Não assisti a Santa Missa hoje às onze horas; lá chegando, fui avisado que não haveria missa porque o pároco estava doente. Na igreja, algumas pessoas entravam para rezar; pedi à Virgem Santíssima, Salus Infirmorum, que olhasse com particular cuidado pela saúde do reverendíssimo sacerdote.
Dia dos pais, almoço em família, domingo corrido; só às sete horas da noite foi que pude assistir missa aqui perto de casa. Tenho o grave defeito de esquecer com excessiva leviandade as más experiências do passado; sempre que vou à referida missa, arrependo-me amargamente. Não que a Liturgia em si seja tão mal celebrada, não que o sacerdote seja um fervoroso adepto da Teologia da Libertação nem nada disso; o problema é que, uma vez que se toma consciência da grandeza da Santa Missa, sofre-se em demasia com pequenas coisas que, em outras épocas, passariam despercebidas. Minha excessiva sensibilidade faz com que nem todos os ambientes propiciem-me a piedade necessária para a assistência frutuosa do Santo Sacrifício. É doloroso, mas é assim que sou.
Incomoda-me o excessivo número de acólitos (e acólitas…) no altar, a música do violão em ritmo dançante, a homilia demasiado longa e cansativa, a feira na qual se transforma a igreja na hora da Pax Domini; e, ao final de tudo isso, o absurdo tempo gasto entre a postcommunio e a bênção final clama aos Céus vingança!
Avisos – tudo bem. Prestação de contas do mês anterior – fora de lugar, mas vá lá. Homenagem pelo dia dos pais – aceite-se. Mas a homenagem tinha que ser um sorteio de lembrancinhas entre os pais presentes, cinco ou seis prêmios, com o padre chamando os números lá do altar e os felizardos, desleixadamente, subindo o presbitério – sob uma chuva de aplausos – para receber o seu brinde? Após todos os sorteios (uns bons dez minutos), uma senhora subiu ao ambão para recitar uma homenagem aos pais. Após, o violeiro começou a fazer a sua própria homenagem: “esses seus cabelos brancos – bonitos; esse seu olhar cansado – profundo”… Engraçado: neste exato momento, uma senhora – de cabelos brancos bonitos e olhar mais cansado do que o normal com a demora da bênção final – levantou-se e saiu da igreja…
Enquanto a música tocava, aconteceu algo espetacular: um bêbado andrajoso entrou na igreja. O cheiro de cachaça era perceptível à distância. Molhou o dedo na água benta, fez uma demorada genuflexão (era notório o esforço despendido neste movimento) e um sinal da cruz lutando contra a ausência de coordenação motora. Levantou-se, apoiando-se no chão, voltou à porta da igreja e fez mais uma genuflexão antes de sair. Algumas pessoas olhavam para ele em tom de censura; eu, ao contrário, olhava-o admirado.
Devem ter percebido, porque não chegaram junto de mim para fazer nenhum comentário depreciativo. A resposta estava na ponta da língua: o bêbado era mais santo do que a maior parte dos que lá estavam (eu próprio, reclamando interiormente pela maçante sucessão de homenagens, em primeiro lugar desta lista): no meio da bagunça mundana dos sorteios e músicas profanas, o bêbado viu que estava na casa de Deus. Enquanto algumas pessoas passavam displicentemente de um lado a outro do altar, o bêbado fazia uma genuflexão profunda (e, no caso dele, o movimento era particularmente difícil!). Enquanto as pessoas conversavam e murmuravam, ele rezava. Quando todos pareciam esquecer o lugar onde se encontravam e o evento que presenciavam, o bêbado entrou na igreja para lembrá-los diante de Quem estavam e como deveriam se portar. Deu o melhor exemplo católico da noite! E não era o Evangelho do dia, mas me veio inevitavelmente à memória: “os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21, 31b)…