A Igreja universal e as Igrejas particulares

Creio na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica – assim reza o Símbolo Niceno-Constantinopolitano que professamos nas nossas missas. Uma dúvida pode ocorrer a quem se demore a meditar um pouco sobre o assunto: ao que parece, «Igreja» pode significar duas realidades (interdependentes, sem dúvidas, mas a rigor distintas) com as quais os católicos travam contato em sua vida espiritual. Uma, a Igreja particular, concreta, à qual territorialmente pertencem; outra, a Igreja universal, “Católica” propriamente, da qual fazem igualmente parte todos os católicos de todas as partes do mundo. A uma Igreja particular pode pertencer um católico e, outro, não; à Igreja Universal, contudo, pertencem todos os membros (católicos, evidentemente) de toda e qualquer Igreja particular do orbe.

Consideradas as coisas dessa maneira, poderia ser tentador pensar que a Igreja universal fosse formada pela reunião de todas as Igrejas particulares – as quais, em seu conjunto, constituiriam a Única Igreja de Cristo. A relação entre Igreja Universal e Igreja Particular seria, assim, uma relação todo-parte. A ordem de constituição da Igreja seria “de baixo para cima”, do mais concreto ao mais abstrato, do particular ao genérico: das Igrejas particulares para a Igreja universal.

Este assunto foi abordado recentemente no blog do pe. Hunwicke, e a resposta do conhecido sacerdote é taxativa: na verdade, quem vem primeiro é a Igreja Universal. Ela vem primeiro temporalmente, porque já nasce Una em Pentecostes; vem primeiro teologicamente, porque é Ela que é o Corpo Místico de Cristo; e, por fim, vem primeiro ontologicamente, porque as Igrejas particulares provêm d’Ela e não o contrário. Não é exato, portanto, afirmar que a Igreja universal seja a soma das Igrejas particulares: são estas, na verdade, que são realizações d’Aquela.

Não se trata de mero preciosismo: o tema tem relevância, uma vez que (ainda) ganha espaço uma eclesiologia que pretende “construir” a universalidade da Igreja a partir das especificidades das Igrejas particulares. Assim, por exemplo, poderia haver espaço para certo desacordo – mesmo em temas morais ou doutrinários… – entre o Bispo de uma Igreja particular e o Papa, Pastor da Igreja universal. É a antiga tese de Kasper esposada pelo pe. Libânio (p. 127): a “precedência ontológica e temporal” da Igreja universal sobre a particular seria uma “eclesiologia (…) anterior ao Vaticano II”. A perspectiva na qual “a Igreja local está no centro de modo claro e decisivo”, por sua vez, seria a “virada eclesiológica do Concílio Vaticano II”.

Sabe-se bem que essas tentativas de opôr o Vaticano II ao (dito) Magistério pré-conciliar carecem de fundamento: são, sempre, retórica vaniloquente de falsos mestres, cuja propriedade para ensinar a Doutrina Católica é sempre inversamente proporcional aos arroubos com os quais alardeiam as maravilhosas novidades teológicas das últimas décadas. Neste caso, contudo, é ainda mais fácil demonstrar a falsidade da tese: há um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, assinado pelo então Card. Ratzinger e aprovado por São João Paulo II, que a refuta específica e pormenorizadamente.

Trata-se da Communionis notio, que vale uma leitura na íntegra, e da qual cito (destaques no original):

  • «Por isso, a Igreja universal não pode ser concebida como a soma das Igrejas particulares nem como uma federação de Igrejas particulares. Ela não é o resultado da sua comunhão, mas, no seu essencial mistério, é uma realidade ontologicamente e temporalmente prévia a toda Igreja particular singular» (n. 9).
  • «Na verdade, ontologicamente, a Igreja-mistério, a Igreja una e única segundo os Padres precede a criação e dá à luz as Igrejas particulares como filhas, nelas se exprime, é mãe e não produto das Igrejas particulares» (id. ibid.).
  • «O Bispo é princípio e fundamento visível da unidade na Igreja particular confiada ao seu ministério pastoral, mas para que cada Igreja particular seja plenamente Igreja, isto é, presença particular da Igreja universal com todos os seus elementos essenciais, constituída portanto à imagem da Igreja universal, nela deve estar presente, como elemento próprio, a suprema autoridade da Igreja: o Colégio episcopal “juntamente com a sua Cabeça, o Romano Pontífice, e nunca sem ele”» (n. 13).

Não há portanto espaço para tergiversar: até os termos são os mesmos. Ao contrário do que diz o pe. Libânio (e outros), portanto, a Igreja universal ainda «é uma realidade ontologicamente e temporalmente prévia a toda Igreja particular singular», e isso é a única eclesiologia “vigente” – é a boa eclesiologia “moderna” da Igreja “pós-conciliar”, redigida pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (depois Papa) e chancelada por São João Paulo II. É assim que a Igreja  entende-Se a Si mesma. É esta a verdadeira eclesiologia católica. Qualquer coisa que se oponha a isso deve ser prontamente rechaçada como doutrina espúria e já condenada pelo Magistério – inclusive recente! – da única e verdadeira Igreja de Nosso Senhor: a única que pode, com propriedade, dizer ao mundo como Se compreende.

Conferência com prof. De Mattei no Círculo Católico de Pernambuco: inscreva-se já!

O Círculo Católico de Pernambuco receberá, no próximo dia 09 de dezembro, às 19h, o prestigioso professor Roberto de Mattei, que irá proferir uma Conferência sobre os bastidores do Concílio Vaticano II.

O professor de Mattei é um renomado historiador italiano, catedrático da Università Europea di Roma, autor de livros traduzidos para diversos idiomas e colaborador de jornais e revistas na Itália e fora dela.

O evento em Recife é gratuito, mas as vagas são limitadas. Para se inscrever, clique aqui ou na imagem abaixo.

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Site da Arquidiocese de Olinda e Recife deforma católicos: Carta de bispos eméritos revolucionários é apresentada como material de “formação”!

Nem só de apoios oficiosos ao Grito dos Excluídos vive a Arquidiocese de Olinda e Recife. Não satisfeita em envergonhar os católicos com a descabida participação do Arcebispo Metropolitano num evento onde se contradiz abertamente a doutrina da Igreja Católica, a Mitra também colocou no seu site oficial, na página principal, na seção de “Formação” (!), uma carta divulgada por três bispos eméritos na qual qualquer pessoa com dois dedos de testa reconhece o brado revolucionário de velhos inimigos de Cristo ávidos por transformarem a Igreja Católica no seu próprio e mesquinho projeto fracassado de uma “igreja” em tudo diferente d’Aquela fundada por Nosso Senhor.

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Sob o bem-sonante pedido por uma «Igreja servidora e pobre», os três bispos eméritos – «Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás e Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia» – destilam o seu veneno e conclamam os seus leitores a se colocarem contra a Igreja Católica. As informações abertamente falsas e insinuações diabólicas ocorrem em tal profusão que não podem ser fruto de mero descuido: ao contrário, indicam a tentativa consciente e deliberada de atingir a Igreja nas Suas características essenciais. Veja-se:

A organização do papado como estrutura monárquica centralizada foi instituída a partir do pontificado de Gregório VII, em 1078.

