“Parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir” [sobre aborto clandestino]

Após aborto, mulheres entram em hospitais como pacientes e saem indiciadas. Esta é a chamada pró-aborto de uma notícia daqui do Diário de Pernambuco da última segunda-feira. Ao longo da matéria, a crítica aos médicos que – supostamente – acionam as autoridades policiais após perceberem que suas pacientes tentaram cometer o horrendo crime do aborto.

Eu não vou nem comentar o notório viés da “pesquisa inédita” noticiada, que tem entre seus autores o abortista “Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero” (Anis) e em particular a dra. Débora Diniz, escancaradamente pró-aborto. Também não vou comentar a irrelevância estatística do estudo apresentado, que contou com o fantástico número de… 7 (isto mesmo, sete!) mulheres (!). Não sei, também, se o médico (ou qualquer outro profissional) realmente está impedido de chamar as autoridades policiais quando se depara com um crime diante de si.

Vou comentar somente um ponto que talvez passe batido à primeira leitura do texto. Refiro-me ao parágrafo que segue, contando a história de Joana (nome fictício), atualmente “com 27 anos, mãe de dois filhos”:

Depois do primeiro aborto, aos 16 anos, ela recorreu à prática mais três vezes, em um curto espaço de tempo. Chegou a tomar um preparo que incluía boldo e querosene, em certa ocasião. Hoje, casada, mãe de um garoto de 13 e uma menina de três, Joana faz um mea-culpa, mas explica que o desespero toma conta da mulher que se vê diante de uma gestação indesejada. “Acho que agiria diferente se fosse agora. Não sei se teria todos os filhos, mas evitaria engravidar. Naquela época, me faltava juízo”, diz a diarista, que atualmente não descuida do anticoncepcional. Ela acredita que ninguém passa por um aborto impunemente. “Não é por causa de religião, mas acho que um dia serei cobrada. O castigo começa na hora em que você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir.”

Do chocante exposto acima, nós podemos ver que:

i) trata-se de um procedimento amplamente banalizado, a ponto de uma garota fazê-lo quatro vezes (!) em “um curto espaço de tempo” (!) sem que ninguém pareça ter se importado minimamente com isso;

ii) Joana hoje em dia é mãe de dois filhos, o que foi sorte – uma vez que abortos podem provocar esterilidade;

iii) mesmo tendo provocado pelo menos quatro abortos, Joana se arrepende e diz achar que agiria diferente se fosse agora; o que faz com que seja uma tremenda vigarice apresentá-la como exemplo capaz de provocar clamor pela liberação do aborto no Brasil; e

iv) a garota descreve com uma frieza enojante – digna de alguma psicopatia – o procedimento de ocultação de cadáver do seu filho recém-assassinado: «você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir».

Se fosse algum maníaco sexual explicando em detalhes o procedimento de estupro de suas vítimas, a narrativa certamente feriria a susceptibilidade dos leitores e não seria veiculada. Se fosse um assassino explicando pormenorizadamente como se desfez do corpo de alguma vítima (p.ex., cortando em pedaços e jogando aos cachorros), muitos iriam se revoltar com esta frieza doentia. Ora, aqui nós temos uma mulher falando sobre como “se livrar” do cadáver de uma criança (o filho dela!) por ela assassinada! É sintomático que isto não provoque a indignação dos leitores do jornal. É um absurdo que clama aos céus uma confissão dessas ser utilizada para fazer a apologia do assassinato de crianças, pintando os criminosos como vítimas e tentando macabramente angariar-lhes simpatia. Quanto à criança, brutalmente assassinada e lançada no esgoto, com esta ninguém se importa, esta ninguém vê – contanto que não entupa o vaso sanitário. Que Deus nos perdoe.

A apologética em tempos sombrios

Eu achei este cartaz de divulgação muito bom. Conheço bem pouco do Marcus Boeira (sei que é articulista do Mídia Sem Máscara) e só devo ter lido bem poucas coisas dele, mas as referências que eu tenho são positivas e o tema do referido encontro é bastante interessante. A palestra será em São Paulo no próximo domingo; se alguém puder participar, seria bom se o fizesse e, depois, colocasse aqui as suas considerações.

A apologética católica em tempos sombrios! O título é instigante. Sim, nós vivemos em tempos sombrios – tempos que renegam a Cruz de Nosso Senhor, tempos que parecem sentir um prazer doentio em reencenar o prólogo do Evangelho de São João e fazer com que as Trevas não compreendam a Luz de Cristo. E, sim, em tempos assim, é importante fazer apologética. É importante defender a Fé de Seus inimigos.

As verdades a serem defendidas são sempre as mesmas. Mas as armas adequadas a cada combate são aquelas oferecidas em ato, diante de cada batalha concreta. Pode-se até dizer que a apologética é uma só; mas a forma de fazê-la “em tempos sombrios” é sem dúvidas diferente da forma de esgrimi-la no tempo “em que a luz do Evangelho guiava as nações”.

Acho que é no Filotéia que São Francisco de Sales fala em um ramalhete disposto de maneira diversa dos outros ramalhetes; as mesmas flores, mas diferente apenas a maneira de as apresentar. A metáfora sempre me foi muito cara. Sempre tive bem claro que, se por um lado é importante uma fidelidade intransigente àquilo que de nossos antepassados recebemos, por outro lado é também de suma importância um esforço sincero para transmitir a nossa herança sem perdas ou incompreensões.

