Afinal, de onde vem o abortismo do CFM?

A recente decisão do Conselho Federal de Medicina de apoiar a descriminalização do aborto no país não saiu do nada. Veio de Belém do Pará, do “I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina 2013”; mais especificamente, de uma mesa redonda chamada “Aborto e Desigualdade Social”, com a seguinte singela composição (grifos meus):

Coordenada pelo presidente do CFM, Roberto d’Avila, [a mesa redonda] contará com a participação da professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB). Além dela, contribuirão o professor Christian de Paul de Barchifontaine, reitor do Centro Universitário São Camilo; o promotor de Justiça Diaulas da Costa Ribeiro e o secretário-geral do CFM, Henrique Batista e Silva, coordenador do grupo técnico criado para avaliar o tema.

O Wagner Moura fez-nos o favor de identificar os participantes deste evento:

  1. A Débora Diniz, velha conhecida nossa, é a provável maior expoente da ONG abortista ANIS, que faz virulenta militância a favor do aborto no Brasil.
  2. O Diaulas Ribeiro «é o jurista que autoriza que rapazes com paralisia cerebral tenham relações sexuais com prostitutas, é ele também conhecido por defender eutanásia e, advinhem, aborto».
  3. Last but not least. o sr. Christian de Barchifontaine é sacerdote católico! É o «padre camiliano que SEMPRE está nos eventos onde a ANIS – ONG pró-legalização-do-aborto da antropóloga Debora Diniz – está».

Faço coro integralmente à indignação do Wagner Moura: como é possível que um órgão que supostamente representa toda uma categoria de profissionais faça um pronunciamento com indisfarçado viés ideológico, embasado pelas conclusões de um “grupo técnico” formado exclusivamente pela patota abortista mais descarada?

Agora me expliquem que medicina é essa do Conselho Federal de Medicina que para tratar de assuntos referentes a aborto forma um “grupo técnico” no qual somente e unicamente militantes pró-aborto foram convidados?!

[…]

Quem são esses médicos que aceitam ser “orientados” por um “grupo técnico” totalmente alinhado com uma ideologia que transforma a vida humana em mero acordo social (só é humano quem o grupo decidir que seja)? Isso é ridículo. Como é que um Conselho Federal de MEDICINA se submete a essa pouca vergonha? Ora, nenhum dos peritos em aborto citado na matéria do próprio CFM é médico. NENHUM! São todos muito bem remunerados por velhíssimas conhecidas organizações internacionais que se intrometem nos assuntos do Brasil: Ford, Rockfeller e MacArthur.

Como é possível que ninguém proteste contra esta absurda ingerência de “especialistas” – a soldo de organizações pró-aborto internacionais – em assuntos de interesse de uma categoria profissional da qual eles sequer fazem parte? Médicos, escrevam ao CFM! É o nome de vocês que o Conselho está emporcalhando com toda essa empulhação!

E como é possível que um sacerdote católico esteja de conluio com esta caterva para legalizar o assassinato de crianças no Brasil? Um padreCorruptio optimi pessima, como diz o adágio latino. Quanto a isso, nós próprios podemos exigir explicações. Os contatos eletrônicos da Província Camiliana Brasileira – à qual o revmo. pe. Christian de Paul de Barchifontaine responde – seguem abaixo:

provincial@camilianos.org.br
diretoria@saocamilosede.org.br
imprensa@camilianos.org.br

Não nos calemos, senhores, não nos calemos. O mal avança despudoradamente, e está tão confiante de nossa fraqueza que nem se preocupa mais em agir às sombras: desvela-se em toda a sua fealdade à luz do dia, zombando das leis de Deus e da Sua Igreja. Mas os que militam a favor da morte não prevalecerão nesta Terra de Santa Cruz, não terão a palavra final sobre este povo do qual a Senhora de Aparecida é Imperatriz e Padroeira. Levantemo-nos em defesa d’Ela! Que o solo da nossa Pátria não seja manchado pelo sangue das crianças abortadas. Que a Virgem Santíssima nos ajude e, por Sua poderosa intercessão, livre o Brasil da maldição do aborto.

Velhas falácias em uma roupagem não tão nova assim: o CFM e o aborto

Na última segunda-feira (18 de março), o “Contra o Aborto” fez uma oportuna denúncia: o Conselho Federal de Medicina (CFM) deu os braços à militância abortista para fazer lobby a favor da legalização do aborto no Brasil. Ontem (20 de março), o “Blog da Vida” publicou uma importante matéria chamada “Por que os motivos do CFM para apoiar o aborto não se sustentam?”, levantando questões bem pertinentes (e incômodas…) sobre as alegadas razões do CFM para o órgão se posicionar a favor do aborto. Estes dois textos põem a tagarelice abortista a descoberto e dirimem (pela milésima vez) a questão para quem não tem compromissos ideológicos com a cultura da morte. Ontem, portanto, estavam já sepultados os sofismas dos quais recentemente os burocratas do CFM lançaram mão para minar a defesa da vida no Brasil. O zelo dos pró-vida brasileiros garantiu que a refutação deles estivesse disponível antes mesmo que a imprensa começasse a divulgá-los, trabalho pelo qual estão de parabéns.