Trata-se de mentira pura e simples. Qualquer pessoa que tenha alguma vez na vida lido algum documento do Concílio Vaticano II (que essas raposas velhas, mentindo de forma descarada, evocam a seu favor!) sabe que a Lumen Gentium dedica um capítulo à «Constituição Hierárquica da Igreja» (LG, Cap. III), onde se pode ler que «para que o (…) episcopado fosse uno e indiviso, colocou o bem-aventurado Pedro à frente dos outros Apóstolos e nele instituiu o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão» (LG 18, destaques meus). Não foi portanto Gregório VII quem colocou o papado como uma estrutura monárquica: foi o próprio Nosso Senhor!

Durante o 1º milênio do Cristianismo, o primado do bispo de Roma estava organizado de forma mais colegial e a Igreja toda era mais sinodal.

É mesmo? Quem disse? Não aceitemos levianamente essa “estória” da Carochinha contada por velhos maliciosos no afã de enganar os incautos. Olhemos a História. E, dentre inumeráveis exemplos que poderíamos aduzir aqui para demonstrar a falsidade dessa afirmação dos três bispos eméritos, fiquemos somente com um. De Santo Ireneu de Lião. Que aliás não era Papa.

Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo (…). Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos (Sto. Ireneu de Lião, “Contra as Heresias”, Livro III, 3,2. Ed. Paulus, 2ª Edição, 1995, pp.249-250. Grifos meus).

Isto é o que era pregado e crido no século II! Isso sim é História, e isso era o que deveria estar na área de “Formação” de um site que se pretendesse católico. Não as doutrinas vãs de três lobos disfarçados de pastores. Vê-se, assim, que a única “forma colegial” que sempre vigorou na Igreja de Cristo é precisamente aquela da qual fala o Concílio Vaticano II: «o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, entendido com sua cabeça, permanecendo inteiro o poder do seu primado sobre todos, quer pastores quer fiéis. Pois o Romano Pontífice, em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, tem nela pleno, supremo e universal poder que pode sempre exercer livremente» (LG 22). Esta é a doutrina católica, frontalmente contrária à tagarelice publicada com destaque no site da Arquidiocese de Olinda e Recife.

Concílio Vaticano II orientou a Igreja para a compreensão do episcopado como um ministério colegial. Essa inovação encontrou, durante o Concílio, a oposição de uma minoria inconformada. O assunto, na verdade, não foi suficientemente amarrado.

Na verdade, está tudo perfeitamente amarrado. Citando de novo a Lumen Gentium (grifos meus):

A Ordem dos Bispos, que sucede ao colégio dos Apóstolos no magistério e no governo pastoral, e, mais ainda, na qual o corpo apostólico se continua perpetuamente, é também juntamente com o Romano Pontífice, sua cabeça, e nunca sem a cabeça, sujeito do supremo e pleno poder sobre toda a Igreja (63), poder este que não se pode exercer senão com o consentimento do Romano Pontífice. Só a Simão colocou o Senhor como pedra e clavário da Igreja (cfr. Mt. 16, 18-19), e o constituiu pastor de todo o Seu rebanho (cfr. Jo. 21, 15 ss.); mas é sabido que o encargo de ligar e desligar conferido a Pedro (Mt. 16,19), foi também atribuído ao colégio dos Apóstolos unido à sua cabeça (Mt. 18,18; 28, 16-20) (64). Este colégio, enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus e, enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do redil de Cristo. Neste colégio, os Bispos, respeitando fielmente o primado e chefia da sua cabeça, gozam de poder próprio para bem dos seus fiéis e de toda a Igreja, corroborando sem cessar o Espírito Santo a estrutura orgânica e a harmonia desta (LG 22).

Querer forçar uma “colegialidade” independente do Romano Pontífice, assim, significa trair o Concílio Vaticano II. Significa não resgatar um ensinamento que não está “suficientemente  amarrado”, mas sim desdizer abertamente o que os Padres Conciliares ensinaram para toda a Igreja. Quem esses três bispos velhos pensam que são para contradizer tão descaradamente assim todos os bispos católicos do mundo reunidos com o Papa em um Concílio Ecumênico?

Entretanto, para dar passos concretos e eficientes nesse caminho – e que já está acontecendo – ele [o Papa Francisco] precisa da nossa participação ativa e consciente. Devemos fazer isso como forma de compreender a própria função de bispos, não como meros conselheiros e auxiliares do papa, que o ajudam à medida que ele pede ou deseja e sim como pastores, encarregados com o papa de zelar pela comunhão universal e o cuidado de todas as Igrejas.

O chamado ao cisma é sutil mas não pode deixar de ser apontado. Para os autores dessa carta diabólica, os Bispos não deveriam meramente ajudar o Papa «à medida que ele pede ou deseja». A conseqüência lógica e imediata disso é que os Bispos, segundo esta carta que está na parte de “Formação” do site oficial de uma Arquidiocese Católica, deveriam agir por conta própria – «como pastores» – mesmo que o Papa não peça ou não deseje! Ou seja, mesmo contra a vontade do Romano Pontífice! Coisa mais estranha ao catolicismo não pode haver. Contra esta doutrina absurda, repetimos de novo o que já citamos da Constituição Dogmática Lumen Gentium: «o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o Romano Pontífice» (LG 22). E essa «união» não é uma palavra vazia ou uma mera formalidade, mas ao contrário: para ser real, precisa ser efetiva. Alguém consegue imaginar coisa mais estranha a qualquer possível “união” do que agir à revelia do seu superior, mesmo contra a sua vontade? No entanto, é exatamente isso o que advogam os três autores desta malfadada carta! E a Arquidiocese de Olinda e Recife ainda a coloca com destaque na seção de “Formação” do seu site!

A ocasião, pois, é de assumir o Concílio Vaticano II atualizado

Três raposas velhas não têm autoridade nenhuma para “atualizar” o que todos os bispos do mundo chancelaram em união com o Papa. Deve-se assumir o Concílio Vaticano II com honestidade, com escrupuloso respeito àquilo que ele ensina, e não com essa “atualização” pirata que estas múmias putrefatas querem nos empurrar.

(…) reivindicando os plenos direitos da mulher, superando a respeito os fechamentos advindos de uma eclesiologia equivocada.

Para bom entendedor, pingo é letra. Quais são os «fechamentos» impostos às mulheres pela Igreja? A referência à ordenação feminina salta aos olhos. No entanto, sobre este assunto já se manifestou definitivamente o Magistério da Igreja por meio do Papa João Paulo II:

Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja (Ordinatio Sacerdotalis, 4).

Esta é a sã eclesiologia católica, que três bispos eméritos têm a desfaçatez de chamar de «equivocada» em uma carta à qual a Arquidiocese de Olinda e Recife dá publicidade por meio do seu site oficial! Afinal de contas, o que pretende a Mitra olindo-recifense? Servir à Igreja ou espalhar a revolta contra Ela?

