O Grupo Gay da Bahia divulgou ontem a versão 2012 do seu já famoso levantamento sobre os crimes “homofóbicos” no Brasil; isto motivou um nada educado bate-boca no Twitter entre o Danilo Gentili e o Jean Wyllys e, na esteira da polêmica, o deputado ex-BBB abordou o mesmo assunto em um artigo publicado hoje no “Brasil 24/7”. Aproveito o ensejo para fazer alguns comentários sobre o assunto.
1. Sinceramente, não é de hoje que os dados do GGB são uma piada. Na tentativa desesperada de encontrar uma justificativa estatística para o coitadismo patológico do qual vive o Movimento Gay, vale tudo: segundo a matéria do Estadão supracitada, estes alardeados números da homofobia no Brasil incluem «suicídios, casos em que as vítimas foram confundidas com homossexuais e mortes de brasileiros no exterior». E olhe que o jornal nem citou aquela que é (de longe!) a maior causa de violência entre os gays: crimes passionais cometidos por outros gays. Oras, e desde quando um gay que é espancado por pit-boys na Av. Paulista é a igual a uma lésbica que se suicida ou a um travesti drogado que é morto por traficantes? No entanto, para esta gente, tudo isto é a mesma coisa e é tudo homofobia! Os números precisam ser defendidos a todo custo, pois somente eles têm o condão de legitimar a militância gay!
2. Antes que reclamem que estou citando dados de segunda mão (v.g. matéria d’O Estado de São Paulo, que – sei lá! – pode ser acusado de ser um veículo homofóbico…), eu me justifico antecipadamente: os “números da homofobia no Brasil” são dados completamente esotéricos e fora do alcance dos simples mortais! Quando a gente quer procurar o relatório completo, é um ninguém-sabe-e-ninguém viu. Entrei no site do GGB e lá não tem nada. Procurando no Google também não consegui achar coisa alguma. Nós estamos no século XXI! Se este pessoal quisesse realmente ser levado a sério, o relatório completo e detalhado estaria disponível na internet antes mesmo que os jornais falassem sobre o assunto. Mas de repente a mídia inteira começa a falar sobre isso e, quando a gente procura as fontes originais, não as encontra. Isto é democracia? Isto é transparência? Isto é debate honesto sobre alguma coisa?
3. Eu já havia reclamado da mesma coisa há dois anos; o que eu escrevi à época, vale perfeitamente ainda hoje. Mesmo quando os dados estão na internet, eles não permitem concluir o que pretendem provar. Ao contrário até: homofóbico e ofensivo aos homossexuais é classificar despudoradamente certos assassinatos como crimes de ódio. Cito-me integralmente (falando então sobre o levantamento de 2010, mas poderia dizer a mesmíssima coisa para o de 2011 ou para este atual):
A morte de qualquer pessoa, homossexual ou não, é um crime horrendo que deve ser punido com rigor. Isto está fora de qualquer discussão. No entanto, chega a ser embaraçoso ter que falar isso, mas a militância Gay não parece ter nenhum respeito nem mesmo pelos homossexuais que ela, supostamente, representa. Nenhum tipo de arrazoado sólido pode ser construído com base em mentiras, meias-verdades ou dados de procedência (pra dizer o mínimo) duvidosa. Perguntei e re-perguntei, à minha interlocutora nos emails acima, onde estava a lista dos homossexuais mortos “por crime de ódio” no Brasil. Acabou que ela me enviou esta notícia do Grupo Gay da Bahia, onde pode também ser encontrada esta tabela.
A primeira coisa que salta aos olhos é a completa ausência de fontes detalhadas em um documento que se pretende “relatório completo”. E, sem isto, é impossível diferenciar (e tal diferenciação é fundamental para que se possa falar em “crime de ódio”) um assassinato violento de um assassinato violento motivado pelo fato da vítima ser homossexual. Aliás, não fui eu o primeiro a lançar esta objeção! O senhor Luiz Mott já a levantou e já “respondeu”:
Ao se questionar a presença da homofobia nos crimes contra homossexuais, o Prof.Luiz Mott contraargumenta: “quando se divulgam estatísticas de crimes contra mulheres, negros, índios, não se questiona se foram ou não crimes motivados pelo ódio, sem falar na subnotificação dos “homocídios”. Nos crimes contra gays e travestis, mesmo quando há suspeita do envolvimento com drogas e prostituição, a vulnerabilidade dos homossexuais e a homofobia cultural e institucional justificam sua qualificação como crimes de ódio. É a homofobia que empurra as travestis para a prostituição e para a margens da sociedade. A certeza da impunidade e o estereótipo do gay como fraco, indefeso, estimulam a ação dos assassinos.”
Oras, e qual pode ser a relevância de um “estudo” que, por definição, justifica-se a si mesmo? Aparentemente, pela lógica do sr. Mott, todo assassinato de homossexual é crime de ódio. “Mas ele era envolvido com drogas”; “ah, é a homofobia institucional que empurra o homossexual para as drogas”. “Mas isto foi um crime passional por conta de prostituição”; “ah, é a homofobia cultural que faz com que o homossexual seja forçado a se envolver com prostituição”. E, francamente, estas declarações são profundamente ofensivas para os homossexuais que não são usuários de drogas e nem se envolvem com prostituição. Na verdade, isto sim é que é homofobia!
4. Não gosto do Gentili (nem do Rafinha Bastos ou congêneres) e, no caso presente, o humorista acabou prestando um grande favor à causa gay. É bastante óbvio que o tweet dele foi uma piada de baixo nível, e não um argumento; mas o Jean Wyllys não perdeu a oportunidade de confeccionar o espantalho e argumentar longamente contra a tese de que «a estatística de 336 homicídios em 2012 motivados por homofobia (numa proporção de um homossexual morto a cada 26 horas) seria irrelevante já que, no mesmo período, a taxa de homicídios em geral é de mais 50 mil». Oras, a desonestidade das estatísticas gays não se revela quando a gente compara as mortes supostamente homofóbicas com os homicídios em geral, mas sim quando a gente percebe que suicídios, criminalidade comum (drogas, prostituição, etc.) e assassinatos passionais entre gays são classificados como “crimes homofóbicos”! Sobre isto ninguém fala nada, porque é o calcanhar de Aquiles da retórica homossexual vazia. E, para o Movimento Gay, é preciso forçar a todo custo uma cultura de animosidade que possa garantir a sobrevivência do seu discurso de coitadismo, mesmo às custas do bom senso e da verdade dos fatos. Na base da auto-vitimização e do populismo barato é muito fácil. Dedicar um artigo prolixo e cheio de apelo sentimental para desmontar um espantalho é chutar cachorro morto.