A despeito do atraso, com monótona previsibilidade, o establishment tomou partido do Conselho. Hoje, os órgãos de mídia parecem não falar em outra coisa! Em particular, o Sakamoto ressuscitou velhos sofismas e preconceitos puídos para encher de clichês o seu blog:

  • “defesa do direito ao aborto é diferente de defesa do aborto…”
  • “aborto hoje é legal para quem é rico…”
  • “[a] discussão não é quando começa a vida, sobre isso dificilmente chegaremos ao um consenso, mas as mulheres que estão morrendo nesse processo…”
  • “eles [os abortos] vão acontecer legal ou ilegalmente…”
  • “[n]egar a uma mulher o direito a realizá-lo [o aborto] é equivalente a dizer que ela não tem autonomia sobre seu corpo…”
  • “podemos entregar a questão da saúde pública aos cuidados da Igreja Católica…”
  • “[d]efendo incondicionalmente o direito da mulher sobre seu corpo…”
  • “o Estado brasileiro, laico, não pode se basear em argumentos religiosos para tomar decisões de saúde pública ou que não garantam direitos individuais…”
  • “não se pode defender que minhas crenças, físicas ou metafísicas, se sobreponham à dignidade dos outros…”

Incrível, não? Em pleno século XXI o cara me sai com este discurso do século passado, mais furado que tábua de pirulito e mais mentiroso do que propaganda eleitoral gratuita! E o pior é que ele não se dá sequer ao trabalho de argumentar: simplesmente vomita as mesmas bobagens de sempre, como se elas fossem alguma novidade intelectualmente relevante às quais nunca ninguém tivesse sequer tentado dar resposta.

Rapidamente, ajudemos o Sakamoto a se situar no mundo moderno e tragamos à mesa o que já se disse sobre o assunto (sobre o qual ele prefere lançar um cômodo manto de silêncio, fingindo que nunca existiu ou que não é com ele):

  • Defender o direito de se fazer alguma coisa e defender a própria coisa são posições estreitamente afins, de modo que não é possível conceber um sistema de valores no qual a primeira seja moralmente exigível e, a segunda, execrável e inadmissível. A distinção é completamente irrelevante para o mérito da celeuma. Ainda: no caso concreto, insinuar que seja possível defender um “direito” mas não o exercício desse “direito” chega a ser ridículo e ofensivo à inteligência dos adversários.
  • Sim, crimes sempre vão continuar acontecendo e, sim, quanto mais recursos uma pessoa tiver mais fácil será para ela cometer um crime e permanecer impune. Isso é lamentável, mas é uma característica das relações humanas da qual os contemporâneos (e indignantes) crimes de corrupção política são talvez o exemplo mais embaraçosamente eloqüente. A óbvia bandeira de luta a ser levantada diante disso é pela punição dos poderosos, é lógico. Querer democratizar o acesso à degeneração moral e garantir que os pobres também possam cometer “em segurança” os crimes dos ricos é simplesmente nonsense.
  • Nenhum direito é absoluto. A partir do momento em que uma mulher carrega um outro ser humano no ventre ela deixa, sim, de poder dispôr do seu corpo da mesma forma que fazia quando não estava grávida. Isto é uma decorrência imediata do princípio da igualdade fundamental entre todos os homens, fundamento basilar de qualquer sistema de direitos humanos que se possa conceber.
  • Não existe nenhuma discussão sobre “quando começa a vida”, esta resposta já foi dada há muito tempo pela genética e pela embriologia: com a junção dos gametas masculino e feminino surge um novo indivíduo, distinto dos seus progenitores, que é humano e está vivo. Qualquer tentativa de negação dessa verdade é arbitrária e ideológica, nunca racional. O que os defensores do aborto propagam é que alguns seres humanos são mais humanos do que outros: e sobre tão bárbara crença, de fato, nós nunca chegaremos a um acordo.
  • Nenhum dos pontos acima é um “argumento religioso”; são sempre os promotores do aborto que trazem o tema “religião” à baila, numa tentativa patética e desesperada de desqualificar uma discussão incômoda que eles não são capazes de travar com honestidade intelectual.

Enfim, nada de novo sob o sol. No entanto, é de se lamentar que os defensores do aborto não estejam mais sequer fingindo argumentar, e tenham aparentemente partido para a estratégia de ignorar cinicamente tudo o que já se disse contra a posição macabra que eles defendem. É de se lamentar que, agora, a ideologia abortista se limite a papagaiar de tempos em tempos a mesmíssima cantilena que lhe embalou as vergonhosas derrotas passadas, sem nem sequer fingir debater mais.

Chávez está morto. A Venezuela está livre.

