Mais um bispo de Olinda no Tribunal?

Assim, quando D. Vital chegou ao Recife, já encontrou em atividade os jornais maçons que todos os dias procuravam atingi-lo com sarcasmos e injúrias.

[…]

D. Vital procurou obter com amigos comuns que elas, as Irmandades, se submetessem à sua autoridade. Não conseguiu nada. Resolveu então mandar um primeiro aviso canônico aos vigários assistentes das irmandades para que exortassem os irmãos maçons a renunciarem à maçonaria ou se demitirem. As irmandades recusaram aceitar isso. Mais dois avisos se seguem e são recusados. O bispo lança então um interdito sobre as irmandades Santo Antônio e Espírito Santo, impedindo a realização de missas ou quaisquer religiosos nas suas capelas.

[…]

O próprio Governo, isto é, certamente o seu Chefe, Visconde do Rio Branco, e seus ajudantes maçons, mandaram dizer às irmandades que deviam apelar para o Governo Central com um, então vigente, “recurso à Coroa”, apesar de a lei brasileira de então dizer que em causas estritamente religiosas os bispos estavam submetidos ao Papa e só ao Papa podiam ser apresentados recursos contra sua decisões.

[…]

Diante do “recurso à Coroa” da Irmandade, o Governo mandou a D. Vital um aviso com ordem de levantar o interdito sob pena de ser processado.

[“Dom Vital e a Maçonaria”, in PERMANENCIA]

Recusei dar cumprimento à decisão do Governo Imperial, porque de modo algum mo permitia a minha consciência de Bispo Católico.
[Dom Vital, in O Bispo de Olinda no Tribunal do Bom Senso]

Não pude deixar de me lembrar desta história, ao ler no blog do Maierovitch que a mãe da menina de Alagoinha que autorizou o aborto dos netos e os “médicos” que o executaram podem pedir indenizações da Igreja por causa da excomunhão na qual incorreram com a morte dos dois irmãos gêmeos. Mas, como assim? O que a Justiça Civil tem a ver com o Direito Canônico? Desde quando as Leis do Estado podem intervir desta maneira nas Leis da Igreja? A mera insinuação de uma tal possibilidade chega às raias do surreal, e nos traz à lembrança – como evitar? – as desgraças que historicamente ocorreram sempre que o Estado quis extrapolar as suas atribuições e legislar matéria religiosa no lugar da Igreja.

Nunca é demais repetir que a excomunhão é uma pena canônica da Igreja, que não tem efeito algum na esfera civil; a Igreja é uma sociedade perfeita que tem verdadeira potestade de Governo sobre os Seus súditos, e exerce esta autoridade independente do Estado e sem que as distintas esferas – secular e religiosa – se misturem. Na situação atual, chega a ser irônico que os mesmos a proibirem a legítima liberdade de expressão dos católicos sobre os assuntos morais discutidos na sociedade civil sejam tão céleres em buscar ensinar à Igreja como deve ser o Seu governo interno – e até mesmo em invocar o Direito Secular como árbitro do Direito Eclesiástico. Diz o senhor Maierovitch:

Não podia, como acontecia nos tempos de Giordano Bruno, sair o arcebispo  a dar publicidade com o objetivo de condenar moralmente. Num estado laico, isso pode ser considerado ofensivo à imagem e bom nome de um cidadão. E danos à imagem são ressarcíveis pecuniariamente, na Justiça do estado laico.

Resta saber por que motivo misterioso seria laicamente “ofensivo à imagem e bom nome de um cidadão” uma excomunhão na qual ele de fato incorreu. Veja-se a “lógica” por detrás destas afirmações: é ofensivo ao cidadão ser excomungado. Incorre-se em excomunhões quando se cometem alguns crimes tipificados no Direito Canônico. A Igreja é obrigada a indenizar o excomungado, uma vez que ele é ofendido pela excomunhão. Ou seja: cada vez que um católico comete um delito canônico, a Igreja está obrigada a indenizá-lo! É como se, a cada justa condenação judicial, o Estado fosse obrigado a indenizar o condenado pela ofensa que a própria condenação acarreta ao seu bom nome. Uma completa e absurda inversão da lógica mais elementar. É espantoso que alguém venha a público defender uma sandice dessas.

