Lutero e o Papa alemão

Fui surpreendido, durante o final de semana, com a afirmação de que o Papa havia elogiado Lutero. Não dei muita atenção à notícia que, imediatamente, rechacei como estapafúrdia. Afinal de contas, Lutero fora um monge sem vocação, perturbado, entregue escancaradamente aos prazeres da carne e que (talvez numa tentativa de tranqüilizar a própria consciência) inventou uma teologia satânica onde pudesse salvar-se sem precisar abandonar os seus pecados – arrastando assim para o Inferno uma multidão incomensurável de almas.

Só depois eu li as matérias da mídia e (principalmente) as fontes primárias. Divertiu-me principalmente esta notícia, onde o jornalista não faz a menor idéia do que está falando. Misturando gafes históricas imperdoáveis (diz que «[o] papa Leão 9 expulsou Lutero da Igreja Católica Romana em 1521», quando Leão IX morreu em 1054 e o Papa que excomungou Lutero foi na verdade Leão X) com uma interpretação louca do discurso do Papa no convento de Lutero, o texto termina sem dizer nada com nada. Isto aqui, p. ex., é de um nonsense cômico:

Os protestantes gostariam que os católicos dissessem que Lutero não era um herege, mas um grande teólogo cristão. “Seria bom se eles pudessem declará-lo um doutor da Igreja”, disse à Reuters a bispa luterana de Erfurt, Ilse Junkermann.

É óbvio que os católicos não podem dizer que monge apóstata alemão é “um grande teólogo cristão” (!), e nem muitíssimo menos pode a Igreja declarar “doutor da Igreja” (!!) um heresiarca. A idéia é francamente tão absurda que, por si só, revela o vergonhoso desconhecimento da Igreja Católica do responsável pela matéria. E, ao final, ainda sou obrigado a ler que «[n]ão está claro se o Vaticano, que não gosta de oficialmente desfazer iniciativas de papas anteriores, pode ou deseja ir tão longe como a reabilitação de fato de Lutero» – cáspita, isto só não está claro para o retardado que escreveu esta reportagem! Pois qualquer pessoa normal e que conheça um mínimo de Doutrina Católica sabe que a Igreja não retrocede em questões doutrinárias e – mais que isso! – que Ela não pode retroceder, sob pena de perder a própria identidade. E, sim, isto está claro como o sol ao meio-dia para qualquer pessoa que não seja cega.

Depois da diversão, fui às fontes primárias. Está aqui o pronunciamento de Sua Santidade no Augustinerkloster de Erfurt – o convento onde Lutero viveu como monge agostiniano antes de romper com a Igreja. E descobri que o Papa “elogia” sim, Lutero, naquilo que ele é elogiável; para, imediatamente depois, criticá-lo acidamente no que ele precisa ser criticado.

O discurso do Papa é obra de um gênio. Ele está falando a luteranos e, portanto, precisa encarar a ingrata tarefa de dizer coisas pouco honrosas sobre o pai espiritual de seus ouvintes. O que faz o Papa? Ora, sabe-se que Lutero era uma mente doentia atormentada pelo pecado, que não confiava na graça de Deus e pôs na própria cabeça que era incapaz de deixar de pecar: então o Papa fala sobre a importância de nos preocuparmos a respeito do juízo de Deus em um mundo onde «a maioria das pessoas, mesmo cristãs, dá por suposto que Deus, em última análise, não se interessa dos nossos pecados e das nossas virtudes». Mas não deixa de criticar: esta luta perturbada de Lutero, «no fim de contas, era uma luta a propósito de Deus e com Deus».

O que o Papa faz? Ora, sabe-se que Lutero levou uma vida imoral e dissoluta, não obstante a sua doutrina possua elementos de verdade capaz de seduzir os incautos (como de fato tem seduzido nos últimos séculos); então o Papa fala que a espiritualidade de Lutero era cristocêntrica, mas que isso não é suficiente: «Mas isto pressupõe que Cristo seja o centro da nossa espiritualidade e que o amor por Ele, o viver juntamente com Ele, oriente a nossa vida». Coisa que todos sabem que Lutero não fez. Dizer que é necessário que o viver juntamente com Cristo – i.e., o viver em estado de Graça, o viver praticando a virtude e evitando o pecado – oriente a nossa vida… eu não consigo pensar em uma forma mais elegante de contrariar os seguidores do Sola Fide, aqueles cuja doutrina tem por princípio fundamental justamente que o que importa é no quê se crê, e não como se vive. Bento XVI só “elogia” Lutero para, imediatamente em seguida, demonstrar a falsidade do luteranismo.

E assim caminha o Papa, construindo com maestria a ponte entre ele e os luteranos ao aludir aos problemas do luteranismo sem bater (muito…) de frente com a figura de Lutero; permitindo-se até mesmo apontar os pontos problemáticos do protestantismo a partir de algum aspecto mais aceitável do monge alemão. Para, no final, pedir o óbvio: que os protestantes se convertam. E de um modo tão gentil que se torna quase impossível negar, digno de um diplomata experiente tratando de um assunto espinhoso: «E por isso Lhe pedimos a graça de aprender de novo [a] viver a fé, para assim nos podermos tornar um só».