Hugo Chávez acaba de morrer. Ou melhor: a sua morte acaba de ser oficialmente reconhecida pela Venezuela. Como quase tudo o que acontece no país vizinho, a morte do ditador venezuelano é obscura e inspira desconfiança. Em meados do mês passado, por exemplo, uma postagem no Twitter (!) no meio da madrugada (!!) anunciava o inesperado retorno de Chávez a Caracas. Sinceramente, na ocasião eu não acreditei e ainda hoje não sei se acredito; mas agora é irrelevante, porque a sua morte foi oficialmente declarada. Se foi hoje ou na(s) semana(s) passada(s), se foi em Caracas ou em Cuba, agora já não faz mais tanta diferença. Chávez está morto. A Venezuela está livre.

Será que está? O presidente eleito deveria ser empossado em janeiro. Não foi. A Justiça da Venezuela topou adiar a cerimônia por tempo indeterminado e, mesmo assim, a morte colheu Chávez antes que ele pudesse tomar posse como presidente da Venezuela. O vice não foi eleito. Teoricamente, deveriam ser convocadas novas eleições. Serão? Ainda é cedo para saber. O que dá para fazer com certeza é rezar pela Venezuela, cujo futuro desponta um pouco menos sombrio agora que El Comandante depôs a foice e o martelo em definitivo mas que, provavelmente, ainda deve reservar algumas agruras ao povo venezuelano.

Quanto a Chávez… o que dizer? Está morto. O provérbio manda não dizer dos mortos senão o bem, mas peço aqui licença ao adágio popular porque, no dia de hoje, um silêncio assim tão prolongado seria inconveniente e constrangedor. É preciso dizer pelo menos que o mini-ditador candanga não fez bem à sua pátria, que a sua tentativa medonha de ressuscitar um sistema político já morto e apodrecido lançou a política latino-americana cinqüenta anos para trás, que as suas demonstrações de Fé no final da vida são, se não falsas, pelo menos incoerentes com tudo o que ele fez antes do câncer e, aliás, até o último instante de vida não se preocupou em consertar. Isto são verdades que é dever de justiça não deixar caírem no esquecimento, no meio da comoção midiática que costuma transformar em herói impoluto todo aquele que sai do palco da História para não mais voltar.

Está morto o Chávez, e que o Deus Altíssimo tenha misericórdia dele! R.I.P., como rezamos para os católicos, pois nem mesmo alguém como o ex-presidente da Venezuela foi criado por Deus para se perder. Que ele tenha conseguido uma boa contrição antes da morte, é o que eu desejo sinceramente. E que Deus mostre compaixão para com ele e sua terra.

Legalizando a mentira

Em meados do ano passado, uma coluna do Carlos Ramalhete contra a adoção de crianças por duplas de homossexuais provocou a ira da militância gayzista da internet. Não foi a primeira vez que o professor abordou o assunto na Gazeta do Povo; dois anos antes, em situação idêntica, foi publicado um texto (ainda hoje atual) onde o articulista fustigava impiedosamente o que chamou de um problema de definição. Hoje, o desenrolar dos fatos mostrou o quanto aquelas prospectivas estavam corretas: desde então o problema continua degenerando em monstruosidades cada vez maiores.

Há alguns dias, recebemos a notícia pouco animadora de que a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu, a uma dupla lésbica, «a adoção da filha de uma delas pela outra». O assunto é propositalmente confuso, mas em resumo o que o STJ fez foi mandar lavrar, para uma pobre criança, uma Certidão de Nascimento deliberadamente falsificada, onde – ao arrepio do bom senso e da natureza – consta, com chancela legal, a escandalosa mentira de que a menor nasceu de duas senhoras lésbicas. Igualmente, há menos de uma semana, chegou-nos ao conhecimento que uma criança de Recife terá, por ordem judicial, uma Certidão de Nascimento com três nomes: o do pai, o da mãe e o da madrasta. Mais uma vez, em atenção a uma agenda ideológica anti-natural, outra criança será privada do direito a um registro veraz sobre as suas origens.

Estamos contemplando, atônitos, uma despudorada política judiciária de ressignificação da realidade. Até então, ensinaram-nos o dicionário e a experiência de mundo que uma “certidão” era um documento que atestava algum fato realmente acontecido: Joãozinho casou-se com Mariazinha, seu Epaminondes faleceu no dia tal, Ritinha nasceu de seu Roberto e de dona Marieta. Subordinava-se, como é razoável, o pedaço de papel ao mundo real: o oficial de cartório tinha o dever de se ater à realidade no exercício do seu trabalho. Ele não podia inventar nada.

Hoje, o Estado se acha no direito de obrigar um pobre escrivão a fazer aquilo que ele, em consciência, não poderia fazer jamais: escrever uma mentira num documento de fé pública. Os documentos oficiais, assim, deixam de ser um registro fidedigno da realidade para se transformarem em uma folha em branco onde o Estado registra não aquilo que aconteceu, mas o que os envolvidos gostariam que tivesse acontecido. Dobra-se a realidade diante da ideologia, escamoteia-se a objetividade dos fatos em atenção ao subjetivismo dos indivíduos. Se reescrever o passado é uma prática indigna de homens intelectualmente honestos, que censura não merece esta tentativa criminosa de adulterar o presente?

