«Entendo o mal-estar, mas na Igreja ou se caminha com o Papa ou se vai em direção ao cisma» – Massimo Introvigne

[Original: Il Foglio
Fonte: Infovaticana
Tradução: Wagner Marchiori]

Entendo o mal-estar, mas na Igreja ou se caminha com o Papa ou se vai em direção ao cisma

Como sociólogo li com interesse o artigo de Alesssandro Gnocchi e Mario Palmaro que testemunha um mal estar em relação a [certos] gestos e atitudes do Papa Francisco, que também vi em setores minoritários, mas não irrelevantes na Igreja. Tal mal-estar, assumido e transformado em reflexão e cultura, pode ser útil; e creio que o próprio Papa Francisco o previu e o tem em conta em sua visão de uma Igreja na qual, como gosta de explicar, a unidade não se confunde com a uniformidade.

O mal-estar não deve ser confundido com o rechaço do Magistério Ordinário, já que essa atitude leva ao cisma. A tese pode parecer forte, mas é inteligível à luz do passado recente.

O venerável Paulo VI buscou evitar certas sequelas do pós-Concílio, a partir, ao menos, de 1968. Diante disso, os progressistas se recusaram a segui-lo  sustentando que os pronunciamentos do Papa não eram infalíveis e constituíam simples indicações pastorais das quais se poderia discordar permanecendo bons católicos.

E assim continuou com o beato João Paulo II. O cardeal Ratzinger e o cardeal Scheffczyk replicaram afirmando que nem todo o Magistério é infalível – uma solene besteira da qual não conheço defensores sérios – mas, também, não se pode ser católico aceitando somente os raríssimos pronunciamentos infalíveis dos Pontífices. Para estar na Igreja é necessário caminhar com os Papas e deixar-se guiar por seu magistério cotidiano. Fora deste caminho estreito está o caminho largo que leva ao cisma.

É um risco – para usar categorias políticas não de todo pertinentes, mas que ajudam a entender – para a esquerda. Mas é um risco também para a direita, onde – naturalmente a propósito de textos diversos dos criticados pelos progressistas – se começou a repetir a mesma cantilena segundo a qual, por exemplo, certos documentos do Concílio Vaticano II não são infalíveis e são meramente pastorais e, por isso, poderiam ser tranquilamente ignorados ou rechaçados.

Bento XVI tratou de pôr ordem no debate com sua famosa proposta da “hermenêutica da reforma na continuidade”, que convidava a acolher lealmente os elementos de reforma do Concílio, interpretando-os não contra o Magistério precedente, mas, sim, tendo-o em conta. A proposta foi rechaçada pela esquerda e, com frequência, mal entendida pela direita.

A direita aplaudiu a continuidade esquecendo-se da reforma e acreditou que o Papa autorizava a acolher, do Vaticano II, somente aquilo que tivesse apresentado de modo novo (‘nove’) o que já era ensinado antes, rechaçando o que era, de fato, “novum”, novo, não – segundo Bento XVI – em contradição com o Magistério precedente, mas certamente não redutível a ele. E não era isso. Esta “direita” interpretou o discurso de despedida aos párocos romanos de 14 de fevereiro de 2013 como uma admissão de que a hermenêutica da continuidade havia fracassado. Na realidade, o que realmente havia fracassado era a tentativa de usar Bento XVI para rechaçar o Concílio.

Reivindicando orgulhosamente seu papel de teólogo no Concílio naquela “aliança renana” dos padres conciliares alemães, franceses, belgas e holandeses que propuseram algumas das principais reformas do Vaticano II, o Papa Ratzinger esclarecia, justo no momento de deixar a cátedra petrina, que nada em seu pontificado autorizava rechaçar a reforma em nome da continuidade.

É possível que o Papa Francisco realize outras reformas na Igreja que o fiel católico deverá acolher com docilidade e sem procurar lê-las como contrárias aos ensinamentos dos pontífices precedentes, mas, sim, tendo-os em conta. Na encíclica “Caritas in Veritate”, Bento XVI esclareceu que  a hermenêutica da “reforma na continuidade” não diz respeito apenas ao Vaticano II, mas a toda a vida da Igreja.

