Todo bem radica no Evangelho

No seu livro de memórias, Joaquim Nabuco, lá pelas tantas, se queixa de que a abolição no Brasil tenha sido antes um arroubo revolucionário que um apostolado religioso. E nisso distingue a caridade cristã do amor à humanidade, dizendo que tanto este amor quanto aquela caridade podem disputar a realização de uma mesma obra — por vezes avantajando-se o último quando a primeira fraqueja. Mas não é indiferente que os avanços sociais sejam conquistados pela caridade ou pela filantropia, porque no primeiro caso é mais provável que eles deitem raízes e frutifiquem, enquanto no último é-lhes mais fácil estagnar ou se degenerar.

Ora, Deus é o autor de todo bem. Assim como toda verdade pertence à Igreja onde quer que ela seja proferida — dizia Santo Tomás para explicar, embora não com esses termos modernos, os elementos de santificação e verdade existentes em meio aos hereges –, do mesmo modo todo e qualquer bem na ordem temporal radica no Evangelho, a ele pertence por direito, por ele pode ser reclamado e a ele deve ser ordenado. Que a mera filantropia possa por vezes chegar (acidental e parcialmente) ao bem humano é irrelevante: é claro que o amor natural pode mover o homem à prática de algum bem, assim como a razão natural pode chegar ao descobrimento de certas verdades. Isto, no entanto, não torna a Fé despicienda, nem aquilo torna prescindível a Caridade.

Ao contrário do que somos condicionados a pensar no nosso mundo polarizado pelas redes sociais, as bandeiras não têm o valor ou o desvalor de quem as empunha. No mundo das ideias, os vexilos valem o que representam independente de quem marche sob eles. Assim, por exemplo, a abolição era e é uma causa evangélica ainda que fosse tomada a peito pelos revolucionários, e do mesmo modo o pagamento do justo salário aos empregados era e é uma causa católica ainda que historicamente a reclamem os comunistas.

Pelas mesmíssimas razões, e mutatis mutandis, as questões ambientais dizem respeito ao Reino de Deus, são de interesse e propriedade do Cristianismo — único capaz de lhes dar a correta dimensão e a justa medida — e podem e devem ser reclamadas atualmente pelos cristãos. Que hoje em dia as monopolizem e distorçam os naturalistas e panteístas é coisa que não nos deve espantar; aliás, tal circunstância deveria ser, antes, um motivo a mais para nos dedicarmos à defesa e difusão de uma concepção correta acerca dos direitos e deveres do homem para com a Criação. Da mesma forma que não se combate o comunismo defendendo a jornada de trabalho da Revolução Industrial, assim também não se combate o (por falta de termo melhor) ambientalismo neopagão jogando garrafa plástica no rio ou tocando fogo em mico-leão dourado.

As paixões humanas tendem a ocupar os espaços onde os cristãos não fazem chegar a força do Evangelho. E o amor natural, como dizíamos, é bom e é capaz de coisas boas; mas é também decaído, propenso ao erro e capaz de equívocos. O moderno discurso ambientalista está repleto desses erros e desses equívocos. Mas disso não segue — ao menos não necessariamente, ao menos não para todos os que o adotam — que nele haja malícia em princípio, ou que ele seja desprovido de razão em todas as questões que levanta. Os cristãos devem, sim, levantar a sua voz no debate ambiental, porque a Criação é obra de Deus, e é muito importante para ficar nas mãos de gente sem Fé.

Curtas: Ecologia e Panteísmo, EVP e consciência, aborto e condenação, União Européia e imagens de santos nas moedas, Joaquim Barbosa e a presidência do STF

– Da Teologia da Libertação para o Ecoterrorismo panteísta: Boff clama pela salvação da “Mãe Terra” crucificada. «“Dentro dessa opção pelos pobres é preciso colocar o grande pobre que é a Mãe Terra, que é a Pachamama, a Magna Mater, a Tonantzin, a Gaia, é o grande pobre devastado e oprimido”, afirmou» o notório herege.

Esta outra fonte coloca as coisas em termos ainda mais ridículos quando cita outro “pensamento” do ex-frei (que, verdade seja dita, eu não encontrei de primeira mão):

Ainda segundo este visionário profeta da “religião” verde, a “Mãe Terra” estaria preparando um novo ser capaz de “receber o espírito”.

Esse “novo homem” – alias, assaz diferente dele – não seria outra coisa senão uma lula gigante.

De qualquer forma, eis os devaneios aos quais se é capaz de chegar quando se abandona a Fé em Cristo!

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– Sobre mentes (e almas…) e cérebros: médicos “conversam” com paciente em Estado Vegetativo Permanente:

Funciona assim: os médicos escaneiam o cérebro do paciente Scott Routley usando fMRI (ressonância magnética). Em tempo real, a ressonância indica quais áreas do cérebro estão ativas, medindo o fluxo de sangue rico em oxigênio.

Então os médicos pedem, várias vezes, para o paciente imaginar cenas como jogar tênis, ou andar pela casa. São itens bem específicos que, em voluntários saudáveis, ativam áreas predefinidas do cérebro – nos pacientes, também.

Dessa forma, os médicos conseguem perguntar “se você está sentindo dor, imagine-se jogando tênis” e ver na ressonância se o paciente imagina isso. É dessa forma que ocorre a comunicação.