Como que escarnecendo da credibilidade dos nossos já tão desgastados poderes públicos, o velho ditado de que “papel aceita qualquer coisa” vem reivindicar cidadania também em nossos registros civis. Desfilam em nossos cartórios os maiores despautérios: fulana tem duas mães e nenhum pai, sicrano tem dois pais e nenhuma mãe, beltrano tem um pai e duas mães. Em tempos menos estúpidos, se fosse o notário a redigir por conta própria semelhantes disparates, decerto ele seria rapidamente demitido por atentar contra a credibilidade dos documentos públicos. Hoje, para nosso desespero, magistrados ordenam que se registrem oficialmente as maiores falsidades, e todos aplaudem essa ignomínia como se fosse possível à mentira ser alguma espécie de avanço social.

Ives Gandra sobre a Lei Seca e a liberdade religiosa

Primoroso este texto do Dr. Ives Gandra Martins sobre as kafkianas exigências que a Lei Seca impõe aos sacerdotes católicos. Já falei recentemente no blog sobre a Lei Seca no geral e sobre os seus iníquos desdobramentos no tocante ao culto católico em particular; trago agora as palavras do eminente jurista para se somarem às que já escrevi aqui.

A lei de tolerância zero, que cerceia a liberdade de culto – culto este que tem 2 mil anos no mundo inteiro e em todos os países, até mesmo na maioria dos islâmicos – é, neste particular, manifestamente inconstitucional, pois impede o exercício da atividade pastoral dos sacerdotes católicos apostólicos romanos, proibindo-os de dirigir os seus próprios carros para atender os fiéis nos casos em que sua presença se faz necessária, desde o nascimento até a morte (batismo, casamento, extrema unção e encomenda de corpo).

Viveríamos em tempos melhores se os nossos governantes não padecessem da mais crônica indigência até do bom senso mais elementar. Mas somos governados por delinqüentes. E pior: toleramos os mais patentes autoritarismos legislativos, talvez por julgarmos que isso não tem nada a ver conosco. Infelizmente tem. Oxalá o percebamos antes que seja tarde demais.

A bebida, o cigarro, as guloseimas infantis

Gostei às avessas da coluna do Gilberto Dimenstein de hoje. Não que eu a tenha detestado; apenas senti um alívio reconfortante ao ver o colunista esbravejar contra o “Lei Seca” que dá nome à nossa legislação que proíbe o álcool no volante. Praticamente todas as sandices que ele diz podem facilmente se transformar em verdades até bem óbvias, bastando que a gente retire algumas negativas. Veja-se: é verdade que a Lei Seca brasileira é «moralista, repressora e ineficiente», que com ela «o poder público está reprimindo um direito individual» e que, portanto, é um dever cívico dizermos em alto e bom som «que [est]a lei é repressora e cretina como a Lei Seca [americana]». Por mais que protestem os colunistas da Folha, parece-me que (graças a Deus) não conseguirão silenciar estes juízos de valor que brotam do bom senso da população brasileira.

Podem usar o apelo emocional que quiserem para justificar o absurdo: nada vai convencer uma pessoa mentalmente sã de que é razoável aplicar uma multa de 2000 reais, prender por (no mínimo) seis meses e proibir de dirigir por um ano um fulano que esteja tranqüilamente voltando pra casa após tomar uma cerveja no almoço. Reduzamos a pó os sofismas midiáticos: não é verdade que “a lei está salvando vidas”, pois as pessoas que põem a vida de terceiros em risco não são as que tomaram um copo de cerveja, e sim as que não têm condições de voltar pra casa sozinhas nem a pé – e para retirar estas da rua não era necessário impedir aquelas de dirigirem. Tampouco é relevante o fato de que “não é a mesma coisa” dirigir mesmo após um gole de bebida que seja, porque existem inumeráveis e inevitáveis outros fatores que afetam o abstrato “pleno gozo das capacidades mentais e físicas” dos quais, idealmente, o motorista deveria dispôr ao sentar-se ao volante: coisas como sono, anti-alérgicos ou preocupações com o trabalho ou a família potencialmente afetam-no muito mais do que uma taça de vinho no jantar, donde se vê que a discussão não deve ser sobre se algo influencia ou deixa de influenciar a capacidade de fulano dirigir e sim a partir de quando esta capacidade está comprometida a ponto de colocar em risco a vida de outros.

Mesmo os que concordam com a lei são praticamente unânimes em dizer que as pessoas normais estão pagando pelas que exageram, o pai de família responsável que tomou uma taça de vinho com a esposa no jantar pelo bêbado que passou a noite enchendo a cara na balada e agora mal consegue ficar em pé. Há, portanto, inocentes pagando por culpados. Isto significa (por mais que o Dimenstein não goste de dizer as coisas às claras) que o Poder Público está sim reprimindo – injustamente! – direitos individuais, está dizendo como as pessoas devem agir ou evitar agir em assuntos que não dizem respeito ao bem público. Algumas pessoas não se importam com isso; eu acho que deveríamos nos importar.