É com este pedido que termina o discurso do Papa: pedindo a Deus para que católicos e protestantes possam se “tornar um só”. E como tal é possível? Obviamente não é possível condescender com a Fé legada pelos Apóstolos, com a Fé Católica que a Igreja guarda. Isto o próprio Papa disse com todas as letras, na celebração ecumênica feita pouco depois no mesmo convento de Erfurt:

Nas vésperas da vinda do Papa, falou-se diversas vezes de um dom ecuménico do hóspede que se esperava desta visita. Não é preciso especificar os dons mencionados em tal contexto. A propósito, quero dizer que isto constitui um equívoco político da fé e do ecumenismo. Quando um Chefe de Estado visita um país amigo, geralmente a sua vinda é antecedida por contactos das devidas instâncias que preparam a estipulação de um ou mesmo vários acordos entre os dois Estados: ponderando vantagens e desvantagens chega-se a um compromisso que, em última análise, aparece vantajoso para ambas as partes, de tal modo que depois o tratado pode ser assinado. Mas a fé dos cristãos não se baseia numa ponderação das nossas vantagens e desvantagens. Uma fé construída por nós próprios não tem valor. A fé não é algo que nós esquadrinhamos ou concordamos. É o fundamento sobre o qual vivemos. A unidade não cresce através da ponderação de vantagens e desvantagens, mas só graças a uma penetração cada vez mais profunda na fé mediante o pensamento e a vida.

E, se não é possível transigir com a Fé, então a unidade na Fé só é possível com a conversão dos transviados. Sim, que os filhos de Lutero possam abjurar os seus erros e receber de novo a Fé Católica, a Fé Verdadeira, a Fé sem a qual é impossível agradar a Deus. Que sejam profícuos os esforços ecumênicos de Sua Santidade! Que o filho pródigo caia em si e, cansando-se de comer a lavagem dos porcos, volte depressa à Casa Paterna – onde Deus o espera com festa.

Curtas

O Ano Sacerdotal: coletânea de textos do Papa Bento XVI organizada pelo pe. Demétrio Gomes. «As páginas deste livro contêm as principais intervenções do Romano Pontífice dirigidas aos sacerdotes ao longo do Ano Sacerdotal. Constituirão, certamente, um sólido alimento para a meditação dos sacerdotes, assim como uma preciosa catequese para todos os membros da Santa Igreja acerca deste ministério sagrado». São 205 páginas, pela Editora Ecclesiae.

Fica a dica. Mais informações aqui.

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Bispo mexicano afirma que o Vaticano lhe pediu explicações sobre seu apoio a um grupo gay. Trata-se de Dom Raúl Vera López.

Para quem não conhece a história: no início do mês passado apareceram alguns “fiéis” gays, com o apoio do bispo, pedindo um “matrimônio gay”. Os católicos, naturalmente indignados com este vergonhoso apoio dado por Sua Excelência, manifestaram-se pedindo um bispo católico para a diocese de Saltillo – ao que Dom Raúl respondeu oficialmente: “por fidelidade ao ministério pastoral que desempenha, (o Bispo Vera) não cessará seu dinamismo e sua voz, que procuram contribuir à construção de comunidades de fé mais viva e comprometidas e de uma sociedade mais humana”. Apareceu também um abaixo-assinado “em solidariedade” a Sua Excelência.

Pois bem, agora o Vaticano pede esclarecimentos a Dom Raúl Vera López. “Não estou contra o magistério da Igreja, nem estou promovendo a desonestidade, iria contra meus princípios promover a depravação ou a degeneração das pessoas”, disse Sua Excelência. Veremos se o compromisso do bispo de Saltillo é com o Evangelho ou com a Agenda Gay.

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Jovem religiosa defende o uso público do hábito desafiando a Cristofobia. À Paris! A garota foi ao Liceu Carnot de hábito e provocou a ira dos professores laicistas. “Os jornais fizeram estardalhaço com o fato e o secretariado geral do ensino católico exigiu que a irmã Ana Verônica desse prova de ‘juízo’ e comparecesse usando roupas civis”.

A matéria acima diz que a irmã escreveu uma carta em resposta, que foi publicada pelo La Croix. Não encontrei a original. Encontrei este áudio do dia 23 de junho que minha incompetência lingüística me impede de entender a contento. No entanto, a polêmica é verdadeira. Tristes tempos em que provoca polêmica o fato de uma freira se vestir… como freira! Parabéns a Sœur Anne-Véronique. Que Nosso Senhor possa, n’Aquele Dia Terrível, testemunhar em favor desta garota que, aqui na terra, não hesitou em dar testemunho d’Ele.

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– É também interessante este texto do Fratres sobre a Cruz de Cristo e os judeus. Interessante, porque o rabino de Roma parece descobrir a pólvora:

« Pois então há o risco – prossegue – de se entrar na teología da substituição e a Cruz se converte em obstáculo. O diálogo judaico-cristão corre inevitavelmente este risco, porque a idéia do cumprimento das promessas judaicas é a base da fé cristã; assim, o afirmar-se desta fé implica sempre uma idéia implícita de integração, se não de superação da fé judaica ».

De Segni continua: « a língua do diálogo deve ser comum e o projeto deve ser compartilhado. Se os termos do diálogo são baseados em cristãos indicando aos judeus o caminho da Cruz, não se entende o porque do diálogo nem o porque de Assis ».

Ora, como já dissemos e repetimos incontáveis vezes, o objetivo do “ecumenismo” e do diálogo inter-religioso não é outro que não a conversão de todos os homens à Igreja Católica, Única Igreja de Cristo e caminho necessário para a salvação. Se o De Segni não entendeu isto ainda, então ele realmente não faz a menor idéia do que é o “diálogo” ou do porquê de encontros como o de Assis.

