Curtas pró-vida

Bravo Liechtenstein! No último domingo, o pequeno principado – de pouco mais de 35.000 habitantes em 2007 – rejeitou a legalização do aborto em um referendo. O mais impressionante foi a atitude do príncipe herdeiro, “que disse em um discurso no mês passado que usaria seu poder de veto para impedir a descriminalização do aborto”. Eis um governante digno do cargo que ocupa!

Lembrei-me da Polônia que, no início do mês, por pouco não logra semelhante êxito. «Com 78 deputados ausentes na câmara e 5 abstenções, houve 186 votos a favor e 191 contra um histórico projeto de lei para proibir completamente o aborto na Polônia». Por muito pouco. Rezemos ao Bem-Aventurado João Paulo II para que, da próxima vez, consigamos esta tão importante vitória.

Entre estas pequenas vitórias, contudo, destaca-se tristemente que ativistas gays tenham cortado a conta de PayPal de Julio Severo. O precedente é preocupante. Junto com o Julio Severo, outros dois sites cristãos estão sob investigação. «Para assinar uma petição contra a perseguição de cristãos pró-família visados pela campanha do PayPal, clique aqui».

E hoje é dia de São Pio de Pietrelcina. Li sobre o velho Franciscano, a Confissão e El Aborto aqui. Proféticas as palavras dele: El día en que los hombres, asustados por el estampido económico, de los daños físicos o de los sacrificios económicos, pierdan el horror del aborto, será un día terrible para la humanidad. Sim, vivemos em dias terríveis! Que os enfrentemos com galhardia, esperando – mesmo contra toda a esperança! – n’Aquele que venceu o mundo.

Pena de Morte e Clemência

A Doutrina Católica sempre reconheceu a legitimidade do recurso à pena de morte quando esta é a única maneira de defender a sociedade e punir justamente o agressor. Os argumentos pela sua licitude, creio, são já amplamente conhecidos – e, conforme entendo, os “argumentos” dos que são contra ela em princípio resumem-se a um chororô naturalista e, absolutamente, não respondem às objeções dos que sempre defenderam ser permitido aos poderes públicos punirem certos crimes com a pena capital. Para quem tiver ainda alguma dúvida sobre o assunto, é imprescindível a leitura deste texto do Corção.

Uma coisa, no entanto, são os princípios que a dizem legítima e, outra, são as circunstâncias concretas nas quais ela pode ser legítima ou não. Imagino que não haja ninguém defendendo que seja lícito condenar a morte em quaisquer circunstâncias. A divergência quanto a questões de fato, neste caso, é perfeitamente legítima: de tal modo que um católico, embora não possa defender que a pena de morte é injusta em si mesma, é não obstante livre para julgá-la justa ou injusta diante de cada caso concreto.

Li hoje que o Comitê de Indultos da Geórgia (USA) negou um pedido de clemência para Troy Davis, homem negro condenado à morte pelo assassinato de um policial branco após um processo, ao que parece, bastante questionável – para dizer o mínimo. Segundo o portal de notícias do Terra, «[d]esde que foi condenado em 1991, sete dos nove testemunhas policiais se retrataram dos depoimentos alegando coerção e intimidação por parte da polícia».

um abaixo-assinado da Anistia Internacional para que se pare a execução – que ocorrerá amanhã, dia 21 de setembro. Eu não conheço os detalhes específicos deste caso e, portanto, não sei dizer se a pena é justa. Sei, contudo, que se deve evitar a todo custo condenar um inocente, como sei também que a criação de um “mártir” pode tornar (ainda mais) difícil a discussão racional sobre o assunto…

E sei também que, em todo caso, precisa de orações o sr. Troy Davis; para que encontre clemência se for inocente ou, se executado, para que aceite a expiação. E, inocente ou culpado, perdoado ou executado, que possa encontrar a Clemência do Justo Juiz, a única que – no final das contas – realmente importa. Que seja em favor dele a Virgem Santíssima. Que Deus possa mostrar-lhe misericórdia.

O reino dos papa-bostas

Durante muito tempo as pessoas souberam a diferença entre o início e o fim do sistema digestório humano. Desde tempos imemoriais as crianças aprendiam – na escola e no dia-a-dia – que uma coisa era a comida que elas botavam para dentro e, outra coisa, os dejetos que elas botavam para fora. Em hipótese alguma era permitido confundir essas duas coisas.