Também aqui. Ora, isto muda tudo o que se acreditava sobre a consciência em pessoas que sofreram acidentes; em particular, lança por terra os “argumentos” dos que defendiam a morte – por inanição! – de pessoas que se encontravam nestas condições. Terri Schiavo, Eluana Englaro, vítimas todas da sanha assassina do homem moderno: o futuro lhes fez justiça. Lamentavelmente, tarde demais para muitos inocentes.

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– A impunidade não pode durar para sempre: foi condenada em Brasília uma mulher que cometeu aborto:

O homem que teria comprado os comprimidos e que era pai da criança insistiu para que a grávida tomasse o medicamento. Ele foi interrogado pela Justiça e recebeu uma proposta para que seu processo fosse suspenso desde que ele cumprisse obrigações judiciais. Por causa disso, ele não foi punido.

A mulher, segundo o TJDFT, não cumpriu as tarefas prometidas e teve o benefício revogado. De acordo com o processo, ela estaria proibida de “frequentar boates, inferninhos e congêneres e de ausentar-se do DF sem autorização do juízo”. Deveria também “prestar serviços à comunidade pelo período de oito horas semanais, pelo período de dois anos no Hospital Regional de Taguatinga”.

Há felizmente outros exemplos. Lembro-me de ter lido há alguns meses sobre uma mulher que seria levada a júri popular pelo mesmo crime. Não sei como ficou este processo, mas a justificativa do promotor do caso é bastante lúcida e reconfortante:

– No júri vou pedir a condenação de Keila como forma de prevenção geral. É uma punição moral para que as pessoas entendam que o aborto é criminoso, diz Moreira, admitindo que é raro que casos de aborto sejam denunciados e terminem em júri.

Aborto é crime e deve ser combatido. E ainda há pessoas nos tribunais brasileiros que estão trabalhando para defender esta verdade tão importante.

* * *

– Na Europa como no Brasil: nova polêmica da União Européia é contra a representação das auréolas (isso mesmo, só das auréolas!) de São Cirilo e São Metódio nas moedas comemorativas da Eslováquia! O fanatismo ateísta não tem limites geográficos nem culturais: os bárbaros se encontram por toda a parte. E o negócio se reveste de tons ainda mais kafkianos porque estamos falando de outros países da UE protestando contra a figura que o Banco Central eslovaco decidiu cunhar em suas moedas!

E o articulista saiu-se com um excelente comentário sobre o assunto: «Esta petulância laicista tem seu lado cômico: como dizia Chesterton, ninguém blasfema contra Thor. Vêm-me à mente várias moedas comemorativas com deuses gregos – a espanhola de 50€ retratava o rapto da Europa pelo deus Zeus. No fundo, “sabem” que não é o mesmo. Já é alguma coisa [algo es algo]».

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Joaquim Barbosa, presidente do STF: editorial da Gazeta do Povo. «Está agora em suas mãos contribuir para a construção dessa almejada realidade. Mas, data venia, convém que não seja tomado, no exercício do cargo, pela mesma vaidade que por tantas vezes marcou sua atuação em plenário».

Como eu disse aqui há não muito tempo, não há juízes em Brasília. É bom que órgãos da imprensa secular estejam dando a sua contribuição para frear a (compreensível, mas injustificável e perigosa) presente euforia nacional com o STF.

Rascunhos sobre a conferência de Dom Bertrand no Círculo Católico

Ontem à noite eu fui ao Círculo Católico para assistir à palestra de Dom Bertrand. O tema originalmente previsto era a «Psicose Ambientalista», título do seu livro cujo lançamento ocorrera na véspera, na Livraria Saraiva do Shopping RioMar; mas Sua Alteza, orador valoroso, com muita graça discorreu também sobre diversos outros assuntos, brindando a platéia com os seus vastos conhecimentos sobre temas gerais de história, catolicismo, civilização.

Sobre o tema do ambientalismo em si, ele teve o cuidado de separar o – necessário! – cuidado do planeta do lobby moderno que, imbuído de um forte viés ideológico anti-cristão, intenta produzir nas pessoas um sentimento de pânico e de paranóia ante um alegado cataclismo global climático iminente. Deus Nosso Senhor criou a Natureza para o homem e, este, foi colocado pelo Altíssimo no Jardim do Éden para o cultivar e guardar, como lemos nas Escrituras Sagradas. É óbvio que não podemos dilapidar a Criação do Todo-Poderoso; mas é preciso ter bem claro que o catastrofismo corrente não nos ajuda a preservar melhor o planeta que Deus nos deu. Em particular, os brasileiros não somos os irresponsáveis poluidores que uma superficial leitura da nossa mídia pode nos levar a crer: embora sejamos o quinto maior país do mundo, a nossa “contribuição” para a poluição atmosférica é de menos de 2%. Ficamos (muito) atrás de países como a China (esta sim a grande poluidora, responsável por cerca de 20% da emissão global de gases poluentes), os Estados Unidos, a Índia e a Rússia. Em números absolutos, somos o décimo-alguma-coisa; se os colocarmos em termos proporcionais à população e considerarmos a poluição per capita, ficamos para lá do centésimo lugar: o que, bem dito, significa que somos um dos países que menos poluem atualmente.