E o blogueiro não é o único a defender este despautério; também um promotor afirmou que a excomunhão – pasmem! – poderia ser contestada na Justiça! Tal insistência em submeter a Igreja ao Estado e fazer com que as suas penas canônicas dependam da legislação civil é absurdamente injustificável. Mais uma vez – tenha Deus misericórdia! – o Estado procura se arvorar em juiz da Igreja; no que depender de alguns, mais uma vez teremos um bispo de Olinda no Tribunal do Estado.

Comentando o adeus do Arcebispo – 08

8 – Ações voltadas só para a Igreja

Até mesmo quando o Jornal do Commercio precisa noticiar os bons feitos da administração de Dom José Cardoso (porque a omissão seria demasiado escandalosa), ele faz questão de fazê-lo da maneira mais negativa possível. O Movimento Pró-Criança foi criado por Dom José em 1993 para atender menores de rua; segundo o último relatório disponibilizado na internet,

[d]urante o exercício de 2006, o MPC atendeu o número inédito de 1.749 pessoas, maior índice alcançado na história do projeto. Desse total, 150 foram mães de alunos que participaram de cursos profissionalizantes.

O mesmo documento conta ainda um pouco das realizações do projeto:

Por meio das atividades desenvolvidas pelo MPC, vários alunos ganharam destaque no Brasil e no exterior.
Confira alguns desses exemplos de sucesso:

  • O ex-aluno de dança da Unidade do Recife Antigo, Wanderson Wanderley, admitido na escola Perfoming Center, em Viena, Áustria, foi convidado para fazer parte de uma versão de Carmen, de Bizet, na Ópera de Viena.
  • Júnior dos Santos, ex-aluno de fotografia da Unidade dos Coelhos, está estudando em Zurich, na Suíça, onde trabalha como fotógrafo profissional. Júnior foi credenciado pela FIFA para cobrir a última Copa do Mundo, realizada na Alemanha, façanha que pouquíssimos fotógrafos que trabalham por conta própria conseguiram.
  • Ex-aluna do Espaço Cultural Maria Helena Marinho, Gláucia Pereira dos Santos foi contratada pelo Balé Popular Brasileiro, em turnê na China há dois anos, o que garantiu a ela estabilidade financeira.
  • Aluno da Unidade de Piedade, Eduardo Bernardino dos Santos passou no vestibular e está cursando Engenharia Civil, na Universidade de Pernambuco (UPE), e estagiando na Hábil Engenharia Ltda.
  • Graciele Maria Coelho Andrade foi aprovada no curso de Licenciatura em Artes Plásticas, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

E, no mesmo site, pode-se encontrar as seguintes informações:

O Pró-Criança é hoje uma das principais instituições do país no desenvolvimento sócio-educativo de crianças, adolescentes e jovens em situação de marginalização e exclusão social, segundo pesquisa da KANITZ & Associados realizada em 2002.

O resultado do trabalho desenvolvido pelo MPC se revela nos dados divulgados pelo Centro Interuniversitário de Estudos da América Latina (CIELA) que apontam para a diminuição do número de crimes praticados por adolescentes no Estado de Pernambuco. De acordo com o CIELA entre 1992 e 1999, o índice caiu de 1.649 para 314, enquanto no resto do país sofreu considerável aumento. Entre as causas apontadas para essa diminuição estão as ações desenvolvidas pelo Pró-Criança.

O trabalho desenvolvido pelo MPC também conta com a aprovação de 80% da população do Recife, de acordo com levantamento realizado, em setembro de 2003, pelo o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE).

Todas essas informações são públicas e estão ao alcance de qualquer um que saiba pelo menos usar o google. No entanto, ao invés de alardear o sucesso deste projeto da Arquidiocese, o que faz o JC? Cita-o muito a contragosto, ainda reclamando por ser este o único fruto da “pastoral social” da Arquidiocese!

[O Movimento Pró-Criança é] praticamente o único fruto de pastoral social que o arcebispo deixa para seu rebanho. O trabalho com as comunidades realizado em algumas paróquias, como a de Casa Forte, já existia antes de dom José e continuou a ser feito independentemente dele.