E são estes os tempos nos quais quis a Providência que vivêssemos! Importa, portanto, que neles vivamos da melhor forma possível. Ainda que sejam sombrios, a Graça de Deus não nos haverá de faltar – se a ela formos dóceis e por ela implorarmos com zelo e confiança. Façamos a nossa parte para levar um pouco de luz às trevas modernas. E que seja em nosso favor a Virgem Soberana, Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, a Stella Matutina que prenuncia a aurora. As trevas não haverão de durar para sempre. Os tempos sombrios hão de passar.

“Xingar muito no Twitter” com os dias contados

Hoje pela manhã eu lia este longo texto do Geneton Moraes, e aquilo que era motivo de júbilo para o articulista era, para mim, um sinal de profunda desesperança com a sociedade moderna. Resumindo: o sujeito ganhou uma ação (na esfera civil, pelo que entendi) contra um outro repórter que, no Twitter, acusou-o de ter copiado de um trabalho de jornalismo as perguntas que fizera ao Geraldo Vandré em uma entrevista que foi ao ar em 2010.

Eu não sei quem é o Geneton Moraes e nem quem é o outro repórter anônimo cujo tweet ele cita. Não assisti a tal entrevista com o Geraldo Vandré nem muito menos li os comentários no site não-citado onde se acusava o sr. Moraes de copiar as perguntas de trabalhos de alunos de jornalismo. O que me chocou nesta história foi, por um lado, a profunda irrelevância da agressão sofrida e, pelo outro, a enormidade do peso do Estado lançada sobre um comentário de 140 caracteres. Em uma palavra, a absurda desproporcionalidade entre a ação e a reação.

Eu já expliquei outras vezes que, segundo penso, agressões irrelevantes devem ser tratadas no máximo com outras agressões irrelevantes. O cara quer xingar muito no Twitter? Deixa ele xingar muito no Twitter e ser feliz – no máximo, xinguemo-lo também! Bons tempos os da nossa infância, quando a gente aprendia a resolver os problemas da gente em total respeito ao princípio da subsidiariedade: primeiro a gente trocava tapas com os colegas, e só depois – quando a coisa ficava feia – chamávamos os amigos para nos ajudar; se ainda não resolvesse, íamos à professora, à diretora e aos pais. O respeito a esta cadeia hierárquica era sagrado: nunca íamos à diretora (muito menos aos pais!) antes de tentarmos resolver as coisas por nós próprios. Quanta sabedoria nos antigos colégios…

O princípio da subsidiariedade prega que os problemas devem ser resolvidos pelas instâncias mais próximas a ele e que são capazes de tratá-lo. Se alguém nos xinga, a gente xinga também e pronto – em 99% dos casos não há necessidade de envolver instâncias superiores desnecessárias para tratar deste problema (as mais das vezes) fútil, a menos que sejamos dotados de uma tal crise de megalomania que achemos ser o nosso próprio umbigo um assunto tão importante que é absolutamente imprescindível que toda a sociedade com ele se envolva. Somente quando os efeitos deletérios extrapolarem os limites dos envolvidos é que se deve chama o arbítrio de uma instância superior; e, francamente, quem é que dá a mínima para xingamentos do Twitter?

O próprio articulista sabe disso! «Preferi não prolongar o trabalho que estava dando à Justiça – que, como se sabe, já vive sobrecarregada. Dei-me por satisfeito». Tudo isto em nome de um precedente que ele queria estabelecer, que não apenas é inútil como também pode ser prejudicial: já pensou se a moda pega e ninguém pode escrever ou falar mais nada sob pena de ser processado por fulanos e sicranos que se sintam ofendido com o que leram ou ouviram?

Às vezes é sim fundamental que haja uma intervenção superior. Penso, por exemplo, em um caso que li há alguns anos quando a imprensa noticiou (falsamente) que uma escola primária abrigava casos de pedofilia e aí, naturalmente, todos os pais tiraram os seus alunos do colégio – provocando um prejuízo enorme ao dono do estabelecimento de ensino. Aqui, cabe reparação. No caso do sr. Moraes… o que aconteceu com ele? Ele perdeu o emprego, a sua mulher o deixou, ele foi espancado na rua por grupos de skinheads por ser um mau jornalista…? Danos morais não deveriam ser para apaziguar os brios ofendidos de ninguém, e sim para tratar de assuntos sérios e prejuízos verdadeiros. A “honra” de cada um, enquanto não há prejuízo objetivo certo, deveria ser lavada como fazíamos quando éramos crianças. E não com esta síndrome de “conta tudo pra tua mãe, Kiko”.

Curtas

O Ano Sacerdotal: coletânea de textos do Papa Bento XVI organizada pelo pe. Demétrio Gomes. «As páginas deste livro contêm as principais intervenções do Romano Pontífice dirigidas aos sacerdotes ao longo do Ano Sacerdotal. Constituirão, certamente, um sólido alimento para a meditação dos sacerdotes, assim como uma preciosa catequese para todos os membros da Santa Igreja acerca deste ministério sagrado». São 205 páginas, pela Editora Ecclesiae.

Fica a dica. Mais informações aqui.

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Bispo mexicano afirma que o Vaticano lhe pediu explicações sobre seu apoio a um grupo gay. Trata-se de Dom Raúl Vera López.

Para quem não conhece a história: no início do mês passado apareceram alguns “fiéis” gays, com o apoio do bispo, pedindo um “matrimônio gay”. Os católicos, naturalmente indignados com este vergonhoso apoio dado por Sua Excelência, manifestaram-se pedindo um bispo católico para a diocese de Saltillo – ao que Dom Raúl respondeu oficialmente: “por fidelidade ao ministério pastoral que desempenha, (o Bispo Vera) não cessará seu dinamismo e sua voz, que procuram contribuir à construção de comunidades de fé mais viva e comprometidas e de uma sociedade mais humana”. Apareceu também um abaixo-assinado “em solidariedade” a Sua Excelência.