Citando estudos (se a memória não me trai) da Embrapa, Dom Bertrand opôs ao terrorismo midiático alguns dados bem menos apocalípticos. O nosso bioma amazônico ainda está em sua esmagadora maior parte intacto, e a relativa derrubada da Mata Amazônica necessária para abrigar (e sustentar) as nossas cidades é um preço bem razoável a ser pago para que tenhamos hoje uma civilização que Cabral não encontrou quando atracou nesta então chamada Ilha de Vera Cruz. A temperatura média global ao longo dos últimos cem anos variou menos de um grau centígrado; e, se as calotas polares do Pólo Norte estão de fato reduzindo, as geleiras do Pólo Sul (substancialmente mais densas do que as árticas) ainda estão crescendo. Lembrando alguns dados históricos que os eco-terroristas soem esquecer, Sua Alteza falou-nos da Groenlândia – hoje praticamente só gelo -, que tem o nome derivado justamente de “Green Land”, “Terra Verde”: na Idade Média, o clima lá era muito mais quente do que hoje em dia, o que possibilitava a existência de plantações e campos tão vastos que batizaram o território com a cor de sua vegetação. E, sobre emissões de CO2, o Príncipe lembrou-nos o singelo fato [p.s.: decerto mais retórico-ilustrativo do que estatisticamente rigoroso] de que uma única erupção vulcânica é capaz de lançar na atmosfera mais gás carbônico do que toda a atividade humana acumulada da Revolução Industrial até hoje. Obviamente, nada disso nos exime do cuidado com o planeta e não pode ser usado como desculpa para o mau uso dos recursos naturais: mas serve para que as coisas sejam colocadas em perspectiva e para nos ajudar a distinguir os fatos das ideologias.

Aproveitando o espaço e a receptividade do público, Dom Bertrand falou-nos ainda de diversas amenidades. Cito duas. Uma: a idéia de se construir a estátua do Cristo Redentor (que hoje pode-se encontrar embelezando o Rio de Janeiro) partiu da Princesa Isabel após a assinatura da Lei Áurea: diante da euforia do povo que a queria homenagear com um monumento em sua honra pela remissão da escravatura, a monarca disse que eles deviam era erigir uma estátua em honra de Cristo, o verdadeiro Redentor da humanidade. Outra: na época da Colonização, havia na Patagônia uma tribo de índios bem peculiar. Monoteístas e monogâmicos, havia entre eles uma lenda antiga – passada de pai para filho – de que, um dia, viriam uns homens de preto que lhes instruiriam a respeito das coisas do Céu. Quando os missionários (salesianos, se a memória não me falha) chegaram, os índios os receberam com grande júbilo e docilidade, e abraçaram maciçamente a Fé Católica que aqueles sacerdotes tinham atravessado o oceano para lhes transmitir.

A conferência foi edificante, a noite foi bastante agradável, o evento foi deveras proveitoso. Os nossos agradecimentos ao Círculo Católico de Pernambuco, que proporcionou este encontro, e a Sua Alteza Dom Bertrand, que tão generosamente aceitou falar-nos ontem à noite. Que a Virgem Santíssima os possa recompensar. E a nós, nutridos pelas palavras que ontem ouvimos, cumpre fazermos a nossa parte nesta luta pela Civilização Cristã: guardando, defendendo e transmitindo o que de nossos pais recebemos. É um combate no qual temos a ajuda dos Céus! Que Deus nos faça, a cada dia, menos indignos do papel que Ele nos reservou neste mundo.

Convite – D. Bertrand em Recife. 19/11: Lançamento de livro e sessão de autógrafos; 20/11: Conferência no Círculo Católico

[O Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança estará hoje (19/11) em Recife, na Saraiva do Shopping RioMar, a partir das 19h00, para o lançamento e sessão de autógrafos do seu livro “Psicose Ambientalista”. Repasso o convite e o cartaz como os recebi, junto com uma pequena biografia de Sua Alteza para quem ainda não conheça o seu trabalho.

Além disso, aproveitando a sua vinda à capital pernambucana, o Círculo Católico de Pernambuco convidou Sua Alteza para proferir uma Conferência na sede do Círculo, o que se dará amanhã (20/11) às 19h30. Ambos os eventos são gratuitos. Contamos com a presença de todos.]

O Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança,
bisneto da Princesa Isabel

e o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

convidam para o lançamento e sessão de autógrafos do livro

PSICOSE AMBIENTALISTA

Os bastidores do ecoterrorismo para implantar
uma “religião” ecológica, igualitária e anticristã.

 

O livro desvenda o que está por trás das previsões catastrofistas do aquecimento global: uma “religião” ecológica que diviniza a “Mãe Terra” ou — como a chamam — “Gaia”!

A realizar-se no dia 19 de novembro, segunda-feira, a partir das 19h

Saraiva RioMar Shopping Recife

Avenida República do Líbano, s/nº – Piso L2 – Luc 227 – Pina

Telefone: (81) 3327-0102

DOM BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA, Príncipe Imperial do Brasil. Bisneto da Princesa Isabel. Bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Amigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a cujos ideais ainda muito jovem aderiu.

