As provas da existência de Deus não são de natureza empírica. Isto é óbvio, e está contido nas próprias definições de “Deus” (espiritual) e “empírica” (sensível). O espírito não é sensível, não é perceptível pelos sentidos, não é passível de experimentação em laboratório.
Infelizmente, o grau de incompreensão dos anti-clericais destes princípios tão básicos chega às raias do surreal. É frustrante; tenho às vezes a impressão de estar conversando com retardados. Semana passada, eu pus aqui uma foto – divulgada na Espanha – que mostra uma criança sendo batizada e a água, ao cair, formando uma cruz (ou “um terço”). Eu nem sequer sei se a foto é mesmo verdadeira – parece ser – ou se foi objeto de edição com o Photoshop ou congêneres, simplesmente pelo fato de que isto pouco importa. A foto é uma excelente catequese, que mostra “o que acontece” efetivamente no Batismo, escondido sob os sinais sacramentais (da mesma maneira que outras figuras clássicas, mostrando o que acontece na Santa Missa, por exemplo esta, esta ou esta). Não é um “milagre”, nem uma “prova da existência de Deus”, nem nada do tipo – ao contrário do que insinuaram os comentaristas engraçadinhos que por aqui passaram. No máximo, é Providência Divina, permitindo que a câmera capturasse daquela maneira o momento batismal.
Ninguém precisa de sinais extraordinários para ter Fé, e ninguém que já tenha decidido a priori não ter Fé (como os anti-clericais) vai se deixar convencer por sinais extraordinários. O problema da descrença não é de natureza empírica, mas sim intelectual. Enquanto os irreligiosos insistirem na auto-mutilação da razão, não adianta o Todo-Poderoso descer dos Céus em meio a fogo e toques de trombeta – pois certamente vão dizer que se trata de uma invasão extra-terrestre.
Um dos lados deste curioso fenômeno moderno é o desprezo da metafísica; o outro lado, é a incapacidade de se distinguir entre um fenômeno natural e uma prova da existência divina. Chega a ser impressionante: as provas, eles as ignoram e desprezam e, as coisas naturais, eles querem tratar como se provas fossem! À exceção dos milagres (que, por definição, ultrapassam a natureza e sobre os quais eu não vou tratar aqui), todas as coisas naturais são (a redundância, infelizmente, parece ser necessária) naturais, e não sobrenaturais.
Há uma enorme confusão feita entre a Providência Divina (que a forma ordinária segundo a qual Deus “rege” a história) e os milagres; e, ainda, entre estes e as provas da existência de Deus. E, se é verdade que qualquer um pode receber de Deus a graça da Fé ao contemplar a ação da Providência na História, não é menos verdade que esta, por si só, não é suficiente para se impôr à inteligência (menos ainda no caso de quem, deliberadamente, mutila a própria razão fechando-lhe o acesso àquilo que transcende a matéria). Providência é providência, milagre é milagre, metafísica é metafísica. O surgimento de um gênio do calibre de Santo Tomás de Aquino numa época em que parecia que a filosofia aristotélica era apanágio dos árabes, é Providência; a levitação do Aquinate quando ele, em êxtase, contemplava a Santíssima Eucaristia, é milagre; as Cinco Vias Tomistas, são metafísica. Coisas bem distintas entre si. Naturalmente, qualquer um dos três pode servir para aproximar as almas bem-intencionadas de Deus. Igualmente, todos podem ser rejeitados recorrendo-se ao “Acaso”, ao “Desconhecido” ou ao “Impossível-a-priori”. Nós sabemos muito bem disso, não sendo necessário que os prosélitos da Irreligião venham alardear tais obviedades como se tivessem acabado de descobrir a pólvora. Igualmente, nós sabemos que a Providência não é “sobrenatural” e que a metafísica prescinde da Fé – e tratar estas coisas sob um enfoque distinto deste não é intelectualmente honesto.
No entanto – de novo por definição -, “acaso” não é causa, “ignorância” não é conhecimento positivo e “rejeição a priori” não é determinante de inexistência. Se os ateus querem ter a fé deles, que tenham. Se querem mutilar a própria inteligência, protestaremos, mas que mutilem – afinal, ninguém pode ser forçado a abandonar uma idéia, por mais estúpida que ela seja. Agora, se quiserem impôr a sua fé a todos como a única aceitável, então nós não aceitaremos. Temos bastante amor à nossa inteligência – dom de Deus! – para imolá-la no moderno altar da descrença. Somos bastante céticos para acreditarmos nos contos-de-fada dos anti-clericais. Somos já bem crescidinhos – afinal, temos dois mil anos… – para nos perturbarmos com a histeria de adolescentes mimados.