Sim, a afirmação da Fé Católica é, ipso facto, a negação de toda e qualquer outra falsa fé, e isto é bastante evidente. Que bom que um rabino descobriu o sol ao meio-dia! Já é meio caminho andado para que ele possa agora, enfim, deixar que o Onipotente tire-lhe dos olhos o véu da cegueira e o conduza à Igreja de Nosso Senhor.

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Deve-se prender mulheres por causa do aborto? Via Wagner Moura. Não vou dizer do que se trata, vejam lá. Recomendo enfaticamente a leitura. Só para dar um gostinho: «É, amiguinhos, assim é o mundo pós-descriminalização do aborto. Você aí pensando que ser contra o aborto não implica em ser contra a descriminalização do aborto uma vez que assim todos poderão ser amigos e felizes… Você é só um idiota. Obrigado».

Curtas

Imagem de Nossa Senhora e Missa na Forma Extraordinária em São Paulo. «Esta imagem é chamada de Imagem Sagrada, pois, estando exposta numa paróquia em Nova Orléans, verteu milagrosamente lágrimas humanas no dia 17 de julho de 1972. Investigação liderada pelo bispo de Nova Orléans concluiu não haver explicação natural para o fenômeno».

Do mesmo texto: «Em silêncio, devotamente e de olhar atento a tudo o que acontecia no altar, aqueles dois mil paulistanos suburbanos provaram-me definitivamente que a missa de São Pio V pode perfeitamente ser rezada para multidões. Embora a grande maioria dos presentes provavelmente nunca tenha assistido à missa antiga, não houve embaraços nem constrangimentos. Apenas alguns poucos presentes sabiam os momentos corretos de ajoelhar-se, levantar-se etc. e estes poucos foram suficientes para conduzir, pelo mero exemplo, a multidão a adotar a postura correta em cada parte da missa. Enganam-se, portanto, os que pensam que o Usus Antiquior é indicado apenas para pequenos grupos, de espiritualidade mais elevada».

A Virgem e a Eucaristia, como no sonho de Dom Bosco! Ambas – assim esperamos! – como um sinal de que as coisas estão melhorando. Como um prenúncio da vitória da Igreja.

Digno de menção, a propósito, o comentário sobre a Forma Extraordinária do Rito Romano. Eu sempre soube que o povo simples é perfeitamente capaz de assistir – e com muitíssimo fruto – a celebração do Santo Sacrifício segundo as rubricas anteriores à Reforma Litúrgica. São apenas os “sábios deste mundo” que, por não possuírem vida espiritual e por não entenderem as coisas de Deus, pretendem que os pobres também não a possuam ou as entendam…

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Luteranos voltam à Igreja CatólicaDeo Gratias, et iterum dico, Deo Gratias! «Todos os membros da ALCC [Igreja Católica Anglo-Luterana] se farão católicos. A diferença de algumas Igrejas Anglicanas, a ALCC não tem “posturas inamovíveis” A ALCC não está interessada em absoluto em “preservar um patrimônio”. Ao contrário, trata-se de uma Igreja profundamente “romanizada”, que trabalha com todas as suas forças para “desfazer” a Reforma, porque considera que foi um trágico erro de proporções épicas, que nunca devia ter acontecido, e procura restaurar a unidade da Igreja segundo os critérios da Igreja Católica. A ALCC não pede para preservar um “patrimônio luterano”. A diferença do patrimônio anglicano, o patrimônio luterano é essencialmente teológico e, ao ter compreendido plenamente as heresias do luteranismo e ao ter aceitado a fé católica, a única coisa que pede e por que reza a ALCC é que se lhe permita “voltar para casa” e entrar na Igreja Católica, como filhos pródigos arrependidos. A única coisa que queremos é nos dissolvermos na Igreja Católica, como católicos normais».

Isto, sim, são os verdadeiros frutos do Ecumenismo: a volta dos filhos pródigos à casa paterna, o retorno das ovelhas tresmalhadas ao único redil do Senhor. Há festa nos Céus. Que, a este exemplo, sigam-se outros e mais outros em profusão.

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– Enquanto isso, Lula chama de bobagem palavras de Nosso Senhor (!!). Sim, senhoras e senhores, o ex-presidente que é “católico a seu modo” abre a boca para blasfemar desta maneira. «Bobagem», disse o ex-presidente, «essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra».

E quem ainda não compreendeu que o Reino de Nosso Senhor não é deste mundo não foi capaz de chegar nem mesmo aos umbrais do Cristianismo. Passagens de uma sabedoria profunda que inspiraram grandes homens ao longo dos séculos são agora transformadas em “bobagem” por esta sumidade sapiencial que é o sr. Luiz Inácio, vergonha do Pernambuco que um dia lutou pela Fé.

O Lula quer um reino aqui e agora, aqui na Terra. Como são mesquinhos e fúteis os desejos do ex-presidente! Para quê tesouros na terra, onde as traças corroem e a ferrugem consome? Contra este materialismo infeliz – digno de pena, inclusive – do Lula, ficam as palavras de São Paulo: «Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima» (1Cor 15,19). Bom faria o Luiz Inácio se meditasse nesta passagem antes de abrir a boca para falar besteiras.