Pois bem, agora o Vaticano pede esclarecimentos a Dom Raúl Vera López. “Não estou contra o magistério da Igreja, nem estou promovendo a desonestidade, iria contra meus princípios promover a depravação ou a degeneração das pessoas”, disse Sua Excelência. Veremos se o compromisso do bispo de Saltillo é com o Evangelho ou com a Agenda Gay.

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Jovem religiosa defende o uso público do hábito desafiando a Cristofobia. À Paris! A garota foi ao Liceu Carnot de hábito e provocou a ira dos professores laicistas. “Os jornais fizeram estardalhaço com o fato e o secretariado geral do ensino católico exigiu que a irmã Ana Verônica desse prova de ‘juízo’ e comparecesse usando roupas civis”.

A matéria acima diz que a irmã escreveu uma carta em resposta, que foi publicada pelo La Croix. Não encontrei a original. Encontrei este áudio do dia 23 de junho que minha incompetência lingüística me impede de entender a contento. No entanto, a polêmica é verdadeira. Tristes tempos em que provoca polêmica o fato de uma freira se vestir… como freira! Parabéns a Sœur Anne-Véronique. Que Nosso Senhor possa, n’Aquele Dia Terrível, testemunhar em favor desta garota que, aqui na terra, não hesitou em dar testemunho d’Ele.

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– É também interessante este texto do Fratres sobre a Cruz de Cristo e os judeus. Interessante, porque o rabino de Roma parece descobrir a pólvora:

« Pois então há o risco – prossegue – de se entrar na teología da substituição e a Cruz se converte em obstáculo. O diálogo judaico-cristão corre inevitavelmente este risco, porque a idéia do cumprimento das promessas judaicas é a base da fé cristã; assim, o afirmar-se desta fé implica sempre uma idéia implícita de integração, se não de superação da fé judaica ».

De Segni continua: « a língua do diálogo deve ser comum e o projeto deve ser compartilhado. Se os termos do diálogo são baseados em cristãos indicando aos judeus o caminho da Cruz, não se entende o porque do diálogo nem o porque de Assis ».

Ora, como já dissemos e repetimos incontáveis vezes, o objetivo do “ecumenismo” e do diálogo inter-religioso não é outro que não a conversão de todos os homens à Igreja Católica, Única Igreja de Cristo e caminho necessário para a salvação. Se o De Segni não entendeu isto ainda, então ele realmente não faz a menor idéia do que é o “diálogo” ou do porquê de encontros como o de Assis.

Sim, a afirmação da Fé Católica é, ipso facto, a negação de toda e qualquer outra falsa fé, e isto é bastante evidente. Que bom que um rabino descobriu o sol ao meio-dia! Já é meio caminho andado para que ele possa agora, enfim, deixar que o Onipotente tire-lhe dos olhos o véu da cegueira e o conduza à Igreja de Nosso Senhor.

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Deve-se prender mulheres por causa do aborto? Via Wagner Moura. Não vou dizer do que se trata, vejam lá. Recomendo enfaticamente a leitura. Só para dar um gostinho: «É, amiguinhos, assim é o mundo pós-descriminalização do aborto. Você aí pensando que ser contra o aborto não implica em ser contra a descriminalização do aborto uma vez que assim todos poderão ser amigos e felizes… Você é só um idiota. Obrigado».

Atenção: pela aprovação do Estatuto do Nascituro

O direito à vida é o primeiro e o mais fundamental de todos os direitos. Afinal de contas, para que as pessoas possam ter saúde, educação, trabalho ou moradia elas precisam, antes de qualquer outra coisa, estar vivas – sob pena de todos aqueles direitos deixarem de fazer sentido.

Assim, o direito inalienável à vida é o direito que deve ser defendido de maneira absoluta e intransigente, como condição mesma para que se possa falar em quaisquer outros direitos. As ameaças à vida humana são ameaças a todos os direitos do indivíduo humano – uma vez que, ceifando-se-lhe a vida, retira-se-lhe também imediatamente todos os demais direitos da vida decorrentes. Quem não protege a vida também não pode proteger os outros direitos humanos, uma vez que estes dela dependem.

Diante desta realidade não há espaço para tergiversar, para pensar melhor no assunto, para fazer ressalvas de qualquer natureza. Diante desta realidade é preciso uma tomada de posição firme e corajosa – uma vez que o triunfo dos maus é muitas vezes conseguido por conta do silêncio dos bons.

Está em tramitação no Congresso Nacional o PL 478/07, o chamado “Estatuto do Nascituro”. “Nascituro”, como define o próprio texto, “é o ser humano concebido mas ainda não nascido”. Trata-se de um projeto de lei que, entre outras coisas, visa proibir a discriminação dos nascituros “em razão do sexo, da idade, da etnia, da origem, de deficiência física ou mental” e obrigar os estupradores a pagarem pensão alimentícia aos filhos por eles gerados, cabendo ao Estado arcar com os custos “para cuidar da vida, da saúde[,] do desenvolvimento e da educação da criança” caso o agressor não possa ser intimado e a mãe da criança não disponha de meios econômicos para tanto. É, em suma, um projeto de lei que se propõe a conferir proteção legal àquelas pessoas que são as mais frágeis das pessoas e as mais sujeitas a sofrerem injustiças: os seres humanos ainda não nascidos.

O Movimento Brasil Sem Aborto está recolhendo assinaturas pela aprovação do Estatuto do Nascituro, a serem apresentadas no Congresso Nacional. É fundamental que nós assinemos este documento (não leva sequer um minuto) e o encaminhemos aos nossos amigos e familiares, cobrando deles esta tomada de posição. Não deixem para depois. Precisamos destas assinaturas e precisamos delas depressa.