A Lei Seca aqui citada é somente um exemplo de algo muito mais genérico: a noção de que o Estado possa (ou até deva) regular as minúcias da vida individual, dizendo o que as pessoas podem ou não podem fazer em assuntos totalmente alheios (por vezes, até contrários!) à ordem da vida em sociedade que o Estado deveria tutelar. Em uma coisa o Dimenstein está completamente certo: a Lei Seca é «algo do tipo como não fumar em locais fechados». Sim, verdade: é pelo menos tão absurdo quanto, provavelmente até mais grave, mas da mesma espécie depravada de idéia que só pode sair da cabeça de mini-ditadores ávidos por controlar a vida alheia em aspectos que cada vez menos lhes dizem respeito.

É dever do Estado punir os crimes, mas não a mera possibilidade de cometê-los, senão caímos em Minority Report. É justo e razoável que o Estado puna quem cometeu um acidente de trânsito, mas é absurdo autorizá-Lo a punir o (alegado e questionável) risco de provocar um acidente. Nem Deus pune os homens desse jeito! E os burocratas que se deixam inebriar por essa onipotência legislativa não conhecem limites. As ordens tendem a ficar cada vez mais estapafúrdias. Já existe um projeto de lei – aprovado pela Câmara dos Deputados! – que proíbe o motorista de andar com bebidas alcóolicas em qualquer outro lugar do carro que não o porta-malas, ainda que ele próprio não esteja bebendo. O carona tampouco pode beber. O que é isso agora? Certamente o projeto deve estar recheado de floreios retóricos provando por “a + b” a má influência que a cerveja nas mãos do passageiro pode exercer sobre o motorista forçosamente abstêmio; mas punir esta caricatura de ocasiões de pecado evidentemente não é papel dos Poderes Públicos. Como foi possível que nós tenhamos chegado aqui?

Este texto sobre um outro aspecto da mesmíssima doença – agora voltada para a propaganda infantil – dá-nos uma preciosa dica. Vale a leitura na íntegra, mas destaco estes dois parágrafos que são bem representativos do que estamos querendo dizer:

Lembrar aos pais que a responsabilidade sobre a obesidade de seu filho pertence a eles mesmos, que aos pais cabe a decisão de ter ou não ter uma TV em casa, de que o controle do dinheiro da família não é da criança, e que, portanto, não há possibilidade de um filho se encher de gordura sem que o pai não tenha de alguma forma permitido tal lambança, pelo fornecimento de capital e pela falta de autoridade, seria inconveniente e impopular. Seria sincero demais.

[…]

Não, não se trata da defesa dos direitos da criança. Trata-se, mais uma vez, da diminuição da liberdade do cidadão, do enfraquecimento da autoridade dos pais, da ingerência estatal no livre mercado e na mídia, da pulverização das responsabilidades individuais, do fortalecimento e da expansão do aparato estatal sobre as consciências e sobre toda a sociedade.

Trata-se, em suma, da dissolução das responsabilidades individuais por meio da transferência de tudo para o coletivismo – para o Estado. E um povo sem responsabilidades individuais é um povo fraco e medíocre, presa fácil para toda sorte de tiranias que soem medrar em ambientes assim. O cigarro, a bebida, as guloseimas infantis! Para fins de compreendermos a seriedade destas questões, talvez fosse importante perguntarmos onde eles irão parar. Mas, para que saiamos da letargia que retroalimenta esse ridículo “pode-não-pode” estatal, talvez a pergunta mais adequada a se fazer aqui seja até onde nós os deixaremos ir.

Curtas: moral e bons costumes, objeção de consciência no Uruguai, reconhecimento jurídico de nascituro como pessoa e mulher que tenta matar filho por não poder cuidar dele

Governador do Rio de Janeiro aprova lei sobre moral e bons costumes. «Sancionado na quinta-feira pelo governador Sérgio Cabral, o projeto de lei, de autoria da deputada Myrian Rios (PSD), tem a finalidade “promover o resgate da cidadania, o fortalecimento das relações humanas e a valorização da família, da escola e da comunidade como um todo”».

A propósito, o deputado Jean Wyllys não perdeu a chance de reclamar da nova lei no Twitter – o que não deixa de ser uma curiosa confissão involuntária de que o gay-way-of-life do qual Sua Insselença é ferrenho defensor vê na defesa da moral e dos bons costumes uma ameaça à sua causa. Bom saber.

* * *

Médicos ginecologistas no Uruguai recusam-se a fazer abortos. Segundo informa ACI Prensatodos os ginecologistas de Salto (quarto estado mais populoso do país) apresentaram objeção de consciência; em outros lugares, são mais de noventa por cento!

Uma lei pró-aborto já fora vetada no Uruguai uma vez, mas os abortistas não descansaram e, infelizmente, conseguiram aprová-la no último trimestre do ano passado. Entidades pró-vida do país estão trabalhando para revogá-la.

Curiosa, ainda, é uma informação publicada no primeiro link: o Ministério da Saúde do país pretende exigir uma justificativa “real” (!) da objeção de consciência, pois considera que alguns médicos “abusam” (!!) desta alternativa sem ter razões religiosas ou filosóficas para tal. Ou seja, agora um órgão do Governo considera avaliar a consciência de cada um para julgar se ela está objetando validamente ou não! O disparate chega a ser cômico, mas é preciso tomar cuidado com ele. Afinal, se aceita, uma sandice dessas pode abrir um perigoso precedente.