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As mentiras do filme “Ágora”. O filme não é de hoje (se não me engano, a versão brasileira veio com o nome de “Alexandria” e foi – tanto aqui quanto na Espanha – um estrondoso fracasso de bilheteria), mas talvez valha a pena se prevenir. «Não só havia cristãos nas aulas de Hipátia, não só havia bispos cristãos entre seu círculo de amigos, mas havia também teólogos cristãos – Agostinho, Ambrósio e Orígenes, só para citar os mais proeminentes –  e eles eram entusiastas defensores do neo-platonismo. Portanto, retratá-la como a campeã da nobre razão sobre os intolerantes cristãos primitivos é simplesmente ridículo».

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Motivações do terrorista de Oslo são anti-cristãs. Já que o assunto é recente, é bom deixar claro que este indivíduo não tem nada a ver com a “ultra-direita fanática” no mesmo sentido em que a expressão é (pejorativamente) aplicada aos cristãos que valorizam a sua Fé. Excerto:

O terrorista teria fundado, em 2002, em Londres, junto a outros ativistas, a ordem dos Pobres Companheiros de Cristo do Templo de Salomão, inspirado nos graus Templários da Maçonaria.

Esta suposta Ordem estaria aberta “aos cristãos, cristãos-agnósticos e ateus-cristãos”, quer dizer, a todos que reconhecem a importância das raízes culturais cristãs, “mas também “das judaicas e iluministas”, assim como “das pagãs e nórdicas”, por se oporem aos verdadeiros inimigos, o Islã e a imigração.

“Longe de ser um fundamentalista cristão – esclarece Introvigne – Breivik, batizado na Igreja Luterana da Noruega, define-se um ‘cristão cultural’, cujo apelo à herança cristã tem uma função instrumental anti-islâmica.”

As igrejas, segundo o terrorista, não estão dispostas a lutar contra o Islã. Por isso, ele propõe um Grande Congresso Cristão Europeu, do qual nasça uma nova Igreja Europeia e anti-islâmica. E ameaça diretamente o Papa Bento XVI, pois “abandonou o cristianismo e os cristãos na Europa e deve ser considerado um Papa covarde, incompetente, corrupto e ilegítimo”.

A Unidade dos Cristãos

Fui informado por um leitor do Deus lo Vult! – a quem agradeço – que houve recentemente na Arquidiocese de Olinda e Recife uma “Celebração Ecumênica” durante a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Sobre o assunto, teço alguns breves comentários:

– A “unidade dos cristãos” significa simplesmente o retorno dos hereges e cismáticos à Igreja Católica Apostólica Romana da Qual eles nunca deveriam ser saído. É isto que se busca com as orações “pela unidade dos cristãos” (antigamente chamadas pro haereticis et schismaticis), e isto não se pode perder de vista sob nenhuma justificativa. As orientações do Vaticano neste sentido são claríssimas e não deixam margem para más interpretações. Pra ficar em um só exemplo, o Bem-Aventurado João Paulo II na Ut Unum Sint diz que “[a] Igreja Católica, tanto na sua praxis como nos textos oficiais, sustenta que a comunhão das Igrejas particulares com a Igreja de Roma, e dos seus Bispos com o Bispo de Roma, é um requisito essencial — no desígnio de Deus — para a comunhão plena e visível” (UUS 97). Os grifos são meus.

– Exatamente para evitar quaisquer confusões neste assunto de tão grande importância, é altamente recomendado que não sejam chamadas de “igrejas” as seitas protestantes, que não guardam nem Sucessão Apostólica e nem o mistério da Eucaristia. Neste sentido, também é bastante clara a Dominus Iesus: “As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio” (DI 17).

– Assim sendo, frases como as seguintes não dizem nada e só fazem aumentar a confusão do (já tão carente de formação) povo de Deus:

  • “Unir-se em torno do ensinamento dos apóstolos chama as Igrejas a se constituírem como Igrejas pascais, abertas à missão e capazes de dialogar com o mundo atual”.
  • “A comunhão fraterna e a repartição do pão recordam que a vocação da Igreja cristã é ser profecia de um mundo novo e de partilha”.
  • “Meu sentimento é que como povo de Deus somos um. Somos parte do corpo de Cristo, que nos faz um. Nós somos irmãos”.

Particularmente a última frase, dita por um pastor protestante, é simplesmente errada. Um herege protestante não faz parte do Corpo de Cristo, exatamente por não fazer parte da Igreja Católica que é o Corpo Místico de Cristo.

Para que se reze pedindo alguma coisa ao Todo-Poderoso, é mister saber com clareza o que se está pedindo. Não havendo clareza na separação que existe entre a Igreja de Cristo, os hereges e os cismáticos – i.e., não havendo consciência da Unidade ideal que foi perdida -, não é possível haver consciência da unidade que Nosso Senhor deseja e, portanto, não é possível pedir por ela. Este tipo de “celebração ecumênica”, portanto, não apenas não serve nada para as [verdadeiras] orações “pela unidade dos cristãos” como, ao contrário, confunde o povo de Deus e, assim,  age contra o próprio fim da Semana de Oração que a Igreja promove.

– Causa, por fim, perplexidade a informação de que o “liturgista” [da Arquidiocese, depreende-se, ou pelo menos convidado pela Arquidiocese para esta “celebração”] é o padre Reginaldo Veloso, sacerdote amasiado que largou o ministério há décadas para se juntar com uma mulher e que, como ele mesmo diz, até hoje celebra sacramentos ilícitos (ou inválidos) nas comunidades do Morro da Conceição, em Recife. Certamente não foi este o tipo de “unidade” pela qual rezou Nosso Senhor!