[O] clericalismo vem excluindo o protagonismo eclesial dos leigos e leigas, fazendo o sacramento da ordem se sobrepor ao sacramento do batismo e à radical igualdade em Cristo de todos os batizados e batizadas.

É exatamente pelo fato desses três bispos serem batizados que devem respeito às autoridades eclesiásticas, em particular ao Magistério da Igreja. E, portanto, não poderiam jamais vir a público usando as suas credenciais de «bispos eméritos» para atacar a Igreja Católica e promover a subversão de Sua Doutrina. Que estes bispos comecem dando o exemplo e respeitando com seriedade as obrigações decorrentes do seu Batismo, em particular a submissão àquilo que ensina a Santa Madre Igreja! Seria engraçado se não fosse trágico: quando querem minar a importância do sacerdócio católico, falam em «radical igualdade em Cristo de todos os batizados e batizadas». Para poderem passar uma falsa aparência de autoridade nos seus ataques ao que a Igreja ensina, no entanto, não coram de vergonha em se alardearem bispos com o pretenso direito de agir mesmo quando o Papa não peça ou não deseje! E é esta hipocrisia sem tamanhos que o site da Arquidiocese apresenta como “Formação” para os católicos que por lá passarem!

Nos nossos países, é preciso ter a liberdade de desocidentalizar a linguagem da fé e da liturgia latina.

A tagarelice é pura birra contra a Igreja. Nós, países latino-americanos, estamos jurídica e historicamente ligados ao Rito Romano, quer os três bispos gostem, quer não. E ainda: que me conste, nós estamos no Ocidente! Nada do que é “ocidental” nos é estranho.

Finalmente, está em jogo o nosso diálogo com o mundo. Está em questão qual a imagem de Deus que damos ao mundo e o testemunhamos pelo nosso modo de ser, pela linguagem de nossas celebrações e pela forma que toma nossa pastoral.

O testemunho que somos chamados a dar ao mundo passa pelo respeito à nossa própria identidade e pela obediência àquilo que anunciamos. Ora, que “testemunho” é possível dar ao mundo quando se levanta de maneira tão cretina contra a instituição que se diz servir? Como é possível testemunhar alguma coisa para os de fora quando três bispos eméritos clamam à rebelião contra os fundamentos da Igreja? O que estes bispos eméritos estão fazendo, na verdade, é um grandíssimo e eloqüente contra-testemunho. Que a Arquidiocese de Olinda e Recife faça coro a tão grande pedra de tropeço é um escândalo injustificável.

“É hora de despertar, é hora e de vestir as armas da luz” (13,11). Seja essa a nossa mística e nosso mais profundo amor.

É verdadeiramente irônico que terminem conclamando os leitores a vestir «as armas da luz» três lobos caquéticos que no decurso do seu texto teceram incansáveis loas ao nefasto Pacto das Catacumbas

Vistamos, sim, as armas da luz, que são as armas da Verdade. E, como vimos, a Verdade passa longe desta carta escrita por três bispos eméritos que, longe de quererem servir à Igreja de Cristo, são movidos por um amor desmesurado a si próprios e a “modelos” fracassados de igreja que eles não conseguiram enquanto jovens colocar no lugar da Igreja de Nosso Senhor. Pretendem consegui-lo agora, quando já estão velhos e quando as suas mentiras já estão mais do que batidas?

Entre o que ensina a Igreja e o que dizem três hippies velhos que perderam o bonde da história, é bastante óbvio que qualquer pessoa que tenha amor à própria alma deve dar ouvidos não a estes, mas sim Àquela que é a Esposa de Cristo. Desgraçadamente, há aqueles que preferem deformar os fiéis católicos pelos quais tinham o dever de zelar. É verdadeiramente lamentável que a Arquidiocese de Olinda e Recife prefira se unir aos escarnecedores e transformar o seu site oficial em palanque para que velhos caquéticos destilem o seu ranço anti-católico e conclamem os seus ouvintes a uma ridícula rebelião contra Aquela que as portas do Inferno jamais vencerão. É uma vergonha que um site de uma Arquidiocese católica se preste a disseminar assim a revolta contra a Igreja.

“Sua palavra revela uma sólida coerência” – Marcos Aguinis (judeu)

[O texto abaixo é do lanacion.com, e um amigo fez a gentileza de o traduzir. É da autoria de um judeu e foi publicado no dia seguinte ao da eleição do Papa Francisco. Mostra a forma como os não-católicos vêem o Papa, e pode nos ajudar a entender os desafios que o Santo Padre precisará enfrentar para além das fronteiras da Igreja Católica; as palavras do judeu revelam as expectativas que os não-católicos têm para com o Vigário de Cristo. É um texto singelo e agradável que merece ser lido, mormente neste turbilhão de acusações contra o Papa – vindas de todos os lados! – que estamos atravessando. No mínimo, é uma insuspeita homenagem ao Card. Bergoglio; os que reclamavam de falta de virtudes humanas no Papa Francisco talvez mudem de idéia ao lerem estas elogiosas palavras dirigidas a ele por alguém que o conheceu sem comungar da sua Fé.]

Sua palavra revela uma sólida coerência

Por Marcos Aguinis (La Nacion)
http://groups.yahoo.com/group/aguinis/message/234
Tradução: Garcia Rothbard

Nós, que tivemos o privilégio de manter conversações profundas com monsenhor Jorge Bergoglio, podemos confiar que sua eleição foi uma ótima escolha. O mundo, a América Latina e a Igreja caminham por um corredor cheio de perigos. Fazem falta líderes que reúnam virtudes diferentes das que seduzem demagogicamente as massas. Em vez de gritos, o diálogo. Em vez da força, a carícia. Em vez do confronto, a aproximação. Em vez do fanatismo, a racionalidade.

Jorge Bergoglio tem exibido essas qualidades por sua longa e produtiva carreira. Mostrou ser valente sem agredir, ser perseverante sem obcecar-se. Sua formação jesuítica e sua mentalidade aberta fizeram dele um dos homens mais cultos e confiáveis da hierarquia católica argentina.

Ele não hesitou em se manifestar com clareza sobre temas perigosos. Sem cair em ofensas estéreis, ele tem atacado os que abusam de seus concidadãos. Sua palavra oral, gestual e escrita revela uma sólida coerência. É o melhor para estes tempos carregados de confusão e mentiras.

Este momento me recorda a eleição de João XXIII, a quem tive a honra de conhecer pessoalmente. Não parecia ter a elegância, a majestade nem a firmeza de seu predecessor, Pio XII. Mas alguns valorizavam os antecedentes que poucos conheciam, como por exemplo seu arriscado confronto com os nazistas enquanto foi núncio na Turquia.

Sua bonomia não antecipava a revolução que iria empreender, chamada Concílio Vaticano II. Durante seu breve reinado deu um impulso formidável à Igreja.

Jorge Bergoglio asume com o nome de Francisco. Suponho que seu coração vibra com a associação com Francisco de Assis, um homem de aparência e atitudes mansas, mas de caráter imbatível. Um homem que conhecia a pobreza e rejeitava as honrarias. Que se atrevia a enfrentar obstáculos.

