. – Agora levante a mão quem tem perto de 10 irmãos. Somente meia dúzia de pessoas, no máximo, a levantaram. – Agora, a pergunta matadora: quem de vocês tem 10 filhos? Absolutamente ninguém ergueu o braço.
E se nós, católicos de escol, estamos assim tão distantes do que era comum e corriqueiro no catolicismo mediano da época de nossos avós, é porque existe algo de muito errado com o mundo. E esta prodigiosa mudança se operou no transcurso de poucas décadas, em apenas duas gerações! O trabalho realizado pelos inimigos da Civilização foi muito bem feito, de uma eficácia estarrecedora. Os seus maus intentos foram perfeitamente atingidos, e suas idéias estapafúrdias hoje gozam da mais absoluta hegemonia social.
Depois, o padre falou sobre o virtual abandono das defesas da Igreja Católica, devido a uma onda de otimismo que contagiou o mundo por volta da década de 60 do século passado. Pessoas do mais incontestável amor à Igreja – afirmou o Pe. Paulo – estavam sinceramente convencidas de que as multidões acorreriam rapidamente ao grêmio da Santa Madre se a mensagem evangélica fosse apresentada de modo mais positivo, de uma maneira que os homens fossem capazes de compreender. Como se o problema estivesse somente numa compreensão equivocada do ensino da Igreja. Como se a má vontade não pudesse oferecer resistência à graça divina, ou como se não houvesse espíritos malignos voando pelo mundo para perder as almas dos filhos de Deus.
Hoje, olhando para o passado, é-nos possível dizer que o resultado deste método – universalmente adotado nas últimas décadas – foi uma incontestável catástrofe completa. Não ocorreu a primavera que era esperada, e a boa vontade dos homens não foi capaz de sobrepujar o tradicional ranço anti-católico que é um reflexo daquela inimizade estabelecida por Deus entre os Seus filhos e os filhos da Serpente após o Pecado Original. No entanto, os Bispos que possuímos hoje são exatamente aqueles que estavam no seminário àquela época! E como as posições da juventude são difíceis de se abandonar, aquele otimismo (que hoje se nos afigura a nós completamente sem fundamento) ainda domina os corações da maior parte dos nossos prelados.
E não podemos bater de frente com eles. Não é católico e não é inteligente combater os nossos bispos, ainda que eles não nos compreendam. Não podemos nos indispôr com eles, pois isso só nos tolherá as (já exíguas) possibilidades de ação dentro da Igreja: seremos um católico a menos. E hoje, talvez mais do que nunca, é preciso perseverar. Porque a primavera não veio, e ainda estamos no mais tenebroso inverno.
E o inverno não é época de florescer. No inverno, a Natureza gasta todas as suas energias para sobreviver, e é isso o que deve ser feito por nós. Não adianta esperarmos coisas grandiosas ou idealizarmos empreitadas primaveris: precisamos guardar a Fé e esperar que o inverno passe – ele há de passar. Precisamos sobreviver e, conosco, fazer sobreviver a chama da Fé Católica: isto está ao nosso alcance fazer. O inverno há de passar. E daqui a alguns anos – cinqüenta, cem, duzentos anos, não sei – a Primavera finalmente virá. E os nossos descendentes, os católicos do futuro, olharão para trás com um sentimento de profunda gratidão por nós, e nos chamarão de Bem-Aventurados, porque sobrevivemos. E nos dirão: “se hoje nós estamos aqui, é porque vós fostes fiéis; se hoje nós cremos, é porque vós um dia crestes”. E esta será a nossa honra e a nossa glória.
Abaixo, algumas fotos que consegui tirar do evento.
P.S.: Para quem ainda não ouviu, esta palestra foi ao ar pela Radio Vox e pode ser ouvida aqui.