A porca retorna ao lamaçal

“[O Ecumenismo é], na verdade, uma traição a Jesus Cristo. Dar esperanças de que há salvação por qualquer outro caminho que não seja Jesus Cristo. Então tudo isso foi me afastando [da Igreja]. A princípio eu pensei que estes erros e outros (…) eram em razão do Concílio Vaticano II. Eu disse (…) estes papas chamados ‘conciliares’, a partir de João XXIII até Bento XVI não são papas. Eles são falsos papas. E eles é que trouxeram isso. Mas, para a minha surpresa, estudando a história da Igreja, eu descobri que esses erros que nós vivemos hoje, eles já estavam de alguma maneira desde o início do catolicismo, por volta do século IV, a partir de Constantino”.

– Diácono Francisco Almeida Araújo.

Foi “pastor” batista. Deixou a Igreja Evangélica, voltou para a Igreja Católica onde foi ordenado diácono e, hoje, arrepende-se profundamente disso. Está empenhado em divulgar publicamente a sua apostasia. Retornou ao lamaçal de onde, com a graça de Deus, saíra. É lamentável.

Escreveu uma confissão pública, no fim da vida. Gravou um testemunho em vídeo. A porca retorna ao lamaçal (cf. IIPd 2, 22) – é lamentável! É como fala a passagem dos Evangelhos:

Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa (Mt 12, 43-45).

E as “razões” dadas pelo neo-herege são totalmente desarrazoadas. Falou em “ecumenismo”, confundindo-o com a “ecumania” irenista tantas vezes condenadas pela Igreja. Não explicou os motivos que o levaram do sedevacantismo para o protestantismo; para quem assiste ao vídeo, a impressão que fica é somente a de que um abismo atrai outro abismo. Mentiu, dizendo que a infalibilidade papal era desconhecida até o século XIX. Distorceu, para variar, a Doutrina Católica referente à mediação única de Nosso Senhor e à intercessão dos santos. Defendeu a noção estúpida e anti-bíblica de que Deus não recompensa as boas obras dos cristãos, chegando inclusive ao cúmulo de afirmar o nonsense (frontalmente contrário à realidade, aliás) de que nós fazemos boas obras porque esta é a nossa natureza. É lamentável.

A Cruz de Nosso Senhor foi “suficiente”? Sem dúvidas que o foi, mas o que significa isso? Que Ela é a fonte da qual brotam todos os méritos, o instrumento da nossa redenção somente em união ao qual podemos também nós merecer sobrenaturalmente o que quer que seja? Se for isso, então em nada se distingue esta concepção da Doutrina Católica, estando o sr. Francisco a atacar espantalhos. Agora, se ele quiser dizer que ninguém precisa fazer nada e ninguém é capaz de merecer nada, bastando “sozinha” a Cruz de Cristo sem nenhuma cooperação humana, então esta doutrina é diabólica e anti-bíblica. Porque é o Apóstolo quem diz, para calar a boca do herege:

O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja (Cl 1, 24).

Repito novamente: é lamentável! Que a Virgem Santíssima, que já intercedeu uma vez pelo diácono Francisco livrando-o da boca do leão, possa socorrer-lhe novamente neste momento em que ele cospe n’Aquela que o ajudou em suas necessidades. E que cada um examine a si mesmo, sempre! Quem julga estar de pé, cuide para que não caia (cf. 1Cor 10, 12) – é o ensino escriturístico cristalino, contra a doutrina anti-bíblica da “certeza da salvação”. E do qual a cada dia encontramos mais e mais exemplos, como a própria história do diácono Francisco nos mostra.

Sobre o mesmo assunto, ler também:

Comentários em um testemunho de apostasia

Algumas considerações sobre o caso do ex-diácono Francisco Araújo

P.S.: Ao que consta, morreu reconciliado com a Igreja. Deo Gratias.

A Virgem nos Seus andores

“É bonito ver o pátio assim cheio. Querem acabar com o nosso amor a Maria, mas nunca vão conseguir não. Apesar destes protestantes empestando o mundo, o povo ama Nossa Senhora, e isso nunca vai deixar de ser assim”.

Assim escutava eu, no Pátio do Carmo, hoje à tarde, uma senhora conversando com outra. Sei que é feio ouvir as conversas alheias, mas o pátio estava muito cheio e eu não consegui evitar. Certamente, cito de memória o arrazoado daquela boa mulher, mas o “empestando” é ipsis litteris. A palavra chamou-me a atenção por ser – graças a Deus! – politicamente incorreta, e por dar testemunho eloqüente de que o povo de Deus – a despeito das loucuras modernas – permanece com a sua cabeça no lugar. O povo simples tem Fé na Virgem Mãe de Deus. O povo simples não admite, de nenhuma maneira, privar-se da intercessão desta Boa Senhora.

Em tempos de “ecumenismo” – palavra prostituída, vale salientar -, o povo encheu o pátio do Carmo para cantar os louvores da Virgem Mãe de Deus, Flos Carmeli, Nossa Senhora de tantos títulos porque um só deles não seria suficiente para louvar esta Mulher como Ela deve ser louvada. Foi a 314ª festa do Carmo celebrada aqui na Veneza Brasileira. O número impressiona, mas para a Virgem é ainda muito pouco, é quase nada. De Maria nunquam satis, como se dizia antigamente: sobre a Virgem Santíssima, nunca se falará o bastante. Ela nunca será louvada o bastante.