Também desdes tempos imemoriais, contudo, alguns indivíduos pareciam não se adaptar àquele exigente estilo de vida. Sempre houve aquelas pessoas que, por razões quaisquer, desenvolviam uma compulsão por ingerir os próprios dejetos ou os de outras pessoas. O hábito, nojento e repugnante, sempre foi repudiado com veemência pela sociedade. Ser papa-bosta era um sinal de infâmia e de vergonha, e os que padeciam de tão estranho prazer queriam se libertar dele mais do que qualquer outra coisa no mundo. Havia também, contudo, aqueles que não conseguiam se libertar de seus hábitos alimentares; estes, comiam fezes somente às escondidas, às escuras, sozinhos, como quem comete uma espécie de crime do qual as demais pessoas não podem tomar ciência.

Um dia isso mudou. Não se sabe bem por qual motivo, um dia os papa-bostas cismaram que tinham o direito de comer bosta mesmo e ai de quem não gostasse. Pior: todos tinham que gostar. Disseram que tinham direito de escolher o que comiam, que a boca era deles mesmo e, nela, eles colocavam o que melhor entendessem. Disseram que com isso não estavam fazendo mal a ninguém, e era um absurdo injustificável que, em pleno século XXI, os degustadores de detritos (o primeiro dos nomes pomposos que se auto-atribuíram) fossem discriminados.

As pessoas normais reagiram com estranheza. Como alguém poderia se orgulhar de ser um papa-bosta?! No entanto, toleraram. Pensavam: “eles que comam a bosta deles para lá!”. Não sabiam, no entanto, que eles queriam muito mais do que isso.

Por serem olhados com estranheza, passaram a dizer que eram vítimas de preconceito e de tratamento desumano pelo simples fato de terem gostos alimentícios diferenciados. Passaram a combater com virulência a comidanormatividade alimentícia! E mais: a injustiça era ainda mais gritante porque o gosto por fezes, como é óbvio, não era uma escolha e sim uma condição. A pessoa nascia gostando (ou não) de comer detritos! Não era justo discriminar uma pessoa por aquilo que ela é: mulher, negro ou papa-bosta… Aliás, este termo passou a ser rapidamente considerado ofensivo e indigno de uma sociedade civilizada. Os degustadores de detritos, agora, queriam ser chamados escatófagos.

Muitos reagiram: “Sim, é verdade que cada um come o que quiser, mas eu não quero passar pela experiência desagradável de estar num restaurante e ver alguém comendo bosta na mesa ao lado, nem quero que meu filho adquira estes hábitos por conviver com gente assim”. Os papa-bostas urraram: escatofagofobia! Escatofagofobia! O termo (recém-cunhado) designava, segundo os seus inventores, o ódio irracional pelas pessoas que, ao fim e a cabo, gostavam de comer bosta. Era inadmissível que os seus gostos alimentares fossem considerados inferiores aos dos demais. Era intolerável existir alguém que não tolerasse um escatófago.

Rapidamente, jurisprudências em favor dos papa-bostas foram estabelecidas. Se alguém entrasse em um estabelecimento qualquer comendo bosta e fosse maltratado, o dono do estabelecimento era punido. A escatofagofobia, argumentavam os papa-bostas, matava centenas de milhares de escatófagos por ano. Se um pai descobria que a babá contratada por ele para tomar conta do seu filho era papa-bosta, e a demitia, os tribunais o condenavam a pagar pesadas indenizações. Ninguém podia nem mesmo recusar-se a contratar um candidato para um emprego pelo fato dele ser um papa-bosta. Os hábitos alimentares, diziam, não influenciavam nada na capacidade de exercer a sua função. O resto era puro preconceito.

As pessoas ficaram perplexas, mas pouco fizeram. Os papa-bostas passaram a se organizar em grandes manifestações de ruas, chamadas paradas, onde as pessoas lambuzavam-se publicamente com as fezes umas das outras. Faziam uma grande festa, atraíam muitas pessoas, dançavam e bebiam e papavam bosta e diziam que isso era tudo muito natural. Reivindicavam a criminalização da escatofagofobia, i.e., que nenhum papa-bosta fosse tratado como um ser humano inferior. Que fossem presos os que pensassem diferente.