Tornou-se uma das grandes lideranças da luta anti-socialista e anti-agro-reformista por sua denodada defesa da propriedade privada e da livre iniciativa. Por meio da campanha Paz no Campo, que dirige, atua empenhadamente contra as correntes que visam levar a agitação ao campo e implantar leis socialistas em nosso País.

É um ardente propugnador do agronegócio, no qual vê um fator de integração das pequenas, médias e grandes propriedades, bem como de propulsão, nas cidades, dos diversos ramos da indústria e do comércio que lhe são afins. Assim, é toda a sociedade brasileira que se beneficia com o extraordinário progresso alcançado pela nossa agropecuária.

Dom Bertrand tem viajado pelo mundo, fazendo conferências, sobretudo em ambientes católicos europeus e americanos, nos quais nunca deixa de destacar a grandeza do Brasil e sua importância no cenário contemporâneo.

 

* * *

ATENÇÃO RECIFE!
Inscreva-se para a palestra de Dom Bertrand de Orleans e Bragança

CONVITE

O Circulo Católico de Pernambuco e o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira convidam os amigos para importante exposição do Príncipe Imperial do Brasil:

PSICOSE AMBIENTALISTA
Os bastidores do ecoterrorismo para implantar
uma “religião” ecológica, igualitária e anticristã

Se você é de Recife e arredores, não pode deixar de participar.

Inscrição Gratuita. Ligue para (81) 3222-4816.

Dia 20 de novembro de 2012, terça-feira.
Local: Prédio do Círculo Católico de Pernambuco.
Endereço: Rua do Riachuelo, 105 – Sala 1018 – Boa Vista.
Horário: 19 h (recepção);  19:30 h (início da palestra).

Faça sua inscrição (gratuita), ligue para (81) 3222-4816

Contamos com sua participação

Os cuidados do planeta: pelo homem e para o homem

Eu não estou acompanhando direito o que se está discutindo na Rio+20, mas gostei desta notícia dizendo que o texto-final da conferência foi modificado “por pressão do Vaticano”. Claro, os observadores da Santa Sé têm pouco a dizer com relação às discussões concretas sobre impacto ambiental e desenvolvimento sustentável. A modificação foi devido a um ponto que, infelizmente, sói vir “embutido” no movimento de defesa ambiental: o aborto.

O maior problema é que o atual movimento ecológico não costuma ter muito a ver com a defesa do meio-ambiente, a qual seria em princípio um ideal legítimo e bem louvável. O maior problema é que o atual movimento ecológico adota quase que em uníssono um discurso xiita – e francamente inaceitável – segundo o qual é legítimo (ou até mesmo necessário) sacrificar o ser humano para (supostamente) “salvar o Planeta”. Para essa gente, a Terra “não comporta” mais seres humanos e, portanto, é urgente reduzir a população – se para isso for necessário recorrer à contracepção ou ao aborto, não faz diferença. Para essa gente, a existência de um aquecimento global provocado por ação humana é ao mesmo tempo um dogma incontestável e o ribombar das trombetas do Apocalipse, sendo necessário eliminar a qualquer preço tudo o que [eles acham que] colabora com o aquecimento do planeta – que se danem os possíveis (e negativos) efeitos econômicos e sociais destas políticas. Em suma, para esta gente a questão ambiental é apenas um pretexto. Arautos da barbárie é o que são.

Vi por esses dias uma charge com dois ursos polares em cima de uns pedaços de gelo flutuando. Eles conversavam entre si: “-E aí, acha que os resultados da Rio+20 vão chegar por aqui?”, ao que o outro respondia: “-Rio+20? Eu ainda estou esperando os da Eco-92″… E, no fundo, não há nada de surpreendente com isso. A crítica faz sentido: aqui como em outros aspectos da vida humana, as simples reuniões de burocratas despejando retórica e mirando em espantalhos não costumam dar muitos resultados concretos. Tem-se muita parafernália e muita pirotecnia, mas é só: afinal, não interessa aos ambientalistas resolver o problema do meio-ambiente. Pois se o fizessem eles iriam perder o pretexto que usam por cavalo de batalha nas suas investidas contra a civilização.

Volto ao caso concreto. A questão envolvendo o Vaticano e a Rio+20 envolve um termo que foi retirado do documento final: a expressão “direitos reprodutivos”. Todo mundo sabe que “direitos reprodutivos” significa “aborto”, e todo mundo sabe – afora talvez meia-dúzia de ecochatos fanáticos – que a maior parte das pessoas que simpatiza com as causas ecológicas não guarda o mesmo entusiasmo pelo trucidamento de crianças no ventre de suas mães. Os resultados deste impasse são bastante previsíveis: os xiitas recrudescem o seu discurso ao verem que não conseguem atingir os seus objetivos nefastos, e as pessoas normais começam a olhar torto para as deliberações dos xiitas: e enquanto isso o verdadeiro cuidado com o meio-ambiente é lançado às favas.

Os delegados da Igreja, eu comentava, não tinham muito a dizer sobre as políticas concretas de prevenção ambiental. Mas a Igreja tem – e muito – a dizer a respeito dos princípios que devem nortear uma sadia preocupação ecológica. Pra ficar num só exemplo, do Compêndio de Doutrina Social da Igreja:

463 Uma correta concepção do ambiente, se de um lado não pode reduzir de forma utilitarista a natureza mero objeto de manipulação e desfrute, por outro lado não pode absolutizar a natureza e sobrepô-la em dignidade à própria pessoa humana. Neste último caso, chega-se ao ponto de divinizar a natureza ou a terra, como se pode facilmente divisar em alguns movimentos ecologistas que querem que se dê um perfil institucional internacionalmente garantido às suas concepções.