Hoje em dia, a um papa o aguardam vários problemas, todos difíceis. Não dispõe de tempo para se dedicar a um por vez. Precisará de esforço e serenidade. De convicções firmes. Na Igreja se multiplicaram os atos de corrupção. Mas a vida inatacável que exibe este resplandecente papa nos faz intuir que será metódico em derrubar os obstáculos.

Têm uma virulência corrosiva os problemas econômicos, políticos e morais. Serão enfocados com atenção especial por alguém que não cessa de denunciá-los. Que conhece muito bem de que se trata, como já o deixou entrever em seus serenos e, ao mesmo tempo, vigorosos pronunciamentos. É possível que produza golpes inesperados. Na maior parte do mundo segue prevalecendo a pobreza, que é usada por líderes inescrupulosos para ganhar poder.

A pobreza pode ser diminuída, como mostram vários países. Mas pode aumentar ou se manter estável, como mostram outros países. Basta dar uma olhada a nosso continente para perceber que alguns de nossos vizinhos estão conseguindo diminuí-la, enquanto outros só a usam, anestesiando aos pobres com esmolas que se convertem em votos. Bergoglio denunciou isso em várias oportunidades. Sabe muito bem, por sua experiência argentina e latino-americana, que a pobreza aumenta com os autoritarismos. Não é por acaso que muitos políticos corruptos tenham se esquivado sistematicamente de seus sábios sermões.

Francisco é também, de agora em diante, um chefe de Estado. Em consequência, seu trabalho se estende ao campo da política internacional. Um papel extraordinário teve João Paulo II ao contribuir na queda do totalitarismo soviético. Também foi maravilhosa sua obra destinada a consolidar os ideais do pluralismo. Não resulta difícil observar que as qualidades de João XXIII e João Paulo II estão presentes no temperamento e na biografia de Jorge Bergoglio.

Leonardo Boff e a Igreja, Casta Meretrix

Após cumprir a minha quota diária de penitência quaresmal com a leitura deste texto do Leonardo Boff (aliás, cujo português sofrível revela uma senilidade ainda maior do que a esperada mesmo para o Boff, que já há muito tempo parece viver somente de defender idéias patéticas), quero comentar uma única afirmação do manancial de estultícies em que se transformou o ex-franciscano. Refiro-me à seguinte passagem:

Sempre se diz que a Igreja é “santa e pecadora” e deve ser “sempre reformada”. Mas não é o que ocorreu durante séculos nem após o explícito desejo do Concílio Vaticano II e do atual Papa Bento XVI.

Antes de mais nada, não é verdade que “sempre” (!) se diz que a Igreja é santa e pecadora. Como eu já tive a oportunidade de dizer aqui há alguns anos, isso nunca foi dito a não ser uma única vez por João Paulo II, em um discurso de chegada a Fátima por ocasião de uma de suas viagens apostólicas. E mais nunca. A despeito da expressão ter sido empregada pelo falecido Pontífice no seu sentido católico (como eu também já expliquei aqui), isto não impediu que uma miríade de maus católicos (somados a gente que nem católico era) a repetisse ad nauseam para significar um conceito totalmente herético de que a Igreja, enquanto Instituição, pode ser sujeito do pecado, de que se podem atribuir pecados à Igreja Católica considerada em Si.

Contra isto, basta lembrar que tal concepção contraria frontalmente o Credo Apostólico que rezamos todos os dias, por meio do qual professamos a nossa fé «na Santa Igreja Católica». Pecadores somos nós, que fazemos parte da Igreja, e que (vale frisar) o fazemos cada vez menos quanto mais pecamos. O nosso pecado afasta-nos de Cristo, afasta-nos da Igreja. Embora obviamente congregue pecadores no Seu seio, não se pode colocar a Igreja como autora dos pecados que os Seus filhos só cometem por A desobedecerem. É nos Seus membros pecadores (e somente nos Seus membros pecadores) que se pode dizer que a Igreja necessita de purificação (cf. Lumen Gentium, 8).

Em apoio à sua tese, o Leonardo Boff saca da cartola uma suposta «longa tradição teológica que se refere à Igreja como casta meretriz» (Casta Meretrix). E cita o Urs Von Balthasar. A quem interessar possa, o pe. Paulo Ricardo também abordou este tema recentemente. Quanto a mim, confesso nunca ter lido o citado livro do Von Balthasar; mas já li o texto original de Santo Ambrósio (até evidência em contrário, único uso patrístico da expressão casta meretrix) onde ele usa esta expressão para se referir à Igreja, e ele não tem absolutamente nada a ver com o sentido de “santa e pecadora” usado e abusado nos dias de hoje!

Senão vejamos; Santo Ambrósio diz o seguinte (tradução minha):

(…) esta Rahab, mulher pública enquanto figura [da Igreja], indicando o mistério da Igreja, que não recusa o comércio de muitos amantes e, quanto ao resto, é mais casta do que ela; virgem sem mancha e sem ruga (Ef. 5, 27), intacta pela pureza, plebéia pelo amor, casta mulher pública [casta meretrix], viúva estéril, virgem fecunda: mulher pública [meretrix], pois a Ela, que não tem mancha de pecado, vêm numerosos amantes atraídos por Seu amor (pois o que se une a uma mulher pública forma um só corpo com ela, 1Cor 6, 16); viúva estéril, que não sabe ser mãe na ausência do esposo – e o esposo veio e Ela gerou este povo e esta multidão -; virgem fecunda, que gerou esta multidão com os frutos do amor, mas sem experimentar o prazer.

Que surpresa: Santo Ambrósio não usa a figura da meretriz para dizer que a Igreja é pecadora, mas sim que é Ela é desejada pelos homens! Não A chama de mulher pública para censurar-Lhe de falta alguma, mas Lhe aplica a metáfora para dizer que Ela não Se recusa a ninguém! E ainda faz questão de entremear este seu discurso com as expressões clássicas que se referem à santidade da Esposa de Cristoimmaculata uirgo, sine ruga, pudore integra, sine conluuione delicti.

Como alguém pode, em consciência, evocar esta imagem para dizer que a Igreja é “Santa e Pecadora”? Como alguém ousa, sem corar de vergonha, deduzir dessa passagem que a Igreja «é uma meretriz que toda noite se entrega à prostituição; é casta porque Cristo, cada manhã se compadece dela, a lava e a ama», como fez o nosso decrépito ex-franciscano? Como, enfim, é possível honestamente sustentar que os Padres atribuíam à Igreja santidade e pecado quando A chamavam de casta meretrix?

Que ninguém se perturbe dando ouvidos a um picareta como o Leonardo Boff, pois já se provou incontáveis vezes que ele não sabe o que diz e não merece ser levado a sério. E, ao invés de apontar o dedo para a Igreja Católica, que cada um de nós nos preocupemos com os nossos próprios pecados, suficientemente reais e bastante vergonhosos. É por estes pecados que a Esposa Imaculada de Cristo faz continuamente penitência em nosso favor, e é por nossa causa que Ela é tanto acusada e perseguida injustamente.