Sobre o trabalho com as comunidades realizado em algumas paróquias, a ressalva feita pelo JC é importante, porque ele só está “considerando” como trabalho social aquele que é feito a nível Arquidiocesano. E as pastorais das paróquias (só na paróquia em que eu frequento – e que não é a de Casa Forte – existem mais de dez, que atendem crianças, idosos, gestantes, oferecem serviços odontológicos, cestas básicas, etc), são porventura todas feitas independentemente do Arcebispo? Então as paróquias que têm pastoral são todas independentes de Dom José Cardoso? Que estranha organização eclesial o JC quer atribuir à Arquidiocese! O Arcebispo é pintado pelo jornal como se tivesse ojeriza a atividades sociais, sendo necessário deixar bem claro, logo a princípio, que as pastorais sociais desenvolvidas nas paróquias são independentes de Dom José!

Prossegue o jornal com um parágrafo relevante, dando algumas informações – embora tímidas – sobre o Movimento Pró-Criança. A seguir, logo no parágrafo seguinte, vem a alfinetada:

[A]s atividades mais relevantes do arcebispo ficaram mesmo voltadas para a formação religiosa do clero e dos leigos.

A formação religiosa do clero e dos leigos provavelmente não tem relevância alguma para o pessoal do Jornal do Commercio, mas é de fundamental importância para os católicos da Arquidiocese. Cito, com orgulho, aquilo que o especial do JC noticia com desdém: dentre os feitos de Dom José Cardoso, ao longo do seu arcebispado, podem e devem ser destacados:

  1. a reabertura do Seminário Maior de Olinda;
  2. a criação do Seminário Menor;
  3. [o envio de] vários sacerdotes a Roma e à Espanha para a obtenção de títulos acadêmicos nas ciências eclesiásticas;
  4. [o] aumento da quantidade de paróquias;
  5. [a ordenação de m]ais de 40 sacerdotes diocesanos;
  6. [a criação da] Escola Diaconal São José, para a formação de diáconos permanentes;
  7. [a criação de] um programa na Rádio Olinda;
  8. a criação do jornal A Mensagem Católica.

Parabéns ao Arcebispo, que realizou bem o seu trabalho! Some-se a isso todos os outros feitos que já foram comentados neste BLOG (e eu acrescento mais um: há na Arquidiocese mais de 30 institutos religiosos femininos), e será fácil ver como foi profícuo o Arcebispado de Dom José Cardoso e como ele fez bem a Olinda e Recife.

A reabertura do processo de canonização de Dom Vital é mais um feito de Dom José que merece destaque; e, de novo, o jornal a noticia com desdém. Sobre a opinião – que fecha o artigo – de Inácio Strieder, a de que Dom José faz homilia voltada para crianças, cabe lembrar que foi o próprio Jesus a elogiar as criancinhas e a exigir que elas fossem imitadas, sob pena de não se entrar no Reino dos Céus (cf. Lc 18, 16-17). Ademais, o “teólogo” da “Igreja Nova” certamente não entende as palavras de Dom José; também houve muitos que não entenderam as de Jesus. Permita Deus que ele possa, um dia, receber a Doutrina Católica “como uma criancinha” e, assim, entrar no Reino de Deus – na Igreja Católica – que hoje ele ataca, mas que tem sempre os braços abertos esperando o retorno dos filhos rebeldes e, à semelhança do Seu Divino Esposo, está sempre disposta a perdoar a todos os que a Ela retornam arrependidos.