O Magistério tem motivado a sua contrariedade a uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, porque «se propõe eliminar a diferença ontológica e axiológica entre o homem e os outros seres vivos, considerando a biosfera como uma unidade biótica de valor indiferenciado. Chega-se assim a eliminar a superior responsabilidade do homem, em favor de uma consideração igualitária da “dignidade” de todos os seres vivos».

Este é o verdadeiro caminho para um legítimo “desenvolvimento sustentável”, e não os rumos descabidos traçados pelos inimigos do gênero humano que se apresentam como amigos da natureza. Afinal de contas, o planeta é criação de Deus para o homem – e por este (e para este) deve ser guardado. Pelo visto, o (necessário!) cuidado com o meio-ambiente precisa com urgência de representantes melhores.

Confundindo técnica e ética: fecundação “tri-parental” aprovada na Grã-Bretanha

Eu li no Meio Bit o Cardoso explicando uma nova técnica (dita “terapêutica”) para “corrigir” defeitos mitocondriais e possibilitar que mães portadoras de certas doenças genéticas possam ter filhos saudáveis. À parte a retórica anti-clerical do articulista (que, neste texto, encontra-se particularmente furibunda), o que interessa é o seguinte: existem algumas doenças causadas por defeitos nas mitocôndrias. Como as mitocôndrias vêm somente da mãe (já estão presentes no óvulo), uma mulher com mitocôndrias doentes irá necessariamente passá-las para seus filhos. Dependendo de alguns fatores que não são mencionados no texto, a doença pode não se manifestar, mas mesmo assim a pessoa terá um DNA mitocondrial defeituoso (e, se for uma mulher, vai repassá-lo para os seus filhos, etc.). E estas doenças mitocondriais podem ser bem graves, de modo que é natural que se queira encontrar uma forma de evitá-las.

A nova técnica é simples: como as mitocôndrias não ficam no núcleo do óvulo (e sim no citoplasma), basta pegar dois óvulos (de mulheres distintas), tirar os dois núcleos e enxertar o do óvulo da mulher que tem mitocôndrias defeituosas no outro (da mulher que tem mitocôndrias sãs). O resultado é um óvulo “híbrido”, com o núcleo de uma mulher (que é a parte que contém a carga genética) e o resto (citoplasma e membrana) da outra mulher. A partir daqui, segue-se um procedimento normal de fertilização in vitro, e a criança nascida assim irá herdar a carga genética de sua mãe, mas não o seu DNA mitocondrial. O procedimento foi recentemente aprovado por um comitê ético britânico.

Bom… o que dizer? Foi feita, no texto, uma crítica à (inevitável…) comparação da técnica com a história do monstro do Dr. Frankenstein. E a comparação é bastante pertinente, porque no fundo a idéia de “montar” um corpo a partir de partes dos corpos de outras pessoas está presente em um caso e em outro: a diferença é somente a escala. É claro que o procedimento é imoral. Mas, ao contrário do que possa parecer, a imoralidade está na fertilização in vitro, já incontáveis vezes condenada e cujos (incontáveis) problemas já deram abundantes provas de sua existência. O problema evidentemente não está em querer mitocôndrias saudáveis; o problema está na idéia de se produzir seres humanos em laboratórios. Não me espanta nada que esta “fecundação com três pais” tenha sido aprovada, uma vez que – como disse o Cardoso e, infelizmente, é verdade – «[h]oje qualquer clínica de subúrbio faz bebês de proveta, e ninguém em sã consciência consideraria essas crianças algo fora do normal».

O problema, repetimos, não está no fim almejado. O fim é sem dúvidas bom. Se fosse possível dar à mãe uma pílula que agisse nos seus ovários e alterasse as mitocôndrias lá presentes (tornando-as sadias), isto certamente não seria imoral. Não vale a pena entrar neste casuísmo de curar (ou melhor, de prevenir) doenças genéticas levantado pela matéria, porque a resposta é bastante óbvia: se se está empregando um meio intrinsecamente mau (como a fecundação in vitro), elencar os benefícios trazidos pela técnica não faz nenhuma diferença. É errado criar bebês (ditos) de proveta independentemente do quão “bom” seja o bebê resultante do procedimento, e isto porque errada é a fertilização in vitro considerada em si mesma, e não dependendo da proficiência técnica que se adquira em executá-la.

No fundo, trata-se da velha e evidente diferença (totalmente imperceptível para os “cientólatras” deslumbrados com o progresso científico) entre a capacidade técnica e a permissão ética: poder fazer algo [= conseguir] não significa que se possa fazê-lo [= ser lícito]. Os que foram ofuscados pelo recente progresso técnico perdem-se completamente na semelhança entre as palavras e simplesmente não enxergam a polissemia aqui presente. A questão não é somente se existe tecnologia para tanto ou se os resultados obtidos são “seguros”: a questão envolve os meios que são empregados. Era bastante óbvio que as coisas chegariam a este ponto. A Igreja já o dissera:

As técnicas de fecundação in vitro podem abrir possibilidade a outras formas de manipulação biológica ou genética dos embriões humanos, tais como as tentativas ou projetos de fecundação entre gametas humanos e animais e de gestação de embriões humanos em úteros de animais bem como a hipótese ou projeto de construção de úteros artificiais para o embrião humano.