Para assinar, basta clicar aqui. Será aberta uma tela com o texto do abaixo-assinado, em cujo lado direito há um botão laranja escrito “Assinar agora!” que, quando pressionado, exibirá o formulário de assinatura. No formulário, é preciso preencher o nome (completo), o email, o número do documento de identidade (RG), a cidade e o estado. Uma vez que isso tenha sido feito e o botão azul (escrito “SIGN!”) tenha sido pressionado, pronto: a sua assinatura já consta na lista de assinaturas. Atenção: o sistema do i-petitions (o site onde está hospedado este abaixo-assinado) irá exibir, logo após o envio da assinatura (o botão azul mencionado), uma tela pedindo doações para o site (e NÃO para o Estatuto do Nascituro ou para o Movimento Brasil Sem Aborto). Quando esta tela for exibida, é porque a assinatura já foi enviada com sucesso e a janela já pode ser fechada; a assinatura não depende da referida doação que é pedida e, esta, é para a manutenção do site de abaixo-assinados, e não para a promoção do Estatuto do Nascituro ou do Brasil Sem Aborto.

Assine agora! Peça a seus amigos, vizinhos e parentes que o façam também agora. Não deixe para mais tarde, pois o tempo urge. Que a Virgem da Conceição Aparecida livre o Brasil da maldição do aborto.

“Uma só carne”

Eu naturalmente não acompanhei os debates – em meados do século passado – travados nesta Terra de Santa Cruz e que culminaram com a recepção do divórcio no ordenamento jurídico brasileiro. Li, a posteriori, um excelente livro do Gustavo Corção chamado “Claro Escuro”, que era uma coletânea de artigos de jornais publicados ao longo dos meses nos quais aconteceram os tais debates. E, dentre as crônicas saídas da pena do ilustre escritor católico, uma delas se referia de modo mais claro ao título do livro.

Argumentava o Corção que havia sem dúvidas alguns casais que tinham de tudo para dar certo, como também havia alguns outros casais que visivelmente não poderiam dar certo de jeito nenhum. Mas também havia – a esmagadora maioria – uma multidão enorme de casais que poderiam tanto dar certo como falhar miseravelmente na grande aventura de formação de uma família. E era exatamente com esta multidão, vivendo neste claro-escuro, que a legislação positiva deveria se preocupar – no caso, não oferecendo a “via fácil” da dissolução do vínculo conjugal, a qual poderia fazer com que alguns casais (que dariam certo se tentassem mais um pouco) fossem induzidos a desistir diante das primeiras adversidades.

Porque a entidade familiar tem uma grande importância social e, como disse alguém recentemente (acho que o Ramalhete), se na alegria é fácil aos cônjuges ficarem juntos as coisas não são tão simples assim na tristeza – e, aqui, um pouco de senso de responsabilidade favorecido pela legislação positiva é muito bem vindo. Não me recordo se o Corção falava isto no “Claro Escuro”, mas falo eu: a aprovação do divórcio provocou, talvez acima de tudo, o enorme mal de criar uma cultura de que “se-não-der-certo-separa”, com uma conseqüente desvalorização da Família nos moldes em que ela sempre foi entendida (e como a Igreja sempre a defendeu). A partir desta mentalidade, os bravos e corajosos desbravadores de um mundo novo que se aventuravam para além das fronteiras da casa materna com a missão bem determinada de criar raízes sólidas e edificar na História uma árvore frondosa que pudesse contribuir com rebentos saudáveis para a sociedade e para a Igreja transformam-se agora em jovens irresponsáveis (independente da quantidade de anos que porventura carreguem nas costas) preocupados apenas em “sentirem-se bem” e em gozarem uma “felicidade” confundida com prazer momentâneo.

A imagem é forte, mas não vejo como ela possa ser menos verdadeira. Afinal de contas, quando se fala em “célula-mater da sociedade”, quantas são as pessoas que identificam isto com uma família – e, com isso, estamos falando de um homem e uma mulher unidos em ordem à geração e educação dos filhos e integralmente voltados um para o outro até que a morte os separe? Quantas são as pessoas que entendem as graves responsabilidades que disto decorrem?

A lei do divórcio criou uma cultura de pusilânimes. E talvez um dos mais eloqüentes exemplos disto que eu vi nos últimos tempos tenha sido este texto da sra. Regina Navarro, onde ela faz uma apologia da infidelidade conjugal e defende que “a monogamia não funciona muito bem para os ocidentais”. Que é na verdade uma reescrita daquela “A Maçã” de Raul Seixas, sendo – tanto uma quanto a outra – uma utopia sem sentido de que é possível “amar” sem que o amor seja uma doação íntegra da totalidade do ser, ou de que é possível separar “amor” de “fidelidade”, ou de que o amor não ande sempre e necessariamente de braços dados com a responsabilidade.

A cultura pró-divórcio pavimentou a estrada para que barbaridades como esta ganhassem livre trânsito. Contra os devaneios de articulistas e artistas de rock, contudo, permanecem incólumes os exemplos da história, o testemunho da reta razão humana e aquelas palavras das Escrituras Sagradas conforme a qual o homem e a mulher “serão uma só carne”. E, contra esta verdade insofismável, passarão músicas e artigos; os vinis estarão pendurados em decorações de festas estilo “anos setenta” e os jornais estarão embrulhando o peixe do fim da feira, mas haverá ainda aqueles que defendam a capital importância da Família monogâmica e indissolúvel. Porque certas convicções são inegociáveis. Certas palavras não passarão.

