Dom José concedeu, nos últimos dias, duas entrevistas que ganharam repercussão nacional: uma à Época e outra à Veja. A primeira revista põe como título a frase do Arcebispo: “A excomunhão é automática”; a segunda, traz o título de “não reclamem ao bispo”. As entrevistas – refiro-me à parte do entrevistado – foram muito boas; mais uma vez, contudo, os órgãos da mídia não foram lá muito amigáveis, e o ranço anti-clerical é perceptível por sob as perguntas feitas e a forma como as respostas do Arcebispo foram apresentadas ao leitor.
Têm méritos as entrevistas? Sim, sem dúvidas, e pode-se citar ao menos dois: a própria oportunidade dada a Dom José Cardoso para que ele falasse e se defendesse em veículos de informação que têm alcance nacional; e a ênfase empregada em esclarecer que a excomunhão para quem realiza aborto é latae sententiae, i.e., automática, e por conseguinte independe do Arcebispo (aliás, isto está no título de ambas as entrevistas). Então, não há o que se reclamar das revistas? Ao contrário: há, sim, e muito.
A ÉPOCA insistiu em fazer perguntas maliciosas, virtualmente limitando-se a alfinetar o Arcebispo: questionou o fato do estuprador não ter sido excomungado, indagou se a “interpretação da lei de Deus ao pé da letra” era “compatível com os tempos atuais”, perguntou por que Sua Excelência “afastou tantos padres e párocos na sua gestão”, acusou-o indiretamente [“os seus críticos dizem que o senhor…”] de ser “muito rígido e muito conservador” e falou até mesmo sobre o fechamento do ITER (isto se deu há quase vinte anos!). Quase não houve assunto que, podendo ser usado para sujar a imagem do Arcebispo, não tenha sido trazido à baila nesta entrevista.
Acham que exagero? A mesma revista traz uma matéria chamada “As polêmicas de Dom Dedé”. Não sei quem é “Dom Dedé”, a despeito da revista assegurar ser assim “como é conhecido o arcebispo de Olinda e Recife”, e apesar de eu ser de Recife. Só vejo esta alcunha utilizada na pena dos inimigos do Arcebispo, para se referirem a ele pejorativamente. Mas isso é o de menos: o que deixa patente a má intenção da ÉPOCA na cobertura do caso são as coisas apresentadas pela revista como “polêmicas”. Ora bolas! Fechar o ITER? Extinguir a CPT? Negar comunhão a uma prefeita do PC do B? Afastar um padre TL [depois] amasiado? Oras, isso é exatamente o que se espera de um bispo católico! Dom José é “polêmico” porque insiste em ser católico, no mundo atual que é tão avesso à Religião Verdadeira e tão hostil à Igreja Católica.
A entrevista da VEJA apresenta o mesmíssimo veneno subjacente. A começar pela introdução da entrevista: “Ao longo de 2 000 anos de história, duas forças, ora conflitantes, ora complementares, moldaram a Igreja Católica: a doutrina do amor e o amor pela doutrina. Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, é sem dúvida um homem da segunda força”. Não sei de qual tratado de História da Igreja foi tirada esta definição besta; desconheço quem seja o autor do pueril jogo de palavras. Mas a apresentação prévia de Dom José como um homem que não segue “a força da doutrina do amor” é já suficiente para produzir no leitor uma natural repulsa, que o entrevistador só faz alimentar ao longo das linhas seguintes.
As perguntas da Veja são capciosas ao extremo! Observe-se a seguinte seqüência: “O que a Igreja e o senhor pessoalmente ofereceram à menina (…)?”; “Foram oferecidos abrigo, sustento material (…)?”; “O senhor esteve com ela alguma vez?”; “O senhor sabe como era a vida da menina dentro da casa onde ocorriam os estupros?”; “Qual é o nome dela?”. E quando, por fim, ninguém sabe responder o nome da menina – vale salientar que o nome dela em momento algum foi divulgado -, o circo está montado, o espetáculo, consumado, e a imagem do Arcebispo, apresentada – mais uma vez – como a de um homem insensível: afinal, ele não sabe nem mesmo o nome dela… ! E a cretinice não pára por aí, porque o entrevistador ainda teve a pachorra de perguntar se Dom José já havia feito sermões contra a pedofilia e contra o estupro! Com o veneno escorrendo desta maneira da boca do entrevistador, não é possível, em consciência, dizer que as entrevistas foram muito boas. Não foram. Foram armadilhas [incompetentes, sim, mas armadilhas] preparadas contra o Arcebispo; estavam desde o princípio enviesadas por um anti-clericalismo mal-disfarçado.
Ao final, resta a presença de espírito de Dom José Cardoso, que soube se aproveitar da má vontade dos entrevistadores para falar bem, e para esclarecer um pouco mais este assunto que foi tão mal-entendido nos últimos dias. E, no final, o desejo de Sua Excelência, por cuja não-realização ele lamenta, é também o lamento meu e – sem dúvidas! – o de tantos quanto acompanharam com angústia este trágico caso e, com lágrimas, o seu triste desfecho:
O senhor tem mais algo a dizer sobre o caso?
Sim, eu lamento não poder ter feito o batizado desses dois bebês. Eu estava planejando uma festa para esse dia, mas não aconteceu.