“Unidade, unidade” – clamam alguns. Concordamos, a unidade sem dúvidas é um valor a ser buscado, mas nunca por si mesmo. “Unidade por unidade”, não. Unidade, só na Verdade. E é verdade que a Virgem Santíssima é a Mãe de Deus, é Rainha dos Céus, é Medianeira de Todas as Graças, e deve ser louvada por todos aqueles que querem ser seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo – fora disso não pode haver unidade verdadeira. A música que fez sucesso na voz do padre Marcelo (não sei de quem é a composição) não tocou na festa de hoje, mas o argumento é tão verdadeiro que merece ser lembrado: “se um dia um Anjo declarou que Tu eras cheia de Deus, agora penso quem sou eu para não Te dizer também: cheia de Graça?”. E, isso, o bom povo simples entende perfeitamente bem. Disso, ele não vai abrir mão.

Assisti à Santa Missa, agradecendo a esta Boa Senhora por todas as graças que Ela nos tem alcançado – em particular, por Olinda e Recife. Esperei a saída da procissão: hoje, estava simplesmente impossível de acompanhar caminhando. Acompanhei-A com o olhar, em Seu andor, particularmente ostensivo este ano: uma réplica do altar-mor (o antigo, naturalmente) da Basílica do Carmo. Alguém cantava uma composição que eu particularmente acho meio estranha, mas os primeiros versos são verdadeiramente bonitos, e belamente verdadeiros. “Ave Maria / em Seus andores! / Rogai por nós, / os pecadores”.

Sim, somos todos pecadores, dependentes da Graça, dependentes – em absoluto – dos favores d’Aquela que foi constituída Tesoureira das Graças de Deus – thesauraria Gratiarum Domini, como rezamos na Coroinha. Que Ela olhe sempre por nós, “em Seus andores”, isto é, louvada publicamente pelo povo que, embora pecador, é-Lhe fiel e tem-Lhe sincero amor. Louvando-A, Deus é louvado por  meio d’Ela, com um louvor infinitamente maior do que os que nós poderíamos dar-Lhe sozinhos; e, venerando-A publicamente, alcançamos os Seus favores, colocamo-nos sob o Seu olhar e a Sua proteção, sem os quais – nunca é demais repetir – nada somos, nada podemos.

O Virgo, Flos Carmeli,
ora pro nobis!

Ainda sobre ecumenismo

Sobre alguns comentários feitos no meu post da semana passada (Tomás de Aquino e o Ecumenismo), eu gostaria de aproveitar a oportunidade para dizer quanto segue:

1. Não disse que a Unitatis Redintegratio era a Mortalium Animos em uma nova roupagem. Mas digo, agora, que é o seu “complemento”, e obviamente não pode ser lida desconsiderando a carta encíclica de Pio XI. Enquanto a MA tem o seu foco na condenação do Ecumenismo-Irenista e, en passant, fala sobre a única verdadeira união possível, a UR tem o seu foco nesta única verdadeira união possível e, en passant, lembra a condenação do Ecumenismo-Irenista. Não é uma nova roupagem, mas é – digamos – o outro lado da moeda.

2. Eu bem sei que a maior parte das pessoas, católicas ou não, encaram o ecumenismo conciliar de um modo distinto deste – e de um modo, aliás, condenável. Mas este não é o ponto, porque o sentido de um documento da Igreja é aquele que a Igreja lhe dá, e não outro; menos ainda quando este “outro” é frontalmente contrário àquilo que a Igreja sempre pregou e prega.

3. Não é novidade para ninguém que existem inumeráveis abusos no que se refere ao Ecumenismo; poder-se-ia, aliás (é necessário constatar) dizer que a maior parte das atividades que encontramos sob o título de “evento ecumênico” são, precisamente, um irenismo [bem ou mal] disfarçado de evento católico. Isto, no entanto, quer dizer somente que a Doutrina da Igreja é desrespeitada; e isto nós vemos o tempo inteiro, não havendo aqui nenhuma novidade. Os erros têm que ser combatidos de onde quer que eles venham. O pároco que chama o herege protestante para fazer uma homilia na Santa Missa está tão errado quanto o que nega a Presença Real de Nosso Senhor na Santíssima Eucaristia, pouco importa o nome que um ou outro dê ao que pensa estar fazendo.

4. A questão terminológica é de somenos importância. É perfeitamente claro que “união” significa “conversão”, porque outro modelo de união não é possível (e já foi incontáveis vezes condenado); em contrapartida, “comunhão imperfeita” ou “não estar em plena comunhão” aplica-se aos hereges e cismáticos. O exemplo dado pelo cardeal Levada, aliás, para falar em fruto do Ecumenismo, foi o retorno dos Anglicanos à Igreja Católica – em relação ao qual não existe possibilidade de se falar em irenismo ou coisa do gênero.

5. Falou-se em Taizé. Não conheço quase nada da comunidade e, do pouco que conheço, sinceramente não gosto. No entanto, não me parece nada que a mera “convivência pacífica” ad aeternum entre católicos e hereges seja o objeto dos elogios pontifícios, e nem – muito menos! – que se elogie isso sob o nome de Ecumenismo. Insisto: o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé apontou a Anglicanorum Coetibus, e não Taizé, como exemplo de Ecumenismo – precisamente contra as acusações (ao menos tácitas) de que o movimento ecumênico não deveria aspirar à união católica.