* * *

Anexo – .O adeus do arcebispo

O ADEUS DO ARCEBISPO
Ações voltadas só para a Igreja
Publicado em 04.07.2008

[O ]legado de dom José, por ele mesmo, é um retrato do que foi seu arcebispado nesses 23 anos. A arquidiocese fez uma lista das “principais realizações” e apontou 14 itens. Em 13 deles, todas as ações relacionadas eram voltadas para a Igreja como instituição. Apenas uma tinha um caráter mais social, destinado a transformar a realidade que existe em volta dos templos. O Movimento Pró-Criança, com sede no bairro dos Coelhos, atende a meninos e meninas em situação de risco. É praticamente o único fruto de pastoral social que o arcebispo deixa para seu rebanho. O trabalho com as comunidades realizado em algumas paróquias, como a de Casa Forte, já existia antes de dom José e continuou a ser feito independentemente dele.Criado há 15 anos, o Pró-Criança possui três endereços de atendimento. Além dos Coelhos, tem casas no Bairro do Recife e em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Hoje, 1.343 crianças e adolescentes são atendidos pelo programa, com aulas de violão, dança, coral e artes plásticas. A profissionalização é uma das preocupações do movimento. São oferecidos cursos para formar fotógrafos, eletricistas, serigrafistas e pedreiros. Um dos maiores orgulhos do coordenador do Pró-Criança, Sebastião Barreto Campelo, são os exemplos de meninos beneficiados pelo programa que ganharam destaque fora do Brasil. “Tudo o que esses garotos querem é uma oportunidade. É isso que nós tentamos oferecer. Já conseguimos resgatar mais de sete mil jovens. Dom José tem muito orgulho desse trabalho”, afirma.Ele reconhece, no entanto, que as atividades mais relevantes do arcebispo ficaram mesmo voltadas para a formação religiosa do clero e dos leigos. “Realmente, foi o que mais se sobressaiu”, reconheceu. A arquidiocese diz que dom José imprimiu “novos rumos à formação dos futuros sacerdotes diocesanos” e aponta três ações que permitiram esse feito: a reabertura do Seminário Maior de Olinda, a criação do Seminário Menor e a preparação de uma equipe com “formadores idôneos”. Em relação a esse último item, o texto ressalta que foram enviados vários sacerdotes a Roma e à Espanha para a obtenção de títulos acadêmicos nas ciências eclesiásticas. São esses padres que constituem hoje o corpo docente dos seminários da arquidiocese.

O aumento da quantidade de paróquias foi outra preocupação do arcebispo. Foram fundadas mais 20, ampliando o número para 100. Mais de 40 sacerdotes diocesanos foram ordenados e a arquidiocese criou a Escola Diaconal São José, para a formação de diáconos permanentes. A lista de “realizações” inclui até um programa na Rádio Olinda, no qual o arcebispo explica aos ouvintes o catecismo da Igreja Católica, e a criação do jornal A Mensagem Católica, que substituiu o Boletim Arquidiocesano, que antes era mimeografado.

[INTERTITULO2]BEATIFICAÇÃO[/INTERTITULO2]

A arquidiocese dá destaque à reabertura do processo de beatificação de dom Vital, que havia sido interrompido na década de 70 do século passado. O religioso tornou-se bispo da diocese de Olinda aos 27 anos e a ele são atribuídos diversos milagres. A Igreja estaria esperando apenas a comprovação de um milagre para que o padre seja elevado à categoria de santo. Seria o primeiro do Nordeste brasileiro.

O teólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Inácio Strieder avalia que a supervalorização do rito e da Igreja como instituição fez encolher a prática pastoral da arquidiocese e sua dinâmica transformadora. “É uma religiosidade desencarnada, sem ligação com a vida terrena”, observa. E cita, como exemplo, as homilias feitas pelo arcebispo dom José Cardoso, durante as celebrações. “É uma homilia voltada para crianças, infantilizada. Um estilo devocional que não traz nenhuma conseqüência para além das paredes da igreja.”

Comentando o adeus do Arcebispo – 04

4 –  O desmonte sob a bênção da Santa Sé & Punição a padres semeou medo

Algumas ofensas mais trazem honra do que desonra. Os artigos do especial do Jornal do Commercio comentados neste post e no próximo são exemplos disto. Atacando simultaneamente Dom José Cardoso e a Santa Sé, ao mesmo tempo em que dá vez voz a inimigos declarados da Igreja Católica, o jornal termina por tecer elogios fabulosos à figura do Arcebispo. Como tais elogios são, de certa maneira, indiretos, é necessário comentar ligeiramente as linhas escritas com o propósito de atacar o Arcebispo.

[O ]ano de 1989 foi negro para a Arquidiocese de Olinda e Recife. Em questão de meses, todo um trabalho resultado de anos de pastoral estava silenciado. Entrava em ação a operação de desmonte de uma Igreja inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres.

Só se “desmonta” uma coisa que foi “montada”. Registro, assim, que havia sido “montada”, em Olinda e Recife, uma Igreja inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres. Acontece que a única pessoa capaz de fundar uma Igreja é Nosso Senhor Jesus Cristo, e Ele o fez, e esta Igreja – sobre a Qual as portas do Inferno nunca prevalecerão – é a Igreja Católica Apostólica Romana. Qualquer igreja diferente desta é engodo, e qualquer um que se atreva a montá-la é ladrão e salteador.

Apenas saliento que inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres significa, no linguajar modernista, “traidora do Concílio Vaticano II” e “inspirada na Teologia da Libertação”. Uma igreja “modernista”, uma igreja “TLista”, mas não a Igreja de Cristo.