A fórmula de Bento XVI será de grande ajuda para metabolizar o mal-estar e para transformá-lo em uma voz útil na grande sinfonia da Igreja. Construir a continuidade como rechaço da reforma ou declarar que se quer seguir o Papa somente em seus pronunciamentos infalíveis – dois por século – confinando todo o resto na esfera do “falível” e que pode ser ignorado leva, talvez sem se perceber, ao cisma.

di Massimo Introvigne

CDDs anunciam querer “uma nova Igreja” – e Diocese de Chapecó faz eco ao brado cismático!

Para se ter uma idéia de quão deplorável está a vida católica no Brasil, veja-se a carta abaixo (cliquem para ampliar). Ela estava disponível até ontem no site da Diocese de Chapecó – sim, no site oficial de uma diocese católica no Brasil!

chapeco-carta-cdd

Que as já conhecidas “Católicas pelo Direito de Decidir” – que junto com outras personalidades “ilustres” como o Leonardo Boff ou o grupo pró-sodomia encabeçado pelo pe. Luís Corrêa e seu “Diversidade Católica” constituem o supra-sumo da hipocrisia pseudo-religiosa contemporânea – exponham o seu projeto de uma anti-Igreja é coisa banal. Que elas o façam nos órgãos de comunicação oficiais de uma diocese católica, aí já é demais. Dentre as pérolas do texto, podem-se citar as seguintes:

  • Esperamos, em primeiro lugar, que a escolha do nome Francisco signifique um programa de renovação das próprias estruturas da Igreja, assim como da sua doutrina…
  • [E]sperávamos (…) [q]ue abençoasse todas as famílias, hétero ou homossexuais;
  • Quando a Igreja vai se abrir à realidade da diversidade das formas de amor e de expressão da sexualidade humana?
  • Queremos uma nova Igreja.
  • [Queremos u]ma Igreja na qual as mulheres (…) [tenham] pleno acesso ao exercício do sacerdócio e às instâncias decisórias da instituição.
  • Queremos uma nova moral relativa à sexualidade e à reprodução humana que reconheça o valor moral da decisão de mulheres católicas pela interrupção de uma gravidez.

Bom, a Doutrina da Igreja por definição não é passível de ser “renovada”, uma vez que vem de Cristo e a Igreja é meramente Sua guardiã, jamais autora. O homossexualismo é intrinsecamente desordenado e um par de marmanjos ou de senhoras em atos pseudo-sexuais contrários à natureza não perfaz uma família. Não é possível ordenar mulheres. O assassinato de um inocente – mesmo que ele esteja no ventre da sua mãe – é um pecado horroroso que clama aos Céus vingança. Nenhuma dessas coisas é minimamente possível de ser alterada. Qualquer pessoa decente sabe disso muito bem. Não é crível que estas depravadas ignorem pontos tão básicos do Catolicismo. Logo, o que elas querem é destruir a Igreja. O intento delas é confessadamente cismático.

Mais uma vez, que esta insensata empreitada seja levada a cabo pelos inimigos de Cristo com suas próprias forças, é coisa natural. Ao contrário, que lhes seja permitido empregarem recursos da Igreja Católica para trabalhar contra Ela, é um escândalo que exige reparação – e esta não pode ser simplesmente “dar sumiço” no artigo do site da Mitra. Afinal de contas, a Diocese de Chapecó quer esta “nova Igreja” que as CDDs reivindicam, sim ou não? Que os responsáveis por ela tenham ao menos a decência de sustentarem as suas posições em público, sem esta canalhice de publicar uma coisa hoje e tirar do ar amanhã sem maiores explicações.

Chapecó parece estar já in partibus infidelium. Que ao menos avise a Roma. Não se fazem mais nem cismáticos como antigamente!

Hans Küng defende sedevancatismo e acusa Bento XVI de cismático (!)