Curtas

– Eu ainda não havia visto este Sussidio per Confessori, que está disponível em português no site da Congregação para o Clero. São mais de setenta páginas, englobando explanações teológicas e orientações práticas. Entre estas últimas, à guisa de destaque:

Outras normas oferecem algumas pistas para ajudar os penitentes a confessarem-se com clareza, por exemplo, em relação ao número e espécie dos pecados graves, indicando os tempos mais oportunos, os meios concretos (quais possam ser, em qualquer ocasião, os intérpretes) e sobretudo a liberdade de confessar-se com os ministros aprovados e que os mesmos podem ser escolhidos.

É necessário confessar o número e a espécie dos pecados graves! Que coisa mais medieval e tão pouco ensinada nos dias de hoje! É um bom sinal. Que Deus nos livre dos maus confessores, deformadores de consciências. Que Ele nos dê santos sacerdotes.

* * *

Audiência Geral de Paulo VI em 1972, confronting the devil’s power. Pena que está em inglês e eu não posso traduzir agora. Reproduzo alguns trechos que o Carlos Ramalhete fez a gentileza de traduzir recentemente na lista “Tradição Católica”:

“E então o pecado, por seu lado, se torna a ocasião e o efeito da interferência, em nós e em nosso trabalho, de um agente hostil e escuro, o Diabo. O mal não é apenas uma carência, mas uma força ativa, um ser espiritual vivo que é perverso e perverte outros. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa e apavorante.

[…]

Ele solapa o equilíbrio moral do homem com seus sofismas. Ele é o sedutor esperto e maligno que sabe como abrir caminho até nós através dos sentidos, da imaginação e da libido, através da lógica utópica ou de contratos sociais desordenados no toma-lá-dá-cá de nossas atividades, para que ele consiga causar em nós desvios que são tão mais daninhos por parecerem conformar-se à nossa constituição mental ou física ou a nossas aspirações instintivas e profundas.

Este tema do Diabo e da influência que ele pode exercer sobre indivíduos e sobre comunidades, sobre sociedades inteiras e sobre acontecimentos, é um importantíssimo capítulo da doutrina cristã que deveria ser novamente estudado, ainda que seja hoje objeto de tão pouca atenção.

[…]

Isto não significa que todo pecado seja devido diretamente à ação diabólica, mas é verdade que quem não se vigia com um certo rigor moral está exposto à influência do ‘mistério da iniquidade’ citado por São Paulo, que coloca em grave risco a salvação. Nossa doutrina se torna incerta, com a escuridão obscurecida pela escuridão que rodeia o Diabo. Mas nossa curiosidade, excitada pela certeza de sua existência multiforme, tem o direito de fazer duas perguntas. Há sinais, e quais são eles, da presença da ação diabólica? E quais são os meios de defesa que temos contra perigo tão insidioso? Temos que ser cautelosos ao responder à primeira pergunta, ainda que os sinais do Maligno pareçam ser muito óbvios em algumas ocasiões. Podemos presumir que sua ação sinistra está operando onde a negação de Deus se torna radical, sutil e absurda; onde mentiras se tornam poderosas e hipócritas diante da Verdade evidente; onde o amor é sufocado pelo egoísmo cruel e frio; onde o nome de Cristo é atacado com ódio consciente e rebelde; onde o espírito do Evangelho é diluído e rejeitado, onde o desespero é afirmado como sendo a última palavra, etc.

[…]

É mais fácil formular uma resposta para a outra pergunta – que defesa, que remédio deveríamos usar contra a ação do Diabo: – ainda que continue a ser difícil colocá-los em prática. Poderíamos dizer: tudo o que nos defende do pecado nos fortalece, por isso mesmo, contra o inimigo invisível. A Graça é a defesa decisiva.

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Datafolha desvenda o mistério das multidões paulistanas. Como comentou um amigo: será que agora vão processá-la por homofobia?

Para pôr fim à imprecisão e a esse antigo debate paulistano, o Datafolha calculou a quantidade máxima de pessoas que os três principais espaços a sediar eventos do tipo –avenida Paulista, praça Campo de Bagatelle e vale do Anhangabaú– têm condição de abrigar. Mesmo com estimativas bastante generosas, é possível afirmar: não cabe tudo isso de gente.

Segundo o instituto de pesquisa, 1,5 milhão de pessoas é a lotação máxima do trecho Paulista-Consolação, caminho que a Parada Gay percorre. Isso num cálculo superestimado, considerando sete pessoas por metro quadrado, sufoco semelhante ao enfrentado por passageiros que embarcam na estação Sé do metrô no horário de pico. Para que 4 milhões ocupassem esses 216 mil m², seria necessário que 18 pessoas se espremessem em cada metro quadrado, algo só possível para contorcionistas como os da escola Acrobacia e Arte, convidados para ilustrar a capa desta edição.

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Médico indica aborto, casal se recusa e menina sobrevive: dramática história!

“Todos os dias eu me perguntava se ela ainda estava viva dentro de mim”, contou Healther. Mas, contra todas as probabilidades, Charley-Marie surpreendeu os médicos e sobreviveu. Ela nasceu em janeiro do ano passado, três semanas antes do previsto. Imediatamente após o nascimento, a garota foi levada para a UTI do hospital para que fossem realizados exames no seu coração. O tumor ainda estava lá, contudo, de alguma forma, o coração da menina encontrou uma maneira de bombear o sangue.