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Tribunal dos EUA considera bebê não-nascido como pessoa. Alvissareira notícia, que chegou a ser classificada pela Personhood USA como «a mais importante sobre o reconhecimento de direitos pessoais de nascituros desde 1973»!

O caso envolveu duas mulheres que teriam colocado seus filhos, ainda no ventre, em risco de morte, tendo ingerido drogas ilegais. No Alabama é crime expor uma criança a substâncias reguladas como tóxicas. O filho de uma das mulheres nasceu prematuro, com 25 semanas, e morreu 19 minutos depois do parto. A autópsia mostrou que o bebê morreu por exposição à metanfetaminas.

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– Americana tenta matar o filho com faca e afirma: ‘Não posso cuidar, e não quero que ele sofra’. Qualquer semelhança não é mera coincidência: esta é rigorosamente a mesma “justificativa” apresentada por uma miríade de defensores do aborto quando querem “argumentar” a favor do “direito” da mulher de decidir se deixa ou não o seu filho nascer. Por que no primeiro caso a mulher deve ser presa e, neste último, receber recursos do Governo para concretizar o seu intento assassino?

De acordo com o jornal ‘Daily News’, ela foi detida logo após tentar matar o próprio filho, de 17 anos, com uma faca. Além do ato da mãe, chocante por si só, também causou espanto a justificativa dada no momento em que os policiais chegaram ao local:

– Eu queria matá-lo porque não tenho condições de cuidar dele, e não quero que ele sofra – afirmou Sheronda.

As autoridades foram acionadas por John Burroughs, um vizinho da família. Ele ligou para o 911 (equivalente ao brasileiro 190) depois de ouvir os pedidos de socorro da boca do próprio jovem, que saiu de casa correndo: “Ei, senhor! Você pode me ajudar? Minha mãe está tentando me matar”, teria dito o rapaz.

“Ei, senhor, você pode me ajudar? Minha mãe está tentando me matar”. Aqui, quem o disse foi um rapaz de 17 anos. Mas a mesmíssima súplica poderia ter saído dos lábios de uma criança cuja mãe está procurando abortá-la, se esta criança pudesse falar. Ouçamos a voz dos inocentes! Eles clamam por socorro.

Multidões de franceses acorrem às ruas de Paris para protestar contra o “casamento gay”!

Confesso que fiquei emocionado com os franceses que, no último domingo (13 de janeiro), reuniram-se – às centenas de milhares! – em Paris para protestar contra o “casamento gay” que o presidente prometeu introduzir na legislação francesa. A manifestação «começou em três pontos diferentes da capital francesa, com as colunas partindo da Place d’Italie, da porta Mailot e de Denfert-Rochereau, convergindo para o a Torre Eiffel». E ainda: foi «uma das maiores manifestações na capital francesa desde 1984, quando a população saiu às ruas contra a reforma educacional». O Fratres in Unum também repercutiu.

Algumas fotos do evento foram publicadas no Facebook (p.ex. aqui e aqui) e nos órgãos de imprensa internacionais (p.ex., esta galeria da BBC): são bonitas de se ver! As enormes ruas que Napoleão mandou abrir no coração da França tomadas por multidões e mais multidões de cidadãos franceses defendendo o casamento entre um homem e uma mulher. Homens e mulheres dos mais variados pontos da França afluindo à capital do país para dizer um sonoro “não!” ao casamento gay.

protesto-paris

Como era de se esperar, houve quem reclamasse. A mesma trupe avant-garde que aplaude com entusiasmo qualquer protesto de mau gosto contra os valores cristãos não gostou nem um pouco do protesto pacífico dos franceses: num átimo surgiram as acusações de sempre de gente retrógrada e imbecil que não tem o que fazer, reacionários implicantes que querem regular a vida sexual dos outros, etc., etc. É até engraçado: manifestação social só é boa quando está a serviço da agenda ideológica da vez. Ao contrário, quando ela defende valores tradicionais, os manifestantes esclarecidos se transformam em idiotas manipulados e o povo soberano vira plebe ignara que não sabe o que está fazendo.

Nunca é demais repetir que ser contra o “casamento gay” não tem nada a ver com proibir os homossexuais de se relacionarem com quem eles bem entenderem. Como já tivemos a oportunidade de falar aqui, substituir arbitrariamente, no ordenamento jurídico de uma sociedade, a entidade familiar por outro agrupamento social distinto dela é entregar o bom senso às feras. A questão jurídica não depende de elementos subjetivos como o “amor” que porventura os cidadãos sintam ou deixem de sentir entre si. O Matrimônio é um tipo específico de contrato firmado entre duas pessoas, que possui algumas características próprias e dos quais decorrem alguns deveres. Pegar outros tipos de uniões e chamá-las de “casamento” é no mínimo uma leviandade lingüística. Contudo, como as deficiências conceituais sempre têm conseqüências práticas, equiparar a dupla de homossexuais à família formada pela união entre o homem e a mulher é solapar as bases da organização social, porque toda sociedade tem por célula-mater a família, e não uniões genéricas de outro tipo, e isto simplesmente não tem como ser de outra forma.