Numa tacada só, o novo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, fechou o Seminário Regional Nordeste II e o Instituto de Teologia do Recife (Iter), ambos voltados à formação com base na Teologia da Libertação.

SERENE II – antro de homossexualismo. ITER – antro de marxismo. Duas coisas completamente incompatíveis com a Doutrina Católica, de modo que era dever do Arcebispo dar-lhes cabo com presteza. Com estas duas aberrações, é impossível fazer “pastoral vocacional” e, evidentemente, a situação do clero e dos leigos vai estar calamitosa.

Agiu por convicção e a mando do Vaticano.

Ou seja: é um Excelente Arcebispo, fiel à sua consciência e ao mandato que recebeu da Igreja, e um digno sucessor dos Apóstolos. Mas o pessoal do JC queria um bispo que agisse “sem convicção” e “em desobediência ao Vaticano”…

[E]le é símbolo do pensamento atual da Igreja de Roma, a mesma que hoje volta a rezar missas em latim e com os padres de costas para os fiéis.

Traduzindo: Dom José é fiel à Igreja. O problema destas pessoas é com a Igreja Católica, e não com o Arcebispo.

Os ventos progressistas e modernizantes trazidos pelo papa João XXIII, o homem do Concílio Vaticano II, não sopram mais em Roma.

Ventos progressistas e modernizantes podem ter soprado – e soprar ainda hoje – nas cabeças ocas de hereges, mas não na Cidade Eterna. As aloprações que (desgraçadamente) foram feitas em nome do Concílio Vaticano II não podem ser atribuídas a ele. Roma sempre condenou tais disparates, e Roma sempre corroborou o Vaticano II.

(…) avalia o ex-padre Reginaldo Veloso, que foi suspenso das funções sacerdotais e hoje é casado e tem um filho.

Com todo o respeito devido aos sacerdotes, mas não dá para ficar calado: um ex-padre amasiado é, realmente, a maior autoridade que o JC poderia encontrar para falar mal do Arcebispo e da Igreja Católica! Porque os católicos bons e fiéis jamais colaborariam com o intuito nefasto do jornal. E saliento que ser contrariado pelo pe. Reginaldo Veloso é motivo de honra, posto que, se asinus asinum fricat, o fato do pe. Veloso não “ser chegado” a Dom José revela que o Arcebispo não é da mesma laia dele.

Foi um equívoco de Roma indicá-lo porque ele não tinha a habilidade necessária (…), pondera o teólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco Inácio Strieder.

Ou seja, o que o jornal está dizendo é que Roma “se equivocou” e é um teólogo leigo quem está com a razão. Semelhante besteira proferida por alguém que se diz “teólogo” poderia encher de júbilo os inimigos da Igreja mas, para os católicos, isto é mais um sinal de que a Verdade está “do outro lado”; afinal, vejam as pérolas que este senhor defende.

“(…) Essa história de estar dizendo que está cumprindo o que Roma mandou é uma maneira muito boa de lavar as mãos como Pilatos (…)”, analisa o padre Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte.

Só lembrando que o pe. Edwaldo Gomes é aquele que concelebrou uma missa com um anglicano, em meados do ano passado, e teve que se retratar no jornal da Arquidiocese. E, com todo o respeito que se deve a um sacerdote, Sua Reverendíssima não tem o direito de fazer insinuações desrespeitosas assim sobre o Arcebispo!

Um dos símbolos da Igreja de Resistência no arcebispado de dom José Cardoso (…)

Leia-se: da Anti-Igreja, da Sinagoga de Satanás. Porque, na Igreja de Cristo, “aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação” (Rm 13, 2).

“As sandálias do pastor continuam descalças. Em seu lugar, foram calçadas as botas do inquisidor”.

E aqui, arrematando o artigo, um eloqüente exemplo de um “rótulo odioso”. Voilà!

O artigo seguinte, sobre os “padres medrosos”, tenciona tão-somente acrescentar, ao já extenso rol de adjetivos depreciativos despejado sobre o Arcebispo, o de “perseguidor”. O jornal, ao dizer que o motivo das expulsões foi simplesmente divergência de opinião com o arcebispo, insinua que tal “divergência” é pessoal. Ao contrário, os padres sempre foram afastados por divergência com a Igreja. Não tem nada de “opinião” aqui.