Contra os que promovem o escândalo: Refutação de carta contra o pe. Paulo Ricardo

Do início da semana para cá, circulou na internet uma carta contra o pe. Paulo Ricardo, escrita por alguns membros do clero de Cuiabá (e adjacências) e endereçada aos “Excelentíssimos e Reverendíssimos Senhores Bispos, Padres e Povo de Deus”. Muito já foi dito sobre o assunto (p.ex., aqui, aqui, aqui e aqui). O resumo da ópera: o pe. Paulo Ricardo exerce um apostolado indiscutivelmente valoroso nos meios de comunicação social, tarefa santa e da mais alta importância que não poderia deixar de lhe angariar alguns desafetos. Querem calar o padre Paulo Ricardo: em suma, é isto o que está acontecendo. E querem calá-lo da forma mais incoerente possível, fazendo eles próprios – no ato mesmo de “denunciar” o conhecido sacerdote – tudo o que alegam ter feito o pe. Paulo Ricardo.

A íntegra da carta pode ser encontrada no primeiro link deste texto. Vou comentar grandes e vários trechos dela, na ordem em que foi escrita; não porque a epístola seja um primor de retórica ou porque contenha algum argumento minimamente sério (aliás, muitíssimo pelo contrário, como se verá); mas para que não reste dúvidas sobre o quanto é descabida esta perseguição toda, e para que fique claro a todos os que se aproximam da polêmica sem preconceitos quem está agindo segundo a Igreja e quem, ao contrário, trabalha contra Ela.

Consternados dirigimo-nos aos senhores para levar a público nossos sentimentos de compaixão e constrangimento com relação ao nosso co-irmão no sacerdócio, Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, do clero arquidiocesano de Cuiabá. O que nos move é nosso desejo de comunhão, unidade, amor à Igreja e ao sacerdócio e a busca de verdadeira justiça, reconciliação e perdão.

Os autores desta carta devem estar de brincadeira. Esqueceram por completo (ou nunca ligaram para) os princípios mais elementares da correção fraterna, segundo a qual as queixas que porventura se tenha contra um irmão devem ser tratadas em privado. A carta inteira transpira esta incoerência, esta linguagem dupla que mantém, lado-a-lado, uma alegada nobreza de intenções unida ao mais vil e desprezível tratamento reservado ao pe. Paulo Ricardo, conforme será visto.

Diante de um homem amargurado, fatigado, raivoso, compulsivo, profundamente infeliz e transtornado toma-nos, como cristãos e como sacerdotes, um profundo sentimento de compaixão e misericórdia.

Aqui nós encontramos, já desde o começo, a linha mestra que irá conduzir todo o texto: os ataques gratuitos, sem que seja apresentado absolutamente nada para embasar as acusações que são feitas. Causa espécie que uma carta endereçada a bispos e que tem por objetivo denunciar as (alegadas) atitudes negativas de um sacerdote não traga um único exemplo daquilo que alega! O padre Paulo Ricardo é uma figura pública, que possui um site na internet, perfis nas redes sociais e centenas de vídeos no youtube (160 só no seu canal oficial). A coisa mais fácil do mundo seria, portanto, selecionar alguns trechos do (farto!) material produzido pelo padre e apresentá-los como exemplos da tese que se deseja demonstrar. Curiosamente, a carta não traz nada disso e se limita a lançar acusações sem provas; o único trecho de uma pregação do padre que é citado (veja-se mais abaixo) depõe contra os próprios autores da carta, uma vez que ele (como era de se esperar) não contém nenhuma das coisas das quais o padre Paulo é acusado ao longo do texto.

Registre-se ainda, a propósito, a absurda incoerência de pretender que delicadezas como «amargurado, fatigado, raivoso, compulsivo, profundamente infeliz e transtornado» brotem de um «desejo de comunhão, unidade, amor à Igreja e ao sacerdócio e a busca de verdadeira justiça, reconciliação e perdão»! Onde a “comunhão” e a “unidade” em sacerdotes atacando publicamente outro sacerdote? Onde o “amor à Igreja e ao sacerdócio” em provocar escândalo com esta carta lançada aos sete ventos e que expõe uma divisão na Igreja de Mato Grosso? Onde a “verdadeira justiça, reconciliação e perdão” em um monte de (graves!) acusações feitas em público e sem apresentar provas?

Diante de suas reiteradas investidas contra o Concílio vaticano II, contra a CNBB e, sobretudo, contra seus irmãos no sacerdócio invade-nos um profundo sentimento de constrangimento e dor pelas ofensas, calúnias, injúrias, difamação de caráter e conseqüentes danos morais que ele desfere publicamente e através dos diversos meios de comunicação contra nós, sacerdotes e bispos empenhados plenamente na construção do Reino de Deus.

Aqui, a coisa mais fácil do mundo (repetimos) seria apresentar exemplos destas “reiteradas investidas” feitas “publicamente e através dos diversos meios de comunicação” pelo pe. Paulo Ricardo. Impressionantemente, contudo, a carta não apresenta nada! Lança apenas a acusação. Ora, eu não li a totalidade da produção intelectual do pe. Paulo Ricardo, mas já tive contato com parte considerável do que ele fala e escreve e jamais o vi fazer “investidas contra o Concílio [V]aticano II, contra a CNBB” ou contra sacerdote algum em particular. A menos, é claro, que para esta gente:

  1. defender a hermenêutica da continuidade seja investir contra o Vaticano II (e assim o Papa está contra o Vaticano II);
  2. entender que a CNBB não é uma instância hierárquica intermediária entre as dioceses e o Papa seja agir “contra a CNBB” (e assim o Código de Direito Canônico está contra a CNBB); e
  3. exortar os sacerdotes para que sejam fiéis à sua vocação seja caluniar os sacerdotes (e assim a totalidade dos santos sempre esteve contra o clero).

Porque outras coisas não se encontram nas prédicas do padre Paulo Ricardo. Se os seus desafetos têm algo contra ele, que apresentem! No apostolado público do sacerdote, no entanto, não se encontram as coisas das quais ele é acusado. E novamente: lançar em público acusações graves sem apresentar provas do que se diz não pode jamais proceder de uma sincera “busca da verdadeira justiça”, como pretendem os autores da carta!

Depois disso os detratores do pe. Paulo pretendem (enfim) embasar as suas acusações. Citam uma palestra do pe. Paulo proferida durante um encontro chamado “Vinde e Vede”:

Leiam com paciência. Transcreveremos aqui parte de sua palestra proferida na última edição do “Vinde e Vede”. Intitulada “Totus tuus, Maria!”

Leiam a transcrição na íntegra lá na carta. Aqui, por questões de espaço, eu ponho somente o vídeo:

Existe alguma coisa de censurável nesta pregação? Alguma coisa que já não tenha sido dita incontáveis vezes pelos santos (p.ex., Santo Afonso)? Alguma coisa que não seja verdade? Alguma referência nominal a algum sacerdote concreto, que pudesse dar azo a algum constrangimento? Ou porventura não existem maus sacerdotes no mundo? Ou por acaso a gente não pode falar que o clero deve ser santo mas (infelizmente) nem sempre o é de fato? Por qual motivo houve quem se ofendesse com esta pregação? Os que vêem nisso “ofensas”, “calúnias”, “injúrias” ou “difamação de caráter” contra si próprios não estão, eles mesmos, vestindo a carapuça?