Este texto foi escrito vinte e cinco anos atrás. Eu nem vou insistir no seu caráter profético: vou me ater ao fato de que era óbvio. Uma vez que a vida deixa de ser um dom sublime para ser um produto de uma manipulação técnica, como esperar que ela continue detendo o respeito absoluto do qual é digna? Como esperar, aliás, que ela tenha qualquer respeito? É infelizmente próprio do ser humano desrespeitar o que lhe é inferior e não zelar pelo que ele pode substituir. Quando os seres humanos passaram a ser produtos de laboratório, estavam abertas as portas para os maiores abusos e arbitrariedades. Só não viu quem não quis. E é triste constatar que até hoje perdurem os que não querem ver. A vida humana vai sendo cada vez mais coisificada e, no entanto, eles saúdam cada passo desta triste marcha tecendo-lhe rebuscadas loas! A meus ouvidos, soam como trombetas de um Apocalipse auto-produzido, de um fim do mundo principiado por iniciativa humana. Nestes tempos de Rio+20 convém deixar claro: as catástrofes globais antropogênicas realmente sérias não são as ecológicas, e sim as morais. Nestas, sim, é inegável a ação humana deletéria. Com estas, sim, é urgente nos preocuparmos. Estas, sim, são uma evidente ameaça concreta à humanidade e portanto devem ser combatidas com afinco.

Como é possível amar a natureza e não amar o ser humano para o qual Deus criou a natureza?

«Como eu posso defender, por exemplo, a natureza, os ovos das tartarugas, as plantas – e nós devemos fazer isso – e não defender a vida humana? Como eu posso propugnar uma ecologia natural e aceitar aquilo que destrói a vida – a miséria, a injustiça – e o que destrói a vida na sua origem – o aborto? Como é possível amar a natureza e não amar o ser humano para o qual Deus criou a natureza? Nós temos que defender a natureza na sua totalidade, na sua globailidade, em todos os aspectos nos quais ela manifesta a vontade de Deus; que é o Deus da vida, o Deus da existência, o Deus da Verdade, da Justiça e do Amor.

[…]

Irmãos e irmãs, para nós cristãos a verdadeira ecologia representa antes de tudo uma atitude de respeito ao dom que nós recebemos de Deus. A ecologia é para nós cristãos uma questão de fé, porque nós somos chamados a defender aquilo que Deus criou. É inaceitável para quem quer amar a Deus não amar o que saiu das mãos misericordiosas e amorosas de nosso Deus. (…) É preocupante o fato de que frequentemente muitos daqueles grupos sociais e políticos – que de forma admirável estão em harmonia com a maravilha da criação – que eles não dêem tanta atenção para, p.ex., a maravilha do ser humano no útero da sua mãe. Nós queremos a ecologia global, a ecologia completa, que envolva toda a obra da Criação, desde a natureza que Deus fez para que nós pudéssemos desfrutá-la até o ser humano, imagem e semelhança de Deus».

Dom Antonio Rossi Keller,
Bispo de Frederico Westphalen

http://www.youtube.com/watch?v=_D63jw6dh1k

Mais petróleo do que oração na CF-2011

O próximo domingo já é o Domingo de Ramos e, até o presente momento, a CNBB não disponibilizou no seu site o texto-base da Campanha da Fraternidade 2011. Procurando na internet, encontrei-o aqui; 63 páginas que, pelo que vi, contêm a íntegra do documento. Caso alguém identifique algum problema na integridade do texto, gentileza me informar.

Como fiz nos anos passados (2010 e 2009), trago aqui mais uma vez algumas simples estatísticas mostrando os temas que, na visão dos responsáveis pela produção do referido documento, são mais dignos de menção e meditação durante este tempo quaresmal. Mais uma vez, trago-os divididos em dois grupos: o que se poderia esperar de uma sadia espiritualidade quaresmal primeiro e, em seguida, os vocábulos mais empregados ao longo das páginas do texto base da Campanha da Fraternidade. Como no ano passado, a metodologia foi a mais simples possível: uma pesquisa simples (ctrl + shift + f) no arquivo .pdf, que pode ser facilmente reproduzida por qualquer um que tenha curiosidade sobre o assunto. Na lista abaixo, o termo simples, entre aspas, foi pesquisado da maneira como se encontra; quando aparece “e derivados”, é porque a busca foi feita pelo radical (p.ex., “penit”, que incluiria tanto “penitência” quanto o verbo “penitenciar-se”, o adjetivo “penitente”, etc.).