Fazendo uma lista com as próprias citações do JC:

– [m]uitos (…) foram acolhidos pela pastoral progressista do então arcebispo de João Pessoa (…)
– [s]eguidor da doutrina libertária de dom Hélder, o padre Luís Antônio de Oliveira (…)
– o padre Edwaldo Gomes, (…) por ter concelebrado uma missa com um bispo da Igreja Anglicana (…)

Ou seja: as questões aqui envolvidas são sempre referentes à Doutrina da Igreja Católica – e nunca por uma simples divergência de opinião com o arcebispo. O JC, portanto, mente e engana os seus leitores, fazendo-os crer que Dom José afastou padres meramente por uma questões de “opinião”. Isto é falso.

Em março de 1990, 82 religiosos da Arquidiocese de Olinda e Recife assinaram um manifesto denunciando as perseguições de dom José.

Não consegui encontrar este manifesto. Mas a julgar por quem o assina [o JC cita o pe. Reginaldo Veloso], vê-se que boa coisa não deve ser…

Por divergência de visão pastoral, o Padre Reginaldo Veloso havia sido demitido da Paróquia do Morro da Conceição (…)

O que o jornal chama de divergência de visão pastoral é o fato de que o Arcebispo queria servir à Igreja e, no Morro da Conceição, o pe. Reginaldo Veloso queria servir às CEBs. Atualmente, o ex-pároco está amasiado e tem um filho – de onde se infere qual era o tipo de “divergência” que havia entre ele e o Arcebispo.

E foi obrigado a acrescentar esse dado em sua biografia: é o único arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife a freqüentar delegacias e varas judiciais.

Bom, o único Arcebispo, talvez. Mas já houve um bispo em Olinda e Recife que teve problemas com a Justiça: Dom Vital (aliás, não deixem de ler este artigo). Que, aliás, é servo de Deus. Vê-se assim que Dom José Cardoso está muito bem acompanhado…

* * *

Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O desmonte sob a bênção da Santa Sé
Publicado em 04.07.2008

Influenciado pelos ventos fortes do conservadorismo do Vaticano, dom José acabou trabalho social e calou as vozes progressistas

[O ]ano de 1989 foi negro para a Arquidiocese de Olinda e Recife. Em questão de meses, todo um trabalho resultado de anos de pastoral estava silenciado. Entrava em ação a operação de desmonte de uma Igreja inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres. Numa tacada só, o novo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, fechou o Seminário Regional Nordeste II e o Instituto de Teologia do Recife (Iter), ambos voltados à formação com base na Teologia da Libertação. Calou a voz da Comissão de Justiça e Paz e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Agiu por convicção e a mando do Vaticano. Analisando o passado e olhando para o futuro, é fácil saber por que dom José atuou com tanta liberdade e autonomia: ele é símbolo do pensamento atual da Igreja de Roma, a mesma que hoje volta a rezar missas em latim e com os padres de costas para os fiéis.É impossível compreender os 23 anos do polêmico arcebispado de dom José sem avaliar os rumos que a Igreja tomou nas últimas décadas. Os ventos progressistas e modernizantes trazidos pelo papa João XXIII, o homem do Concílio Vaticano II, não sopram mais em Roma. Mudaram de curso desde João Paulo II. E praticamente se dissiparam com a eleição de Bento XVI. O novo papa, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, voltou a Igreja para dentro e em direção ao passado. Foi buscar no século 16 a inspiração para conduzir o seu rebanho católico em pleno século 21. Os tempos hoje são de outro concílio, o de Trento (1545 a 1563), defensor da fé, das tradições e da disciplina eclesiástica.

“Dom José chegou com a nefasta missão de desmontar tudo o que havia sido construído no tempo primaveril de dom Hélder. Ele é a expressão local de um processo de retrocesso que se observa não só na Igreja, mas na humanidade. Seu legado é o da estagnação”, avalia o ex-padre Reginaldo Veloso, que foi suspenso das funções sacerdotais e hoje é casado e tem um filho. Reginaldo diz que a Igreja se contenta em olhar para si mesma e a procurar satisfação em uma prática celebrativa e alienante.