Prosseguem os autores da carta:

Pobre em espírito e conteúdo, esta palestra escamoteia um texto não oficial, escrito pelo fundador e personalidade maior do Movimento Sacerdotal Mariano, Padre Stefano Gobbi.

E daí? Estas aparições não foram oficialmente reconhecidas pela Igreja mas também não foram consideradas falsas e nem proibidas.

E, independente disso, o conteúdo da mensagem utilizada pelo pe. Paulo Ricardo é idêntico ao de outras aparições reconhecidas como verídicas pela Igreja (p. ex. La Salette). E quando a Igreja reconhece como verídica uma aparição é porque não encontra nela nada que seja contrário à Fé da Igreja. Qual a razão, portanto, das reclamações aqui? Acaso os signatários desta carta contra o pe. Paulo não querem também escrever denúncias contra a Virgem de La Salette?

Repitamos: não se vê por qual motivo a palestra do pe. Paulo possa ser “desastrosa e danosa à reputação de milhares de sacerdotes”. O pe. Paulo está falando dos sacerdotes de má vida sem citar nominalmente nenhum deles. Ora, se há “milhares de sacerdotes” que se identificam com a descrição do mau padre então estes deveriam fazer um exame de consciência e se empenhar com mais afinco na própria salvação. E não atacar o pe. Paulo Ricardo, que – repetimos – não está inventando nada que já não tenha sido dito pela Igreja incontáveis vezes.

Ainda Bento XVI, por ocasião da Conferência de Aparecida nos advertia: “Não resistiria aos embates do tempo uma fé católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibições, a práticas de devoções fragmentadas, a adesões seletivas e parciais da verdade da fé, a uma participação ocasional em alguns sacramentos, à repetição de princípios doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a vida dos batizados. Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” […]. (DAp. N. 12).

Perfeitamente. No entanto, o que isso tem a ver com a palestra do pe. Paulo Ricardo sobre um texto que faz eco a mensagens da Virgem Santíssima aprovadas pela Igreja? Na verdade, é exatamente o contrário. Esta passagem corrobora tudo quanto o padre Paulo Ricardo disse. Senão vejamos:

Quem defende uma Fé “reduzida a uma bagagem”? O pe. Paulo Ricardo, que clama por coerência entre Fé e vida, ou os maus sacerdotes ávidos por fazerem acordos com o mundo – e para os quais as exigências do Cristianismo são um fardo?

Quem defende que a Fé seja “um elenco de normas e proibições”? O pe. Paulo Ricardo, que testemunha a alegria de ser cristão, ou os maus sacerdotes que querem impôr o silêncio sobre os defensores da Igreja Católica, que querem proibir a pregação do Evangelho?

Quem defende a “prática de devoções fragmentadas”? O pe. Paulo Ricardo, que se esforça por apresentar-se como um sacerdote o tempo inteiro, ou os maus padres que pensam poder acender uma (ou meia…) vela para Deus e outra para o mundo e para o pecado?

Quem defende “adesões seletivas e parciais da verdade da fé”? O pe. Paulo Ricardo, que é perseguido por ser intransigente na defesa radical da Fé íntegra, ou os maus sacerdotes para os quais a parte incômoda do Evangelho “não vale mais” nos dias de hoje?

Quem defende “uma participação ocasional em alguns sacramentos”? O pe. Paulo Ricardo, que defende que os sacerdotes santifiquem-se ministrando os Sacramentos, ou os maus sacerdotes para os quais a Santa Missa e uma reunião de católicos sem a presença de um padre têm o mesmo valor?

Quem defende a mera “repetição de princípios doutrinais”? O pe. Paulo Ricardo, que se esforça por traduzir a Fé da Igreja para os homens do mundo atual, ou os maus sacerdotes que só mencionam os elementos da espiritualidade católica para os ridicularizar?

Quem defende “moralismos brandos ou crispados que não convertem a vida dos batizados”? O pe. Paulo Ricardo, que prega por uma conversão verdadeira, ou os maus sacerdotes interessados em “relativizar” a Moral Católica e que – estes sim! – por conta disso não convertem verdadeiramente ninguém?

Qual é, enfim, “o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja” que faz com que a Fé se vá “desgastando e degenerando em mesquinhez”? É o do pe. Paulo Ricardo, que clama por conversão e pelo abandono dos pecados, ou é o dos maus sacerdotes de vida medíocre para os quais quem defende a Fé da Igreja é um incômodo que deve ser silenciado?

Ora, fica evidente que o texto do Papa – como não poderia ser diferente – vem ao encontro de tudo o que o padre Paulo Ricardo faz no seu valoroso apostolado nos meios de comunicação social. Sendo assim, qual a razão dele ter sido colocado numa carta repleta de acusações infundadas contra um sacerdote do Deus Altíssimo dedicado à realização do seu ministério? O que querem, afinal, os signatários desta carta? Semear a cizânia entre os fiéis católicos e fazer parecer que o padre Paulo Ricardo está contra o Papa Bento XVI gloriosamente reinante?

O moralismo crispado e falso de Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior reduz a rica tradição da Igreja a um pequeno número de normas e restrições, com uma verdadeira obsessão de traços patológicos pelo uso da batina.

Em primeiro lugar, é simplesmente falso que o pe. Paulo Ricardo reduza “a rica tradição da Igreja a um pequeno número de normas e restrições”. Qualquer pessoa que tenha qualquer contato com o apostolado dele sabe que isto é uma mentira grosseira.

Em segundo lugar, a alusão à batina, no texto transcrito, é completamente marginal. O ponto são os sacerdotes que vivem em pecado, e não os que não usam batina.

Em terceiro lugar, ao contrário do que diz a explicação cânonico-macarrônica dos signatários da carta (para os quais o padre não deve usar batina coisa nenhuma, pois a sua identidade sacerdotal “se expressa no testemunho pessoal e nas obras apostólicas e não na batina”), o fato é que existe a obrigatoriedade do uso do traje eclesiástico. Remeto à leitura do estudo completo, e cito só a conclusão para ilustrar:

Pelo Direito Canônico – que mand[a] os clérigos e religiosos usarem o traje -, pelas razões históricas, teológicas, filosóficas, antropológicas, psicológicas e pastorais apontadas – que justificam a obrigação do seu uso -, e pelo Magistério da Igreja – que, nos discursos dos Papas e nos documentos da Cúria, conforma a conveniência, a oportunidade e a legalidade preceptiva do uso do traje -, concluímos, após oportunas refutações a explicitações, que o hábito, o clergyman e a batina são um bem a ser preservado. Só a lei, sem os motivos interiores, seria bastante para ser cumprida pela mente católica. Só os motivos, sem a lei, igualmente, já recomendariam o suficiente para o uso. Os motivos e a lei juntos, portanto, demonstram a impossibilidade de descumprimento ordinário do preceito do traje eclesiástico.

