Não me incomodam tanto as pessoas que atacam a Igreja estando fora d’Ela. O que realmente me tira do sério são aqueles que se dizem “católicos” e, mesmo assim, fazem tudo de maneira diametralmente oposta àquilo que a Igreja ensina e pede. O mau testemunho que estas pessoas dão, o escândalo, as feridas que se disseminam por todo o Corpo Místico de Cristo – afinal, lembremo-nos da comunhão dos santos – são simplesmente terríveis. Tais pessoas terminam por “queimar o filme” da Igreja e, assim, afastar d’Ela as almas sinceras que buscam a Verdade que liberta, e que só na Igreja de Nosso Senhor pode ser encontrada em plenitude.
“Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!”, disse Nosso Senhor no Evangelho (Mc 9, 42). Pode-se traduzir também “todo o que escandalizar a um destes pequeninos” – no latim de São Jerônimo, o verbo é scandalizaverit – e, na minha opinião, desta forma fica mais evidente o mal que é o escândalo. Comentando esta passagem do Evangelho, o Catecismo da Igreja diz o seguinte:
O escândalo reveste-se duma gravidade particular conforme a autoridade dos que o causam ou a fraqueza dos que dele são vítimas. Ele inspirou esta maldição a nosso Senhor: «Mas se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar» (Mt 18, 6). O escândalo é grave quando é causado por aqueles que, por natureza ou em virtude da função que exercem, tem a obrigação de ensinar e de educar os outros. Jesus censura-o nos escribas e fariseus, comparando-os a lobos disfarçados de cordeiros.
[CIC 2285]
Todo este preâmbulo foi necessário para que eu comentasse um caso que eu vi no Jornal Nacional de ontem, sobre um padre “casado” que insistia em celebrar os Sacramentos mesmo estando suspenso de ordens. O padre Osiel dos Santos chegava mesmo a dizer: “o que eu faço não é com ordem da diocese”. Ou seja: estamos diante de um caso de deliberado e consciente desprezo à autoridade da Igreja de quem o padre recebeu o ministério sacerdotal!
Sejamos claros: ninguém é obrigado a ser católico. Para quem é católico, ninguém é obrigado a ser padre. No entanto, se o sujeito livremente se decide por ser católico e – ainda – por ser ordenado sacerdote, tem a obrigação de “seguir as regras do jogo”, e ter pelo menos um mínimo de coerência e de consideração à Igreja para cujo serviço ele foi ordenado. Ninguém tem o “direito” de ser sacerdote do Deus Altíssimo; uma vez que atinja este estado, portanto, é necessário esforçar-se para ser digno dele. Agir como lobo que dispersa as ovelhas e pôr-lhes as almas em risco quando se tinha o encargo de guardá-las e conduzi-las a Deus é uma atitude particularmente perversa. Foi a pessoas assim que Jesus dirigiu aquelas duras palavras dos Evangelhos citadas mais acima.
Os Sacramentos da Igreja não são todos iguais. A Eucaristia, por exemplo, é validamente celebrada mesmo por um padre que esteja suspenso de ordens – embora seja ilícita. Mas as confissões e os matrimônios são inválidos mesmo, porque são Sacramentos que exigem o exercício da jurisdição da Igreja – coisa que um padre suspenso não possui. Portanto, o padre Osiel estava não somente escandalizando os fiéis, mas também enganando-lhes ao lhes oferecer “teatros” de Sacramentos que não têm valor. Ele deveria dizer não somente que não age “com ordem da diocese”; deveria dizer claramente que está fazendo teatro e “celebrando” casamentos sem valor algum, dizendo ainda – para que as pessoas que o procuram pudessem entender – que um casamento em presença dele e em presença de ninguém eram a mesma coisa, ou seja, nada. Mas por que alguém que despreza a Igreja iria se preocupar com as almas dos fiéis que Ela tem a missão de guardar?
N’O Globo, foi publicada a mesma notícia com um outro detalhe que vale a pena mencionar:
– Eu sempre lutei pelo celibato opcional e pela ordenação de mulheres – diz Osiel.
Eis, portanto, as garras do lobo de fora. Embora o celibato seja uma disciplina da Igreja, é antiquíssima, e santa e santificante, e a Igreja já deixou claro (inclusive recentemente) que não pretende alterá-la (cf. Sacramentum Caritatis, 24); mas a ordenação de mulheres é uma impossibilidade doutrinária, que simplesmente não pode ser feita, como a Igreja também já o disse outras vezes. Mulheres não podem ser ordenadas, como papagaios não podem ser batizados ou pedras não podem ser crismadas. Em qualquer um dos casos o sacramento é inválido e é um sacrilégio. A função da mulher – importantíssima e insubstituível – na Igreja é outra; leiam a Mulieris Dignitatem! E não aceitemos que um padre, que deveria guiar os fiéis pelo estreito caminho da Salvação, despreze a dignidade feminina com base em um inexistente igualitarismo entre os gêneros.
O padre diz que não crê estar fazendo nada de errado. Sim, está, é claro que está. Está traindo a Igreja, escandalizando o povo fiel, oferecendo simulações de sacramentos no lugar dos sacramentos verdadeiros, defendendo disparates já há muito tempo condenados pela Igreja. No site da Arquidiocese, encontra-se um comunicado de Sua Excelência Reverendíssima Dom Washington Cruz, avisando a todas as pessoas que o padre Osiel não pode celebrar os Sacramentos. Graças a Deus, as pessoas estão se cansando dos escândalos, e os bispos estão agindo verdadeiramente como sentinelas que são, defendendo os fiéis católicos de tudo aquilo que pode colocar em risco a salvação de suas almas, e expulsando valentemente os lobos do meio das ovelhas. Rezemos pela Igreja, para que Ela tenha sempre santos pastores, dignos do grave encargo que lhes foi confiado.