Foi para repetir esta verdade óbvia que, no domingo passado, os franceses encheram as ruas de Paris. Uma manifestação, serena, sóbria e educada: que diferença entre isto e aquelas quatro senhoritas que, no mesmo dia, tiraram a roupa na Praça de São Pedro para defender o homossexualismo! Elas atrapalharam tanto os católicos que queriam acompanhar a oração do Angelus que precisaram ser arrastadas para fora por policiais. O contraste entre este protesto raivoso (que fica patente pelas fotos divulgadas na mídia – cuidado, contém cenas de nudez!) e a manifestação pacífica ocorrida em Paris já é, por si só, evidência suficiente de quem está com a razão.

O governo garantiu que, mesmo com o protesto do domingo, nada muda no seu propósito de legalizar o “casamento gay” em breve. «A porta-voz governamental Najat Vallaud-Belkacem, que também é ministra para assuntos femininos, disse à rádio Europe 1 que nada mudou e que a intenção do governo continua sendo a de submeter o projeto ao Parlamento neste mês e sancioná-lo até junho». Rezemos pela França! No entanto, a manifestação do dia 13 foi histórica. O governo francês pode até legislar a iniqüidade; mas não poderá borrar da História a bela página heroicamente escrita por estes franceses que, num domingo, reuniram-se em Paris para dizer em alta voz o que é um casamento de verdade.

Curtas: divórcio no Brasil, medidas pró-vida, Dom Evaristo Arns e o esvaziamento das igrejas, erro médico salva bebê

Brasil tem recorde de divórcios em 2011. «O número de divórcios chegou a 351.153, um crescimento de 45,6% em relação a 2010, quando foram registrados 243.224».

A razão? Naturalmente, o afrouxamento das exigências para o divórcio. «Conforme a pesquisa, um dos fatores foi a mudança na Constituição Federal em 2010, que derrubou o prazo para se divorciar, tornando esta a forma efetiva de dissolução dos casamentos, sem a etapa prévia da separação».

Pode-se argumentar que estas pessoas já não estavam vivendo um “casamento de verdade” mesmo, e que o fim do prazo legal para o divórcio só fez diminuir a burocracia necessária para regulamentar de direito uma situação que já existia de fato. Data venia, discordo. Casamento tem muito mais a ver com responsabilidade do que com os cônjuges “sentirem-se bem”, “amarem-se romanticamente” ou qualquer outro critério subjetivo do tipo. O casamento existe enquanto não se desiste dele; e conferir facilidades à desistência conjugal, longe de meramente regulamentar uma situação de fato, é contribuir positivamente para o fim do casamento – e, por conseguinte, para a banalização de um dos pilares necessários à vida em sociedade.

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– É antiga, mas merece dois tostões: “Proibir o aborto está longe de ser uma medida pró-vida”. «Eu nunca vou chamar de “pró-vida” alguém que faz piquete contra o programa Planned Parenthood e que faz lobby contra as leis relacionadas ao controle de armas regido pelo senso comum».

O que dizer? São comparações descabidas em cima de comparações descabidas! Ninguém é a favor da destruição ambiental ou do morticínio por armas de fogo. As bandeiras são pelo (verdadeiro!) desenvolvimento sustentável, que resguarda a primazia do homem na escala de valores da natureza, e pelo exercício do direito à legítima defesa, que dá a cada um a capacidade de proteger a si próprio e aos seus. Ao contrário, o aborto é a destruição direta de um ser humano. Causa espécie que existam pessoas incapazes de distinguir entre um espantalho e uma reivindicação literal!

Bem característico da qualidade argumentativa do texto é este período aqui: «O respeito pela santidade da vida, se você acredita que ela começa no momento da concepção, não pode terminar no nascimento». Oras, em primeiro lugar, ninguém “acredita” que a vida começa na concepção. Nós sabemos, com sólido e inabalável fundamento científico e filosófico, que a união dos gametas masculino e feminino produz um novo ser, distinto da mãe e pertencente à espécie humana. Isto é um fato, não uma coisa na qual se “acredita”. Se os “pro-choice” defendem que certos seres humanos são mais passíveis de proteção do que outros, que assumam abertamente as suas posições. Mas não venham querer jogar fatos objetivos e incontestes para o cômodo terreno das crendices e opiniões.

Em segundo lugar, é bastante óbvio que ninguém que é contra o aborto afirma que os cuidados com o ser humano devam terminar no momento do nascimento: isto é só mais um espantalho grosseiríssimo do sr. Thomas Friedman. Mas para quem tem o admirável dom de escrever um texto falacioso do primeiro ao último parágrafo, tal sofisma deve brotar com a naturalidade de um cacoete involuntário e incontrolável. Talvez ele nem perceba; mas isso, embora possa talvez escusá-lo da patifaria intelectual, não transforma esta tagarelice em argumento que deva ser levado a sério.