Grupos mais conservadores rapidamente começaram a dizer que isto era errado. Os papa-bostas reagiram chamando-os de escroques fundamentalistas e retrógrados, escatofagofóbicos calhordas, dizendo que a única base que eles possuíam para dizer que era errado degustar detritos era um livro velho escrito há milhares de anos que continha um monte de proibições absurdas que, hoje, não eram levadas a sério por ninguém. A violência da reação foi tão grande que os conservadores, no primeiro momento, se retraíram. Os papa-bostas comemoram publicamente.

Foi iniciada uma campanha de inclusão cidadã da escatofagia. Nas escolas, as crianças eram apresentadas a materiais educativos que diziam ser normal comer fezes. A experiência escatofágica era estimulada. Os papa-bostas eram apresentados como pessoas de bem, modelos famosas, executivos de sucesso, bons pais de família, excelentes cidadãos. A figura da mãe obrigando o filho a comer verduras era pintada como se fosse o supra-sumo da opressão alimentar, uma violência sem precedentes e que não podia ser tolerada. Psicólogos renomados subscreviam esta tese. Um escatófago – diziam – não ia deixar de sentir vontade de comer fezes porque sua mãe lhe forçara a comer verduras. Ao contrário, o que ele devia fazer era se assumir, sair do banheiro e ser feliz.

Os conservadores, percebendo as dimensões que a loucura estava tomando, resolveram se manifestar. Mas a tropa dos papa-bostas já tinha tomado grande parte das estruturas de poder social, da imprensa aos órgãos de governo. Quando um conservador dizia que comer bosta fazia mal, rapidamente diziam que isto era puro preconceito dele. Quando ele mostrava a maior incidência de infecções intestinais em pessoas que tinham o hábito de comer bosta, os escatófagos rapidamente diziam que isto era justamente devido ao preconceito social que os papa-bostas sofriam – que os forçava a praticarem a escatofagia em ambientes e condições pouco adequados. Quando um conservador dizia que a boca foi feita para alimentar o corpo, os papa-bostas o ridicularizavam dizendo que as pessoas já há muito comiam para ter prazer, e não somente para se nutrir. Ousaram dizer que era anti-natural comer bosta, só para ouvirem os escatófagos listarem as inúmeras ocorrências de animais que comiam as próprias fezes, provando assim que a escatofagia era, na verdade, uma exigência da natureza.

No fim, foram vencidos. Humilhados impiedosamente, foram se tornando cada vez mais odiados pelas novas gerações. Muitos se renderam aos “novos tempos” e passaram até mesmo a gostar dos papa-bostas. De vez em quando, para não serem olhados com muita estranheza, aceitavam participar de uma degustação fecal. Outros tantos foram presos por escatofagofobia, e não se sabe ao certo o que aconteceu com eles. Alguns outros simplesmente foram embora, buscando algum rincão do mundo onde pudessem simplesmente se estabelecer e viver em paz; onde pudessem educar os seus filhos ensinando-lhes que é errado comer bosta, da forma como eles próprios foram ensinados. A verdade é que, no fim, quase nenhuma voz dissidente restou. E eles deixaram para trás um mundo sem preconceitos: onde ninguém era tratado como um inferior por gostar de comer detritos. Deixaram para trás um mundo moderno e civilizado, de ruas fétidas, pessoas de mau hálito e doentes. E todos se julgavam felizes por terem conseguido dar mais este importante passo na erradicação do preconceito da humanidade.

Este texto é de ficção.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

A instrumentalização do sofrimento alheio

Esta notícia é uma verdadeira piada: Vítimas de pedofilia denunciam papa à corte internacional. «Uma associação americana de vítimas de padres pedófilos anunciou nesta terça-feira que apresentou uma queixa ao Tribunal Penal Internaiconal (TPI) contra o papa Bento XVII e outros dirigentes da Igreja católica por crimes contra a humanidade».

Solidarizo-me, de verdade, com as vítimas de abusos sexuais. Em tempos mais civilizados – durante as glórias do Medievo, p.ex. -, um sacerdote que traísse de maneira assim tão grave os seus votos seria trancado em um buraco (possivelmente pelo resto da vida) para meditar nos seus pecados sem ver mais a luz do sol e nem ninguém; ou então seria queimado em praça pública para a maior glória de Deus, e seria justo. As pessoas de hoje, no entanto, dizem que estas práticas são bárbaras e que é um absurdo vergonhoso elas terem um dia existido. E, simultaneamente, promovem um terrível linchamento moral sobre qualquer sacerdote – culpado ou inocente – sobre o qual pese a mais remota suspeita de se ter envolvido em escândalos sexuais (de pedofilia ou não), ao mesmo tempo em que pretendem acusar a Igreja por Ela não [mais!] punir os Seus ministros da forma como fazia anteriormente e que é, hoje, execrada pela totalidade do mundo dito “civilizado”.