6. Falei que o Ecumenismo apresentado pela Igreja foi a resposta dada pela Esposa de Cristo aos legítimos desejos de unidade que experimentavam os protestantes, e vou mais além na comparação: a Igreja chegou aos hereges como São Paulo aos pagãos. “Aquele que adorais sem conhecer, eu vo-Lo anuncio”, disse o Apóstolos das Gentes; “aquilo que desejais sem o saber como é possível, eu vo-lo mostro e ofereço”, disse a Igreja aos hereges de Edinburgh. Ou por acaso o Espírito Santo não pode responder às orações legítimas dos hereges sinceros, conduzindo-os assim à Igreja? “Quereis união?”, disse a Igreja aos pais do moderno movimento ecumênico; “vinde, que só em Meu seio é possível encontrá-la!”.

7. Esforcemo-nos, portanto, como foi dito, para desfazer os erros e equívocos de onde quer que eles venham. Já basta de tolerar o irenismo com base em uma deturpação da doutrina católica.

O Ecumenismo de Santo Tomás de Aquino

Havia visto, na Rádio Vaticano, uma notícia – referente à Audiência Geral do Papa Bento XVI de quarta-feira passada – sob o título de “Tomás de Aquino e Ecumenismo”. Não havia lido nem a notícia e nem a catequese papal, mas fiquei pensando em qual seria o seu conteúdo, tendo por base a notícia da Radio Vaticana.

Hoje, li a notícia e também a audiência da quarta-feira 02 de junho. Curiosamente, a palavra “ecumenismo” não aparece uma única vez no discurso do Papa. A única menção feita ao movimento ecumênico foi na saudação aos peregrinos de língua inglesa, onde Sua Santidade cumprimenta os que estão reunidos para celebrar o centenário da Edinburgh Missionary Conference, sobre a qual eu nunca tinha ouvido falar antes, mas que o Papa diz ser de onde nasceu o moderno movimento ecumênico.

O evento ao qual faz alusão o Sumo Pontífice é a 1910 World Missionary Conference. A dar crédito à Wikipedia, foi um evento realizado pelas “maiores denominações protestantes e sociedades missionárias, predominantemente da Europa e dos Estados Unidos”, para o qual – “detalhe” – não foram convidadas organizações missionárias católicas ou ortodoxas. Não sei o desenrolar da história a partir de então, mas tenho quase certeza de que foi precisamente este “movimento ecumênico” nascido em 1910 que Pio XI fulminou na Mortalium Animos.

De Edinburgh à Unitatis Redintegratio, como eu disse, não sei a história completa. Mas sei a história possível: Pio XI afirmou solenemente que “não é lícito promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infelizmente, eles se apartaram dela”. Outra forma de “promoção” da unidade dos cristãos é falsa e enganosa. O objetivo do movimento ecumênico aceito pela Igreja Católica, portanto, não pode ser outro que não reconduzir os hereges e cismáticos para o seio da Única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, fora da qual não há salvação nem santidade. Contra os que acusam a UR em particular e o Vaticano II em geral de irenismo, ou de relativizar a necessidade de se pertencer à Igreja, ou de “expandir” indevidamente o conceito de “Igreja de Cristo”, et cetera, eu sempre argumentei que não existia outra forma de se compreender o Ecumenismo que não fosse tendo como fim a conversão à Igreja Católica, cum Petro et sub Petro.

Eu não sou o único que entende desta maneira. Há alguns meses, o cardeal Levada – prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – disse exatamente isto. Falando sobre o retorno dos anglicanos à Igreja, Sua Eminência afirmou taxativamente que a “união com a Igreja Católica é a meta do ecumenismo”. Insistir em entender o assunto de maneira distinta disso é falsificar a doutrina da Igreja, entendo-a de uma forma que Ela não a entende.

No entanto e obviamente, os protestantes reunidos em Edinburgh, que não tiveram sequer a decência de convidar os católicos para o seu encontro, naturalmente tinham uma concepção de “ecumenismo” distinta da união cum Petro et sub Petro. Resta, portanto, uma série de perguntas a responder: se a Doutrina da Igreja não mudou (e aliás nem pode ter mudado), quando foi que o moderno movimento ecumênico tornou-se aceitável? Não mudando a Doutrina, o que mudou foi o Ecumenismo. Quando e como? Não sei as respostas. Mas, embora não saiba quando nem como, sei que foi assim – basta olhar para os documentos e para as declarações dos cardeais da Igreja Católica.

E – divago – o que Santo Tomás de Aquino tem a ver com esta história toda? Se existe alguma coisa na obra do Angélico que pode ser, analogamente, comparada ao Ecumenismo, creio ter sido o “Batismo de Aristóteles”. O Filósofo Pagão precisou ser purificado de tudo o que, nele, contrariava a Doutrina Católica para poder ser aceito na Cristandade. E por que não, portanto, “batizar” o Ecumenismo? Claro que a quantidade de erros no movimento ecumênico de 1910 era provavelmente muito maior do que no Estagirita pré-Santo Tomás, e eu até posso conceder que o movimento iniciado por protestantes no início do século XX guarda tão pouca relação com o que tem por meta a união com a Igreja Católica que não deveriam ser chamados pelo mesmo nome. Mas, comparando o início e o fim, é possível adivinhar alguma coisa do meio – e me parece ter sido exatamente isto o que aconteceu: mudou-se muito no Ecumenismo, e ele é hoje muito diferente do que era 100 anos atrás.