[…]

Mais uma vez contrariando as expectativas, Charley-Marie teve, sim, sua festa de aniversário de 1 aninho, com direito à família reunida e fogos de artifício. Hoje, aos 19 meses, a menina se comporta com qualquer criança de sua idade, segundo a mãe. “Os médicos não tem ideia do que vai acontecer com o coração dela. E nós apenas esperamos pelo melhor”, afirmou.

Talvez coubesse perguntar como um médico é capaz de conviver com o fato de ter assinado uma sentença de morte para um bebê supostamente “condenado” (que, hoje, tem um ano e meio de idade). Mas o fato das pessoas conviverem com o aborto já é, de per si, um mistério grande o suficiente: o assassinato de crianças é sempre horrível, não importa quais sejam os motivos elencados. E Charley-Marie está aí, vivendo, para provar como sói os médicos estarem errados e, portanto, como é descabida qualquer pretensão de interromper a vida de outrem. Memento Marcela.

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Gaga sobre Gaga. Destaco:

O que me leva ao ponto mais chocante das extravagâncias de Lady Gaga. Parece que depois de tantos anos, não há imagem mais poderosa que o amor, o sofrimento e o compromisso total que a produzida pelo Cristianismo. Temo que muitos de seus seguidores não sabem o que é uma religiosa (de fato, as meninas estavam fascinadas pelas religiosas), mas o hábito religioso ainda proclama a castidade e o compromisso com algo e Alguém maior que si mesmo. Mantém seu poder, razão pela qual uma estrela do pop tenha tentado explorá-lo. Em vídeos onde menos (roupa) é mais e a novidade é tudo, a tradição ainda pode cativar e desestabilizar. A senhorita Germanotta pode tentar exorcizar suas raízes católicas com piadas sobre monges de plástico, mas a simplicidade que ela ridiculariza será sempre mais simbólica que suas extravagantes sátiras.

Ninguém foi capaz de superar a imagem do sofrimento por amor exemplificada pela Paixão de Cristo. A coroa de espinhos, os braços estendidos, as feridas e a humilhação alimentaram muitos mais do que uma estrela do pop buscando atenção. Nenhuma estrela pop fantasia sobre a extração asteca de corações ou a decapitação da Revolução Francesa, mas no entanto erotizam com o sofrimento de Cristo, porque admitem seus efeitos duradouros. Jesus sofreu, não por uma vã excitação física, como a senhorita Germanotta, e o que queremos conhecer é a profundidade de seu amor, um amor que está disponível para todos. E de novo, a senhorita Gemanotta não entende que a sexualidade onívora não é o mesmo que o amor universal.

Os fantasmas da Teologia da Libertação ainda assombram Campinas; mas os verdadeiros católicos estão atentos e agem rapidamente

Neste sentido, amados Irmãos, vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos[,] de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja] provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55). Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz.

Bento XVI,
Ad Limina dos bispos das regionais Sul-3 e Sul-4 da CNBB
5 de dezembro de 2009

Eu já ouvi a história de mais de uma fonte; conto-a de um modo imperfeito, provavelmente confundindo alguns detalhes, mas a reproduzo íntegra em suas linhas gerais. Certa feita, nos idos do Brasil da década de 70 ou 80, um líder de alguma “comunidade oprimida” (índios, ou imigrantes, não lembro bem) foi se reportar a um certo bispo da Teologia da Libertação para informar-lhe de que a sua comunidade estava abandonando a Igreja Católica (que tivera presença atuante por meio das CEBs na tal comunidade) para abraçar alguma seita pentecostal. E justificou: “Excelência, nós agradecemos pela defesa dos nossos direitos, pela consciência política, pelas lutas por condições mais dignas, por tudo isso; mas estamos indo embora porque precisamos de Deus, e aqui não O encontramos”…

Ora, mas acontece que a finalidade da Igreja é a salvação das almas uma a uma, e não outra (como disse o Papa Bento XVI aqui, na Catedral de São Paulo). Uma religião sem Deus não se pode pretender verdadeira religião, uma práxis que não tenha por objetivo principal a salvação das almas e a glória de Deus não se pode pretender católica, uma teologia que promove uma visão de mundo apenas horizontal e natural não se pode pretender legítima teologia da Igreja. Tudo isto me parece bastante evidente.

Eu lembrei da história (e das recentes palavras do Santo Padre que vão em epígrafe) quando li um artigo recentemente publicado no site da Arquidiocese de Campinas sobre a Teologia da Libertação. Em particular, logo ao ler a primeira frase do artigo: “Quando pároco na paróquia São Judas Tadeu, na Vila Lemos, tive a grata satisfação de ter um contato com as comunidades daquela paróquia, muito marcadas pela presença querida das CEBs, que beberam da Teologia da Libertação e deram seus frutos, como disse o evangelho do domingo passado… «Um deu cem, outro 60 e outro 30…»”. E eu sinceramente não consigo entender como é possível, em pleno século XXI, haver quem ainda defenda os frutos podres da malfadada Teologia da Libertação.

Trata-se provavelmente da teologia mais reiteradas vezes condenada pela Igreja nas últimas décadas! Da Libertatis Nuntius ao discurso do Papa acima citado, de Leonardo Boff a Jon Sobrino, estamos falando de uma posição constante da Igreja – frontalmente contrária à Teologia da Libertação – repetida de modo claríssimo por anos e anos a fio e, infelizmente, ainda encontrando no Brasil os ouvidos surdos de fiéis (ou, muito pior ainda, de pastores) que preferem seguir as próprias fábulas à doutrina segura enunciada pelo Vigário de Cristo.