Eu entendo que o “braço secular” muda ao longo dos séculos, e entendo que fogueiras ou forcas no Largo da Piedade seriam descabidas nos dias de hoje. Mas o mesmo não vale para os aljubes, que poderiam perfeitamente se ter transformado em prisões eclesiásticas (com o mesmo propósito original). Penso que, assim, as coisas seriam melhores.

No entanto, divago; pois não importa como as coisas poderiam ser (e muito menos se seriam melhores ou piores se fossem de uma maneira diferente do que são), e sim como elas são. E o fato é que, hoje, desconheço qualquer existência de foro eclesiástico para crimes civis. Como alguém colocou em alguma lista de emails da qual participo, a instância responsável por investigar uma denúncia de pedofilia (ou do que quer que seja) são as autoridades do lugar onde o fato supostamente se deu, e não a cúria romana [que fica no Vaticano] e nem muito menos o Papa. Qualquer tentativa de responsabilizar estes é pura calhordice, é instrumentalização do sofrimento alheio para fins ideológicos que deve ser denunciada.

A tal associação americana pretende que o Papa tenha “responsabilidade direta e superior por crimes contra a humanidade, por estupro e outras violências sexuais cometidas em todo o mundo”! Vejam que não estamos sequer falando de alguma coisa que (embora equivocada) tivesse um mínimo de lógica, como p.ex. uma suposta recusa em denunciar às autoridades um suposto caso que porventura tivesse acontecido n’alguma circunscrição geográfica (München, p.ex.) pela qual o então Bispo Ratzinger fosse à época responsável. Na verdade, acusam o Papa de ter “responsabilidade direta” pelos casos de abusos sexuais ocorridos em todo o mundo! Seria alguma coisa como (mutatis mutandis) acusa a sra. Presidente da República do Brasil pelos crimes cometidos por brasileiros em qualquer parte do globo terrestre, e levá-la a um Tribunal Internacional acusando-a de omissão e cumplicidade por eles. A idéia, claro, é estúpida; no entanto, algumas pessoas (movidas por um ódio cego e irracional) perdem completamente a noção do ridículo em sua tentativa de lançar lama na Igreja.

Convite – II Congresso Internacional pela Verdade e pela Vida (SP)

Repasso o convite – que recebi por email – para o II Congresso Internacional pela Verdade e pela Vida, promovido pela Human Life International e que acontecerá em São Paulo, no Mosteiro de São Bento, entre os dias 03 e 06 de novembro próximo. Abaixo, as informações mais detalhadas. Os que puderem ir, não percam esta oportunidade!

* * *

Site Oficial: http://congressoprovida.com.br/

Data: 03 a 06 de novembro, 2011.

Local: Mosteiro São Bento (São Paulo)

Os Palestrantes: http://congressoprovida.com.br/palestrantes
Dom João Carlos Petrini, Raymond de Souza, Mario Rojas, Padre Juan Carlos Chavez,
Mons. Sanahuja, Dr. Jorge Scala, Pe. Luís Carlos Lodi e Pe. Paulo Ricardo.

Programação: http://congressoprovida.com.br/programacao
03/11 quinta & 04/11 sexta  – para Sacerdotes e Seminaristas
05/11 sabado & 06/11 domingo  – para Leigos

Universidade Católica recebe simpósio de “Direito Homoafetivo”

Esta semana, nos dias 16 e 17, a Universidade Católica de Pernambuco – Unicap – vai sediar o I Simpósio Pernambucano de Direito Homoafetivo. Causa espécie que um evento desta natureza – de iniciativa “do Diretório Acadêmico Fernando Santa Cruz da Faculdade de Direito da Unicap e do Movimento Gay Leões do Norte” – seja realizado em uma Universidade Católica, cujos princípios são (ou, pelo menos, deveriam ser…) um reflexo fiel da Doutrina Católica, segundo a qual os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados e não podem, em caso algum, ser aprovados.