Eu ainda não vi traduzida para o português, mas esta notícia do Hans Küng “virando sedevacantista” é provavelmente uma das mais bizarras dos últimos tempos. E é verdade, publicada com estupor pelo Rorate Caeli. O motivo do rasgar de vestes do teólogo heterodoxo é a iminente e eminente reconciliação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X com Roma, motivo de júbilo para todos os católicos verdadeiros da Igreja Militante, Padecente e Triunfante, com festas excelsas ribombando entre os desta última. Mas, para o Küng, não há razão para se alegrar.

O teólogo suíço baseia o seu chamado à insubordinação em três pontos.

O primeiro, claramente nonsense, é colocar em dúvidas não apenas a licitude mas a própria validade da sagração episcopal dos quatro bispos da FSSPX (e, por conseguinte, da ordenação sacerdotal dos seus padres). E esta alegação é duplamente nonsense: primeiro porque não existe a mais remota razão para se duvidar da validade do Sacramento da Ordem de padres e bispos que se esforçaram, precisamente, por conservar férrea e rigidamente os ritos que eram usados pela totalidade da Igreja até a Reforma do século XX; e, segundo, porque ainda no caso absurdo de que houvesse invalidez de ordens, isto poderia perfeitamente ser resolvido com uma ordenação verdadeira no ato do retorno à Igreja (caso, aliás, dos anglicanos que voltaram com a Anglicanorum Coetibus). A queixa é, assim, puro delírio.

O segundo ponto é o mais divertido: o Küng demonstra que os seus estudos de teologia não foram completamente vãos, porque ele (ao menos) conhece e sabe citar Suárez, escolástico espanhol cuja teologia dista tanto da do seu companheiro de letras suíço. E cita Suárez precisamente na passagem sobre a hipótese do Papa Cismático, alardeando: até o Papa pode se tornar um cismático, se ele não guardar a unidade da Igreja! É verdade. Acontece que isto é tão-somente uma hipótese teológica e, ainda tomando partido por ela, é verdadeiramente espantoso que alguém considere que o retorno de um grupo de católicos à comunhão católica seja “não guardar a unidade da Igreja”! Depois de anos de má teologia, o Küng está claramente degenerando em uma incapacidade de raciocínio lógico assustadora.

Por fim, no terceiro ponto, Hans Küng cita as conseqüências advindas da contingência de um Papa cismático ocupar a Cátedra de Pedro. Arremata: tal Pontífice “perde[ria] sua posição”, ou “[p]elo menos não poderia [mais] esperar obediência” do resto da Igreja. Senhoras e senhores, nós estamos vendo o Küng dizer que o Papa, se cismático fosse, não poderia mais esperar obediência! E censurando Bento XVI por isso, ele, Hans Küng, aquele que é o teólogo desobediente por antonomásia desde muito antes de insinuar que o Papa é (ou está em vias de ser) cismático! O teólogo que dedicou seus anos de teologia a desobedecer sistemática e repetidamente a tudo o que vem de Roma, chegando ao ponto de receber uma censura da Congregação para a Doutrina da Fé em 1979 (em 1979!), ameaçando agora o Papa com a desobediência! Isto é verdadeiramente inacreditável. Viva Bento XVI!

E rezemos muito, tanto pro pontifice nostro Benedicto quanto pro unitate Ecclesia. As batalhas são terríveis e, por isso mesmo, importantes e heróicas. Épicas. Bendito seja Deus, que nos colocou nestes dias dramáticos um valoroso general por cabeça da Sua Igreja Visível. Que Ele nos conceda a graça de combater o Bom Combate. Que Ele nos dê a honra de servi-Lo nestes dias cruéis. Que Ele Se levante e faça resplandecer a Sua glória.

Sobre hereges, cismáticos, batismos e vínculos com a Igreja

Do Vaticano II:

“Pois [os] que crêem em Cristo e foram devidamente baptizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica” (Unitatis Redintegratio, 3).

Do Ludwig Ott:

“Como el carácter bautismal, que obra la incorporación a la Iglesia, es indestructible, el bautizado, por más que cese de ser miembro de la Iglesia, no queda completamente fuera de ella de suerte que quede roto todo vínculo con la misma” (OTT, Ludwig; Manual de Teologia Dogmática, p. 467. Ed. Herder, Barcelona, 1966).