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– Dom Evaristo Arns admite que suas homilias esvaziavam a igreja. Simplesmente faço coro [p.s.: ao trecho abaixo que é d’O Catequista, e não de D. Arns]:

O crescimento das igrejas evangélicas se deu, em grande parte, graças ao bla-bla-blá marxista dos padres da Teologia da Libertação. O fiel ia pra paróquia querendo ouvir palavras de vida eterna, e, em vez disso, tinha que aturar um sermão enfadonho contra o “capetalismo”, sobre os oprimidos etc. (tudo muito teórico e distante da realidade do povo, pra variar). Um belo dia, cedendo ao convite de um amigo crente, o sujeito resolvia dar uma passadinha no culto, e o que ele via? Um pastor falando das coisas de Deus, falando de Cristo, explicando as coisas da Bíblia… Opa, finalmente!

E aí, entre uma paróquia transformada em filial do partido comunista e uma igrejola cheia de gente histérica, mas que, ao menos, ainda lembra que Jesus existe, com quem vocês acham que o povo simples fechava?

Estes resultados são tão deprimentes quanto previsíveis. O povo simples tem sede de Deus e, portanto, não se deixa engabelar facilmente pelo materialismo grosseiro e estéril da Teologia da Libertação. Foram às seitas protestantes para beber água suja, sim, mas muitas vezes forçados pelas circunstâncias eclesiásticas católicas – onde nem sequer água barrenta lhes davam. Foram à pocilga comer o farelo dos porcos porque, para vergonha nossa, nas paróquias só lhes davam pedras para comer.

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Erro médico salva bebê prematuro. Há «um código ético seguido pelos hospitais do Reino Unido que diz que os médicos não devem se esforçar para manter vivos esses bebês prematuros». E então aconteceu o seguinte:

Mas Maddalena sobreviveu, e, quando foi pesada, a balança marcou 1 libra (aproximadamente 453 gramas), número considerado razoável que fez com que os médicos decidissem agir para mantê-la viva. Acontece que a bebê pesava, na verdade, apenas 382 gramas, e uma tesoura esquecida em cima da balança havia aumentado seu peso. Se não fosse por isso, provavelmente eles teriam seguido o código e deixado os esforços de lado.

Ela sobreviveu e agora já está em casa. Um amigo perguntou que espécie de código de ética é este que proíbe os médicos de se esforçarem para salvar a vida de bebês prematuros; a perplexidade dele é plenamente justificável. É o tecnicismo colocado acima do mais elementar respeito à vida humana frágil e indefesa! E ainda querem nos fazer acreditar que estamos evoluídos. Ao contrário, parece-me bastante óbvio que o progresso moral não acompanhou o extraordinário desenvolvimento técnico que alcançamos. E é claro que a técnica é uma coisa muito boa, mas ela é um meio que se deve orientar ao bem do ser humano. Afinal de contas, se isto for esquecido, de que nos serve a técnica? Mais vale um médico sem perícia e sem tecnologia preocupado em salvar uma criança prematura do que um que, embora possua excelentes habilidades e tecnologia de ponta, prefira deixar um bebê frágil morrer sem cuidados! E a saúde moral de qualquer sociedade está fortemente relacionada ao quanto ela percebe que esta proposição é evidente.

O aborto nunca salva a vida de uma mulher. Ele apenas mata um bebê.

Interessante este curto vídeo sobre o aborto, produzido após uma mulher indiana ter morrido na Irlanda alegadamente porque os médicos locais se recusaram a fazer-lhe um aborto. A notícia repercutiu mundo afora; curiosamente, as declarações dos bispos irlandeses sobre a licitude do “aborto indireto” ninguém publicou.

Os ativistas pró-aborto foram rápidos em condenar a atitude dos médicos irlandeses:

Halappanavar teve forte dores no dia 21 de Outubro. Ela estava a perder o bebé e, de acordo com o seu marido, pediu várias vezes a interrupção da gravidez após ter sido informada de que o feto não sobreviveria. Mas Halappanavar e o seu marido foram informados de que a Irlanda é um país católico e como o feto ainda tinha batimento cardíaco, o procedimento estava fora de questão. Halappanavar morreu de septicemia; a sua família acredita que este desfecho teria sido evitado se a interrupção da gravidez tivesse sido realizada.

A história está evidentemente mal contada e tudo o que nós sabemos é que uma mulher grávida, infelizmente, morreu de infecção. Que o aborto pudesse salvar-lhe a vida é apenas especulação sem fundamento; aliás, de acordo com o repórter irlandês que cobriu o caso, pode ser que nem tenha havido uma solicitação de aborto – donde não se pode falar, portanto, em “omissão” dos médicos, e tudo o que nós temos aqui é – mais uma vez – o lobby abortista aproveitando-se da tragédia alheia para fazer propaganda da sua agenda ideológica.

Não existe aborto terapêutico. Não há cura que possa advir da morte de alguém. Postular que o sacrifício de um ser humano inocente possa ser exigido para salvar a vida de alguém é superstição pagã, e não ciência médica. Não existe verdadeiro respeito à vida quando se descarta o ser humano que a mulher doente carrega em seu ventre.  Nunca é demais deixar claro: o aborto nunca salva a vida de uma mulher. Ele apenas mata um bebê.