Mas o que causa ainda mais estranheza é encontrar, entre os participantes do referido evento, o “Prof. Pe. Luís Corrêa – PUC/RJ; Fundador do Grupo Diversidade Católica”. Talvez nem todos conheçam o reverendíssimo sacerdote. O grupo “Diversidade Católica” apresenta-se como “um grupo de leigos católicos que compreende ser possível viver duas identidades aparentemente antagônicas: ser católico e ser gay, numa ampla acepção deste termo, incluindo toda diversidade sexual (LGBT)”. Enganar-se-ia quem imaginasse encontrar neste grupo um chamado à castidade para aquelas pessoas que padecem de tendências homossexuais. Na verdade, este site propaga uma moral frontalmente contrária à Moral Católica, relativizando de uma maneira criminosa o ensinamento constante do Magistério da Igreja e usurpando indevidamente o nome de “Católico” como um engodo para atrair os incautos.

Eis, abaixo, uma pequena coletânea dos ensinamentos nada ortodoxos e nem um pouco católicos do padre Luís Corrêa, em textos escritos pelo próprio e disponíveis na internet para qualquer um:

  • No judaísmo antigo, acreditava-se que o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se unirem e procriarem. O homoerotismo era considerado uma abominação. Israel deveria se distinguir das outras nações de várias maneiras, inclusive pela proibição do homoerotismo. A Igreja herdou esta visão antropológica com sua interdição. No século 19, porém, surgiu o conceito de ‘homossexualidade’, que permite pensar esta realidade de outra maneira. A atração pelo mesmo sexo pode ser entendida como um dado da natureza (in A Igreja e as uniões homossexuais).
  • Em diversas comunidades e ambientes católicos, é crescente a tolerância de padres e religiosos para com fiéis que não seguem à risca a moral sexual oficial da Igreja. Esta tolerância inclui os fiéis homossexuais que possuem companheiros. Há no catolicismo uma forte tendência de adaptação à sociedade contemporânea, sobretudo no nível das bases (in Homossexualidade e Igreja Católica – conflito e direitos em longa duração).
  • Na verdade, nós estamos vivendo uma mudança de paradigma antropológico. Havia uma heterossexualidade universal, ou heteronormatividade, uma suposição de que todo ser humano é feito para o sexo oposto, de que só com alguém de outro sexo se pode constituir uma união sadia, base de uma família respeitável. A homossexualidade foi considerada doença até o início dos anos 1990. Isto ainda está arraigado na sociedade e nas estruturas mentais, que incidem na religião. A Igreja tem dois mil anos, e o peso da tradição é muito forte (in A Igreja e os homossexuais: entrevista com Luís Corrêa Lima).
  • Na Bíblia, há uma cosmologia na qual o mundo foi criado em seis dias e a Terra surgiu antes do Sol e das estrelas. Há uma antropologia na qual o homem vem do barro e a mulher vem da costela do homem. E nessa antropologia também se proibia a união entre dois homens e entre duas mulheres. Não se deve seguir tudo ao pé da letra, como se hoje fosse necessário entender assim (in A homossexualidade não é pecado).
  • O estigma de infâmia e de doença ligado à homossexualidade precisa ser vencido. A aceitação da condição de seus filhos torna a vida de ambos muito melhor e mais feliz (in Carta aos pais dos homossexuais).
  • Mesmo na Espanha, quando o papa afirmou o valor central da família “fundada sobre o matrimônio indissolúvel do homem e da mulher”, alguns entenderam como uma condenação do casamento gay. Ora, exaltar a união heterossexual não significa exortar uma pessoa homossexual a se casar com alguém de outro sexo (…) Tudo isto não significa que a moral da Igreja mudou, mas que há uma nova impostação, um outro tipo de convivência com a sociedade secular (in O ranço moralista).
  • Gays e lésbicas podem encontrar na vertente secular dos direitos humanos um alicerce de ampliação de sua cidadania. Na vertente religiosa dos mesmos direitos, encontram resistências, sem dúvida. Mas também podem encontrar aliados em um cristianismo includente, onde a homoafetividade é vista como parte do desígnio divino, manifesto na criação e bem compreendido pela reta razão (in Homossexualidade, Lei Natural e Cidadania).

