Eu queria escrever este texto ontem, mas não tive tempo. Ontem, dia 14 de setembro, foi a Festa de Exaltação da Santa Cruz; foi também o aniversário (quatro anos!) de entrada em vigor do Motu Proprio Summorum Pontificum, e ainda o dia do esperado encontro entre a Congregação para a Doutrina da Fé e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
A exaltação da Santa Cruz, do Lenho Santo do Qual pendeu a Salvação do mundo: vinde, adoremos! «Per lignum servi facti sumus, et per sanctam Crucem liberati sumus. Fructus arboris seduxit nos, Filius Dei redemit nos». O mistério é portentoso demais para ser esgotado; as Escrituras Sagradas dirão que a linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem. E onde a loucura?
Loucura entre todos os maus católicos inimigos da Santa Missa celebrada na Forma Extraordinária do Rito Romano, da Missa Gregoriana, Missa Tridentina, Missa de São Pio V ou seja lá o nome que lhe queiram dar. O ódio a esta forma piedosa e tradicionalíssima de celebração – de renovação do Sacrifício de Cristo no Calvário – não é, no fundo, outra coisa que não o ódio à Cruz de Cristo, o desespero diante das exigências de uma Fé [a Fé Católica e Apostólica, a Fé dos Apóstolos!] que parece seguir – em tudo – na contramão dos valores pregados pelo mundo de hoje.
Loucura entre os profetas de desgraças que sentem ojeriza pela aproximação da FSSPX à Sé de Pedro, e que intimamente torcem (quiçá rezem…) pelo malogro das conversações e para que os sacerdotes e fiéis ligados a Lefebvre permaneçam para sempre à margem da Barca de Pedro. Este ódio não é, também, outra coisa que não o ódio à intransigência da Fé Católica e Apostólica, às exigências da Cruz que não querem ver exaltada.
E, por fim, loucura nestas palavras de um Sucessor dos Apóstolos, que propõe-nos aos cristãos escondermos a Cruz (!) ao invés de A exaltarmos, em atenção aos infiéis sarracenos (!!). Sua Excelência termina seu texto dizendo que se deve tomar «cuidado com os marcados por símbolos». Eu diria a Dom Demétrio que, antes, devemos tomar cuidado – e muito! – com os marcados por ideologias estranhas à doutrina católica, ainda que se apresentem de mitra e báculo.
Porque nós, cristãos, somos marcados com o sinal de Cristo, e o sinal de Cristo é a Sua Cruz. «Estou pregado à cruz de Cristo» são palavras do Apóstolo (Gl 2, 19b); como podemos então não carregar em nossos corpos as marcas desta tão importante conformação a Nosso Senhor? Nós cristãos somos marcados indelevelmente com o caráter batismal e, mais tarde, com o selo do Santo Crisma. Os que ascendem às Sagradas Ordens recebem ainda um terceiro caráter indelével, o do Sacramento da Ordem. Ao evocar o adágio latino, Dom Demétrio esquece que ele próprio é três vezes marcado por Nosso Senhor. E, por via adversa, por linhas tortas, sem nexo causal, o bispo de Jales termina por dizer uma grande verdade: que os cristãos devem tomar cuidado com ele.
“Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6, 14). Que nós façamos nossas estas palavras de São Paulo. Que nós não nos gloriemos neste mundo, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, na festa litúrgica de ontem exaltada. Que nós tenhamos sempre a ousadia de ostentar esta Cruz bem alto – sem respeito humano, sem receios de ofender hereges ou infiéis -, porque só assim as pessoas poderão ser atraídas a Ela. Que nós – como cantam as composições populares de antigamente – possamos sempre, aqui na Terra, cantar louvores à Santa Cruz, a despeito do que digam o mundo e os maus prelados.