Termos que indicam visão sobrenatural:

  • “Deus”: 155 ocorrências.
  • “Eucaristia”: 16 ocorrências.
  • “Jesus”: 14 ocorrências.
  • “Pecado” (e derivados): 11 ocorrências.
  • “Papa”: 8 ocorrências.
  • “Santificação” (e derivados): 7 ocorrências.
  • “Católica” (e derivados): 6 ocorrências.
  • “Bíblia”: 6 ocorrências [mais duas no título de duas citações, à página 32].
  • “Salvação” (e derivados): 5 ocorrências.
  • “Nosso Senhor”: 5 ocorrências.
  • “Oração”: 4 ocorrências [sendo três nas primeiras páginas e uma referência à oração de São Francisco em louvor pelas criaturas].
  • “Conversão” (e derivados): 4 ocorrências [além de mais 3 ocorrências, às páginas 14 e 37, que falam em conversão de energia cinética do vento (!) e no mundo que corre o “risco de converter-se em fábricas que poluem” (!!); há aínda, à página 43, uma referência a “conversão ecológica”].
  • “Jejum”: 2 ocorrências.
  • “Diabo”: 2 ocorrências.
  • “Caridade”: 2 ocorrências.
  • “Maria”: 1 ocorrência [“Virgem Maria”, nenhuma, e nem “Nossa Senhora”].
  • “Penitência” (e derivados): 1 ocorrência.
  • “Cruz”: 1 ocorrência.
  • “Sacerdote”: 1 ocorrência.
  • “Sacramento”: 1 ocorrência.
  • “Missa”: 1 ocorrência [esta, no título da citação de um ensaio de Teilhard de Chardin (!)].
  • “Arrependimento” (e derivados), esmola, Magistério, confissão (e derivados), inferno, purgatório: nenhuma ocorrência.

Termos que indicam visão materialista rasteira:

  • “Produção” (e derivados): 98 ocorrências.
  • “Desenvolvimento” (e derivados): 74 ocorrências.
  • “Energia”: 69 ocorrências.
  • “Terra”: 69 ocorrências.
  • “Água”: 59 ocorrências.
  • “Ambiente”: 59 ocorrências.
  • “Efeito estufa”: 58 ocorrências.
  • “Aquecimento”: 51 ocorrências [“aquecimento global”, 42].
  • “Consumo” (e derivados): 50 ocorrências.
  • “Ecologia” (e derivados): 37 ocorrências.
  • “Carbono” (e derivados): 36 ocorrências.
  • “Governo” (e derivados): 32 ocorrências.
  • “Economia” (e derivados): 32 ocorrências.
  • “Alimento” (e derivados): 29 ocorrências.
  • “Pobre” (e derivados): 20 ocorrências.
  • “Temperatura”: 23 ocorrências.
  • “Lucro”: 15 ocorrências.
  • “Petróleo”: 10 ocorrências.
  • “Exploração” (e derivados): 10 ocorrências.

Os números falam por si sós. Em comparação com o ano passado algumas coisas parecem ter melhorado. Palavras como “Cruz”, “Sacerdote” e “Penitência” finalmente ganham direito a figurarem em um documento da CNBB para a Quaresma. E, embora eu tenha tentado, não consegui encontrar nenhum termo que aparecesse no texto mais vezes do que “Deus”. Deo Gratias! É também digna de menção a sucessiva redução do tamanho destes textos bases; em 2009 ele tinha 176 páginas e, em 2010, 80. Perto destes monstros, um documento com 63 páginas é uma bênção de Deus.

Entretanto, o resultado final ainda é muito, muito ruim. É óbvio que não dá para se viver corretamente o tempo da Quaresma descuidando da vida sobrenatural para perder tempo com coisas como consumo, energia elétrica, água potável e desenvolvimento – temas que têm lá a sua importância, mas que absolutamente não cabem como guia de vivência do tempo quaresmal. Um texto que trate tanto destes temas poderia encaixar-se muito bem como fruto de um estudo do Governo, de uma ONG, de uma dissertação de mestrado em ciências ambientais, do Greenpeace, de qualquer coisa: mas não cabe, absolutamente, como um texto – e da Quaresma! – da Igreja cujo papel é levar as almas para Deus. Quando uma Conferência Episcopal fala, na Quaresma, mais de petróleo do que de oração, alguma coisa está muito errada. Que os senhores bispos possam perceber este gravíssimo engano (que não é de hoje!) o quanto antes. E que Deus nos ajude a termos uma santa Quaresma – apesar da Campanha da Fraternidade da CNBB.

Ecoterrorismo; aborto no corpo docente da PUC-SP

São dois assuntos distintos.

1. “A Frente de Libertação da Terra (FLT), assumiu um ataque incendiário contra oito veículos Land Rover de uma concessionária que comercializa o modelo em São Paulo”. Os sujeitos são ecologistas que, por algum motivo absurdo, acham que queimar carros é uma boa maneira de salvar o planeta. Segundo o comunicado por eles emitido (mesmo link acima):

O alvo foi escolhido pelo simples fato da Land Rover ser uma das marcas líderes na construção, venda e incentivo à compra e utilização de SUV’s. Automóveis altamente poluentes e danosos ao meio-ambiente.

A efetivação do ato se deu através de coquetéis molotovs lançados em direção aos carros, uma maneira simples, barata e eficiente de destruição. O gasto com o material foi de 10 reais, aproximadamente.

Nós não ficaremos parados assistindo a destruição do planeta e suas espécies de braços cruzados. Da mesma maneira que esses carros queimaram, outros carros, casas, caminhões e estabelecimentos que/de quem danificam e exploram a terra e os animais, também queimarão.