E isto ainda hoje, a despeito de todos os tristes frutos que esta visão marxista do Cristianismo já entregou à sociedade e à Igreja. A TL não dá incentivos à caridade (aliás, ela nem sabe o que é isso), e sim (quando muito!) à filantropia barata. Não forma líderes cristãos preparados para espalhar sobre a terra “o doce odor de Cristo”, e sim sindicalistas. Não salva o homem do pecado, e sim do seu “patrão” (ou – para ser ainda mais impessoal e anti-natural –  “das elites”, ou “do capitalismo”, ou “do neo-liberalismo”, ou de qualquer besteira parecida da qual se queira lançar mão). Não inflama a esperança dos homens acenando-lhes com a promessa do Céu, e sim com a de uma utopia materialista de uma sociedade justa, igualitária… e impossível. Destrói as vocações, em tudo discorda da Doutrina da Igreja, promove a desobediência, as rebeliões e as divisões, propaga uma visão paupérrima de Cristo e da Igreja, solapa a religião em suas bases, aprisiona os homens no mais estéril materialismo… Em suma, de todos os frutos da Teologia da Libertação que se podem dizer verdadeiramente frutos dela (i.e., que sem ela não seriam obtidos), não há um único que se salve. Com a condenação explícita da Igreja e com o triste testemunho factual de seus abundantes frutos podres… qual a razão da insistência nesta teologia inquestionavelmente fracassada?

Voltemos ao artigo publicado no site da Arquidiocese de Campinas. Logo em seguida a ele, está publicada uma (justíssima!) nota da Assessoria de Comunicação Social da Arquidiocese censurando o texto. Nela, se pode ler: “Faz-se mister recordar que os canais editoriais oferecidos (jornais, sites e rádios) expressam o pensamento da Arquidiocese de Campinas, que os selam. (…) Por isso, advertimos a veiculação do referido artigo que em canais da Arquidiocese faz apologia da Teologia da Libertação, condenada pelo Magistério da Igreja em diversos documentos”.

E, para além de quaisquer querelas sobre “liberdade de expressão” ou respeito às opiniões de terceiros, é exatamente isto o que interessa: na Diocese, o Bispo é sentinela responsável por velar pela integridade da Fé. Os canais oficiais disponibilizados pela Arquidiocese devem, forçosamente, fazer eco ao pensamento da Arquidiocese – que deve ser o pensamento da Igreja, em particular do Santo Padre, hoje Bento XVI. Estando para além de qualquer dúvida razoável a inequívoca condenação de Roma – por diversas vezes, repitamos – à Teologia da Libertação, por qual motivo uma sua apologia deveria ser permitida nos meios de comunicação católicos?

A Igreja existe para salvar as almas: recordemos as palavras do Vigário de Cristo. E, para a salvação das almas, é mister o emprego dos meios necessários: em particular, é importante não permitir que uma teologia daninha, estéril e incontáveis vezes condenada pela Igreja tenha livre veiculação pelos meios de comunicação oficiais da Igreja. Outra, aliás, não é a disposição do Direito Canônico: após dizer que os pastores da Igreja devem procurar usar os meios de comunicação social (CIC 822, §1), fala logo em seguida sobre a importância de velar para que, nestes, seja transmitida a doutrina íntegra: “para preservar a integridade das verdades de fé e dos costumes, os pastores da Igreja têm o dever e o direito de velar para que nem os escritos nem a utilização dos meios de comunicação social provoquem dano à fé ou aos costumes dos fiéis cristãos; (…) e também de reprovar os escritos nocivos à retidão da Fé ou aos bons costumes” (CIC 823 §1).

Diante de todo o exposto, resta parabenizar a Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Campinas pelo pronto cumprimento do seu dever, ao reprovar um artigo daninho à Fé Católica – uma vez que este fazia apologia de uma teologia herética e já por diversas  vezes condenada. Que os outros pastores possam seguir-lhe o exemplo! E, no mais, rezemos para que as palavras do Bispo de Roma possam receber melhor acolhida por aqui, nesta Terra de Santa Cruz; que ela possa, liberta das raízes envenenadas da Teologia da Libertação, fazer jus ao próprio nome e oferecer o quanto antes a Deus e à Santa Igreja os frutos – verdadeiros! – de santidade que, pela intercessão da Virgem de Aparecida, o Altíssimo espera receber de nós.

Os resquícios da civilização

Diz-se que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus porque é “capaz de conhecer e de amar a Deus, e de gozá-Lo eternamente”; assim nos ensina o Catecismo Maior de São Pio X (Parte I, q. 55). É este – e não outro – o fundamento da dignidade humana, aquilo que faz com que o homem seja detentor de direitos objetivos e lhe salvaguarda das arbitrariedades que alguns indivíduos ou grupos, detentores de força ou de poder, porventura queiram lhe infligir.

Houve um tempo – como nos ensina o Sumo Pontífice Leão XIII – em que a Filosofia do Evangelho governava as nações. E por mais que alguns anti-clericais modernos tenham alguma espécie de prazer sórdido (e ignorante) em lançar lama a esta época gloriosa da civilização humana, o fato é que os homens de então eram tratados com muito mais dignidade do que os de outras épocas da história.

“Ah, foram queimados pela Igreja, foram torturados, fizeram guerras sangrentas, foram impedidos de manifestar livremente os seus pensamentos!”, hão de dizer os livres-pensadores modernos. Mas o fato – que os inimigos da Igreja se esquecem de mencionar – é que os homens foram queimados muito mais vezes fora da Igreja do que nas fogueiras às quais a Santa Inquisição ateou fogo. O fato – relevantíssimo, mas sobre o qual não se fala uma palavra – é que os homens foram torturados mais e de maneira mais cruel por civis do que por religiosos. O fato é que nunca houve guerras tão terríveis quanto as que o mundo assistiu no século passado – em pleno século XX, quando já se encontrava indubitavelmente livre da influência da Igreja (e, diremos  até, justamente por causa disso).