Qualquer semelhança não é mera coincidência. Fica – mais uma vez – a dúvida: se há o sentido ortodoxo, o que justifica interpretar o texto no sentido heterodoxo?

Carta de um Arcebispo a uma comunidade “Progressista” [2008]

[Publicação original: 15 de dezembro de 2008]

Carta de um Arcebispo

[traduzida daqui]
Casa do Arcebispo
790 Brunswick Street
New Farm
Australia

22 Agosto de 2008

Rev. Padre P. Kennedy,
administrador da Paróquia de Santa Maria (St. Mary’s Parish)
20 Merivale Street
South Brisbane

Caro Peter e comunidade,

Obrigado por suas cartas. Tenho recebido uma grande quantidade de correspondência a respeito de St. Mary’s, pedindo para que a paróquia não fosse fechada. A questão para mim não é tanto se St. Mary’s deve ser fechada, mas se St. Mary’s vai fechar a si própria através de práticas que a separam da comunhão com a Igreja Católica Romana.

Há muito que se admirar em St. Mary’s, especialmente sua paixão pela justiça social. Eu acho isso inspirador. No entanto, os problemas em St. Mary’s não são tanto sobre justiça social, tema importante como é, mas sobre a comunhão de St. Mary’s com a Igreja Católica Romana, com a qual ela está ligada e para a qual foi fundada. Este problema da sua comunhão surgiu somente nos últimos anos. Eu falei sobre ele em uma carta ao senhor no dia 19 de julho de 2004. A controvérsia naquela época era a respeito da prática de administração do Batismo em St. Mary’s, mais tarde declarado inválido por um decreto da Congregação para a Doutrina da Fé de 2008 .[Nota do VS: Esta foi uma das paróquias cuja prática resultou neste documento da CDF). Infelizmente, minha carta de 2004 sobre esta questão da comunhão com a Arquidiocese foi largamente desprezada pela paróquia e suas lideranças como não importante, talvez até ridícula. A mais recente acusação contra St. Mary’s refere-se à colocação de uma estátua budista na Igreja, junto com questões sobre a ortodoxia de suas orações eucarísticas e a administração da Eucaristia.

Uma estátua budista numa Igreja ou Santuário Católico simplesmente não faz sentido. Sua presença, entretanto, de nenhuma maneira justifica a utilização de violência para destruí-la. Não obstante, somente uma imprudência extrema poderia colocar uma estátua budista numa Igreja Católica. Não importa onde ela esteja, há total possibilidade de que ela desperte sentimentos de fúria, particularmente entre cristãos de diferentes culturas religiosas.

Entretanto, o incidente da estátua é apenas um exemplo de prática inapropriada na paróquia. St. Mary’s parece ser a sua própria autoridade. A despeito do bem que faça, ela se coloca fora das práticas da Igreja Católica. Conseqüentemente, nós podemos muito bem perguntar: é ela uma paróquia em comunhão com a Igreja Católica, ou uma comunidade em cisma? Não há duvidas de que St. Mary’s promove um forte senso de comunidade, mas o mesmo fazem muitas outras comunidades como Hillsong em Sydney, que acolhe a todos e se achega aos pobres, mas visivelmente não está em comunhão com a Igreja Católica Romana.

Mais uma vez, eu gostaria de indicar algumas matérias que rompem a comunhão com a Igreja Católica Romana:

1 – A questão de Fé

Os católicos acreditam em um Deus Trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Nosso Deus é um Deus de amor. As pessoas da Trindade vivem em uma comunhão de mútuo amor. Tão grande é o amor dentro da Trindade que ele transborda na Segunda Pessoa da Trindade, que se faz homem e vive entre nós como Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador, único mediador da nossa Salvação. Em St. Mary’s, Jesus Cristo é aceito como Senhor e Salvador, como Filho de Deus, ou é Jesus considerado apenas como outra pessoa sagrada como Buda ou Maomé? Certamente, em tais circunstâncias, a colocação de uma estátua budista em uma Igreja Católica provoca extrema confusão. Em St. Mary’s há uma forte ênfase em Jesus como profeta da justiça social, como campeão dos pobres e necessitados, o que é bom. Mas é dada uma ênfase igual a Jesus como amante do Pai e homem de oração, que em Lucas 5,16 deixa pessoas doentes e sofridas para retirar-se e orar ao Seu Pai, tão importante é a “vontade do Pai”? O Papa Bento XVI escreveu em 2004: “A primazia do culto é o pré-requisito fundamental para a redenção de todos os homens”. Hoje em dia, freqüentemente é dada muito pouca atenção a Deus e ao culto, e muita atenção à ação, importante em si mesma, mas necessitada de estar absolutamente ligada à oração e ao culto. Hoje, em nosso mundo secular, nunca houve uma grande necessidade de se entender Jesus e Sua visão. Infelizmente, hoje o aspecto mais excitante da visão cristã dificilmente é entendido pelos cristãos. É impressionante o número de pessoas que se satisfazem perguntando “o que Jesus faria?”. Somente pessoas muito humildes e santas aceitariam responder a esta questão e, se elas o fizessem, seria com a maior cautela. É impressionante como algumas pessoas têm certeza de que sabem o que Jesus faria, ao mesmo tempo em que neglicenciam 2000 anos de sabedoria do Espírito Santo disponível na Igreja.

2 – A questão da Liturgia

Decisões “ad hoc” foram tomadas em St. Mary’s a respeito da Liturgia, com certeza nos Sacramentos do Batismo, da Confirmação e do Matrimônio, e especialmente no Sacramento da Eucaristia. A respeito do Batismo, eu ainda não estou certo de que, mesmo agora, o ritual válido seja sempre utilizado. Foi sugerido que pedidos ainda podem ser feitos para a utilização de diferentes formas, de acordo com o desejo dos envolvidos. Outrossim, o Sacramento do Matrimônio às vezes despreza completamente os requisitos normais da Igreja para a validade. Alguns casamentos parecem acontecer sem o menor respeito à Lei Canônica.

No Sacramento da Eucaristia, membros da assembléia parecem recitar as palavras da Consagração, que dentro de um ortodoxo rito Católico devem ser ditas somente pelo ministro ordenado. As orações eucarísticas aprovadas pela Igreja são completamente desprezadas, em favor de orações selecionadas aleatoriamente.

3 – A questão de Governo

Padre Petter Kennedy tem sido administrador de South Brisbane por muitos anos. Ele foi indicado legitimamente pela Arquidiocese. Padre Terry Fitzpatrick nunca foi indicado para St. Mary’s. Ele é um padre da Diocese de Toowoomba que se apossou da paróquia de St. Mary’s no início dos anos 90 com a aprovação dos paroquianos. Ninguém nega que ele tenha praticado o bem, mas em nenhum momento ele foi indicado oficialmente para St. Mary’s pela Arquidiocese de Brisbane. A despeito de sua falta de autoridade, em numerosas ocasiões ele falou à mídia sobre St. Mary’s como se fosse o pároco. Como eu falei em minha carta de 19 de julho de 2004, St. Mary’s tende a ser “congregacional em governo e em cultura”. Ela não parece ser conduzida por um líder apontado oficialmente como as paróquias católicas geralmente o são. A relutância de seus padres em serem vistos como ministros liturgicamente ordenados, diferentes dos membros leigos de sua congregação, parece ser outro indicativo de sua recusa em aceitar qualquer diferença entre os membros ordenados e os não-ordenados. A estrutura pastoral da Igreja Católica foi desenvolvida ao longo de milhares de anos. E ela certamente não é baseada em liderança congregacional.

4 – A questão da Autoridade

A Igreja Católica Romana tem uma certa estrutura que precisa ser respeitada. Às vezes, o seu poder pode ser abusado. Ao mesmo tempo, o reconhecimento da autoridade e do Magistério da Igreja é necessário para a comunhão com a Igreja. A autoridade da Igreja brota em última instância de Jesus, a Palavra de Deus, que entregou a Sua autoridade para os Apóstolos. A Tradição Apostólica, que perpetua a autoridade de Jesus, é expressa através do Papa junto com os Bispos da Igreja. Rejeitar deliberadamente esta autoridade apostólica é colocar-se fora da comunhão com a Igreja Católica Romana.