Já está mais do que na hora dos pilares de nossa civilização virem abaixo. Esta ação foi feita em nome de todos que foram presos em nome da libertação total.

Nós estamos com vocês!

Interessante notar que o “politicamente correto” está mostrando as suas garras e deixando cair a máscara que escondia a intolerância e o fanatismo. Cabe perguntar: quem são os fanáticos intolerantes mesmo?

2. “Aborto: “carnificina”, desigualdade e as eleições”. O texto é da pena do senhor “Leonardo Sakamoto[, que] é jornalista e doutor em Ciência Política (…) e, hoje, ministra aulas na pós-graduação da PUC-SP”, conforme se pode ler no seu blog. Depois das críticas ao José Serra por conta da (segundo o Sakamoto) posição contrária ao aborto do candidato tucano, o professor da PUC dispara a pérola nua e crua: “[a] discussão não é quando começa a vida, mas as mulheres que estão morrendo nesse processo”.

Ou seja, pouco importa que crianças inocentes estejam sendo assassinadas – a única preocupação é quanto às mulheres que, porventura, morrem durante o ato homicida. Se elas puderem assassinar os próprios filhos em segurança, está tudo muito bem. Analogamente, então, qualquer um poderia advogar pelo “descriminalização do furto” argumentando que a discussão não é sobre o direito à propriedade, mas sobre os ladrões que estão morrendo quando tentam assaltar em condições precárias. Quem acha que isto é um absurdo irracional, deve achar o mesmo em relação ao “argumento” do Sakamoto acima reproduzido.

E ainda:

Se o candidato não quisesse defender publicamente o direito da mulher ao seu próprio corpo, defendesse a questão como saúde pública.

Nem saúde pública, nem direito ao próprio corpo. O aborto deve ser entendido como aquilo que é: o assassinato direto de um ser humano inocente. E, como tal, deve ser encarado. Porque é fora de discussão que o direito à vida tenha precedência sobre o (inventado) “direito ao próprio corpo” ou o (falsificado) “problema de saúde pública”.

CNBB e Hidrelétricas

Bispos argentinos lutam contra casamento gay, espanhóis contra o aborto, e brasileiros… contra uma hidrelétrica.

@jonatas_dias

Às vezes eu me pergunto se não sou implicante demais. Mas é que fico realmente frustrado quando vejo uma declaração como a que a CNBB emitiu sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte. “Reunidos, em Brasília, entre os dias 23 a 25 de fevereiro de 2010, nós, Bispos do Conselho Episcopal de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sintonia com os Bispos do Regional Norte 2 da CNBB e acompanhando os passos que estão sendo dados para a concretização da projetada Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na região do Rio Xingu, Estado do Pará, manifestamos nossa grande preocupação ao saber que a licença prévia já foi concedida pelo IBAMA, permitindo o leilão para a construção e exploração da referida Usina”.

Ninguém nega que o ser humano é responsável pela criação de Deus – isso é óbvio. Ninguém nega que se deva cuidar do meio-ambiente. No entanto, os principais problemas aqui são:

1. Ecologia é uma coisa, e a “ecolatria” panteísta (e não raro catastrofista) que vemos nos nossos dias é outra coisa completamente diferente. Eu já escrevi aqui no Deus lo Vult! há mais de um ano sobre isso. Na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, o Papa Bento XVI criticou “um novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem”. Esta mensagem parece, infelizmente, encontrar bem pouco eco entre as autoridades eclesiásticas brasileiras.

2. A Igreja é mestra em Doutrina e em Moral. Não em estudos sócio-ambientais. Esta não é a competência da Igreja. Logicamente, podem existir alguns aspectos morais relevantes sobre os quais a Igreja talvez sinta necessidade de se pronunciar; no entanto, uma tomada de posição como esta, na qual praticamente é dito que não se pode apoiar a construção da hidrelétrica de Belo Monte, é extremamente inadequada, para dizer o mínimo. A não-construção de hidrelétricas obviamente não é um dogma de Fé, de modo que não faz sentido a Conferência manifestar-se desta maneira pública e contundente sobre o assunto.

3. Por que a Conferência, ao invés de perder tempo com estas coisas que são no mínimo questionáveis, não faz o que é sua função fazer? Por que os temas católicos são tão ausentes dos seus pronunciamentos? Na coletiva de imprensa de ontem, falou-se sobre “Fichas Limpas, crise no Distrito Federal, Usina Belo Monte e apoio aos aposentados”. Que tal falar de Quaresma, de conversão, de jejum, de esmola, de penitência, de Nosso Senhor Jesus Cristo, da necessidade de se pertencer à Igreja Católica, de Nossa Senhora, da vida da Graça, de Sacramentos? Que tal falar contra o aborto, contra a pornografia, contra o laicismo, contra o “casamento gay”, contra o socialismo e contra tantos outros males – incontestavelmente males – que ameaçam esta Terra de Santa Cruz?

Será possível que tudo isso seja implicância minha? Será que é pedir muito que os temas católicos tenham primazia nos discursos de uma Conferência de bispos católicos? O tweet em epígrafe é pequeno, mas é verdadeiro. E, apesar de pequeno, provoca uma grande dor. Rezemos pela Igreja. Rezemos pelos bispos do Brasil.