“Mas… mas… mas foram impedidos da livre-expressão de suas idéias, e isto não se pode negar!”, dir-nos-ão desesperados os nossos amigos anti-clericais. E, nisto (descontadas, é óbvio, as falsificações grosseiras), nós deles não discordaremos. Graças a Deus, houve repressão à veiculação de idéias errôneas e perniciosas ao longo da história, e este mecanismo foi fundamental para que a civilização pudesse ser mantida e nós, hoje, fôssemos capazes de discutir a repressão de idéias praticada em épocas passadas.

Isto porque a liberdade é algo que não se pode atribuir às coisas de um modo absoluto. A excessiva e imoral (assim intitulada) “liberdade de expressão” vigente nos dias de hoje jamais seria permitida em outras épocas – nisto, concordamos integralmente com os inimigos da Igreja! Com o que não concordamos é que tal fato demonstre uma superioridade moral do nosso século sobre aqueles que o precederam – aliás, muito pelo contrário.

Como dizíamos acima, o ser humano é detentor de uma dignidade intrínseca que faz com que seja preciso respeitá-lo. Assim, a mera possibilidade de que alguém possa dispôr livremente da vida de outrem – matando-o ou escravizando-o, por exemplo – provoca-nos (ainda…) um sentimento de injustiça; no entanto, aquilo que os revolucionários não percebem é que este “sentimento de injustiça” está alicerçado sobre a dignidade humana, sobre o fato do homem ter sido criado por Deus à Sua imagem e semelhança e, portanto, possuir – intrinsecamente – um quê de sagrado e de inviolável. E permitir que esta verdade fundamental seja questionada ou – pior ainda – negada abertamente não é sinal de avanço, e sim de terrível retrocesso. Não é característica de pessoas civilizadas, e sim de bárbaras.

Não é verdade que nós, hoje, conhecemos o valor do ser humano porque nos livramos do obscurantismo católico medieval, é exatamente o contrário: é devido aos resquícios daquele glorioso tempo – repitamos – no qual a Filosofia do Evangelho guiava as nações que, hoje, nós (ainda) não caímos na barbárie completa e ainda não nos esquecemos (muito) que o ser humano possui uma dignidade intrínseca e que, portanto, deve ser protegido de arbitrariedades de outrem. Por qual outro motivo, afinal de contas, deveríamos falar em “direitos humanos”?

No entanto, na contramão de tudo isto, a brilhante “solução” dada por alguns dos nossos ilustres pensadores para proteger os seres humanos da opressão dos seus semelhantes é postular uma “moral” positivista baseada não em nada objetivo, mas nas “conveniências” e nas “convenções sociais”. Assim, matar pessoas passa a ser errado (ou, melhor dizendo, “ilegal”) não porque as pessoas possuam intrinsecamente um direito inviolável à vida, mas porque “convencionou-se” que é “útil” para a sociedade como um todo que os seus cidadãos não se exterminem mutuamente. O problema, o grande e enorme problema com esta idéia estúpida é que a solução apresentada para proteger as pessoas das arbitrariedades… é ela própria uma arbitrariedade – uma vez que, eliminada a dignidade humana intrínseca, uma convenção social de que é importante para o país que os seus cidadãos não se matem em nada se distingue de uma outra convenção social de que é importante para o país que negros sejam escravizados ou que judeus sejam exterminados. Ou seja: o problema está “resolvido” apenas acidentalmente, uma vez que os princípios são imorais e continuam abertos às maiores injustiças que se poderiam cometer. Deste modo, a gloriosa marcha da vaca para o brejo segue solene e inexorável, e passa a ser somente uma questão de tempo a decadência da civilização na barbárie – cujos sinais já encontramos em profusão por aí.

Ora, as idéias de um povo determinam a maneira como aquele povo vai se comportar e, em última instância, garantem ou impossibilitam a sua sobrevivência – donde se vê a importância que elas possuem. Diante das loucuras do mundo moderno, é possível que paremos um pouco para nos perguntar: como foi possível que chegássemos a edificar uma sociedade sobre tão frágeis alicerces? A resposta é bastante óbvia: se as idéias corretas não são defendidas e as erradas não são combatidas, o pensamento degenera-se, e isto acontece de modo tão claro e óbvio como uma casa se estraga se não houver quem dela tome conta, ou como um terreno produz abrolhos e ervas daninhas se não houver quem o cultive. E, se é criminoso construir edifícios com material de baixa qualidade pondo em risco a estabilidade da estrutura… quão mais criminoso não será edificar uma sociedade inteira sobre a areia movediça e inconstante destas idéias que são o lugar comum do pensamento moderno?

A civilização moderna não existe por conta do pensamento moderno – ao contrário, ela sobrevive (ainda) dos influxos benéficos do Cristianismo, e apesar de todas as loucuras modernas que a ameaçam destruir a cada instante, solapando-lhe as bases. Aprendemos com os construtores das catedrais medievais que uma base sólida é fundamental para a sustentação do edifício, e sempre soubemos que isto era aplicável tanto aos templos católicos quanto às sociedades. No seu ódio irracional ao glorioso passado da Igreja, os anti-clericais fazem questão de – irresponsavelmente – esquecer este ensinamento tão elementar que os nossos antigos nos legaram. E, agora, os prédios ameaçam ruir, e já aparecem as rachaduras, enquanto os livres-pensadores modernos, perdidos, tentam jogar mais e mais areia em uma patética tentativa de fechar as fendas abertas.