Portanto, são (mais uma vez) descabidas as queixas dos signatários da carta contra o pe. Paulo. O problema deles é com a disciplina católica e com as tradições da Igreja: não com o sacerdote de Cuiabá.

A partir daqui, a carta descamba para [mais] uma série de agressões pessoais injustificadas: o pe. Paulo seria “dono de uma personalidade no mínimo controversa”, teria uma “influência nefasta” que divide o clero e os fiéis, “ultrapassa[ria] os limites do fanatismo quando se trata (sic) de questões teológicas, eclesiais e pastorais”, seria “apenas um polêmico” cheio de “interesses de carreira” (!!). Ainda: “Guardião de ortodoxias e censor de plantão”, o pe. Paulo teria o costume de “ser pouco honesto”. Depois do rosário de impropérios (repetimos, sem que seja apresentado nenhum elemento em favor das acusações feitas: tudo gratuito, sacado da cartola como mágica), o texto prossegue:

Por ocasião da campanha eleitoral para a presidência da república, enfurnou-se em um cordão de calúnias, ameaças e difamação contra candidatos, contra o povo e contra a própria CNBB.

A nossa sorte é que tudo o que aconteceu nas eleições de 2010 está muito bem documentado. Os fatos: a sra. Rousseff (atual presidente do Brasil e então candidata pelo Partido dos Trabalhadores), que já defendera publicamente o aborto e que estava concorrendo à presidência por um partido notoriamente abortista, foi desmascarada pelos corajosos bispos da Regional Sul 1 da CNBB, que produziram panfletos endereçados a todos os brasileiros explicando o papel desempenhado pelo Governo na legalização do aborto no Brasil. Logo em seguida, os panfletos foram censurados e apreendidos a mando do Governo. O pe. Paulo Ricardo, heroicamente, junto com mais um punhado de padres e bispos católicos, sustentou até o fim que os católicos não podiam apoiar com o seu voto um candidato que fosse defensor do aborto. Por conta disso, a sra. Rousseff perdeu uma vitória certa no primeiro turno, ad majorem Dei Gloriam. E foi obrigada a se disfarçar de cristã e a se comprometer a não mexer na legislação do aborto no Brasil.

Tudo o que pe. Paulo Ricardo fez foi cumprir com o seu dever de sacerdote católico e orientar o povo de Deus a ele confiado! Coisa diferente não disse o Papa Bento XVI na ocasião: quando “os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. Ora, o pe. Paulo Ricardo estava fazendo exatamente aquilo que o Papa depois afirmou ser um “grave dever” dos pastores! Do que se queixam, então, os seus desafetos?

Mas a cereja do bolo vem no final. Após esta carta ridícula repleta de informações sem fundamento, os sacerdotes que a assinaram formulam assim o seu pedido:

Solicitamos, portanto, de Vossas Excelências Reverendíssimas que Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior seja imediatamente afastado das atividades de magistério no Sedac e das demais atividades por ele desenvolvidas nas diversas instituições formativas sediadas na Arquidiocese e fora dela tais como direção espiritual de seminaristas, palestras, conferências e celebrações, pois não tem saúde mental para ser formador de futuros presbíteros. Pedimos também que seja afastado de todos os meios de comunicação social em todo e qualquer suporte, isto é, meios eletrônicos, meios impressos, mídias sociais e rede mundial de computadores.

Ou seja: aqueles que escreveram alegadamente movidos por um angélico “desejo de comunhão, unidade, amor à Igreja e ao sacerdócio e a busca de verdadeira justiça, reconciliação e perdão” não desejam perdoar o pe. Paulo Ricardo, não pedem que os (alegados) erros dele sejam corrigidos nem nada do tipo. Os seus objetivos são bem menos nobres: o que eles querem, pura e simplesmente, é que o padre seja impedido de falar sobre o que quer que seja, em qualquer lugar. Não apenas nas instituições formativas (da Arquidiocese ou fora dela), mas em tudo: da mídia impressa à internet. Não pedem simplesmente que ele seja proibido de falar “em nome da Arquidiocese” (o que já seria disparatado, mas era pelo menos possível), mas é muito mais do que isso: querem que ele seja “afastado de todos os meios de comunicação social em todo e qualquer suporte”. Ou seja: querem que nenhum grupo de católicos convide o padre Paulo para pregar em um retiro, que nenhum canal de televisão transmita uma homilia do pe. Paulo Ricardo, que nenhum blog divulgue nenhum dos seus textos, que o site do pe. Paulo Ricardo seja apagado e que o Youtube apague todos os vídeos do sacerdote, entre outras coisas. O que eles pedem, portanto, é, além de injusto (uma vez que não apresentaram absolutamente nada que desabonasse a conduta do sacerdote no seu apostolado em defesa da Igreja Católica), completamente impossível e nonsense. De onde se pode ver com clareza quem é que “não tem saúde mental” nesta história toda.

Isto, enfim, é o resumo de todo este espetáculo lastimável: um grupo de sacerdotes atacando gratuitamente um padre de reconhecido zelo e cujo apostolado é de indiscutível importância para o momento atual que vive a Igreja Católica no Brasil. Uma carta tornada pública por seus próprios autores – os quais, na verdade, fazem exatamente aquilo de que acusam o pe. Paulo Ricardo: promovem a divisão na Igreja, escandalizam os fiéis católicos, e ainda têm a audácia de assinar “[n]a obediência, na fé e na comunhão para nunca mais acabar”! É contra esta injustiça que clama aos céus que nós, católicos, precisamos nos manifestar.

1. Assinemos esta petição em defesa do pe. Paulo Ricardo, que já conta com mais de seis mil assinaturas.

2. Escrevamos respeitosamente para os bispos da Regional Oeste II, falando em defesa do pe. Paulo Ricardo e testemunhando o bem que ele tem feito pela Igreja no Brasil. Os emails são os seguintes:

Dom Milton Antônio dos Santos SDB
Arquidiocese de Cuiabá
dmilton@terra.com.br

Dom Antônio Emídio Vilar SDB
Diocese de São Luís de Cáceres
diocese.vilar@terra.com.br

Dom Derek John Christopher Byrne SPS
Diocese de Guiratinga
djcbb@yahoo.com

Dom Gentil Delazari
Diocese de Sinop
delazarigentil@hotmail.com

Dom Juventino Kestering
Diocese de Rondonópolis
juvake@terra.com.br

Dom Neri José Tondello
Diocese de Juína
nerijosetondello@yahoo.com.br

Dom Protógenes José Luft SC
Diocese de Barra do Garças
domprotogenes@hotmail.com

Dom Vital Chitolina SCJ
Diocese de Diamantino
diocesedtno@uol.com.br

Dom Benedito Beni dos Santos:
Diocese de Lorena (Diocese da Canção Nova)
dbbsantos@uol.com.br

3. Isto é o mais importante: rezemos com mais fervor e mais afinco pelo clero! A fim de que Nosso Senhor olhe com particular cuidado por Sua Igreja, para que Ele nos faça sempre mais firmes na Fé e para que triunfe, o quanto antes, o Imaculado Coração da Virgem Santíssima.