Et cetera. Quem tiver estômago, pode navegar pelo referido site para encontrar, em cada página, omissões imperdoáveis sobre aspectos importantíssimos da Moral Católica – quando não a sua negação explícita (veja-se, à guisa de exemplo, a resposta a esta pergunta sobre se o “católico gay” que mantenha um relacionamento está em pecado). O Grupo Diversidade Católica, portanto, não é católico, a despeito do nome que ostente. O pe. Luís Corrêa não defende a reta moral católica, a despeito de ser sacerdote católico. É então um escândalo que um evento desses se realize sob as asas dos Jesuítas de Recife, na Universidade Católica de Pernambuco.

Uma última informação é talvez digna de nota: os seminaristas da Arquidiocese estudam na Universidade Católica. É uma vergonha que a congregação religiosa fundada por Santo Inácio permita na instituição que dirige (e onde estudam os futuros sacerdotes da Arquidiocese de Olinda e Recife!) esta provocativa realização de um simpósio onde a lei de Deus vai ser abertamente contradita, e onde dar-se-ão ares de santidade e de retidão moral ao pecado que brada aos Céus vingança – defendido publicamente inclusive por um padre católico. É uma infâmia que os jesuítas dêem guarida a um simpósio que pretende legitimar a violação do Sexto Mandamento da Lei de Deus.

Os dias em que Deus parecia existir

Poucas coisas me foram tão prazerosas nos últimos dias quanto a leitura deste texto [La fiesta y la cruzada] do Vargas Llosa sobre a Jornada Mundial da Juventude. Para os que tiverem dificuldades com o espanhol, há alguns trechos traduzidos aqui. Não se trata de qualquer articulista. É um Nobel de Literatura e um agnóstico confesso; no entanto, é capaz de escapar à mediocridade intelectual dos não-crentes e reconhecer a beleza do recente encontro católico na capital da Espanha. Ainda que sob uma ótica materialista e incrédula, consegue descortinar um pouco do transcendente.

Afinal, é capaz de reconhecer a beleza destes dias “em que Deus parecia existir e o catolicismo ser a religião única e verdadeira”! E eu, católico, cá de volta ao outro lado do mundo, só posso me alegrar com esta percepção do idoso incrédulo. E me regozijar com uma reconfortante sensação de dever cumprido: na JMJ, nós mostramos que Deus existe e que o Catolicismo é a única Religião verdadeira. E o fizemos de uma maneira tão bem-feita que até mesmo os incrédulos tremeram, e a sua anti-fé foi abalada.

Eu estive em Madrid, e das coisas que fala o Vargas Llosa posso dar testemunho. Definitivamente, nós não éramos turistas levianos em férias de verão; como comentei em outro lugar, nós teríamos coisas muito mais interessantes para fazer se o fôssemos. Enfrentar as intempéries da natureza e as limitações da condição humana – o sol, a chuva, a sede, o calor, o frio, o desconforto, as multidões, o cansaço, et cetera – não é propriamente o que se pode chamar de uma tentadora programação de férias. Mas nós o fizemos – e, como reconhece o articulista agnóstico, “sem acidentes nem maiores problemas”. Nós o fizemos com um sorriso na face, e com um sincero amor a Deus e à Igreja no coração.

Delegação recifense em Madrid! Humberto Carneiro, Claudemir Júnior e Jorge Ferraz

Sorriso na face e amor à Igreja no coração! A alegria e a Fé. A felicidade e a luta. A festa e a cruzada. O Vargas Llosa entendeu perfeitamente aquilo que nós fomos fazer em Madrid. Eu nunca me esqueço do final do “Ortodoxia” do Chesterton, onde o britânico confessa achar que houve alguma coisa que o Deus Altíssimo meio que “escondeu” do mundo quando por aqui esteve, alguma coisa que era grande demais para que Ele mostrasse aos homens. E, na opinião de Chesterton, esta coisa era a Sua alegria. A alegria, que é a pequena publicidade do pagão e o gigantesco segredo do cristão! A alegria cristã revelada em Madrid nos sorrisos dos peregrinos. Na festa que o articulista peruano percebeu.