Na verdade, St. Mary’s de South Brisbane tomou uma paróquia católica e estabeleceu lá sua própria marca de religião. Indubitavelmente ela pratica o bem, ela promove um forte senso de comunidade, abre suas portas para todos os que desejam vir, mas o seu estilo próprio de culto e administração sacramental dificilmente pode ser descrito como Católico Romano. Como tal, ela está fora da comunhão com a Arquidiocese Católica Romana de Brisbane e com a Igreja Católica Romana Universal sob a liderança do Bispo de Roma.

Minha autoridade como Arcebispo da Arquidiocese de Brisbane é escassamente reconhecida pela paróquia de St. Mary’s. Não é fora de propósito considerar que, em St. Mary’s, sempre houve criticismo contra o Papa João Paulo II. Se tal criticismo aos Papas amplia-se ainda mais, eu não sei. Um criticismo básico contra a Igreja ainda parece florescer em sua comunidade. Desde o tempo de São Pedro e Judas, a Igreja nunca repudiou a humanidade. Não obstante a fraqueza de alguns dos seus membros e algumas vezes de seus líderes, não há outro caminho para encontrar Jesus que não seja a Igreja. As palavras de São Pedro ditas a Jesus (Jo 6, 68), quando parecia que os Apóstolos iam abandoná-lo, foram: “Senhor, para quem iremos? Só tu tens palavras de Vida Eterna”. A despeito de suas culpas e falhas, os católicos sabem que o lugar de encontro supremo com Jesus é na Igreja. Entre as cartas escritas a mim nesta semana, uma delas disse muito claramente que St. Mary’s acredita que “é a Igreja Institucional no mundo moderno, e não St. Mary’s, que está em descompasso com o que Jesus falou e o exemplo que Ele deu”. É precisamente aqui que repousa o problema. St. Mary’s parece reivindicar para si própria isoladamente uma autoridade e autenticidade que pretencem somente à Igreja Católica Romana inteira. Quando a paróquia de St. Mary’s foi estabelecida originalmente, ela estava em comunhão com a Arquidiocese, com a Igreja Católica Romana, e com a multidão de paróquias que, juntas, formam a comunhão desta Arquidiocese. Infelizmente esta comunhão de St. Mary’s com a Igreja parece não existir mais. St. Mary’s existe independentemente da Arquidiocese. Minha esperança é que St. Mary’s coloque-se novamente em comunhão com a Igreja Católica Romana à qual ela esteve originalmente ligada e na qual ela se rejubilou. Agora, só depende de St. Mary’s tomas quaisquer decisões que sejam necessárias à sua existência futura. Vou rezar para que estas decisões sejam tão sábias no presente quanto o foram no passado. E rezarei também para que Maria, a Mãe de Jesus, em homenagem a quem St. Mary’s é nomeada, possa interceder a fim de que a sabedoria do Espírito Santo de Deus desça sob a Sua paróquia.

Sinceramente em Cristo,

+ John Bathersby
Arcebispo de Brisbane

C’est fini. Gaudete!

Saiu hoje o tão esperado Decreto da Congregação para os Bispos que cancela a excomunhão de Dom Bernard Fellay, Dom Bernard Tissier de Mallerais, Dom Richard Williamson e Dom Alfonso de Galarreta, os quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X que, em 1988, ao serem sagrados bispos sem mandato pontifício, incorreram em excomunhão latae sententiae – junto com Dom Marcel Lefebvre e Dom Antonio de Castro Mayer, que foram os bispos ordenantes. Foi publicado na Sala de Imprensa da Santa Sé (original em italiano) e traduzido para o português pelo Fratres in Unum.

Uno-me ao júbilo geral: Deo Gratias, et iterum dico, DEO GRATIAS. O momento é de grande alegria, de festa na Igreja, porque uma dolorosa situação que se arrastava já há vinte anos por fim terminou. Os bispos da São Pio X não estão mais excomungados. Podem agora militar ao lado da Igreja, e não mais medindo forças com Ela; podem dar a própria valiosa contribuição (muitíssimo bem vinda) para que Cristo vença, a Cruz impere, as almas sejam salvas, a Igreja seja exaltada, Deus seja glorificado. Gaudete, iterum dico, GAUDETE!

