Santidade e vocações

Hoje, 31 de janeiro, recordamos em particular São João Bosco, fundador da Família Salesiana e padroeiro dos jovens. Neste Ano Sacerdotal, eu gostaria de invocar sua intercessão para que os sacerdotes sejam sempre educadores e pais dos jovens; e para que, experimentando esta caridade pastoral, muitos jovens acolham o chamado a dar a vida por Cristo e pelo Evangelho.

– Bento XVI, Angelus, 31 de janeiro de 2009

Achei este pedido do Papa particularmente feliz. Vocações, e fidelidade à vocação. Não apenas que os jovens decidam seguir a Cristo; mas também que, uma vez que o façam, sejam sempre educadores e pais dos jovens.

Educadores da educação verdadeira, que nada tem a ver com a mera “informação” sobre assuntos diversos tão comum nos nossos dias. Educação que é verdadeira formação, e formação do ser humano integral – não mera erudição.

Pais, de paternidade espiritual, daquela que fala São Paulo. Há carência de pais espirituais, de homens sábios e santos que possam ser, para a vida espiritual, aquilo que os pais naturais são para a vida física. Na ordem da natureza, todo mundo precisa de pais. Isso não é menos verdade na ordem da graça; mas, infelizmente, é muitas vezes menosprezado.

Não basta que haja vocações, é preciso que sejam vocações santas. E, mesmo assim, é preciso que haja vocações, porque ninguém é insubstituível neste mundo, nem vai perdurar para sempre. Mas a santidade é difusiva de si mesma e, por isso, o Papa assim pede, nesta ordem: que os sacerdotes sejam santos, e que os jovens atendam aos chamados do Altíssimo. Se os sacerdotes forem santos, não faltarão vocações. A “crise de vocações” bem pode ser vista como uma crise de santidade no clero. Padre santo, povo piedoso – e a veracidade deste ditado é empiricamente verificável nos nossos dias.

Lembrei-me daquele texto sobre os coroinhas – profundamente verdadeiro! – que nem sei se cheguei a citar aqui; caso contrário, faço-o agora, fazendo coro aos pedidos do Papa Bento XVI: que os ministros do Deus Altíssimo sejam santos, e que os jovens possam dar generosa resposta a Nosso Senhor que os chama.

De fato, convivendo com o sacerdote, os pequenos iam percebendo a importância daquele homem que era tão procurado: visitava os doentes, confessava os penitentes, aconselhava casais em crise, julgava dissídios na comunidade, pregava o Evangelho, celebrava a Santa Missa. E mais: os pequenos viam a piedade do padre, breviário em punho, mergulhado na oração.

Talvez esse tempo se recupere. Talvez não. Pode ser que, neste século pós-moderno, outras atividades mais importantes gastem todo o tempo dos novos sacerdotes, competindo com sua missão específica. Pode ser que agendas entupidas tornem incômoda a presença daqueles pardais. Pode ser que o pároco pareça um homem infeliz, um burocrata do altar, permanentemente irritado e insatisfeito, um autêntico “espanta-nenê”….

Nesse caso, é melhor que não haja mesmo crianças por perto.

Recomendando

1. Blog do Pe. Elílio: Convite ao eclesiocentrismo. “[O] eclesiocentrismo bem entendido é a alternativa ortodoxa a toda e qualquer «cosmolatria», pois que é incompatível com toda «exaltação» do mundo. O eclesiocentrismo é hoje rejeitado porque parece que só se pode falar bem do mundo e mal da Igreja; de outro modo, somos tachados de «pré-conciliares». (…) Ora, o «mundo» pelo qual o Senhor não rezou (cf. Jo 17,9) e que nós somos chamados a não amar (cf. 1Jo 2,15) condensa uma existência afastada de Deus e contrária a seus desígnios. Não podemos ser ingenuamente otimistas com relação ao «mundo», a ponto de não reconhecer que nele atuam real e eficazmente forças obscuras e contrárias a Deus. O livro do Apocalipse fala sobejamente da luta travada na história entre as forças do bem e as do mal. Santo Agostinho diz a mesma coisa com os conceitos de «cidade de Deus» e «cidade terrestre» em constante litígio entre si. A «adoração» do mundo é fruto do otimismo ingênuo que tem vigorado na mentalidade dos católicos nas últimas décadas. Fruto desse mesmo movimento é a relativização ou marginalização da Igreja”.

2. Blog do Pe. Clécio: Grupo de Coroinhas – celeiro de vocações. “De fato, convivendo com o sacerdote, os pequenos iam percebendo a importância daquele homem que era tão procurado: visitava os doentes, confessava os penitentes, aconselhava casais em crise, julgava dissídios na comunidade, pregava o Evangelho, celebrava a Santa Missa. E mais: os pequenos viam a piedade do padre, breviário em punho, mergulhado na oração”.