Não se trata de uma alegria vazia ou superficial – de forma alguma! Trata-se de um contentamento interior que não se abala com as adversidades, de um júbilo que não foge à luta. Não é meramente uma festa, é também uma cruzada. Como eu tive a chance de dizer a Zenit, nós fomos a Madrid para dar «um grande testemunho público de fé diante de uma Europa laicista». Para fazê-lo, era sem dúvidas necessário juntar muitas centenas de milhares de pessoas (de todos os países do globo) ao redor de um homem de branco. Vivemos em uma era em que uma imagem vale mais do que mil palavras; e o quadro pintado em Madrid com cores jovens dos cinco continentes é sem dúvidas mais eloqüente do que quaisquer artigos religiosos que se poderiam escrever. Ter estado na última Jornada Mundial da Juventude foi mais profícuo do que qualquer outra coisa que eu poderia ter ficado fazendo no Brasil.

E o nosso recado foi passado e foi entendido. A Fé não pode ser confinada às esferas do subjetivo e do privado. Ao contrário, a Fé é uma força motriz necessária à construção e à manutenção de qualquer sociedade que se possa pretender minimamente civilizada. A citação das seguintes linhas do La fiesta y la cruzada é um pouco longa, mas eu provavelmente não conseguiria escrever melhor:

Durante muito tempo se acreditou que, com o avanço do conhecimento e da cultura democrática, a religião – esta forma elevada de superstição – iria se desfazendo, e que a ciência e a cultura a substituiriam de longe. Agora sabemos que esta era outra superstição, que a realidade fez em pedaços. E sabemos, também, que aquela função atribuída à cultura pelos livre-pensadores do século XIX (com tanta generosidade quanto ingenuidade), esta é incapaz de cumpri-la, sobretudo agora. […] A cultura não pôde substituir a religião e nem poderá fazê-lo, salvo para pequenas minorias marginais ao grande público. A maioria dos seres humanos somente encontra aquelas respostas (ou, pelo menos, a sensação de que existe uma ordem superior da qual toma parte e que dá sentido e sossego à sua existência) através de uma transcendência que nem a filosofia, nem a literatura, nem a ciência conseguiram justificar racionalmente. E por mais que tantos brilhantíssimos intelectuais tratem de nos convencer que o ateísmo é a única conseqüência lógica e racional do conhecimento e das experiências acumulados ao longo da história da civilização, a idéia da extinção definitiva [da religião] continua sendo intolerável para o ser humano comum e corrente, que continuará encontrando na fé aquela esperança de uma sobrevivência além da morte à qual nunca pôde renunciar. Enquanto não tome o poder político e este saiba preservar sua independência e neutralidade frente a ela, a religião não apenas é lícita como também indispensável em uma sociedade democrática.

Trata-se de um agnóstico rendendo-se à força do testemunho católico, ainda que para fins pragmáticos e com certos preconceitos errôneos quanto às relações entre Igreja e Estado – mas, de qualquer forma, já infinitamente melhor do que os discursos cheios de ódio que nós nos cansamos de encontrar por aí! Porque, até mesmo para o renomado escritor incrédulo, naqueles dias de alegria e de luta Deus parecia existir e a Igreja parecia ser a única Religião Verdadeira. E esta impressão – capaz de romper as barreiras do ceticismo – só foi possível graças à generosidade de milhões de católicos que contribuíram para a grande festa madrileña, para a monumental cruzada espanhola, para a extraordinária jornada católica da qual tomamos parte a fim de mostrar Deus a um mundo sem fé. E, naquela multidão de jovens unidos em uma mesma Fé em torno de um mesmo Chefe, até mesmo os incrédulos puderam vislumbrar a existência do Deus Altíssimo e da Única Igreja Verdadeira. Diante da JMJ, até mesmo os que não têm fé puderam experimentar um desejo – por fugaz que fosse! – de caminhar de mãos dadas com o Vigário de Cristo rumo ao Céu.

O feminismo levará as mulheres à extinção?

Vi recentemente este estudo que apontava para uma possível “extinção das mulheres” (!) em algumas gerações. A previsão é um pouco absurda porque tem a ousadia de olhar muitos séculos à frente [p.ex., diz que “[e]m 25 gerações, o número de mulheres no país [Hong Kong] vai cair dos atuais 3,75 milhões para apenas uma no ano de 2798”]; mas serve para identificar tendências. Serve para fazer o alerta.

Até porque há previsões muito mais próximas e nem por isto menos dramáticas. Esta, p.ex., diz que em 2020 “haverá mais de 24 milhões de chineses sem mulheres para casar”. Não creio que semelhante flagelo tenha já alguma vez se abatido sobre a humanidade. Deste nós podemos nos orgulhar, porque ele é eminentemente moderno. Moderno demais.

