Na avaliação da possibilidade em viver, na fidelidade e alegria, o carisma do celibato, como um dom total da própria vida à imagem de Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja, tenha-se presente que não basta certificar-se da capacidade de abstinência do exercício da genitalidade, mas é necessário igualmente avaliar a orientação sexual segundo as indicações promulgadas por esta Congregação. A castidade para o Reino, de facto, é muito mais do que uma simples ausência de relações sexuais.
Já estão disponíveis no site do Vaticano as “Orientações para a utilização das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio”, das quais foram retiradas as linhas em epígrafe. Só existe uma única referência no texto às “tendências homossexuais fortemente enraizadas”, no seu nº. 10 e, mesmo assim, entre parênteses (literalmente) e ao lado de outros exemplos de “graves imaturidades”.
O texto fala que a vocação vem de Deus, mas mediante a Igreja (n. 1); fala que existem algumas virtudes humanas que são necessárias a quem deseja ser sacerdote (n. 2); fala sobre as qualidades exigidas dos formadores e da suma importância de não cometer erros no discernimento vocacional (n. 3-4); fala no contributo que a psicologia pode dar ao discernimento vocacional dos que aspiram ao sacerdócio, na identificação das suas qualidades e limitações humanas (n. 5), deixando claro que os especialistas nesta área devem agir “sempre com o prévio, explícito, informado e livre consentimento do candidato” (id. ibid); enaltece a utilidade destes especialistas (n. 6) e dispõe que a sua utilização nos diversos seminários deve ser feita “com fidelidade e em coerência com os princípios e as directrizes do presente Documento” (n. 7).
Fala sobre as etapas do discernimento vocacional, desde os momentos iniciais (n. 8) até o período de formação propriamente dita (n. 9), afirmando que o “caminho formativo deverá ser interrompido no caso do candidato, apesar do seu empenho, do apoio do psicólogo ou da psicoterapia, continuar a manifestar incapacidade para enfrentar de modo realista, ainda que com o progresso do crescimento humano, as suas graves imaturidades” (n. 10). Reafirma o direito da Igreja de julgar quem é apto para o ministério sacerdotal e quem não é (n. 11), afirmando igualmente que isto não pode ser feito em detrimento da boa foma do candidato e garantindo assim a confidencialidade das informações que forem utilizadas para o seu discernimento vocacional (n. 12).
Lembra ainda o documento que o discernimento vocacional é feito tanto no foro externo (n. 13) quanto no interno (n. 14), dizendo que o especialista em psicologia, quando solicitado, poderá prestar auxílio tanto ao candidato quanto aos formadores (n. 15). Dispõe sobre os cuidados que devem ser tomados com a admissão de pessoas que já saíram ou foram expulsas de outros seminários (n. 16), e conclui recordando a responsabilidade de “[t]odos os que (…) estão envolvidos na formação” do futuro sacerdote no bom êxito do processo de discernimento e formação sacerdotal (n. 17). Termina o documento dizendo que “[o] Sumo Pontífice Bento XVI, no decurso da Audiência concedida em 13 de Junho de 2008, ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito, aprovou o presente documento e autorizou a sua publicação”.
Claro que o documento é muito mais rico do que o simples resumo feito acima é capaz de revelar; é, portanto, impressionante que ele tenha sido transformado pela mídia em um simples e caricato “Vaticano recorrerá a psicólogos para evitar seminaristas homossexuais”! Tal reducionismo é grotesco. O documento prevê o auxílio da psicologia “para uma avaliação mais segura da situação psíquica do candidato, das suas atitudes humanas na resposta ao chamamento divino, e para um auxílio posterior no seu crescimento humano” (n. 5); é portanto mentira dizer simplesmente, como a FOLHA (republicando a France Press) acima citada, que “[o] Vaticano anunciou (…) que recorrerá a psicólogos para avaliar se os candidatos a entrar nos seminários são homossexuais”.
Claro que – graças a Deus – este documento da Congregação para a Educação Católica aponta o homossexualismo como um problema, e veta o ingresso às ordens sagradas àqueles que não forem capazes de o superar. Muito oportuno também o documento em lembrar que o Sagrado Celibato “é muito mais do que uma simples ausência de relações sexuais”. Mas ele é, sem dúvidas, mais abrangente do que uma mera renovação da condenação ao homossexualismo. Rezemos ao Senhor da Messe, para que ele nos mande sempre santos pastores; que os ministros de Deus estejam à altura da dignidade que possuem, para que a Igreja seja exaltada e as almas possam ser salvas. Que a Virgem Maria abençoe os sacerdotes e seminaristas.