Levantemo-nos em defesa dos bons sacerdotes. Testemunhemos em favor da seriedade do seu trabalho e dos frutos que dele vêm em abundância. Não deixemos que o estardalhaço dos inimigos da Igreja Católica possa prevalecer sobre a serenidade do apostolado católico; não permitamos que as feras selvagens se lancem sobre os jardins cultivados com tanto suor e lágrimas por aqueles que outra coisa não querem que não o triunfo da Igreja Católica e a propagação do Evangelho na Terra de Santa Cruz. Que São Miguel Arcanjo nos proteja – e nos preserve – no Bom Combate, sempre.

“Liberdade Religiosa”: a hermenêutica de Paulo VI

[Publico texto do Andrea Tornielli, em tradução feita a partir da tradução espanhola disponibilizada pelo “La Buhardilla de Jerónimo”, sobre a liberdade religiosa. O italiano traz uma nota de Paulo VI escrita em 1965 sobre o tema, que apresento aqui em português.

Fonte: La Buhardilla de Jerónimo]

Uma das questões “candentes” nos diálogos entre a Fraternidade São Pio X e a Santa Sé é, como se sabe, a interpretação do decreto conciliar Dignitatis Humanae, dedicado à liberdade religiosa. O argumento é atual não apenas no âmbito particular daqueles diálogos: basta pensar no debate historiográfico sobre o Concílio Vaticano II e as duas famosas hermenêuticas assinaladas em dezembro de 2005 por Bento XVI, ou nas discussões suscitadas pelo recente livro do professor De Mattei sobre o Concílio, ou ainda nos convites feitos ao Papa Ratzinger para que ele reconsidere a sua decisão de convocar as religiões mundiais a Assis, no 25º aniversário do encontro desejado por seu (quase beato) predecessor.

É iluminador, a este respeito, ler uma nota manuscrita de Paulo VI, escrita em 1965, quer dizer, em plena discussão conciliar, dedicada à liberdade religiosa. Como é conhecido, aquela difícil declaração na sua formulação definitiva definiu o direito à liberdade religiosa como um direito à imunidade (a fórmila do “nemo cogatur nemo impediatur”, em matéria religiosa ninguém seja obrigado e ninguém seja impedido). Agora, alguns sustentam que o resultado do documento conciliar foi o de colocar [todas] as religiões no mesmo nível, de haver favorecido o indiferentismo e inclusive o sincretismo. Os pontífices, ao contrário, têm sustentado sempre que estas são interpretações errôneas da Dignitatis Humanae. Agora um Papa teólogo – a quem certamente não se pode reprovar por falta de clareza sobre o tema – decidiu convocar uma nova reunião de Assis: pode ser útil reler a nota de Paulo VI que está nas atas do Concílio. Coloco-a integralmente.

* * *

Annotationes Manu Scriptae

De libertate religiosa

6 de maio de 1965

I – Liberdade religiosa

1) Pode ser entendida como direito natural (e, portanto, digna de respeito por todos como direito natural e, por isso, digna de respeito e de defesa também pela Igreja, fundada na dignidade e na liberdade de consciência da pessoa humana).

2) Ou [pode ser entendida também] como direito positivo de facto, como na prática a concebe e regula a sociedade atual. Em uma sociedade pluralista, como hoje é em toda parte, e segundo o princípio cristão que distingue duas autoridades: césar e Deus, não se reconhece à autoridade civil o direito de legislar em matéria religiosa. Resulta [daí] que toda religião de facto deve ser respeitada e protegida pelo Estado, no exercício ordenado de sua atividade, no âmbito da ordem pública e em respeito às opiniões dos outros. Este estado de coisas é sem dúvidas aceito hoje pela Igreja, que o define melhor como “tolerância” do que como direito natural. Murray (Aggiorn. Soc. p. 307 – apr. 1965) disse superada a teoria da tolerância referente ao Estado. Mas e referente à Igreja? O Estado não pode ser juiz da verdade religiosa, e por isso deve reconhecer aos cidadãos a “liberdade” de pensar religiosamente como eles crêem. A Igreja, ao contrário, está segura da própria verdade religiosa e por isso a) não podendo impô-La obrigando os outros a aceitarem-Na, b) deve tolerar que os outros sejam livres frente a ela.

3) Pode ser entendida como imunidade de coações externas; liberdade de (nemo cogatur); e como capacidade (jurídica ou de facto) de professar uma religião; liberdade para (nemo impediatur), dentro de certos limites da ordem pública, de respeito aos demais, da moralidade pública, etc.

4) Pode referir-se à pessoa individualmente, e pode referir-se a grupos, associações, comunidades. E pode referir-se à Igreja em respeito ao Estado, quando a Igreja reivindica a própria liberdade religiosa; e pode referir-se ao Estado que deve conceder e tutelar a liberdade religiosa – tanto pluralista, quer dizer, em igual forma e medida para toda religião, quanto preferencial, para a religião própria do povo em seu conjunto, da nação (história, consciência popular, etc.).

II – liberdade religiosa

1) Pode ser estudada nas manifestações históricas, tanto do Antigo Testamento e dos diversos povos quanto na vida e nos documentos da Igreja; e deve ser estudada nos pensamentos de Cristo, no Evangelho e no [Novo?] Testamento em geral, tanto sob o aspecto “nemo cogatur” (cfr. por exemplo a parábola do trigo e do joio, ou ainda Lc. 9, 55: nescitis cuius spiritus estis, ou ainda Jo. 18, 11: mitte gladium tuum in vaginam) quanto sob o aspecto do “nemo impediatur”, referido à liberdade de pregar e testemunhar a verdade religiosa (cfr. os mártires).

2) Pode ser estudada todavia:

– como liberdade do ato de fé, na pessoa individual; aspecto fundamental que reconduz a consideração ao direito da consciência individual.
– como liberdade da autoridade da Igreja, de exercer Sua missão e de governar-Se segundo Suas próprias leis em Sua deontologia interior.

3) Não se deve confundir com a indiferença, o agnosticismo, a indeterminação, etc., quer dizer, com uma liberdade negativa. Deve estabelecer-se, ao contrário, sobre

– o dever da busca à verdade;
– o dever da fidelidade à verdade;
– o dever do ensino da verdade;
– o dever da profissão e da defesa da verdade religiosa, que é objetivamente uma só e que em sua plenitude é a da Revelação Cristã, guardada e ensinada pela Santa Igreja Católica.

E sobre seu aspecto prático: vantagens e méritos.

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Original: Sacri Palazzi

Tradução para o espanhol: La Buhardilla de Jerónimo

Cardeal Castrillón: “Fellay reconheceu o Concílio Vaticano II”

Em entrevista ao Corriere della Sera, que chegou até mim pelo Rorate Caeli [ pdf em italiano aqui ], o cardeal Castrillón afirma: “A plena comunhão chegará. Na nossa conversa, Mons. Fellay reconheceu o Concílio Vaticano II, o reconheceu teologicamente. Restando apenas algumas dificudades”.

Parece-me sem dúvida uma excelente notícia. A repercussão e comentários só os terei amanhã. É provável que Jorge comente o assunto antes de mim.