E, diante de coisas assim, impressiona-me vivamente este paradoxo do feminismo (quer seja enaltecendo a “realização” da mulher que a faz não casar e/ou não ter filhos – como em Hong Kong -, quer seja defendendo e praticando o aborto – como na China). Que brilhante “defesa” das mulheres esta! Quem jamais ouviu falar em um movimento a favor de uma “classe” que, aplicado, leva à extinção desta classe?

São males modernos. São os frutos da modernidade. É o resultado de um mundo sem Deus.

No tribunal dos homens, é censurada a palavra de Deus

(Foto: Silva Júnior/Folhapress, apud G1)

A imagem acima é de um outdoor originalmente colocado em Ribeirão Preto. Uma liminar da Justiça na última sexta-feira (19 de agosto) determinou a sua imediata retirada. A justificativa do defensor público que entrou com a ação não poderia ser outra: “homofobia”.

A “Parada Gay” pode utilizar-se de caricaturas blasfemas de santos católicos em aberta promoção da homossexualidade. No entanto, os protestantes não podem publicar frases bíblicas retiradas literalmente das Escrituras Sagradas. Esta é a “justiça” dos nossos tempos: a lei de Deus é vilipendiada e não tem direito à exibição pública. As únicas coisas que merecem visibilidade e promoção são as torpezas, as imoralidades, os pecados. A Bíblia Sagrada é “homofóbica”, e condenar o comportamento imoral dos sodomitas é “homofobia”. Ao contrário, censurar pública e oficialmente a palavra de Deus… é “cidadania”, é a única atitude moralmente aceitável pelos novos bárbaros empenhados em destruir a civilização erguida pela Igreja ao longo dos séculos.

O Carlos Ramalhete falou sobre isso em sua coluna de hoje. Nas palavras dele: «Uma opinião minoritária surgida ainda dentro do tempo de vida da maior parte dos leitores deste jornal ganhou na Justiça o direito de calar o texto que, independentemente da crença de cada um, é inegavelmente parte fundamental e inspiradora de no mínimo os últimos 2 mil anos da civilização a que pertencemos». Estes são os tristes dias nos quais vivemos. Estes são os frutos de uma “modernidade” esquecida de Deus. E a história dá testemunho de que tudo é possível quando se esquece de Deus. O comportamento neo-fascista da Gaystapo está ultrapassando – com uma celeridade assustadora – todos os limites da civilidade e do bom senso.

“Não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos”

Eu não achei que fosse viver para ler isto na Folha de São Paulo: «Rodrigo Guerra, diretor do Cisav (Centro de Pesquisa Social Avançada do México), concordou que não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos». E ainda: «o embrião tem capacidades humanas, embora limitadas, e portanto toda a normalidade existente internacionalmente para proteger seres humanos com capacidades diferentes deve se aplicar nestes casos».

Na mídia nacional! Na Folha de São Paulo! É nestes momentos que a evidência é tão evidente que se impõe por si mesma: «Sabemos por experiência empírica contundente que as estruturas precursoras do sistema nervoso central existem desde o momento da fecundação. Desde aí o genoma humano é completo e funcional, e seu metabolismo é autônomo, ou seja, processa energia por si mesmo, embora continue sendo dependente nutricionalmente da mãe».

Respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural: exatamente o que pede a Igreja. É praticamente a mesma conclusão a que chegaram os cientistas liderados por John Haas. E o mais importante é que tal assunto é tratado com a inegociabilidade que merece: o grupo de cientistas «rejeitou a abertura de um debate sobre o tema». Bravo! Certas coisas não se discutem. A certas posições irracionais não é lícito conceder a gentileza de um debate, como se ela fosse algo a priori aceitável.

Enquanto isso, os comentários dos bárbaros inimigos da civilização destilam o mesmo irracionalismo raivoso de sempre. Por exemplo, houve quem dissesse que «John Haas é presidente de um grupo católico anti-aborto (National Catholic Bioethics Center)! Ele está falando como religioso e não como cientista». E (como comentou um amigo) o Dawkins et caterva, militantes anti-religiosos raivosos, porventura falam como cientistas? Honestidade intelectual passa longe dessa gente…