Ao pensamento conservador, somaram-se o temperamento fechado e a falta de experiência do arcebispo em lidar com uma arquidiocese do tamanho da de Olinda e Recife. “Foi um equívoco de Roma indicá-lo porque ele não tinha a habilidade necessária. Era menor do que o cargo exigia. E usou a psicologia da força para compensar sua insegurança diante dos questionamentos que surgiram. Ele deixa uma certa melancolia. Foi um tempo de perdas. É o que a história vai contar”, pondera o teólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco Inácio Strieder.

“Eu lamento profundamente que certas autoridades da Igreja a quem esse caso está mais afeto, como a Congregação para os Bispos e a Nunciatura Apostólica, não tenham sido mais sensíveis ao problema de Olinda e Recife. Porque o papa está muito longe. Essa história de estar dizendo que está cumprindo o que Roma mandou é uma maneira muito boa de lavar as mãos como Pilatos, porque se o bispo é realmente um pastor ele deve se queimar pelo rebanho”, analisa o padre Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte.

Se a Cúria Romana não fez nada, o mesmo não se pode dizer dos leigos católicos. Um dos símbolos da Igreja de Resistência no arcebispado de dom José Cardoso, o grupo Igreja Nova procurou continuar com a missão pastoral de dom Hélder, dentro do seu espírito libertário e conciliador. “A questão nunca foi pessoal. O que nós combatemos todos esses anos foi a forma autoritária como ele conduziu a arquidiocese”, explica Antônio Carlos Maranhão Aguiar, um dos integrantes do grupo. E sintetiza o que foi o legado de dom José, em 23 anos de arcebispado: “As sandálias do pastor continuam descalças. Em seu lugar, foram calçadas as botas do inquisidor”.

Anexo 2 – .O adeus do arcebispo

Punição a padres semeou medo
Publicado em 04.07.2008

“Quem vai ser o próximo?” No fim dos anos 80 e durante a maior parte da década de 90, essa pergunta assombrava a todos os padres que ousavam pensar diferente do arcebispo. A chegada de dom José fez mais do que dividir a Igreja. Causou uma espécie de diáspora do clero de Olinda e Recife. De forma direta, ele afastou, puniu ou demitiu pelo menos 16 padres brasileiros e estrangeiros. Considerando os que sofreram perseguição ou pressão para sair, a conta sobe para mais de 30. Muitos pegaram a estrada em direção à Paraíba e foram acolhidos pela pastoral progressista do então arcebispo de João Pessoa, dom José Maria Pires. Quem ficou, foi obrigado a silenciar. E a resistir com as armas que tinha.De pouco adiantou protestar. Mas os padres tentaram. Em março de 1990, 82 religiosos da Arquidiocese de Olinda e Recife assinaram um manifesto denunciando as perseguições de dom José. O número 17 da lista falava com conhecimento de causa. Por divergência de visão pastoral, o Padre Reginaldo Veloso havia sido demitido da Paróquia do Morro da Conceição, três meses antes, num dos episódios mais traumáticos da gestão de dom José e que a imprensa, na época, chamou de “Guerra Santa”. Em solidariedade ao religioso, os fiéis tomaram a chave da igreja e foi preciso a polícia e a Justiça intervir para que a situação fosse contornada. Era só o começo.

Seguidor da doutrina libertária de dom Hélder, o padre Luís Antônio de Oliveira, da Paróquia de Boa Viagem, seria uma das próximas vítimas. Com um forte trabalho pastoral desenvolvido com a participação de leigos, ele foi demitido em 1991 por não concordar com as idéias de dom José. Um grupo de fiéis conseguiu audiência com o arcebispo para tentar demovê-lo da idéia, mas ele manteve a decisão. Dois anos mais tarde, os padres estrangeiros Felipe Mallet, da Paróquia de Brasília Teimosa, e André Rombouts, de Apipucos, também tiveram que sair. A razão: divergência de opinião com o arcebispo.

Com maior ou menor estardalhaço, os casos foram se sucedendo. No ano passado, dom José comprou uma briga que o deixou ainda mais isolado. Invocando um artigo do direito canônico, ele denunciou ao Vaticano o padre Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte, por ter concelebrado uma missa com um bispo da Igreja Anglicana. As reações foram enormes, mas dom José manteve a punição ao padre.

Um de seus últimos atos, no entanto, lhe traria dores de cabeça maiores. No confronto com o padre de Água Fria, João Carlos Santana, ele terminou sendo processado por calúnia e difamação. E foi obrigado a acrescentar esse dado em sua biografia: é o único arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife a freqüentar delegacias e varas judiciais.