Pode-se então dizer que o movimento de Edinburgh foi “traído”? Depende do ponto de vista. Quanto às, digamos, “estratégias de ação”, sem dúvidas o foi. Mas creio poder dizer que ele foi “sobrenaturalizado”. O desejo meramente humano de união entre os cristãos era legítimo e era impossível dentro da Babel protestante. A única união possível, é a união com a Igreja de Cristo sob o báculo do Vigário de Cristo. Desta forma, o Ecumenismo católico é a única resposta possível aos anseios – legítimos, repito – de unidade que experimentavam os protestantes em 1910. É sem dúvidas diferente do que eles entendiam por “unidade”: mas é infinitamente melhor.

Cadê a declaração, Pe. Elias Wolff?

O amadoríssimo site protestante cristaos.com está reclamando que a CNBB ainda não emitiu a nota sobre os “sites católicos amadores” que havia prometido. Eu próprio comentei sobre o assunto aqui no mês passado, e tive o meu texto inclusive honrado com algumas considerações do referido site.

Vou até deixar os meus comentários para uma outra ocasião. Agora, faço coro à queixa do site cristaos.com. Quero ver a CNBB cumprir o que prometeu e publicar uma nota sobre os sites católicos. Mas faço questão de que o revmo. pe. Elias Wolff avalie também as seguintes declarações, que tomo como minhas, e também condene ou apóie expressamente o Deus lo Vult! na prometida (e não cumprida) nota da CNBB.

A única Igreja de Cristo é a Igreja Católica, de tal modo que não se podem salvar “aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar” (Lumen Gentium, 14). Verdadeiro cristão é “aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos pastores da Igreja” (Catecismo de S. Pio X, q. 3), sendo estes “o Pontífice Romano, isto é, o Papa, que é o 1º Pastor universal, e os bispos” (id. ibid., q. 151); de tal modo que “é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice” (Unam Sanctam). Outrossim, os erros de Martinho Lutero, assumidos pelos protestantes, são “heréticos, escandalosos, falsos, ofensivos aos ouvidos piedosos ou sedutores das mentes simples, e contra a verdade católica”, devendo ser todos “condenados, reprovados e rejeitados” (Leão X, Exsurge Domine).

Esta também é uma “matéria intolerante”? Em caso positivo, solicito ao site cristaos.com que inclua o Deus lo Vult! na sua queixa à CNBB. E volto a pedir ao revmo. pe. Wolff que responda à solicitação feita pelo referido site protestante. Afinal, é necessário cumprir as promessas feitas.

A trave e os ciscos

Na internet, nós encontramos coisas inacreditáveis. Um site de hereges chamado cristaos.com, que de cristão não tem nada, diz ter feito uma queixa à CNBB (!) com relação àquilo que ele chama de “sites católicos amadores que pregam ódio e intolerância para com os Cristãos”. Eis a mensagem que, até o presente momento, encontra-se na página principal do site:

Após denúncia feita pela equipe cristaos.com entramos em contato com a CNBB (Conferência nacional dos bispos católicos do Brasil) solicitando divulgação de uma  nota mostrando qual a posição oficial da religião Católica no Brasil em relação aos sites católicos amadores que pregam ódio e intolerância para com os Cristãos. Fomos atendidos pelo padre Elias Wolff que se prontificou a nos dar essa posição no final da semana que vem. Vamos aguardar e tão logo recebermos esse comunicado estaremos esclarecendo, tanto aos nossos visitantes evangélicos como os visitantes católicos que, muitas vezes, são vítimas dos sites “amadores católicos” como Veritatis, Lepanto, Montfort, Defesa Católica entre outros.

Então, a dar crédito àquilo que o site cristaos.com diz, antes do Natal vai sair uma nota da CNBB sobre os “sites católicos amadores”. Provavelmente, refere-se aos sites católicos leigos, entre os quais, então, encontra-se o Deus lo Vult! – o qualificativo “amadores” é meramente um epíteto depreciativo usado pelo site, aplicado a apostolados tão distintos quanto o VS e Lepanto de um lado e a Montfort e o Defesa Católica do outro.

Não há nada ainda no site da CNBB. Esta é uma nota que eu gostaria muito de ver – vai ser divertido. No entanto, já é para rir ver um site protestante do protestantismo mais chulo, agressivo e rasteiro reclamar das agressões católicas. Neste link, eles chamam a Igreja Católica de “Igreja”, entre aspas, o tempo inteiro. Neste link, são os bispos católicos que recebem aspas quando designados, e ainda são acusados de serem “contrários à pregação do evangelho” (!) – por um irônico ato falho, o “evangelho” deles vai em minúsculas mesmo. Neste longo e enfadonho texto com motivos pelos quais as pessoas não devem ser católicas, insinua-se que os católicos não são cristãos – afinal, o texto diz que vai “mostrar a total incompatibilidade que existe entre a cristã e a fé dos católicos” – e, neste outro, diz-se que o catolicismo é “uma das religiões mais demoníacas que existe”.

Verdadeira piada. E, ao final disso tudo, são os sites católicos que “pregam ódio e intolerância”. Se isso não for um absurdo cinismo, é uma deficiência intelectual gigantesca. Por que os “cristãos” do cristaos.com não olham para a trave em seus próprios olhos antes de fazerem queixas histéricas sobre os ciscos nos olhos alheios?