Ecologia é um assunto importante. Sem dúvidas que o é. Vou mais fundo: ecologia é tão importante que não pode ficar nas mãos dos ecologistas irresponsáveis, que apresentam caricaturas do tema a ponto de torná-lo odioso às pessoas de relativo bom senso ou objeto de culto às pessoas de relativa falta de senso. Falo isso porque promover uma grande queimada de todos os livros e publicações “ecólatras” foi o meu primeiro impulso ao ler a besteira que a Ivone Gebara escreveu no site das Abortistas pelo Direito de Matar.
A freira abortista conseguiu juntar, num artigo só, “ecolatria”, exploração capitalista, luta de gêneros e digressões absurdas sobre a “Deusa Feminina” que ela julga ter sido injustamente suprimida da história religiosa da humanidade pelo Deus judaico-cristão. Parece até piada, mas ela realmente acusa os homens de terem distorcido a realidade porque, p.ex., é uma impropriedade falar no “seio de Deus Pai”, já que são as mulheres que têm seios (!). O que essa bobagem toda tem a ver com ecologia, só ela sabe; o termo cunhado “ecofeminismo” em oposição a “ecomasculinismo” é completamente destituído de significado objetivo sério, e só serve para – como falei acima – irritar quem ainda mantém senso de realidade e encantar quem já o perdeu. Mas, afinal, qual o problema com a ecologia?
Com a ecologia séria, nenhum problema. Afinal, “[o] Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2, 15). O homem, portanto – e isso é óbvio – deve guardar o planeta, e não destruir o planeta. E o lucro não pode, evidentemente, ser colocado acima desta ordenança de Deus: antes de obter bens para si, o homem está obrigado a cuidar da Criação de Deus. Ninguém discute isso. O que as pessoas discutem – e isso separa os católicos dos “ecólatras” – são outras coisas.
Primeiro, discute-se a hierarquia que há na Criação. É óbvio para os católicos que o ser humano tem primazia no Universo Criado, exatamente porque aquele que foi colocado por Deus para cuidar do Jardim do Éden precisa necessariamente ter primazia sobre o jardim do qual ele cuida. Mas há quem não entenda isso, e ache que “a natureza” tem o exato mesmo valor do homem ou – pior ainda! – que ela tem primazia sobre o homem. O primeiro caso pode levar a aberrações como o vegetarianismo por convicção de que um animal não pode ser morto para alimentar “outro animal” (no caso, o homem); o segundo caso, pode levar à aceitação tácita do absurdo de que ovos de tartaruga sejam protegidos incondicionalmente ao mesmo tempo em que embriões humanos podem ser destruídos em laboratório ou por meio do aborto. Igualitarismo é coisa de esquerdista, e eles não medem esforços para aplicar o seu pressuposto absurdo a tudo – até mesmo à ordem que há na natureza.
Outra coisa que se discute é a confusão feita entre, digamos, “efeito desejado” e “efeito colateral”. Uma pessoa que derrube um espaço de floresta para plantar gado não é puramente um “criminoso ecológico”, é uma pessoa que está interessada – antes de na mera destruição da fauna – na criação de animais para a produção de bens de consumo básicos. E eu, sinceramente, tenho sérias dificuldades para precisar a responsabilidade moral de pessoas em situações como essa. E no caso de um carro que é utilizado como meio de transporte necessário, mas que polui o ar junto com isso? E no caso de terrenos de mangue que precisam ser aterrados (em Recife, a coisa mais comum do mundo) para a construção de casas para as pessoas morarem? Claro que deve haver algum limite sério para a “destruição” da natureza, mas o que é necessário ter em vista é que as pessoas quase nunca estão simplesmente “destruindo a natureza” por destruir, mas se utilizando de bens naturais para a produção de alguma coisa que é útil e necessária ao ser humano. Já deve ter até gente dizendo que as reservas de petróleo não devem ser exploradas, porque são dissipadores naturais do calor do núcleo da terra… qual a proposta? Voltar ao “bom selvagem”? Isso – de novo – não é um debate sério.
Uma outra coisa, enfim, bastante discutível é o catastrofismo ambientalista alardeado por alguns irresponsáveis. Por exemplo, já houve até quem dissesse que os flatos das vacas têm uma grande parcela de responsabilidade no aquecimento global, e houve quem inventasse “pílulas anti-arroto” para diminuir a emissão de gases bovinos na atmosfera terrestre! Vejam, não há problemas morais em pesquisas sobre maneiras de diminuir a emissão de metano bovino, mas será que isso é realmente urgente e não há coisas mais sérias a serem priorizadas? No mesmo saco catastrofista podem ser ainda colocadas as projeções malthusianas que colocam o controle de natalidade como um imperativo para evitar uma tragédia demográfica num futuro próximo devido à superpopulação mundial – com a diferença de que, aqui, o controle de natalidade simplesmente não pode ser aplicado. Nem que fosse verdade – o que não é – a existência de uma bomba demográfica na iminência de explodir (neste caso, seria necessário largar as pastilhas das vacas e procurar maneiras de aumentar a produção de alimentos).
Em suma, pode ser um péssimo indicativo o fato de assuntos ecológicos sempre estarem na ordem do dia de toda sorte de movimentos anti-católicos, de teólogos da libertação a movimentos New Age, mas o problema não é com a ecologia em si – e sim com a palhaçada que essas pessoas fazem com um assunto sério. Às vezes, fico com a impressão de que a impressão passada pelos “católicos sérios” é a de um total descaso irresponsável com o planeta – o que não é verdade. É necessário “cultivar e guardar” o Jardim do Éden; o que não aceitamos é que o jardim seja transformado em máquina de guerra contra o homem, acrescentando mais uma tensão dialética onde ela não deveria existir e, aliás, nem existe: os pobres versus os ricos, os homens versus as mulheres, o ser humano versus a natureza. É por isso que o assunto é tão palatável aos esquerdistas de todos os naipes. E é por isso que os católicos fazem-lhe oposição.