Alguns ligeiros comentários sobre o decreto que merecem ser feitos, na minha opinião, são os seguintes:

1) Foi Dom Fellay, em nome dos outros três bispos, quem escreveu ao Santo Padre para pedir a retirada da excomunhão. Os trechos desta carta que constam no decreto são animadores, capazes de inflamar as almas católicas com um santo desejo de lutar pela unidade da Igreja, pondo de lado todo orgulho e amor-próprio; falam em aceitar “os seus [do Papa] ensinamentos com ânimo filial”, e em “colocar todas as nossas forças a serviço da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica Romana”. Trata-se de uma mudança de postura dos líderes da São Pio X, que esperamos seja seguida pelos seguidores da Fraternidade: esperamos (e rezamos para) que o período das agressividades possa por fim dar lugar ao profícuo diálogo teológico sério.

2) O Santo Padre, “paternamente sensível ao desconforto espiritual manifestado por pelos interessados por causa da sanção de excomunhão, e confiando no compromisso expresso por eles na cidade carta de não poupar esforço algum para aprofundar as questões ainda abertas em necessárias conversações com as Autoridades da santa Sé, e poder assim chegar rapidamente a uma plena e satisfatória solução do problema existente em princípio”, resolveu aquiescer. O cancelamento das excomunhões é, portanto, um ato de “sensibilidade paternal” do Santo Padre, que confia no “compromisso expresso” na carta do Superior da Fraternidade. Não é o fim de todas as divergências, mas esperamos que seja o fim da situação irregular estéril. Que a Virgem Santíssima abençoe aos bispos da FSSPX, a fim de que consigam ser fiéis ao compromisso firmado.

3) A excomunhão não foi “declarada nula”, e sim “cancelada”. O final do decreto não deixa margens para as dúvidas: o que houve foi uma suspensão de uma sanção canônica existente. “[D]eclaro privado de efeitos jurídicos a partir do dia de hoje o Decreto então [em 1988] publicado”; é a partir de hoje, ex nunc, que os efeitos jurídicos da excomunhão deixam de existir. Permanece, portanto, e este decreto o diz expressamente, que havia uma situação irregular que – graças a Deus! – foi superada. Quanto aos dois bispos ordenantes, permanece o fato histórico de que morreram excomungados – que a Virgem, Janua Coeli, seja em favor deles – e não há sentido em se fazer uma “reabilitação póstuma” fazendo cessar a partir de agora os “efeitos jurídicos” que já foram cessados pela morte (pois é evidente que não há jurisdição da Igreja Terrestre no outro mundo).

4) Ainda há coisas que estão faltando; por exemplo, a situação jurídico-canônica atual da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Lembro-me de ter ouvido dizer que os bispos da Fraternidade gostariam de alguma coisa como uma Prelazia Pessoal, mais ou menos aos moldes do Opus Dei; mas o fato é que nada disso consta no Decreto que foi hoje tornado público. É de se esperar, então, que nos próximos dias sejam publicadas mais coisas sobre o assunto.

5) O momento é de alegria e de perdão; as feridas que certamente foram acumuladas ao longo dos anos em que perdurou a situação irregular obviamente não podem ser curadas por decreto pontifício, mas é momento de rezarmos e nos esforçarmos seriamente para, pondo de lado as divergências secundárias e perdoando as mágoas passadas, combatermos lado a lado pela exaltação da Santa Madre Igreja. O decreto é justo; afinal, existem hoje em dia muitos membro do clero que, a despeito de nunca terem sofrido sanções jurídicas no foro externo, afastam-se da Igreja – em suas posições – muito mais do que os membros da FSSPX jamais foram capazes de fazer. Oremus et pro unitate Ecclesiae; que o Espírito Santo possa nos iluminar a todos a fim de que, superando as divisões, alcancemos juntos a comunhão afetiva e efetiva com a Igreja de Cristo, que é a Católica Romana, fora da qual não se pode encontrar nem salvação e nem santidade.